sábado, 16 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5656: Em busca de... (109): Manuel Quelhas, ex-1.º Cabo da CART 3567, Mansabá 1972/74, procura camaradas

1. Manuel Silva Quelhas, ex-1.º Cabo da CART 3567 deixou este comentário no poste "Guiné 63/74 – P5018: Em busca de... (93): Procuro ..."*:

Olá camaradas,
Quis o tempo que fosse a filha do camarada Henrique que viesse despoletar algo que há muito me intriga.
Tenho visto muita coisa na NET relacionada com Mansabá, graças ao nosso camarada LUIS GRAÇA, bem Haja.

Por aquilo que tenho lido parece que a Guerra acabou depois da CART 2732 ter saído de Mansabá. O que é feito da Companhia 3567 que esteve em Mansabá de 1972 a 1974? Será que fomos lá fazer Turismo? Será que já ninguém se lembra do Manhau, do Bironque, de Mandina Fula, de Cã Quebo, do Morés, etc.

Vejo com frequência, Capitães, Alferes, Furriéis, a enviar mensagens para Net relembrando a sua Companhia enviando fotografias. Da nossa Companhia nem vê-las. É uma pena. O que é feito dos nossos Oficiais e Sargentos? Estão todos zangados?
Não acham que deveríamos prestar homenagem àqueles que tombaram em combate, aos feridos com gravidade, inclusivé o Alferes Silva que comandava a coluna quando foi ferido com muita gravidade, o que é feito desses camaradas?


Não podemos esquecer as nossas baixas:

O Bonilha - morto em combate
O Cordeiro - morto em combate
O Pessoa - morto em combate
O Fur Mil Sá Lopes - morto em combate
O Fur Mil Costa - morto em combate
O Amaral - morto em combate
O Furriel do 3.º Pelotão sem uma perna
O Mourão (Condutor) sem uma perna
Um sold.do 4º pelotão, sem uma perna
O Vilar, gravemente ferido
O Alf Mil Silva, gravemente ferido
O Furtado, gravemente ferido;

e tantos camaradas que vieram evacuados para Lisboa, feridos com gravidade, já não me lembro do nome de todos, peço imensa desculpa.

Afinal também temos Historial. Faço aqui um apelo aos nossos Oficiais e Sargentos: reunam-se se for possível porque o tempo já não é muito.

Um abraço para todos,
1.º Cabo Quelhas
manuelsilvaquelhas@gmail.com


Vista aérea de Mansabá

2. Comentário de CV:

Caro Manuel, como nota prévia convém informar os nossos leitores de que já trocámos umas mensagens, que mais abaixo vou publicar, mas antes quero referir-me a este teu comentário.

Quase me assustei, quando te comecei a ler, porque te julguei zangado com a CART 2732, onde militei durante 23 meses. Afinal o teu descontentamento prende-se com a ausência de notícias da tua CART neste Blogue.

Tens razão. A partir da Cart 2732, de Mansabá pouco se sabe. Sei eu que a CCAÇ 2753 nos foi render temporariamente, porque ela própria estava prestes a acabar a sua comissão de serviço, sendo então, ao que deduzo, rendida pela tua Companhia. Julgo não estar errado.

Digo eu, que para começar, devias dar o exemplo aos teus camaradas, alistando-te na nossa Tabanca e começando a contar aquilo de que te lembras, sendo, quem sabe, um incentivo para os teus companheiros fazerem o mesmo. Serás uma espécie de rastilho que poderá provocar uma reacção em cadeia.

Além de mais, não cabe só aos oficiais e sargentos a missão contar as suas memórias e a história das Unidades. Temos no nosso Blogue belíssimos exemplos de ex-Cabos e Soldados que escrevem muito bem, mas se alguém precisar de uns retoques, de acordo com as nossas possibilidades, também ajudamos. O que é preciso é falar, neste caso escrever.

Como já combinámos vou publicitar a nossa troca de mensagens.


3. Mensagem de CVpara Manuel Quelhas, com data de 13 de Janeiro de 2010:

Caro camarada Manuel
Depois desta tua intervenção, só tens uma hipótese de corrigir a falta de notícias da tua Unidade. Junta-te a nós e começa a contar as tuas histórias. Manda-nos também as tua fotos com legendas para as podermos publicar.

Este teu camarada esteve em Mansabá na CART 2732 entre Abril de 1970 e Fevereiro de 1972 e deixou por lá muita guerra para os que se seguiram. Conhecemos muito bem as localidades que referes, especialmente o Bironque onde eu e outro camarada levantámos uma mina anticarro e onde anteriormente uma outra tinha destruído a nossa GMC de estimação, ferindo com bastante gravidade o seu condutor de ocasião.

Também andámos por Manhau e Mantida, Cã Quebo, Madina Fula e outras santas terras onde porradinha não faltava.
Na estrada para Cutia, perdemos ali perto de Mamboncó dois briosos camaradas madeirenses. Paz às suas almas.

Fico à espera de notícias tuas.
Manda-nos uma foto tipo passe actual e outra do tempo de guerra, fala-nos da tua Unidade, quando embracou, quando regressou, por onde andou e quais os maiores roncos.
Podes também falar um pouco de ti, tal como o teu posto, onde moras e outras coisas que não invadam a tua intimidade, mas que os amigos (e somos muitos) gostam de saber.

Para já deixo-te um fraterno abraço e votos de que gozes de boa saúde.
Teu camarada
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art
CART 2732
Mansabá
1970/72


4. Resposta de Manuel Quelhas com data de 14 de Janeiro de 2010:

Meu caro Carlos,
Obrigado pela visita. Pois caro camarada já tinha visto a tua fotografia com a mina no bironque, todos os que passamos por lá conhecemos aquele local, também naquele local rebentámos uma mina com uma Berliet. Fomos ao k3 e à vinda para Mansabá, já de noite, rebentou uma mina na viatura da frente. Era esssa a nosa vida, sempre em risco como sabes.

Tenho visto o teu trabalho na Net e o do Luís Graça, grande obra, mas digo-te de verdade que Mansabá tem ainda muito por contar. Eu não sou a pessoa devidamente documentada, o que tenho é de memória, pois era 1.º Cabo Atirador, mas sei que há pessoas que têm o historial da nossa Companhia, eu apenas me lembro de factos concretos, não me preocupava muito com fotografias, não tinha como tirá-las, as fotografias que tenho estão na minha cabeça e essas não me esquecem.

Vou-te contar um pequeno episódio que se passou com um colega meu que não há meio de esquecer:

Íamos nós fazer uma coluna a Mansoa. Eu mais o Bonilha, que era do 1.º Grupo de Combate, eu era do 2.º Grupo, estávamos a encher o cantil de água antes de montarmos para cima das viaturas, Ele virou-se para mim e disse-me:

- Quelhas lá temos que fazer mais uma coluna, isto é muito perigoso - dizia ele, parecia que estava com medo, tentei acalmá-lo sabe Deus como, pois sabia do perigo que eram aquelas colunas.

