domingo, 26 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4740: Estórias do Amílcar Ventura (1): O meu eterno Amigo Mulai Baldé...


1. Mensagem de Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec da 1ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74, com data de 26 de Julho de 2009:

O meu eterno Amigo Mulai Baldé

Camaradas,

Hoje venho-vos falar do meu Grande Amigo Mulai Baldé.

Tive muitos amigos na Guiné, mas um foi diferente de todos os outros, muito especial e jamais, em dias da minha vida, esquecerei.

Quando cheguei a Bajocunda constatei que na nossa messe de Sargentos, haviam dois putos que nos serviam há mesa.

Ainda andavam na escola mas à hora dos almoços e jantares lá estavam eles a servir-nos.

Foram os meus primeiros amiguinhos, pois no fim de cada mês eu dava-lhes um “xis” pela sua ajuda “faxineira”, só que esse meu “xis” era o dobro do dos outros e acabei por cair nas boas graças dos putos.

O Mulai é o que está à direita.

Enquanto os “malandrecos” dos meus camaradas da companhia só queriam Bajudas, para lavadeiras, eu travei muita amizade com uma já mais “velhota”, que era mãe do meu Amigo Mulai, não olhando ao “aspecto” da “figura” humana pois eu sempre tive, como tenho agora, um grande respeito por toda a gente que me rodeia, especialmente o ser: “Mulher”.

Como eu era mecânico, essa minha lavadeira estava-me sempre a pedir petróleo para as suas lamparinas, que eram a única forma de iluminação naquelas bandas.A minha missão decorria normalmente, até que um dia acabei por descobrir que o comerciante local, que vendia o petróleo aos civis, chamado Silva, explorava a população na sua venda.

Não vou perder o meu, e o vosso rico tempo, a falar deste “comerciante” natural de Braga, pois teria muita coisa a dizer, até porque segundo sei ele já faleceu.Dizia eu, que dei então comigo a dar petróleo a toda a tabanca ao ponto de, em alguns finais de meses, me ter visto aflito para fazer os mapas das existências em armazém.

Sempre me senti bem com esta minha faceta que, por um lado foi muito bom para mim, pois caí nas boas graças da população, não me faltando nada sem eu pedir, dando-me ovos, galinhas, carne de gazela, de cabrito, etc. Mas o mais valioso, para mim, foi o carinho com que fui tratado por toda a população, e jamais esquecerei os seus generosos e amáveis convites, para ir comer hás suas tabancas.

Conforme vim a constatar, eu que era o único branco que frequentava os seus bailes e podia andar, há noite, livre e sossegadamente pela tabanca sem ter qualquer problema, enquanto alguns dos meus camaradas (por actos que desconheço) chegaram a ser apedrejados.

Num dos meus dias de rotina descobri, surpreendentemente, que um Grande Amigo meu da tabanca, era guerrilheiro do PAIGC. Como uma das minhas assumidas qualidades é: “Amigo não traí Amigo”, guardei penosamente este segredo apenas para mim.

Mal eu sonhava, que se ainda hoje estou cá neste mundo é graças a ele, porque antes de um ataque que viemos a sofrer ao quartel, eu fui informado, por intermédio da minha lavadeira e do Mulai, que ele ia acontecer, com muito perigo para nós, pois seria executado muito perto da cerca de arame.

“Amigo não traí Amigo”, pensei eu, muito menos os meus camaradas-de-armas, pelo que meti-me numa Berliet e dei comigo a andar à volta dos nossos abrigos, a avisar o pessoal de que íamos ser atacados. A certo momento, quando complementava essa volta, um guerrilheiro do PAIGC, apontou-me um lança-granadas RPG7 e estava prestes a atingir-me com uma das suas mortíferas granadas. A minha sorte foi esse meu Amigo, que viu quem estava dentro da Berliet, e não permitiu que o seu camarada lançasse a terrível granada, cujo disparo esteve eminente, pois vi bem a orientação do tubo e o seu dedo sobre o gatilho da sua arma.

O guerrilheiro do PAIGC (carregador de granadas RPG7), ao qual eu devo a vida “in extremis”, no ataque ao quartel, na situação que acabei de descrever.

Meus amigos, aqui é que vi, senti e jamais ESQUECEREI o que é o verdadeiro valor da palavra AMIZADE.

Voltando ao meu Amigo Mulai quando me vim embora chorei, por não o puder trazer comigo. Senti que tinha ali um daqueles Amigos que, rara ou indefinidamente, se encontram no decurso da nossa vida. Ainda não era casado, não sabia como seria a minha situação cá, mas tinha uma certeza é que ele teria todo o apoio da minha namorada e família, senão fosse por mais motivo nenhum, sê-lo-ia por me ter avisado atempadamente naquele inesquecível dia.

Quando abalei deixei-lhe a minha direcção para, se no futuro que se seguiu houvesse uma oportunidade, eu trá-lo-ia para Portugal.

