segunda-feira, 2 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13227: Camaradas da diáspora (9): Júlo Abreu, dos comandos do CTIG (Brá, 1964/66) à KLM, na Holanda, onde trabalhou 38 anos... Vem ao nosso IX Encontro Nacional, em Monte Real, dia 14

1. Júlio [Costa] Abreu, ex-1º cabo radiomontador do BCAÇ 506 (Bafatá) e ex-1º cabo comando, chefe da 2.ª equipa do grupo de comandos "Centuriões" (Brá, 1964/66) [, foto à direita, no seu quarto, em Brá]

Reformado da KML, vive na Holanda. Vai estar connosco no nosso convívio anual em Monte Real, dia 14 do corrente

Eis alguns dados do seu currículo:

(i) Data de nascimento: 30 julho 1942;

(ii) Signo: Leão:

(iii) Em maio de 1963 foi colocado na Escola Militar de Electromecânica para tirar o curso de Radiomontador;

(iv) Depois do curso, foi colocado no RI 2, em Abrantes, tendo sido mobilizado em rendição individual para o BCAÇ 506, estacionado em Bafatá;

(v) Chegou à Guiné em 17/1/1964, tendo sido pouco tempo depois transferido para as Oficinas Gerais do Batalhão de Transmissões no Quartel General em Bissau;

(vi) Devido ao seu espirito de aventura, resolve oferecer-se para os primeiros grupos de Comandos que se iriam formar na Guiné;

(vii) Frequentou o Curso de Comandos, tendo sido destinado ao Grupo Centuriões do Alf mil cmd Luís Rainha;

Júlio da Costa Abreu
(viii) Foi nomeado chefe da 2ª Equipa deste Grupo de Comandos;

(ix) Quando terminou a comissão de serviço, resolve ficar na Guiné, como técnico de rádio;

(x) Prestou assistência nos CTT às comunicações UHF para os telefones no interior da Guiné, tendo-me deslocado com frequência a Mansoa, Bafatá, Bambadinca e Bijagós;

(xi) Ao fim de uns anos resolve voltar a Portugal Continental, tendo trabalhado para o representante da J.V.C. e Ferguson;

(xii) No entanto como depois do à-vontade da vida livre da Guiné, não se sentia bem em Portugal e resolve emigrar para a Holanda aonde ainda hoje se encontra;

(xiii) Trabalhou como Técnico de Electrónica durante 38 anos na Companhia de Aviação Holandesa KLM da qual está presentemente reformado:

(xiv) Com o Luís Rainha e o João Parreira, fundou, em 27 de abril de 2010, o blogue Comandos da Guiné 1964-1966, de que é também coeditor;

(xv) Faz parte Tabanca Grande desde 23 de maio de 2008.  


Guiné > Bissau > Finais de 1965 > Numa esplanada da capital (Hotel Portugal?), da esquerda para a direita, Júlio Abreu (1º cabo), Virgínio Briote (alf mil) e Toni Ramalho (alf mil, mais tarde médico no Porto).

Fotos (e legendas):  © Júio Abreu (2008). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]

Guiné 63/74 - P13226:Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XV): Uma grande fotografia que representa o epílogo da minha passagem pela guerra






Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > Rua principal da povoação... O Valdemar com miúdos, filhos de soldados da CART 11.

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Mensagem de Valdemar Queiroz:

Data: 1 de Junho de 2014 às 22:49
Assunto: Uma grande fotografia que representa o meu epílogo na Guiné


Caro Luís Graça:

Esta grande fotografia é,  para mim,  o meu epílogo da passagem pela guerra na Guiné.

Com excepção de um ataque de misseis a Nova Lamego, eu nunca tive contacto directo ou com a acção de combate, ou ataques a aquartelamentos.

Eu tive muita sorte, mas é verdade. Eu nunca dei um tiro, a não ser a alguma rola.

Não quero dizer, com isto, que eu não fizesse muitas operações  ou de que a nossa CART 11 não tivesse problemas em combate, que os teve e graves, mas eu o ex-fur.mil Valdemar Queiroz, por várias razões ou por sorte, nunca os tive, ....mas a  guerra não é só feita de  combates e eu estive lá.

Esta fotografia retrata bem o que para mim foi (enganosamente) um epílogo de guerra: uma  tabanca sossegada, sem o mínimo vestígio de violências, eu em trajos civis passeando com crianças alegres (as crianças eram filhos dos nossos soldados e tinhamos acabado de jogar à bola).

Foi a minha última fotografia  tirada na Guiné, se calhar foi a primeira daquelas crianças na rua principal em Guiro Iero Bocari.

INESQUECIVEL!

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13225: Notas de leitura (596): "História - A Guiné e as ilhas de Cabo Verde", edição do PAIGC com o patrocínio da UNESCO (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2013:

Queridos amigos,
Tenho a sorte e a fortuna do meu lado nas escavações na Feira da Ladra, desta feita a edição francesa, patrocinada pela UNESCO, de um manual do PAIGC que não identifica os autores mas que são seguramente vários.
Há para ali um estudo seguro da história africana e não menos seguro da colonização portuguesa da Guiné. Intervieram plumitivos de costela marxista, por tudo e por nada há a exaltação da Revolução de Outubro, até parece que a luta do PAIGC era uma das suas gloriosas projeções.
Teria sido possível elaborar um quadro de propaganda sem chegar a erros tão grosseiros como os 900 militares portugueses mortos na batalha de Como. Só que a História não pode iludir todos estes documentos onde se peca por falta de rigor histórico.

Um abraço do
Mário


História: A Guiné e as Ilhas de Cabo Verde

Beja Santos

Trata-se de uma raridade, uma edição do PAIGC graças à ajuda financeira da UNESCO, Paris, 1974. Pouco depois, a Afrontamento procedia à edição portuguesa, com ligeiras modificações.

Não se sabe quem coordenou o documento, seguramente intervieram conhecedores da história de África, investigadores marxistas e dirigentes políticos do PAIGC. Diga-se em abono da verdade que entre a pré-história de África até à chegada da colonização europeia o livro comporta informação inequivocamente irrelevante, a despeito de algumas pinceladas de inverdades. O leitor interessado (será que os guineenses chegaram a ter acesso, após 1974, a este livro brandido como profissão de fé e bilhete de identidade da Guiné-Bissau?) encontrará no texto um bom resumo do começo do período histórico em África e a emergência do islamismo, segue-se o império do Mali, que dominava todo o sul do rio Níger, até à África Ocidental, do Senegal ao rio Geba, a África dos fins da Idade Média, com destaque para o império do Songhay. Segue-se o meio geográfico das ilhas de Cabo Verde e da Guiné, temos depois comentários ao povoamento cabo-verdiano e aqui começa a propaganda: “Os colonialistas portugueses tentaram opor os cabo-verdianos aos africanos do continente, da mesma forma que eles tentaram opor os africanos de várias etnias entre si. Mas os cabo-verdianos adquiriram consciência da sua condição de africanos e da comunidade de interesses que os une aos africanos do continente; eles adquiriram consciência de que pertencem à mesma comunidade, explorados e reduzidos à miséria pelos colonialistas portugueses; eles uniram-se aos seus irmãos da Guiné (terra de onde os portugueses deportaram os seus avós), pela luta contra o colonialismo português, sob a direção do PAIGC, que foi criada em 1956 por guineenses e cabo-verdianos”.

Ainda na sequência deste percurso histórico africano, temos as origens dos reinos mandingas da Guiné, o apogeu do Gabú (séculos XVI-XVIII) onde se relata que os Mandingas, vindos do Mali, estabeleceram-se na Guiné (sobretudo no que é hoje a região do Gabu) no século XIII. Até ao princípio do século XVI, a autoridade do imperador do Mali exercia-se sobre toda a Guiné, por intermédio dos seus governadores, Mansas e Farins. Depois da queda do império, as províncias tornaram-se reinos independentes. O Gabú irá perder a sua independência com a conquista Fula de 1867. Tem igual interesse a descrição histórica dos povos do litoral e as suas migrações, admitindo-se que ainda há muito para investigar sobre os povos do litoral da Guiné, embora seja um dado assente que no século XV, no momento da chegada dos portugueses, eles viviam praticamente já nestas regiões.

