terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5244: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (20): Patrulha a Santancoto - Quando os homens de camuflado choram...


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 20ª história, com data de 6 de Novembro de 2009:

Patrulha a Santancoto - Quando os homens de camuflado choram...

5 de Agosto de 1964

Amanhecia.

Uma coluna auto deixara o acampamento às 06h00, comandada pelo Alf. Mendonça dirigindo-se para a estrada de Bigene, que iria percorrer até Santancoto, limite do sector onde dois grupos de combate, chefiados pelo nosso comandante de companhia se lhe reuniriam. Até lá, limparia o itinerário de abalizes enquanto os dois grupos de combate que saíram á mesma hora, mas a pé, em direcção á bolanha de S. João, bateriam as matas entre o Rio Cacheu e a estrada em referência, mantendo em relação á coluna uma distância nunca muito superior a 2 km.

Até ao cruzamento para Guidage a coluna seguiu sem dificuldades, já que o itinerário se encontrava desimpedido. Daí para a frente a progressão tornou-se mais lenta, não só porque se entrava em terreno desconhecido mas também pelos obstáculos que foram surgindo. Um pouco acima de Sansancutoto encontrou-se uma ponte destruída passando-se no entanto o obstáculo com uma relativa facilidade, utilizando umas pranchas que se levavam já para o efeito.

Começou-se a bater a estrada mantendo-se assim uma segurança afastada, á frente, enquanto se foram retirando as primeiras abalizes, uma das quais gigantesca.

Antes de Banhima a mata fechadíssima, que ladeava a estrada, era interrompida por uma bolanha por onde o caminho seguia, sobrelevando-a, durante cerca de uns 300 metros.

Era surpreendentemente bonita esta língua de água, ora negra ora esverdeada, que interrompia a floresta e donde emergiam lindíssimas flores aquáticas de cores delicadas.Embora não nos pudéssemos distrair contemplando as belezas que nos cercavam não podíamos evitar um olhar mais demorado para aquela paisagem maravilhosa que só o cinema até então nos tinha revelado.


Um pensamento acudia ao espírito …«que pena haver terroristas»!

Entretanto a secção que seguia à frente, e que se atolou quase até ao pescoço naquela água lodosa, que vista de perto perdia muito da sua beleza, não seria exactamente da mesma opinião já que os seus homens, quando completamente encharcados puseram pé em terreno mais firme, praguejavam contra a Guiné e todas as suas bolanhas mal cheirosas.

Voltámos a passar entre tufos de vegetação frondosa. Dos galhos e lianas que se entrançavam por cima desciam longos fiapos e raizados inverosímeis. A água da bolanha ia dando a espaços um outro matiz á selva que nos rodeava impondo o negro, o amarelo e o castanho. O capim invadia a estrada que seguíamos e dir-se-ia impossível existir outra vida na selva que nos rodeava que não a de aves e répteis que a todo o momento se nos atravessavam no caminho.

Mas nós sabíamos que não era assim e não descurávamos um momento que fosse a segurança.

Parou-se por momentos para entrar em contacto com os grupos que seguiam apeados.

Ouviram-se rebentamentos ao longe e o matraquear de armas automáticas.

Estabelecida a ligação rádio soube-se não serem da nossa companhia os disparos ouvidos.

Houve ordem para avançar até junto de uma nova ponte. Passou-se a mata e entrou-se num terreno mais aberto onde os abalizes começaram a aparecer com mais frequência, indicio seguro que o inimigo não estava longe.

A coluna voltou a parar já que havia de retirar uma série de 6 abalizes que interrompiam uns 50 metros de estrada. Montou-se a segurança ficando a secção do Furriel Gomes para lá das últimas árvores abatidas, começando-se a retirar essas sem o auxílio do Unimog, já que as árvores abatidas sobre o caminho não eram de grande porte.

Foi exactamente esse facto – a não utilização dos guinchos das viaturas – que nos levou a pressentir um pequeno grupo inimigo que, oriundo dos lados de Santancoto, vinha pela estrada. Apesar de termos sido os primeiros a fazer fogo não fomos suficientemente rápidos para surpreendê-los, pois abrigaram-se com as árvores existentes no local, tentando envolver a coluna, e fazendo até alguns tiros contra as viaturas.

O nosso fogo e o «cantar» de uma metralhadora «Breda», instalada num Unimog, calou bem depressa o inimigo que só esporadicamente disparava algum tiro de pistola.Uma canhangulada inimiga passou perto da capota do jipe das transmissões, que ainda chamuscou, facto que atrapalhou um pouco o radiotelegrafista que lançou um S.O.S desesperado para os dois grupos de combate, que correram cerca de 3 kms julgando que estaríamos cercados.

Quando o nosso capitão Tomé Pinto chegou estava tudo completamente calmo e, na verdade, só a excitação momentânea do radiotelegrafista tinha causado uma situação de alarme injustificado.

Percorridos uns 300 metros, e chegando a um local onde a estrada faz uma curva pronunciada para a direita e desce em direcção a Buborim, avistou-se um numeroso grupo de inimigos a cerca de uns 200 metros. Diminuiu-se a distância que nos separa do inimigo e talvez a uns 60 metros da bolanha e da ponte que precede a tabanca foi dada ordem para fazer fogo de morteiro.

Apesar de recomendado ao soldado do morteiro para ter cuidado com as árvores de grande copa que ladeavam a estrada, o seu excesso de zelo e ardor combativo para cumprir rapidamente a ordem, levou-o a disparar a morteirada com tal precipitação que a granada foi rebentar contra um ramo alto de uma árvore do lado esquerdo, crivando de estilhaços o local onde se encontrava o nosso capitão e alguns soldados.

O estoiro foi medonho e por momentos a poeira levantada e o fumo da explosão não deixava ver nada.Logo se pensou no pior e o Alferes Santos e outros militares entre os quais o Cabo Enf. Martins, que se encontravam mais atrás, acorreram ao local para ver se havia feridos.

O chão, alguns metros em redor, encontrava-se completamente crivado de estilhaços. Encostado ao tronco de uma árvore, com a mão no seu ombro esquerdo, o nosso capitão deixou-se escorregar lentamente para o chão. Um jacto de sangue saía em repuxo do local que comprimia com a mão, sem poder evitar um esgar de dor.

