quarta-feira, 7 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9577: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (7): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar

 


1. Em mensagem do dia 3 de Março de 2012, o nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviou-nos a VII Parte das Memórias da sua Companhia.






MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (7)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VII Parte)

A Evolução da Situação Militar

O título da minha intervenção “De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné . . .” foi escolhido por considerar a “Batalha de Gadamael” como o corolário natural da evolução militar na Fronteira Sul, ou mesmo na Guiné. Retomo por isso, a análise feita nas Partes I e II, sem pôr de lado o princípio, que uma luta de guerrilhas não se resolve pela via militar.

Depois de um período em que reagiu à instalação das NT, ao longo da fronteira, o PAIGC considerou prioritário o reforço, noutras zonas, nomeadamente no Cantanhez e no Quitafine. Mas para intensificar a sua presença no interior, tinha de manter abertas as vias de reabastecimento com a República da Guiné, país amigo por onde passava a maior parte do apoio. Ora, na Fronteira Sul, a solução natural era o “Corredor de Guileje”, já que o Quitafine estava encostado à fronteira e era abastecido diretamente através dos rios Caraxe e Camexibo.

Apesar das evidências, a primeira força militar colocada no corredor, foi um pelotão da CART 495 de Aaldeia Formosa, (4/FEV/64) sem capacidade operacional para contrariar a actividade do PAIGC na zona. A primeira Companhia instalada no “Corredor” foi a CCAÇ 726, em 28/OUT/64, praticamente um ano depois de estabelecida a malha operacional em Gadamael/Sangonhá. A reação não se fez esperar e surgem confrontos violentos com o PAIGC, visto que “ . . .o IN estava habituado a utilizar o corredor sem ser incomodado, uma vez que os efetivos de Guileje até então, não tinham passado de um pelotão”. (16)

Em 30/MAR/65 a CCAÇ 726, instala o respectivo destacamento no Mejo e completa-se assim, nesta fase, a Quadrícula das NT, na Fronteira Sul.

Os elementos apresentados explicam, até certo ponto, a relativa acalmia que, a partir da ocupação do “corredor”, se começou a sentir nos setores mais a Sul (Gadamael e Sangonhá), enquanto a Norte, Guileje se vai transformando num “inferno”, apesar da intervenção das “forças especiais”. A situação vai manter-se até o PAIGC consolidar a presença no “Corredor de Guileje” e respectivos apoios, dentro e fora da fronteira.

Entretanto o ano de 1968, vai ser o ano de grandes mudanças. O Comando-Chefe, apercebe-se que a estratégia de Quadrícula se encontra esgotada, remetendo as forças no terreno, a uma atitude defensiva. Em JAN/68 resolve utilizar o Batalhão de Paraquedistas “numa operação arrojada, a fim de recuperar a iniciativa da guerra no Cantanhez. . . . Os Para-quedistas sofreram três feridos graves e dois ligeiros . . . capturaram todo o material de guerra . . . quarenta guerrilheiros foram mortos e 19 foram feitos prisioneiros”. (17)

Aspeto do interior de Ganturé que viria a ser abandonado em 13/MAI/70

Entretanto, em 08/ABR/68, três anos depois da ocupação do Mejo e demasiado tarde face à evolução militar da zona, a CCAÇ 2317 é colocada na zona de Gadembel, no coração do “Corredor da Morte” e instala um Destacamento a defender a ponte do rio Balana, de maneira a garantir a ligação com A. Formosa. O PAIGC reage, deslocando mais efetivos para a zona. O Aquartelamento é continuamente bombardeado e a situação sofre um agravamento a Norte e a Sul do rio Balana, com tendência a estender-se mais para Sul.

Em MAI/68 o general Arnaldo Schulz é substituído pelo brigadeiro António de Spínola que altera a política e a estratégia, tentando ganhar as populações e a iniciativa militar.

Em JUN/68 põe em marcha um plano de retração do dispositivo militar, de maneira a recuperar efetivos sem comprometer a defesa das populações. Em Cacine, fala com o Cap. Veiga da Fonseca e questiona-o quanto à possibilidade de abandonar posições na zona, para recuperar mais unidades de intervenção. A resposta foi: “ . . . para não perder o controle da estrada para Guileje, não deveria abandonar nenhuma posição, mas se a ideia era essa, então abandonasse Sangonhá e Cacoca”. (18) Estes aquartelamentos foram extintos nos finais de 1968. As populações deslocam-se, à sua escolha, para Ganturé Gadamael e surge neste, com o apoio das NT, “ . . .o primeiro reordenamento da população da Guiné . . .” (18) uma das bandeiras do General Spínola.

Em 28/JAN/69, são ainda abandonados os aquartelamentos de Mejo, Gadembel e Ponte Balana, entre outros.

O regresso de uma patrulha no rio Queruane com o médico Batalhão, em primeiro plano

Entretanto a situação continua a degradar-se. Em Gadamael, com um setor alargado para além de Sangonhá, os contactos com o IN são mais frequentes, bem como as flagelações dos aquartelamentos. O destacamento de Ganturé, a 6 Km da fronteira é agora o mais exposto e a 06/JAN/69 (um ano depois de Spínola ter informado a população do seu abandono e quase um ano ates deste se ter concretizado – 13/MAI/70), sofre um ataque com Mort/82 e Canhão S/R, a partir da pista de Sangonhá. O apoio aéreo pedido surpreende o IN, destruindo o armamento pesado e causando uma autêntica “chacina”.

A pressão do PAIGC estende-se a toda a Fronteira Sul. O Aquartelamento de Guileje, fortificado com abrigos de betão para resistir à artilharia inimiga, está isolado no “corredor da morte” e entregue aos apetites do PAIGC. (19)

Para causar instabilidade ao IN, nas “zonas problemáticas”, Spínola utiliza as “forças especiais”, fortemente apoiadas por meios aéreos, capazes de incursões rápidas e violentas. Foi assim em Cassebeche, no Quitafine, a 07/MAR/69, mas as NT são rechaçadas. Os intensos bombardeamentos, não conseguem eliminar a bateria de antiaéreas e assim não é possível apoiar a progressão dos Páras.

Todo o Sul da Guiné, cujo comandante da Guerrilha é Nino Vieira, é um quebra-cabeças para Spínola e a sua captura seria um golpe importante contra a guerrilha. A oportunidade chega com as informações que dão como certa a sua passagem, no “Corredor de Guileje” a 18/NOV69. Os PÁRAS montam uma emboscada e capturam um elemento importante, mas não é o Nino, é um Cap. Cubano de nome Peralta.

Na Fronteira Sul, as notícias não são Boas. “ A CCAÇ 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael, numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guilege. Sofreu baixas, incluindo o Comandante de Companhia ( 24/JAN/71 ) . . .” (20) O Médico do Batatalhão diz mesmo que “no tempos da CCAÇ 2796, Gadamael era o pior buraco do sul .“ (21) As citações deixam perceber que o PAIGC pressiona mais a sul na tentativa de isolar Guiledje, o que vai continuar a fazer, dada a sua capacidade crescente.

A situação que, no cômputo geral, melhorou com a chegada de Spínola, começou entretanto a regredir e a principal preocupação é o Sul. O Comando-Chefe planeia uma grande ofensiva no “Corredor de Guileje”, em que os efectivos são deslocados de avião para A. Formosa e Gadamael Porto. A operação que durou 10 dias, teve início a 28/MAR/72, com fortes bombardeamentos, a norte e a sul do R. Balana. Foi considerada um êxito pelo material apreendido, as destruições e as baixas provocadas, num zona em que o PAIGC lançava estruturas de apoio.

Mas o Comandante-Chefe tem planos mais ambiciosos para o Sul: ”. . . fazer do rio Cacine a principal linha de defesa do Sul da Província. Para a concretização deste plano, era absolutamente necessário que as tropas portuguesas ocupassem a Península do Cantanhez ....” como “... apoio aos aquartelamentos de Cacine, Guilege e Gadamael . . .” (22)

A 12/DEZ/72 o plano é posto em marcha com o ataque à base de apoio à guerrilha no Cantanhez. Depois de violentos confrontos, os Páras conseguem entrar na base, enquanto Caboxanque, Cadique e Cafine são ocupados. A par desta acção militar, toda a fronteira, desde Aldeia Formosa a Cacine, é objecto da intervenção conjugada de forças especiais e outras, de maneira a desarticular e criar instabilidade ao IN. O conjunto de Acções que decorreu de DEZ/72 a JUN/73 permitiu a captura de diverso material do qual se destacam 2 rampas de foguetões. Foi ainda capturado o comandante do bi-grupo de Simbeli.

Aspeto do rio, na zona de descargas, onde posteriormente foi construído o cais

O PAIGC decide responder à ofensiva das NT. Desde o assassinato de A. Cabral a 20/JAN/73) que a cúpula dirigente prepara uma grande ofensiva a que dará o nome do seu fundador.

Na primeira semana de MAI/73, o IN cerca Guidage a poucos metros da fronteira com o Senegal e corta todos os acessos a sul do aquartelamento com um vasto campo de minas. Os PÁRAS não conseguem romper o cerco. Os Comandos Africanos atacam a norte a base de apoio do IN que enfrentam em luta corpo-a-corpo. Uma força de Fuzileiros consegue fazer chegar ao aquartelamento uma coluna de reabastecimentos, mas a artilharia IN não dá tréguas. A FA limitada na sua ação pelos mísseis terra-ar, não consegue apoiar as NT. Feridos e mortos não são evacuados.