Durante alguns anos trocamos correspondência até que as minhas cartas deixaram de ter resposta.Nem é preciso dizer-vos o quanto fiquei triste e abalado, ainda por cima sem saber o que poderia ter acontecido ao meu bom Amigo Mulai.

Mais tarde, estava eu na minha loja de fotografia, o telefone tocou e lá fui atender. Que grande e maravilhosa surpresa eu tive, pois ouvi a voz inconfundível do meu Grande Amigo Mulai, que me estava a telefonar do Patação - uma pequena localidade ao pé de Faro, a 45Kms da minha casa. A chorar de alegria disse-lhe para ele não sair de onde estava, pois ia ter com ele de imediato.

Foram os trinta e cinco minutos mais angustiantes da minha vida, enquanto não cheguei ao pé dele. Quando eu, a minha mulher e ele nos juntamos parecíamos três crianças a chorar abraçados. O tamanho da minha alegria só foi comparável ao do nascimento de mais um filho.

Daí para a frente, até à um ano atrás, nunca mais nos perdemos um do outro e, com a colaboração do meu contabilista, o Mulai ficou logo legalizado, tendo-o também ajudado a formar uma pequena empresa de construção civil em Lisboa, onde tem vários trabalhadores. Depois ele acabou por mandar vir a sua família para o nosso país.

Agora estou novamente triste e amargurado, pois vai para um ano que não sei nada dele. Já contactei a Embaixada da Guiné, em Portugal, e ainda não tive nenhuma resposta. Só espero que não lhe tenha acontecido nada de mal, visto que ele me dizia muitas vezes que queria voltar à Guiné-Bissau, para ajudar o seu país a progredir e desenvolver-se.

Estou deveras preocupado pois quando perdi o seu contacto, da primeira vez, soube que ele estudava em Bafatá, onde ele e os demais estudantes, de então, participaram numa manifestação por melhores condições de ensino e foram todos presos a mando do Nino Vieira.

Agora com o estado de instabilidade política que a Guiné atravessou, e as mortes que se sucederam nos últimos tempos, estou um bocado aflito… sem notícias dele...

Bom, a conversa já vai longa, pelo que vou-me ficar por aqui.

Deixo um abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande e Amigos do nosso blogue,
Amílcar Ventura
Fur Mil Mec

Fotos: © Amílcar Ventura (2009). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Este poste é o primeiro dcca série "Estórias do Amílcar Ventura".

Guiné 63/74 - P4739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (11): Interrogatórios

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 22 de Julho de 2009:

Caro Carlos:

Mais uma vez estou sem computador, daí o atraso. Em anexo aí vai a XI estória
para a série "A Guerra Vista de Bafatá".

Um abraço.
Fernando Gouveia




A GUERRA VISTA DE BAFATÁ



Bafatá. 1969. Grande parte da tabanca da Rocha com a mesquita.


11 – Interrogatórios.

Já anteriormente referi que a minha principal função, como Oficial de Informações do Comando de Agrupamento, era tratar as notícias que iam chegando, quer respeitante ao IN, quer às NT. No entanto, também tinha sido instruído para fazer interrogatórios.

Na minha comissão de dois anos só tive que fazer dois interrogatórios, pois a grande maioria era feita nos Comandos de Batalhão ou de Companhia onde havia (caso dos Batalhões) um Capitão com essas funções específicas.

Abrindo aqui um parênteses referirei que, em combate e debaixo de fogo, de tudo seria capaz para salvar os meus camaradas e a minha própria pele, no entanto a frio e à sombra de um quartel seria de todo incapaz de torturar, física ou psicologicamente, qualquer elemento IN, como aliás aconteceu em vários casos que tive conhecimento. Recordo até que um dia, em Bambadinca, quando se estava a proceder a um interrogatório com alguma violência à mistura, vem ter comigo um alferes vangloriando-se de lá ter ido molhar a sopa. Episódio triste, tanto mais que esse alferes nada tinha a ver com o interrogatório.

Dos dois interrogatórios que fiz, um não deu em nada, dando até a impressão que o homem nunca pertencera ao IN e o que queria era ficar com as NT, onde tinha comida e dormida. Recordo que me pediu para lhe arranjar tabaco e eu próprio lhe comprei no mercado, às minhas custas, umas folhas de tabaco.

O outro foi a um elemento da população afecta ao IN, capturado numa operação. Idoso e com lepra em estado não conseguiu fugir. O interrogatório foi feito com o sujeito deitado numa maca e com a ajuda de um intérprete.

Com o mapa da zona à minha frente e com as sucessivas respostas que o homem foi dando, cheguei à localização, para mim exacta, do tal refúgio IN.

A informação que assim obtive destinava-se a concretizar uma operação, logo ao amanhecer do dia seguinte, primeiro um bombardeamento pelos Fiats ao local por mim assinalado e, em seguida, um golpe de mão pelos Páras, que nessa altura estavam em Bafatá.

Como na manhã do dia D o tecto (núvens) estava baixo, os Fiats não puderam actuar tendo-se feito a operação só com os Páras, helitransportados.