Prontamente socorrido e amparado pelo enfermeiro conseguiu levantar-se e depois de estancada a hemorragia e feito um penso provisório, começou a caminhar em direcção á coluna auto, onde lhe poderia ser feito um tratamento mais eficiente pelo Furriel enfermeiro.

No meio da infelicidade do momento houve a sorte de não haver mais vitimas.Embora combalido o nosso Capitão enquanto caminhava tranquilizava os que o acompanhavam e que se sentiam manifestamente impressionados com o acontecimento.

Prevenido o Furriel Enf. Oliveira, este dirigiu-se ao encontro do ferido que ajudou a transportar até ao Unimog onde estava instalada a «Breda» e no qual, depois de deitado numa maca, lhe foram prestados socorros mais completos. Renovado o penso e depois de avaliar a extensão do ferimento e da sua gravidade, pediu-se um helicóptero para a sua evacuação urgente.

O estilhaço tinha penetrado profundamente e poderia ter lesado algum órgão importante.Organizada a coluna, voltaram-se as viaturas já com todo o pessoal montado, iniciando-se o regresso o mais depressa possível pois o estado do nosso capitão inspirava sérios cuidados.

Recusando-se a tomar sedativos, que lhe aliviariam as dores mas que o tornariam inconsciente, continuou a dar ordens que eram transmitidas pelo Furriel Enfermeiro.

Apenas umas centenas de metros tinham sido percorridos quando, no meio de uma mata fechadíssima, o inimigo emboscado atacou.Um tiro de pistola inicial e depois rajadas de pistola-metralhadora.

As viaturas pararam imediatamente saltando os seus ocupantes que, instalando-se com rapidez na berma da estrada, ripostaram ao fogo inimigo. O 2º grupo de combate, que vinha nas ultimas viaturas, suportou a parte mais violenta da emboscada, sentindo algumas dificuldades quando, já com a coluna em andamento, se levantou do local onde se tinha instalado.

Por duas vezes o Alferes Santos, que deve ter sido referenciado pelo inimigo (por ter dado ordens em voz alta) foi particularmente visado, passando uma rajada de pistola-metralhadora bem perto da sua cabeça. De salientar no momento, a calma e sangue frio do nosso Capitão que foi sempre transmitindo ordens, insistindo pelo afastamento da coluna o mais rapidamente possível da zona de morte da emboscada.

Todo o pessoal, apesar de inquieto e um pouco desmoralizado com o estado do nosso comandante de companhia portou-se valentemente saindo da «zona de morte» com decisão e coragem.

Passada a bolanha de Banhima, os grupos de combate passaram a bater as zonas mais fechadas, abrindo caminho para a coluna auto.

Com frequência, soldados abeiravam-se do Unimog onde seguia o nosso Capitão perguntando pelo seu estado, não conseguindo ocultar uma lágrima teimosa, que descia pelos seus rostos sujos de terra e suor. Cerca do meio-dia, quando seguíamos na região de Sansancutoto, surgiu dos lados de Binta o helicóptero pedido para a evacuação do nosso capitão que, já há cerca de duas horas ferido, começava a sentir-se enfraquecido e com dores que os solavancos da viatura tinham aumentado.

Aqueles homens de camuflado, que já tinham vivido e ultrapassado algumas provações bem duras, choravam agora como crianças despedindo-se do seu Capitão.Não menos comovido este deixava correr livremente pelo seu rosto, marcado pelo sofrimento, lágrimas de que um homem não se envergonha.

Todos queriam pegar na maca para o transportar; um despia o casaco camuflado para lhe aconchegar melhor a cabeça na maca; outro dava-lhe o seu concentrado de frutos da ração de combate para comer pelo caminho; outro ainda quase que o obrigava a beber água do seu cantil.

Todos lhe queriam tocar, apertar a mão, desejar-lhe as melhoras para que voltasse depressa.


Será difícil para um mortal comum, cujas emoções fortes nunca passaram para além da discussão com um polícia por causa do estacionamento do carro ou de um momento mais emotivo de um desafio de futebol, avaliar o que se sente num momento destes, quando se vê sofrer um homem, que além de chefe de excepção é um amigo, a quem se quer como a um pai, e pelo qual todos nós daríamos um pedaço da nossa vida, um pouco do nosso sangue.

Lentamente o helicóptero elevou-se no ar e vimos da maca um último adeus do nosso Capitão.

Com as mãos sujas do óleo da arma, da terra e do suor, aqueles homens de camuflado, de máscaras tensas e fatigados, limparam as lágrimas que não tinham conseguido suster e aperraram de novo as G3 prontos a seguir pois Binta ainda estava longe.

E todos desejavam com uma raiva surda que o inimigo se voltasse a manifestar.

Uma hora depois chegávamos ao estacionamento.

Tinha sido bem comprido aquele dia 5 de Agosto de 1964.


Quarenta e alguns anos depois... Memória de orfandade...

Para quem viveu a patrulha de Santancoto de 5 de Agosto de 1964 a imagem dos homens de camuflado a chorar... ficou para toda a vida.

Cada qual à sua maneira viveu e recordará as horas dramáticas de ter o Comandante de Companhia ferido e ser emboscado no meio de uma mata fechadíssima.

Passei a maior parte desses compridos minutos junto do capitão por «dever de ofício». Era o Furriel Enfermeiro.

A esta distância no tempo consigo brincar um pouco com a situação. O meu Capitão não era um doente fácil pois...recusava-se a tomar sedativos que lhe aliviariam as dores... sendo certo que eu, na altura, não lhe conseguia arranjar nem sossego nem tranquilidade...

O barulho era ensurdecedor e o doente continuava (felizmente) a dar ordens e... não parava de comandar.
Refere-se no «Diário da 675» que «... continuou a dar ordens que eram transmitidas pelo Furriel Enfermeiro... insistindo pelo afastamento da coluna o mais rapidamente possível da zona de morte da emboscada...»

«...Com frequência, soldados abeiravam-se do Unimog onde seguia o nosso Capitão perguntando pelo seu estado, não conseguindo ocultar uma lágrima teimosa que descia pelos seus rostos sujos de terra e suor.»

