terça-feira, 31 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6912: Controvérsias (104): O caso António Lobo Antunes: Apesar de um pouco de todos nós ter morrido na guerra... que haja paz! (JERO)

A1.  Mensagem do JERO [, foto à direita], com data de ontem:

Caro Comandante



Ainda de São Martinho do Porto envio-te, em fim de férias, uma "actualização" do caso António Lobo Antunes [, ALA]. A versão é minha feita com o auxílio de algumas "peças" do nosso blog a que darás o destino que entenderes.


Cumprimentos a tua mulher e um abraço para ti do tamanho da Baía.


JERO


A2. Lobo Antunes e as “metáforas”… “Os factos não interessam nada”…
por JERO

Finalmente parece que está encontrado um caminho para a paz na “guerra” entre Lobo Antunes e os ex-militares (Expresso, de 28 de Agosto de 2010).

Recordamos resumidamente algumas das “peças” desta história da vida real, que incomodou sobremaneira o mundo dos ex-combatentes onde nos incluímos.

1- O tenente-coronel do Exército Carlos Matos Gomes, que escreve sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, classificou recentemente como «fantasias e delírios» as declarações do escritor e ex-combatente António Lobo Antunes sobre a guerra colonial.

Lobo Antunes descreveu um cenário de barbárie causado pelos militares portugueses na zona de Angola onde cumpriu comissão de serviço na guerra, numa das entrevistas que integram o livro Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes.

Descontente, um grupo de ex-combatentes, oficiais na reforma, quis processar o escritor por «atentado à honra e dignidade dos militares», tendo apresentado ao chefe do Estado-Maior do Exército uma petição nesse sentido.

A possibilidade de se avançar para um processo-crime foi rejeitada, por se tratar de uma «obra de ficção», noticiou recentemente o semanário Expresso, segundo o qual os militares admitem dar «um par de murros em público» ou «ir ao focinho» do escritor, a quem chamam ainda «bandalho» e «atrasado mental».

2- Uns meses antes -18 de Novembro de 2009- o comentário do meu “irmão de armas” Mexia Alves no blog do nosso “Luís Graça e Camaradas da Guiné” (P 5292) começava assim «…apenas vos digo que isto deve ter sido das coisas que mais me insultou como ex-combatente da guerra do Ultramar.

«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».

(…) Mas são sobretudo estas duas frases que me indignam, «E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros», porque faz dos militares portugueses um bando de assassinos frios e sem piedade, o que nós sabemos nem de longe nem de perto corresponde à verdade.

(…) Abraço camarigo para todos. Joaquim Mexia Alves

3- Aconteceram muitos e variados comentários de outros ex-combatentes.

Pela sua importância destacamos o comentário do nosso Editor Luís Graça que, entre várias considerações, referia então:

«As infelizes frases ditas, no estrangeiro, por um escritor de que eu sou leitor(…), reportam-se à sua condição de médico militar durante a guerra colonial e, nessa qualidade, não nos podem deixar indiferentes, dizem-nos também respeito... Em todo caso, não podem ser usadas como título de caixa alta, postas entre parênteses, fora de contexto, muito menos como libelo de acusação para linchamento do homem e do escritor em praça pública... Há que ler o livro e inserir essas e outras frases no contexto da experiência do autor que era, antes de mais, um oficial miliciano e só depois médico e só mais tarde escritor (em 1985, torna-se escritor profissional, abandonando a psiquiatria)... Deixo aqui outras frases do livro, o qual resulta - é bom não esquecê-lo! - de uma longa conversa com o Lobo Antunes, mantida pelo jornalista João Céu e Silva (que é, de facto e de jure, o AUTOR DO LIVRO!), entre Setembro de 2007 e Maio de 2009:


(...) [JCS] Dessa guerra há um dia que o tenha marcado mais do que todos os outros ?


[ALA] Há o dia 13 de Outubro de 1972, mas não posso dizer porquê. Foi uma violência, nunca vou esquecer esse dia! (p. 111)... (...) Eu nunca quis falar nem nunca escrevi sobre a guerra! (p. 110)... Há dias, tive uma conversa com um amigo... e recordei algumas coisas da tropa, o resultado foi que passei uma noite má. Acho que não há quem não tenha vindo de lá afectado (p. 111)...


Qual é esse terrível segredo que o escritor tem guardado, até hoje, só para si? E que não quis compartilhar com o João Céu e Silva (p. 391) ?... Aliás, essa "declaração inédita", esse terrível parágrafo que começa pelas terríveis palavras "Eu tinha talento para matar e para morrer"... podem ser "parte da solução do mistério sobre um certo episódio em África que se recusou a revelar-me" (sic) ... E, se for de facto assim, é um daqueles segredos que o homem leva para a cova , e não apenas uma manifestação da imaginação delirante do autor de "Memória de Elefante" (1979) ?

De resto, as declarações do veterano da guerra colonial de Angola podem levantar (levantam, seguramente) uma questão ética, que tem ver com ambiguidade, confusão e conflito de papéis a que o Lobo Antunes também não escapa, como ser social: onde acaba a consciência moral do homem, do militar e do médico e começa a liberdade criativa do escritor ? (…) Não sou advogado do escritor, muito menos do homem. E quero sobretudo reafirmar aqui um dos nossos princípios fundamentais, a (ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus), princípio esse que tem que ser compatível com o (i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem)...

4 - Voltando à actualidade (e ao Expresso de 28 de Agosto) a divulgação da troca de cartas entre António Lobo Antunes e o General Chito Rodrigues (Presidente da Liga dos Combatentes) somos surpreendidos pela novidade de que o escritor só se apercebeu da polémica – que dura há meses - durante o último fim de semana. E porquê ?

Porque não é um homem do seu tempo... A responsabilidade da afirmação é nossa e resulta do facto do próprio escritor reconhecer que «…não compro jornais, não tenho computador, não vejo televisão, nem vou à Internet».

E finalmente admite uma falha no relato que faz nas suas memórias de guerra. «Deveria ter dito que cada companhia teve 150 baixas e que cada batalhão teve 600 baixas”, porque, explica,«um pouco de todos nós, no melhor dos casos, morreu na guerra».

Aqui entendemos e subscrevemos.

«…Falou (fala) da guerra como fala da sua vida pessoal” de maneira completamente metafórica”, porque “os factos não interessam nada” e é preciso ver “a natureza e a verdade mais profunda das pessoas”.

Fica por esclarecer «…o sistema por acumulação de pontos entre os soldados ganhos com a morte dos velhos e crianças…».

Será com certeza mais uma metáfora que, na nossa opinião de ex-combatente, é, no mínimo, de extremo mau gosto…

Lobo Antunes não está acima da crítica… e os ex-combatentes merecem respeito, consideração e tranquilidade na reminiscência das suas memórias.

Apesar de um pouco de todos nós ter morrido na guerra…que haja paz!

JERO
 
B.  Outros comentários recentes de camaradas nossos que não chegaram a ser "postados":
 
B1. Do Torcato Mendonça,com data de 24 do corrente:
 
Camarada Amigo [C.V.]:

O Gen Chito Rodrigues, Presidente da Liga de Combatentes,  mostrou o seu desagrado pela entrevista do A. Lobo Antunes. Uma tal Liga dos Combatentes do Ultramar quer ouvir o escritor, isto no DN de hoje. Deve ser no seguimento da notícia da contra capa do último Expresso. Agora anda tudo a ver se chega primeiro.

Fui ver os recortes mas não encontrei.Tenho é o livro/entrevista Uma longa viagem com ALA do J. Céu e Silva. Sei que saiu aqui, e de que maneira, a condenação ao ALA. O sujeito estava (está?) louco quando disse aquilo e não venham com ficções...um fulano que é psiquiatra há tantos anos...

Porque escrevo? Só para te alertar que, provavelmente, vai aparecer aí Bernarda...deve ser só granada de fumos... das outras já se gastaram todas...

Um abraço, C.Vinhal,

do Torcato


B2. Do Carlos Filipe, com data de 25 do corrente:
 
UM LIVRO V/S UM (EX)-COMBATENTE

Lobo Antunes, com mérito próprio, escritor com todo o direito de criar suas obras literárias, com mais ou menos ficção, com histórias baseadas ou não em maiores ou menores verdades. Ninguém lhe pode tirar esse direito. E muito menos impôr-lhe o que deve ou não escrever. O que seria uma aberração da inteligência humana.

O que podemos nós, leitores, é aceitá-lo ou não, fazer a leitura dos seus livros ou não. Embora se lermos os seu livros, tenhamos o direito de estudar e criticar, sem dúvida alguma.

Já escrevi num comentário ao P6878,  "nuito mal vai a liberdade de expressão e de pensamento neste país, com a agravante de se tratar da interpretação de factos já com tempo suficiente de neutralizar barreiras de convivio intelectual". Também fiz referência à obra do escritor.

Porque volto ao assunto ? Partindo dos pressupostos acima, nada dá o direito aos "combatentes" de castigar quem quer que seja, pelo conteúdo do seu trabalho literário.

Isto faz-me lembrar o tempo da censura, da recolha (roubo) de livros das livrarias pela PIDE/DGS, etc. Ou ainda a detenção de alguém que tivesse publicado um trabalho com alguma distribuição. Para já não falar nas buscas a casas a onde a mesma suspeitasse haver pequenas bibliotecas de livros ditos subversivos.