Lá lhe foi dizendo:

- Pois temos Bonilha, pois temos, mas não te preocupes que não há-de ser nada, vamos ter que fazer ainda muitas, não há-de ser nada Bonilha.

Seguimos para cima das viaturas e lá partimos em direcção a Mansoa, antes de chegar a Cutia, mais ou menos no carreiro da Morte, tivemos uma emboscada, depois de todo aquele tiroteio e de toda a confusão, como sabes, levanto-me e vejo um camarada cabonizado, entre outros, pergunto quem é, e diz-me um colega:

- É o Bonilha.

Um abraço, fico por aqui
M.Quelhas


5. Caro Manuel
Mandei-te mais uma mensagem, mas não acrescenta nada em termos de blogue.

Esta história do Bonilha é trágica, mas infelizmente não é única.
Único foi para ti o momento em que viste o teu camarada morto a teu lado. O camarada que, horas antes, te deu a entender que pressentia algo que não era bom, mas não estava nas tuas mãos alterar o seu destino.

Nuca mais o esqueceste, nem as suas palavras, e isso é a maior homenagem que lhe podes prestar. Vais viver com isso até ao fim dos teus dias, é esse o preço que tens de pagar.
Se leres algumas das imensas páginas deste Blogue, verás histórias semelhantes à tua, e camaradas com recordações que os corroem por dentro há mais de 30 anos e sabe-se lá por quantos mais terão que as carregar.

A nossa geração pagou um preço altíssimo por uma política desajustada aos tempos que corriam. Só se saldarão as contas com a morte do último ex-combatente da guerra colonial.
A partir daí, o stress pós-traumático apenas será devido às privações do telemóvel, PC portátil sem internete e outras coisas fundamentais da sociedade moderna. Nós nem telefone tínhamos, mas isso eram pormenores sem importância. Também passámos fome e sede. Também dormimos em buracos. A nossa família esteve muitas vezes durante semanas sem saber se éramos mortos ou vivos. Que digo eu, palermices de meio-velho.

Caro Manuel, pela afinidade que nos une enquanto ex-residentes de Mansabá, renovo o meu convite para te juntares a nós. Verás que escrevendo no Blogue aquilo que na família já ninguém quer ouvir, te ajudará, ao mesmo tempo que ficarás a saber que fazes parte de um grande grupo de homens, e mulheres, que só entre si se compreendem.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e toda a solidariedade dos que se sentem teus pares.
CV


Estado em que ficou um Unimog ao serviço da CART 2732, numa emboscada na estrada Mansabá-Mansoa, perto do célebre carreiro da morte, no dia 6 de Dezembro de 1971. Nesta emboscada perdemos dois camaradas do 3.º Pelotão


Fotos: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5018: Em busca de... (93): Procuro qualquer informação sobre o pessoal da CART 3567 "Os Insaciáveis". – 1972/74, (Paula Sofia Ferreira)

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5655: Em busca de... (108): Neusa Danho procura amigos de seu pai, o 2.º Srgt Mil Cristóvão dos Santos

Guiné 63/74 - P5655: Em busca de... (108): Neusa Danho procura amigos de seu pai, o 2.º Srgt Mil Cristóvão dos Santos

1. A nossa amiga Neusa dos Santos Danho, filha do nosso camarada guineense Cristóvão dos Santos, 2.º Srgt Mil, já falecido, deixou estes dois comentários no poste "Guiné 63/74 - P2064: Memórias de um comandante de ..."*:

i - Olá a todos, sou filha de um antigo milícia guineense, o 2.° Sargento Miliciano Cristóvão dos Santos; ja falecido, com o número mecanográfico 9500765, e gostaria de saber se o senhor Paulo Santiago poderia me dizer se este Cristóvao Mantudo dos Santos é o mesmo que o meu Pai.

O meu nome é Neusa M.B. dos Santos Danho.


ii - Gostaria de saber também se há alguém além do senhor Paulo Santiago que conheceu o meu pai, se poderia me fornecer alguns dados dele. O meu prestou servico nestas unidades:

Escola Prática de Cavalaria;
Centro de Instrucao de Sargentos Milicianos de Infantaria;
Escola Prática de Infantaria;
Companhia de Caçadores 3 do CTIG;
Companhia de Comando e Serviços do Quartel General do CTIG.

Com os melhores cumprimentos.


2. Comentário de CV:

Chamo a atenção dos camaradas e amigos tertulianos para o desejo desta nossa amiga que quer saber pormenores da vida militar de seu pai, e para isso o melhor é encontrar os seus antigos camaradas.
Quem tiver pistas que possam ser úteis, podem encaminhá-las para para nós, uma vez que a Neusa, não deixou o seu contacto.

Desde já o nosso obrigado.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2064: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (12): Evocando todos os militares do 53

Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5597: Em busca de... (107): Procuro Camaradas da 2ª CCav do BCav 8323 (Gregório Manuel Brás Matadinho)

Guiné 63/74 - P5654: Humor de caserna (18): Mansambo no seu melhor (Parte II) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 6 > "Vamos ao vira ?"


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 7 > "Passagem de modelos. Será Ana Salazar ?"


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 8 > "Partida para os 1500 metros ? Pura ficção! O pessoal está a ficar grosso”.



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 9 >  "Exercício de karaoke?... Não!... São bazucas!"...


Continuação da publicação da II Parte do texto e imagens enviadas pelo Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69), em 18/3/07 > O 'buncker' de Mansambo no seu melhor,  uma noite de 'alegria colectiva', aí por volta de Novembro de 1968, um ano antes o regresso a casa, à "doce casa"...

Eis como eu descrevi Mansambo, da primeira vez que lá passei: "Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo, eis Mansambo.

Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação.Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes. A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina.

Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendida pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.

O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole . Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca. Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné" (...)



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Nota de L.G.:


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5653: Ser solidário (51): Campanha da Tabanca de Matosinhos: Os números vão subindo (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira, Tesoureiro da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, com data de 12 de Janeiro de 2010:

Boa noite Carlos
Junto um texto já passado no blogue da Tabanca Pequena. Em anexo vai o mapa actualizado das verbas entradas para a Campanha das Sementes.
Agradecia que colocasses no blogue.
Abraço
Zé teixeira


Segundo a Comissão Europeia há mais de 1.000 milhões de pessoas que não têm acesso à água potável.
Será que algum de nós já se imaginou a viver sem água?
Ao levantar-se, manhã cedo ter de palmilhar uns quilómetros para lavar a tabuleta?
E… se a sede aperta, agora que toda a gente descobriu que deve beber muita água?




É verdade, amigo e camarada, nós quando nos levantamos temos ali ao lado a torneira, o autoclismo, a água para o duche. Temos água, o dia todo, o ano todo em nossa casa a custos que consideramos altos, mas vamos tendo condições financeiras para a pagar.
Não basta ter água. É preciso que seja potável.

