segunda-feira, 17 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11718: Freguesia da Atalaia, concelho de Lourinhã, inaugura no Parque dos Moínhos, com vista de mar, um belo monumento aos seus combatentes, que estiveram repartidos por 5 teatros de operações: Angola, Guiné, Moçambique, Índia e Timor


Vídeo (38''): Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Depois da visita ao cemitério e da missa, o cortejo segue em desfile pela rua principal da vila, encabeçado pela  Banda da Associação Musical da Atalaia [AMA] e com a participação de muitos combatentes e população. A freguesia de Atalaia tem cerca de 1900 habitantes (censo de 2011).


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (1)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (2)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcial do monumento (3)

Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 >  Inauguração do monumento aos combatentes, no Parque dos Moínhos: A benção do monumento, na presença (da esquerda para a direita) de: (i) secretário da junta de freguesia da Atalaia, Renato Henriques; (ii) presidente da câmara municipal, José Custódio;   (iii) presidente da junta de freguesia da Atalaia, Luís Fernando Fonseca;  e (iv) secretário geral  da Liga dos Combatentes, cor Faustino Alves Lucas Hilário. A base do monumento é, simbolicamente,  um barco.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes:Vista parcail do monumento: militares vindos de Mafra e Carregueira (guarda de honra e terno de clarins da banda do exército)... Ao centro, o ten cor Costa Pereira, presidente do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes (que integra a delegação da Lourinhã) está atento aos pormenores protocolares.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013 Inauguração do monumento aos combatentes: Autoridades civis e militares, com destaque, na primeira fila, do lado direito, para os autarcas, o presidente da câmara municipal da Lourinhã, José Custódio, e o presidente da junta de freguesia de Atalaia, Luís Fernando Gomes da Fonseca.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (1)



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (2)


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (3): A Associação de Fuzileiros


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (4): A Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra, e a Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste (AVECO), com sede na Lourinhã.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Estandartes de diversas associações de combatentes (5): A Associação de Comandos.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Guarda de honra e aspeto (parcial) da assistência.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, inauguração do monumento aos combatentes:  Guarda de honra  e aspeto geral da assistência.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, Inauguração do monumento aos combatentes: Banda da AMA (Associação Musical da Atalaia), dirigida pelo maestro Luís Santos. No Parque dos Moínhos, está também localizada a sua sede (lado direito da foto).


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes:  Aspeto parcial da tribuna com as autoridades civis e militares. Do lado direito, a lápide com os nomes dos combatentes de Angola. O único morto que a freguesia teve, foi em Angola, em combate, a do sold João Cláudio Fernandes, da CSS/BART 400, em 5/7/1963. A família fez-se representar na cerimónia.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: Placa com os nomes dos 18 combatentes da Guiné. Todos os camaradas vivos, e disponíveis na data, compareceram à cerimónia, tendo recebido calorosas palmas do público presente.


Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Parque dos Moínhos, Inauguração do monumento aos combatentes: Terra de moinhos (uma das riquezas patrimonais do concelho da Lourinhã), terra de moleiros, padeiros, pescadores, mariscadores, agricultores... Também foi dia da Festa do Pão do Moínho, este ano na sua 3ª edição.



Lourinhã, Atalaia, 16 de junho de 2013, Inauguração do monumento aos combatentes: O meu amigo amigo de infância Jaime Bonifácio Marques da Silva, alferes paraquedista em Angola (1970/72), natural do Seixal da Lourinhã, e antigo vereador do pelouro da cultura em Fafe, mais a sua esposa,a Dina, e a Maria Alice Carneiro.  O Jaime, tanto na sua terra natal (Seixal) como na terra da Dina (Fafe), tem um incansaável dinamizador de iniciativas de homenagem aos antigos combantes: este ano em agosto, vai organizar uma homenagem ao seu colega de escola, e vizinho da Areia Branca, o malogrado José Henriques Mateus, desaparecido na Guiné.

Já aqui falámos, por diversas vezes, do trágico (e ainda hoje misterioso) desaparecimento do José Henriques Mateus, soldado da companhia a CVAV 1484. Nascido à beira-mar, na Areia Branca, entre moinhos e dunas de areia, era muito provável que o Mateus soubesse nadar... É por isso muito estranho o seu desaparecimento no Rio Tombar, no sul da Guiné (actual região de Tombali) e sobretudo, uns dias depois, a localização da sua camisa com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, uma nota de 50 pesos e a sua identificação... Essa estranha e trágica história já foi contada, em 2007, pelo seu e nosso camarada de companhia, o ex-fur mil, Benito Neves, bancário reformado, natural de Abrantes.


1. Foi um dia de festa para a vila e freguesia da Atalaia, concelho de Lourinhã: ontem, domingo,  16 de junho de 2013, foi finalmente inaugurado, da parte da manhã, com toda a dignidade, cívica e militar,  e elevada participação popular,  o monumento aos combatentes  da freguesia de Atalaia, que passaram por 5 teatros de operações, entre 1961 e 1975: Angola, Guiné, Moçambique, Índia e Timor.  (Segundo dados não confirmados, o seu número ascenderia a um centena).

O monumento, localizado no Parque dos Moínhos, com uma bela vista sobre a oceano Atlãntico, o Cabo Carvoeiro e as Berlengas, enche de orgulho as gentes da terra e os seus combatentes da guerra colonial. Era um projeto acarinhado pelo executivo da junta de freguesia local, há vários anos (três mandatos, segundo informação do presidente, Luís Fernando Gomes da Fonseca), e finalmente concretizado com o entusiástico apoio dos combatentes e população locais.

Além da Liga dos  Combatentes e do Núcleo de Combatentes de Torres Vedras (que é presidida pelo ten cor ref C. Pereira), a cerimónia contou com a presença de numeroso povo e de diversas associações de veteranos.