Bem!... o principal motivo deste texto não é exactamente porque os "combatentes " estejam zangados ou não com o Sr. Escritor. De nenhuma forma me afecta, a não ser a preocupação do lento, mas contínuo aferrolhar da liberdade, em nome de valores muito discutiveis.

O principal motivo é a intervenção (declarações) de um sr. Tenente-Coronel de nome Morais [qualquer coisa] à televisão (SIC).

Sabendo-se que o próprio Chefe do Estado Maior do Exército, não patrocionou uma queixa contra o escritor Lobo Antunes, creio que, por considerar uma obra de ficção, o sr Ten Cor começou por afirmar que os "combatentes" tinham muita razão para estarem zangados com o escritor. Porque no seu entender do escritor "de certa maneira" chamou-os de assassinos. Chamou??

A seguir acrescenta "eram combatentes fizeram tanto quanto possivel uma guerra limpa". Afinal há guerras limpas e sujas e tambem outras com algumas nódoas, digo eu. E o sr Ten Cor não tem a certeza.

Reconhecendo que houve excessos por parte das forças armadas portuguesa (pouco claros,  digo eu) como em todas as guerras, chegamos ao verdadeiro DETONADOR da questão.

Garante o sr. Tenente Coronel Morais [Qualquer Coisa], que, " esses excessos praticados pelas F. Armadas, não foram planeados, não foram excessos projetas pelos Estados Maiores " estes "...nunca planearam nenhuma chacina, nenhum morticinio...as coisas aconteceram pelo chamado ruído, nevoeiro da guerra".

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, que me coloca a seguinte interrogação: Não havia Cadeias de Comando? Então de Alferes até aos Soldados, que eram os que iam para o mato, seriam eventualmente os potenciais elementos que sujavam a guerra toda, porque a guerra limpa era a nível superior. Raios, afinal quem se sujou ou quem sujou ??

Não havia meios de comunicação (mesmo deficientes)? Grande parte das operações não eram planedas mesmo a nivel de Batalhão? E tantas outras ainda a nivel mais superior, mesmo ministrial ?? Então de quem foi e quais foram as directivas para as grandes operações que deram tanto burburinho a nivel internacional? Tudo isto, mesmo considerando os imponderáveis.

Sendo por aqui que o Sr.Ten Cor começa, vai agora ao encontro do texto do Lobo Antunes que tanto incomodou as nossas "praças"!!!

A questão dos "prémios", que parece ser o extrato da obra do escritor, para mim tambem é uma absoluta parvoíce e ridícula.

Diz o sr Ten Cor Morais [Qualquer Coisa]"...que nunca teve conhecimento" de tais prémios. Acredito até me ser razoavelmente demonstrado o contrário.

Mas mais uma vez , suporta-se em uma pequena parte do texto (já referenciado) do romance, do livro, da ficção, ou até eu posso chamar-lhe desvario literário do escritor Lobo Antunes, para deixar claro o seguinte: "...os combatentes têm razão para estarem fortemente zangados e para quererem castigar o escritor Lobo Antunes, por uma falsidade que ele cometeu",  esclareceu-nos o sr. Ten Cor.

Novas perguntas se me colocam: Quem são exactamente estes "combatentes" que querem castigar o escritor e como se revestia o castigo, de que tipo ??? Ainda estão de alguma forma no activo estes "combatentes" ???

Será que estão estes "combatentes" a acelarar para a frente, na esperança de chegarem a uma grandiosa parada, a que se faça a apologia da mordaça e outros desvios democráticos, tão em voga ???

Por último, o Sr. Tenente Coronel Morais [Qualquer Coisa] é apresentado como membro da Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes, por isso tinha socialmente o dever moral de tentar apaziguar a situação e não falar sobre ela como um "grito de guerra" sendo perentório de que " ...zangados...e quererem castigar o escritor Lobo Antunes... "

Por outro lado tendo sido (com certeza) oficial na guerra colonial, chefiando homens em situação hostil, deveria saber, no meu entender, desviar as "sinergias" dos combatentes (estou a falar de ex-combatentes e no meu entender) para os problemas que se lhe colocam hoje com idades que rondam os 60 anos, como a saúde, pensões, tratamentos, cuidados hospitalares e outros.

Sou anti-militarista, anti-colonialista. Andei por lá como os outros e repudio solenemente o que se passou nas as ex-colónias, mas não aceito que se venha atribuir a "sujidade" da guerra aos Soldados e/ou a Graduados de pequena patente. A HISTÓRIA NÃO SE APAGA.

P.S. - Actualmente que se saiba não estamos em guerra, em lado nenhum, portanto não existem combatentes, designação que deriva de condição de guerra ou outra similar. O que existem são ex-combatentes ou ex-militares. Salvo que ainda se tenha algures o sentimento de que se esteja em algum tipo de guerra surda.

E assim se vai lançando as "Sementes do Diabo".

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/noticias-pais/2010/8/ex-combatentes-do-ultramar-indignados-com-declaracoes-de-livro-de-lobo-antunes24-08-2010-23399.htm

Carlos Filipe
1º Cabo Radiomontador,
CCS/BCAÇ 3872,
Galomaro, 1971/74

B3. Este outros mails anteriores do Carlos Filipe (que está em tratamento por motivo de doença oncológica) mereceu o seguinte comentário da minha parte (LG):

Meu caro Filipe:  Sei que o momento que estás a passar, na tua vida, é penoso, doloroso, e eu não quero contribuir em nada para que o teu fardo ainda seja mais pesado... Pelo contrário, desejo-te rápidas melhoras e sobretudo muita força, física e mental, para venceres esta "má onda"... Quero estar contigo neste momento difícil que seguramente há-de passar...


Quanto aos documentos que nos tens enviado [ nomeadamente um artigo do El Correo de la Unesco, em espanhol, sobre as colónias portuguesas, de 1973], confesso que, por motivo de férias e menor disponibilidade de tempo para o blogue, ainda não os apreciei em detalhe... Mas já percebi o seu interesse documental. Oportunamente dir-te-ei a minha opinião. Até lá conto com a tua activa colaboração. Mas, deixa-me acrescentar, que no nosso blogue privilegia-se os textos "inéditos", incluindo documentos policopiados, da época, oriundos das NT ou do PAIGC, de circulação restrita, com interesse historiográfico, etc. É sempre necessário alguma relação, directa ou indirecta,com a temática na Guerra Colonial na Guiné...


PS - Em relação ao texto, corajoso, contra a maré, que escreveste em defesa do ALA [, António Lobo Antunes,], estou indeciso em voltar à polémica que começou, de resto, no nosso blogue... Por um lado, considero o assunto encerrado; por outro,  "aquela guerra não é nossa"... O ALA (que aprecio mais como escritor do que como homem e médico) não precisa deste "ruído" (...). É confrangedor ler certos comentários, que não gostaria de voltar a (re)ler no nosso blogue [...]. Se leres o blogue não oficial do ALA, por ele está tudo esclarecido...


http://www.alawebpage.blogspot.com/

[ Revisão / fixação de texto / bold a cor / título: L.G.] (*)
____________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6880: Controvérsias (103): O BCAÇ 237, a CCAÇ 153, o Coronel Bessa, o Major Pina, o início da guerra... (Carlos Silva / José Pinto Ferreira)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Guiné 63/74 – P6911: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (6): TAP ou TAPioca…?

1. O nosso Camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968 / 70), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 29 de Agosto de 2010:

Nota prévia

Em carta, como normalmente recebo as “Divagações de reformado” do meu Comandante e Amigo Pacifico dos Reis, foi-me explicada a razão por não receber a revista ASMIR, como habitualmente.

É que o texto que agora se apresenta, e que vem no seguimento de outros publicados no nosso blog, costuma ser antecedido de publicação na revista da ASMIR, como se alude sempre em cada texto, com a indicação do número em que foi publicada.
O presente texto não terá publicação prévia nessa revista, pela simples razão de que o mesmo foi “censurado” pelo parágrafo que refere o “possível futuro Presidente da Republica”, apesar de reflectir, apenas, a opinião do autor no pleno uso dos seus direitos.
Julgo que se trata de um pormenor, uma pequena “gota de água”. Mas há que estar alerta, para que não se transforme num “charco”.

José Martins

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DIVAGAÇÕES DE REFORMADO

6 - TAP ou TAPIOCA…?
Durante uma recente viagem a Inglaterra, para visita aos netos, utilizei os aviões da TAP, A viagem fez-me divagar até aos longínquos anos de 68. No decorrer da comissão, o mês de licença poderia ser passado na Metrópole e, para o efeito, eram utilizados os aviões da TAP. Mediante o pagamento do próprio, claro.
Nesse tempo a TAP era a TAP. Serviam boas refeições, com talheres de metal (mesmo na turística) vinho à discrição e engarrafado. Era a época da moda da mini-saia e as hospedeiras (na altura) eram uma visão para quem tinha estado desterrado no mato.
No meio dos meus pensamentos, a caminho do UK, um comissário (agora) atirou-me um “tijolo” (pseudo refeição recente da TAP) para cima do tabuleiro e serviu-me copo de vinho de uma garrafa de origem indefinida. Como tenho todas as “doenças da nutrição” confirmei se era o “tijolo dieta” que tinha previamente solicitado. Não era, novamente. Pela 3ª vez tal me sucedia. Reclamei mas também não espero que me respondam, como das outras vezes. Assim anda a TAP, sob administração brasileira. Será que temos TAP ou TAPIOCA?
Após as licenças era sempre difícil recomeçar. O regresso à rotina das operações, dos patrulhamentos e da vida passada nos abrigos, a má alimentação e higiene eram uma crucificação diária. Havia, no entanto, mecanismos psicológicos que amenizavam o ambiente. Um dos meus, eram os bons dias diários que me dava um pequenito negro, de cerca de três anos, que corria para mim mal saía da nossa “caserna armazém de mancarra”. Era um bálsamo que me fazia lembrar os filhos que tinham ficado em casa. Vim a saber mais tarde que tinha falecido, num dos ataques ao aquartelamento, depois de ter saído da Companhia.