Na nossa campanha para conseguir abrir poços de água na Guiné, os números vão subindo*
.


José Teixeira
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5608: Ser solidário (50): Campanha da Tabanca de Matosinhos: Os primeiros resultados (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P5652: Blogpoesia (62): Do Homem guarda o silex o gesto / e nas marcas de sangue se guardam as ânsias de infinito (José Brás)


Continuação da publicação de poemas do nosso amigo e camarada José Brás (*), enviados em 29 de Março último à Cristina Nery, investigadora do CES/UC  (**).


Dr.ª Cristina Nery: Há muito tempo longe do ambiente da memória da guerra, ultimamente buscando as gentes que cruzaram os mesmos lugares, juntos ou separados no tempo e no modo, gostaria de estar amanhã em Coimbra mas 'o rei manda marchar mas não manda chover'.

Envio-lhe aqui alguns textos a que não me atrevo a chamar 'poesia', porém sofridos na terra da Guiné. (***)


Cumprimentos


José Brás
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Anéis

dedos apontados à secura da terra
acusavam-lhe a falência genética
do seu ventre parideiro
de diamantes, de minas
e de morte

olhos vitri-fixos diziam
mundos-nada-amargura
saudade já
de outros eu
fantasmas-frustração
coval marcado no espaço sideral

bocas-protesto-quase-renúncia
gritavam imagens-desejo
de um encéfalo criador
de novos cosmos

e seios negros-flácidos-lacerados
eram a denúncia-prova
de cordões umbilicais
que ligam ainda
o símio-escravo-jeová
à terra-mãe


ARCAS

Do Homem
guarda
o silex
o gesto

e nas marcas do sangue
se guardam
as ânsias
de infinito

Espantosa Visão


Corriam os olhos
na imagem
de um desfiladeiro de pedra
cinzenta
e os gritos colados
nas asas
de pássaros dourados
rasando os tufos
raros
de verde azeitona
impunham
na paisagem vazia
um pesado irreal
e a solidez
do alerta.


Pressa

Urgente
seria
que as palavras
cruzassem
o espaço
(fechado)
da memória
e no seu eco
se rompessem
as cadeias
do tempo
e do sangue
na terra da morte
e dos olhos
parados


Memória de fogo


eruptiva terra
vermelha e retorcida
vulva aberta
múltipla
e imprevista
teu quente orgasmo
da periódica
orgia vem
arrefecendo
solidifica
em ferro
e flores
nos corpos
de crianças
fardadas

____________

Notaa de L.G.:

(*) José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura... Alentejano, vive em Montemor-O-Novo, foi chefe de cabine na TAP, dirigente sindical antes do 25 de Abril (SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil).

(**) Cristina Nery, filha e neta de camaradas nossos, investigadora no CES/UC - Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tem-se interessado pelo estudo e divulgação da poesia da guerra colonial:


Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)

Vd. página do CES/UC sobre este projecto Poesia da Guerra Colonial

(***) Vd. postes anteriores:

15 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4689: Blogpoesia (54) : Abraço com aço não rima, nem rima a morte com sorte... (José Brás)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

Guiné 63/74 - P5651: Agenda cultural (55): Dor Fantasma, um espectáculo com texto de Manuel Bastos, em Sintra, 15 e 16 de Janeiro de 2010



Depois de uma curta temporada no Porto, no Estúdio Zero, em Novembro de 2009, o teatromosca apresentará, agora em Sintra, o espectáculo "Dor Fantasma", com textos de Manuel Bastos* e direcção de Mário Trigo.

Um espectáculo sobre a guerra colonial ou guerra da independência - dependendo do ponto de vista.

O espectáculo será apresentado nos dias 15 e 16 de Janeiro, às 21.30h, na Casa de Teatro de Sintra.

Para mais informações, visite a página do projecto no site do teatromosca.

Reservas 91 461 69 49

teatromosca@gmail.com

Consultar também o Blogue O Cacimbo do nosso camarada Manuel Bastos

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Notas de CV:

(*) Manuel Correia Bastos foi combatente em Moçambique na CART 3503, com o posto de Fur Mil.

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5635: Agenda cultural (54): Convite para o lançamento do livro O Ninho, de Alexandra Almeida Reis (Manuel Reis)

Guiné 63/74 - P5650: Notas de leitura (54): Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez, sempre soldados!, de Nuno Mira Vaz (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2010:

Queridos amigos,
Junto mais uma recensão, o livro do coronel Mira Vaz é um contributo importante para conhecer a intervenção dos pára-quedistas na Guiné.
Pedi ao meu amigo Jorge da Cunha Fernandes, que participou na Operação Ciclone II que nos fizesse uma descrição. Respondeu-me que ainda não é tempo. Há que aguardar serenamente, em certos casos de depoimentos do mais elevado interesse, que cheguemos ao limiar da perda das faculdades...

Um abraço do
Mário


O BCP 12 e a Guiné

Beja Santos

Tem já havido referências avulsas aqui no blogue a este livro do coronel Nuno Mira Vaz, designadamente por causa dos acontecimentos de Guidaje, em Maio de 1973. O livro está inserido na série Batalhas de Portugal, está comercialmente disponível e foi editado pela Tribuna da História em 2003.

O autor, coronel de Cavalaria na reserva, fez toda a sua vida militar nas tropas pára-quedistas, exerceu funções no Instituto de Defesa Nacional e ensinou Sociologia Militar na Academia Militar. A sua obra “Guiné, 1968 e 1973” é constituída por um acervo de notas em torno de importantes intervenções do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12, designadamente a Operação Ciclone II, em Fevereiro de 1968, um heliassalto na região de Cafal-Cafine, com resultados notáveis, e o apoio dado pela referida Unidade militar para romper o cerco de Guidaje, em 1973, pela sua participação na Operação Amestista Real. Vejamos sumariamente o que escreve o coronel Mira Vaz. Reportando-se em 1968, refere-se à implantação do PAIGC na região do Cantanhez, escrevendo concretamente que “Por falta de meios adequados ou por falta de visão estratégica, o certo é que durante três anos os militares portugueses não desenvolveram uma actividade consistente naquela região, dando preferência a tentativas superficiais que, em vez de desarticularem o dispositivo inimigo, serviram antes para moralizar a guerrilha... No início de 1968, pouca gente podia suspeitar de que o Comando-Chefe das Forças Armadas na Guiné decidira recuperar a iniciativa na região e de que se iria travar, num dos últimos dias de Fevereiro, o mais violento dos combates que os militares do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 tinham até então sustentado contra os guerrilheiros do PAIGC”.