Vinte nove anos depois destes acontecimentos tive a felicidade de estar numa homenagem ao General Tomé Pinto na terra da sua naturalidade.

Se a memória não me falha... em 4 de Abril de 1993 o Cine-teatro de Torre de Moncorvo rebentava pelas costuras.
Eu era um dos oradores inscritos.

Falaram ex-militares de outras Companhias, que tinha servido sob as suas ordens.

Quando subi ao palco para falar em nome da «675» o «Capitão de Binta» sabia que... eu ia falar da Patrulha de Santancoto.

Foi um momento de grande cumplicidade e, no que me diz respeito, de grande emoção. Quando não me deu um enfarte dessa vez...

Quando no final o General Tomé Pinto agradeceu, leu um longo discurso, que previamente tinha preparado, para não correr o risco de esquecer alguém.

Quando chegou à vez da «675» já lá estava escrito tudo que tinha acontecido nos minutos anteriores...

Dava a ideia que tinha feito o discurso de agradecimento naquele mesmo momento!

Também importa recordar que aqueles momentos vividos em 5 de Agosto de 1964, em cima da viatura da «Breda», nos aproximaram para toda a vida...

Era um mau doente mas... um grande Comandante.

Transmontano, com tudo o que isso quer dizer: valente,

determinado... "antes quebrar que torcer"!

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5243: Controvérsias (51): Elites militares, estratégia e... tropas especiais (L. Graça / A. Mendes / M. Rebocho / S. Nogueira)

BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > " Caboiana, uma zona muito temida da região de Teixeira Pinto. Um momento de grande alívio quando os hélis nos iam buscar".

BCP 12 (Bíssalanca, 1972/74) > "Frente ao Hospital Militar de Bissau. Sentado no chão, em primeiro plano, o Furriel Ragageles, o homem que capturou o capitão cubano Peralta".

[O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. Enviado para Lisboa, foi devidamente tratado no Hospital Militar Principal. Foi julgado emTribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado, em troca, ao que parece, por um agente da CIA, preso em Havana.] (LG)

BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > "À direita o Manuel Rebocho e à esquerda o Furriel Palma, ambos da 123" (*)

Fotos e legendas © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados.





Título: Elites militares e a guerra de África
Autor: Manuel Godinho Rebocho (**)
Editora: Roma
Local: Lisboa
Ano: 2009
Preço: 18 €

Sinopse: "Esta obra de Manuel Godinho Rebocho, no âmbito da sociologia militar, aborda, de forma detalhada, temas como a formação base das elites militares, a guerra de África e o desempenho na mesma dessas elites e o seu comportamento no pós-marcelismo.

"O trabalho de investigação desenvolvido pelo autor, ao longo de vários anos, teve como fontes de informação fundamentais a análise de inúmeros documentos militares, a sua própria experiência e um vasto número de entrevistas a oficiais do Quadro Permanente.

"Dessa investigação conclui o autor que, no decurso da Guerra de África, os Oficiais do Quadro Permanente foram-se progressivamente afastando do Comando Operacional, para se instalarem nas posições de gestão militar. Desta situação, que considera inusitada, resultaria terem sido os milicianos quem, de facto, comandou as unidades de combate, nos últimos e mais gravosos anos da guerra." (
Roma Editora)


1. Comentário de L.G. (***):

(...) Vi apenas um parte do programa, já não apanhei a Giselda nem o Victor Barata. Ouvi o Manuel Rebocho, que me pareceu ter feito o trabalho de casa, em contrapartida, os donos do programa não devem ter percebido patavina do objecto de estudo da sua tese de doutoramento (a formação das elites militares...), agora passada a livro (ipsis verbis, o que pode ser mau, do ponto de vista editorial e da eficácia comunicacional: uma tese de doutoramento, escrita para fins académicos, pode tornar-se "ilegível", "não amigável", para um público mais vasto, de não-especialistas)...

São dois produtos diferentes: a "tese" e o "livro"... Lá estarei, no dia 17, espero, no lançamento do livro do meu confrade de sociologia e de camarada da Guiné, a quem desejo boa sorte, boa sabedoria e bom senso.(4/11/2009)

2. Outro comentário de L.G. (*):

Tanto quanto percebi a curta intervenção do Manuel Rebocho (cujo livro ainda não li)... Algumas notas que apontei, da entrevista ao Programa Portugal no Coração, RTP1, hoje, das 16h às 18h:

(i) Na Eurona não há doutrina em matéria de estratégia militar; estamos atrasados vários anos em relação à América;

(ii) O Adriano Moreira, que foi o arguente da tese de doutoramento, acha que esta pode contribuir para criar e manter uma fileira de pensamento estratégico militar [, em Portugal];

(iii) As guerras do futuro serão assimétricas;

(iv) Em 1961/74, Portugal enfrentou uma guerra assimétrica: um pequeno grupo de guerrilheiros, emboscava forças 10 vezes superiores em número e equipamento; mas o combate fazia-se apenas ao nível da cabeça da coluna, podendo provocar no máximo meia dúzia de baixas;
(v) Os oficiais de carreira desapareceram da cena de combate, em particular na Guiné: constatou o Rebocho, com surpresa, quando estava a fazer o seu trabalho de investigação;

(vi) As elites (militares) vão ser saneadas com o 25 de Abril;

(vii) As Forças Armadas Portuguesas não estão preparadas para as novas guerras…

(viii) Temos no máximo 12 anos para nos pre´pararmos para as novas guerras assimétricas;

(ix) O entrevistado deu o exemplo da Guiné (onde houve uma certa vietnamização da guerra; de facto, em Angola, na sua 1ª comissão, ele não deu um tiro, já na Guiné travou alguns duros combates): havia tropas de quadrícula, que estavam estacionadas num aquartelamento; tinham um posição essencialmente defensiva; as verdadeiras tropas de intervenção (pára-quedistas) estavam em Bissau; quando a guerra se acendia num dado sítio, eram como os bombeiros, iam lá, helitransportados, e apagavam o fogo, regressando a Bissau; as tropas de quadrícula é que podiam sofrer de stresse pós-traumático de guerra (SPTG), devido ao isolamento e à saturação;

(x) os pára-quedistas, não, não sofrem de SPTG; além disso, tinham uma ideologia profissional que os levava a respeitar os prisioneiros: um prisioneiro inimigo nunca se maltrata, tal como um camarada, morto ou ferido, nunca fica para trás...