O Mamaçal no habitual cumprimento matinal ao “Homem Grande” dos Gatos Pretos.
© Foto Pacifico dos Reis (1968 ?)
A C.Caç 5, como companhia da Província, tinha uma secção de recrutamento e mobilização cujo comando, conforme rezava o quadro orgânico, pertencia a um furriel. Como estivesse em falta, solicitei o recompletamento. Tempos mais tarde, quando regressou uma coluna vinda de Nova Lamego, vieram dizer-me que tinha chegado o furriel para a secção.
Dirigi-me para a coluna, mas não me apercebi que tivesse chegado alguém novo. Perguntei onde estava e, subitamente, reparei num indivíduo magro, como uma radiografia, a sair do meio das pipas e das sacas de farinha. A farda que vestia tinha uns números acima e bailava-lhe no corpo. Era o nosso furriel da mobilização. Mais tarde vim a saber que era um conhecido actor do nosso teatro de revista. O que o pobre sofreu para pôr os papeis em dia.
As emboscadas que sofríamos não eram exclusivamente realizadas pelos turras. Passo a contar: Certa vez seguíamos em “bicha de pirilau” pela mata densa quando senti que todo o pessoal africano da companhia dispersava gritando “baguera, baguera…” Somente os soldados metropolitanos não desertaram. Mantiveram-se no seu posto… mas por pouco tempo. Logo que perceberam que baguera eram abelhas, seguiram atrás dos africanos. Foi a pior emboscada que alguma vez tivemos, pois as abelhas africanas são muito ciosas do seu território e muito democráticas: tanto nos atacam, como aos turras. O que foi trabalhoso foi reunir o pessoal, uns quilómetros mais à frente.
A outra emboscada foi realizada por um bando de macacos. Durante uma coluna a Nova Lamego atravessou-se, no caminho, um bando de macacos cão. Um pequenito macaco, que ficou para trás, foi apanhado por um dos militares da Companhia. Quando regressamos, ao passar pelo mesmo sitio, estava todo o bando de macacos, que nos mimosearam com uma gritaria incrível. Somente quando chegámos ao aquartelamento é que percebi, ao ver o macaquito, que a emboscada à coluna tinha sido efectuada para libertar o pequeno elemento do bando. O mal estava feito e o pequeno ficou como mascote.
De divagação em divagação, vejo como os valores se vão modificando com o passar do tempo. Durante a permanência na Guiné, numa operação, perdi o PSRT (documento cripto). Sendo material secreto dei de imediato conhecimento superior e não houve qualquer quebra de segurança. Mesmo assim fui punido. Agora, quarenta e dois anos depois, arriscamo-nos, nas próximas eleições, a ter um Comandante Supremo das Forças Armadas que se divertia a enviar de Argel, elementos para os turras atacarem os nossos militares. É bem verdade que hoje, em Portugal, o patriotismo se mede pelos decibéis das “vuvuzelas”, e não pela valia nas artes, nas letras, nas ciências ou na disponibilidade dos militares de dar a vida pela Pátria.
Quando chegamos a Canjadude só tínhamos, conforme já referi, um armazém de mancarra para viver.
Tornava-se necessário construir abrigos enterrados, para resistir a previsíveis ataques. Para o efeito cortamos algumas árvores, com a grossura de mais de um metro, que iriam servir de cobertura aos abrigos. Ao mesmo tempo abríamos campos de tiro. Assim construímos os nossos habitáculos que nos iriam proteger e aos que nos rendessem. O agradável nos abrigos era o cheiro que os troncos, recém cortados, emanavam para o interior dos mesmos. Sempre diluía outros cheiros menos agradáveis.
Outras das grandes necessidades era a construção de uma pista para se receber aviões que trouxessem frescos e correio. No intervalo das operações, que eram poucos, conseguimos construir uma pista com a terra dos morros salalé (que me desculpem as formigas) devidamente compactada. Começaram, logo de seguida, a aterrar os DO trazendo material apetecível e perecível. O pior foi quando um piloto mais cauteloso, ou menos experiente, resolver interditar a pista por haver umas rochas no final da mesma. Tínhamos de construir mais cem metros.
Ficamos sem frescos e sem correio. Um piloto amigo e condiscípulo no Colégio Militar prontificou-se a resolver o problema. Tinha lido num manual americano como resolviam estes problemas no Vietname. Embrulhavam os frescos em palha dentro de sacos de serapilheira e lançavam-nos a baixa altitude.
Assim foi feito. O DO passou a rasar a pista e lançou uma série de sacos. Não sei se ele leu bem o manual. O que sei é que andamos a apanhar sardinhas, carapaus e pescada pelas árvores das redondezas. Serviu muito bem para um almoço de caldeirada, pois não podíamos ser esquisitos.
Víamos a vida fluir, durante a nossa permanência naquele pequeno recanto da Guiné, chamado Canjadude. Alguma marca deixámos naquelas terras. Sem dúvida nenhuma fizemos a guerra por amor à Guiné e a Portugal.

Um abraço,
Pacífico dos Reis
Coronel na reforma

Observação:
Como o autor do texto não se recordava do nome do “pequeno”, solicitei informação ao Corceiro que, além da foto, enviou o texto abaixo:

“Amigo Martins
O miúdo era o Mamaçal, uma jóia de criança, os militares eram a sua família.
Em anexo vai uma foto, tirada no rio junto à ponte, onde estou eu, o Silva atirador mais o Dias, a dar banho ao Mamaçal.
Dá cumprimentos ao Pacífico dos Reis.
Um abraço
José Corceiro
© Foto de José Corceiro.
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Guiné 63/74 - P6910: Falando do BART 2857, da CART 2479, da CART 11 e da CACAÇ 11 (J. M. Pereira da Costa)

1. Mensagem de João Maria Pereira da Costa, um dos fundadores e administradores do blogue BART 2857.


Data: 16 de Janeiro de 2010


Assunto: GUINÉ 63/74 - P1015: CART 2479, CART 11 E CCAÇ 11 (ZONA LESTE, GABU, SUBSECTOR PAUNCA)

Sou Pereira da Costa, ex-furriel miliciano, Oper Info/CIOE,  da CCS/BArt 2857, em Piche
Sou um dos iniciadores, administradores e moderadores do blogue BArt 2857.

Caro Luis Graça, como foi quem colocou esta mensagem, pelo que lerá ao longo deste email, compreenderá as razões do mesmo.

O que o Carlos Marques dos Santos diz faz sentido,  que a CArt 2479, de Renato Monteiro desse origem à CCaç 11. O que posso complementar é que a CArt 2479 ou CArt 11 ou CCaç 11, esteve sediada em Piche, por período que,  de momento, não tenho elementos para o confirmar, pois aguardo que o Arquivo Militar me entregue uma cópia da História da Unidade do BArt 2857, que requisitei.

O Zé Teixeira diz que da História da CArt 2479 consta:

 Em Contuboel ministrou instrução a naturais de etnia fula criando uma sub-unidade mista que se transformou numa Companhia de Intervenção, formando a partir de Janeiro de 1970, CArt 11. Posteriormente terá passado a CCaç 11 a partir de Outubro de 1972. 

É bem possível, pois no período em que o BArt 2857 esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, lembro-me da CArt 2479 e ouvir falar em CArt 11.

O que o Albano Costa diz tem coerência e até tem elementos que o confirmam.

Agora sou eu,  Pereira da Costa: vou ter que ler as histórias do Renato Monteiro e a História da Unidade da CArt 2479, se alguém me facultar, pela razão que vou descrever.

O BArt 2857 iniciou o seu próprio blogue [, em 20 de Setembro de 2009] (**). Acompanhamos outros, em especial, o vosso que me caiu de pára-quedas no meu email.

Estamos a preparar publicações entre elas uma de um acidente ocorrido, em 05/07/1969, na estrada Dunane/Canquelifá por accionamento de minas A/C sob Unimogs, onde estiveram envolvidas forças da CArt 2439, sediada em Canquelifá, pertencente ao BArt 2857 e forças da CArt 2479 / CART 11; pelo facto ocorreram mortos e feridos em número elevado, em ambas as forças com mais peso na CArt 2479 (pessoal ultramarino).

A publicação será em memória de um 1.º Cabo da CArt 2439, porque quando a lerem compreenderão a razão. Contudo não queremos esquecer os africanos e um metropolitano da CArt 2479. Para isso para além de informação e fotografias que já possuímos, gostariamos de as ter da CArt 2479, pois esta esteve como Companhia de Intervenção durante certo tempo (???)  adstrita ao BArt 2857, em Piche. (*)

Apelo a quem puder contribuir com informação e fotografias que o faça ou indique os contactos para as obter.