Previamente, o autor introduz a evolução da situação militar da Guiné, os motivos que levaram à criação do BCP 12 e dá-nos um quadro da situação em Fevereiro de 1968 na mata de Cafal, e quais os resultados obtidos depois da Operação Vendaval, executada por pára-quedistas em 10 e 11 de Janeiro desse ano. Em 15 de Fevereiro, ocorreu a Operação Ciclone I em que o elemento capturado deu informações preciosas sobre o quartel do PAIGC, em Cafal. O heliassalto a Cafal-Cafine é um compreensível motivo de orgulho para o BCP 12, pela quantidade de baixas e militares do PAIGC capturados e pelas enormes quantidades de material aprendido. O relato da Operação é um registo vibrante, cheio de vivacidade com depoimentos de intervenientes directos e indirectos. Segundo este relato, Sana Naiana, comandante do aniquilado bigrupo de Cafal-Cafine portou-se heroicamente na resistência à ofensiva pára-quedista.

Em 1973, as coisas passaram-se de maneira muitíssimo diferente. Após a morte de Amílcar Cabral, o PAIGC reagiu em dois pontos distintos da Guiné, atacando quase simultaneamente Guidaje e Guileje. Spínola tinha publicamente associado a morte de Amílcar Cabral a problemas internos do PAIGC, a direcção deste Partido quis provar através de uma demonstração de força a elevada motivação das tropas. Em Março, começaram as dificuldades dos meios aéreos que obrigaram a restrições ao voo nos céus da Guiné e em Abril/Maio iniciou-se uma tentativa de cerco a Guidaje, movimentando centenas de guerrilheiros, forças de artilharia e procedendo a um reabastecimento ininterrupto a partir de bases senegalesas situadas nas áreas de Zinguichor, Cumbamori, Yeran e Kolda. Como escreve o autor “Dos depoimentos recolhidos junto dos antigos comandantes portugueses e do PAIGC, ressaltam divergentes quanto ao objectivo das forças de guerrilha (apenas desgaste, segundo o PAIGC; tentativa de ocupação do aquartelamento, para os responsáveis portugueses), número de baixas sofridas e localização da sua base de apoio na região. O Tenente-Coronel Correia de Campos não tem dúvidas que o PAIGC queria mesmo conquistar o quartel. Manuel dos Santos, então Comissário Político da Frente Norte, destaca a importância da operação de Guidaje, explicando que o PAIGC nunca antes realizara outra com tantos efectivos.” Para o PAIGC, a operação demorou mês e meio, o objectivo era o isolamento terrestre de Guidaje com 650 elementos apoiados pelo fogo de obuses de 105 mm, foguetões de 122 mm, morteiros de 120 mm e de 82 m, canhões sem recuo, lança-granadas foguetes e mísseis terra-ar Strella. Não vale a pena esmiuçar o que ali se passou, diferentes protagonistas já fizeram os seus depoimentos exararam os seus pontos de vista no blogue. O autor descreve os principais acontecimentos que envolveram as colunas de Guidaje, descreve o comportamento exemplar do Tenente-Coronel Correia de Campos e o depoimento do Coronel de Cavalaria Ayala Botto é elucidativo do quadro da tragédia que ali se viveu e do acto temerário do General Spínola e do Coronel Moura Pinto que se deslocaram de helicóptero a Guidaje, em condições de alto risco.

A 16 de Maio, o Major Almeida Bruno recebe instruções para atacar a base de Cumbamori, o objectivo era desarticular o dispositivo inimigo e aliviar a pressão sobre Guidaje, os participantes directos virão a ser os Comandos Africanos. A Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 sob o comando do Capitão Almeida Martins juntou-se às forças assaltantes, obtendo uma das maiores capturas e destruições de material inimigo em toda a guerra de África: a Operação Ametista Real saldou-se em 10 mortos, 22 feridos e 3 desaparecidos dos Comandos Africanos e 67 mortos do PAIGC. A maior parte do material capturado foi destruído pelo Grupo de Operações Especiais comandando pelo Alferes Marcelino da Mata. O Capitão Salgueiro da Maia relata como se rompeu o cerco de Guidaje, é uma descrição impressionante, vem publicada no seu livro “Capitão de Abril, histórias da guerra do Ultramar e do 25 de Abril”, Editorial Notícias.

Este livro passa a pertencer ao blogue
__________

Nota de CV:

Vd. últimpo poste da série de 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5631: Notas de leitura (53): Katafaraum é uma nação, de José Martins Garcia (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5649: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (4): Louvores atribuídos aos Fur Mil Sap Fausto Vaz Santos e 1.º Cabo Manuel Sá Couto



1. Mensagem de Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 11 de Janeiro de 2010:

Amigo Carlos,
Apanhei nos meus arquivos louvores a dois camaradas, sendo o primeiro o amigão da malta toda e que passo a transcrever da O.S. n.º 94 do CTIG de 16/11/65 dado pelo Brigadeiro Comandante Militar:

Fur Mil Sapador Fausto das Neves Vaz dos Santos, do Bart645, porque, tendo tomado parte em muitas Operações de combate, como Comandante da Secção de Sapadores, em reforço de Companhias operacionais, nomeadamente nas Operações de Cã-Quebo, Base, Santambato e Mandigará, sempre se revelou elemento de muita decisão, sangue frio e espírito de sacrifício, qualidades estas que lhe valeram referências muito elogiosas por parte dos Comandos das Companhias que foi reforçar.
É de salientar o seu excepcional espírito de camaradagem, notável boa disposição, poder de organização que tem demonstrado tanto nos trabalhos da sua Especialidade como no desporto, tendo contribuido para o prestígio da sua Unidade.
Colaborou activamente nas obras de fortificação e de melhoramento de Mansabá e na reparação da estrada Bissorã-Olossato, onde com a sua energia física e moral tem contribuido francamente para a rápida reparação das obras, com sensíveis efeitos na actividade operacional.
Profundo conhecedor da sua Especialidade, tem mantido em bom moral a sua Secção e pessoalmente procedeu ao levantamento de uma mina anti-carro na estrada Mansoa-Mansabá, em condições de reconhecido perigo.
Este Furriel merece ser apontado como exemplo e é digno de referência especial.



Também outro amigão, o

1.º Cabo da Cart 643 - Manuel José de Sá Couto, por ter demonstrado em todas as acções de combate em que tem tomado parte, ser um militar possuidor de raro espirito de sacrifício, coragem e sangue frio.
São de salientar estas qualidades, visto quando foi ferido num combate nocturno e suportou o ferimento até o combate terminar, só então dando conhecimento aos seus camaradas para ser socorrido.
Com o seu excepcional procedimento conquistou a estima dos seus camaradas e superiores.
(O.S. n.º 23 de 10/11/65 do Com Agr 16)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5641: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (3): O nosso Cabo Enfermeiro José Botas

Guiné 63/74 - P5648: Canjadude, a chegada de um periquito (2): Finalmente Canjadude. As primeiras impressões (José Corceiro)

1. Segunda parte de Canjadude, a chegada de um periquito, trabalho enviado pelo nosso camarada José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71), em mensagem do dia 10 de Janeiro de 2010


CANJADUDE, A CHEGADA DE UM PERIQUITO (2)

Uma necessidade primária dos seres vivos é a conservação das espécies


Já sei o SPM 0028 (creio ser Serviço Postal Militar) da CCAÇ 5, escrevi mais de trinta aerogramas para familiares e amigos, já tinha escrito três ou quatro vezes, mas sem SPM.