(xi) O Rebocho dá ainda o exemplo do Cantanhez, no sul da Guiné, em cuja reconquista e reocupação, em finais de 1972/princípios de 1973, esteve empenhado o BCP 12: havia lá uma "tribo muito aguerrida" (nalus ? balantas ?) que combatiam a três, quatro metros, e que deram muito trabalho aos páras; nas outras zonas, os guerrilheiros do PAIGC atacavam à distância de 80/100 metros...

(xii) Em suma, o BCP 12 funcionava como um corpo de bombeiros: eram chamados para apagar os grandes incêndios (Gandembel, Guileje/Gadamael, Guidaje)...

(xiii) Não me parece que ele tenha mencionado Guileje... Fica o pedido de esclarecimento para o dia 17, na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Lumiar, em Lisboa... Até lá, um Alfa Bravo para o Rebocho, que me pareceu bem, no programa, calmo e sereno. (5/11/2009)
[Obs - Manuel Rebocho, ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, (Guiné, Maio de 1972/74), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos. Tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975" (agora publicada em livro)] (****)


3. Mail, de 5/11/2009, do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª Cmds (Brá, 1972/74) (*****):.

Amigo Luís Graça e co-editores do blogue: De vez em quando dou à costa e sabes, Luís, que quando o faço é porque as barbaridades incomodam-me! E mais, quando vêm de pessoas que se armam para quem nada percebe do assunto.

É o seguinte; Ontem, dia 4 de Novembro de 2009, pelas 17h30, estava a fazer zapping quando na RTP-1 me deparei com um senhor, que não sei quem é, e que apresentava um livro ao João Baião sobre a guerra colonial. Dizia o DITO Senhor que tinha sido pára-quedista, que tinha estado em Angola e depois foi para a Guiné em Maio de 1973.

Até aqui tudo bem, Luís, nada de grave. Disse ter estado no CANTANHEZ com a companhia dele. Falou de emboscadas e tiros. Nada de novo para mim, também lá estive e só numa emboscada tivemos um morto, um ferido grave, paraplégico mais tarde, etc. etc.

Mas a mim o que me fez abrir a boca de espanto foi esse Senhor dizer textualmente e ouvi bem :

"A ÚNICA TROPA QUE NÃO TRATAVAVA MAL OS PRISIONEIROS ERAM OS PARA-QUEDISTAS!"

Caí de cú! Eu sei que não tratavam mal porque trabalhei na mata com Pára-quedistas, por quem tenho muita admiração e onde tenho amigos... Mas com que conhecimentos é que esse Senhor falava para implicitamente dizer que outras tropas tratavam mal?

Amigo Luís, apenas te peço que publiques este mail para ver se alguém ouviu ou conhece esse Senhor, pois eu não captei o nome . Se alguém souber, comunique –me pois gostava de saber, e só saber de que purista veio essa afirmação.

Fico a pensar: ser tropa especial, dar tiros e poder matar, e a seguir? Mandava as condolências à família? Ia ao funeral? Senhor, apareça e explique-me por favor quem eram as tropas que torturavam os prisioneiros do PAIGC?!

Um abraço a todos os Bloguistas

Amílcar Mendes

38ª Companhia de Comandos na Ex-Guiné Portuguesa

4. Mail enviado por L.G., como editor, ao visado, Manuel Rebocho:

Manuel: Fazendo a prolifaxia do conflito... Queres esclarecer melhor o teu pensamento sobre este ponto ? É uma questão sensível... Não ideia de teres dito que os Páras eram os ÚNICOS que não maltratavam os prisioneiros... Mas estamos sempre a ser traídos pelas palavras... Publico, junto com a tua resposta...

O Amílcar Mendes foi 1º Cabo Comando, 38ª Cmds (1972/74)... É um rapaz, lisboeta, taxista, temperamental, sensível, um bom camarada... Esteve depois do Regimento de Comandos, Amadora, com o Jaime Neves. Fez o 25 de Novembro. Saiu já no final da década de 1970 ou princípios de 1980. Um abraço. Luis.


. Resposta do M.R., com data de 6/11/2009:

Meu caro Luís.

A frase a que parece quereres-te referir tem que ser enquadrada no seu próprio contexto.

Pelo que eu percebi, a coordenação do programa procurou alguma coisa que eu tivesse afirmado e chegou ao nosso blogue e preparou uma pergunta sobre a minha afirmação de que “a guerra em que eu participei foi violenta mas humana”. Questão tratada no nosso blogue.

O João Baião perguntou-me o que era isso de “violenta mas humana” e eu respondi-lhe que um dos exemplos de “humana” demonstrava-se no facto dos “pára-quedistas não tratarem mal os prisioneiros”.

Não me referi que eram só os paras, nem só estes nem só aqueles.

Não sei te tens presente, mas chegaram-me a tratar de "hipócrita", no blogue, pela forma como defini a guerra em que participei. Nunca me referi nem me refiro a ninguém, só falei e falo de mim.

Pelo que cada um, é que deve meditar no assunto, que se tem que colocar, onde julgue ser o seu lugar. Nesta matéria, cada um sabe de si: do que fez e do que viu ou deixou fazer.

Quanto ao “esticar” as minhas palavras para outros assuntos, é da responsabilidade de quem o fizer. Eu não falei em mais ninguém, nem insinuei nada, para além de mim próprio.

Sou hoje empresário na Guiné-Bissau onde sou estimado, depois, naturalmente, da “Secreta Guineense me ter feito a Ficha”. Pelo que o meu passado está esclarecido. Quanto aos outros! Cada um sabe de que, e o porquê de que se sente.