Guidage resistiu, mas “ . . . a operação de cerco ... terminou quando já não tínhamos necessidade de desviar as Forças de Intervenção do nosso objetivo principal, que não era ali, mas no Sul da Guiné”. (23).

O Objetivo principal era Guileje e por isso, às 07H00 de 18/MAI/73, uma coluna que se dirige para Gadamael cai numa emboscada e sofre 1 morto, 7 feridos graves e vários ligeiros. O apoio aéreo pedido não é concedido e as evacuações só a partir de Cacine, o que gera mal-estar, agravado com a morte de um dos feridos. Conhecedor da situação, o Comandante do COP5 esforça-se por apresentar, junto do Comandante-Chefe, os seus pontos de vista e pedir reforços.

Apesar dos responsáveis militares considerarem que “ O IN está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas. . .“ onde se incluíam Guileje e Gadamael, (24) o Comandante-Chefe não só não atendeu o pedido de reforços do Comandante do COP5, como o nomeia 2º Comandante, entregando o comando ao Coronel Rafael Durão. Regressado a Guileje, depois de três dias de ausência, pela ida a Bissau, Coutinho e Lima encontra o Aquartelamento parcialmente destruído pela Artilharia, sem víveres, sem água, sem comunicações, com escassez de medicamentos e munições alguns abrigos destruídos, um furriel morto e a presença confirmada do IN nas imediações. Perante a situação, depois de uma reunião com os oficiais, decide retirar para Gadamael, na madrugada seguinte com toda a guarnição e a população, depois de destruir ou inutilizar o armamento pesado, viaturas e documentos. A retirada para Gadamael colhe de surpresa o IN que continuou a bombardear Guileje, (atingida até então por mais de 700 impactos ), mas surpreende também o Comandante-Chefe que, através do Cor. Rafael Durão, lhe dá ordem de prisão à chegada.

Aparentemente, para as chefias militares, tudo se resolvia com o afastamento do Comandante do COP 5, esquecendo que “ . . . encontrarmo-nos na entrada de um novo patamar da guerra . . .” e na “ . . . passagem para acções de tipo convencional embora ainda isoladas . . .” (24) esquecendo também a aglomeração de efetivos e de população em Gadamael, bem como a impreparação das defesas do Aquartelamento para resistir a um ataque de Artilharia em que ninguém parecia acreditar.

A 31/MAI/73, o Cor. Rafael Durão é substituído pelo Cap. Comando Ferreira da Silva, que, após a chegada, promove uma reunião com os dois Comandantes de Companhia. Finda esta, começam a cair as primeiras granadas que, gradualmente se vão aproximando, nove dias depois da chegada da coluna vinda de Guileje

Quando em 1966, olhava o Aquartelamento, não imaginava que um dia iria ser arrasado pelo PAIGC

No dia seguinte, estando no exterior do Aquartelamento dois pelotões, em patrulhamento, o IN desencadeia um ataque (cerca de 800 granadas) com vários tipos de armas e granadas. As guarnições dos Obuses, são praticamente dizimadas, ficando a resposta limitada aos Canhões S/R 5,7 e Mort/81 que não tinham alcance para atingir a base de fogos do IN, bem como a tiros esporádicos de um dos Obuses.

No entanto o IN coloca as granadas onde quer, destruindo o Aquartelamento: - Os 2 Comandantes de Companhia, de uma só vez, são atingidos, no Posto de Transmissões que fica inoperacional. Segue-se o médico que é evacuado. O Comandante do COP5, bem como vários graduados multiplicam esforços para socorrer e evacuar mortos e feridos.

Até à chegada dos PÁRAS, na manhã de 03/JUN, a guarnição de Gadamael respondeu ao ataque constante da Artilharia, com os meios disponíveis numa “ . . .aparência de capacidade de reacção que dissuadisse um eventual reconhecimento em força por parte do inimigo . . .” (25), municiando as armas, assistindo os feridos e procedendo às evacuações pelo rio, até Cacine. Entretanto regressaram ao Aquartelamento os militares que se tinham refugiado no exterior, enquanto outros com a população (cerca de 300/400) eram socorridos pela Marinha e levados para Cacine, entre eles muitos feridos, de tal maneira que “ à noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos . . . “(26)

Mas os guerrilheiros pressionam nas imediações do Aquartelamento, emboscando e atacando as NT. O Comando-Chefe, depois de recusar a proposta de retirada, (27) decide empenhar na defesa de Gadamael todo o Batalhão de Paraquedistas que se transferem do Cantanhez para o COP5. A partir daí, a situação vai progressivamente melhorando com o patrulhamento ofensivo e permanente, de maneira a afastar o IN para lá da fronteira.

A situação permitiu toda a reorganização defensiva do Aquartelamento, até que no dia 23/JUN os PÁRAS descobrem e atacam uma base fortificada, na linha da fronteira, a 2,5 Km a sul de Caur, capturando importante material de Guerra e provocando muitas baixas, trabalho que FA completou. A Batalha de Gadamael custou às NT 18 mortos e 76 feridos, mas a operação “Amilcar Cabral” veio revelar a capacidade do PAIGC e a incomodidade das NT, perante as limitações da FA, resultantes da ameaça dos mísseis terra-ar. Repor a capacidade operacional da Força Aérea estava fora de causa, pelo isolamento internacional do País e pelos custos financeiros do seu reequipamento. (24) Assim, o colapso das NT está a prazo, perante o arsenal anunciado do PAIGC, onde se incluíam aviões MIG, Carros de Combate, mísseis terra-ar de tubos múltiplos, etc. etc.

A situação encaminha-se para um fim que a recusa do Plano Spínola/Senghor deixava adivinhar. O Regime de Lisboa não soube resolver o problema da Guerra, vai ser a Guerra que vai ajudar a resolver o problema do Regime que cai em ABR/74.
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(16) – Virgínio Briote, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 2360
(17) – Manuel Catarino, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COlONIAL ( 2º Vol. ) (18) – António Costa (Coronel na reserva ), Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 6614 e 3013
(19) – “Dizia Amílcar Cabral que, se Guileje caísse, tudo o mais se desmoronaria.”- Depoimento de Manuel dos Santos (Comandante do PAIGC), ANEXO de A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros
(20) – Morais da Silva, (Coronel na reserva), Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 7825
(21) – Amaral Bernardo, EX. Alf, Mil. Médico, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 7796
(22) – Manuel Catarino, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COlONIAL ( 8º Vol. ) (23) – Manuel dos Santos (Comandante do PAIGC), ANEXO de A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros
(24) – Acta da Reunião de Comandos de 15/MAI/73, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 5627
(25) – João Seabra, , Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 3801
(26) – Pedro Lauret, Com. Da Fragata ORION, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 6217
(27) - “SITUAÇÃO CADAMAEL PORTO INSUSTENTÁVEL( . . . ) PESSOAL COM MORAL EM BAIXO POUCO TEMPO AGUENTARÁ NESTA SITUAÇÃO VIRTUDE NÃO DORMIR, NÃO COMER VÁRIOS DIAS . . . SOLICITO AUTORIZAÇÃO PARA SE EFECTUAR RETIRADA ORDENADA COM MEIOS NAVAIS EXISRENTES NESTE ( . . . )”, Msg 5/P de 032229JUN73 do COP5 para COMCHEFEOPER, in A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros

ANEXOS:
 I – Presença das NT na Fronteira Sul ( Diagrama );
II – Presença das NT em Gadamael Porto ( Cronograma );
III – Reforço de Pessoal e Armamento em Gadamael Porto ( Diagrama );
IV – As NT em Gadamael Porto ( Representações Várias )

FONTES:
- Vários, Blogue LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA CUINÉ
- Catarino, M, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COLONIAL, Presselivre, Imprensa Livre SA, 2010
- Calheiros, J. M, A ( Cor. Par. ) ÚLTIMA MISSÃO, Caminhos Romanos, Porto, 2010
- Lima, C, ( Cor. Art. ) A RETIRADA DE GUILEJE, DG Edições, Linda-a-Velha, 2010
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9435: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (6): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VI Parte - Momentos de descompressão

Guiné 63/74 - P9576: O PIFAS, de saudosa memória (8): Homenagem aos atuais profissionais da rádio Armando Carvalhêda, João Paulo Diniz e Faride Magide, evocados aqui pelo nosso saudoso camarada Daniel Matos (1950-2011)

1. Outra referência ao PFA (Pograma das Forças Armadas) (*),  fomos encontrá-la no nosso blogue, na notável série Os Marados de Gadamael, da autoria do nosso saudoso camarada Daniel Matos (1950-2011), ex-Fur Mil da CCaç 3518 (Gadamael, 1972/74) [, foto à esquerda, em Gadamael, 1973] ...

Por ele ficámos a saber (ou confirmámos a informação de) que entre os locutores, militares, do PFA figuravam  o Armando Carvalhêda e o João Paulo Diniz, hoje grandes nomes da rádio... Aqui vão alguns excertos de um dos postes do Daniel Matos que,  em  24 de maio de 1973, vive nas valas de Guidaje, dia e local em que toma conhecimento,  através de um paraquedista da CCP 121,  que Guileje tinha acabado de ser abandonada pela tropa e pela população... (LG). 