Por grandeza de importância histórica, o texto releva a importância da chegada dos Fulas que terão vindo provavelmente do Vale do Nilo, a aridez do Sará obrigou-os a espalharem-se mais para o Sul. De acordo com a tradição e as crónicas de Tombuctu, um grande conquistador, Coli Tenguela apoderou-se do norte do Futa-Djalon e venceu os Mandingas sem destruir os seus Estados, fundou o reino do Futa-Toro. Data desta época a instalação dos primeiros Fulas e Fulacundas na Guiné (fins do século XV e princípios do século XVI).

O relato africano suspende-se aqui para os autores da obra fazerem emergir os europeus em África e o seu comércio, destacando o sistema dos entrepostos comerciais localizados no litoral, era aqui que se processava o tráfico negreiro.

Regressando à história africana, os autores explanam o comércio de escravos, o desaparecimento dos grandes Estados africanos, o Império Songhay foi destruído pelos marroquinos. É num contexto de apagamento que emergem os Fulas e trazem o proselitismo islâmico. Assim se chegou ao século XIX que vê chegar o termo do sistema colonial tradicional, uma plêiade de exploradores atravessa África em todas as direções, recorde-se que o interior do continente era praticamente desconhecido dos europeus, graças a essas explorações as grandes potências consolidaram as suas posições na costa africana e fizeram tremer a presença portuguesa. Assim se iniciou a conquista territorial, imperativo decorrente da Conferência de Berlim, não havia unidade nacional africana, não era possível oferecer resistência aos exércitos coloniais. E os autores centram-se na nova colonização portuguesa na Guiné, a substituição por comércio de produtos locais do que fora o comércio de escravos: óleo de palma e coconote, amendoim, borracha, entre outros. O século XIX foi inequivocamente um século de vegetação económica para a Guiné, nem a Convenção Luso-Francesa lhe pôs termo. Ainda se tentou uma companhia majestática, a ideia não vingou, só no século XX é que se impuseram empresas como a CUF. Nos capítulos subsequentes, os autores falam da resistência à colonização portuguesa e depois caraterizam o sistema colonial português. Tomando à letra a cartilha soviética, os autores realçam a revolução russa e os abalos no sistema imperialista, segue-se a II Guerra Mundial e os autores encontram uma relação de causa-efeito entre a extensão do sistema socialista e o afundamento do sistema colonial do imperialismo.


Estamos chegados aos movimentos de libertação africanos, apresenta-se o PAIGC como partido democrático, progressista, anticolonialista e anti-imperialista. Anuncia-se que dois terços do território nacional já tinham sido libertados pelo PAIGC e ilustram-se as fases da luta-armada na Guiné. Em termos de organização económica, dá-se como fundamental a destruição da estrutura económica colonialista e a criação de novas bases económicas nas regiões libertadas da Guiné, onde se aboliu a moeda portuguesa. A escrita agora passou para as mãos de um marxista duro e puro que explana sobre o futuro da humanidade e as forças anti-imperialistas do mundo, a referência são os Estados socialistas e a gloriosa Revolução de Outubro. Caminhando para o termo deste compêndio, dá-se um retrato de Amílcar Cabral e por último temos a proclamação da República.

Nos entretantos, escrevem-se dislates como os 900 mortos que os portugueses teriam sofrido na batalha do Como, a libertação de 60 % do território da Guiné em 1966 e as dezenas de aquartelamentos capturados. Enquanto isto se passa na Guiné, em Cabo Verde afirma-se que a situação política estava radicalizada: revolta dos camponeses de Santo Antão, greves dos estudantes liceais em S. Vicente, greve dos doqueiros, adesão crescente dos cabo-verdianos aos ideais do PAIGC. “As condições amadurecem a passos largos em Cabo Verde para a passagem a uma fase superior da luta. A situação de fome em que vive Cabo Verde é mais um elemento desfavorável para os colonialistas portugueses, incapazes de a resolver, e que atua favoravelmente a uma tomada de consciência das massas em relação ao verdadeiro caráter da dominação colonial portuguesa”.

Uma história que fica para a história e é pena que não se retome desta obra ideias substantivas sobre a história de África, conquanto os conhecimentos se tenham vindo a desenvolver e se sabe mais sobre o passado remoto do continente africano e sobretudo daquele espaço ocidental de onde emergiu a Guiné.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13214: Notas de leitura (595): "O Corredor da Morte", pelo nosso camarada e tertuliano Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13224: Parabéns a você (743): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13218: Parabéns a você (742): Nos meus 69 anos, com imensa alegria, ofereço-vos uns extratos de um livro que tenho em preparação, “O Fedelho Exuberante” (Mário Beja Santos)

domingo, 1 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13223: Os nossos seres, saberes e lazeres (71): O Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes visitou o Comando da Zona Marítima do Norte, instalado em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)



VISITA AO COMANDO DA ZONA MARÍTIMA DO NORTE
LEÇA DA PALMEIRA

No passado dia 17 de Maio de 2014, integrado nas comemorações do Dia da Marinha, foi proporcionada, aos sócios (familiares e amigos) do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, uma visita às instalações do Comando da Zona Marítima do Norte (CZMN), situado na bonita marginal de Leça da Palmeira, e uma subida ao Farol de Leça, também conhecido como Farol da Boa Nova. Estava também prevista uma visita a uma embarcação da Marinha de Guerra normalmente estacionada em Leixões, mas, como por motivos operacionais, esta se encontrava em Lisboa, a mesma não se pôde efectuar.

A concentração das pessoas, previamente inscritas, estava marcada para as 14h15 na parada do CZMN. Fomos recebidos pelo Senhor Comandante Martins dos Santos que se fazia acompanhar do 2.º Comandante e do Oficial Adjunto.

O Comandante Martins dos Santos falando aos presentes. 
Foto: Abel Santos

Já no auditório, o Comandante Martins dos Santos deu as boas-vindas aos presentes e fez uma descrição sumária das muitas funções operacionais atribuídas ao Comando da Zona Marítima do Norte, que compreende a costa atlântica entre o Rio Minho e a Figueira da Foz, numa extensão para Oeste de muitas milhas.
Na sua qualidade de Comandante da ZMN, acumula os cargos de Chefe de Departamento Marítimo do Norte, Capitão dos Portos de Douro e Leixões, Comandante Regional da Polícia Marítima e Comandante Local da Polícia Marítima do Douro e Leixões.

Apresentação de diapositivos
Foto: Abel Santos

Seguiu-se a intervenção do Oficial Adjunto, que auxiliado por um projector de diapositivos, fez uma exaustiva apresentação dos efectivos, meios e competências operacionais atribuídas ao CZMN.
As principais preocupações deste organismo têm a ver, na área das pescas, com as infracções às leis vigentes; com a poluição das águas do mar e dos rios que desaguam no Atlântico; o funcionamento e a conservação dos faróis existentes entre o Rio Minho e a Figueira da Foz, e a manutenção da ordem pública nas áreas da costa marítima, como praias e áreas portuárias.
Ainda houve uma segunda intervenção do senhor Comandante Martins dos Santos para vincar alguns dos assuntos até ali aflorados, e para nos convidar a visitar uma exposição de meios de combate à poluição marítima, montada num "hangar" que serve de armazém para aqueles meios.
Pudemos obervar equipamento de proteção individual; viaturas para transporte de pessoas, de equipamentos, de poluentes recuperados das águas e motos-quatro para vigilância e detecção, próxima da água; grupos de bombagem para apanha e trasfega de hidrocarbonetos, etc.

Tendo-se atrás falado de faróis, e tendo nós ali à mão o Farol de Leça, nada melhor que visitá-lo.


Recebidos pela equipa de Faroleiros, impecavelmente uniformizados, numa dependência que serve de museu, ali se pôde apreciar algum equipamento antigo, fora de uso mas operacional. Todo o tipo de faróis e farolins com as cores verdes e encarnadas, convencionadas para, no mar, assinalar respectivamente o lado direito (estibordo) e o lado esquerdo (bombordo) das embarcações, assim como sinalização de entradas de barras marítimas; motores accionadores de compressores que enchiam reservatórios com ar comprimido, que por sua vez faziam funcionar as célebres roncas (enormes cornetas) que sinalizavam a costa marítima em dias de forte nevoeiro; ilustrações com a história dos faróis, desde o primeiro, construído no ano 280 a.C. na ilha de Faros, na Alexandria. Aqui estará a origem da designação de farol.