Foi abrilhantada por uma guarda de honra da EPI (Escola Prática de Infantaria, de Mafra) e por um terno de clarins da Banda do Exército (Carregueira), além da banda da AMA (Associação Musical da Atalaia).

Estão de parabéns a junta de freguesia da Atalaia (nas pessoas do seu dinâmico presidente, Luís Fernando Gomes da Fonseca, e do seu jovem secretário, Renato Henriques), o laborioso povo da Atalaia (com fortes ligações históricas ao mar e à terra) e a sua comissão de festas de 2011 (que angariou uma boa parte dos 10 mil euros que, segundo fontes não oficiais, terá custado o monumento e o arranjo urbanístico), bem como como a câmara municipal da Lourinhã. Está também de parabéns o Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes (que integra a delegação da Lourinhã), e que tem dado um grande apoio aos combatentes deste concelho e às suas iniciativas.

A comissão organizadora obsequiou depois as centenas de convidados (combatentes, autoridades militares, civis, religiosas e representantes associativos) com um simpático almoço no pavilhão multiusos da terra, que foi também um excecional convívio para os combatentes da Atalaia e convidados.

Foi também uma ocasião para eu confraternizar com inúmeros amigos e camaradas, vários dos quais falaram com apreço do nosso blogue. Tive também o prazer de estar com o meu amigo de infância Jaime Bonifácio Marques da Silva, alferes paraquedista em Angola (1970/72), natural do Seixal da Lourinhã [, vd. última foto de cima, acompanhado da esposa Dina e da Alice Carneiro), bem como com antigos prisioneiros na Índia, como o Luís Filipe Maçarico  (meu primo, de Ribamar) e o Joaquim Isidoro dos Santos (, meu amigo, da Atalaia).

O secretário da junta de freguesia, Renato Henriques,   ficou de enviar, por email, o discurso que leu na ocasião.

Vídeo e fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11717: Parabéns a você (589): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11686: Parabéns a você (588): Alcides Silva, ex-1º cabo estofador, CCS/BART 1913, 1967/69

domingo, 16 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11716: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (38): 39.º episódio: Memórias avulsas (20): Tavira - O antes da guerra

Ponte em Tavira


1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 1 de Junho de 2013, enviou-nos mais uma história ocorrida durante "Os melhores 40 meses da sua vida", na bela algarvia Tavira.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

20 - O ANTES DA GUERRA - TAVIRA

Contrariado parti, primeiro no comboio de Mora para Évora e daí em diante nem sei como, mas que cheguei... cheguei.

A janela gradeada por fora, onde estava a cama que me destinaram, ainda lá está, que há pouco a voltei a acariciar, em visita de saudade serôdia, que bastas vezes faço, bem como a "porta do cavalo" (assim chamada provavelmente porque era por ali que me desenfiava) e onde hoje ainda, costumo estacionar o meu bólide enquanto vou aos comes.

Por aí saía, pela manhã e para a ginástica matinal a praticar logo ali atrás do quartel e também para as visitas bi-semanais, às salinas que ainda ali estão, só que agora sem recrutas e onde (nesse tempo, Julho-Agosto de 1964), de botas engraxadas, fato lavado e passado a ferro, tive de afocinhar voluntariamente obrigado, naquelas empestadas águas, cheias de enguias.

A suite para 150, era razoável, melhor que a de Mafra, a comida... comia-se... o vinho Lagoa era bestial com os seus 14 graus.

Tavira não era grande, os Algarvios... avarentos de verdade e de tal maneira, que eu e habituado como era, por educação, mesmo saudando-os de borla, quer com os bons-dias quer com os olás nem sequer troco alguma vez recebi.

Uma vez por semana a visita guiada era para a carreira de tiro e isso significava descanso à sombra das alfarrobeiras, pois que só alternadamente íamos disparando lá para baixo onde estavam os alvos.

O melhor de tudo era a hora de almoço, ali mesmo confeccionado nas cozinhas de campanha com tampas abertas a fim de permitir a entrada do pó, que bom sabor a barro dava.

As noites eram porreiras, pois que me permitiram, após a primeira semana, que dormisse no exterior, em casa alugada e com mais dois amigos, além do outro lado do rio. Tal significava que jantava bem e regava melhor. A coisa nem dispendiosa ficava, papando ali nas variagadas tascas à beira do Gilão.
Lembro-me que bebendo um tinto ofereciam três carapaus fritos presos pela cabeça, com um palito.

Outras vezes e dando um salto à praia, trazíamos (éramos três) quilos de conquilhas, mas das grandes, e que depois mandávamos cozinhar e faziam-no de tomatada. Depois era só migar, qual açorda, pão lá p'ra dentro da molhança.

Graças à preciosa indicação do Senhor Aspirante Comandante do Pelotão, que me apresentou ao pai, pescador com barco, este protegeu-me e apresentou-me aos comerciantes de vinhos e seus derivados ali do burgo e tal contribuiu muito para que a minha popularidade enóloga, fosse apreciada e passei a ser convidado para acontecimentos inerentes a provas.

Também colaborei por duas vezes na pesca do atum e só vos digo, que foi das experiências mais valiosas e de que ainda guardo imagens maravilhosas.

E quando se tem sorte, tem-se e mai'nada... até os fins de semana ia passar com a família, pois que um dos camarigos do pelotão, sendo de Évora trazia-me até aí e também juntos, daí regressávamos.

Vínhamos no seu Mini, demoravam-se horas, mas habitualmente às 10 da noite estávamos lá. Depois faltando-me ainda 70 Km até casa recorria a boleias mas o mais tardar ao sábado de madrugada chegava cansado mas feliz.

O trajecto inverso começava ao Domingo depois das migas e levava já comigo a roupa lavada e encerada, um os dois "xóriços", um bocado de paio... ou de morcela da grossa, alguma fruta, alguns escuditos no bolso.

Assim se passaram dois meses após o que regressei com as divisas no local próprio.