A alimentação tem sido boa, aqui há restaurantes cujos proprietários são metropolitanos e a ementa tem pratos parecidos com a metrópole, logo que posso aproveito.

Dia 7 de Junho 1969, levantei-me cedo, dormi tranquilamente na Delegação, as instalações são razoáveis, há, para dormir, espaço reservado a graduados e não graduados, dormi onde quis, pois estou só mais o Amaro. Os mosquitos, é que são o demónio, são presença constante em qualquer local; tendo um ciclo de vida tão fugaz têm que ser muito eficazes, profícuos e prolíficos, para manterem a colónia constante, parece que estão em todos os lados, são aos milhares, não se dão ao luxo de falhar o alvo.

Hoje fiz o meu primeiro serviço em todo o tempo de tropa, com G3, estou de plantão ao Paiol do Quartel de Nova Lamego, está muito calor, mas estou à sombra. Hoje, ouvi, por volta das 23.00 horas, com perfeita nitidez, grandes rebentamentos, foi um bombardeamento muito intenso. Disseram-me que foi o Aquartelamento de Piche que foi atacado, segundo a fonte, houve dezenas de feridos (47) e quatro mortos.

Está um calor tórrido e mortiço, atmosfera carregada e tensa, humidade misturada com as partículas em suspensão ameaçam explodir a qualquer momento, transpira-se preocupação e insegurança, paira incerteza e receio no ambiente, aproxima-se temporal, será chuva, trovoada ou vendaval, o desconforto e a palpitação são gerais, o suor é melaço e teima em não se deixar limpar, está tudo agitado, a brisa está calma, mas as folhas das árvores estão a baloiçar, os mosquitos põem à prova toda a astúcia e rebeldia, para fintar o indígena e conseguir a sua sugadela, as lagartixas, no quintal, andam num frenesim desenfreado e estonteante, como se hoje fosse o último dia das suas vidas, no quartel respira-se desconfiança, há muita movimentação militar, já vieram dois Pelotões de outro Destacamento, saíram três Pelotões para o mato na eventualidade de ataque, estarem a postos, está tudo de prevenção, eu estou de Cabo de Dia ao Comando, é dia 9 de Junho 1969.

Não tem havido nada de maior mas a prevenção rigorosa continua, anda tudo muito nervoso e instável, fala-se que a qualquer momento vai haver ataque ao quartel, à noite fica tudo às escuras e continua a movimentação das tropas, a sair para o mato. Estou de Cabo de Dia à CCS, dia 11 de Junho 1969.

Já sei que amanhã dia 13 de Junho, vem a coluna de Canjadude e vou partir rumo CCAÇ 5. É dia 13, mas é dia de Santo António, que auto-confiança, ainda bem que não sou supersticioso, é preciso calminha, sensatez, espírito responsável e cooperante, partilha do saber, integração e laços de boa camaradagem, haja humildade, força gera força de sinal contrário. Não vale a pena entrar em pânico, ansiedade ou depressão, porque isto cria dependência e dá lucro às multinacionais do medicamento, ansiolíticos e anti-depressivos.

- Tem calma , não queiras prever o futuro, o que for será, não te tenciones com o provir! - Assim me aconselhavam os meus espíritos santos de orelha na altura.

Eu respondia:

- O futuro estrutura-se no presente, é preciso cautela...

De Nova Lamego a Canjadude são cerca de 25km, com a precaução necessária, a coluna progrediu, por questões de segurança mais ou menos a meio, apeamos das viaturas, caminhámos cerca de meia hora, voltámos a montar nas viaturas, agora senti o pessoal mais desinibido, solto, confiante, descontraído, seguro e comunicativo, estávamos a viver o mesmo perigo, o mesmo drama. Via rádio, informaram o Posto de Transmissões que estava tudo OK e que havia periquito para render o Dionísio de Transmissões. Faziam parte da coluna dois Operadores de Transmissões, o José Carlos de Freitas (natural de Guimarães), despreocupado, deixa para lá não me incomodem, calmo, boa pessoa, foi jogador do Vitória de Guimarães e barbeiro na CCAÇ 5, o José Natividade da Silva (natural de Alqueidão), espevitado, reguila, com sangue na guelra, bom camarada, (impressões subjectivas e minhas, reportadas à época, mas tenho a certeza que continuam as boas pessoas que eram, esses bons dons estavam impregnados na personalidade) o Silva, aproveitou-se, e pediu-me para mandar via rádio, a minha primeira mensagem na Guiné, ao Cabo Dionísio, que eu ia render.

Foto 1 > Corceiro a mandar a primeira mensagem, via rádio, entre Nova Lamego e Canjadude. A seu lado José Carlos Ferreira, atrás, do lado direito o Malhadas, natural de Vila Nova de Paiva ido nesse dia também para a CCAÇ 5. Os militares nativos são do 4.º Pelotão. O fotógrafo foi o Silva.

Após a vinda destes dois camaradas, para a metrópole, passaram quase 40 anos e só há dias falei com o Silva. Nestes 40 anos tive só um contacto há 30 anos, com o Rogério Carneiro, que infelizmente, soube agora, já não faz parte dos vivos, o meu respeito. Neste caso também a rendição individual foi madrasta, vinha cada um em sua altura perdia-se o contacto, perdia-se o rasto, éramos relativamente poucos.

Foto 2 > Canjadude > O 1.º Cabo José Carlos Freitas à entrada do abrigo de Transmissões

Foto 3 > Canjadude > 1.º Cabo José Natividade da Silva

Foto 4 > Canjadude > O 1.º Cabo Malhadas, natural de Vila Nova de Paiva

Foto 5 > Canjadude > O 1.º Cabo Amaro dentro de um dos abrigos das Praças

Cheguei a Canjadude, já sou Gato Preto, estou instalado numas termas subterrâneas tipo sauna romanoturcas. Aqui, pia mais fino, dorme tudo em abrigos subterrâneos, cobertos de cibes de palmeira e cimento, está tudo ligado por um serpenteado de valas aos ziguezagues, com 1,20m de profundidade que dão acesso a pontos estratégicos onde se encontram instaladas armas pesadas. Nos pontos mais sensíveis e fragilizados, há bidões cheios de terra para protecção em caso de ataque.

Ao chegar o que mais me impressionou foram as grandes rochas à entrada do Aquartelamento, ainda não tinha visto nada parecido na Guiné, que mais parecem baluartes a dar-nos as boas vindas e garantir protecção e segurança, acolhedoras, pois servem de postos de sentinela.