2. Vozes da rádio... nas valas de Guidaje, 24 de maio de 1973 (**)
por Daniel Matos (1950-2011)


(...) O nosso cabo artilheiro vasculha dentro da mala que tem deitada debaixo da cama, saca de um transistor do meio da roupa e das cartas, confirma se já está tudo acordado e põe o rádio a tocar. Escutam-se sons de kora (espécie de harpa mandinga, mas cujo formato é mais parecido com uma viola), depois ngumbé, ritmo nacional guineense, mas não deve ser tocado pelo grupo Cobiana Djazz, impedido de actuar na UDIB de Bissau e cujo vocalista, – José Carlos Schwarz [, 1949-1977,], o Zeca Afonso da Guiné – estará ainda na prisão de Djiu di Galinha – a Ilha das Galinhas, onde se situa a espécie de Tarrafal guineense, o Campo de Trabalho no arquipélago dos Bijagós (...).


 Não sei que raio de língua ou dialecto fala o locutor que entre os temas musicais pronuncia uma algaraviada de coisas esquisitas para os nossos ouvidos. O que escuto na telefonia do artilheiro virá da Emissora Nacional (**) ou de postos de rádio dos países mais próximos (ouvimos com maior ou menor dificuldades emissões de onda média do Senegal, Gâmbia, Mali, Guiné/Conacry, Serra Leoa).

Quanto a música africana, as emissões nacionais transmitem sons guineenses, de preferência instrumentais. Vocalmente, um ou outro tema do grupo Voz da Guiné. De Cabo Verde, sobretudo Bana e Luís de Morais, e também os angolanos Duo Ouro Negro e Lili Tchiumba.


A Rádio Libertação − A Voz do PAIGC, Força, Luz e Guia do Nosso Povo, tem os seus noticiários e passa músicas muito variadas (cheguei a ouvir música portuguesa que é proibida em Portugal).




O popularíssimo PIFAS, a mascote do PFA, o programa de rádio das Forças Armadas, aqui completo, de microfone em punho e gravador na mão... O PFA era da responsabilidade do Serviço de Radiodifusão e Imprensa da Repacap (Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológico) do  Com-Chefe, a que estiveram ligados militares como Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. (A Repacaq é uma das repartições inovadoras do QG, juntamente com  a RepOp - Repartição das Populações, criadas por Spínola).


Imagem enviada, no Natal de 2010,  pelo nosso camarada José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73).



E há o PFA [, Programa das Forças Armadas], umas quantas horas por dia, com espaços que procuram distrair a tropa, mas muito distintos entre si. (****)


Por vezes chega a ser imbecilizante um programa produzido pelo “casal Primeiro Dias e Senhora Tenente”. Havia de tudo, desde espaços de entretenimento inteligente, com o Armando Carvalheda (nosso artilheiro em Gadamael que, felizmente para ele, viria a mudar de ramo e a trocar o obus pelo microfone) – ainda hoje um profissionalão de rádio e uma das vozes mais influentes da RDP/Antena 1, onde é o principal divulgador da música popular portuguesa no seu palco da rádio, ao vivo, todas as semanas.


Também João Paulo Diniz (que regressado à metrópole passou, penso que a pedido de Otelo, que o conheceria de Bissau, o tema E Depois do Adeus, primeiro sinal radiofónico antes da senha Grândola Vila Morena).

E outros nomes que, de tanto os ouvirmos, ficaram na nossa memória: Faride Magide, julgo que técnico de som que terá estado anos depois em Coimbra, na RDP; e também censores políticos que eram militares, e que faziam os cortes mais absurdos em programas enviados pelas unidades que estavam no mato. Ainda se os cortes fossem originados pela má qualidade do som (eram gravações geralmente efectuadas em cassettes domésticas) compreender-se-ia! Mas não, era censura política pura e dura, às locuções e à música que se incluía nesses programas.

Isso sucedeu connosco, gravámos um belo dum programa no meu quarto em Bafatá (meu, e dos furriéis José Alberto Ferreira Durão, mecânico-auto, e Hélder Pereira Calvão, – o nosso ranger, isto é, de operações especiais). Quando ouvimos a transmissão do nosso programa Frequência 3-5-1-8 (participaram também o fur mil de transmissões Domingos Gomes Pinto, o fur mil  de minas e armadilhas Ângelo Silva e o fur  mil atirador António Guerreiro), no lugar do fado de Coimbra cantado por José Bernardino apareceu uma doce canção dos Beatles, o poema O Rico e o Pobre (altamente subversivo, declamado entusiasticamente pelo homem de transmissões José Elias Gomes de Oliveira), também foi à vida!, saiu tudo alterado, segundo apurámos, por um zeloso guardador do regime, um tal Madeira.

E pensar que à testa do PFA estava o capitão miliciano José Manuel Barroso, ligado ao Comércio do Funchal, jornal que, apesar de dar vivas ao marxismo-leninismo-maoísmo (para achincalhar a CDE - Comissão Democrática Eleitoral - em período dito pré-eleitoral), aparecia nas bancas como sendo de oposição ao regime (o capitão Manuel de Sousa recebia-o algumas vezes e eu permutava com ele o 'meu' Notícias da Amadora, O Mundo da Canção e, às vezes, outros recortes de notícias que os meus amigos Acácio Vicente e Fernando Simões me mandavam).

Embora nesta altura não se registe a presença incómoda de muitos mosquitos, nem as noites se carreguem de frígido cacimbo, pernoitar ao relento não é pêra doce nenhuma. Todavia, o sono só nos verga pelo cansaço. Fumar no escuro é arriscadíssimo (só com mil cuidados para evitar que o morrão do cigarro se veja de longe) e nem uma gota de álcool temos para nos aquecer o corpo e a alma. Resultado: tagarela-se, de preferência baixíssimo, para que ninguém nos oiça para lá do cotovelo seguinte da vala.  (...)

Como se sabia que o nosso poiso de origem tinha sido Gadamael, um pára-quedista quis saber se já tínhamos notícias de Guileje. Não tínhamos, claro. Novidades só trazidas de fora! Sem se aperceber que a história ainda desmoralizaria mais qualquer Marado, informou que quartel e aldeia de Guileje tinham sido abandonados e que toda a gente (cerca de duzentos militares e mais de meio milhar de civis) estava agora refugiada em Gadamael, que terá ficado a rebentar pelas costuras!



O pessoal ouve com incredulidade. Será também esta a nossa sorte ? (...)


Daniel Matos 
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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 7 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9574: O PIFAS, de saudosa memória (7): Quando a malta do SPM dava música... e o Armando Carvalheda e o Carlos Fernandes eram locutores... (Hélder Sousa, Armando Pires, António Carvalho)

(**) Excerto (com título do editor), retirado do poste de 14 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

(***) O PFA era emitido a partir de Nhacra, a 25 Km de Bissau, onde se situava o emissor regional da Guiné,  que integrava a rede da Emissora Nacional de Radiodifusão.

Recorde-se que em 1969, no governo do Marcelo Caetano, e sendo ministro do Ultramar, Silva Cunha, foi integrada, na Emissora Nacional de Radiodifusão, a até então chamada Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, pelo Decreto-Lei nº 49084, de 16 de junho de 1969. Segundo o art. 2º daquele diploma legal, passava a competir " à Emissora Nacional de Radiodifusão, através do Emissor Regional da Guiné, assegurar todo o serviço de radiodifusão indispensável à satisfação das necessidades da província e à salvaguarda e defesa dos interesses nacionais, substituindo, em matéria de radiodifusão, a actividade até agora exercida pela Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, anteriormente designada por Emissora Provincial da Guiné Portuguesa" (art. 2º).

Em Abril de 1972, aquando da visita do ministro do Ultramar, Silva Cunha, foi inaugurado o novo centro emissor de Nhacra, capaz de fazer frente às "potentes emissoras de Dakar e Conakry, onde a propaganda do PAIGC ocupa lugar proeminente - em tempo de emissão" (...).

Nesse ano de 72, e segundo informação do nosso camarada Eduardo Campos (, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), Nhacra e o centro emissor terão sido flagelados duas vezes: "(...) fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em Maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7, e a segunda em Agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT".
 
(****) A Repacap (Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica), em 1971, emitiu um total de 2372 horas de emissão, utilizando os emissores de ondas curtas e médias da Emissora Oficial da Guiné Portuguesa. Mais de 46% desse tempo foi destinado ao PFA (Programa das Forças Armadas). Os restantes foram destinados aos chamados PNL (programas em línguas nativas: crioulo, balanta, fula, mandinga, manjaco, sosso...), além dos progrmas para o exterior, em francês,  destinado às populações do Senegal e da Guiné-Conacri.

 O PFA fazia,  nesse ano, uma emissão diária de 3 horas (1095h no total anual). Presumimos que o tempo de emissão tenha aumentado  depois da entrada em funcionamento do novo emissor, mais potente, de Nhacra, em Abril de 1972.

Fonte: 


Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971. Citado por Francisco Proença de Garcia - Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974). [ Em linha] Capítulo IV - O independentismo e o poder português em confronto. [Consultado em 6 de março de 2012] Disponível em:  http://triplov.com/miguel_garcia/guine/cap4_autoridades_portug.htm .

Guiné 63/74 - P9575: Contraponto (Alberto Branquinho) (42): Às voltas com Gandembel

1. Em mensagem do dia 2 de Março de 2012, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um "Contraponto", desta vez às voltas com Gandembel.

CONTRAPONTO (42)

ÀS VOLTAS COM GANDEMBEL

A propósito do Post 9552* de 1 de Março de 2012 sobre o livro do Idálio Reis àcerca da sua CCAÇ 2317/Gandembel, aqui venho eu, cheio de ciúmes provocados por afirmações em comentários ao mesmo, sobre ter sido colocada apenas uma Companhia naquele espaço (que, depois de haver construção ou a meio dela, se passou a chamar Gandembel).