O tempo passara rápido e vinha muito, mas muito mais culto qu'até já sabia "trabalhar" c'as Dreyse... FBP... Uzi... Walter... Parabellum e melhor ainda... a medida dos supositórios que usavam, ou seja 7,92 e 9mm.

(continua)
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Nota do editor:

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11669: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (37): 38.º episódio: Memórias avulsas (19): Mafra, Junho de 1964

Guiné 63/74 - P11715: Blogoterapia (228): A todos quero agradecer os votos de parabéns e as palavras que me dedicaram no meu aniversário (Belarmino Sardinha)

1. Com as nossas desculpas pelo atraso, estamos hoje a dar notícia da mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, MansoaBolamaAldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 7 de Junho de 2013: 


Agradecimento

Nunca sei, confesso-o, como agradecer o carinho manifestado e a forma como sou brindado por todos vós.

A todos quero aqui expressar o meu sincero agradecimento pelos votos de parabéns e palavras que me dedicaram na data do meu aniversário, mas gostaria de salientar o trabalho dos editores, sendo que começa neles todo um trabalho de lembrança e apresentação de cada camarada, além do restante diário com a leitura e colocação de novos artigos e temas. Para os editores, homens quase dedicados em exclusividade a aturarem as nossas madurezas voluntariamente dando o seu tempo a esta comunidade o meu muito obrigado.

Quero não deixar esquecidos todos os outros que o não tendo feito por escrito neste espaço estiveram igualmente comigo, por telefone, mensagem pessoal ou pensamento na simples bebida de um copo por lembrança de outros dias e tempos das nossas vidas. Para estes vai igualmente o meu agradecimento.

Há muito que não escrevo umas linhas dedicadas a este espaço, o blogue do Luis Graça, este nosso blogue por ocupação autorizada, julgo que serve também para expor ideias e opiniões, o que a seguir espero conseguir fazer, justificando a ou as razões já apresentadas em conversa com alguns, para que tivesse deixado de mimar os aniversariantes com os meus parabéns quando, agora, parece uma contradição, aqui estar a mostrar-me grato por esse facto.

Nenhuma das razões por mim apresentadas deve ser tomada como crítica negativa a quem o faz, apoia ou defende esse princípio de aqui se expressar nesse sentido, seja este escrito entendido apenas como a minha posição de princípio, de consideração e honestidade para com aqueles com quem convivo neste espaço.

Pode, admito, não ser compreensível para todos, para mim é-o na medida em que considero a todos por igual neste aspecto e o facto de nem sempre estar disponível ou atento ao aniversariante do dia, como obriga o serviço do quartel com oficial, sargento cabo e praças de dia, poderia levar-me a dar parabéns a uns em detrimento de outros e onde o esquecimento ou a falta de oportunidade criaria uma falsa ilusão de apoio, preferência ou simpatia que, no caso, não se aplica nem justifica e poderia contribuir para uma estatística errada dos que têm mais ou menos camaradas a dar-lhes um abraço nesse dia festivo e onde, eu, ajudaria negativamente a engrossar as hostes dos desfavorecidos.

Não sei se estas linhas terão sido esclarecedoras ou terão mesmo alguma importância para os outros, para mim têm na medida em que justifico a minha posição, frontal e sem rodeios ou medo de críticas. Continuo, como sempre, a festejar com todos aqueles que felizmente ainda vão comemorando o seu aniversário entre nós, tal como se fosse o meu, mesmo que em silêncio.

Quanto a outras matérias não se tem proporcionado escrever, talvez por falta de assunto com interesse como aqui e agora se comprova.

Com o sentimento de camaradagem de sempre e para sempre, aqui fica o meu sincero agradecimento e abraço para todos.
BS
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Notas do editor

Vd. poste de 6 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11675: Parabéns a você (586): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11668: Blogoterapia (227): É por tu que se entendem os tabanqueiros (Joaquim Cardoso)

Guiné 63/74 - P11714: FAP (73): A instrução do AL III no meu tempo (J. Pardete Ferreira, ex-alf mil médico, 1969/71)

1. Resposta, com data de 15 do corrente,  do nosso camarada José Pardete Ferreira, às questões levantadas no poste P11703 (*):

(i) Requalificação;

(ii) 35 horas de voo.
(iii) Voo de contacto. Navegação à vista.
(iv) Ab inicio Al III
(v) Ida directa

(vi) A Sud-Aviation tinha um técnico em permanência em Bissau, Pierre Fargeas, que com a mulher vivia aboletado em casa do ten cor pilav Amaral e em seguida ten cor Brito. Sendo amigo e companheiro de liceu do Ricardo Cubas, ao tempo major pilav, sendo comandante da Esquadrilha Heli, era visita quase diária lá de casa e as soirées eram passadas à "sombra" das pás do rotor principal. Curiosamente o então major pilav Pedroso de Almeida, também foi meu colega de liceu e oficial de operações, penso, da Esquadrilha dos Fiats. Este já depois do final da minha Comissão.

Cumprimentos e um Alfa Bravo

José Pardete Ferreira (**)

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Nota do editor:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11703: FAP (71): O AL III faz 50 anos de operação e eu gostaria de saber como se fazia a Instrução da sua pilotagem na época (Fernando Leitão, ten cor pilav, Área de Ensino Específico da Força Aérea, Instituto de Estudos Superiores Militares)

(...) Assim, para a recolha da informação ainda disponível, devo recorrer a quem viveu essas experiências. É nesse âmbito que solicito o seu contributo, de documentos ou experiências vividas, relativamente a:

(i) seleção dos alunos pilotos (recrutamento de civis ou requalificação de pilotos de outras aeronaves?);

(ii) duração do curso (tempo e horas de voo);

(iii) modalidades de voo com maior relevo? (voo de contacto, voo de montanha, navegação, etc.);

(iv) ab initio no Alouette ou antes voavam Chipmunk?;

(v) após o curso de pilotagem de helicópteros, havia lugar a qualificação operacional (curso avançado) ou seguiam diretamente para os teatros de operações?;

(vi) outras informações pertinentes.