Um grande abraço de camaradagem ao Luís Graça que não tenho o prazer de o conhecer e muita força e coragem para transmitirmos todo aquele período que para alguns nunca existiu !!!!

Obrigado
Pereira da Costa


2. Comentário de L.G.:



Meu caro J. M.Pereira da Costa: Dei conta, só agora, da tua mensagem encalhada há muito nos postes por publicar... O teu pedido, no entanto, continua actual e peço aos nossos camaradas - nomeadamente aos que pertenceram à CART 2479 / CART 11, no período em questão (1969/70) - para te fornecerem os elementos pedidos...

Por outro lado quero-te dar os parabéns que criação e animação do blogue referente ao vosso batalhão, que vou passar a seguir. E desejar-vos uma bela festa de convívio, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro. Fará então 40 anos que vocês regressaram da Guiné. Os meus parabéns por estas iniciativas.

Um terceiro ponto: quero-te  convidar pessoalmente para ingressares na nossa Tabanca Grande, o que não te impedirá de continuar a liderar o teu/vosso blogue. Vamos a caminho do meio milhar de membros da Tabanca Grande que, como tu sabes, reúne sob um vasto poilão, centenário, simbólico, os amigos e camaradas da Guiné... 

Queremos reforçar a presença da malta que, como tu, esteve no nordeste da Guiné, no sector de Piche. Basta-te, no teu caso, o envio de duas fotos, uma actual e outra do tempo da tropa. Um Alfa Bravo. Luís
_____________


Nota de L.G.:

(*) O BART 2857 (1968/70) era constituído pelas seguintes subunidades:  CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche). 

O pessoal deste batalhão vai realizar, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro, a festa de confraternização do 40º aniversário do seu regresso da Guiné.

domingo, 29 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)

1. Do  António Inverno (*) para o nosso co-editor Eduardo MR:

Amigo Ranger!

Li alguns comentários do nosso amigo Luís, da Dona Filomena, do  J. C. Carvalho, do Ranger Mexia, e alguns anónimos.

Já expliquei no texto que te enviei porque tinha uma Kalash, quando o Alferes João Uloma, que era comandante da 2ª Companhia dos Comandos Africanos, me a entregou com mais 5 Carregadores cheios. Experimentei-a, gostei dela e adoptei-a , e já que tinha de usar uma...

Resta dizer que no final em Setembro de 74 a devolvi ao Uloma, hoje bem arrependido estou, porque não precisava fazê-lo, mas enfim eram outros tempos .

António Inverno

Fábrica de Almeirim
Técnico de service desk local
Estrada Nacional nº 118
2080-023 Almeirim
Tel: 935101566

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6820: António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª Companhias do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos - 1972/74

28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6801: O Nosso Livro de Visitas (97): António Inverno, ex-Alf Mil Cav Op Esp, S. Domingos, 1973, amante da "bela" Kalash

Guiné 63/74 - P6908: (Ex)citações (95): António Rosinha, escreve e vai relatando as tuas experiências e vivências de África (Torcato Mendonça)

1. Comentário,  com data de 23 do corrente, de Torcato Mendonça [ , foto à esquerda, em  Candamã, subsector de Mansambo,  CART 2339, 1968/69,]   ao Poste P6885:


Antº Rosinha:

Tenho um defeito, tenho muitos claro, mas um é acreditar que só há uma raça: a humana. Li mais este texto, estes teus pensamentos, estes relatos de reflexões fruto de vivências e tive que voltar a reler. Não quer dizer que concorde ou discorde. Talvez antes sinta necessidade de aprender e apreender a vida, em paz ou guerra, vista e relatada por quem viveu na África, dita portuguesa.  Não só, por quem, após a independência por lá trabalhou. Essa informação, quanto a mim e com toda a subjectividade, enriquece o conhecimento dos que por África se interessam. Caso dos ex-combatentes como nós.Tenho uma visão diferente, vivências diferentes e saberes adquiridos em circunstâncias de guerra e não só.

Um exemplo de não guerra: em 63,talvez, houve os campeonatos da FISEC (creio ser este o nome) (*) e vieram atletas, como convinha ao regime, de Angola. Os encontros eram na Cruz Quebrada e tinham como apoio o então INEF (**),  Estádio Nacional e Centro da Mocidade Portuguesa.

Um dia num jantar qualquer com chefões e muita gente, atletas e de outras actividades, cantaram uma canção em voga: Angola é nossa. (***) Como não sabia a letra e não estava ali para cantar, fui observando a galhofa, comedida é certo, de muitos angolanos brancos,  como dizes e não sei se algum negro. Ri para dentro e, se não acreditava em certo País pluricontinental e multirracial, menos fiquei a acreditar. Só que haviam soldados do meu País espalhados pelo dito Império, lutando e morrendo por essa Pátria. Só que eu, passado meia dúzia de anos fui para lá.

Para eu compreender melhor África, as antigas colónias,  preciso de testemunhos como os teus. Eu também me interrogo muito sobre o antes, a guerra, e o depois...a paz. Questiono-me sobre tanto acontecimento. Porquê? Ou leio aqui neste blogue tanto pensamento diverso. Respeito, claro,  e apoio a pluralidade de opinião. Vamos sempre aprendendo e,  para melhor o fazermos, são necessários homens como tu e outros que passaram por vários lados e em tempos e situações diferentes. Alonguei-me e é pena. Nem devia escrever assim. Já tenho idade para ser mais comedido.

Escreve e vai relatando as tuas experiências e vivências. Um abraço do Torcato.

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Notas de L.G.:

(*) Fédération Internationale Sportive de l'Enseignement Catholique, Federação Interancional Desportiva do Ensino Católico
(**)  Instituto Nacional de Educação Física
(***)  Edição de A Voz do Dono, 1961. Letra de R. Santos Braga e música de Duarte F. Pestana. Coro e Orquestra da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho).

Guiné 63/74 - P6907: Uma foto, de Arlindo T. Roda, da CCAÇ 12, para a capa do novo romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã: Um Alfa Bravo, Camarada!), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ser ferido duas vezes o decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, Fevereiro de 1970).(*)

 Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (F); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (F); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (F); Sold 82109169 Malan Baldé (F); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (F); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga). "Slide" do Fur Mil Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção.  

Imagem editada por L.G. Tenho o original com maior resolução ainda... O Armor Pires Mota (mesmo não sendo membro do nosso blogue, para o qual de resto já foi convidado) pode aproveitar esta imagem para a capa do seu novo livro, Estranha  Noiva de Guerra, desde que cite o autor (Arlindo T. Roda) e o nosso blogue.(**)
Foto: © Arlindo T. Roda  (2010). Todos os direitos reservados

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Notas de L.G.:


(...) "Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

"Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.

"Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).

"Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

"Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 2º Gr Comb).

"Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h" (...).

  


(...) O nosso camarada Armor Pires Mota procura uma foto para ilustrar a capa do seu próximo livro "Estranha Noiva de Guerra". A ilustração deverá registar um acto de salvamento ou transporte de um militar ferido em combate, por um seu camarada. (...)


sábado, 28 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6906: Bibliografia (34): O PAIGC de Amílcar Cabral a duas velocidades, na sua terra natal e na terra do seu pai, Cabo Verde (Nelson Herbert)

1. Mensagem do Nelson Herbert [, foto à direita,] com data de 24 do corrente:

Caro "Mais Velho" Rosinha:

Pontualmente, em debates, entrevistas, livros - infelizmente alguns apenas com edição o e circulação  em Cabo Verde - alguma luz, ainda que pouca, tem-se dado à história da actividade clandestina do PAIGC nas ilhas cabo-verdianas..

Obras que retratam em parte, a organização clandestina do PAIGC naquelas ilhas atlanticas.

E esse "Testemunhos de um Combatente", de Pedro Martins, um amigo pessoal e ex-"tarrafalista", das células do PAIGC em Cabo Verde [ fundador da Associação de Combatentes da Liberdade da Pátria , foto à esquerda, cortesia  de A Semana, ] é por sinal um dos incontornáveis livros para o« entendimento do então "fosso", existente entre as acções do PAIGC de Amílcar Cabral, em "Conacri", nas matas e nos centros urbanos da Guiné ...e nas ilhas de Cabo Verde. 

Uma outra obra recomendável é a do engenheiro Jorge Querido ("Subsídios Para a História Da Nossa Luta De Libertação"). Jorge Querido foi por sinal o responsável pelas actividades e acções clandestinas do PAIGC em Cabo Verde.

Da leitura de um conjunto de testemunhos / livros -alguns pouco conhecidos fora do arquipélago -provavelmente [os mais importantes] os dois casos aqui referenciados, fica-se com a ideia da então "desfasagem" de engajamento do PAIGC, na Guiné e em Cabo Verde.

Alias, são sobejamente conhecidas as críticas de que Cabral era alvo, quando e sempre em causa estivesse... o peso do partido, num e outro território então sob domínio colonial.

Terão as balas disparadas na Guiné (tal como defendia Amilcar Cabral) tido o seu "quinhão" de impacto no processo emancipador e de libertação de Cabo Verde ?