Um abraço

Manuel Rebocho

6. Comentário do nosso leitor S. Nogueira:

Não serão de esquecer ou escamotear as operações das Tropas Pára-quedistas com planeamento continuado e com algum enquadramento estratégico: no Leste de Angola, a partir de 1967 - na zona de Ninda-Sete-Chiume e depois, na região do alto curso do R Cassai onde, estacionada em Ninda e depois em Léua, operava em permanência uma Companhia, sem prejuízo de intervenções avulsas em zonas adjacentes ou afastadas;

(ii) no Norte de Angola, onde operava uma Companhia, com base variável mas com persistência ou reiterada intervenção em áreas de tradicional resistência - Canacassala, Toto-R. M'Bridge, toda a região dos Dembos e Serra do Uíge, etc;

(iii) em Moçambique, no planalto de Mueda e na Serra Mapé onde, a partir de 1968 passaram a estar estacionadas, em Mueda e Macomia, duas Companhias que operavam naquelas regiões, também sem prejuízo de acções pontuais em àreas adjacentes ou outras e sem considerar a intervenção na zona de Tete;

(iv) na Guiné, a repetida pressão a que as Companhias do BCP12 sujeitavam Unidades conhecidas do PAIGC ou certas regiões, por vezes durante períodos consideráveis e com alcance estratégico geral.

A presença e actividade planeada daquelas sub-unidades nas referidas zonas não impedia outras acções inopinadas de assalto e destruição -de facto mais frequentes na Guiné- e que podiam ser desempenhadas também pela(s) Companhia(s) que estivessem entretanto aquarteladas na Base.

S. Nogueira


7. Esclarecimento posterior (10/11/209, às 8h56) pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (que esteve em Bissalanaca, BA 12, 1972/74):

Caro Luís: Depois dum comentário que li no blogue em que alguém punha em causa declarações do SMor Rebocho na RTP, estive a rever a gravação. O Rebocho apenas diz que "as tropas pára-quedistas tinham uma filosofia muito própria, nunca maltrataram os prisioneiros". Ora com isto não quis dizer que tenham sido os únicos a ter este comportamento, apenas abre a porta a que outros possam ter tido um comportamento diferente (o que, aqui e ali, sabemos ter sucedido).

Um abraço. Miguel Pessoa

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

(**) Vd. poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa

(***) Vd. poste de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração

(****) Vd. alguns postes do Manuel Rebocho, publicado no nosso blogue:

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)"

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

(*****) Vd. alguns dos postes de Amílcar Mendes:

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Vd. também poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4496: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (4): O abraço de dois comandos, V. Briote (1965/66) e A. Mendes (1972/74) (Luís Graça)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5242: Parabéns a você (39): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav, Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Carlos Vinhal)

1. Embora tardiamente, não quero deixar acabar este dia 9 de Novembro de 2009, sem deixar um poste assinalando o aniversário do meu velhíssimo companheiro e nosso camarada António da Costa Maria*.

Só hoje, numa reunião de trabalho que o bando dos 4** teve com o novo Presidente da Junta da Freguesia de Leça da Palmeira, o Tone Maria, que conheço há 48 anos, me confidenciou completar hoje 63 anos.

Caro António Maria, além das palmadas amigáveis que te demos pela manhã, aqui ficam os meu votos, e dos restantes camaradas e tertulianos em geral, de que tenhas pela frente muitos e bons anos de vida, sempre acompanhado da tua esposa Alice, filhos e netos. Claro que não esqueço a sempre presente senhora tua sogra que convosco coabita e que gosta de mim só por eu ser Leça.

António Maria, Fur Mil Cav, montado num dos seus cavalos de ferro

2. António da Costa Maria foi Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 que esteve em Bafatá nos anos de 1969/71, apresentou-se na Tabanca em 25 de Junho de 2009 assim:

Breve súmula da vida do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 na Guiné, 69/71

Foi mobilizado pelo Regimento de Cavalaria n.º 8 de Castelo Branco com destino ao CTIG para render o Esquadrão de Reconhecimento Fox 2350.

O embarque para aquela ex-Província Ultramarina deu-se a 15 de Novembro de 1969 no Paquete “Uíge”, no cais da Rocha do Conde Óbidos. O desembarque em Bissau foi na manhã do dia 21 de Novembro, tendo toda a unidade seguido para a CCS/QG em Santa Luzia, onde se aquartelou até se deslocar para Bafatá.

Nesse mesmo dia à tarde realizou-se em Brá uma cerimónia de recepção, à qual presidiu o Comandante Militar Brigadeiro Eugénio Castro Nascimento. Foi não menos importante o encontro com os meus amigos Rafael Assunção que me orientou e me arranjou uma digna instalação e o Ribeiro Agostinho, com os quais passei uns bons bocados.

Dias após, embarcamos numa LDG Rio Geba acima, para aportarmos no Xime de onde seguimos em coluna militar por picada e estrada até ao nosso poiso final (Bafatá).

Éramos uma reserva móvel do Agrupamento de Leste e actuávamos em qualquer parte da Zona Leste da Guiné. O Esquadrão Rec Fox fazia protecções a colunas militares, de reabastecimento, protecção a operações, acorria em socorro de populações e aquartelamentos flagelados, fazia patrulhas diurnas e nocturnas, etc.

A área atribuída ao Agrupamento Leste era limitada a Norte pela fronteira com o Senegal, a Leste e Sul pela fronteira com a República da Guiné Conacri e a Oeste por uma linha sinuosa que corresponde aos limites ocidentais de vários Regulados.

Sofremos várias flagelações ao aquartelamento de Piche (havia sempre um nosso pelotão operacional em Piche, dos três que rodavam mensalmente entre si), emboscadas nas estradas para Nova Lamego (Gabú), Buruntuma e outras, para além do levantamento de inúmeras minas anti-carro e anti-pessoal.

Felizmente nunca sofremos baixas. O nosso único morto foi o malogrado soldado Júlio Joaquim Alvorado Trouxa, vítima de afogamento na piscina de Bafatá. De resto só feridos sem muita gravidade e evacuações por doença.