Mais uma vez, na guerra de retaguarda, não fui directamente responsável por mortes na Guiné pois se os Fiats tivessem actuado, tinham acertado em cheio: A cruz que tinha desenhado no mapa veio a verificar-se ser o local exacto do acampamento IN.

O resultado da operação resumiu -se à recolha de inúmero material, mais civil que militar: panos, amuletos, medicamentos (muitos pacotinhos de aspirina), apetrechos de limpeza de armas e muitos livros escolares. O pessoal IN conseguiu fugir todo.

O Ten Pára-quedista Gomes (meu antigo colega do liceu) que comandou a operação, acabou por me dar muito desse material, algum do qual ainda hoje conservo, como uma cartucheira que utilizo na caça.


Capa de um dos livros apreendidos

Uma página do livro anteriormente referido

Página de um outro livro com toda a certeza de origem nórdica (repare-se nas figuras). Tal como os nossos livros pretendiam ensinar aos guineenses as serras e os rios da metrópole, também estes referiam vivências, como patinagem, possivelmente no gelo, etc.

Última página de outro livro, já muito usado.

Duas páginas de outro livro, este para aprendizagem de algo relacionado com o árabe ou o Alcorão

Amuletos respectivamente para a cinta e para o pescoço (um feito com um chifre de cabra), também capturados. No seu interior eram introduzidos pequenos papeis com as preces pretendidas escritas em árabe.

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.


Na próxima estória irei mostrar por dentro e por fora o Mercado de Bafatá, que na altura era o ex-libris da cidade.

Até para a semana camaradas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina

sábado, 25 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4738: Estórias do Mário Pinto (1): O soldado Machado, o "Cigano": 'Ó Barrelas, não me pagas uma bejeca?!'...


1. Esta é a primeira mensagem enviada pelo nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71 -, que nos prometeu brindar ainda com mais algumas das suas estórias também elas curiosas, hilariantes e interessantes:



Camaradas e amigos,

Tal como tinha vindo a prometer ao Magalhães Ribeiro, lá vai uma das estórias giras passadas na CART 2519.

Todas as estórias, no fundo, avivam-nos a memória e recordam-nos, às vezes com muitas saudades, os bons momentos passados em comum.

O SOLDADO MACHADO

O “Cigano”,  como era conhecido o soldado Machado (creio que era mesmo da etnia cigana), foi protagonista de um episódio hilariante, mas muito real, que um dia “atropelou” o que não podia ser “abandalhada” - a rígida Disciplina Militar -, que na tropa se exige (creio que ainda hoje esta se mantém), em relação aos superiores hierárquicos.

Certo dia, o nosso capitão integrou-se num grupo de combate que ia patrulhar a nossa ZA - Zona de Acção, onde ia o nosso camarada Machado. Depois de percorrida já uma vasta área do patrulhamento habitual, e perto dum local por todos considerado de elevado risco, o Machado sai-se com esta:

- Ó meu Capitão, à nossa frente estão pegadas do IN. - Isto em pleno mato.

O Capitão ripostou:

- Ó meu Coirão, não sabes o meu nome,  eu sou o Barrelas!

O patrulhamento terminou ao findar do dia e procedeu-se ao respectivo regresso ao aquartelamento de Mampatá.

Na cantina, que era comum a todos,  praças, sargentos e oficiais, depois do banho, o camarada Machado tem este desplante perante a admiração de todos os presentes:

- Ó Barrelas,  não me pagas uma bejeca?!

O capitão,  com o seu ar autoritário - de Comandante -, virou-se para o Machado e disse:

- Ó meu coirão, já não me conheces, eu sou o teu capitão Barrelas, por isso deves tratar-me como tal. Quando te dirigires a mim,  tratas-me por meu capitão!

O mesmo,  atónito com a situação, retorquiu:

- Mas o senhor lá atrás disse-me para o tratar por Barrelas!...

Aqui o capitão riu-se da situação e acabou mesmo por pagar a “bejeca” ao Machado.

Um Abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

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Nota de M.R.:

Este poste é o primeiro desta série "Estórias do Mário Pinto".

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4737: Relação das Unidades que estiveram no Quartel de Mansoa (Jorge Canhão)


1. Mensagem do ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa 1972/74, datada de 21de Julho de 2009:

Camaradas,

Dedicado a todos aqueles que passaram pelo quartel de Mansoa, anexo a lista de todas as unidades que ali marcram presença.

Os dados recolhidos foram retirados da colecção "Os anos da guerra colonial" de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso.

Recordo que a mencionada colecção, foi distribuida no primeiro semestre do corrente ano, juntamente com o jornal Correio da Manhã.

Abraços,

Jorge Canhão
Fur Mil da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72

Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)


1. Mensagem de Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec da 1ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74, com data de 26 de Julho de 2009:



Camaradas,


Começo esta minha mensagem por dizer, que nunca quis saber muito das novas tecnologias, mesmo tendo em casa um filho formado em informática, mas bastou ele ensinar-me como se liga e desliga o PC, como se procede para ter acesso há internet e foi o suficiente, para eu me iniciar nestas lides.