Será essa porventura a percepção dos nacionalistas das células clandestinas do PAIGC naquele arquipélago ?

Daí a minha sugestão "bibliográfica" !

Mantenhas
Nelson Herbert
USA

Guiné 63/74 - P6905: Parabéns a você (145 ): Um rodada de ternura para o nosso Gato Preto José Corceiro, em férias na Madeira



O José Corceiro aqui, menino de sua mãe, em 24 de Junho de 1948, aos dez meses de idade, na sua terra natal, Sabugal, distrito da Guarda. No TO da Guiné, viria ser 1.º Cabo Trms, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71.

Foto (editada por L.G.): © José Corceiro (2010). Todos os direitos reservados.




O José Corceiro (ex-1.º Cabo Trms, CCaç 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71) faz hoje anos, 63, pelo que tem direito a rancho melhorado, a tratamento VIP e outras pequenas mordomias... virtuais. (*)

Embora ele esteja (suponho que ainda) de férias na Madeira, não deixará de nos ler e de receber, com agrado, os votos de parabéns que esta já vasta comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné lhe manda à velocidade da luz.

Ainda não o tive o prazer de o conhecer pessoalmente, o que é só uma questão de tempo, tanto mais que ele vive em Lisboa, embora beirão de nascimento. Um dia destes isso vai acontecer muito naturalmente. Até lá continuo/continuaremos a ler as suas histórias e ver as suas fotos dos Gatos Pretosm  de Canjadude, justamente da mesma época em que eu estive noutra companhia africana, a CCAÇ 12 (1969/71), na outra ponta da zona leste (Bambadinca).

Em 24 de Junho p.p., passámos a conhecê-lo um pouco melhor na sua intimidade: ele, discretamente feliz, dava-nos a notícia de ter sido avô, pela segunda vez... Aproveitou para homenagem, com o talento literário e a sensibilidade que todos lhe reconhecem, a sua saudosa mãe e a nova mulher que acabava de entrar na família:

"Aproveito para homenagear, singelamente, a mulher que foi a minha Mãe na minha vida e dizer-lhe que, embora nos tenha deixado, continuo a sentir-me ao seu colo adorado e protector. Saúdo a minha netinha Laura, desejando-lhe uma vida graciosa e risonha, assim como não esqueço as outras mulheres da minha vida, às quais desejo tudo de bom". 

Para justificar o gesto e o seu registo, intimista,  perante os mais puros e duros guerreiros da nossa Tabanca Grande, eu comentei:

"Este é também um blogue de afectos... Um gesto de ternura é sempre algo de irrecusável. E como nós estamos necessitados de ternura, nestes tempos difíceis por que estamos a passar, nós, todos, indivíduos, famílias, comunidades, povo!"... (**).

E já que a ternura (ainda) não paga imposto nem afecta (ou afecta ?) a nossa dívida pública nem a nossa balança de pagamentos, aqui vai uma rodada de abraços, beijinhos e chicorações para o Gato Preto Corceiro, em nome da malta toda da Tabanca Grande, reunida sob o poilão da amizade, da camaradagem e da solidariedade. E bom regresso de férias na Madeira...

Luís Graça, Candoz, Paredes de Viadores, 28/8/2010.

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Notas de L.G.

(ª) Último poste da série > 27 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6902: Parabéns a você (144): Jaime Machado, exc-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) e actual presidente do Lions Clube Senhora da Hora, Matosinhos

(**) 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6641: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (22): José Corceiro, um bom filho, um melhor pai, um avô babado

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6904: Blogoterapia (156): Luís, guardo o teu número de telefone para um dia! (Renato Monteiro)

1. Mensagem, com data de 6 do corrente,  de Renato Monteiro, o famoso homem da piroga, hoje um homem de olhares e de fotografares:


Assunto: Eu me confesso

Meu Amigo Luís Graça


Sou um tremendo egoísta, o que será pior do que muitas doenças... Estou-te sempre grato e desde há muito que não tenho uma palavra para ti! O que faço é adiar, adiar o telefonema, a mensagem, até a visita surpresa, sobretudo, quando me desloco até Peniche e passo duas vezes pela Lourinhã, imaginando perguntar-te se estarás disponível para um copo! Olha que a Guida pode testemunhar o que digo, lamentando ela que raramente concretize o desejo de rever amigos, relembrar histórias comuns, fazer o balanço dos últimos dias....

Não vou, amigo Luís, chamar as desculpas em que me escudo para não dar sinais de mim. Como diz o Abílio (*), a memória não sendo já o que foi, deveria ser reavivada! Crê, apesar de tudo, que penso em ti, sempre como um camarada, grande amigo! (**)

Em Agosto, conto ficar por Lisboa, salvo umas andanças solitárias que penso fazer, na última semana do mês, pela orla do Tejo, desde Vila Velha de Ródão até ao Cais das Colunas! (***)

Guardo o teu número de telefone para um dia!

Um grande abraço!

Renato


2. Comentário de L.G.:

Meu querido timoneiro de pirogas do Rio Geba em Contuboel: De ti, que hoje já és um fotoandarilho com (re)nome na praça, não posso exigir nada... Nada do teu tempo, das 24 horas do teu dia, contadas em grãos de areia na ampulheta... Quem fez a guerra e a Guiné, além da carreira de professor, tem um enorme sentimento de urgência: tanto tempo que nos roubaram, meu Deus, tanta(s) vida(s) para viver, como diria o meu amigo e camarada Virgínio Briote!... Sei que és homem de paixões, de grandes causas... Esta última, a dos fotografares, é mesmo uma grande paixão!... Espero, no mínimo, encontrar-te na próxima exposição ou no lançamento do teu próximo álbum. Acredita que ficarei zangado se não me convidares... Em contrapartida, sei que não me zangarei, por que nesse dia terás à mão de semear o meu número de telefone... O telefone dos meus amigos, dos grandes amigos, é para se usar, com parcimónia é certo, mas de preferência nas grandes ocasiões! Não imaginas quanto foi bom saber de ti! De Candoz, com um Alfa Bravo  muito especial. A partir de 6 de Setembro, estarei no sítio do costume, perto de ti. O meu fixo é o 21751 2193 (gabinete de trabalho). Luís


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Notas de L.G.:
(***) Vd. blogue do fotógrafo Renato Monteiro > Fotografares (Por respeito à propriedade intelectual, não reproduzo aqui nenhuma das recentes, belíssimas, fotos, a preto e branco, que o meu amigo tem andado a tirar à Beira Tejo, esse rio que é, de facto, o maior (mas não o mais belo da nossa aldeia, como diria o Alberto Caeiro... Façam o favor de vir visitar o blogue do nosso camarada que, não por acaso, nasceu no Porto, em 1946).

Guiné 63/74 - P6903: Tabanca Grande (239): Abílio Duarte, ex-Fur Mil Art, CART 11 (Contuboel e Lamego, 1969/70)










Fotos do Pelotão do Fur Mil Art Abílio Duarte, CART 11 (Contuboel e Nova Lamego, 1969/70)... O Sold Aladje Silá foi um dos mortos da companhia que se formou, em Contuboel, na mesma altura da minha CCAÇ 12. (LG)

Fotos: Abílio Duarte (2010). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do Abílio Duarte, com data de 1 do corrente:

Assunto - CART 11 / CTIG, OS LACRAUS - NOVA LAMEGO E ARREDORES.


Para memória futura, recordando o passado, envio fotos do meu pelotão, da CART 11.

Esta Companhia foi formada por quadros de Portugal e naturais da Guiné, quando o meu Camarada, e Comandante Chefe, Marechal Spínola, era o Governador da Guiné.

Foi constituída por soldados de 2ª  linha, provenientes da evacuação de Madina do Boé, Cheche e Beli, ao sul do Rio Corubal.

Foi dada instrução militar, em Contuboel, donde se formaram duas Companhias de Fulas [, CART 11 e CCAÇ 12,] e um Pelotão de Mandingas, que foi depois enviado para a Zona de Bambadica e Xime.

A nossa Companhia era Comandada, pelo Cap Mil Analido Aniceto Pinto, que muito considero, pois alinhou sempre.

Depois da Formação e Juramento de Bandeira em Bissau, fomos colocados no Leste da Guiné como força de Intervenção subordinada ao Com-Chefe, e depois ao COP 5 de Bafatá.

Durante 14 meses de Operações Militares de toda a espécie, Nomadizações, Colunas , Emboscadas, Segurança na Fronteira com o Senegal, Apoio Logístico no conflito de Buruntuma (Fronteira com a Guiné-Conakri) e Apoio no Deslocamento de Rebeldes de Nova Lamego até à Fronteira com a Guiné, para o Golpe de Estado contra Sekou Touré [, Op Mar Verde], tudo foi feito com dignidade e HONRA.

CUMPRIMOS O NOSSO MANDATO!

A minha maior mágoa é hoje, passados 40 ANOS, não poder fazer nada por aqueles que me acompanharam e me apoiaram, longe da minha casa e da minha família, e terem sido abandonados pelo Governo Português, depois do 25 de Abril.

O que é que o Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, Carlos Fabião, Carlos Azeredo e outros Heróis do 25 Abril fizeram por aqueles HOMENS, QUE JURARAM A NOSSA BANDEIRA E LUTARAM PELA MINHA PÁTRIA, e foram abandonados? E que tão bem estão, aqueles, na vida…

Os outros Fulas e Mandingas, que vestiram uma Farda igual, não mereciam tanto desprezo e esquecimento.