O Chefe dos Faroleiros fez um historial dos meios de sinalização das costas marítimas, em todo o mundo, a fim de evitar a tragédia dos sucessivos naufrágios, principalmente em noites de tempestade. Desde fogueiras nos pontos mais altos e os improvisados meios de iluminação junto à costa, até aos sofisticados meios actualmente ao dispor, os faróis têm ainda hoje uma importante utilidade para a navegação.

O Farol de Leça é composto por um edifício cilíndrico com 46 metros de altura, construído numa pequena elevação com 11 metros, o que lhe confere uma altitude de 57 metros, tornando-o o segundo mais alto de Portugal, atrás do farol de Aveiro com 66 metros.

Entrou em funcionamento em 1926, substituindo o pequeno farol da Boa Nova, pouco eficaz, que existia nuns penhascos junto à Ermida de S. Clemente das Penhas, hoje conhecida por Capela de S. João da Boa Nova.

Postal feito a partir de uma foto pertença de Jorge Bento (1915-2004), autor de imensa bibliografia sobre Leça da Palmeira

Aspecto actual da  zona envolvente da Capela de S. Clemente das Penhas, em estado deplorável, tendo em conta as obras que por ali têm sido levadas a efeito. Ao fundo ainda visível o local da instalação do antigo Farol da Boa Nova
Foto: Carlos Vinhal

O seu aparelho óptico rotativo está assente em mercúrio, que por ser um metal líquido reduz ao mínimo o atrito. E composto por uma lâmpada emissora de luz, com 1000 Watts de potência, que reflectida num complexo sistema prismático, aumenta a intensidade da luz e a dirige, na forma de raios na cor branca, três de 14 em 14 segundos, na direcção certa, o céu, de modo a ser visível a mais de 50 quilómetros.
O aparelho, que antigamente era accionado por um mecanismo de relógio por pêndulo, é hoje eléctrico, comandado por células. Ainda hoje se pode apreciar o anterior sistema, em perfeito estado de conservação.

O jovem Faroleiro explicava-nos o funcionamento do aparelho óptico rotativo
Foto: Carlos Vinhal

Houve ainda tempo para ir ao exterior apreciar a vista, que do alto se desfruta, e fazer umas fotos, mau grado o vento forte que se fazia sentir.

Vista da marginal de Leça da Palmeira
Foto: Carlos Vinhal

Ainda a partir do Farol de Leça se pode ter esta perspectiva da Refinaria do Porto da Petrogal, que por acaso fica, parte dela, em Leça da Palmeira e outra parte em Perafita.
Foto: Carlos Vinhal

Feitas as despedidas, e os agradecimentos de parte a parte, deixámos as instalações do Farol e voltámos ao Comando da Zona Marítima do Norte para fazer a foto de família e troca de lembranças entre o Comandante Martins dos Santos, nossos anfitrião, e o Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC, TCor Armando Costa que "comandava" os visitantes.

Momento dos agradecimentos e troca de lembranças no exterior da "Porta de Armas" do Comando da Zona Marítima do Norte, após a foto de família de que não se dispõe nenhuma cópia.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12943: Os nossos seres, saberes e lazeres (70): Pinturas a partir de fotos com mais de 40 anos (Jaime Machado)

Guiné 63/74 - P13222: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Escolhidas as cinco melhores frases por 69 grã-tabanqueiros... E a menos de 2 semanas, temos já 94 bravos voluntários para a Operação Monte Real 2014, no dia 14 deste mês...


As frases que reuniram o maior número de votos (> 10):  83,7% dos votos, ou seja, 282 num total de 325. Número de votantes: 69. Frases que não obtiveram nenhum voto: a Seis e a Vinte um.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



1. Terminou, ontem,  o nosso "passatempo" que foi também um pretexto para a malta fazer a "prova de vida"...

Responderam ao desafio 69 camaradas....  O total de votos foi de 325. Recorde-se qual era o passatempo: tratava-se de escolher as cinco ou frases ou slogans que melhor identificam e descrevem a nossa cultura bloguística, ou se quisermos, o espírito da nossa Tabanca Grande. (*)

Como votação acima de 20 temos as seguintes frases, as mais votadas:

Nas três primeiras posições:

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (n=40)

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti. (n=37)

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une 
e até com aquilo que nos separa. (n=27)

Em 4º lugar, ex-aequo (n=26), temos:

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,  é o inverno do esquecimento dos combatentes.

19. Partilhamos memórias e afetos.

Em 5º lugar aparece:

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:  " Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!" (n=25).

Com votação superior a 10 e inferior a 20, temos as seguintes frases:

9. Uma vez combatente, combatente para sempre! (n=17)

7. Camarada não tem que ser amigo:  é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo. (n= 16);

11. Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são. (n=16)

5. Camarada e amigo... é camarigo! (n=14)

12. Sim, senhor ministro, somos uma espécie em vias de extinção...  E já demos instruções ao último que morrer, para ser ele próprio a fechar a tampa do caixão. (n=14)

16. Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e
matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...(n=12).

Duas frases não obtiveram qualquer pontuação:

6. Dez anos a blogar, pois é!,  são cinco comissões na Guiné!

21. E também lá vamos facebook...ando e andando!



2. Lista alfabética dos camaradas que respnderam à chamada e fizeram a sua "prova de vida" (*)...

[foto à esquerda, da autoria de Arlindo Roda, 2010]

Alberto Branquinho
Alcides Silva
Antonio Carvalho (Mampatá)
António Eduardo Carvalho
António J. Pereira da Costa
Antonio João Sampaio
António Levezinho
António Santos
António Sucena Rodrigues
Artur Conceição

Barreto Pires
Bernardino Cardoso

Cândido Morais
Carlos Cruz
Carlos Vinhal
César Dias

Eduardo Estrela
Ernesto Ribeiro

Fernando Costa

Germano Penha

Hélder Sousa

Idálio Reis

João Alberto Coelho
João José Lourenço
João Sacoto
Joaquim M Gomes
Jorge Picado
Jorge Pinto
Jorge Portojo
Jorge Rosales
Jorge Santos
Jorge Tavares
José Carlos Pimentel
Jose Colaço
José da Câmara
José Dinis C. Sousa e Faro
José Manuel Cancela
José Manuel Lopes
José Manuel Matos Dinis
José Manuel Carvalho
José Pardete ferreira
José Rocha
José Teixeira
Julio Costa Abreu
Juvenal Amado

Luís Graça
Luís Paulino

Manuel Carvalho
Manuel Joaquim
Manuel Luis
Manuel Maia
Manuel Reis
Mário Gaspar
Mario Oliveira
Mário Pinto
Mário Vasconcelos
Marques de Almeida
Martins Julião

Raul Albino
Ricardo Figueiredo
Rui Santos
Rui Silva

Toni Borié
Torcato Mendonça

Valdemar Silva
Vasco da Gama
Vasco Ferreira
Vasco Pires
Virginio Briote


3. Lista dos inscritos no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, no dia 14 do corrente... 

São 94  e queremos pelo menos chegar aos 100!... As inscrições continuam abertas... As desistências devem ser comunicadas atempadamente... Todas as comunicações devem ser dirigidas ao nosso editor Carlos Vinhal: carlos.vinhal@gmail.com

Agostinho Gaspar (Leiria)
Alcídio Marinho e Rosa (Porto)
António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal)
António Fernando Marques e Gina (Cascais)
António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana Brandão (Oliveira do Bairo)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Rebelo (Massamá / Lisboa)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)
Arménio Santos (Lisboa)
Augusto Pacheco (Maia)

C. Martins (Penamacor)
Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)

David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)

Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã)

Fernandino Leite (Maia)
Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)
Francisco (Xico) Allen (Vila Nova de Gaia)
Francisco Baptista e Fátima Anjos (Aldoar / Porto)
Francisco Palma (Estoril / Cascais)

Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)

Idálio Reis (Sete-Fontes / Cantanhede)

João Alves Martins (Lisboa)
Joaquim Almeida (Maia)
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura (Porto)
Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Joaquim Nunes Sequeira e Mariete (Colares / Sintra)
Joaquim da Silva Jorge (Ferrel / Peniche)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel)
Julio Costa Abreu e Richard (Holanda)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)

Luís Encarnação (Cascais)
Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)

Manuel António (Maia)
Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Joaquim (Agualva / Sintra)
Manuel Resende, Isaura e Palmira Serra (Cascais)
Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Carcavelos / Cascais)
Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)
Mário Gaspar (Lisboa)

Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)
Ricardo Figueiredo (Porto)
Rui Silva e Regina Teresa (Sta. Maria da Feira)

Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)
Virgínio Briote e Irene (Lisboa)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13178: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): A três semanas da nossa festa de convívio anual, temos 70 inscrições... e um passatempo para saber "quais são as cinco frases de que os grã-tabanqueiros mais gostam e que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Deixa um comentário ou manda um mail até aos próximos quinze dias...