Tenho um irmão mais velho que também esteve na Guiné (Gampará) e se não tivesse acontecido um acidente, ter-nos-íamos lá juntado os dois. Foi este meu irmão que me falou no “blogueforanadaevaotres.blogspot.com”, e foi este blogue o “culpado” de eu, a partir de um certo dia, passar horas a fio num velhinho computador portátil, que o meu filho já tinha arrumado numa prateleira e que “preparou” para mim, a “devorar” poste atrás de poste.


Depois desta pequena introdução, vamos ao que me leva a escrever, hoje dia 18 de Julho de 2009, para o nosso Blogue que, mais não é que a descrição do modo como eu senti e analisei os acontecimentos em Guileje.


Enquanto estive na Guiné, fui algumas vezes a Bissau, e na Messe de Sargentos, como é fácil deduzir, falava-se de tudo o que ocorria nos mais turbulentos recantos da Guiné.


Os assuntos mais falados eram, jamais esquecerei, a retirada de Guileje e as graves situações vividas em Gadamael e Guidaje.


Eu só podia falar de Copá, porque estava nessa zona e tinha lá um pelotão da minha Companhia.

Sobre a retirada de Guileje as conversas versavam todas o mesmo tema - a acção do Major Coutinho e Lima -, e eram quase unânimes as opiniões que ele fez o melhor que podia ter feito na sua problemática situação.


Elogiava-se a sua retirada, que permitiu salvar não só as vidas dos seus militares, como as da população local a seu cargo.


Na minha análise pessoal e creio que na opinião geral, Herói de guerra tanto é aquele que dá a vida pela Pátria, como é aquele que salva vidas ao seu Serviço.


Para mim e para a maioria dos militares que estavam na Guiné, na altura, o então Major Coutinho e Lima (hoje Tenente Coronel), foi um Herói e não um cobarde, como as nossas chefias militares de então apelidaram e algumas opiniões teimam em querer confirmar.


Somos todos Camaradas de um Blogue de antigos Combatentes da Guiné, onde deve permanecer a amizade que nos uniu na Guiné e uma confraternização constante.


Já ultrapassamos os 300 Tertulianos, além de muitos Amigos.


Num espaço de três meses tivemos mais de 100 mil Visitas.


Considero que unidos na mesma finalidade seremos indestrutíveis.


Para acabar quero felicitar aos nossos camaradas editores, pelo trabalho que têm feito dando voz a todos os que, connosco, estiveram no teatro de guerra, na Guiné, defenderam a nossa Pátria, por vezes com vários e pesados custos pessoais.


Um abraço amigo para todos os Tertulianos e Amigos do nosso blogue,
Amílcar Ventura
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71


1. Mais um camarada nosso se junta à Tabanca Grande. O seu nome é Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71. As fotos habituais, uma do seu tempo de tropa e outra de
hoje, já ele enviou como se pode ver.


O Mário Pinto diz que tem muitas fotos dos tempos da Guiné e é autor de um blogue, com notícias das actividades passadas e das presentes da sua companhia, tendo indicado o seu endereço: http://cart2519osmorcegosdemampata.blogspot.com/2009/07/general-spinola.html


Em 12JUL2009 o Pinto deixou, no poste P4673, um comentário que a seguir se apresenta:

Caro José Teixeira,

Tenho seguido com atenção as tuas recordações da Guine.

Também estive em Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, em 1969/71.

Pertenci á CART 2519 - Os morcegos de Mampatá, por isso vivo com intensidade as tuas recordações.

Já agora se estiveres interessado em saber algo mais sobre a minha companhia, vai ao Blogue: www.cart2519osmorcegosdemampata.blogspot.com

Um abraço,
Mário Pinto

Usando o mesmo poste P4673, o nosso Camarada Zé Teixeira, no dia a seguir, 13JUL2009, ripostou com a seguinte mensagem:

Camarada Mário Pinto,

Sendo Mampatá a primeira terra na minha segunda Pátria, deixa-me considerar-te meu conterrâneo.

Só estive em Mampatá cerca de 6 meses integrado no meu Grupo de Combate, única força ali estacionada a par do pelotão de milícias, comandado pelo grande Aliu Baldé e pelo querido amigo Hanadú, que faleceu o ano passado em Buba, com fama de "maribu" (santo muçulmano).

Depois fui até à Chamarra. Mampatá ficou-me no coração, pelas suas gentes amorosas.

Já dei uma espreitadela ao teu blogue fiquei triste ao saber que a Cia. dos lenços azuis, que me foi buscar a Buba e com quem vivi grandes aventuras, tenha encerrado a sua vida nessa zona com mais duas mortes.

Agora só falta convidar-te a fazer parte da grande Tabanca Grande, pois com certeza tens muita coisa para contar.
Quando puderes dá uma volta pelo site da minha Companhia: http://empada.no.comunidades.net/

Abraço fraterno do,
Zé Teixeira dos "Colhões Negros de Mampatá".