Hoje vemos,  no nosso País, tantos emigrantes com todas as regalias sociais, e aqueles que estiveram ao nosso lado foram abandonados, depois de terem dado [frase incompleta: o seu melhor]


2. Mensagem enviada ao Abilío, a 2, pelo L.G.:


Obrigado pelo teu mail. Vamos publicar a tua mensagem, mas antes precisamos que nos mandes as fotos, que não vieram em anexo.

Depois quero convidar-te, pessoalmente, a integrar o nosso blogue... Formamos uma Tabanca Grande (*)  já do tamanho de um batalhão... Presumo que  sejas de 1969/71... Se sim, estivemos juntos em Contuboel, entre Junho e Julho de 1969... Eu era o Furriel Henriques, da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12...

Desse tempo, e também da tua companhia (mais tarde, CART 11, e depois CCAÇ 11...) fazia parte o meu amigo Furriel Renato Monteiro (**), que acabou por apanhar uma "porrada” e foi parar ao Xime e Enxalé... (Tens uma foto dele comigo, no Rio Geba, em Contuboel, a andar de piroga; dedica-a se à fotografia, tem feito várias exposições e publicado álbuns; reformou-se recentemente como professor do ensino secundário)

Diz-me qual era o teu posto, por onde andaste, em que época... E já agora, onde vives... Manda também duas fotos tuas, uma antiga e outra actual, para a nossa ...

Um Alfa Bravo (ABraço), camarada!

Luís Graça

3. Resposta imediata do Abílio:

Luís Graça:

Agradeço o teu mail. Em anexo envio as fotos que não te chegaram.

Estive na Guiné, entre Fev 69 e Dez 70, era Fur Mil Art (com a especialidade de Minas e Armadilhas). Como referi no mail anterior, estive a dar recruta e formação em Contuboel aos soldados que mais tarde iriam formar a CART 11, a CCAÇ 12, e um Pelotão de Mandingas.

A história da formação deste pelotão demonstrou na altura, como era a nossa ignorância em relação aos grupos étnicos daquele território.

Pelo que me dizes devemos ter estado juntos em Contuboel. Lembro-me da vossa chegada, para tomar conta dos soldados que não ficaram connosco, mas já passaram 40 anos, e a memória está mais fraca.

Percorremos todo o Leste da Guiné, e alguns Kms no Senegal. Recordo-me muito bem do Renato Monteiro (**), pois estivemos juntos muito tempo desde Vendas Novas, até Piche, onde assisti ao processo que levou à sua despromoção, e voltei a vê-lo no Xime e em Bambadica. Espero que esteja bem.

Sou casado tenho dois filhos e uma neta. Fui Empregado Bancário mas estou reformado. Vivo na Amadora.

Muito gosto em participar estas memórias convosco, e sempre à v/disposição.

Um Abraço, Abílio Duarte

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Notas de L.G.:
 
(*) Último poste desta série > 24 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6890: Tabanca Grande (238): Joaquim Sabido, ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/73 (Guiné, 1974)
 
(**) Há diversos postes sobre o meu amigo Renato Monteiro, o homem da piroga, ex-Fur Mil da CART 2479, depois CART 11/CCAÇ 11, Contuboel e Piche, 1968/69, e da CART 2520, Xime, 1969. Para saber mais, clicar aqui. A CART 11 deu mais tarde origem à CCAÇ 11 (que estava em Paunca aquando da transferência de soberania).

Guiné 63/74 - P6902: Parabéns a você (144): Jaime Machado, exc-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) e actual presidente do Lions Clube Senhora da Hora, Matosinhos


Foto recente do Jaime Machado (à esquerda), presidente do Lions Clube da Senhora da Hora,Matosinhos... Cerimónia de entrega,  no Centro de Saúde de Leça da Palmeira, em 6 de Junho p.p., pela Sra. Ministra da Saúde, Dra. Ana Jorge (à direita, com o presidente da Câmara Municipal de Matosinhos), de 4 viaturas para apoio aos cuidados domiciliários (*)... Os Lions Clubs são  uma rede, internacional de prestação de serviços, com carácter voluntário e humanitário.




Foto: Lions Clube Senhora da Hora (com a devida vénia...)



1. Apesar de os nossos editores estarem de férias (incluindo o nosso cartoonistas Miguel Pessoa), nem por isso deixamos de celebrar o dia de anos do Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70, que recentemente, em Abril, voltou à Guiné em romagem de saudade e nos deixou um belo e emcionado testemunho dos seus reeencontros através da exposição fotográfica Guiné Bissau 40 fotos 40 anos,que esteve patente em maio último na sua terra, Senhora da Hora, matosinhos. 


O Jaime é também o actual presidente do Lions Clube Senhora da hora, associação de solidariedade para a qual reverteu o dinheiro resultante da venda das fotos... tivemos o privilégio de ver muitas dessas magníficas fotos, em formato grande, no palace hotel, monte real, por ocasião do nosso v encontro nacional, em 26 de junho último.

No Lions Clube, o Jaime é responsável, entre outros programas de solidarieddae, pelo BCAF - Banco Alimentar Contra a Fome e o PCAAC - Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados.

O Jaime, que está connosco há dois anos, é um entusiasta do nosso blogue. mas a sua paixão mais recente é o seu neto. 

Para ti, meu camarada de Bambadinca, e para a tua família vai daqui um abraço muito especial. Estou em Candoz, e para mais com amigos e familiares que são teus vizinhos, da Senhora da Hora, de Leça, de Guifões... Que tenhas um belo dia, e sobretudo muita saúde e longa vida, são os votos (telegráficos) de todos os camaradas e amigos da Guiné. Bons sucessos, igualmente, no cumprimento do teu programa lionístico"Solidariedade Sem  Fronteiras". (**)

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Notas de L.G.:


(*) Transcrição, com a devida vénia, de notícia inserida no blogue do  Lions Clube Senhora da Hora > Quinta-feira, 10 de junho de 2010

SAÚDE - APOIO DOMICILIÁRIO

O Lions Clube da Senhora da Hora participou no passado dia 6, no Centro de Saúde de Leça da Palmeira, num evento em que a Ministra da Saúde, Dra. Ana Jorge, entregou quatro viaturas de apoio domiuciliário.

Os veículos foram distribuídos aos Centros de Saúde da Senhora da Hora, S. Mamede de Infesta, Leça da Palmeira e Matosinhos.

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos ( ULSM ) pretende que os doentes cada vez mais deixem de estar sujeitos ao ambiente hospitalar e que, sempre que não seja posta em causa a saúde dos utentes, o doente seja apoiado por uma equipa de técnicos de saúde no seu domicílio.

O Dr. Torcato Santos, director da ULSM, referiu, em conversa com o nosso CL Jaime Machado, estar convencido que esta estratégia é a melhor para o doente.

O Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Gulherme Pinto, referiu no seu discurso que o nosso Serviço Nacional de Saúde é reconhecido como sendo um dos melhores, e fez um repto à Ministra Ana Jorge para não deixar que o direito à saúde seja negado aos Portugueses, pedindo-lhe que garanta na Saúde uma sociedade inclusiva e solidária.

A Ministra da Saúde referiu ser este um exemplo a seguir no SNS. Os cuidados que devemos aos doentes podem ser melhorados e, se pudermos continuar a garantir um bom tratamento no domicílio, criando assim vagas nos hospitais para os casos que realmente têm de ser lá tratados, es
taremos no bom caminho.


Mais uma vez o Lions Clube da Senhora da Hora esteve presente numa acção de carácter social.





(**) Último poste desta série >  24 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6891: Parabéns a você (143): António Fernando Marques, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Editores)

Guiné 63/74 - P6901: José Corceiro na CCAÇ 5 (16): O depoimento do Armando Oliveira Alves, ex-Alf Mil, Brá, Cheche, Canjadude, 1967/69 (José Corceiro)


1. O nosso Camarada José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 26 de Agosto de 2010:

Camaradas,

Estou de férias na Madeira, mas não deixo de dar uma espreitadela à caixa de correio electrónico. Hoje recebi uma mensagem do nosso estimado Gato Preto, Armando Oliveira Alves, ex-Alferes Miliciano 1967/69, que tenho a certeza que tem muitas estórias, enquanto Gato Preto, para nos contar, pois foi testemunha de muitos factos que aconteceram na picada entre Canjadude e Cheche onde esteve destacado largos meses.

Na mensagem que enviou, diz que provavelmente no próximo Domingo, dia 29 de Agosto, o Correio da Manhã na revista Domingo que acompanha o Jornal, publicará na rubrica “A Minha Guerra” o artigo do Armando Alves.

Teve a gentileza, que agradeço, de me enviar o depoimento que deu origem ao artigo que vai sair na revista, depoimento esse, que eu envio em anexo, para todos os Gatos Pretos e não só.

Os nossos parabéns ao Armando Alves pelo seu depoimento tão articulado e consistente.


A Minha Guerra na CCAÇ 5 (Companhia de Caçadores 5)


1)- Fez parte de que Batalhão?