(...) Vinte e cinco frases que ajudam a distinguir um grã-tabanqueiro, isto é, um leitor do nosso blogue que se identifica com a "cultura" da Tabanca Grande, independentemente de estar ou não estar (ainda) registado como membro...
1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

2. Lembra-te, ó português: bandeira dos cinco pagodes, é na loja do chinês.

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

4. Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

5. Camarada e amigo... é camarigo!

6. Dez anos a blogar, pois é!,
são cinco comissões na Guiné!

7. Camarada não tem que ser amigo:
é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:
" Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

9. Uma vez combatente, combatente para sempre!

10. Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

11. Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

12. Sim, senhor ministro, somos uma espécie em vias de extinção...
E já demos instruções ao último que morrer, para ser ele próprio a fechar a tampa do caixão.

13. Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,
é o inverno do esquecimento dos combatentes...

15. Rapa o fundo do teu baú da memória...

16. Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e
matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...

17. Os camaradas da Guiné dão a cara,
não se escondem por detrás do bagabaga...

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une
e até com aquilo que nos separa.

19. Partilhamos memórias e afetos.

20. Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo,
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

21. E também lá vamos facebook...ando e andando!

22. Sabemos resolver os nossos conflitos... sem puxar da G3!

23. A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

24. 'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!

25. 'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit)

Guiné 63/74 - P13221: Agenda cultural (320): Alberto Costa e Silva é o vencedor do Prémio Camões 2014 (Vasco Pires, grã-tabanqueiro da diáspora lusitana no Brasil)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]:

Data: 30 de Maio de 2014 às 23:49

Assunto: Alberto Costa e Silva é o vencedor do Prémio Camões 2014


Caríssimos Carlos/Luis,

O diplomata, Alberto da Costa e Silva, é poeta, ensaista e historiador. Membro da Academia Brasileira de Letras, serviu como diplomata em vários países, inclusive Portugal.

O Comunicado da Secretaria de Estado da Cultura salientou: "a importante ponte que este intelectual, criador e diplomata estabeleceu entre a América do Sul, África e Europa".

Tem dois notáveis trabalhos sobre a história Africana, antes "A enxada e a lança, a África antes dos Portugueses" e depois da chegada dos Portugueses, "A manilha e o libambo, a África e a escravidão de 1500 a 1700".

Do primeiro diz o autor: "Só o escrevi com o pensamento e o objetivo de entregar ao leitor um manual - simples,claro, direto, embora emotivamente interessado - que lhe servisse de intrudução ao conhecimento da África."

Quanto ao segundo "A manilha e o limbambo..",: manilha é um bracelete de metal, limbambo é uma cadeia de ferro usada para prender escravos pelo pescoço...

Para nós que fechamos os últimos "portões do Império", é um mergulho na História dos povos de quem fomos ao encontro, de "armas na mão" (sem qualquer juízo de valor).

forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13220: Blogpoesia (383): Velhas crianças (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, com data de 31 de Maio de 2014, trazendo até nós um poema dedicado às crianças que nós fomos:

Caríssimo Amigo Carlos Vinhal
Como se aproxima o dia da criança, resolvi enviar um pequeno poema às (crianças) do fim da primeira metade do séc. XX, com especial incidência, aos meus amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné a quem saúdo carinhosamente.

Por seu intermédio, segue aquele abraço de infinita amizade-
Felismina mealha


Velhas Crianças

Que ainda não esquecestes
Os berlindes, as fisgas, e os ninhos que destruías,
Quando ainda não sabias o que era o amor paterno! Velhas crianças!
Como o tempo passou!
Como tudo ficou, perdido no tempo!
Criança, Menino, que trepavas às árvores,
Jogavas pião, arco, e bola de trapo,
Que a mãe te fazia…
Tu, que crescias, sem saber porquê…
Cantavas, sorrias, sonhavas… eu sei!
Quantos sonhos, tão bonitos, foram tuas madrugadas?
Quantas estrelas incendiadas dos alvores da Juventude
Te queimaram, te acordaram, nas manhãs das descobertas?
Quantas letras tinha o teu alfabeto?
Esse mundo descoberto a cada hora do dia?
A quantos sonhos te atreveste?
E a quantos te rendeste, sem pensar no que fazias?
Tu, que crescias, que crescias… docemente… amargamente,
Num tempo de medo…
Tu, que riste do medo…
Que choraste de medo, e do medo dos outros…
Menino… já grande!
Lá longe, distante, em terra estrangeira…
Tu, que muito aprendeste, que tanto sofreste,
Que tanto cresceste!
És velha criança, que guardas no peito
Lembranças, segredos, silêncios e raivas,
Milhares de palavras, surgidas, nascidas,
De um tempo imperfeito!
Criança de um tempo, que foi o meu tempo…
Criança que comento, porque cresceu comigo!
Serás sempre criança!
Nos filhos que embalaste…
Nos netos que embalas,
Nos sonhos que calas
Com medo do demo!

Felismina mealha
30/5/2014
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE MAIO DE 2014 > Guiné 637/74 - P13208: Blogpoesia (382): No colo de minha Mãe (J. L. Mendes Gomes, Berlim, 29 de maio de 2014, 7h43m, de chuva e vento frio)

sábado, 31 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13219: Bom ou mau tempo na bolanha (58): Las Vegas, Las Vegas (2) (Tony Borié)

Quinquagésimo oitavo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros, já vos falámos um pouco de Las Vegas, da Las Vegas que quase todos conhecem dos filmes, das televisões, dos casinos, da sorte ao jogo, da “cidade da perdição”, mas Las Vegas não é só isso, se viajarmos de carro, umas milhas para oeste, existem paisagens de montanha, planícies, lugares para admirar, cenários lindos com árvores centenárias, montanhas de pedra com diversas cores que a natureza privilegiou, onde muitos atletas se treinam e praticam desportos radicais.

Para quem percorreu toda aquela zona, verifica que Las Vegas está localizada na parte sudeste do estado de Nevada, que pertence ao condado de Clark, é uma cidade plana, rodeada por montanhas secas, a sua elevação é de aproximadamente 620 metros acima do nível do mar, a flora é dominada por vegetações rasteiras.


Na área metropolitana de Las Vegas é onde se concentra a sua população, que dizem ser a maior aglomeração urbana do estado de Nevada, sendo composta por pessoas oriundas não só de diversos estados dos USA, como até dos mais remotos países do mundo.


Como curiosidade, nesta “cidade da perdição”, quase 15% das habitações, na sua área de residência, é ocupada por famílias com mulher sem marido presente como chefe de família. E mais ainda, mais de 25% de todas as residências são habitadas por apenas uma pessoa, e quase 10% da população com 65 anos ou mais de idade, que por aqui moram, estão vivendo abaixo da linha de pobreza.

Isto é Las Vegas, Las Vegas, onde existem luxuosos casinos, o dinheiro rola nas mesas de jogo, onde exibem os melhores Circos, os melhores espectáculos, os melhores actores, cantores, actrizes e cantoras do mundo, que aqui vêm na procura de protagonismo, campeões do mundo de boxe registam nos seus contratos que só colocarão o seu título em disputa, se combaterem em Las Vegas. Existem Feiras Internacionais, Eventos e Convenções, mas não existe uma equipa de futebol ou basebol, com nome firmado, porque podia haver concorrência nas apostas, ...e apostas, só nos casinos.


Depois de percorrer uma vez mais as montanhas que circundam esta cidade, fizemos um piquenique, que constou de pão, queijo, fruta e coca-cola, não arroz da bolanha, peixe e vinho tirado com o púcaro do café da mesma bacia de alumínio que servia a comida, lá no aquartelamento da “Mansoa City”, isto tudo, lá no cimo das montanhas, de onde também desfrutámos uma vista privilegiada para a cidade, descemos em direcção ao aeroporto, percorrendo mais uma vez a Las Vegas Bouleyvard, onde havia movimento, luz, alegria, pessoas com pressa, “acotovelando-se”, saindo de uns casinos e entrando noutros, filas de pessoas entregando cartões de apresentação, mostrando-se, sorrindo, com convite para uma “relação fácil” e não só.