As questões, levantadas também nos comentários, poderão resumir-se, afinal, às duas perguntas colocadas pelo Idálio na capa do livro: “Porquê?”/”Para quê”. Não sei se ele aborda as razões/respostas que os “estrategas” poderão ter tido em mente…

Certo é que foi a realidade – a CCAÇ 2317 esteve cerca de OITO MESES sozinha em Gandembel, até ao abandono do aquartelamento.

MAS, convirá lembrar que a construção de Gandembel foi o objectivo da operação “Bola de fogo”. Aí a CCAÇ 2317 não esteve só. A minha CART 1689 (mais velha, com cerca de um ano de Guiné), aproximou-se do local vinda de norte (Aldeia Formosa) e a CCAÇ 2317 vinda de sul. Encontrámo-nos, mais ou menos, no sítio que foi Gandembel. E dormimos juntos.
A primeira noite foi (logo) excitante – pior que o São João no Porto!
Os capitães, na manhã seguinte, decidiram fazer a implantação do quartel um pouco mais a norte, próximo do declive para o Rio Balana, pois sem água…

Durante quase um mês e meio esse espaço foi a nossa casa. A CCAÇ 2317 fazia (fundamentalmente) a construção e a CART 1689 fazia (fundamentalmente) a segurança à construção – patrulhamentos e emboscadas na zona em redor.

A CART 1689 saiu de Gamdembel quarenta dias depois, quando os abrigos de pedra estavam já praticamente prontos, de modo a poderem ser abandonados os tais “buracos de toupeira”, situados mais próximo do arame farpado (quando já havia…).
Portanto, o tais “buracos de toupeira” que o Luís Graça gosta de referir, foram o “habitat” comum das duas Companhias residentes, enquanto viveram em comunhão de mesa e habitação.

Juntas vão três fotos que documentam a existência dos “buracos de toupeira” propriedade privada da CART 1689, no então quase-quartel de Gandembel. Estes abrigos foram fundamentais por causa da diária (e repetida!) chuva de… aço.

Dão-se alvíssaras a quem conseguir descobrir nas fotos este (aqui) escriba. (Ai, o gosto de falar de mim…)

Alberto Branquinho
 




Fotos: © Alberto Branquinho (2012). Todos os direitos reservados
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9552: Notas de leitura (338): A resposta que me veio pelo correio, quatro anos e meio depois: o livro do Idálio Reis, A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné. Gandembel/Ponte Balana (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9118: Contraponto (Alberto Branquinho) (41): (Somos uns) Mal-agradecidos

Guiné 63/74 - P9574: O PIFAS, de saudosa memória (7): Quando a malta do SPM dava música... e o Armando Carvalheda e o Carlos Fernandes eram locutores... (Hélder Sousa, Armando Pires, António Carvalho)

1. Comentários ao poste P9558


(i) Hélder Valério  


 Caros camaradas:


Sim, também me lembro do PFA  que, na gíria, era mais conhecido pelo PIFAS, conforme comentário anterior do Henrique Cerqueira. Mas, neste momento, a 'sintonia' está fraca, tenho que me esforçar mais para conseguir obter 'imagens radiofónicas' mais nítidas.


O Rodero refere o Vítor Raposeiro como fazendo parte de um grupo que andou tocando pelos aquartelamentos. Disso não tenho ideia, mas já enviei mail ao Raposeiro para me falar disso ou, então, enviar directamente ao Blogue.


Do que sei, e disso com toda a certeza (porque eu estava lá), é que o Vítor não chegou a integrar a Escuta. Esteve em vários locais nas suas funções relacionadas com o STM:  Bissau, Bambadinca, Aldeia Formosa, Bula (ou Buba?), etc. mas na Escuta, não.


Dum modo geral, nessa época, era vulgar encontrar nos elementos das Transmissões camaradas que tinham relação estreita com a música. Faz sentido: a musicalidade do morse podia ser mais facilmente apreendida por essas pessoas.


Assim, naquela época, na Guiné, estiveram o Vítor Barros, o Eduardo Pinto e o Dutra Figueiredo,  elementos integrantes de um conjunto de Viseu, Os Tubarões, que foi um dos que foi à final do Concurso Yé-Yé no Cinema Monumental, em Lisboa. 


O Vítor Raposeiro era também (e é porque ainda está no activo) um excelente guitarrista e tocava num conjunto com alguma projecção aqui em Setúbal, o mesmo sucedendo com o meu amigo e camarada Nelson Batalha. Também o J. Manuel Fanha, que tocava órgão, era dum grupo de Tomar, foi do meu curso e esteve comigo na Escuta mas que me lembre só animava as noites no Chez Toi...


Vou aguardar por eventuais notícias dos meus amigos para poder avançar. Até lá, um abraço.
Hélder S.
  
(ii) Armando Pires

Se os documentalistas da nossa Tabanca Grande procuram que possa escrever a história do PIFAS, também podem contactar o Armando Carvalhêda (*), locutor da RDP-Antena 1,  e o Carlos Fernandes,  também locutor da RDP,  mas já reformado mas que o Carvalheda pode contactar. 


Curiosamente, quando fui para a Guiné, em fevereiro de 69, levava comigo uma carta para entregar à direcção do PIFAS, visto que também era locutor de rádio. Por razões que não interessam para esta história, não entreguei a carta.


(iii) António Carvalho:


Caros Tabanqueiros: Já por estes lados falei do Fernando Eurico Sales Lopes, primeiro Fur Mil Trms da minha companhia. Ele trabalhou no PIFAS  entre julho de 72 e meados de 1974. Nunca mais o vi. Foi por aqui referido que está em Macau. Tentei contactá-lo mas sem sucesso.


Era e espero que ainda seja e esteja bem disposto. Se ele aceder a este blogue  aproveito para lhe mandar um grande abraço. (**)


Carvalho de Mampatá

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Notas do editor:

(*) Armando Carvalhêda [, foto à esquerda, cortesia do blogue Expressões Lusitanas]:

(...) "Música ao vivo cantada na nossa língua. Um programa de Armando Carvalhêda.Desde 1996, a ANTENA 1 tem no ar o programa VIVA A MÚSICA!, único espaço regular no panorama áudio-visual nacional que apresenta semanalmente, durante uma hora música cantada na nossa língua, ao vivo e em directo. O programa desenrola-se no Teatro da Luz, em frente ao Colégio Militar, em Lisboa, todas as Quinta-feiras, entre as 15h00 e as 16h00 [, com repetição aos Domingos às 14:07], e é produzido por Ana Sofia Carvalhêda e realizado e apresentado por Armando Carvalhêda. Por aqui desfilaram já quase todas as grandes figuras da música cantada em português como são os exemplos de: Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa, Ala dos Namorados, António Chainho, Vitorino, Jorge Palma, Mariza, Gal Costa, Tito Paris, Sérgio Godinho, Paulo Gonzo, Pedro Barroso, Camané, GNR, Rui Veloso, Paulo de Carvalho, Rio Grande e Delfins, entre muitas dezenas de outros. Endereço de email: viva.musica@rtp.pt  (...) (Fonte: RTP)




(**) Vd. último poste da série > 6 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9568: O PIFAS, de saudosa memória (6): Recebia, via Marconi, a chave do Totobola e transmitia-a depois ao camarada João Paulo Diniz, do PFA (Álvaro Vasconcelos, Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões de Bissau, jun 71/jul 72)

Guiné 63/74 - P9573: Agenda Cultural (187): Inauguração da exposição Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois - CONVITE

CONVITE


A SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES, enviou-nos o seguinte convite:

A SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES convida V. Exa. para a inauguração da exposição Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos depois.


8 de Março de 2012 às 18h00

ENTRADA LIVRE



A exposição estará patente entre Março e Abril de 2012.

Horário: 

De segunda a sexta-feira, das 08h30 às 19h00
Contamos com a V/presença

Atentamente,

Sala Carlos Paredes
Rua Gonçalves Crespo, 62– Lisboa
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Nota de MR:


Vd. último poste da série em:

15 DE FEVEREIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9490: Agenda Cultural (186): Exposição de fotografia do nosso camarada Renato Monteiro: Megastore Colorfoto, Av da Igreja, 30, D/E, Lisboa, até meados de Março de 2012

terça-feira, 6 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9572: O Nosso Livro de Visitas (128): João Paulo Diniz, do Programa das Forças Armadas (PFA) (Guiné, 1970/72)

1. Muito se tem falado estes dias no nosso Blogue do Programa da Forças Armadas (PFA), da sua mascote PIFAS e dos seus animadores. Muitos nomes vieram à ribalta, lembrados por camaradas que de algum modo se lembram daqueles que via ondas hertzianas ou em espectáculos pelo mato tentavam alegrar aqueles tempos de guerra bem sombrios.

Para grande surpresa chegou hoje mesmo ao nosso Blogue uma mensagem de um desses camaradas que animavam a nossa existência:

Caríssimo,
um abraço dos grandes e votos da melhor saúde!


Através de um Amigo que muito prezo, o Joaquim Furtado, soube - há dias - da existência do blogue 'Tabanca Grande', dedicado aos que passaram pela Guiné, como militares. Desde já felicito os seus mentores, não só pela ideia mas também pelo conteúdo, deveras interessante.

Fiquei particularmente feliz pelas referências ao "Programa das Forças Armadas", carinhosamente designado por 'Pifas'. Confesso que, como profissional, foi das experiências mais extraordinárias que tive na minha carreira.

Também fiquei a saber que está previsto um convívio da rapaziada, a ter lugar no dia 21.Abril. Desde já, se me permitem, gostaria de me inscrever. Mas também solicito o favor de que me sejam enviadas, por mail, mais informações acerca da festa, para que possa fazer a sua divulgação no meu programa "Emoções", na Antena-1.