Foto 16 > Canjadude > O filão de rochas calcárias no solo argiloso, capricho da natureza, que mais se assemelhavam a cogumelos ali nascidos, já que o filão não se prolongava nuito para o lado esquerdo nem para o lado dreito, terminava por ali. Mais parecem pedras esquecidas em contenda mitológica. Zona praticamente plana, a erosão ao longo de milhões de anos, fez o seu trabalho.

Foto 23 > Canjadude > Picada à saída do arame farpado, rumo a Nova Lamego

Foto 24 > Canjadude > Vista aérea > Em primeiro plano os baluartes a dar as boas-vindas à chegada e a oferecer hospitalidade. Vêem-se alguns abrigos, o edifício bloco, a parada, o campo de futebol, a tabanca coberta de arvoredo, a pista de aviação e na continuação desta, a picada no meio da floresta que ligava ao Cheche, cerca de 20Km, de onde foram retiradas as NT. Retirada de Madina de Boé, quatro meses antes de eu chegar a Canjadude.

Foto 25 > Canjadude > Vista aérea, tirada do lado da bolanha das lavadeiras, (nascente). Ao lado esquerdo vê-se a tabanca, na parte central há uma mangueira, junto à parada, por trás da qual se vê um canto do abrigo das Transmissões. Vê-se, em plano afastado, lado direito, o filão das rochas que vai morrer logo mais à frente.

Foto 9 > Canjadude > 1.º Cabo José Corceiro

Foto 10 > Canjadude > O nosso tertuliano José Martins, Fur Mil TRMS a dar um abraço de boas-vindas a José Corceiro

Em Canjadude, passei 25 meses, com poucas ausências; para minimizar o choque de despedidas, com receio que transpirasse o desconforto em que me encontrava e porque tinha a família muito sofrida, devido ao funeral do meu tio, da minha avó e duma tia, com quarenta e poucos anos, faltou-me a coragem de vir de férias à metrópole, temia a despedida, não sei como seria?! Foi muito tempo fora da civilização que eu conhecia, logo, desejava, confinado a um espaço tão limitado em condições tão carenciadas, privado das necessidades mais elementares, sem as quais o ser humano consegue harmonia emocional e física; tentava, conforme podia e deixavam, compensar o não gozo em pleno das três necessidades primárias dos seres vivos, e, como podia, tentava desequilibrar os pólos das baterias. Foi muito difícil a falta de presenças, de carinhos, de mimos, de pequenos nadas, os afectos… era a saudade… a tensão e pressão com contenção de explosão. Cada um refugiava-se e representava o que lhe ia na alma, o que lhe parecia mais plausível: álcool, bajudas, petiscos, escrita, ler, simulações guerreiras e teatrais, afeição a animais, apegados às coisas mais inverosímeis, tentava-se suprimir as deficiências e lacunas do meio a que estávamos expostos, recorrendo aos mais variados hobbies para nos compensarmos, eram necessidades primárias desvirtuadas a actuar!

Talvez tivesse facilitado a minha integração e minimizado o meu desconforto, se o meu código genético tivesse no respectivo cromossoma um gene com aptidão mais guerreira que dominasse o alelo correspondente, ficaria por ventura mais acomodado no teatro de guerra, mas deixava de ser EU, eu batia-me interiormente com as minhas limitações, por valores que queria preservar e dignificar, queria, sem ser lírico ou utopista, (com toda a estima e consideração) continuar a ser amante de diálogos, respeito, consensos e paz, não tinha preparação para este tipo de guerra, estava a ficar com a percepção que neste meio (teatro de guerra) obrigavam-me a renunciar à minha personalidade e a valores que eu queria acautelar, vivia num conflito ambíguo, meio externo (ambiente) guerra, meio interno (raciocínio) paz, esta ambivalência era morrinha para o meu EU!

O meu hobbies, entre outros, foi a fotografia e o diapositivo (slide), tirei muitos milhares.

Para todos um abraço.
José Corceiro

Fotos: © José Corceiro (2009). Direitos reservados.

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Nota de CV:

Vd. poste da primeira parte de 13 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5640: Canjadude, a chegada de um periquito (1): De Lisboa a Gabú (José Corceiro)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5647: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (27): Baptismo de fogo - Parte 1



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias (a 27ª), com data de 14 de Janeiro de 2010:


«Baptismo de fogo» - Parte 1

Binta, 5 de Julho de 1964


O estacionamento era fustigado pela chuva que desde há umas horas caía em grossas bátegas. Na noite escura preparava-se a nossa primeira operação «a sério». Tomou-se uma refeição quente enquanto se trocavam piadas entre os mais animosos. Os mais ensonados iam acordando aos poucos.

Tiveram um significado especial as palavras que o nosso capitão Tomé Pinto nos dirigiu antes de iniciarmos a caminhada. Falava com calma e tentava transmitir segurança aos seus homens. Do bom êxito da operação que íamos empreender poderia resultar a sorte da companhia. Seria preciso que todos dessem o seu melhor.

Agora ia ser a sério. Íamos ao encontro do inimigo.

A nossa missão “resumia-se” numa batida à região de Lenquetó (situada a cerca de 12 kms do estacionamento), tabanca onde se julgava estar reunido com pessoal o «Chefão» da zona, um tal Paulo Lomba, conhecido pelo BARBAS.

Tentaríamos destruir a tabanca e fazer prisioneiros.Bebíamos as suas palavras. Lembra-me de pensar que nunca um “Pinto” me tinha parecido um “Galo” tão aguerrido e mandão. Ali, a haver “pintos”, era todos nós, maçaricos com dois meses de Guiné.

Teríamos que caminhar com o maior cuidado e no máximo silêncio pois o itinerário que íamos seguir “atravessava” uma região onde algumas tabancas ainda estavam habitadas.

Quando saímos do aquartelamento íamos uma hora atrasados em relação à partida previamente marcada, devido à chuva que não abrandava.

Eram 02h00.

Guiados pelo guia Malan Sissé percorremos com segurança e rapidez os primeiros quilómetros, ritmo que no entanto não pôde ser mantido pois a partir do entroncamento de Caurbá até à bifurcação de Genicó tivemos que rodear 13 abatises. Estes «vultos» sinistros com quem pela primeira vez tomávamos conhecimento atestavam a presença do inimigo na nossa zona. Caminhámos lentamente e com redobrados cuidados quando passamos perto de Genicó que estava habitado.

Passámos pelo "esqueleto" carbonizado de uma camioneta da serração de Binta, que o inimigo tinha destruído há poucos meses atrás.

Às 04h45 estávamos perto do nosso objectivo.

Ouviu-se por momentos com nitidez, no silêncio da noite, o ruído característico do pilão. Não muito longe cães latiram. Lentamente percorremos a distância que nos separava de Lenquetó.

Às 05h15 começou-se o envolvimento da tabanca instalando-se em meia-lua os dois grupos de combate.