No aeroporto da cidade de Las Vegas, no estado de Nevada, onde continuam a existir máquinas de jogo nas diversas salas de espera, para todos terem a possibilidade de gastarem as últimas moedas, entregámos o carro que tínhamos alugado no aeroporto da cidade de Tucson, no estado do Arizona, tomando de seguida o avião que fez uma paragem de rotina na cidade de Houston, no estado do Texas, aterrando em seguida na cidade de Orlando, no estado da Flórida, de onde regressámos a casa no nosso carro utilitário, onde nos esperava a “relva” que já necessitava de ser cortada.

Até qualquer dia, companheiros.
Tony Borie
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13190: Bom ou mau tempo na bolanha (57): Duas personagens (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13218: Parabéns a você (742): Nos meus 69 anos, com imensa alegria, ofereço-vos uns extratos de um livro que tenho em preparação, “O Fedelho Exuberante” (Mário Beja Santos)

1. No dia do seu 69.º aniversário, o nosso camarada Mário Beja Santos presenteia-nos com alguns extratos do seu livro, em preparação, "O Fedelho Exuberante".

Queridos amigos,
É proverbial nesta data recebermos saudações de todos os irmãozinhos da tabanca.
Nos meus 69 anos, com imensa alegria, com milhares de leituras para fazer e vazar neste terreno fecundo das nossas lembranças, ofereço-vos uns extratos de um livro que tenho em preparação, “O Fedelho Exuberante”, uma crónica familiar à volta das nascituras Avenidas Novas onde, no pós-guerra, vinham viver, em espaços próprios, as diferentes classes sociais decorrentes da expansão económica em curso.
Coube-me o bairro social de Alvalade, e tive o privilégio de ver nascer a Avenida dos EUA e a Avenida de Roma, era este o meu admirável novo mundo, cercado do afeto de três mulheres admiráveis que me moldaram no que sou.

Aqui a amostra, com muito júbilo,
Mário


A Mãezinha escreveu no verso: 
O Mário António no dia em que fez 2 anos, 31/5/47


AS PRIMEIRÍSSIMAS LEMBRANÇAS

O episódio parece macabro, talvez de mau gosto ou mesmo fantasioso, mas foi exatamente assim que o retive. Em frente à velha Igreja de S. Jorge de Arroios ficava a agência funerária onde pontificava a minha madrinha de registo, D. Isaura, tenho dela uma lembrança ténue, dizem-me que nada devia à beleza mas nunca recusei acompanhar a minha Mãezinha tal o enlevo com que a prestadora de serviços fúnebres a acolhia e me beijocava. Instituiu-se um ritual, passava-me para a mãozinha uma moeda de dez escudos, as madrinhas também servem para dar presentes, aquela moeda era um dinheirão na época, e eu entregava-a à minha criadora. Conversavam, às vezes juntava-se uma amiga de ambas, D. Olga, uma angolana imponente, se fosse possível o recurso a uma similitude seria a da Mahalia Jackson, seios fartos, ancas possantes, sorriso panorâmico. Ora, em circunstâncias impossíveis de especificar, um dia fartei-me de as ver em comunicação vivacíssima naquele espaço ornado de mãozinhas de cera, litogravuras do Padre Cruz, estelas funerárias em perspetiva, até as cadeiras eram fúnebres, entediado rumei silenciosamente para o armazém da agência, pejado de urnas, panejamentos, havia coisas de outras eras, dos tempos em que as carretas funerárias levavam cavalos com panos negros, andei por ali a dessedentar a curiosidade, subi e desci escadas a mirar o interior das urnas com tecidos recamados, pregueados, mas também havia urnas muito austeras, apropriadas para gentes de poucas posses, importa relevar que naquele tempo ainda era de uso frequente a vala comum, vi uma urna com um aspeto de ser tão fofinha num expositor que nela me deitei, não há puto que não se maravilhe com o imprevisto daquele conforto. Não sei se adormeci, mas a dada altura ouvi a vibração “Oh Mató, onde é que tu andas, vem depressa, tenho que ir às compras!”. Não sei o que é que me deu, deixei-me estar no conforto, não tugi nem mugi, houve insistências, sempre a clamar pelo Tó, era esse o maldito diminutivo que me acompanhou até aos cinco, seis anos, houve mesmo familiares que se compraziam a chamar-me Mató, coisa mais horrível não me podia ter acontecido, depois entraram, Mãezinha e madrinha, e vasculharam pelo armazém, o que é que o miúdo andaria a fazer por aquele espaço tumular, sem enfeites próprios para atrair a criançada?

Passaram perto de mim, eu quedo, e resolvi fazer uma cabriolice, empurrei a tampa da urna, ali encostada, estatelou-se com estrépito aos pés da D. Isaura, gritou em transe e espavorida. Eu respondi com uma risada, e a minha mãe deu-me uma nalgada, corretivo vezeiro na época.


A CHEGADA ÀS QUINTAS DO VISCONDE DE ALVALADE

E em 8 de março de 1952, a meio da primeira classe, fez-se a mudança para uma zona residencial, ainda a cheirar a fresco, em frente de uma enorme quinta, o Campo Grande ali perto, em baixo, frondoso, bem ajardinado, na parte de cima notava-se que havia imensas obras, estavam a desbravar a Avenida de Roma, um enorme estaleiro com prédios, parecia-me, assombrosos, tudo aquilo me parecia modernaço, nada tinha a ver com a arquitetura de Arroios nem mesmo com a de Algés. Nem me passa pela cabeça o tempo que vou viver em Alvalade, será aqui que frequentarei a Escola Primária nº 151, entre a Rua Mário de Sá Carneiro, Rua Fernando Pessoa e Rua Branca de Gonta Colaço, seguir-se-á o Colégio Moderno, na Estrada de Malpique, e upa-upa, até me apetecia saltar já para a Biblioteca das Galveias, no Campo Pequeno, onde fiz aprendizagem das publicações destinadas aos jovens e li tantos livros.

Se havia a obsessão de que eu devia ser autónomo, não constituir um peso para os meus irmãos, e se ficasse órfão de mãe não podia contar com o pai para coisa nenhuma, ele não me reconhecia como seu filho, nem me queria ver, se me apresentasse seria um empecilho de todo o tamanho, pois bem, aparecera agora outra obsessão, os estudos, eu tinha que provar a outra dimensão de autonomia de que ainda não se falara, eu teria que singrar na vida, ela tudo faria, dizia repetidamente, para que eu tirasse um curso, se tivesse aptidões para tanto. Assim, era primordial que estudasse, que ganhasse gosto pelos estudos, com disciplina e fervor. Estas conversas culminavam sempre com uma promessa, que eu não entendia muito bem: serás um homem livre, vencerás a ignorância, acredita em mim. E eu acreditava.

Mas tive um desgosto de todo o tamanho quando dias depois de termos chegado a Alvalade fomos à Escola Primária nº 151, aí a uns 150 metros da nossa casa, onde disseram à Mãezinha que eu só podia entrar na primeira classe em outubro, porque ainda não tinha completado sete anos, vim a soluçar todo o caminho até casa, a dar pontapés nas pedras, eu queria fugir dali, eu queria voltar para Algés pelo menos até acabar o ano letivo, dera provas de ser um aluno aplicado, o que é que eu ia fazer aqueles meses todos à boa vida, não conhecia ninguém na rua, os vizinhos do lado tinham dois filhos crescidos, nos outros andares havia também gente mais crescida, com quem é que eu podia brincar, com aquela quinta e aquele olival mesmo à porta, parecia que tínhamos recuado séculos atrás? A Mãezinha, imperturbável, dava-me cópias e contas para fazer, leituras avulsas, como aquelas latinidades de que já falei, havia outras mais entusiasmantes, levava-me muitas vezes para a Maternidade Alfredo da Costa, trabalhava aí no serviço de contabilidade, depois fiz sete anos, estava cada vez mais ansioso que o tempo passasse velozmente para eu ir para a escola, ganhei simpatia por uma senhora chamada Natércia que estava no serviço de registo dos recém-nascidos da maternidade. Sentava-me a um canto, sem tugir nem mugir, a Natércia chamava a família que vinha proceder ao registo e cedo me apercebi que havia mães solteiras, apareciam pais felizes mas também outros com o ar mais desgostoso deste mundo, parecia que aquelas crianças em vez de ser uma fonte de alegria já estavam a ser um estorvo, a Natércia pedia identificações e no final fazia a leitura em voz alta da certidão, os presentes assinavam, saiam felizes, menos felizes e até contrafeitos. Na minha cabecinha eu dava voltas para apurar por que é que vimos ao mundo e não damos todos o mesmo contentamento que eu tinha trazido à Mãezinha e até à avó Ângela, era tão bom ter manos como eu tinha, um mano que me levava ao cinema, eu ficava nos seus joelhos embasbacado a ver os cowboys e os índios, ele levava-me para as suas brincadeiras, eu assistia a tudo, maravilhado, e uma mana que me contava histórias e me tratava tão bem. A vida tem destas coisas, terei mais tempo para aprender o que hoje me está a confundir.