Concluído, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, no 1º trimestre de 1967, o Curso de Oficiais Milicianos e após ministrar uma recruta no Regimento de Infantaria de Viseu (RI 14), fui mobilizado, em Junho desse ano, para uma comissão de serviço na Guiné-Bissau, em rendição individual.
Assim, nos primeiros dias de Agosto (não consigo precisar o dia) embarquei, no Cais de Alcântara, no navio Alfredo da Silva (embarcação mista de passageiros e carga).

2)- Quando é que chegou?

Apesar de alguns enjoos, a viagem correu sem sobressaltos, tendo o navio feito escala nos portos das cidades do Funchal, S. Vicente e Praia. Durante o percurso, impressionou-me, negativamente, a forma como iam instalados os soldados: amontoados no porão, sem quaisquer comodidades e sem as condições de higiene, minimamente, exigíveis. Volvidos, mais ou menos, doze dias, o barco atracou no Porto de Bissau, em pleno estuário do rio Geba.

3)- Soube logo para onde ia?

Como ia em rendição individual, não fazia a menor ideia em que Unidade seria colocado. À chegada, tinha à minha espera um representante da Companhia Geral de Adidos, posteriormente Depósito Geral de Adidos, que me conduziu, de imediato, ao respectivo Aquartelamento, localizado em Brá, junto ao Aeroporto.

4)- O que sentiu quando chegou?

Ainda a bordo do Alfredo da Silva, tive uma vista panorâmica da cidade, mormente a Avª da República, ao cimo da qual ficava a Praça do Império, onde se localizava o Palácio do Governador. A sensação, que tive ao desembarcar, foi pouco animadora: clima agreste (muito quente e húmido), pobreza acentuada e bem visível, reduzidíssima população branca e um enorme fosso económico e cultural entre nativos e metropolitanos. Embora, à data, a Guiné-Bissau fosse considerada parte integrante de Portugal, ao pisar, pela primeira vez, aquele território senti-me estrangeiro e um intruso.

5)- Como foram os primeiros tempos?

Como atrás referi, fui mobilizado em rendição individual, tendo ido substituir um Alferes Miliciano, de Coimbra, que, quando regressou à Metrópole, desempenhava as funções de Oficial de Justiça na já mencionada Companhia Geral de Adidos. Embora fosse de Infantaria e sem qualquer formação académica no ramo do Direito, julgo que, com muito trabalho, dedicação, consultas e trocas de impressões com camaradas do Quartel-general, desempenhei, durante três meses, com rigor e competência as respectivas funções. Sem quaisquer preconceitos de falsa modéstia, esta minha opinião alicerçou-se no facto do Comandante da Companhia, Sr. Capitão Gândara, ter solicitado, mais do que uma vez, ao Sr. Brigadeiro Reimão Nogueira, do Quartel-general, a minha colocação definitiva na Unidade referenciada, alegando um bom desempenho a todos os níveis.
Neste período, a adaptação foi, relativamente, fácil, pois, para além das agruras do clima e da ausência dos entes queridos, as contrariedades eram diminutas e as privações quase nulas. Chamo a esse período, bem como a outro, após o regresso do mato, “a guerra da caneta”.

Como não foi possível a minha permanência definitiva em Bissau, em Dezembro de 1967 foi colocado na CCAÇ 5 (Companhia de Caçadores 5), uma Unidade militar constituída, essencialmente, por africanos. Apenas os Comandos/Chefias e os postos mais técnicos, como, por exemplo, maqueiros/enfermeiros e radiotelegrafistas, eram exercidos por europeus.
Embarquei num avião Dakota, com bancos em madeira a toda a volta e cujos cintos de segurança eram pequenas correias com fivelas nas pontas. Como era habitual na época, o avião, para além de pessoas, também transportava animais e mercadorias de diversas espécies, o que, diga-se em abono da verdade, não proporcionava o mínimo de conforto. À data, a CCAÇ 5, com sede em Gabu/Nova Lamego, onde funcionavam o Comando e os Serviços, estava dividida em três Destacamentos: Cabuca (localizado na zona de Piche), Canjadude (entre Nova Lamego e o Cheche e futura Sede da Companhia) e Cheche (encostado ao rio Corubal e próximo de Madina de Boé, local onde foi proclamada, pelo PAIGC, a independência do território).

Após alguns dias em Nova Lamego, para adaptação, fui colocado no Destacamento do Cheche, tendo sido, para o efeito, organizada uma coluna militar. Nesta Unidade, brancos eram cinco e negros sessenta (um pelotão de tropa regular e um pelotão de milícias), sem contar com mulheres e filhos. Embora houvesse tabancas, feitas de madeira e capim, as instalações eram subterrâneas (os chamados abrigos), cavadas no solo e com cobertura à base de troncos de madeira.
Vivia-se em estado permanente de alerta, pois, quase diariamente, era fustigado com tiros de morteiro, provenientes da margem esquerda do rio Corubal. Felizmente, o rio, em frente ao Destacamento, era muito largo, pelo que todos os ataques, durante a minha permanência, redundaram em fracasso.
As missões militares, incumbidas ao Destacamento, para além de patrulhamentos na zona envolvente, limitavam-se a patrulhar e a “picar” a estrada em terra até Canjadude, no sentido de detectar, essencialmente, minas anticarro, aquando das colunas de reabastecimento ao Cheche e/ou a Madina do Boé, e a participar, como reforço, nas deslocações a este último Aquartelamento.

6)- Quando voltou?

Após ter cumprido uma comissão de serviço, no mato, de mais ou menos 13 meses, repartida pelo Cheche (+- 11 meses) e por Canjadude (o restante), voltei a Bissau, novamente ao Depósito Geral de Adidos, como responsável pela organização de transportes de regresso dos militares às respectivas Unidades, após internamento hospitalar, consultas externas, tratamentos de fisioterapia, retorno de férias, etc, etc.
Regressei à Metrópole, a bordo do navio Uige, no início de Setembro de 1969, tendo cumprido, na totalidade, uma comissão de serviço de 25 meses.

7)- Qual foi o dia mais marcante? E porquê?

Embora não consiga precisar a data, o dia mais marcante, durante a permanência no teatro de guerra, foi quando assisti ao rebentamento de uma mina anticarro, que tirou a vida ao Sr. Major de Engenharia Pedra (Oficial de Carreira) e a dois Furriéis Milicianos, também de Engenharia, que se deslocavam ao Cheche, já em fim de comissão, para estudar a possibilidade de uma alternativa à jangada de madeira na travessia do rio Corubal. Embora ainda tivessem sido evacuados com vida, mas muito maltratados, acabaram por falecer, a bordo do helicóptero, a caminho do hospital.
Um dos furriéis, com as duas pernas quase desfeitas, enquanto lhe prestava, juntamente com o enfermeiro, apoio, virou-se para mim e suplicou: “Estás a ver o estado em que me encontro! Se és, realmente, meu amigo, peço-te que utilizes a tua arma e põe fim a este sofrimento”!!! Com o coração desfeito e banhado em lágrimas, tentei confortá-lo e incutir-lhe o mínimo de esperança, o que, reconheço, não foi nada fácil. Nestas circunstâncias, um minuto parece uma eternidade!

8)- O que lhe lembra a guerra?

A quarenta e três anos de distância, a lembrança que tenho da guerra é a mesma que tinha, quando fui mobilizado: um autêntico desastre em termos políticos, económicos e sociais. É caso para perguntar: sacrifícios, privações, mortos e deficientes, em larga escala, em prol de quê? Se tivesse havido, desde o início, uma negociação política, ter-se-iam evitado imensos dramas e as pessoas, que consideravam as ex-colónias como a sua pátria, onde nasceram os seus filhos e onde investiram as suas economias, não seriam forçados a regressar, apressadamente, à Metrópole, “com uma mão à frente e outra atrás”, como se costuma dizer. Por outro lado, a juventude da época não teria sido tão castigada e privada dos melhores anos das suas vidas.

9)- Fazem-se irmãos?

Não restam dúvidas que o teatro de guerra proporciona, em larga escala, espírito de união e de entreajuda, fomenta a amizade e a solidariedade. Sem que cada um deixe de assumir as suas responsabilidades, não há superiores nem subordinados, não há pais nem filhos, são todos irmãos, imbuídos do mesmo pensamento: colaboração recíproca, no sentido de ultrapassar, em todas as circunstâncias, as contrariedades, que vão surgindo, por forma a que a comissão de serviço, imposta pelas autoridades governativas, atinja, rapidamente, o seu términus e todos possam regressar em segurança, saúde e paz aos seus lares. Este “sentimento de irmandade” só acaba, quando todos “partirem”, pois, enquanto vivos, procuram conviver, alegremente, uns com os outros, pelo menos uma vez por ano, através de encontros previamente organizados.

10)- Esteve debaixo de fogo?