Poucos momentos depois viram-se alguns indivíduos sair caminhando na nossa direcção. Gritou-se para que fizessem alto. Retrocederam rapidamente fazendo fogo de pistola de dentro da tabanca. As nossas tropas abriram fogo e durante alguns momentos dezenas armas automáticas crepitaram simultaneamente. Parecia uma trovoada. A reacção do inimigo embora diminuta fez-se sentir.

Um «suicida» descortinou o nosso capitão em pé, protegido por uma árvore, e avançou para ele correndo com um «canhangulo» em posição de fogo. Foi abatido depois de meia dúzia de passos.

Outros dois indivíduos saíram em correria da tabanca e ziguezagueando conseguiram passar por meio de uma secção, escapando ao fogo de duas ou três dezenas de atiradores. Foi uma fuga desesperada que, com um mínimo de probabilidades de êxito, resultou. Pareciam voar e escaparam-nos autenticamente entre as mãos!

Houve uma certa dificuldade em controlar esta primeira “descarga” para se passar ao interior da tabanca, conseguindo-o o nosso capitão com o seu exemplo e com a sua experiência (já tinha andado por Angola), arrastando consigo alguns homens, que penetraram lentamente na tabanca. Houve um inimigo que, apesar de ferido, lançou uma granada sendo abatido acto contínuo. Não se registaram outros actos de resistência mas foram abatidos ainda alguns indivíduos que tentaram fugir para o exterior.

Iniciou-se a revista das moranças e começaram-se a reunir prisioneiros, alguns deles feridos, para um pequeno largo no centro da tabanca. Foram prestados os primeiros socorros aos que mais necessitavam. Não se encontraram armas, não se conseguindo da parte dos prisioneiros informações.

Começaram-se a encaminhar os prisioneiros para o exterior da tabanca enquanto se incendiavam as moranças que iluminaram sinistramente o alvorecer.

Com dificuldade devido ao número (cerca de 40) e ao estado de alguns prisioneiros perdeu-se bastante tempo antes de se iniciar a marcha de regresso.Quando estávamos para partir apresentou-se um novo prisioneiro que tinha passado despercebido a quando da revista à tabanca.


Seriam talvez 07h00 quando lentamente nos começámos a afastar de Lenquetó que ardia. A nossa missão estava cumprida.

Iniciámos o regresso ao estacionamento, donde tínhamos partido cinco horas antes.

Na tabanca tinham perecido duas ou três dezenas de inimigos.

Com os dois grupos de combate, progredindo em quadrado, andaram-se uns 500 metros, interrompendo-se a marcha várias vezes por dificuldade em fazer caminhar os prisioneiros dentro do nosso dispositivo. Um prisioneiro já moribundo, o chefe da tabanca, teve que ser abandonado por já não poder deslocar-se, sendo-lhe ainda injectado morfina para alívio do seu sofrimento.

Decorridas mais umas centenas de metros foi descoberto um homem (isolado) que apesar de avisado em altos gritos para não fugir o tentou fazer, sendo perseguido e abatido. Tiveram de fazer-se novas paragens devido aos prisioneiros que se deslocavam com muita dificuldade no centro do quadrado.

Quando a cerca de 500 m de Caurbá progredíamos numa zona fortemente arborizada, (com muitos arbustos e pequenas palmeiras), fomos emboscados pelo inimigo. Ouviu-se um rebentamento de granada já depois de a "guarda da frente" ter passado, seguido momentos depois por outro estoiro.

Depois de um primeiro momento de expectativa e surpresa (houve quem pensasse até que os rebentamentos se deviam ao descuido ou imprevidência de algum dos nossos soldados) instalámo-nos rapidamente em círculo, «mascarando-nos» com a vegetação existente no local.

Seriam cerca de 08h00.

Houve mais alguns tiros do inimigo, de pistola e pistola-metralhadora, respondendo a nossa tropa com grande poder de fogo em todas as direcções.

O inimigo não estava longe e havia lançadores de granadas dentro do nosso dispositivo. O rebentamento da segunda granada provocou ferimentos no Furriel Mesquita e no 1° Cabo Craveiro, que seguiam na linha da frente, do lado esquerdo, sendo tratados por alguns soldados que utilizaram a propósito os pensos individuais, e pelo Furriel Enfermeiro Oliveira, verificando-se serem ligeiros os seus ferimentos.

Momentos depois tivemos a sensação de estarmos envolvidos pois os tiros de pistola-metralhadora, pistola e rebentamentos de granadas sucediam-se de todos os lados. O nosso dispositivo, um tanto ou quanto desarticulado, avançou para uma zona mais descoberta, instalando-nos em círculo junto de uma grande árvore. Entretanto na retaguarda havia também contacto com o inimigo sendo feridos o Sargento Gouveia Marques (com estilhaços de granada), num braço e o 1. ° Cabo Marques (com uma rajada de metralhadora), no escroto e num testículo.

Continuámos a responder ao inimigo com fogo baixo e uma bazucada deve ter feito grandes estragos no inimigo, pois ouviram-se gritos lancinantes durante alguns momentos.

Junto à árvore já referida o nosso capitão, calmamente, transmitia ordens e recomendava ordem no fogo para não virem a faltar munições.

Os feridos entretanto tinham-se deslocado até ao abrigo dessa árvore (que passou a servir de posto de comando e enfermaria) onde foram mais convenientemente tratados, verificando-se inspirar cuidados os ferimentos do Cabo Marques.Antes ainda de nos instalarmos junto à árvore do “Comando”, que vimos referindo, o Soldado n.° 2212/63, Chita Godinho conseguiu abater um inimigo que fazia fogo muito próximo com uma arma de repetição e corajosamente deslocou-se até este retirando-lhe a espingarda.

O inimigo continuou a flagelar-nos mas do nosso “círculo” continuava a partir um «furacão» de ferro e fogo.

Foi pedida a aviação para apoio e um helicóptero para evacuação do ferido mais grave, o Marques, que embora cheio de dores continuava a manter um sangue frio e serenidade notáveis, nunca desanimando nem exteriorizando o seu sofrimento.

O apoio aéreo não se fez demorar muito localizando-nos com relativa facilidade depois das indicações dadas pela rádio pelo nosso capitão. Ainda antes da chegada dos aviões (doisT6) o inimigo tinha tentado fazer uma autêntica carga sobre o nosso dispositivo, sendo abatidos, uns dois ou três indivíduos, a uns cinco ou seis metros da árvore onde se abrigavam o nosso capitão, o Furriel Enf.º, o cabo radiotelegrafista e os feridos já mencionados anteriormente.

Também ainda antes da chegada dos aviões soubemos pela rádio que a coluna-auto que se dirigia ao nosso encontro, com duas secções comandadas pelo Alf. Santos, tinha sido também emboscada junto do entroncamento de Caurbá, e que tínhamos um ferido grave por estilhaço de granada.