E os meses passaram depressa, a Mãezinha inscreveu-me na catequese da Igreja dos Santos Reis Magos do Campo Grande, já perto da Avenida Alferes Malheiro, hoje do Brasil. Não havia dinheiro para passar férias fora de Lisboa, mais tarde iria para colónias balneares e depois a madrinha Anita passou a levar-me para a Foz do Arelho. Naquele ano, no verão, a avó Ângela gostava de me ter na Junqueira, apanhávamos o elétrico até Algés ou Cruz Quebrada, íamos com farnel e eu tinha direito a comer barquilho ou uma Bola de Berlim.

E um dia, alvoraçado, entro na escola e passo a ser aluno da D. Emília numa turma de perto de quarenta alunos, metade de meninos viviam em Alvalade e outra metade de meninos vinha de Telheiras, umas quintas, umas casas apalaçadas e umas azinhagas para lá do Campo Grande, ali não havia escola. Acamaradámos todos, os meninos de Telheiras viviam nitidamente com mais dificuldades que nós, traziam roupas remendadas, bonés sujos e vinham descalços. Gostavam muito da escola porque tinham a cantina onde comiam gratuitamente uma sopa bem adubada, recebiam um quarto de carquejo, umas lascas de torresmos, às vezes sardinhas ou carapaus fritos, e uma peça de fruta como almoço, à saída havia um copo de leite com chicória, um naco de pão e uma fatia de marmelada. Em linguagem de hoje, a aculturação não foi fácil, lembro-me perfeitamente que a D. Emília estava no estrado em frente ao quadro elaborando uma sofisticada diminuição, terá ouvido um ruído insólito, virou-se e apanhou o Hermenegildo em flagrante, a parede a fumegar de urina. “Tu és um selvagem, Hermenegildo, porque é que não pediste para ir à casa de banho?”. E o Hermenegildo, com cara de caso e com toda a inocência: “Eu estava à rasca Senhora Professora, ou mijava agora ou sujava-me nas calças!”. E D. Emília insistia: “Meu bruto, para que é que se fizeram as casas de banho?”. E o Hermenegildo replicou, com a mesma inocência: “Lá em casa não há casa de banho, Senhora Professora!”.

Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, Praça Mouzinho de Albuquerque (até 1933), à entrada do Campo Grande, fotografia de 1967, do Arquivo Municipal de Lisboa, com a devia vénia


A DESCOBERTA DOS ARRABALDES

A Mãezinha ia diariamente, de segunda a sexta, fazer as compras no mercado do Saldanha, a avó Ângela e eu colaborávamos nas compras de mercearia. A padaria ficava à entrada do Campo Grande, a mercearia no términus da Rua de Entrecampos, a confluir com o Campo Grande, lembro-me perfeitamente de quando se começou a fazer a Avenida dos Estados Unidos da América ao tempo em que apareceram os quatro edifícios de arquitetura arrojada no cruzamento entre a Avenida de Roma e o troço da Avenida dos Estados Unidos da América que naquele tempo ligava com a Avenida Gago Coutinho e com o descampado que era a Avenida de Roma. Havia muitas artérias assim em Lisboa, recordo que a Avenida João XXI começava na Praça do Areeiro, atravessava a Avenida de Roma e não chegava ao Campo Pequeno, só anos mais tarde é que se fez a ligação e tudo ficou transformado quando a fábrica de cerâmica Lusitânia deu lugar à sede da Caixa Geral de Depósitos.

Nunca esqueci a mercearia da Rua de Entrecampos, o prédio já desapareceu, está lá hoje um serviço do Centro Nacional de Pensões. Comprava-se quase tudo a granel, as leguminosas secas estavam em tulhas, havia medidas em madeira e rasoiras e cartuchos, meio litro de grão, meio litro de feijão manteiga, uma quarta de banha, meio quilo de açúcar, uma garrafa de azeite enchida no momento. A mobília era imponente, armários até ao teto, alguns com portas de vidro, onde se recolhiam alimentos e bebidas de preço mais sofisticado, levava-se um saco das compras, o plástico ainda não tinha feito a sua aparição. Mas toda a Rua de Entrecampos acolhia o comércio e serviços de primeira linha: livraria e tabacaria, retrosaria, barbeiro e cabeleireira, sapateiro, ferrador, loja de eletrodomésticos, pelo menos duas mercearias, talhos, taberna e carvoaria (se bem que no Campo Grande esta atividade estivesse mais desenvolvida, recordo que entre a Avenida da Igreja e a Igreja dos Santos Reis Magos do Campo Grande havia oficinas de reparação de automóveis, de bicicletas, tascas com carvoarias noutra dependência, lojas de adubos e rações, etc.). Parecia que a Rua de Entrecampos assegurava praticamente as nossas necessidades básicas, dispensavam o mais elementar, assim se evitava as idas à Baixa, era aqui que se comprava o excecional e se aproveitava para conhecer as modas. Escusado é dizer que a comida era caseira: cachucho com arroz de tomate; iscas com batata cozida; feijoada… os restos de um cozido à portuguesa davam origem a um prato gostoso chamado sopa fervida, com pão e hortelã. A leiteira passava de manhã cedo, fervia-se o leite e eu bebia-o com um aromatizante, cedo passei a gostar da mistura popular de café, só muito mais tarde houve condições para comprar o Milo ou o Ovomaltine. Usava-se muito a salsa e o coentro. Recordo-me da fúria da avó Ângela quando um dia bateram à porta, era uma senhora de bata branca a oferecer uma amostra de sopa em pacote e uma caixa com cubos que se destinavam a dar gosto às sopas, a avó barafustava: “Como é que é possível deitar água neste pó e sair sopa, diz aqui que temos uma refeição pronta em cinco ou seis minutos, tenho que mexer a sopa em lume brando?”.

Era nestes queixumes que eu sentia que estava a crescer num mundo em transição, aquelas manadas de bois que atravessavam o Campo Grande a caminho do Mercado Geral de Gados, onde hoje estão os vestígios da Feira Popular que veio para aqui nos anos 1950, depois da Fundação Gulbenkian ter comprado o Parque de Santa Gertrudes, em Palhavã, era aqui, que desde os anos 1940 funcionava a feira, lembro-me muito bem. A Câmara Municipal de Lisboa ainda guardou algumas destas instalações do Entreposto durante muitos anos, era uma correnteza de edifícios em frente à linha de comboio de Entrecampos.

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2. Nota do editor:

Caro Mário, muito obrigado por este bocadinho da tua infância. Eu, que quase não conheço a Lisboa de hoje, através da tua escrita "fiz" o retrato da Lisboa do teu tempo. Quase senti os cheiros. Bem bonita e bem cheirosa.

No teu dia de anos resolves presentear a tertúlia com este texto tão belo que ainda por cima nos abre o apetite para a obra final. Quando sai "O Fedelho Exuberante"? O título é sugestivo.

Acho que posso agradecer em nome da tertúlia a prenda que nos ofereceste hoje, dia do teu 69.º aniversário.
Bem hajas.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13216: Parabéns a você (741): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1968/70)

Guiné 63/74 - P13217: Manuscrito(s) (Luís Graça (31): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte V): O bairro de Santa Luzia, de 1948: uma das nossas primeiras experiências de alojamento para populações nativas



Fonte: © Ana Vaz Milheiro (2012) (Reproduzido com a devida vénia)


1. Manuscrito(s) (Luís Graça)

Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte V (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro. Este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores. Recorde-se que o livrinho resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, de 2 arquitetos (entre as quais a autora) e de 1 sociólogo (Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro), durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011.