Um caloroso e fraterno abraço, sempre ao dispor,
João Paulo Diniz

Foto RTP, com a devida vénia

2. Estamos pois em presença do nosso camarada João Paulo Diniz que esteve na Guiné, se não erramos, nos anos de 1970/71/72 e que era um dos animadores de rádio do PFA. 
Foi um dos intervenientes no arranque do movimento que havia de levar a cabo o 25 de Abril com a emissão, via rádio, da senha que confirmava o início das operações*.

Ao nosso camarada foi enviada a seguinte mensagem:

Caro João Paulo Diniz, caro camarada
Nestes últimos dias muito se tem falado no nosso Blogue do Programa das Forças Armadas da Guiné, e entre outros nomes de então, veio à baila o seu.

É pois uma enorme honra para nós que se tenha disposto a contactar-nos e, ainda mais, a querer participar no Encontro de 2012 da Tabanca Grande que já vai na VII edição.

Aproveito para em nome de Luís Graça, fundador do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, a convidá-lo a fazer parte da nossa tertúlia. A jóia a pagar é o envio de uma foto dos seus (nossos) tempos de Guiné e uma foto actual, acompanhadas de um texto de apresentação que pode ser uma pequena história/curiosidade ligada à sua (nossa) passagem por aquela terra que nos marcou para sempre.

A sua inscrição para participar no nosso VII Encontro em Monte Real no dia 21 de Abril próximo foi registada com agrado.

Pode tomar conhecimento dos pormenores neste endereço:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/02/guine-6374-p9534-vii-encontro-da.html

Receba um fraterno abraço em nome da tertúlia deste Blogue.

O camarada e amigo
Carlos Vinhal

OBS: - Esta mensagem segue com conhecimento a Luís Graça, Mexia Alves e Miguel Pessoa, membros da organização do Encontro.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9557: O PIFAS, de saudosa memória (1): Depoimentos de José da Câmara, Carlos Carvalho e Carlos Cordeiro

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9519: O Nosso Livro de Visitas (127): Carlos Alberto Morais dos Santos, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAV 1749 (Mansabá, 1967/69)

Guiné 63/74 - P9571: Os nossos camaradas guineenses (34): Marcelino da Mata visitou a Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), fundador da Tabanca do Centro, com data de 4 de Março de 2012:

Há já alguns meses que se esperava a vinda do Marcelino da Mata à Tabanca do Centro.

Infelizmente, por razões da sua saúde, não tinha sido possível até este 17º Encontro a sua presença para comer connosco o “cozido á portuguesa”.

Mas o Miguel Pessoa, que desde o início se empenhava pela vinda do Marcelino, não desistiu, e, finalmente foi possível neste encontro estarmos com este nosso camarada de armas.

Confesso que tinha muito interesse em estar com este homem, de quem tanto tinha ouvido falar na Guiné, e que nunca tinha tido a oportunidade de conhecer.

Foi um encontro fácil e empático, pois o Marcelino é um homem directo, franco e bem disposto.

Logo se enquadrou na nossa Tabanca do Centro, e sentindo-se um como nós, confraternizou, ouviu histórias e contou histórias, e ficou-lhe sem dúvida a vontade de voltar.

Por mim, o estar com o Marcelino da Mata foi também de certo modo estar com todos os guineenses que combateram ao nosso lado, e que depois lá abandonámos à sua “sorte”, que se revelou madrasta em todos os sentidos.

Devemos a eles combatentes guineenses, e a ele Marcelino, muito provavelmente a vida de alguns de nós, e por isso mesmo, e por tantas coisas mais, serão sempre bem vindos à Tabanca do Centro, para juntos festejarmos a camarigagem que nos une.

Retenho do Marcelino neste encontro, o que me disse à despedida:
Tendo sabido que eu estive no Mato Cão mais ou menos nove meses, disse-me que aquilo era um buraco sem sentido, e que para ele, que só lá tinha estado um dia e uma noite, (antes de mim), era sítio onde nunca quereria estar, pelas condições de vida, obviamente.

Um abraço para todos os “atabancados ao centro”, desejando do coração que no 18º Encontro já possamos contar com a presença do nosso “Almirante” Vasco da Gama, cuja ausência se faz tão notada.

Joaquim Mexia Alves
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8372: Os nossos camaradas guineenses (33): O Zé Carlos regressou ao seu mundo, à sua tabanca, à sua morança... (Luís Graça)

Guiné 63/74 – P9570: Convívios (399): Caldeirada na Tabanca de Setúbal, ou do Sado (Miguel Pessoa / Hélder Sousa)

1. O nosso camarada e tertuliano Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado), homem do ar mas dado aos prazeres terrestres, entre os quais o bem comer, conta-nos como, sendo um centrista, bloguisticamente falando, foi até ao sul, acompanhado da sua inseparável esposa Giselda, participar numa caldeirada da futura Tabanca de Setúbal (ou do Sado, a ver vamos).



2. Já repararam que quem está no cerne da questão, a criação da Tabanca de Setúbal, é um outro nosso camarada, que pelo ar se fartou de enviar tiriris e tirirás, não fosse ele um dos homens dos STM, Hélder Valério de Sousa. 
Fiquemos atentos ao seu comunicado oficial:

Caros camaradas

Esta minha comunicação tem por objectivo dar conta do Encontro/almoço/convívio ocorrido em Setúbal com vista a dar corpo ao arranque do que pode vir a ser a "Tabanca de Setúbal", como lhe chamámos, embora considere agora que ficará melhor se lhe chamarmos "Tabanca do Sado", por ser mais abrangente e frustrar possíveis bairrismos...

Vai também no sentido de explicar os antecedentes, justificar porque não foi feita maior divulgação e procurar projectar o que pode vir a partir daqui.

Esta iniciativa teve por base o facto de amigos vários pressionarem no sentido de também se fazer em Setúbal em encontro/convívio/almoço à semelhança do que, inspirados pela existência da chamada "Tabanca Grande", que na prática é a reunião anual dos amigos relacionados com o Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", a qual, por sua vez motivou e/ou inspirou reuniões semelhantes, mas com menos espaço de tempo de intervalo, consubstanciadas nas "Tabanca de Matosinhos", "Tabanca do Centro", "Tabanca da Linha", "Tabanca dos Melros", etc.

A primeira vez que abordei o assunto foi com o Benjamim Durães que opinou ser talvez interessante não fazer sempre na mesma terra mas sim rodar pelo Distrito: em Setúbal, em Almada, no Barreiro, em Sesimbra e por aí fora. A ideia parece boa mas é de difícil concretização porque exige muita disponibilidade e capacidade logística apreciável, pelo menos se não for possível 'encomendar' essas tarefas aos habitantes locais.

Depois disso houve várias pressões para se fazer qualquer coisa mas o "arranque" é sempre difícil. Há algum tempo atrás, completamente por acaso, o Branquinho e o Zé Dinis encontraram-se no mesmo restaurante, à mesma hora, sem qualquer combinação, em razão das suas viagens próprias. O Branquinho pareceu reconhecer o Dinis, meteu-se com ele, chamaram-me e assim surgiu a notícia na "Tabanca Grande" do primeiro Encontro da "Tabanca de Setúbal". Uma espécie de "ano zero" adaptado às actividades comensais.

Daí para cá fui congeminando como se poderia materializar um Encontro mais alargado. Tive alguns contactos bilaterais com o Vítor Raposeiro e outros, mas não se chegou a concretizar nada.

Agora, aproveitando o pretexto do "festival de caldeiradas", habitual nesta época do ano em que a sardinha ainda está longe de estar boa (mas os alcorrazes, os massacotes, os carapaus, os salmonetes, por exemplo, estão!) entendi ser oportuno 'deitar mãos à obra' até para ver como se correspondia com as 'vontades' do pessoal e aproveitar lições para eventuais futuras realizações.

O meu pensamento foi no sentido de contactar os naturais ou viventes em Setúbal (claro que devo ter cometido falhas, mas só falha quem faz) e mais uns quantos de cada localidade aqui à volta e de que eu tinha endereço, sempre baseado, é claro, no pessoal que de algum modo está relacionado com a "Tabanca Grande". E também dei conhecimento a um ou outro (casos do Zé Dinis e do Zé Brás) que não sendo ou vivendo no Distrito, mantenho relações de camaradagem mais estreita, que vêm do tempo em que se criou o que se chamou o "Grupo do Cadaval" para ajudar a concretizar o livro "História de Portugal em Sextilhas" do Manuel Maia.

Penso que não há lamentações quanto ao almoço, que correu bem, até fomos brindados com o que pareceu ser o início da 'época das chuvas', ficando no ar a recomendação para haver novo Encontro/almoço havendo contudo recomendações para se tentar arranjar outro espaço que eventualmente possa levar mais gente (estimou-se em 30...), com estacionamento e local para se tomar bebida (antes e/ou depois), havendo também o alvitre de que o melhor dia será ao sábado... pois vamos ver!

O meu muito obrigado a todos os que puderam estar e dar vida ao acontecimento. Nunca é demais realçar a presença das nossas estimadas enfermeiras paraquedistas, para além, é claro, de todos os outros, principalmente os que de mais longe vieram.

Aos que não puderam estar e disso deram conta, os meus desejos que na próxima possam estar.
Aos que, por qualquer motivo, não compareceram nem tiveram oportunidade de dar alguma satisfação para a sua ausência, o meu desejo que o conhecimento do evento os entusiasmem e possam vir em futura realização.