2. Com a devida vénia reproduzimos a seguir uma pequena e curiosa história retirada do blogue do Mário Pinto:

General Spínola

Caros camaradas,

Foi por diversas vezes que tive encontros no mato com o "Homem do Monóculo".

Uma, em particular, foi em Uane, quando me encontrava a fazer protecção a uma coluna vinda de Buba, para Aldeia Formosa.

Deixou o meu grupo de combate Mampatá, ainda de madrugada, com a missão de picar a estrada e fazer protecção a uma coluna de abastecimento, que vinha de Buba - prática normal da nossa CART 2519 -, de 15 em 15 dias, indo ao encontro dos nossos camaradas de Nhala (companhia que neste momento não consigo identificar).

Feita a junção, emboscávamo-nos nas imediações, junto ao trilho de Uane, que era imenso.

Encontrava-me eu nessa função, quando começei a ouvir dois helicópteros vindos na minha direcção.

Chamei o radiotelegrafista e mandei-o entrar em contacto com os hélis, informando-os da nossa posição. Qual não foi o meu espanto, quando recebo ordem para fazer segurança apertada, ao perímetro, pois o COM-CHEFE ia descer.

- O homem é maluco! - disse eu.

Apresentei-me como era da praxe e o mesmo perguntou-me a minha patente.

- Furriel - disse eu.

- Então não há oficial.

- Não, meu General, o meu Alferes encontra-se na Metrópole, de férias.

Espante-se, o General não sabia que os Furriéis Milicianos comandavam o pessoal do pelotão, nas ausências dos Comandantes de pelotão...

Mário Pinto
Fur Mil CART 2519

Foto: © Mário G. R. Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4734: Destas não reza a História (Manuel Maia) (5): Chamava-se José, Silva José, à moda francesa...

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, com data de 23 de Julho de 2009:

Caro Vinhal,

Enquanto não é corrigida a História de Portugal em Sextilhas (ficaram para trás umas quantas...) envio-te esta história de um ex-emigrante que aproveitou para fugir à tropa e que, despudoradamente, virou antifascista perseguido pela Pide, obrigado a exilar-se em França...
Os nomes foram propositadamente trocados.


Chamava-se José, Silva José (à moda francesa...) e via a vida a andar para trás...


A tropa e o espectro da guerra de África que já levava uns quatro anos e parecia eternizar-se, começavam a preocupá-lo seriamente e a apavorar o pai, António Silva, que abandonara a jorna nos campos agrícolas desse Trás-os-Montes de Torga, para se aventurar na estranja, lá por França, faz tempo, desde o já distante ano de 1959...

Chegara a Paris (Banlieue) ainda antes do grande boom de emigração portuguesa que haveria de ajudar a França a recuperar da destruição sofrida durante a Segunda Grande Guerra Mundial, de que fôra um dos palcos privilegiados.

O seu patrão alugara-lhe uma casa que ele com o tempo haveria de recuperar, transformando-a num tecto acolhedor para viver, por um preço quase simbólico nos arredores da cidade luz...

Paris estava ainda na fase lenta de recuperação.A maioria dos portugueses a demandar terras gaulesas, fá-lo-ia só na década de sessenta, notando-se um crescendo no seu número, de ano para ano, uns por via legal (a minoria) enquanto outros, em maior número, fazendo-o a salto, correndo inclusive risco de vida ante o disparo de qualquer Guarda Fiscal...

Os bidonvilles eram, regra geral, a casa dos trabalhadores dos batiments... casotas de madeira forradas a chapa de bidon...

A lama, onde dejectos de toda a espécie se misturavam com a água da chuva, era escorregadia e dificultava o acesso aos tugúrios que habitavam em grupos de cinco ou seis, ou mais ainda, cozinhando normalmente de forma colectiva, o caldo de couves arrancadas juntamente com umas batatas e cebolas nas longas madrugadas de domingo, a que juntavam um cibo de toucinho rançoso de porco, trazido ainda de Portugal e guardado numa caixita de madeira com sal, ou comprado numa boucherie da zona por meia dúzia de patacos...

Era feito duas vezes por semana. Ao domingo no panelão maior e que durava até quarta-feira inclusivé, e à quinta, a caldaça nova era confeccionada na panela um pouco mais pequena.

Aos domingos, às vezes, bebiam uma cervejita pois ao vinho ninguém chegava face ao exorbitante preço pedido por garrafa...

Diariamente, levas e levas de portugueses cirandavam, mala ou saco na mão e garrafão na outra à procura de emprego nos inúmeros batiments em construção...

Todos se arrogavam de trolhas ou pedreiros, embora a maioria fosse mão de obra não especializada saída do campo, da lavoura, mas interessadíssima em aprender.

Numa primeira fase esses ex-jornaleiros trabalhavam como indiferenciados, mas muito rapidamente absorviam conhecimentos necessários para darem o salto para as várias profissões ligadas à construção como os pintores e carpinteiros de cofragem ou de zimbre...