(**) Último poste da série > 16 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11711: FAP (72): Eu, periquito, me confesso... (António Martins de Matos, ex- ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 63/74 - P11713: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): Intenções e Acção de Graças da Missa celebrada na Capela de Sta. Rita de Cássia, Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Capela de Sta. Rita de Cássia - Termas de Monte Real

1. Por que a memória do nosso VIII Encontro, realizado no passado dia 8 de Junho, está longe de se esgotar, lembramos hoje as Intenções e a Acção de Graças da Missa celebrada na Capela das Termas de Monte Real antes do almoço/convívio da nossa tertúlia, iniciativa do nosso camarada Joaquim Mexia Alves. 


INTENÇÕES 

 Pelos militares portugueses, (lembrando também os nascidos em África), que faleceram durante a guerra de África em todas as frentes, nomeadamente na Guiné.
Por todos os combatentes da guerra de África que já faleceram depois de terminada a guerra.
Pelos combatentes de todos os movimentos políticos africanos que faleceram combatendo o Exército Português em África. 
Pelos povos de Portugal, Guiné, Angola, Moçambique e todos os outros povos onde os portugueses marcaram presença.
Por todos aqueles que tendo combatido nesta guerra ainda hoje sofrem os traumas causados pela mesma guerra e pelas suas famílias que com eles também sofrem.


ACÇÃO DE GRAÇAS

Colocámos hoje nas intenções desta Missa, para além daqueles que foram nossos camaradas de armas falecidos durante a guerra de África, aqueles que faleceram combatendo do outro lado da guerra.
É esta a nossa postura de portugueses, alicerçados na matriz cristã desde o início da nossa pátria, que vivemos e queremos viver, ou seja, sem rancor, sem ressentimento, mas aceitando e dando a mão àqueles que tendo-nos combatido podem precisar de nós, como nós seguramente também precisamos deles.
A paz com o passado não se faz pelo esquecimento, mas sim com a aprendizagem de um caminho de reconciliação, que leva sempre ao melhor dos dons que Deus deu ao homem: o amor.
E disso temos as provas de todos aqueles que, tendo sofrido pelas picadas e matas da Guiné as agruras terríveis da guerra, agora lá voltam para se reencontrarem e sobretudo para ajudarem um povo que sempre nos recebeu de braços abertos e tanto precisa da nossa desinteressada ajuda.
Outro tanto se poderá dizer daqueles que vão a Angola ou Moçambique com as mesmas intenções.
É que viver para o amor, pacifica e constrói.
Viver para o rancor e o ressentimento, violenta e destrói. É como um veneno que mata lentamente a alegria de viver.
Por isso, nesta Capela e neste dia, damos graças a Deus por ter enformado os Portugueses no Seu amor, para o amor.
Muito obrigado Padre Manuel Henrique por ter acedido de pronto ao meu pedido para presidir à celebração connosco desta Eucaristia.
Afinal, é uma Missa celebrada por ex-militares combatentes, presidida por um Capelão Militar no activo.
Obrigado a todos.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de JUnho de 1013 > Guiné 63/74 - P11712: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte V): Colocámos nas intenções da missa celebrada pelo capelão militar Manuel Henrique, para além daqueles que foram nossos camaradas de armas falecidos durante a guerra de África, também aqueles que faleceram combatendo do outro lado da guerra (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P11712: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte V): Manuel Luís Lomba, autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (edição, de 2012, Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos) e outros camaradas e amigos que nos honraram com a sua presença


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O João Marcelino (Lourinhã) e o Manuel Vaz (Póvoa de Varzim)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Da esquerda para a direita, o Tó Zé (Pereira da Costa, a Maria João e o marido, Jorge Araújo.



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  O João e a Celestina Sesifredo, do Redondo... O João foi 1º Cabo no Pel Nat Caç 52, no Mato Cão, no tempo do Joaquim Mexia Alves.. Já o convidámos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Manuel Luís Lomba e o filho, Luís Manuel, que vieram de Faria, Barcelos. O Manuel Luís Lomba é autor do livro, "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu". A edição, de 2012, é de Terras de Faria Lda, Faria, Barcelos (341 pp.)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio >  Diamantino Varrasquinho e a mulher Maria José,  de Ervidel, Aljustrel... "Foi 'meu' Furriel no 52 no Mato Cão", acrescenta o Joaquim Mexia Alves.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A família do António Santos (Caneças / Odivelas): na foto só aparece a Graciela, mais a filha, o genro e as netas. Três gerações!


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > A Margarida Peixoto (à esquerda), que veio de Penafiel (mais o Joaquim); e a Joaquina Carmelita, esposa do nosso camarada Manuel Carmelita (Vila do Conde).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O Ernestinmo Caniço, ao centro, comandante do Pel Rec Daimler 2208; à sua direita, o António Proença e à sua esquerda esquerda o Carlos Pinto.


 Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > O "alfero Cabral", em grande plano; em plano secundário, a filha do António Santos e o marido.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Diz o Josema (Zé Manuel Lopes) para o Zé Manuel Cancela: "Sabes, estou cansado de fazer vinhos de cinco estrelas e não ter mercado para os escoar... Trouxe o carro cheio e levo-o meio cheio, de volta... Ficam aqui os meus contactos, para quem ainda não conhece o Pedro Milanos da Quinta Sra da Graça, da região demarcada do Douro: Quinta Senhora da Graça - S. João de Lobrigos, 5030 429 Santa Marta de Penaguião, telem. 916 651 639".

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11711: FAP (72): Eu, periquito, me confesso... (António Martins de Matos, ex- ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

1. Mensagem de ontem do nosso camarada António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, atualmente ten gen pilav ref

Eu periquito me confesso
por António Martins de Matos

Disse o Luís Graça no seu discurso de boas-vindas do nosso último encontro [, em Monte Real, 8 de junho passado,] que tínhamos no nosso convívio uma série de novos periquitos.