O meu abraço
Hélder Sousa
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Março de 2012 > Guiné 63/74 – P9565: Convívios (319): Pessoal da CART 3567 (Mansabá, 1972/74), Penafiel, dia 24 de Março de 2012

Guiné 63/74 - P9569: Agenda Cultural (187): Djubi dé... su pui qu'el qui n' contau, na negal tudo! (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2012, dirigida a toda a tertúlia a propósito do seu próximo livro "Adeus até ao meu regresso", que vai ser apresentado pelo Cor Carlos Matos Gomes no próximo dia 29 de Março na Associação 25 de Abril:

Queridos amigos,
Seria reconfortante para mim ter a vossa companhia no lançamento desta compilação de olhares sobre as escritas dos combatentes da Guiné. 
Tomo a liberdade de vos mostrar a capa e contracapa e a apresentação. 
Conto convosco em 29 de Março, 5.ª feira, pelas 18.30h, na Associação 25 de Abril. 
O Coronel Carlos de Matos Gomes honra-me com os seus comentários sobre o livro. 

Um abraço do 
Mário


Capa do livro de Mário Beja Santos "ADEUS, até ao meu regresso"

Contracapa


DJUBI DÉ… SU PUI QU’EL QUI N’ CONTAU, NA NEGAL TUDO!*

A literatura da guerra colonial, não é novidade para ninguém, tem tido uma evolução surpreendente. Do virar do século à atualidade tem-se escrito muito mais ao ritmo do romance, das memórias e do ensaio que nas décadas anteriores. Parece que quem combateu em Angola, Guiné e Moçambique, hoje pelo menos sexagenário, se sente mais liberto, mais confidente, para contar o que experimentou, entre a ficção e a realidade.

Adicione-se um facto por vezes descurado, mesmo por alguns investigadores: aqueles três teatros de operações onde centenas de milhares de portugueses e africanos combateram entre 1961 e 1974 tiveram características tão diferenciadas, “inimigos” tão específicos e confrontaram-se com um poderio militar e uma capacidade de guerrilha tão singulares que marcaram indelevelmente os registos da escrita, tornando-os praticamente intransitáveis entre Angola, Guiné e Moçambique. Pode argumentar-se que havia a solidão, a angústia, o fragor da mina ou do fornilho, e que essas perceções têm um cunho universal. É verdade, mas é insuficiente: 10 quilómetros na Guiné não são os mesmos 10 quilómetros em Angola ou Moçambique. Os palcos de guerra tinham identidade, as árvores nomes próprios, havia o crioulo, o tornado, o macaréu, a lepra, os ataques com mísseis. Breve, realidades que o contador captou ou procura captar com cores próprias.

Este livro tem uma modesta ambição: repertoriar o que de essencial está escrito desde 1964 sobre a Guiné, os seus teatros de operações e os seus combatentes, em várias manifestações literárias: romance e conto, memórias, ensaios, história, reportagem, poesia e diário. Não é difícil perceber como é que o romance e as memórias superam as outras manifestações. O romance é sempre um confronto ao espelho, são verdadeiros combates corpo a corpo, há uma margem estreita que define o sulco que demarca o épico como testemunho da narrativa de vaidades disfarçadas de heroísmo vivido ou efabulado. A memória é diretamente proporcional à capacidade pronunciada pelo amadurecimento. Se é facto que em termos psicossociológicos se compreende a evolução do romance dos anos 60 à atualidade é manifestamente mais claro entender porque é que os grandes relatos memoriais são bastante recentes e no que toca à Guiné esses relatos atingem grande dimensão nos depoimentos do Comando Amadú Djaló, no Fuzileiro José Talhadas ou no Pára-quedista Moura Calheiros. O que se escreveu nos anos 60, tanto no ensaio, como na reportagem, como na narrativa, comportava compromissos indeclináveis: Manuel Barão da Cunha exalta a gesta dos seus soldados e mostra-se indignado com a indiferença da retaguarda; Amândio César sente-se imbuído pela defesa dos ideais do Império; Hélio Felgas faz um excelente trabalho de casa sem esquecer de promover a sua imagem.

Perto do 25 de Abril emerge uma figura espantosa, hoje de estudo obrigatório, José Martins Garcia, um açoriano que veio pôr as letras em polvorosa, caricaturando até ao derrube dos grandes ícones em que se constroem as mitologias militares. Os anos 80 anunciam outra viragem, os narradores ganharam distância, sentem-se afoitos a descrever relatos mais crus ou a desvendar tabus: basta pensar em José Brás, Álamo Oliveira ou Cristóvão de Aguiar. Na maturidade continuamos a ter surpresas na ficção: basta pensar em grandes parágrafos de Luís Rosa ou António Loja.

Quando chegamos ao virar do século, sentimos claramente quem escreveu para testemunhar e escreveu de uma vez e quem volta ”ao local do crime”. Por exemplo, Álvaro Guerra, no início da sua carreira literária, irá deixar parágrafos soberbos da sua experiência de combatente, depois parece ter encerrado o livro, não mais voltará à Guiné. Em etapas sucessivas, assistimos ao regresso de Armor Pires Mota; aliás, e na minha humilde opinião, além da singularidade de ter sido o único escritor combatente a ter deixado publicado um diário quase em tempo real, ele é autor da gema literária mais preciosa: “Estranha Noiva de Guerra”, um romance único que a crítica praticamente ignora. Coisas indecifráveis da literatura da guerra colonial…

É sobretudo aos sociólogos da literatura que compete apurar o que se passa nas entrelinhas, neste quase meio século de escrita polvilhada por minas e armadilhas, flagelações, atos de coragem, medos e delírios. Estes cientistas serão obrigados a ler peças da mais variada índole: relatos sem qualquer recorte literário com ressentimentos e azedumes, às vezes autênticos ajustes de contas; há depoimentos indispensáveis como os de Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço ou Salgueiro Maia, graças a eles percebemos melhor o evoluir da guerra, nomeadamente o que se passou na Guiné em meados de 1973 e as suas consequências, diretas e indiretas, nos acontecimentos do 25 de Abril; há prisioneiros do PAIGC, há estudos obrigatórios como os do João Paulo Guerra, há investigações monográficas como a História dos Fuzileiros, há antologias com depoimentos de combatentes, há relatos descritos como diários, há mesmo alguma poesia, alguma dela da autoria de vates da direita radical. Impunha-se, além disso, um pano de fundo para tão vasta boca de cena: é o caso de estudos incontornáveis como os de António Duarte Silva ou os trabalhos clássicos de João de Melo, Rui de Azevedo Teixeira e Margarida Calafate Ribeiro, investigadores com pergaminhos na análise literária na guerra colonial.

Importa insistir que estas recensões são olhares pessoais, são leituras interpretadas e sintetizadas, não podem ser tomadas como uma proposta antológica ou indicadores de qualidade. Durante mais de dois anos, com o apoio incansável de malta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, amigos como o António Ernesto Duarte Silva, fui tendo acesso a este acervo, na sua maioria inacessível ao grande público. Procura-se acima de tudo ir ao encontro das interrogações do leitor não iniciado que mantém uma grande curiosidade em conhecer o âmbito desta escrita. Não há, nesta perspetiva, ambição mais legítima do que a de preencher uma lacuna: o que nos motivou ou motiva a escrever sobre a Guiné. O que nos reconduz a um dos mais espantosos parágrafos, escrito por Álvaro Guerra em 1973 no seu romance “O Capitão Nemo e Eu”: “Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injetou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo, nem a presença da morte o pode aniquilar”.

Agradeço ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, uma reserva inesgotável de surpresas para quem quer conhecer a Guiné e a sua literatura, foi aqui que publiquei aos soluços todas estas notas de recensão.

(*) - Olha... se escreveres o que te disse, negarei tudo!

(Negritos e itálicos da responsabilidade do editor)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9490: Agenda Cultural (186): Exposição de fotografia do nosso camarada Renato Monteiro: Megastore Colorfoto, Av da Igreja, 30, D/E, Lisboa, até meados de Março de 2012

Guiné 63/74 - P9568: O PIFAS, de saudosa memória (6): Recebia, via Marconi, a chave do Totobola e transmitia-a depois ao camarada João Paulo Diniz, do PFA (Álvaro Vasconcelos, Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões de Bissau, jun 71/jul 72)

1. Mensagem do nosso  camarada Álvaro Vasconcelos,  ex- 1.º Cabo Transmissões do STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)
Data: 4 de Março de 2012 00:10
Assunto: PIFAS



Amigo Luís:

Sou "piriquito" nestas aventuras de escrever mensagens no correio electrónico: mas lá vai...
 

Quando estive no Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões  de Bissau (de Junho de 71 a Julho de 72), recebia, via Marconi, a Chave do Totobola. Depois transmitia-a ao camarada João Paulo Diniz, locutor do PIFAS [, foto atual à direita, cortesia de RTP Memória], para ele dar a novidade o mais rapidamente possível aos ouvintes da Rádio no Programa das Forças Armadas (PIFAS). Recebia a dita logo depois das seis da tarde de cada domingo.

Luís, espero não estar a ser inconveniente para com o João Paulo Diniz, mas este camarada é apresentador de um programa da Antena Um, transmitido todas as madrugadas de cada sábado [, das 5h às 7h]. O nome do programa é Emoções, do qual eu sou ouvinte (quando não adormeço!...). Já tive oportunidade de o cumprimentar por esta via e ele teve a amabilidade de o focar no programa. Aconteceu vai para um ano! É um camaradão que certamente estará disponivel para camarigar connosco.