Infelizmente, mais de uma vez, embora sempre com muita sorte, pois nunca sofri qualquer tipo de ferimento. Há uma situação, que me marcou para toda a vida, não só pelo número de mortos sofrido (20), mas, também, pelas circunstâncias em que ocorreu o ataque/emboscada e pelas consequências que provocou.
Antes da época das chuvas, cujo início ocorria, normalmente, em meados de Maio, programava-se o reabastecimento ao Destacamento do Cheche e ao Aquartelamento de Madina do Boé, pois, durante aquele período, a estrada em terra (picada) ficava intransitável. Assim, nos primeiros dias de Maio de 1968, deu-se início à coluna militar, constituída, ao nível de efectivos, por uma Companhia e por diversas viaturas, incluindo carros de combate. Ao destacamento do Cheche, sob o meu comando, competiu, para além de outras tarefas, “picar” a estrada ao encontro da coluna. A primeira fase, embora, como sempre, debaixo de grande tensão, correu sem sobressaltos. No regresso e a poucos quilómetros do Destacamento do Cheche (+- 6/7), numa grande clareira em forma arredondada e quando a coluna militar se encontrava, totalmente, dentro da mesma, sofreu um ataque violentíssimo, perpretado por um grupo numeroso de guerrilheiros, equipado com material bélico sofisticado, incluindo canhão sem recuo (uma novidade, para a época, em emboscadas). As nossas tropas, face à surpresa e intensidade do ataque, desmembraram-se por completo e, praticamente, não reagiram. Cada combatente, independente do posto e da responsabilidade atribuidos, procurou proteger-se e, na medida do possível, afastar-se “daquele inferno”.
Particularizando, as minhas protecções foram, num primeiro momento, o rodado de uma viatura e, posteriormente, um “bagabaga” (formação fortíssima, de vários metros de altura, resistente à destruição, construída pelas térmitas – formigas tenazes e temidas -, com a argamassa resultante da mastigação, por elas próprias, de madeira, terra, excrementos e saliva). A desorientação foi de tal ordem, que a coluna militar não mais se conseguiu reorganizar, acabando todos os elementos sobreviventes por chegar ao Destacamento do Cheche isoladamente. As viaturas foram incendiadas e o reabastecimento roubado. Para além dos géneros alimentícios, levaram, também, o correio destinado aos militares do Cheche e de Madina do Boé, o que, como se depreende, teve consequências gravíssimas ao nível das suas famílias, pois o PAIGC fez constar que os destinatários da correspondência estavam presos e às suas ordens. A carência de alimentos foi, igualmente, problemática, obrigando, até ser decidida a sua reposição por meios aéreos (sacos largados do ar por avionetas e/ou helicópteros) a recorrer a tudo o que era possível: peixe “pescado” no rio Corubal com granadas ofensivas, pombos verdes “abatidos” com G3 e macacos fidalgos assados no forno, “tipo cabrito”!

11)- A guerra marca para sempre?

Creio que a guerra, em que cada um foi obrigado a participar, marca para sempre, de uma forma mais intensa ou de um modo mais indelével, a vivência de cada interveniente. Julgo que para tal contribuiu, de forma decisiva, a atitude psicológica de cada um, a maneira como conseguiu conviver com as situações mais adversas e o antídoto utilizado para as ultrapassar.

Nota Biográfica: o que fez, faz, idade, percurso profissional. Casado, netos, etc

Nome: Armando de Oliveira Alves
Naturalidade: Fiães – Santa Maria da Feira
Idade: 65 anos (nascido a15 de Agosto de 1944)
Estado Civil: Casado
Filhos: 2. O mais velho, formado em Gestão de Empresas, está radicado em S. Paulo – Brasil e exerce a sua actividade profissional na Empresa Portuguesa Somague Engenharia. O mais novo, formado em Informática de Gestão, também está radicado em S. Paulo – Brasil e exerce a sua actividade profissional na Empresa Americana Logic Information Systems.
Netos: uma menina luso-brasileira, a Beatriz.
Percurso profissional: Antes do serviço militar, fui estudante-trabalhador (funcionário público). Após o regresso do Ultramar, ingressei na Banca, tendo sido reformado, em 2006, com a categoria profissional de Director.

Um abraço e boa saúde para todos. Boas férias.
José Corceiro
1º Cabo TRMS da CCaç 5
___________
Notas de M.R.:

É óbvio que o José Corceiro já falou nesta nossa Tertúlia ao Armando de Oliveira Alves e o convidou a reforçar o “batalhão”, que já conta com mais de 400 Camaradas.

Assim, em nome do Luís Graça & Restantes Camaradas, resta-nos deixar aqui expresso esse mesmo desejo de que, logo que lhe seja possível, o Armando Alves se junte a nós nesta nossa parada virtual, enviando as fotos da praxe, as estórias de que ainda se recorde e, se as tiver, as suas fotografias da tropa.

Por agora ficamos por aqui com um abraço Amigo.

Vd. último poste desta série em:

18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961



Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras pára-quedistas (*) Arminda e Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto:  Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato.


1. Um nosso leitor, antigo oficial pára-quedista, perfeitamente identificado perante mim, mas que prefere manter o anonimato, mandou-nos em 30 de Julho p.p., a seguinte mensagem:

Assunto: As nossas queridas enfermeiras

Amigo Luís, reparo agora nesta segunda parte de uma mensagem que te enviei há tempos e que se teria perdido no amontoado de outras com que te assoberbam (presumo...).

Parece-me simpático e adequado ao ambiente homenagear as duas decanas, ilustrando um acontecimento único e que pouca gente conhecerá, pelo que junto agora um testemunho alusivo, da minha amiga Ivone (não sonhada mas de jure):

 "(...) entrámos a 6 de Junho de 1961 e fomos brevetadas a 8 de Agosto. No fim do curso, ficámos umas semanas em Lisboa, para se fazerem as nossas fardas e tratar de toda a papelada porque era a primeira vez que se fazia um curso daqueles.

"Enquanto se faziam as fardas, houve uma operação na serra da Canda e pensaram: Vão duas enfermeiras, para se fazer o teste da sensibilidade dos soldados, para ver como é que eles reagem às mulheres. Eu e a Maria Arminda fomos para Angola, não sabíamos bem para quê, para um teste de integração do meio operacional.

"Fomos no dia 22 de Agosto [de 1961] e no dia seguinte participámos no lançamento de pára-quedistas, numa zona de combate. Ficámos na base aérea, no Negage. Na zona mais próxima da guerra havia sempre um posto de comando, a partir do qual os aviões lançavam os pára-quedistas. Nós aterrávamos na base do comando operacional, onde se comandavam os lançamentos. Não pudemos saltar, estivemos dentro dos aviões enquanto eles saltavam e fazíamos o apoio sanitário porque levámos todo o nosso equipamento. Depois, aterrámos numa determinada zona no Norte de Angola, onde estava o posto operacional de comando, para ver como é que a operação se desenrolava". (...)

Um abraço e desejo de boas férias ...

PS 1 - Repito então...

Par contre (français, han....? que já ninguém fala e é a nossa língua de cultura)... se quiseres publicar, sem referência à origem por favor, esta fotografia histórica de uma Op na Serra da Canda, em Agosto de 1961, onde se vêm, no Negage, as Sras. Alf Arminda e Ivone  - hoje tenente e capitão reformados,  respectivamente.

Mas que conversa é essa das nossas queridas enfermeiras?!   [Há malta que ] parece que  esqueceu a distância que havia e que seria pertinente não aviltar.  Há um limite para a o devaneio e para a lavagem; nem para mim, minhas queridas,  e conhecia-as bem... o respeitinho é uma linda coisa!

Em geral e no mínimo, para não militarizar o ambiente, seria Sra. Dona..., não é?

2. Comentário de L.G.:

Meu caro leitor (anónimo, por vontade expressa):

Os autores de postes ou de fotografias publicadas no nosso blogue são sempre identificados pelo seu nome (excepcionalmente, por pseudónimo, ou iniciais, em caso de razões ponderosas) e são responsáveis pelo que escrevem ou editam. O mesmo acontece com militares ou combatentes, de um lado e de outro, ainda vivos, cujo comportamento possa ser objecto de crítica, por razões criminais, éticas, disciplinares ou outras. Essa é uma regra que quero manter, respeitar e fazer respeitar. No teu caso, levo porém em conta o teu pedido. Fico, porém, na dúvida sobre o autor da foto que, seguramente, não foste tu, já que tanto quanto sei não poderias estar no Negage em Agosto de 1961 (ou poderias ?...).

Quanto à expressão as nossas queridas enfermeiras pára-quedistas, é o título de uma série, cujo primeiro poste remonta a 20 de Fevereiro de 2009 (**)... Não sei, nem me interessa saber se o título da série é da minha autoria: é possível que sim, como muitos outros aqui criados e usados ao longo destes anos... De qualquer modo, o adjectivo "queridas" é frequentemente usado pela antiga malta do Exército que esteve no TO da Guiné e  que, passados estes decénios todos, acha que tem uma dívida de gratidão em relação às primeiras mulheres a fazerem história nas Forças Armadas Portuguesas... 

Elas (e temos pelo menos duas registadas como membros da nossa Tabanca Grande,  a Giselda Pessoa e a Rosa Serra) poderão dizer, melhor do que eu, se o termo, hoje (!),  é ou não aceitável, pertinente, adequado, respeitador, confortável, assertivo... 

De qualquer modo, obrigado pela tua lembrança, que é minha obrigação partilhar com todos/as os/as camaradas e amigos/as da Guiné, incluindo os/as inúmeros/as leitores/as  do nosso blogue que habitualmente não dão (nem têm que dar) a cara (o nome), excepto quando fazem comentários aos nossos postes...  Daqui de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, já em contagem decrescente para o fim das férias, um Alfa Bravo do Luís Graça.