Sinal de vitalidade, alguns dos novos a chegarem, só que não ouvi os habituais PIUs, tão característicos da recepção aos maçaricos por aquelas terras onde andámos. 

Sinal de velhice?

Alzheimer?

Estarei a ficar surdo?

É certo que já somos todos sessentões mas que diabo, um periquito é um periquito e, por mais airoso que seja, … tem de ser devidamente enquadrado. Este pensamento levou-me a recordar os meus tempos de Periquito na Guiné.

Eu, tenente piloto aviador dos jactos, embarquei para a minha comissão num DC-6, no Figo Maduro e na madrugada de 10 de Maio de 1972.

Algo que muitos teimam em não reconhecer mas que vem descrito nos compêndios da especialidade, uma guerra de guerrilha nunca se ganha nem se perde pela via militar, só termina com uma decisão política, (esperem um pouco, esta verdade vai mais uma vez ser confirmada no Afeganistão de 2013), estava absolutamente convencido que faria mais comissões, razão pela qual e podendo ter sido nomeado para Luanda me tinha oferecido para a Guiné, a ideia era começar pelo pior, depois logo se veria…

O voo foi sem história, até já conhecia a África das areias, só que, ao abrirem a porta do DC6..., cum caneco!, o calor e cheiro à África dos trópicos a entrarem-me pelas narinas.

Alguém me tinha ido esperar ao Terminal e logo me conduziu ao meu novo local de trabalho, o Grupo Operacional 12 e Esquadra 121 da Base, à chegada ouvi um ou outro PIU, nem sabia o que isso era.

Apresentações feitas às Entidades competentes e logo me deram um alojamento na Base, uns 9m2, uma cama de ferro, uns caixotes pintados de branco a fazerem de prateleiras tipo Móveis 3K e uma ventoinha que fazia um barulho semelhante a uma batedeira de bolos e que motivou a minha primeira decisão em terras africanas, comprar em Bissau e na “Casa Pintosinho” uma nova e silenciosa ventoinha que me deixasse dormir.

No dia seguinte à chegada lá vesti o meu fato de voo, emblema dos Falcões bem visível “à cause des mouches”, apresentei-me no Grupo 12, só aí é que percebi que aqueles PIUs insistentes que ia ouvindo me eram destinados !!!!

Piloto dos jactos, reacções rápidas, logo tentei cortar o mal pela raiz, apontei a um Furriel que acabara de “Piar”, o homem assustou-se quando viu um Tenente a vir na sua direcção, ao chegar ao pé dele perguntei-lhe algo que nada tinha a ver com a situação... Nunca mais houve PIUs e … fiz um amigo.

Mas sejamos claros e aqui que ninguém nos ouve, todo e qualquer militar que chegasse à Guiné, independentemente dos PIUs e correlativos e até ficar completamente à vontade naquelas terras (e ares), era um completo…Periquito.

A adaptação não era só em relação à guerra mas sim a tudo o que o rodeava, até mesmo o andar por Bissau era também algo de “misterioso e preocupante”, nos primeiros dias até fui armado com uma Walter PPK, sabia lá se havia algum turra à porta do Pelicano ou do Solar do Dez?

E, falando do Pelicano, dizia-me um piloto velho: “ Vamos comer uns Ninhos”?... Ninhos? Que raio de porcaria seria essa?

E uma ida às ostras? Eu até gostava do marisco, estava habituado a comer um prato delas (6) ali para os lados da Solmar ou da Portugália, abertas e com gelo, o susto que apanhei quando me puseram à frente um facalhão e uma travessa a fumegar cheia de pedras, tive que aprender como se comiam aqueles conglomerados.

Muitas outras coisas me foram sendo ensinadas pelos velhos, o uso do Lion Brand, não beber água da torneira, as pastilhas de sal e de quinino, as diferenças entre a bagaceira, o brandy e o whisky...

O ser periquito também tinha algumas vantagens, observava-se o ambiente sem ideias pre-concebidas ou segundas intenções, logo ao segundo dia constatei que o PAIGC podia terminar a guerra de um dia para o outro, bastava dar uma bazokada na carrinha dos pilotos que todos os dias seguia às 19:00 para Bissau e regressava às 21:00, de um só golpe acabavam com a acção da FAP.

Periquito mas não parvo, de imediato e apesar de não ter a respectiva carta de condução, comprei uma moto, uma Yamaha 200, linda de morrer, 16 notas da Metrópole, lá no meio do escuro da estrada Bissau-Bissalanca até podia ser comido por uma jibóia mas bazokada é que não me acertava.

Ao terceiro dia de comissão estreei-me a dormir no mato, em Pirada, algo que a maior parte dos velhos nunca tinham feito, claro que não disse aos FTs locais que era um PIRA acabado de chegar….nem eles me perguntaram, estavam preocupados com a situação do momento já que o comerciante local (Mário Soares de seu nome, nada a ver com o outro) se tinha ausentado, quando ele se ausentava era sinal divino e misterioso que podiam “embrulhar”, felizmente nessa noite nada aconteceu.

Depois foi o aprender a voar DO-27, “só podes levar 350 kg de carga”, logo a pergunta confusa mas pertinente do PIRA: “Há balanças no mato? Como é que peso a carga?”

“Não pesas, como regra e por cada passageiro contabilizas 70kg, podes levar 5, ou então 4 e umas malas, ou...vais fazendo as contas, se forem fusos e como na Marinha comem bem melhor que nos restantes quartéis, fazes 90 kg por cabeça".

"Antes de descolar e já que algum pessoal julga que um avião é parecido com uma Berliet, tens sempre de voltar a contar as cabeças não vá aparecer-te um passageiro clandestino”.