Desafio-te - com o devido respeito-, a, se te for possível, o contactares, aí em Lisboa. Tanto quanto julgo saber, ele é funcionário da RDP.

Luís, não tenho o prazer de te conhecer pessoalmente, mas permito-me solicitar que perdoes o meu infortúnio de não poder comprometer-me em ser mais útil. Nesta, para mim, complicada informática, mesmo a nível de simples utilizador, sou um "cepo" e não há meio de me desenrascar melhor.

Aprecia a minha limitada experiência: já tentei contactar mais de uma vez com o João Paulo e não voltei a conseguir!...

Assim, por favor, se for realmente possível aproveitar a informação que aqui deixo, espero ter contribuido para essa nova realidade da Tabanca Grande.


Um reconhecido agradecimento e Bem Hajas!


Álvaro Vasconcelos
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9564: O PIFAS, de saudosa memória (5): Quando o Autocarro do Amor fazia escala na Guiné (Augusto Silva Santos)

Guiné 63/74 - P9567: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (14): O Tininho da feira

1. Em mensagem do dia 1 de Março de 2012 o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta sua "outra" memória:


Outras memórias da minha guerra (14)

O Tininho da feira

O Tininho era o filho mais novo da família dos Quintelas. Eram cinco rapazes e duas raparigas. Trabalhavam todos em conjunto como negociantes de gado. Eles andavam de feira em feira, tal como o pai, e elas tratavam da casa e do gado. Como a mãe faleceu cedo, elas eram bastante acarinhadas pelos irmãos. Apenas o Tininho fez a escola primária. Razão porque eram vulgares as piadas a gozar com essa situação de iletrados, especialmente com o velho Quintela que, apesar de exibir um bonito relógio de bolso, preso por uma valiosa corrente, não sabia dizer as horas.

Os Quintelas não casados viviam na casa paterna, junto ao largo da feira de Lourosel. Era ali que se juntavam, discutiam e apuravam as estratégias para o negócio em equipa. Eu, ainda miúdo, tive a oportunidade de os ver trabalhar. Em dias de feira, dois deles deslocavam-se pelo caminho normal de acesso do gado. Um ficava a mais de um quilómetro e o outro a uns 500 metros. Outro estava à entrada da feira e o velhote e o filho mais velho, iam lá mais para o interior da feira do gado. O lavrador começava a ser influenciado logo no primeiro contacto. Ali, tomava conhecimento dos defeitos e valores do animal e do conselho “desinteressado” daquele senhor. Adiante, a cena repetia-se e, à entrada da feira, já o terceiro Quintela “abusava” dos valores fornecidos anteriormente e desafiava o vendedor a consultar outros negociantes, ao mesmo tempo que o estava a encaminhar para os seus possíveis compradores. Se, por acaso, algum comprador alheio ao esquema se metesse no negócio, era certo que em poucos minutos havia porrada da grossa. Eles, juntos, “amoleciam” qualquer valentão.

Também me recordo de ter visto carregamentos do gado, para levar para a Malveira. Faziam-no ao princípio da noite, de forma a chegar lá de madrugada. Naquela época (início dos anos 50), havia doença no gado, o que se prestava a negócios bastante vantajosos. Porém, algum gado morria antes de partir, e para que ele se aguentasse até à Malveira, pregavam uns barrotes atravessados no camião, de forma a manter o animal de pé. Dizia-se que alguns chegavam lá mortos. É esta a razão por que, falando-se de um doente, se costumava dizer, em tom de brincadeira:
- Sim, sim, esse está bom é para ir para a Malveira.

Ao Tininho não faltava nada. E como ele sempre foi de pequena estatura, beneficiava de um tratamento mais mimado. Até nos jogos de futebol improvisados junto à capela quase não se lhe podia disputar a bola. É que ele, às vezes, zangava-se e ameaçava levar a bola para casa. Por outro lado, gozava do proteccionismo exagerado dos irmãos, sempre munidos de bengala e de uma exuberante naifa de Fafe. Como ele tinha a voz muito fina e a cara muito lisa, também era conhecido por Tininha. Porém, ninguém tinha coragem de o chamar por esse nome, embora não faltasse vontade. Apenas o vizinho Ramião, filho da Dora Vadeca e de pai incógnito, que era deficiente de uma perna e meio atrasado mental, contrariava esse receio. Digamos que para o Ramião era um prazer enorme mostrar a sua coragem. Então, sempre que oportuno, exibia a sua voz grossa, entrecortada e pouco perceptível, e atirava:
- Tafôôuda Tinênha. Pareces mesmo uma Tinênha boieira!

- A Tininha está aqui. – gritava o Tininho com aquela voz feminina, enquanto apertava o centro das pernas provocatoriamente, dando azo à desejada gargalhada geral .

No entanto, o Ramião já havia sido apertado. Quem o safou dos Quintelas foi a GNR, depois dos gritos protectores da sua mãe e a solidariedade dos vizinhos.

O Tininho, que saiu tarde da escola, manteve a sua meninice até à tropa. Sim, ele foi à tropa. Já andava no CICA do Porto, quando rebentou a guerra em Angola. Em pouco tempo foi mobilizado e partiu para Luanda. Como andava sempre endinheirado, não foi difícil obter alguma predominância entre os seus camaradas. Acabou por ser o protegido de um primeiro-sargento, que o indicou para impedido de apoio a um Major, que vivia com mulher e duas filhas, em idade escolar.

As irmãs Quina e Micas, eram vaidosas e gostavam muito de mostrar o seu corpo avantajado, através das roupas ajustadas. E para salientar mais as mamas, atiravam provocadoramente o peito para fora. Digamos que, para aquela época, elas eram umas mulheraças. No entanto, o tempo ia passando e elas pareciam não segurar os namorados, talvez devido à falta de humildade e à sua apetência para mandar. Gostavam muitos das festas de arraial e de frequentar as actividades religiosas. E foi na frequência da igreja que elas desenvolveram uma relação com a família Santana.

O velho Santana, um conhecido industrial de cortiça, além da missa, gostava de ir ao cemitério com a sua neta Bélinha (Isabel), onde rezavam por alma do pai e da avó. O Sr. Santana costumava dar boleia às manas Quintela. A Bélinha, que cedo ficou órfã de pai, tinha a mãe bastante debilitada de saúde. Viviam em casa do avô Santana, que muito as acarinhava e amparava. A Bélinha, que estava internada num colégio de Freiras, só vinha a casa durante fins-de-semana. Ela era a alegria da família, incluindo os dois tios já casados.

Foi grande a alegria dos Quintelas ao receber de volta o Tininho, vindo da guerra de Angola. O rapaz que sempre fora mimado pela família, via esse afecto redobrado devido aos dois anos de ausência. Por outro lado, as manas faziam tudo para que a imagem de menino efeminado, fosse ultrapassada rapidamente. Compraram-lhe um carro VW azul claro, vestiram-no de tudo que era bom (foi dos primeiros a usar camisas TV) e adornaram-no de anéis, relógio de luxo, alfinete de gravata, etc. Embora não fosse bem o género de jovem moderno dos anos 60, ele, quando saía, cheio de pose, no carro a brilhar, de óculos Ray Ban e carregado de Brilcream na cabeça, era uma tentação para um certo género de miúdas. Porém, parecia não ser feliz nas suas conquistas porque, após os primeiros contactos, elas não mostravam interesse no relacionamento.

Agora, que dispunham de carro e de condutor, as manas Quintela mostravam-se mais. E, da igreja, chegaram a trazer a Bélinha, com a devida anuência do Sr. Santana. Como a Bélinha, já com 16 anos e corpo feito, praticamente não tinha outros contactos fora da família e do colégio, mostrava alguma simpatia com o ambiente amistoso das manas Quintela, agora também manifestado pelo irmão Tininho.

- Senhor Santana, como a Bélinha está de férias da Páscoa, podia ir connosco a Fátima, no próximo sábado - dizia a Micas, à saída da igreja, das cerimónias da Semana Santa, que continuou:
- Temos que ir lá a pé cumprir a promessa que devemos pelo meu irmão mas, por agora, só queremos ir à missa agradecer o seu regresso da guerra e dar umas voltas de joelhos na Basílica.

Respondeu, concordando, o Sr. Santana:
- Está bem, mas venham cedo porque a quero em casa antes do jantar. Sabem que a minha filha é doente e não pode ter aflições.

Tudo correu pelo melhor, quer na parte religiosa quer durante o almoço. O ambiente não podia ser melhor. Porém, no regresso, perto da Curia, o carro abrandou, parecendo avariado. O Tininho, mostrando alguma surpresa, pediu às irmãs que lhe dessem um pequeno empurrão. A Bélinha também queria ajudar mas disseram-lhe que não era preciso sair do carro. O carro avançou e o Tininho começou logo a dar sinal de querer voltar para trás. No entanto, quando voltou a sul, não parou e seguiu com a Bélinha. Neste caso, a forma mais correcta de dizer seria: fugiu com a Bélinha!!!

O escândalo rebentou. A desrespeitada e conservadora família Santana, entrou em desespero. E, como ferida no seu orgulho, não podia aceitar qualquer desfecho apaziguador. Por isso, moveu desde logo todos os meios para interceptar o raptor.

Só na manhã do dia seguinte o carro foi localizado perto de Mafra. Soube-se, também, que a Bélinha estava doente e que não seria aconselhável viajar nessas circunstâncias.
- Se a desonrou, tem que casar com ela - diziam uns.

- Isso quer ele. Por isso é que ele fugiu com ela – diziam outros.

- Ele não tem categoria para uma miúda daquelas. Além disso, mostrou que é um animal – diziam ainda outros.