Traziam umas magras provisões, uns míseros francos, uma vontade enorme de vencer, e geralmente o catraio de cinco litros como gostavam de chamar ao garrafão, com vinho das mais variadas origens, quando não mesmo, o portuguesíssimo bagaço...
O garrafão e a mala de cartão haveriam de ser um símbolo dos portugueses em França.

As mulheres, que nos anos subsequentes acabariam por demandar a França quando as condições de vida já haviam melhorado, ostentavam o moustache mais ou menos penugento que seria o alvo das piadas sobre portuguesas por terras gaulesas.
Era uma característica distintiva, tal qual o puxo ou a banana no cabelo...

Depois, afrancesar-se-iam, cortando-o e pintando-o, tal qual as madames do batiment onde eram concierges, isto poucos dias antes do regresso à terra para férias, que mais não eram senão dar no duro, na finalização da casa do tipo la maison que andavam construindo faz tempo...

Em Julho e Agosto regressavam, carros cheios de tralha, alguma achada nos passeios, mas para a qual encontravam sempre alguma utilidade iniciando um período em que procuravam mostrar algum status, sujeitando-se para isso à exploração desenfreada da aldeia que apostara em tirar-lhes a massa...

Da comissão fabriqueira da festa do Santo Orago da freguesia, passando pelo padre, que conseguia sempre o óbolo para as obras da igreja, ao merceeiro e ao dono da tasca que chamava restaurant ao seu espaço onde servia um bacalhau assado na brasa ou umas febras, uns bifes ou cabrito, que em geral era anho, todos apostavam enm aliviar-lhes os bolsos de forma escandalosa...

Nesses dois meses os carros de matrícula francesa sobrepunham-se aos nacionais.
Nas zonas costeiras, o pescador chegava à praia com meia dúzia de ranhosas(depois de descarregar o pescado para os restaurantes em locais foras da zona de veraneantes) reclamando que o mar estava um cão... uma noite inteira de trabalho para esta mão cheia de peixes. Assim ninguém tinha coragem de regatear o preço pedido e os emigrantes até davam gorjeta...

Foram, infelizmente, sempre espoliados pelos conterrâneos chico espertos...
Nos ultimos anos, as vacances do António Silva foram passadas (aliás como na maioria dos casos...) a erguer a sua casa na aldeia, ajudado pela sua Conceição, que lhe carregava os baldes da massa quando estavam a carregar a placa...
Era até doer as costas, até não poder mais. Tinha de ser!

No último ano, contrariamente aos anteriores, António ao invés de fazer férias em Julho ou Agosto, viera em Maio para ir a Fátima agradecer à Virgem Maria e acabar de vez a casa. Conceição disse-lhe:
- Olha lá, Tone. Tens de levar o rapaz contigo pois o governo qualquer dia já não o deixa sair...
- Deixa-o acabar o ano que não o quero à tábua da cal...
- Queres ver o nosso filho morto na guerra? Ai Jesus, Maria Santíssima que até me arrepio toda só de falar nisto...
- Está descansada, mulher dum raio, que o rapaz acabando o ano em Julho os exames segue em Agosto. Já tratei de tudo lá e mando-o chamar através da agência para ficar tudo mais oficial. O passaporte que não usou ano passado(porque chumbou e acabou por ficar mais um ano...) vai usá-lo este ano, está descansada. Quando lá chegar já tem emprego à sua espera na Citroen. Pedi ao senhor engenheiro quando andei a fazer-lhe uma obra em casa e ele disse que sim. Pediu o nome do rapaz e ele até já tem ficha pronta...

Mal regresado a Paris, António deu andamento ao processo de chamamento do filho José.
Agosto, estação de Campanhã no Porto.

O Zé passeava-se em companhia da mãe, da avó Beatriz, da irmã Margarida e do senhor Joaquim, taxista que os trouxera até à Invicta... Bilhete comprado, papelada toda no bolso (incluindo o passaporte) José despede-se e avança para o combóio.

Os lugares à sua beira estavam ocupados por dois jovens da sua idade que também demandavam a terra dos gauleses. Não se conheciam entre si, mas rapidamente o Zé se apresentou e passados uns curtos momentos do arranque do Sud-Express já todos se conheciam como se fossem amigos de peito... Fôra o destino que os juntara. Haveriam de ser amigos vida fora...

Cada um transportava um saco ou uma mala velha para além do inseparável garrafão.
O Zé, para além da pinga, levava também outro garrafão com bagaço para o pai oferecer ao senhor engenheiro que lhe arranjara emprego.
No cesto de vime, comprado na feira d'ano anterior, levava uma galinha assada, que em viva fôra preta e que a mãe escolhera por causa do mau olhado...
Tinha um cheirinho divinal... levava ainda uma dúzia de chouriças de carne feitas em casa pela sua avó Beatriz, duas mouras, um chouriço e uns bolinhos de bacalhau que deviam estar mesmo bons,dado tratar-se da especialidade da avó, a quem todos recorriam nos casamentos, tal a qualidade evidenciada...
Levava ainda uma boa dúzia de moletes para fazer sandes, e um cibo de broa e azeitonas para mastigar com o presunto da pata da frente do porquito que morrera atropelado pela motorizada do vizinho. Um melão e uma dúzia de maçãs completavam a ementa...