A minha primeira missão operacional de DO-27 foi levar 4 belos Coronéis de Bissau a Tite e Fulacunda, os seus temores ao constatarem que estavam na presença de um PIRA Aviador, apenas descolados de Tite e não fosse o PIRA perder-se, já todos apontavam com o dedo a direcção de Fulacunda, melhor sistema de navegação não podia existir.

A minha aprendizagem durou algum tempo, queixavam-se os do Exército que iam mal preparados para o Ultramar, a primeira vez que larguei uma bomba real foi… na Guiné, até essa data apenas tinha largado bombas de treino (e esta, heim?).

As primeiras impressões de voo na Guiné também foram estranhas, não se enxergava um palmo diante do nariz pelo que me parecia estar a voar num grande território, era o final da época seca, logo vieram as chuvas e fiquei com a ideia que o território tinha encolhido. E depois havia alguns temas que me faziam sentir um autêntico PIRA, em termos de reconhecimento do terreno não conseguia ver nada do que os pilotos mais batidos viam, eles bem se esforçavam por me mostrar o que estava por baixo da floresta mas os meus olhos não conseguiam focar para além da copa das árvores, era tudo verde, o resto ficava difuso.

Só quando passados alguns meses e na área do Morés finalmente consegui enxergar umas palhotas dissimuladas no meio da floresta, então sim, dei o treino por terminado, tinha deixado de ser PIRA e entrado directamente para a categoria de Velho.

Para o final da comissão todo o pessoal mais antigo acabava por ter uma nova tarefa, acolher os novos PIRAS, tentar tirar-lhes as dúvidas e receios, transmitindo-lhes um pouco da experiência acumulada, o circulo a completar-se.

E, como tudo na vida, se a maior parte dos PIRAS lá ia assimilando os conselhos dos mais velhos, também havia aqueles que, por razões desconhecidas, chegavam dizendo já saberem tudo de tudo… nunca seriam PIRAs!

Foram esses que identificaram bases de morteiro onde só havia… eiras de arroz!

Também foram esses que, em grande alvoroço, identificaram marcas de blindados anfíbios a saírem do rio Cacheu.

A observação posterior de um velho concluiu que, a ser um blindado tinha de ser do tipo bicicleta, já que havia apenas um “rodado”.

Mais tarde e depois de grande azáfama concluiu-se que o “rodado” pertencia às marcas que um crocodilo tinha deixado ao sair do rio em direcção à margem.

Passou a ser conhecido como “O Crocodilo”.

Há muitos anos que a guerra terminou…

O tempo foi passando…

Já não há ninguém que me ensine…

Tenho saudades de ser PIRA
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11703: FAP (71): O AL III faz 50 anos de operação e eu gostaria de saber como se fazia a Instrução da sua pilotagem na época (Fernando Leitão, ten cor pilav, Área de Ensino Específico da Força Aérea, Instituto de Estudos Superiores Militares) 

sábado, 15 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11710: Blogpoesia (345): Estou vivo (Ernesto Duarte)



1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67) com data de 27 de Maio de 2013:

Cumprimentando todos os meus amigos do blogue
Cumprimentando todos os meus ex-camaradas
Eu atrevo-me a escrever duas linhas
Para dizer que estou vivo
E sempre revoltado, contra a fórmula deste mundo
Eu não sou nada
Eu não sou ninguém
Estou cansado
Muito cansado
Estou intranquilo, algo me incomoda
Morro de saudades do que vivi
Morro de saudades do que não vivi
Quero olhar só a beleza das rosas,
Mas só vejo figuras desuni formes, medonhas
Ou talvez sejam políticos
Metem medo, suas fisionomias quadradas
Fazem lembrar portas de crematórios
Que em resultado das novas tecnologias e redução de custos
Só passarão a aceitar utentes que se desloquem pelos seus meios
São sempre escuros como as longas noites de temporal
Até os relâmpagos são escuros,
As estrelas são escuras
Não iluminam a noite, queimam a noite
No meio dessas figuras desuni formes medonhos
A minha serra chama por mim
Eu parto
O passo é incerto, por caminho duro e pedregoso
Sofro da bebedeira da idade
E da falta de força por muito ter andado
Deixo para trás casas conhecidas, com gente estranha
Tudo mudou, eu mudei
No meu olhar não consigo ver a beleza das rosas
Só vejo os seus bicos enormes
Aliados ás figuras medonhas,
Ás figuras de morte
Continuo a andar
O passo é cada vez mais incerto, mais lento, já é trôpego
É já com muita dificuldade que continuo a subir a minha serra
Já não tem pássaros
Só tem insectos
Insectos enormes, alimentam-se de restos humanos
A velha fonte já não existe
A pedra que servia outrora de banco, está lá e ri-se
A árvore enorme em sua frente de quem tinha ciúmes
As pessoas sentavam-se mais pela sombra, do que pelo conforto do assento
Está moribunda
Tem muitos braços já mortos
Os poucos que ainda tem estão quase sem folhas
O cenário já não é alegre, é triste
É triste como eu e tudo ali é um cenário fúnebre
Não passa ninguém
Está deserto
Há muitos anos atrás sentava-me ali e pensava
Sentava-me ali e pensava que ia partir
Que mais amanhã mais depois ia partir para o Ultramar
Se não voltasse quantas saudades iria ter de aquele sitio
Como eram dolorosos esses pensares
Tocaram-me balas na pele
Vi muita violência, desnecessária
Toda a violência é desnecessária
Vi muito sofrimento
Vi muito sangue
Vi muita lágrima derramada
Chegou a abençoada hora do regresso
E eu acreditei no mundo melhor
Vibrei com os grandes inventos para o bem da humanidade
Vibrei com todas as máquinas que iam aparecendo
Para tirar o trabalho ao homem
Estava já muito esquecido o sofrimento dos outros tempos
E aquela terra amada e odiada lá ia
Mas hoje aqui sentado na minha pedra
Onde foi meu cenário de sonho e esperanças
Eu trémulo, mas hei-de vender o último suspiro
Eu digo outra vez com os olhos rasos de lágrimas e cheios de saudade
Deixando um cumprimento fraterno a todos os camaradas
A todos os camaradas e amigos
Quarenta e muitos anos depois ai estamos
Digo a alegria de voltar não tem descrição
É indescritível, só quem a viveu, a pode entender
Mas aquela parte em que deveríamos ter contribuído para um mundo melhor
Onde ficou
Toda a tecnologia que vimos nascer
E que acarinhamos
Penso que não correspondeu às expectativas
De povos carentes e com dificuldades
Penso que a nós, a muitos de nós particularmente já mais perto do fim
Levamos um pontapé dado com outra bota talvez,
Mas da mesma grandeza daquele
Que levamos já há muitos anos atrás
Oxalá que seja eu que estou num mau observatório
E estou a ver tudo errado.