Reproduzimos, com a devida vénia, as pp. 2e 23, relativa à construção do nosso conhecido Bairro de Santa Luzia, uma das primeiras experiências, nas nossas colónias, de alojamento para  populações nativas. Estamos em 1948,. e era governador Sarmento Rodrigues:


.Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. C. 1975. Escala 1/20 mil., O bairro de Santa Luzia ergue-se fora do limite da "cidade formal", a nordeste, tendo à sua esquerda o Cupelon, o nosso conhecido Pilão. Santa Luzia aparece assinalada a azui.

Imagem © A. Marques Lopes (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]

Inforgrafia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2914).



Capa da brochura de Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5).

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Nota do editor:

Vd. poste anterior:

19 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13164: Manuscrito(s) (Luís Graça (28): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte IV): Na antiga avenida da República (, hoje Amílcar Cabral), os edifícios da Sé Catedral (João Simões, 1945) e dos Correios (Lucínio Cruz, 1950/55)

Poste anterior da da série > 29 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13210: Manuscrito(s) (Luís Graça) (30) "Bem vindos, piras, ao primeiro dia do inferno que vai ser o resto das vossas vidas!"... Parabéns, capitão António Vaz!

Guiné 63/74 - P13216: Parabéns a você (741): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13206: Parabéns a você (740): António Gabriel R. Vaz, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13215: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): Camarada traz outro camarada, amigo traz outro amigo... Com o Joaquim Jorge, de Ferrel, Peniche, ex-al mil da CCAÇ 616 (Empada, 1964/66), somos já 92 os magníficos grã-tabanqueiros e seus acompanhantes que vamos estar juntos e conviver em Monte Real, no dia 14 de junho próximo... Continuam abertas as inscrições



Lourinhã, Ribamar > Festa anual em honra de N. Sra. Monserrate > 14 de outubro de 2013 > Almoço anual de convívio de amigos do Oeste, organizado pelo Eduardo Jorge Ferreira > Na foto, dois camaradas que estiveram no TO da Guiné, e que são ambos naturais do concelho de Penicge: (i) em primeiro plano, o Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, que esteve em Empada (1964/66); e a seguir, (ii) o António Miguel Franco, natural de (ou residente em) Casal Salgueiro, lugar da Estrada, Atouguia; foi capitão miliciano (não sei de cor qual a unidade que ele comandou e em que época; creio que foi já no final da guerra).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 28 do corrente, que mandei ao meu amigo e vizinho (eu, da Lourinhã, e ele de Peniche) Joaquim da Silva Jorge, bancário reformado, ex-alf mil da CCAÇ 616 (Empada, 1964/66):

Joaquim :

Não queres aparecer em Monte Real no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (*), ou seja, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que reune já 658 camaradas (e amigos), membros registados desde 23 de abril de 2004, e dos quais 5% infelizmente já morreram ?...

Como sabes, somos uma "espécie em vias de extinção", os ex-combatentes que andaram por aquela terra verde e vermelho que, apesar de tudo,  nos ficou no coração... Da malta tua conhecida, lá do nosso oeste estremenho, vai aparecer: além de mim, o Jorge Pinto (Alcobaça) e  o Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã).

Há mais de 3 mil marcadores no blogue... Um deles é o "Joaquim Jorge" (com 2 referências; sabias ? clica aqui) .

Monte Real fica a meio caminho do norte e do sul... Já temos neste momento, 83 inscrições [, 92, ao im da tarde de hoje], a duas semanas e meia do encontro, que é a 14 de junho, sábado, no Palace Hotel MOn te Real... Há missa às 11h30, e depois convívio, muito convívio.... O serviço de catering, por 30 morteiradas, inclui aperitivos (13h), almoço (14h) e lanche ajantarado (17h30).

Aparece e traz mais um camarada...

Um alfabravo (ABraço) fraterno. Luis

2. Resposta imediata do nosso camarada Joaquim da Silva Jorge:
Data: 29 de Maio de 2014 às 11:21

Assunto: Convívio da Tabanca Grande,  Monte Real, 14 de Junho

Amigo Luís Graça:

Já tirei licenciatura,  mestrado e estágios em convívios, de maneira que não posso deixar a prática de fora.

Se Deus me permitir, lá estarei em Monte Real no próximo dia 14 de Junho. Recordar é viver e eu quero viver enquanto puder porque depois vamos estar mortos muito tempo.

Aproveito para te informar que o convívio anual da CCAÇ 616, este ano,  será nos dias 26 e 27 de Julho, como de costume no Hotel Pax em Fátima. Comemoramos este ano os 50 anos da partida para a Guiné (08/01/1964). Agradeço que divulgues esta informação.

Por acaso consegues saber o contacto da filha do cabo nº 2514 Fernando Ferreira da minha companhia, falecido em 1991? Podes fazer o favor de me dar o e-mail do Francisco Galveia que era o cifra da minha companhia. Desculpa-me tanto incómodo da minha parte.

Um abraço do
Joaquim Jorge

3. Mensagem, de resposta, de L.G.:

Joaquim:

É com alegria que recebo o desejo de estares com a rapaziada da Guiné que acompanha o nosso blogue, gente de todos os tempos e lugares... Já dei conhecimento ao Carlos Vinhal,. da comissão organizadora, do teu pedido de inscrição.

Vou divulgar a notícia do vosso encontro, que é só em julho. Mas dá-me mais pormenores, manda-me o programa..

E já agora, e partindo do princípio que aceitas o meu convite para integrar a Tabanca Grande, manda-me uma ou mais fotos do teu tempo de Guiné, além de uma atual, tipo passe... Se tiveres uma história ou episódio para contar, melhor... É só esse o preço de ingresso: 2 fotos + 1 história... Faço questão de ser a aprensentar-te às tropas em parada...

Se responderes na volta do correio, serás o grã-tabanqueiro nº 659 ou 660... Mas estás à vontade: não é obrigatório fazer parte (formalmente falando) do blogue para ires ao encontro, em Monte Real, dia 14 de junho... (Este, o de 2014, é já a 9ª edição). Mas tem vantagens para ti e para todos: divulgação de iniciativas, publicação de histórias, partilha de memórias, contactos com a tua malta, etc.).

Aqui tens os contactos pedidos (endereços de email]  da malta da tua companhia (o 1º cabo cripto Francisco Monteiro Galveia e a filha do 1º cabo Ferreira, a Ana Paula Ferreira, a quem dou conheciomento desta mensagem, além dos nossos amigos Jorge Pinto e Eduardo Jorghe Ferreira com quem espero também estar no Vimeiro, a 28 de junho):

Um abração,
Luis
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LISTA DOS  92 INSCRITOS, ATÉ HOJE,  NO NOSSO CONVÍVIO ANUAL, EM MONTE REAL, em 14 DE JUNHO DE 2014. 


[AS INSCRIÇÔES CONTINUAM ABERTAS} (**):

Agostinho Gaspar (Leiria)
Alcídio Marinho e Rosa (Porto)
António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal)
António Fernando Marques e Gina (Cascais)
António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana   
              Brandão (Oliveira do Bairo)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Rebelo (Massamá / Lisboa)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)
Arménio Santos (Lisboa)

C. Martins (Penamacor)
Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)

David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)

Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã)

Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)
Francisco (Xico) Allen (Vila Nova de Gaia)
Francisco Baptista e Fátima Anjos (Aldoar / Porto)
Francisco Palma (Estoril / Cascais)

Hugo Guerra, Ema e neto Daniel (Marvila / Lisboa)
Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)

Idálio Reis (Sete-Fontes / Cantanhede)

João Alves Martins (Lisboa)
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura (Porto)
Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Joaquim Nunes Sequeira e Mariete (Colares / Sintra)
Joaquim da Silva Jorge (Ferrel / Peniche)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel)
Julio Costa Abreu e Richard (Holanda)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)

Luís Encarnação (Cascais)
Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)

Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Joaquim (Agualva / Sintra)
Manuel Resende, Isaura e Palmira Serra (Cascais)
Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Carcavelos / Cascais)
Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)
Mário Gaspar (Lisboa)

Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)
Rui Silva e Regina Teresa (Sta. Maria da Feira)

Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)
Virgínio Briote e Irene (Lisboa)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13207: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (10): Inscrevo-me para reviver um pouco da amizade, embora os camaradas, em Monte Real não sejam aqueles com quem convivi, sei que estão irmanados no mesmo sentimento (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P13214: Notas de leitura (595): "O Corredor da Morte", pelo nosso camarada e tertuliano Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Mário Vitorino Gaspar cinge-se a vários blocos que são momentos-chave da sua existência: Alhandra, que descreve primorosamente, e de onde parte para se juntar à CART 1659, vão para Gadamael-Porto e arredores; é furriel de minas e armadilhas, patrulha e embosca mas acima de tudo monta e desmonta os engenhos da morte, é um profissional cheio de sangue frio a desativar minas antipessoal e bailarinas; a operação ao coração onde constrói um impressionante sonho (ou delírio, seja o que for) entre a luminosidade e um turbilhão de recordações; e depois a militância de um stressado que se pôs ao serviço e muito ofereceu à APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stresse de Guerra.
Vale a pena meditar no que ele tem para nos comunicar.