Cada um dos outros também no seu farnel apresentava bolinhos de bacalhau, sandes de presunto alguma fruta...
O Quim levava até umas iscas de bacalhau que parece que do dito apenas terão apanhado o cheiro...
O Álvaro, tinha também umas sardinhinhas fritas com molho de cebolada dentro dum tachito pequeno que também levava arroz seco.

Decidiram que a comida seria de todos para todos e foi assente que a galinha do Zé só seria comida já no domingo a chegar a Paris.
Por essa noite de sexta adentro lá se entretiveram a comer umas sardinhinhas e um bocado de arroz que colocaram no único prato que o Álvaro levava e comeram à vez... os bolinhos de bacalhau, alguma fruta.

Quando acordaram seis, sete da manhã de sábado, beberam dos termos que todos tinham levado um café que acompanharam com umas sandes de presunto e até de bolinhos de bacalhau...
Por volta das dez e meia começaram a sentir um cheiro algo incomodativo vindo de debaixo dos seus bancos...
Era a galinha que devido ao calor se estragara...
Havia que deitá-la fora urgentemente

Temos de deitar isso fora pá antes que se estrague o meu salpicão - disse o Zé.

-Salpicão, chamas salpicão a um chouricito manhoso? Salpicão é o meu, ripostou o Álvaro...

-Isso não interessa agora para o caso. Façam costas que eu deito o bicho p´ra fora.

Entretanto, todas as janelas estavam bem abertas até baixo, por via do calor e do cheiro...

-Custa-me deitar a bichinha fora...

-O gajo é tolo! Dá cá isso que eu resolvo. Não vês aqueles gajos lá do fundo a olhar p´ra nós? Façam costas.

O comboio circulava a duzentos e muitos quilómetros por hora...
Tão depressa Álvaro jogou borda fora a galinha envolta no guardanapo e em jornais, logo ela reentrou (não fosse ela uma ave...) por uma das janelas do fundo indo bater com fragor no encosto de cabeça de uma cadeira vazia para saltar já toda esparramada para o colo do passageiro que aí seguia em frente...

Segundos depois, o homem de meia-idade abeirou-se deles para dizer:

- Merde, merde, qui va payer?
E mostrava o fato beje claro cheio de manchas de galinha, a gravata toda suja e a camisa com restos de ave impregnados.

-Merde, merde, qui va payer?

-Merda não pá, que até era uma galinha que eu vi crescer, disse o Zé...

-Está calado pá que ainda vem aí o revisor e estamos feitos ao bife. Neguem, neguem tudo...

Entretanto, sorte a deles, o combóio chega a Paris. Aglomeram-se as pessoas à espera dos passageiros. No meio de tanta confusão, os três aproveitam para se esgueirar...
Todos tinham os pais à espera que não se conheciam, mas depressa em uníssono surgiria uma gargalhada logo que lhes foi contada a aventura...

Promessas de reencontros. Despedidas, cada um para o seu lado.O tempo foi passando, os seus conhecimentos evoluíram, e entretanto, dá-se o golpe militar em Portugal.

Quase de imediato, Zé desembarca em Lisboa, discurso de antifascista engatilhado, autoproclamando-se exilado político perseguido pela PIDE, e filia-se num partido da extrema esquerda.Pouco depois dá o salto para um dos grandes, e agora é vê-lo, fatos de cashemire, gravatas de seda natural e sapatos italianos.
Arranjou a vidinha...

Só não esteve na guerra da Guiné porque era antifascista, objector de consciência, e um perseguido pela PIDE...

O pior é se o Quim e o Álvaro lhe descobrem a careca...

Manuel Maia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4630: Destas não reza a História (Manuel Maia) (4): História da esgraçadinha

Guiné 63/74 - P4733: Em busca de... (81): Jantar, retribui-se (José Carlos Neves)


1. Mensagem de José Carlos Neves, (*), ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974, com data de 2 de Julho de 2009:

Caro Carlos Vinhal

Faço-te aqui um apelo. Porém não há pressa até porque vou de férias (Algarve) e só lá para 20 de Julho é que estarei por cá.


Jantar, retribui-se

No último dia em que Catió era nosso, no dia a seguir foi entregue ao PAIGC, fui convidado para ir lá jantar pelo pessoal do PINT. Estava teso que nem um carapau ou seja sem dinheiro e é claro que nessa condição rejeitei o convite com muita pena minha. Porém a solidariedade fez-se logo sentir e um camarada (do qual não me lembro o nome) e que julgo ser da Póvoa de Varzim se prontificou logo a pagar-me o jantar com a condição de que lhe pagaria outro quando nos encontrássemos na vida civil.