Ernesto Duarte
Mansabá 
Mores – Oio

Foto: Natura Algarve, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11691: Blogpoesia (345): War is over, baby [ A guerra acabou, querida] (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11709: Memória dos lugares (235): Cobumba e a trágica realidade das minas (António Eduardo Ferreira)

1. Em mensagem do dia 30 de Abril de 2013, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) enviou-nos três fotos que retratam a trágica realidade que foram as minas anticarro e antipessoais.

Camarada e amigo Carlos
Recebe um abraço e votos de boa saúde.

Hoje decidi enviar fotos de três das quatro viaturas que a nossa companhia levou para Cobumba, todas foram destruídas por minas.

Viatura Berliet 

Era conduzida pelo condutor José de Sousa, uma vez mais a “sorte esteve com ele”, foi a segunda que lhe calhou, a primeira tinha sido em Mansambo, de ambas saiu ileso, se da primeira vez houve feridos graves, um colega ficou sem um pé, o furriel Ferreira, desta vez ia acompanhado só por um cozinheiro. Foram os dois pelos ares assim como o recipiente onde levavam o café para dois pelotões da nossa companhia que estavam a cerca de quatrocentos metros da cozinha, mas ficaram-se pelo susto, que não terá sido pequeno.

Berliet 

Era conduzida pelo furriel mecânico, havia chegado há poucas horas de férias da metrópole, também sofreu “apenas” o susto, talvez tenha percebido ali, porque nós em Mansambo queríamos tanto pôr sacos com terra, ou areia, debaixo dos assentos e ele não deixou…

Unimog 404 

Resultaram feridos graves, entre eles, o popular periquito, o condutor não sofreu consequências físicas. Nesta foto ao fundo, podem ver-se algumas casas que a nossa companhia andava a construir para a população de Cobumba.

Para a coleção falta a viatura nº4, Unimog 404 também destruída por uma mina, entretanto foi reparada e voltou ao serviço.
Imagens que a esta distância no tempo ainda causam calafrios a muitos de nós, mas foi uma realidade com que a maioria daqueles que passaram pela Guiné teve que conviver.

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11594: Memória dos lugares (234): Bassarel, na zona de acção do CAOP-1 (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P11708: Humor de caserna (35): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (8): T-shirt das pretas

1. Em mensagem do dia 18 de Maio de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador... "T-shirt das pretas".




Seguindo o ditado que diz:
- Vale mais uma boa foto, do que mil palavras!

O Cifra, hoje vai dirigir-se, não só aos amigos antigos combatentes, mas também às pessoas que não acreditam no que lhe dizem, aquelas que andam sempre desconfiadas, que só o que vêm é que é verdade, como se explicou no princípio, vale mais uma boa foto do que mil palavras, portanto vamos primeiro “falar a tal mentira”, que é todo aquele blá, blá, blá que diz que, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão dizer, com toda a certeza:
- The history of sweatshirts, or “T shirts” of Lola has to be true!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- L’histoire des pulls molletonnés, des chemises ou “T” de Lola doit être vrai!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Die Geschichte des Sweatshirts oder “T-Shirts” von Lola muss wahr sein!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- La historia de las camisetas, o “camisetas” de Lola tiene que ser verdad!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:


Perceberam? Não? Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu, pois tem alguma dificuldade em pronunciar, os pontos e as vírgulas!

E nós portugueses, dizemos:
- A história das camisolas, ou “T shirts” da Lola, tem que ser verdadeira!

Sim é verdade, o senhor Aniceto quando era novo, percorreu todas aquelas savanas e bolanhas da Guiné, sempre de G3 em posição de tiro, carregado de granadas, às vezes sem comer, e com o camuflado roto e todo molhado, claro, na altura não lhe fazia grande diferença, mas hoje o reumatismo e não só, não lhe dão descanso e tem que visitar o doutor mais vezes do que o normal. Numa dessas visitas, a Lola, a empregada do doutor que está a atender as pessoas, depois de lhe dar os bons dias, com todas aquelas perguntas de “chacha”, que é normal as empregadas de doutor fazerem sempre que se vai a uma consulta, diz-lhe, assim com um ar “malandrote”, pois era verão e o senhor Aniceto ia vestido com o seu inseparável casaco comprido, gravata e chapéu na cabeça:
- Senhor Aniceto, estão a vender camisolas, daquelas “T shirts”, na loja das miudezas, vendem 6 por 1 euro!


Ele logo respondeu, depois de tossir, pois andava com um certo piarro na garganta:
- Isso é mentira!

Claro, a Lola que também trabalhava umas horas ao sábado, na loja de miudezas, que era uma espécie de armazém, daqueles antigos, que ainda vendia pano riscado e flanela à peça, assim como botões, rendas e “ritrós”, que as senhoras com menos posses ainda compravam para colocarem nas suas roupas interiores, sabia que os patrões tinham recebido uma grande encomenda dos “chineses”, de camisolas, ou seja as ditas “T shirts”, em todas as cores e que agora vendiam em saldo. Algumas pessoas até lá iam e compravam em quantidades industriais, para depois colocarem nas ditas “T shirts”, desenhos e legendas, como por exemplo, “Sou boa, mas não voo”, ou colocavam a fotografia de alguns políticos e depois a legenda, “não preciso de sexo, pois este gajo, fo.... todos os dias, com a subida de impostos”, ou mesmo até legendas como esta, “são lindas e grandes, mas ainda não estão maduras, portanto não as podes comer”, enfim toda a espécie de legendas que às vezes até provocavam as pessoas.