[...]
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4579: Tabanca Grande (155): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71

(**) Bando composto por António Maria, Carlos Vinhal, José Oliveira e Ribeiro Agostinho que tudo fazem para que se não esqueçam os ex-combatentes da guerra colonial do Concelho de Matosinhos

Vd. último poste da série de 6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5221: Parabéns a você (38): O nosso Alfero, Jorge Cabral (Cabral só há um, o de Fá e mais nenhum)(Editores)

Guiné 63/74 - P5241: Controvérsias (50): O estranho caso dos três desertores da base naval de Ganturé (Serafim Lobato)

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal".O fotógrafo estava lá... Uma foto muito feliz (uma das melhores fotos da guerra colonial!), do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos, membro da nossa tertúlia e webmaster do sítio Reserva Naval.

Da base naval de Ganturé, desertaram 3 grumetes, em 1970. Um caso, que ainda está longe de estar esclarecido, segundo Serafim Lobato, antigo oficial da Reserva Naval que estava nessa altura em Ganturé, tal como o Comandante Calvão. Petite histoire, mas mesmo assim, um caso polémico nomeadamente em relação a dois dos desertores, Ilberto Alfaiate e António Pinto que, infelizmente, não nada poderão acrescentar, de viva voz, porque estão mortos. Resta-nos localizar o José Armindo Sentieiro e convencê-lo a ser ele a contar a sua própria história (*), que parece estar mal contada, tanto pelo nosso lado como pelo lado PAIGC.

Foto: © Manuel Lema Santos (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Direitos reservados.


1. Comentário de Serafim, ex-jornalista de O Público, hoje reformado, e antigo oficial da Reserva Naval, colocado ontem no Poste P2097 (*)

(i) Este comentário peca por tardio. Confesso não ser um visitante assíduo do blogue.

Chamo-me Serafim Lobato. Fui jornalista, hoje reformado, e, na altura da deserção dos grumetes era oficial fuzileiro especial e estava sedeado em Ganturé, tal como eles.

A sua deserção deu-se meia dúzia dias da minha chegada àquela base naval, situada nas margens do rio Cacheu, dois quilómetros para sul da sede do Comando Operacional 3 que, então, era comandado pelo capitão-tenente Alpoim Calvão,que veio a ser o comandante da citada operação[ Op Mar Verde, invasão de Conacri, 22 de Novembro de 1970].

Fui uma testemunha.

Já agora, mea culpa, eu apenas referi a existência de dois desertores e, nisso, Fernando Barata tem razão, eram três. A memória vai falhando.

Os desertores pertenciam a um pelotão independente de fuzileiros navais, que faziam as tarefas logísticas naquela base. Tinham sido punidos pelo comando do COP 3 e estavam a capinar o exterior da mesma, por delitos cometidos. Não eram meninos de coro que debitavam slogans contra a guerra.

Aliás, na ocasião, o comandante Calvão não ficou preocupado com a deserção.

O que me levou a arrebitar as orelhas quando soube que ele [,o Ilberto Alfaiate,] estava a ser "o informador" privilegiado no terreno da Op Mar Verde. Mais arrebitado de orelhas fiquei depois de saber que ele morrera atropelado.

A morte do segundo homem [, o António Pinto,] foi-me transmitida por um oficial participante na Op Mar Verde, próximo do Comandante Calvão, [oficial esse] que já morreu. Eu estava convencido de que era o Pinto, mas, também, poderia ser o Sentieiro.

(ii) Na realidade, fazendo, agora, uma pesquisa na Net sobre a Mar Verde, cujo 40º aniversário passa em 2010, surgiu-me esta informação-comentário no seu blogue de um senhor Fernando Barata (*), muito preocupado com a eventual "especulação" saída num artigo do jornal O Público.

O panfleto do PAIGC, que ele vos entregou, eu tive, na minha posse, um idêntico. Dias depois da deserção, umas largas dezenas foram deixadas em Ganturé. Acrescento uma informação: eu ouvi-os depois na rádio do movimento guerrilheiro [ a Rádio Libertação, em Conacri,] dissertando [sobre] a sua deserção.

(Respeito todos aqueles que desertaram da guerra, como respeito todos aqueles, que, sinceramente, a defenderam e o afirmam publicamente).

Só que a razão da deserção desses homens - que diziam estar contra a guerra, Alfaiate reafirmou-o na rádio PAIGC em Conacri - não se coadunam com o facto descrito pelo comandante Calvão no seu livro De Conakry ao MDLP, no qual assinala que o citado Alfaiate (um dos desertores), libertado pelo PAIGC e colocado em Paris, fora capturado, mas que "ao mesmo tempo se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas" (p. 70).

Ora, eu sei por fontes que participaram na Op Mar Verde, que a bordo dos navios que zarparam para a capital guineense em 1970 não ia somente o Alfaiate, mas, pelo menos, um outro.

Eu pensei que era o Pinto, mas podia ter sido o Sentieiro.


(A notícia de que o Pinto apareceu ligado à LUAR e, posteriormente, à segurança do Vasco Gonçalves não me convence, à priori, do seu antifascismo. Os partidos de esquerda estavam cheios de infiltrados).

O Calvão, no livro, chama a Alfaiate "colaborador de valor". Ou seja, sabia coisas. E a Op Mar Verde foi um fracasso político e estratégico.

De recordar que as conversações das autoridades portuguesas com a "oposição" ao regime de Seku Turé, o principal visado da Mar Verde, ocorreram em Paris - onde estava o Alfaiate - e alguns cúmplices do golpe em Conacri eram colaboradores do antigo Presidente da República da Guiné. Ora, Alfaiate foi para Paris, com a conivência do PAIGC e, certamente, de Turé.

Foi o próprio Calvão (****), que me confirmou, em entrevista, que o Alfaite falecera "num desastre de automóvel", e ele [ou isso ?] acontecera antes do 25 de Abril.

(iii) Claro que isto hoje é História. Ora a História da Guerra Colonial não foi limpa, também foi uma guerra suja.

Serafim Lobato

[Revisão / fixação do texto / bold a cor / título: L.G.]

__________

Notas de L:G.:

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé (Fernando Barata)

(...) Por altura da passagem do 30.º aniversário da operação Mar Verde pela pena de [o jornalista] Serafim Lobato, apresentou o jornal Público um artigo evocando a efeméride. Por attachment estou a enviar-te um subtítulo desse mesmo trabalho (Duas estranhas deserções que acabaram em morte).[Recorde de imprensa, digitalizado, sem data: Novembro de 2000. Artigo assinado por S.L.]