- É evidente que as matronas ajudaram ao golpe - acrescentavam as más-línguas.

Pouco se sabia de concreto sobre o que se passara. O certo é que a miúda, ao fim de três dias, veio mesmo doente para casa, onde se manteve incontactável. O Tininho não se inibia de publicamente, fazer juras de amor e da vontade de “pagar” o seu apaixonado impulso mas, a família Santana, nem o queria ver por perto.

A Bélinha faleceu, pouco tempo depois. Havia gente que acusava a família por ter preferido a sua morte à desonra ou ao seu casamento forçado.
Bastante debilitada, a mãe da Bélinha não aguentou mais que dois meses, o choque daquela tragédia.
E o Tininho foi para a cadeia de Custóias, cumprir 14 anos de prisão.

Mais tarde, quando se perguntava por ele, pouco ou nada sabiam dizer. Como não era benquisto na zona, mudou-se para parte incerta. Também diziam que se dedicava, profissionalmente, à vida nocturna, talvez fruto das ligações adquiridas na prisão.

Há cerca de 10 anos, casualmente, encontrei-o. Eram altas horas da madrugada, quando fui abastecer o carro de gasóleo numa área de serviço, aberta toda a noite. E, quando estava a tomar qualquer coisa ao balcão, ele passou pela frente e foi colocar nas prateleiras umas revistas e os jornais do dia. Ao virar-se para os clientes do balcão e demais pessoal da noite, olhou-me e exclamou:

- Tu és o Zeca, não és? Há quantos anos não te vejo!!!

Disse-lhe que tinha casado em Crestuma e que vivia lá. E perguntei:
- E tu, que fazes?

- Faço vida lá no Porto. Comprei isto há pouco tempo mas dá-me muito trabalho. Não imaginava que custasse tanto.

Curioso, acabei por perguntar:
- E as tuas irmãs, que é feito delas?

Ele respondeu:
- A Micas já morreu e a Quina vive comigo.
- Não casaram? – perguntei.
- A Micas, não. A Quina namorou com o Tono da Lagoa durante dezassete anos e esteve casada com ele um ano e picos. O fdp, disse-lhe que ia visitar um primo a França, para ver se valia a pena mudarem-se para lá, e nunca mais apareceu. Viemos a saber que tinha fugido para a Venezuela.

E continuou:
- Um gajo que faz uma coisa destas a uma mulher, merecia que lhe cortassem o pescoço!

Silva da Cart 1689
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Nota de CV:

Vd. último poste de 28 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9411: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (13): Vícios ou frutos da época

Guiné 63/74 - P9566: Memória dos lugares (178): Cantanhez: Cabedu... (Foto do calendário de 2008, editado pela ONG Tiniguena)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > c. 2007 > Cantanhez > Cabedu > "Ruínas do antigo quartel colonial de Cabedu". Foto de: Emanuel Ramos / Tiniguena. In: Matas de Cantanhez: Biodiversidade ao serviço da soberania. Calendário de 2008. Imagens digitalizadas, editadas e reproduzido com a devida vénia pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

1. Por Cabedu (de que temos no nosso blogue, cerca de meia centena de referências) passaram diversos camaradas e subunidades: cito, de cor, o José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), e o Norberto Gomes da Costa (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 555, Cabedú, 1963/65), sem esquecer o Tony Grilo, que vive no Canadá, e que foi Apontador de obús 8.8 (em
Cabedu, Cacine e Cameconde nos anos de 1966 a 1968). Também em Cabedu  o Orlando Pinela, ex-1.º Cabo da CART 1614 (Cabedú, 1966/68)... Enfim, corro o risco de esquecer outros camaradas da Tabanca Grande, que por lá passaram no tempo da guerra...


Se não estou em erro, Cabedu foi também a primeira  das tabancas da região de Tombali a beneficiar da projeto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau, liderado pela Tabanca de Matosinhos... Foi em Cabedu que o Zé Teixeira, com outros camaradas, assistiu, emocionado, à inauguração do poço que assegurou o abastecimento de água potável à comunidade, em iniciativa da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento... Foi aqui que Projeto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau começou a ganhar raízes...

É da autoria do Tony Grilo  o poema Cabedu, nossa terra (1966), que a seguir reproduzimos.

2. Cancioneiro de Cantanhez > Cabedu, nossa terra

por Tony Grilo

Nas tabancas dos nativos
Nós fazemos uma acção
Que certo Mundo não sabe
Que nos sai da coração.

O inimigo espreita,
Atacando gente boa,
Mas os soldados respondem
Sem ser com tiros à toa.

De canais e muito mato
É composta a região,
Os mosquitos são malignos
Terroristas de picão.

Com insectos ou sem eles,
Que o tempo se vá passando,
Oh malta, já estamos vendo
O Niassa navegando.

Em Cabedu, em Cabedu,
Vão desfilando tantos soldados,
Mesmo com guerra, és nossa terra,
Nestes dois anos amargurados.

Oh Cabedu, oh Cabedu,
És fortaleza desta Guiné,
Te defendemos com valentia,
Aqui no mato, de noite e dia.

Cabedu, 1966
Tony Grilo

3. Contactos atuais da ONG Tiniguena:

 Tiniguena, Esta Terra é Nossa

Av. Caetano Semedo, Las Palmeras, Bairro de Belém,
Apartado 667, Bissau República da Guiné-Bissau
Tel.: (+ 245) 325 19 06 / (+ 245) 674 51 / (+ 245) 548 97 66

E-mail: tiniguena_gb@hotmail / geral@tiniguena.org


Lê-se no calendário de 2008, editado pela ONG guineense Tiniguena, dirigida por Augusta Henriques (Vd. desdobrável, em português, com a apresentação desta ONG que faz agora 20 anos, e que na venda dos seus belíssimnos calendários e postais uma fonte de receita):

"É urgente resgatar o legado histórico de Cantanhez... Outrora, as Matas de Cantanhez foram um refúgio seguro e a base principal dos Combatentes da Liberdade da Pátria liderados por Amílcar Cabral. E estas florestas acolheram as primeiras zonas libertadas, onde Cabral fez funcionar escolas e hospitais e organizou uma nova administração, sob a protecção de uma vegestação frondosa e a cumplicidades das populações locais. Além de abrigo, as florestas oferecerama sustento aos que nela se refugiaram. Em Cantanhez foram escritas das mais belas páginas da história da jovem  Nação guineense.  Urge resgatar este legado histórico que deve inspirar e alimentar as gerações do futuro para o reencontro com a sua dignidade como povo e o seu justo lugar no concerto das Nações".
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de fevereiro de 2012 >
Guiné 63/74 - P9547: Memória dos lugares (177): Canquelifá, a ferro e fogo, fevereiro / abril de 1974 (José Marques)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guiné 63/74 – P9565: Convívios (398): Pessoal da CART 3567 (Mansabá, 1972/74), Penafiel, dia 24 de Março de 2012

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Valdrez que prestou serviço na CART 3567, Mansabá, 1972/74:

Caro amigo
Vivi os anos de 1972 / 1974 na Guiné.
Dia 24 de Março vamos fazer um encontro com quem estiver disponível. 
Será possível divulgar no blogue a existência desse encontro?


Dia 24 de Março os camaradas da CART 3567 - 1972/74 - Mansabá, promovem um encontro de amizade. 40 Anos depois.

Concentração Quartel RAL 5 - donde partiram para a Guiné há 40 anos.

Os meus contactos: Manuel Valdrez - 939 026 434 e Facebook - https://www.facebook.com/manuel.valdrez

Obrigado pela disponibilidade
Manuel Valdrez
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9517: Convívios (318): Comemoração do Dia do Combatente de Gondomar, dia 3 de Março de 2012 (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P9564: O PIFAS, de saudosa memória (5): Quando o Autocarro do Amor fazia escala na Guiné (Augusto Silva Santos)

O PIFAS de Augusto Silva Santos


1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 4 de Março de 2012:

Olá Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Na sequência da solicitação do Luís Graça sobre o assunto em epígrafe, venho por este meio dar o meu pequeno contributo para este tema, no qual também junto uma foto do meu "PIFAS", velhinho de 40 anos. É algo, entre outras coisas, que guardo quase religiosamente, a maior parte pelas boas recordações que me trazem.

Foi um programa radiofónico que me marcou muito na altura da minha passagem pela Guiné. Era a nossa grande companhia no dia-a-dia que, de alguma forma, ajudava a passar melhor o tempo e a matar saudades através dos muitos temas que passavam.

Infelizmente não me recordo muito bem dos nomes dessas canções ou de quem as cantava, mas lembro-me por exemplo de uma muito engraçada que ainda hoje (embora raramente) se ouve passar nas rádios locais, que salvo erro começava assim: "Era o autocarro do amor". Julgo que não é este o título, mas era assim que era conhecida.

Também me lembro que na altura se ouvia alguma música africana, nomeadamente de Cabo Verde, na parte dos discos pedidos. A esse propósito, também me recordo de algumas passagens com certo humor aquando das solicitações, como por exemplo estando na altura muito em voga as músicas do Gianni Morandi, de alguém solicitar a passagem da canção "Non son degno di te", como "Não sou digno di bo".

Pesquisa CV: Capa do single "O Autocarro do Amor" interpretado por "Os Taras" e Montenegro

Um Grande Abraço
Augusto Silva Santos
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)

Vd. último poste da série de 5 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9563: O PIFAS, de saudosa memória (4): Discos pedidos: Para o Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi 'Não sou digno di bó'... (Luís Borrega / Joaquim Mexia Alves)