Um abraço do
Mário


Andanças pelo corredor da morte e outras militâncias e errâncias

Beja Santos

Mário Vitorino Gaspar fez uma comissão entre 1967 e 1968 na região de Gadamael, era furriel de minas e armadilhas e pertenceu a uma companhia independente, a CART 1659. Destas e outras memórias plasmou em livro intitulado “O Corredor da Morte”, edição de autor, 2014, lembranças de infância, da mobilização, das suas deambulações por Ganturé, Guileje, Gadamael-Porto, Sangonhá e arredores, de uma operação ao coração em que chegou a vislumbrar a senhora morte e da sua participação na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra. Arrecadou recordações poderosas, oferece-nos páginas tocantes, tem orgulho nas suas origens, enfim, com surpresa ou sem ela visitou os corredores da morte, não o das penitenciárias que encaminham para execuções mas aqueles corredores onde em tempos de guerra e paz temos a vida em processo de licitação. Começa com todo o processo que leva à sua hospitalização e à operação ao coração, em março de 2002. Temos aqui uma estrondosa viagem pelo sonho, aquele vácuo de onde vamos buscar farrapos de reminiscências pelas errâncias da vida, há para ali descrições que nos lembram outras de pessoas que estiveram à beira de passar para a outra margem, luminosidade e turbilhão:
“Vejo algo como o paraíso encerrado em vidro. Entrei. Os soldados carecas de cabeça cúbica. Era tropa de elite e conheciam-me.
Ao fundo da sala uma porta estranha. Pequena. Quando chega a minha vez, e depois de uns me analisarem, eu, que era dos primeiros, entro naquela porta carregada de uma luz bonita que não encadeava nem feria a vista. Uma luz mais pura e forte bate-me na vista. Atravessei um túnel, antes um corredor. Não estava a sonhar e vi um cenário que nunca imaginara existir: uma floresta multicolor; arco-íris; jardins que percorriam todo o espaço; plantas exóticas; relva e musgo; florestas; flores de uma beleza nunca vista; um rio de água límpida; cascatas; mares calmos bem azuis; um mar de areia cor de ouro”.

E depois a infância, tudo começou na região de Sintra, havia férias na Covilhã; em gaiato vai viver para Alhandra, lembra a fábrica de cimento, o mouchão, as bateiras no Rio Tejo e também as fragatas, os avieiros, o Alhandra Sporting Clube, a terra de Baptista Pereira, a pequenada com quem brincou. São páginas enternecedoras, muito próximas de “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes. Segue-se, em termos telegramáticos, a recruta e a especialidade. E depois a despedida para a Guiné, comoções controladas e descontroladas, uma longa viagem solitária para olhar todas aquelas referências de lugares e pessoas. Parte para Oeiras e daqui para o Uíge, estamos em janeiro de 1967. Mal chegados a Bissau foram prontamente colocados em Gadamael-Porto, nem deu tempo para pôr os pés em Bissau, o batelão desceu imediatamente para a zona de alto risco. A sede do batalhão está em Buba. Ali à volta, nomes sonantes da guerra: depois do cruzamento de Ganturé, encontrava-se Sangonhá, Cacoca e Cameconde, seguindo Cacine; no chamado cruzamento de Guileje havia uma bifurcação para Mejo e Guileje.

Havia 400 pessoas da população em Gadamael e cerca de 200 Beafadas em Ganturé, sede de regulado. É especialista de minas e armadilhas, começa a rebentar com petardos de trotil os morros de bagabaga, havia que fazer clareiras e não dar ensejo a que os guerrilheiros tivessem pontos de apoio. De Ganturé saíam patrulhas de apoio às companhias de Mejo, Guileje e Sangonhá. Começaram a construir o cais de Gadamael e a armadilhar itinerários por onde os guerrilheiros iam tomar posição para as flagelações. Recorda a primeira emboscada no corredor de Guileje, um sucesso. Num batuque, em 4 de julho de 1967, rebenta uma granada e morrem vários civis, nunca se apurou se se tratou de imprevidência, vingança ou terror deliberado. Sucedem-se operações, patrulhamentos, colunas de reabastecimento. Aqui e acolá, Mário Vitorino Gaspar vai poetando. Vem de licença e nesse ínterim morrem dois camaradas, o furriel Pestana e o soldado Costa, pisaram minas, a narrativa é despretensiosa, autêntica, reproduz o jargão do tempo, sente-se mesmo a atmosfera dos destacamentos, a vivência da messe, os comentários quando se vai e vem das operações. Observa como a guerrilha se fortalece, com armamento bem equipado.

Deixamos algumas páginas de sufoco, a montar e a desmontar, a pôr arames de tropeçar, com uma “bailarina” que esteve pacientemente a remover de uma picada. Chega Spínola e toma medidas de retirada de quartéis em posições insustentáveis, é o caso de Sangonhá. Não deixa de comentar a monotonia da comida, adora petiscos e sempre que chega exige seis ou sete cervejolas frescas. Conta as atividades da CART 1659. Chegou a hora do regresso a Portugal. Descobre na caderneta militar que fora dado como morto. É admitido como lapidador de diamantes na DIALAP. Tem manifestações de stresse, passa a ter acompanhamento psiquiátrico. A sua narrativa faz um hiato, já está a trabalhar em prol da APOIAR com a ajuda do Dr. Afonso Albuquerque. É uma descrição sugestiva da vida de uma organização aonde acorre gente em grande sofrimento. Ele escreve no jornal acerca destes stressados:
“Ele teve que matar para sobreviver (…) O assistir mortes e ter que matar para sobreviver; estar presente em ações de violência; passar fome e sede; assistir e/ou participar na morte de crianças e mulheres; estar presente em ações de bombardeamentos, tiroteios intensivos; rebentamentos de minas, armadilhas, fornilhos; as dificuldades de ambientação ao clima e o estar longe da família – transformaram aqueles jovens sorridentes, ávidos de vida, em homens precocemente envelhecidos. O regresso. Farrapos humanos, remendados. Uns já haviam constituído família, outros fizeram-no logo de imediato, os restantes ficaram solteiros. Marcham para vidas diferentes. As mulheres e os filhos paridos muitas vezes de atos sexuais de violência, mulheres violadas pelo guerreiro e não pelo amor do marido.
De imediato, ou posteriormente, o ex-combatente, isola-se como se a aldeia, a vila ou a cidade fossem um aquartelamento. Não fala da guerra nem aos pais, à mulher, aos filhos, a familiares e a amigos, como não o fizeram quando combatia. Ao fazê-lo com alguém só narrava as bebedeiras e sorria.
Na generalidade, e num período curto ou mais lasso, volta a vestir a farda, embora civil, agride, esbofeteando a mulher, os filhos, ou ambos. Não tem paciência para o diálogo e, por vezes, a família embrião é destruída como por ação de um rebentamento. Os filhos ficam a cargo da mãe violada pela guerra colonial. Ele teve que matar para sobreviver na guerra. É o funeral da família. Foi uma mina, uma armadilha ou um fornilho”.

O leitor vai encontrar aqui páginas de uma renhida militância, Mário Vitorino Gaspar é um dos cometas da APOIAR até 2005, altura em que se mudou para a ACSSL – Associação Cultural e Social de Seniores em Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa.

Muito penou e muito militou. E percebe-se bem quando cita num artigo um poema de Fernando Pessoa:

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser
e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo,
por que também há vida…
Sou isso, enfim…
Apague a luz, feche a porta
e deixe de ter barulho de
chinelos no corredor

Para adquirir o livro, contactar por email: mariovitorinogaspar@gmail.com
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13196: Notas de leitura (594): "Planta da Praça de Bissau e suas Adjacentes", por Bernardino António Álvares de Andrade (Mário Beja Santos)