Pedia-te que regressasses ao Poste n.º 1496 do nosso Blogue [**]. Nele está o panfleto que te fiz chegar e no qual o PAIGC refere terem-se entregue, não dois mas sim três fuzileiros, concretamente, António Pinto, José Sentieiro e Ilberto Alfaiate.

A notícia [do Serafim Lobato] procura especular quanto à morte estranha, já em Portugal, num acidente rodoviário, do Ilberto Alfaiate e igualmente refere que “o segundo desertor também faleceu em condições não muito claras”.

No Poste n.º 1560 [***], o João Tunes relata ter conhecimento que o António Pinto faleceu há quatro anos. Por outro lado o artigo do Público tem data de Novembro 2000. Assim sendo a sua morte teria ocorrido há mais de sete anos. Mas, não é essa discrepância que é importante. O importante seria ouvir o fuzileiro que resta: José Armindo Sentieiro, para que este esclarecesse em que condições se deu a deserção. Quem poderá ajudar a localizar o Sentieiro? (...)

(**) Vd poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(***) Vd. poste de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)


Vd. também poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)


(****) Alpoim CALVÃO (e não Galvão) como aparece, erradamente, em vários postes do nosso blogue (e, aliás, noutros sítios, na Net), por vulgar erro de simpatia. As nossas desculpas ao próprio, que foi nosso camarada da Marinha, de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão. Tão rápido quanto possível iremos corrigir esse lamentável erro.

Vd. Wikipédia > Guilherme Almor de Alpoim Calvão

Guiné 63/74 - P5240: Efemérides (34): 86º aniversário da Liga dos Combatentes & 91º aniversário da I Grande Guerra (José Martins)


1. Mensagem de José Martins (1) (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,Canjadude, 1968/70), com data de 7 de Novembro de 2009:

« »14 de Novembro de 2009 « »

No próximo dia 14 de Novembro, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa, será comemorado o 91º aniversário da I Grande Guerra e o 86º aniversário da Liga dos Combatentes.

Nesta cerimónia estarão presentes as ossadas, bem como familiares e amigos dos nossos seguintes camaradas mortos, por ferimentos em combate, na Guiné:
  • Soldado MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, integrando a 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4512/72, solteiro, filho de António Emílio Geraldes e Ascenção dos Santos Rodrigues, natural da freguesia de Vale de Algoso, concelho de Vimioso. Morreu em Guidage em 10 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate rebentamento de uma mina anti pessoal. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
  • 1º Cabo GABRIEL FERREIRA TELO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de João de Jesus Telo e Maria Flora Ferreira Telo, natural da freguesia de Paul do Mar, concelho de Calheta - Madeira. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
  • Furriel miliciano JOSÉ CARLOS MOREIRA MACHADO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de Manuel achado e Delta de Jesus Moreira, natural de freguesia de Ervões, concelho de Valpaços. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
As ossadas dos nossos camaradas foram recuperados em conjunto com os dos nossos camaradas pára-quedistas, que já foram sepultados em Portugal, nas suas terras de naturalidade, depois da homenagem que teve lugar na Igreja da Força Aérea, em Lisboa, e no Regimento em Tancos, no dia 26 de Julho de 2008.

Nesta cerimónia estará presente o Ministro da Defesa Artur dos Santos Silva que, devido ao cargo que exerce, presidirá às cerimónias.

É uma boa altura para que TODOS os antigos combatentes, que possam estar presentes, não só para honrar os nossos camaradas que agora regressam, mas para fazer sentir à Nação e aos seus Governantes que ainda estamos vivos e assim pretendemos continuar.

José Martins
7 de Novembro de 2009
(a partir da noticia publicada em ultramar.terraweb.biz)
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


Guiné 63/74 – P5239: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (13): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas da Convalescença


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos o 13ª fracção das suas memórias. Esta série foi iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

ROTINAS DA CONVALESCENÇA

No dia cinco de Fevereiro, à hora do almoço, chegou junto de mim o Primeiro Sargento, que me deu a notícia de que no dia catorze, ia ser submetido a exame de condução e queria saber a minha decisão, se eu ia ou não.

- Porque é que não hei-de de ir? - Perguntei-lhe.

Respondeu-me com outra pergunta:
- Então já não esta doente?
- Acha que eu vou perder esta oportunidade, por favor marque-me viagem para amanhã. – retorqui eu.

Como não foi possível no dia 6, só fui ao exame no dia sete, com o pescoço ainda “torcido”, pois não conseguia sequer olhar em frente.

Cheguei a Bissau e fui logo a Escola S. Cristóvão, onde me foram prestadas algumas lições de condução (creio que cinco), dei umas voltas por Bissau por circuitos estratégicos, que os instrutores conheciam bem. O instrutor ia-me dizendo:
-Cuidado com esse à vontade e… mais devagar que aqui não é mato e eles não perdoam.

No dia do exame, de manhã, apresentei-me no Quartel-General confiante, primeiro fiz provas de código da estrada: cores, sinais, reflexos e tabuleiros, com varias situações habituais do trânsito automóvel e tudo correu bem. No fim, mandaram-me esperar no exterior e, passados alguns minutos, fui chamado para a prova de condução. Ao volante de uma viatura estava outro furriel e, ao lado dele, o examinador (um alferes).

Eu e o instrutor sentamo-nos no banco de trás. O furriel que estava ao volante, iniciou a sua prova (segundo soube depois já era a segunda vez que a fazia), dando umas voltas pela cidade e foi acumulando asneira atrás de asneira. A certo momento, o alferes mandou-o encostar, o que ele não fez, ou porque não ouviu ou porque se distraiu. A verdade é que se o alferes não tivesse travado o carro, tínhamos ido bater num outro carro que se encontrava estacionado.

Pensei, cá para comigo, isto está mau. Mandou-o sair do carro, para o banco de trás e, disse-me que passasse eu para a frente. Em seguida, mandou-me avançar, o que fiz e, após andar uns cem ou duzentos metros, parei porque estava à minha outra viatura a efectuar uma inversão de marcha, também num exame.Disse-me o alferes:
- Eu não o mandei parar.
- Desculpe meu Alferes, não vou prejudicar a pessoa que está a fazer uma inversão de marcha, num exame. – Disse-lhe eu.

Deixei completar a manobra e segui em frente. Cruzamento para aqui, encruzilhada para ali, cheguei junto de uma rotunda com sinaleiro, contornei-o e voltei à esquerda. Já sabia para onde o alferes me ia mandar, e que teria que voltar à esquerda, subindo uma pequena lomba.

Aí mandou-me parar, mesmo a meio, dizendo:
-Usa a embraiagem, ou o travão? - Respondi-lhe:
-Como quiser.”

Parei o carro usando só a embraiagem. Mandou-me arrancar novamente, o que eu fiz sem deixar descair o carro.
- Siga em frente – disse o alferes.

Quando chegamos a uma esplanada mandou-me estacionar.
- Agora vamos beber um café! – disse o alferes.
- Eu não bebo - retorqui eu.
- Então espere aí – voltou a dizer o alferes.

As coisas estavam-me a correr bem, mas ainda faltava chegar ao Quartel-General. Felizmente tudo correu tudo bem.

À tarde fui saber o resultado do exame e, como esperava, fiquei aprovado. O outro furriel, repetiu o “chumbo” e teve que esperar mais uma semana, para ir novamente a exame.

Dia quinze, foi chamado à Secretaria do Quartel-General, onde um furriel me transmitiu que havia uma avioneta que se deslocaria para Bambadinca. Voltei-me para o furriel e disse-lhe:
-Isso é que era bom, nesse transporte não vou.
- Tens que ir, estão lá à tua espera.
- Estou com baixa - disse-lhe eu.
- As ordens são para ires, para ficares no destacamento que o pessoal da tua companhia vai sair em missão.
- Não vou – voltei a repetir - só se for de avião ou de barco.

E, assim, só no dia dezassete é que regressei à minha base, de avião.

Quando cheguei a Geba fui informado pelo meu alferes que, no dia seguinte, tinha que ir para Banjara, mas que ficaria no destacamento com o meu pelotão, para manter a segurança no local. Não me falou nada sobre a minha baixa. Fui para Banjara e estive lá dois dias. Dois dias a ver um helicóptero num vaivém doido, a chegar com feridos ligeiros e a partir para trazer outros.

No segundo dia o heli não apareceu e ainda bem, pelo que regressamos a Geba.

Continuei em Geba até fins de Fevereiro, sem mais nada ter acontecido. Felizmente que nos deixaram descansar uns dias, para recuperar a moral e as forças físicas, e para eu continuar a recuperar do meu incidente, pois ainda não conseguia olhar em frente correctamente e doía-me, fortemente, quando tentava voltar-me para trás. Mas sentia que as dores iam diminuindo e o tempo ia passando, também.

No dia um de Março, a companhia fez mais uma rotação, como vinha acontecendo de dois em dois meses e, a mim desta vez, tocou-me ir para o destacamento de Cantacunda.

Do meu pelotão apenas eu é que tive o privilégio de ser o contemplado, pois o meu pelotão ficou todo em Camamudo, quando devia ter ido metade. Nem a minha Secção me acompanhou, não sei se por castigo ou por engano. Não me foi dada qualquer explicação por parte do alferes, como já era habitual, que mantinha segredo em tudo até ao último momento.

O destacamento de Cantacunda estava a ser comandado pelo Furriel Miliciano Paio, do primeiro pelotão, que ficou com duas secções, pois era a vez de eles irem para Banjara. Por isso fui eu comandar a outra secção.

Eu, com o Régulo (Chefe máximo da região de Cantacunda)

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Foto: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:

domingo, 8 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5238: Agenda Cultural (43): TVI, As Tardes da Júlia, 2ª feira, 9/11/2009, das 14h às 17h: As Mulheres na Guerra... (Miguel Pessoa)

1. Mensagem de Giselda e Miguel Pessoa (*), ex-Srgt Enf Pára-quedista e ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, com data de 8 de Novembro 2009:
Programa na TVI
Camaradas,
Tivemos um reporte este fim-de-semana, por parte de uma das convidadas, de que amanhã, 2ª feira, 9 de Novembro, irão estar presentes no programa da Júlia Pinheiro, As Tardes da Júlia (*), na TVI, duas ou três ex-enfermeiras pára-quedistas, sendo o tema da entrevista "As mulheres na Guerra".
Está confirmada a presença das Enfermeiras Zulmira e Rosa Serra, sendo possível que também vá a Enfermeira Maria do Céu Pedro.
Lamentamos mas não dispomos de dados adicionais, supondo nós que estarão também presentes outras Mulheres que viveram a guerra noutras áreas... e noutras perspectivas.

Base Escola de Tancos > 1971
7.º curso de paraquedismo (enfermeiras civis)
(Foto de grupo)
Um abraço,
Giselda e Miguel Pessoa
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

"Talk-Show com três horas de emissão, em directo, de Segunda a Sexta, das 14 às 17 horas. Apresentado por Júlia Pinheiro, este programa pretende criar uma aproximação afectiva com os telespectadores da TVI dando a conhecer casos de vida marcantes que possam de alguma maneira servir de exemplo, pela positiva.

"As entrevistas a figuras públicas ou anónimos serão enriquecidas com peças jornalistas de investigação e inúmeras surpresas preparadas para os convidados presentes em estúdio. A actualidade estará sempre na ordem do dia, ditando a escolha de temas fortes e polémicos ligados às mais diversas áreas - saúde, educação, familia, sociedade, crime, cultura, politica e entretenimento.

"As suas tardes nunca mais serão como dantes. A Júlia Pinheiro irá contagiar o país com a sua energia, sensibilidade e boa disposição, dando a conhecer histórias emocionantes e verdadeiramente surpreendentes. Para além dos espaços de entrevistas, "As Tardes da Júlia" vão estar recheadas de jogos e passatempos interactivos, actuações musicais e divertidíssimos momentos de humor. A grande aposta da TVI que irá conquistar o coração dos portugueses, já a partir de dia 10 de Abril".