Vai daí, pensou e zás, ao outro dia, que era domingo, quando o senhor Aniceto estava com o genro a fazer horas para o almoço, sentado no banco do jardim a ler as últimas que vinham no jornal desportivo que tinha trazido do café da esquina, ela a Lola, passa por lá abre o casaco fino, pois era verão e mostralhe a “T shirt”, que por sinal era das pretas.


O senhor Aniceto ficou aí a saber que era verdade.
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11588: Humor de caserna (34): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (7): Era bom que fôssemos todos vivos passados que são 50 anos

Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)

1. Mais um história do alfero Cabral [, foto à esquerda no Xime, junto a uma LDG]... Como sempre, com subtil ironia e com uma lição moral no "mural"  ao fundo... Obrigado, alfero. Que os velhos irãs de Fá e de Missirá te paguem, nesta vida, já que na outra, dizem,  não há fiados...

Da Praia da Areia Branca,  aproveitando a liberdade de navegar à borla na Net, com um xicoração, extensível à tua amiga e ex-aluna Anabela Martins, que foi muita querida mandando-nos, pelo correio, mais duas "estórias cabralianas"...

 2. Estórias cabralianas (78) > A Justiça da Velha Mandinga

por Jorge Cabral

Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias.

Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola.

Na véspera da minha partida de licença, ao fazer a mala, dei por falta do boneco, pelo que comprei outro em Bissau. Vim, voltei e nunca mais me lembrei do assunto.

Quase um ano depois, andava eu a fazer as despedidas na Tabanca de Fá Mandinga, pois ía para Missirá, vi o boneco nas costas de uma miúda, bem preso com um pano, como se fosse um verdadeieo bébé.

Eu vi e uma velha viu que eu vi. Claro que não disse nada. A bajudinha ía tão feliz...

No dia seguinte chamaram-me à Porta de Armas. Uma mulher grande,  muito velha queria falar com o Alfero. Vinha trazer-me um belo cabrito... que comemos ao jantar.

À mesa o Cabo Freitas comentou:
 – Agora que vamos embora é que nos dão cabritos. Isto é gente maluca, meu Alferes!...

Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P11706: Os nossos médicos (48): O BCAÇ 1887 (1966/68) tinham três médicos, mas a minha CCAÇ 1546 não chegou a ter nenhum em permanência... Um deles era o dr.João Gomes Pedro, mais tarde ilustre pediatra no Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Domingos Gonçalves)


 1. Mensagem de Domingos Gonçalves (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68),


Data: 14 de Junho de 2013 às 16:15

Assunto: Médicos

Prezado Luís Graça:

Saúde para ti, e familiares.

Sobre os médicos militares envio-te a seguinte informação, que poderás utilizar, caso o entendas conveniente:

(i) O meu batalhão, o BCAÇ 1887,  tinha três médicos.

(ii) A minha companhia, a  CCAÇ 1546 não chegou a ter, em permanência, qualquer médico, embora um dos três, no papel, lhe estivesse ligado.

(iii) Logo no início da comissão, durante os cerca de quinze dias que permaneci em Buruntuma, convivi com o médico da companhia lá estacionada. Chamava-se Dr. Reis. O nome completo nunca o soube. Era natural da zona de Setúbal, e penso que,  antes da incorporação no exército, era cirurgião. Era um profissional competente, e uma pessoa de muito bom feitio. Tinha, já, uma certa idade.

(iv) Em Nova Lamego convivi com o médico do batalhão lá estacionado, Dr. Sampaio e Melo. Penso que na altura era clínico geral. Mais tarde foi oftalmologista no Hospital de Santo António, no Porto.

(v) Em Fá tive contactos muito esporádicos com o médico colocado no BCAÇ 1888 (?). Não lhe recordo o nome, nem a especialidade. Era um jovem profissional competente e frontal.

(vi) Os três médicos pertencentes ao batalhão a que pertenci eram os seguintes: (a) Dr. João C. Gomes Pedro. Penso que na altura era, ainda, clínico geral. Foi, quando passou à vida civil, - e continua a ser -, um insígne professor de pediatra [no Hospital de Santa Maria e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa]. Como pessoa, apenas posso referir que era um homem excepcional. (b) Os outros dois médicos chamavam-se: Carlos Alberto, um, e Adão, outro.

(vii) As condições em que trabalhavam eram precárias, quer no que respeita a instalações, quer no que respeita a medicamentos, ou outro material médico. Regra geral, mesmo não sendo santos, às vezes conseguiam fazer milagres. Num relatório sobre diversas matérias, o comandante do batalhão a que pertenci, queixava-se." No Serviço de Saúde há grandes atrasos na recepção dos medicamentos, e o não fornecimento de vários produtos requisitados, o que perturba o fornecimento da assistência, que é ainda prejudicada pelas deficientes instalações dos postos de saúde."

(viii) Os médicos militares davam, também, a assistência possível, ás populações civis.

(ix) Pessoalmente, fui um felizardo, nunca necessitei,
naqueles tempos, de recorrer à prestação de
cuidados médicos.

(x) Já que estou a falar de médicos, faço também referência a um médico civil, que trabalhava em Bafatá, onde residia com a esposa, e restante família. Era natural de Goa, e o nome, que era indiano, e portanto mais difícil de pronunciar, escapou-se-me da memória. Era funcionário do Estado.

Com um abraço amigo, e votos de amplo desenvolvimento para o Blogue,

Domingos gonçalves.
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