Com a chegada do apoio aéreo o inimigo mostrou-se menos activo, fazendo no entanto ainda por duas ou três vezes fogo de pistola-metralhadora para os «caças».

Os pilotos, habilmente conduzidos pelas informações de terra, fizeram fogo por várias vezes para os locais donde o inimigo nos tinha flagelado, lançando ainda uns «roquetes» para umas casas de mato nas proximidades da tabanca, que se avistava ao fundo, à esquerda.


Cerca das 11h00 chegou o helicóptero para evacuação do ferido sendo a sua descida comandada pelo nosso capitão que, a peito descoberto, conseguiu evitar que descesse num local onde poderia estar o inimigo. Em manobra impecável o helicóptero desceu apenas a uns 20 metros da árvore junto da qual se encontravam os feridos.

Rapidamente o Marques foi transportado até ao helicóptero pelo Enfermeiro Oliveira, auxiliado pelo nosso Capitão Tomé Pinto e pelo AIf. Tavares, revelando o pessoal do helicóptero grande experiência e calma. Sempre com a hélice em movimento o helicóptero elevou-se rapidamente, dirigindo-se para Binta onde o esperava um condutor gravemente ferido aquando do ataque à coluna-auto, que entretanto já não estava debaixo de fogo, não podendo no entanto aproximar-se da zona de Caurbá por se encontrar avariada uma viatura.

Os T6 continuavam a evolucionar sobre a área dando-nos uma sensação de agradável protecção o ruído dos seus motores.

A pedido do Capitão Tomé Pinto os pilotos metralharam a zona por onde, electrizados pelo exemplo do nosso Comandante de Companhia, que arrancou de imediato para a frente, seguimos o mais rapidamente possível, respondendo ao fogo inimigo que, de cima das árvores, nos continuou a flagelar durante algum tempo. Com um dispositivo em «cunha» conseguimos iludir o inimigo que não esperava a nossa saída pelo local onde ela se verificou.


A experiência e o arrojo do nosso Capitão conseguiu que dois grupos de «maçaricos», que se “agarravam” ao chão logo que se ouvia um tiro, «voassem» por uma zona batida pelo fogo do inimigo que nos viu afastar com rapidez e segurança. A registar a tentativa de fuga de três prisioneiros aquando da retirada da zona da emboscada, que no entanto foram abatidos, sendo de louvar a calma e serenidade das duas secções que tinham a seu cargo a guarda ao numeroso grupo de prisioneiros, trazendo-os sem mais uma baixa até ao estacionamento.

Os quilómetros que nos separavam ainda de Binta foram percorridos debaixo de um calor sufocante que exigiu de cada um, um esforço suplementar, pois vínhamos a caminhar desde as 2 horas da madrugada.

Logo que nos afastámos de Caurbá o dispositivo voltou à formação de "quadrado" sempre superiormente comandado pelo nosso capitão, que extenuado por um esforço extraordinário ficou sem voz e teve de se aproveitar do vozeirão do Furriel Juca (um homem pequeno mas com voz de gigante...) para continuar a transmitir as suas ordens.

O Capitão Tomé Pinto em 1964

Cada metro de mato exigia já um esforço penoso para o percorrer.

Desejava-se os barracões de Binta mais do que, em qualquer outra altura, um hotel de luxo.


Foi para muitos (entre estes e muito na vanguarda o «cronista»...) o dia «D», o dia mais longo das suas vidas...

Já próximo do estacionamento o nosso capitão e um grupo de combate foram ainda ao encontro da coluna-auto para proteger o seu regresso.

Quando chegámos a Binta, onde também se tinham vivido horas de grande ansiedade, eram 12h30.

Acabava-se, de viver o nosso primeiro dia operacional em terras da Guiné. Tínhamos combatido duramente com o inimigo e obtido uma vitória esmagadora. Do Cacheu até à fronteira do Senegal os que tivessem «escapado» fariam a nossa melhor «publicidade».

Não se poderá dizer que não tivemos um baptismo de fogo animado.


E… nunca um “Pinto” me tinha parecido um “Galo” tão aguerrido e mandão.

O Capitão Tomé Pinto actualmente

(Os ex-militares da CCaç 675 saudam especialmente, hoje, dia 14 de Janeiro, o "seu" Capitão - agora Ten. General -, pela passagem do seu 74º. Aniversário. Parabéns e que conte muitos mais).

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5646: Bibliografia de uma guerra (55): Armados Para a Paz, de Albino Silva

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2009:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Em primeiro lugar o desejo de um Bom Ano, para ti e para todos os Chefes de Nossa Tabanca Grande, e para que a mesma continue a crescer porque é para mim uma grande alegria ler e ver fotos de tantos tertulianos como eu.

Como tenho dito, a nossa Tabanca é o meu primeiro jornal diário e é o único que fala verdade, o mais puro de todos que são lançados nas bancas, pois as nossas notícias saem de nossos corações ainda magoados e traumatizados do passado já distante, embora seja esquecido pelos sucessivos Governantes, em nós está sempre na memória no dia-a-dia.

Carlos acabei de escrever mais um livro, este com o título "Armados para a Paz", pois era assim a CCS/BCaç 2845.

Este livro será exclusivamente para a Companhia, e será lançado no dia 1 de Maio no Convívio da mesma, em principio em Buarcos.

Desejava assim que fosse anunciado este meu trabalho, pois é sempre a pensar na Guiné e na Companhia que vivo os meus dias, por isso só me sinto bem quando escrevo alguma coisa para os meus camaradas.

Podes ficar ciente que te vou oferecer um exemplar porque quem esteve na Guiné vai gostar de ler meu trabalho. Sei que aquilo que lá passei e que afinal passámos todos.

Brevemente te enviarei alguns trabalhos, os quais serão dedicados a todos os camaradas que estiveram na Guiné, pois assim como gosto de ler o que foi do nosso passado, também de certeza que outros gostarão de ler o que eu faço.

Termino com um grande abraço para todos os Tertulianos, um Bom Ano, e aos Chefes de Tabanca sempre boa disposição e força de vontade para nos continuar a aturar...

Albino Silva
Soldado Maqueiro
CCS/BCAÇ 2845
Teixeira Pinto


2. Comentário de CV:
Caro Albino, cá receberemos o teu livro com muito gosto para fazermos uma recensão, e por que não, publicar algumas histórias do teu Batalhão.

Agradecemos as tuas simpáticas palavras que são um bálsamo para continuarmos este trabalho, sempre tendo em vista a preciosa colaboração de todos os tertulianos.

Um abraço de parabéns para ti, pelo trabalho que desenvolves destinado essencialmente aos teus camaradas de Batalhão.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4552: Convívios (146): Encontro das CCAÇ 2367, CCAÇ 2368 e CCAÇ 2313 (1968/69), (Albino Silva)

Vd. último poste da série de > 9 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5618: Bibliografia de uma guerra (54): 30 anos de guerra colonial (José Brás)