Nunca mais o vi e agora com a leitura do Blogue é que as memórias vão aparecendo.
Se por acaso esse nosso camarada pertencer à Tabanca Grande ou alguém o conhecer por favor digam-me para poder, com todo o gosto, saldar a minha dívida.

José Carlos Neves
Ex-Soldado Radiotelegrafista do STM
Cufar 1974
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4598: Estórias avulsas (35): O porco que andava à solta (José Carlos Neves)

Vd. último poste da série de 21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4716: Em busca de... (80): CCP 121 - Apelo vindo do Brasil (Cassiano Rocha da Costa, natural de Castro Daire)

Guiné 63/74 - P4732: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (6): Operação "Rua Turra"



1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 21 de Julho de 2009:

Vinhal:
Com um abraço aqui vai a história do mês.
CMS


AS GRANDES OPERAÇÕES DA CART 2339

Historial da Companhia

Fá Mandinga e Mansambo – 1968/ 1969

Operação VI

Estamos em 30 de Julho de 1968 e pelas 1800h foi iniciada uma Operação denominada “Rua Turra” com a duração de 2 dias para esclarecimento da dúvida se o IN tinha abandonado ou não a região do POIDOM.

Tomaram parte na Operação as seguintes forças:

Destacamento A – CART 2339 a 4 GCOMB

Destacamento B – CART 1746 a 2 GCOMB (um deles era o Pel Caç Nat 53)

Pel Caç Nat 52

Pel Caç Nat 63

Pel Artª

Desenrolar da acção:

O Destacamento A saiu de Mansambo às 20,00h em viaturas para o Xime onde iniciou o movimento apeado à 01,00h, tendo ainda de noite atingido o ponto previsto.

Cerca das 07,00h detectou e foi detectado por grupo IN desarmado, vindo da região do Burontoni, perseguiu-os, mas sem resultados.

Após o tiro de Artilharia iniciou a progressão para o objectivo que atingiu sem reacção IN. O local encontrava-se tal como tinha sido deixado depois da Op. “Bate Dentro”.

Bateu de seguida a zona recebeu ordem de retirada, tendo atingido o Xime cerca das 13,00h, regressando a Mansambo em 31 às 20,30h.

Notas pessoais:

Nesta data a Companhia estava a agrupar-se definitivamente em Mansambo ficando ainda a Formação em Fá.

O meu Pelotão (3.º) acaba a diligência em Moricanhe e no dia seguinte, 28 de Julho, segue para Mansambo, continuando no seu trabalho de Engenharia Civil. Ainda faltavam os nossos abrigos. Era necessário construí-los, mas como o 1.º Pelotão nos tinha rendido em Moricanhe não dormimos ao relento.

Logo dia 30 a Op. “Rua Turra”.

A progressão foi feita debaixo de chuva torrencial e noite escura como breu progredindo o pessoal em bicha de pirilau, mas de mão dada.

Só os relâmpagos animavam o cenário.

Avistados elementos IN, disparos da nossa parte sem resultados.

Os guias perderam-se e regressámos a Mansambo sem picar a estrada.

Operação sem incidentes

CMSantos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4578: As grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (5): Operação "Bate Dentro"

Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (11): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)


1. O filho do nosso camarada Capitão Pára João Costa Cordeiro, falecido na Guiné, Pedro Miguel Pereira Cordeiro, deixou a seguinte mensagem no poste P4694, sob a forma de comentário:


Caros Senhores,

Agradeço os vossos testemunhos, garanto que, algures num futuro próximo, também acrescentarei (se o moderador aprovar) algumas fotos e documentos relativos à comissão de meu Pai na Guiné.

Ao Doutor Rebocho,

Se não me engano, nalguma foto aparece o (então Sarg.) Doutor Rebocho, lembro-me vagamente de ao ver fotos da Guiné com minha Mãe, esta referir um qq incidente com um Sargento que aparecia numa foto...

A António Santos,
Tenho bem presente a verdadeira paixão de meu Pai pelos saltos de pára-quedas, abundam, nos álbuns de família, imensos saltos, alguns em competições em França e na Rodésia, isto apesar das 2 comissões. Lembro-me, mesmo em miúdo na Guiné de, a seguir ao almoço, ele "cravar" os seus amigos pilotos para ir dar um salto.

Ao Cor. Matos Gomes,
Tenho algumas fotos dos tempos da Academia, incluindo mesmo algumas das competições de Atletismo e uma de um gesso ao tórax resultante duma queda na ginástica. Sei que a sua pronúncia Micaelense lhe valeu a alcunha "Duze", do que não sabia era desse envolvimento em reuniões.
Agradeço imenso o depoimento.

P.S.: Caro Luís Graça, gostaria apenas de lhe pedir para corrigir o marcador de "Cap Pára João Pedro Cordeiro", para "Cap Pára João Costa Cordeiro". É que o Pedro sou eu, não meu Pai que era Manuel de 2º nome...

Um forte abraço a todos,
Pedro Cordeiro
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Notas de M.R.:

(**) Vd. últimos postes desta série relacionados em: