terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14238: Fotos à procura de... uma legenda (51): Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, Cabo Verde (1929/1943) e depois Guiné (1943/73)... Fotos da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, com amigos (Lucinda Aranha)





Fotos nº 1 e 1A



Fotos nº 2 e 2A



Fotos nº 3 e 3A




Fotos nº 4 e 4A

Cabo Verde > Ilha de Santiago > Praia > c. 1929/43 > O empresário Manuel Joaquim dos Prazeres com amigos.


Fotos: © Lucinda Aranha (2015). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Lucinda Aranha (filha do Manuel Joaquim, empresário  e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), o homem do cinema ambulante; ela está a escrever um livro sobre o pai) (*)


Data: 19 de janeiro de 2015 às 18:47
Assunto: Fotografias da Praia

Caro Carlos,

Este mail dirige-se ao tabanqueiro Luís Graça e não a si mas como já lhe referi, por diversas vezes, sou muito incompetente nestas andanças de Net. Por isso agradeço lhe faça chegar o meu pedido.

Caro Luís.

Li hoje uma sua mensagem em que refere ter estado o seu pai no Mindelo e ter o Luís um particular apreço por Cabo Verde onde tem amigos. Acontece que o livro que eu ando a escrever,conforme já referi no blogue,está praticamente concluído. Só que estou presa por umas fotografias que gostava de inserir no livro mas tenho tido muitas dificuldades em conseguir identificar a maior parte das pessoas.


Sei que foram tiradas entre 1930/40 na cidade da Praia e consigo identificar o meu pai [. foto direita], o mestre Vicente e, penso, o chefe da polícia, o Ramos Pereira. 

O Branco Vicente, mais velho, que vive na Praia,  não os consegue identificar, mandei as fotografias por mail para o Cacá, filho do dr Carlos Almeida, e que vive nos Açores mas em vão.

Tenho esperança que a Lurdinhas, uma filha do sócio do meu pai, consiga identificar os retratados. Só que apesar de ela viver em Lisboa é difícil, por razões diversas que não se prendem com má vontade, conseguir um encontro com ela nos tempos mais próximos. Assim, tomo a liberdade de lhe enviar as fotografias. Pode ser que o milagre aconteça.

Desde já muito obrigada,

Lucinda Aranha



Guiné > s/l > s/d > Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, que conhecia a Guiné como poucos

Foto: © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados.


2. Resposta do editor LG:

Lucinda:

Olá. boa, noite. Sim, o meu pai [, Luís Henriques, 1920-2014,]  esteve 26 meses em Cabo Verde, mais exatamente em São Vicente, Mindelo, entre junho de 1941 e setembro de 1943. Era então 1º cabo, e pertencia a uma força expedicionária (c. de 5 mil homens) que guardava aquele ponto estratégico, no Atlântico, por onde passavam os cabos submarimos e os navios que demandavam o hemisfério sul...

Infelizmente, não a posso ajudar, a não ser através das memórias que o meu pai me deixou, dessa época... Ele já não está entre nós. É boa a sua sugestão de se publicar as fotos (, que foram tiradas na Praia e não no Mindelo) e pedir ajuda para as legendar aos nossos camaradas, amigos e leitores de Cabo Verde. Por aí é possível obtermos alguma pista (*).

Há dias fiz uma referência ao seu pai. Ou melhor, o seu pai é referido no filme Bafatá Filme Clube, de Silas Tiny, produção da Real Ficção... O seu pai ia a Bafatá, dava cinema na casa ou no páteo de um comerciante local... Portanto, competia com o Sporting Club de Bafatá que tinha uma sala de cinema... Devem ter corrido com ele... No Sporting estava a elite local... Tem que ver o filme, passou na RTP2, está disponível em DVD (**)...

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Notas do editor:

(*) Último poset da série > 30 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14097: Fotos à procura de ... uma legenda (50): Fotos de António Fernandes Abreu, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 (José Manuel Matos Dinis)

(**) Vd. poste de 5 de janeiro de  2015 >  Guiné 63/74 - P14120: Manuscrito(s) (Luís Graça) (43): Notas à margem do documentário de Silas Tiny, "Bafatá Filme Clube", com direção de fotografia da Marta Pessoa (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78')

(...) (iii) A talhe de foice, também há uma referência à passagem, por Bafatá, do Manuel Joaquim dos Prazeres, o conhecido empresário de cinema ambulante, pai da nossa leitora e escritora Lucinda Aranha. Chegou a fazer sessões de cinema na casa do comerciantes António Marques da Silva. (..:) 

Guiné 63/74 - P14237: Parabéns a você (859): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14229: Parabéns a você (858): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14236: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte X (Mário Vasconcelos): Bissau, cidadezinha colonial, em 1956, onde chegam as modas de Lisboa


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Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015). [Edição: LG]




1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Trata-se de uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição, no espólio do seu falecido pai.

Hoje publicamos mais de anúncios de empresários de Bissau, com interesses em Bissau: era o caso, por exemplo, da Companhia dos Grandes Armazéns ALCOBIA, SARL, com sede na baixa lisboeta, que fornecia "mobiliário e decoração" para palácios do Governo (Guiné, Bié, Congo, Luanda...), hotéis, bancos, "e muitas outras entidades oficiais e particulares do Ultramar". Era uma casa famosa, fundada em 1914, instalado num edifício oitocentista,  na Rua Ivena, 14, esquina com a Rua Capelo...  e que ainda hoje existe   com sede na Av. Roma 48 - B - lj 1, Lisboa...

Ficamos a conhecer também:

(i) A. F. Parente & Ca, que tinha ao seu cuidao "todas as obras de asfaltamento das estradas da Guiné e da cidade de Bissau";

(ii) O Quiosque de Gelados, de Teresa Fiore, com os melhores sorvetes da cidade, cerveja das melhores marcas e esplanada; pelo apelido só pode ser uma senhora italiana, ou de origem italiana;

(iii) Empresa T. da Guiné, com "carreiras para todo o interior da província e Ziguinchor [Senegal,  o vizinho do norte, colónia francesa, que se tornaria independente em 4/4/1960]

(iv) Estação de Serviço Especializada Auto Bissau, de José Maria Melão: bate-chapas, pintura, mecânica;

(v) Império Lda, com fábricas de gelo, refrigerantes e fundição de metais; [há colecionadores com caricas de refrigerantes da marca Império Lda,, de Bissau!]

(vi) Jorge da Conceição Relvas de Carvalho, "O Transmontano", agente comercial (vinhos do Porto e outros produtos);

(vii) Costa & Campos Lda: agentes comerciais, representantes de Mourão da Costa Campos, Praça dos Restauradores, 13-3º Lisboa...

[Possivelmente Luís Joaquim Mourão da Costa Campos, Caranzalém,  Goa, 17.04.1903 / Lisboa 20.10.1989; no portal Geneall, lê-se que  foi: (i) funcionário do Banco Nacional Ultramarino; (ii) industrial e comerciante em Lisboa e na Guiné; (iii) grande empreendedor nas áreas da indústria hoteleira e turística; (iv) pioneiro em Portugal da atividade de catering à aviação comercial, e (v) pai de Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos  (1927-2006), cor inf ref,   antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973)].

Pormenor interessante: destas 7 empresas de Bissau, só uma tem nº de telefone no anúncio, a Empresa T. da Guiné... Era o nº 99... O telefone ainda era um luxo em 1956...Em Bissau o nº de telefone mais alto que encontrei até agora, nestes anúncios,  foi o da casa Benjamim Correia, uma das mais antigas, fundada no tempo da I República,em 1913... O nº de telefone era o... 156! Isto dá uma ideia da dimensão da rede telefónica!

Guiné 63/74 - P14235: Notas de leitura (680): "Os Princípios do Pan-africanismo", por Charles Olapido Akinde e “Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Abril de 2014:

Queridos amigos,
Os movimentos de libertação tiveram subjacente ideologias bem mais variadas do que o comunismo, ao contrário do que se escrevia nas cartilhas que tivemos na instrução militar. Primeiro, o pan-africanismo já era conhecido em Lisboa nos anos 1940 e 1950, os futuros chefes de guerrilha leram-nos em edições clandestinas. O pan-africanismo está praticamente extinto, é uma recordação para estudos académicos. O mesmo não se diz de Frantz Fanon, cujos “Os Condenados da Terra” continuam a inspirar quem estuda as guerras de libertação, o colonialismo e o neocolonialismo a partir do seu olhar na guerra da Argélia. Amílcar Cabral concordava e discordava de Fanon.
Mais adiante dir-se-á porquê.

Um abraço do
Mário


Os princípios do pan-africanismo e Frantz Fanon (1)

Beja Santos

A ideologia de Charles Olapido Akinde

Os libelos anticoloniais tiveram um itinerário diferente da defesa do pan-africanismo, os primeiros surgiram nos EUA e expandiram-se pela Europa e pela África, no pós-guerra. Em “Malhas que os Impérios Tecem”, de Manuela Ribeiro Sanches, de que aqui já se fez recensão, descreve-se todo este historial que irá desaguar nos tempos da descolonização da Ásia e da África. O pan-africanismo teve, de um modo geral, defensores radicais, ideários utópicos de uma unidade africana irrestrita, sempre a demolir o imperialismo, o colonialismo e o neocolonialismo.

“Os Princípios do Pan-Africanismo”, do escritor e advogado nigeriano Charles Olapido Akinde é uma dessas manifestações de radicalismo, é um texto altamente panfletário cujo conteúdo, para quem estuda África, não se pode ignorar. Olapido Akinde revela uma preocupação centralizada no neocolonialismo e procura abrir caminho a uma unidade africana de caráter incendiário. É demolidor na apreciação que faz à generalidade das classes políticas africanas: “Muitos dos intelectuais africanos foram instruídos e treinados no âmbito de um contexto onde os valores básicos foram herdados dos sistemas coloniais e que se encontram atualmente adaptados aos princípios do neocolonialismo (…) Muitos africanos encontram-se incapacitados de poderem analisar a relação e o jogo existentes entre a teoria prática. Não admira por isso que seja impossível agrupar todos os africanos de uma só filosofia. Muitas teorias reacionárias procuram modelar o modo de pensar dos africanos, tentando que se acredite que os agentes do imperialismo também são oprimidos pelo neocolonialismo”.

O escritor nigeriano sublinha que a maior parte da população africana é oprimida pelas minorias que possuem o poder económico e político nos diferentes países africanos. Impõe-se analisar as classes em que se movem esses detentores do poder, é o único modo de levar por diante o espírito pan-africanista, que é contra o paternalismo e essas lideranças políticas monitoradas pelos agentes do imperialismo. Olapido Akinde fala no pan-africanismo revolucionário, a única forma de denunciar e rejeitar os líderes burgueses acorrentados aos centros do imperialismo. O pan-africanismo precisa de uma ideologia bem definida e diz perentoriamente que devem ser recusadas todas as tentativas destinadas a perpetuar a dominação da economia africana pelos monopólios e os seus agentes fantoches em África.

As independências políticas africanas revelavam uma quebra no velho ardor revolucionário, deixando as massas na ignorância e no conformismo. Lembra os revolucionários que foram assassinados ou morreram na luta, caso de Ben Barka, Frantz Fanon e Malcom X. Considera que desde 1960 não foi dado nenhum passo efetivo para incluir o proletariado no combate à opressão neocolonial, pelo contrário os novos dirigentes sentem-se conformados com as divisões entre nações, aparecem comprometidos com pactos militares com as potências imperialistas. É também severo sobre a exigência de se encontrar uma língua franca (idioma comum) para África, é incompatível com a filologia e a variedade culturas das línguas nativas.

A seguir, resume os princípios do pan-africanismo, teria começado com o comércio da escravatura transatlântica e toda a opressão subsequente a ideia pan-africana desabrochou no início do século XX quando os negros norte-americanos e das Caraíbas se interrogaram sobre as suas origens e apelaram à solidariedade com os outros escravos, do outro lado do Atlântico. Analisa metodicamente a nova era do pan-africanismo, considerando-a a expressão mais alta do nacionalismo africano, nega que haja subjacente ao fenómeno uma ideologia racista, é simplesmente contra o racismo dos exploradores, brancos e pretos.

De uma forma rudimentar, faz a apologia do movimento pan-africanista no contexto de todo o mundo socialista, para ele é inquestionável que este movimento é uma parte integrante do movimento anti-imperialista à escala mundial. E volta a zurzir na burguesia das cliques africanas que considera reacionárias e oportunistas. E só dentro destes valores é que poderá vir a realizar-se uma descolonização efetiva e tratar com respeito as diferentes etnias que foram retalhadas pelos Estados colonialistas. Dirá mesmo: “Qualquer Estado e de qualquer tamanho compõe-se, pelo menos, de 4 nacionalidades. Para dar um exemplo, os Mandingas, cuja população se eleva a vários milhões, encontram-se atualmente no Senegal, Mali, Costa do Marfim, Gâmbia, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Guiné-Bissau e Libéria. O povo Hausa encontra-se espalhado pela Nigéria, Camarões, Níger e Tchade. Os Yorubas no Níger e Daomé”. E lança a seguinte palavra de ordem: “Todos os pan-africanistas devem reconhecer o direito das nações à autodeterminação, para nos dar as bases para a união livre dos nossos povos”. A ideologia e o apostolado do pan-africanismo praticamente que desapareceu.


“Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon

Médico e escritor natural da Martinica, Fanon publica em 1961, na conceituada editora Maspero “Os Condenados da Terra”, houve tradução em português, apreendida. Jean-Paul Sartre prefaciou e elogiou o poderoso libelo: “Europeus, abram este livro, penetrem nele. Depois de alguns passos na noite, encontrarão alguns seres estranhos em redor do fogo, aproximem-se e escutem: discutem o destino que reservam às vossas feitorias, aos mercenários que as defendem. Eles darão conta da vossa presença, mas continuarão a falar entre si, sem sequer baixar o tom de voz. Essa indiferença fere muito fundo: os vossos pais, sombras escuras, vossas sombras, eram almas mortas, ofereciam-lhe a vida, não falavam senão a vocês e ninguém se ocupava em responder a esses zombies”.

Para Sartre, o europeu já está derrotado, as propostas de Fanon serão alcançadas. A opressão do colono foi milenária, os opressores sabem tudo sobre nós: “Sabem que somos exploradores. Sabem que nos apoderámos do ouro, dos metais e do petróleo para os conduzir às velhas metrópoles. Não sem excelentes resultados: palácios, catedrais, capitais industriais; e quando a crise ameaçava, aí estavam os mercados coloniais para a abrandar ou desviar”.

Fanon explica a violência inerente à descolonização, que se propõe mudar a ordem do mundo, trás consigo a exigência de uma entrega completa da situação colonial. E disseca a relação entre colonizador e colonizado e as respetivas geografias: mundo colonial é um mundo compartimentado entre indígenas e europeus, o porta-voz do colono é o polícia e o soldado (…) A zona habitada pelos colonizados não é complementar pela zona habitada pelos colonos. Essas duas zonas opõem-se. A cidade do colono é uma cidade sólida, toda de pedra e ferro. A cidade do colono é uma cidade farta. A cidade indígena, a cidade negra, o bairro árabe, é um lugar de má fama. Ali, nasce-se em qualquer lado, morre-se em qualquer parte, é um mundo sem intervalos. A cidade do colonizado é uma cidade esfomeada, agachada, de joelhos, a chafurdar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14224: Notas de leitura (679): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (6): A Terceira Geração d'Os Coelhos (2)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14234: Inquérito online: opinião: "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...

1. Amigos/as e camaradas: aí vai mais uma "sondagem de opinião"... A primeira do ano de 2015. 

Claro que nós somos suspeitos e, neste caso, juízes em causa própria... A pergunta também deveria ser colocada aos "outros" que estão aqui em causa; russos, chineses, cubanos, suecos... Os seus governos, na época, apoiaram politica, militar, financeira, humanitária e/ou diplomaticamente o esforço de guerra do PAIGC durante a guerra colonial (1961/74)...

Será que estes povos continuam a ter hoje afeto pelos guineenses, tanto ou mais que os portugueses ?

A pergunta pode parecer idiota... Os ministros dos negócios estrangeiros não têm afetos, têm interesses... Hoje, a diplomacia é cada vez mais "económica"...  e os ministros dos negócios estrangeiros não passam de caixeiros viajantes...

De qualquer modo, os governos não se confundem com os povos... Os  governos (e os regimes) passam, mudam, os povos ficam... Felizmente, para todos nós... Apesar do estigma: Hitler e os alemães, Estaline e os russos, Mao Tsé Tung e os chineses, só para falar de "grandes povos"... e de alguns dos seus líderes históricos... Amílcar Cabral gostava de fazer a distinção entre o "povo português" e o regime político (e económico) que o PAIGC combatia, o de Salazar/Caetano...

Os portugueses levam, à partida, alguma vantagem, porque chegaram à costas da Guiné por volta de meados do séc. XV... E sempre foram poucos para se perderem na tentação de abarcar um império do tamanho do mundo... Dizem que foram mais exploradores que conquistadores... Foram seguramente melhores exploradores do que conquistadores,,,

Por outro lado, guineenses e portugueses são lusófonos....E inventaram,  em conjunto, essa bela e fantástica língua, que é o crioulo... Russos e chineses treinaram combatentes do PAIGC e forneceram lhes armas e munições (da Kalashnikov ao Strela) com que mataram portugueses e guiineenses... Cubanos também, alguns, morreram ao lado dos combatentes, guineenses (muitos) e caboverdianos  (poucos) do PAIGC, em nome do "internacionalismo proletário" e da "luta anticolonialista e anti-imperialista"... Os suecos, por sua vez,  foram, nos países ocidentais, os que mais apoiaram, em termos diplomáticos e em ajuda humanitária, a partir de 1969, o partido do portuguesissimo Amilcar Cabral...

Afinal, em que é que ficamos ? É tudo mitos e balelas ? Falar de afetos não significa passar uma esponja sobre a história da colonização da Guiné, se é que a houve... Colonialismo, sim, sem dúvida... A Casa Gouveia era uma andorinha que não chegou a fazer a primavera... Claro que houve a "pacificação militar" e o "capitão-diabo", Teixeira Pinto... Claro que houve o "imposto de palhota" (, peça fundamental do colonialismo europeu)... Claro que houve violência, de um lado e do outro... Claro que houve o Pidjiguiti (mal contado, de um lado e do outro), houve a PIDE, houve o Tarrafal... Claro que houve a morte dos três majores e seus acompanhantes, desarmados, no chão manjaco, em 1970.... Claro que houve, em 1973,   a tragédia do assassinato do Amílcar Cabral (, ainda envolta em muitos silêncios e perplexidades)... Claro que houve o fuzilamento dos nossos camaradas guineenses, dos comandos, dos fuzileiros, das milícias, e outros, já depois da independência, no tempo de Luís Cabral...

Enfim, claro que houve uma guerra e ajustes de contas...  Mas também houve um esforço, mútuo, para alcançar a paz... E há gente que hoje volta à Guiné, à Guiné-Bissau, e mantém uma relação positiva com os guineenses... E não falo apenas de interesses e negócios... Felizmente,  a Guiné-Bissau ainda não tem petróleo...

Camarada, qual a tua opinião sobre este tema ? Faz o teu balanço... Vota. O objetivo é apenas didático. Vota e comenta. A sondagem é extensiva aos demais leitores. amigos da Guiné-Bissau,  que têm opinião sobre o assunto... (LG)

Guiné 63/74 - P14233: Libertando-me (Tony Borié) (3): O senhor Spencer, em Mansoa, industrial de madeiras, representante do Gazcidla e de uma agência de viagens.

Terceiro episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.




O senhor Spencer era uma robusta pessoa, que eu não sabia se era de origem cabo-verdiana ou guinéu, era para todos “o Senhor Spencer”, era comerciante em Mansoa, em especial de madeiras, também lá havia na altura outro comerciante que se dedicava a madeiras, mas de origem europeia e, creio que vivia em Bissau.

Mas o “senhor Spencer” é o progonista da nossa história.

Nas muitas vezes em que nos juntávamos na célebre “sueca”, aquele jogo de cartas muito popular entre os militares, em que quem perdia pagava, neste caso era “licor”, como ele dizia, não cerveja ou vinho, que o bebam vocês lá no quartel, dizia ele, coçando o estômago, já um pouco saliente.

Era proprietário de uma camioneta que só existia a cabine e o esqueleto atrás, com umas traves presas por cordas, dizia que era o suficiente para ir buscar os “toros de madeira” ao interior das matas, para transportar ao fim do mês para Bissau, onde o seu destino era o continente. Às vezes, alguns brincavam com ele, perguntando-lhe, quando regressava com a camioneta, com dois ou três “toros” em cima, deitando muito fumo:
- Quantos mataste para te carregarem a camioneta, com toda essa madeira roubada?

Ele ficava furioso, mas controlava-se, sorrindo.


Um dia disse-me que em Bissau o informaram que havia um novo produto, já muito famoso, que iria substituir a lenha para cozinhar, era o “Gazcidla”, ele próprio iria ser o agente em Mansoa, assim como iria facilitar qualquer pessoa que quisesse viajar para fora da Guiné, pois também iria representar uma agência de viagens da capital, pedindo-me que lhe fizesse um cartaz publicitário para colocar junto à sede do clube “Os Balantas”, num largo em cimento que na altura lá existia, em frente, ou ao lado, do clube onde nós os militares jogávamos andebol e basquetebol.


Ajustámos que ele dava a tinta e outros materiais, eu só fazia os “rabiscos”, pagando ele 65 pesos. Como combinado, rabisquei conforme me foi possível, colocou-se o cartaz e, no primeiro dia da época das chuvas, os “rabiscos” desapareceram, pois a tinta era de muito fraca qualidade.

Conclusão, tive que rabiscar tudo outra vez, dizendo-me ele para fazer realçar a garrafa de “Gazcidla” e o avião.


Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14209: Libertando-me (Tony Borié) (2): 10 de Junho e a visita do Primeiro Ministro de Portugal à Comunidade Portuguesa de Newark

Guiné 63/74 - P14232: História de vida (38): José da Câmara um açoriano activo na comunidade açoriana de Stoughton, nos Estados Unidos da América

Com a devida vénia a Costa Ocidental - Flores, publicamos a entrevista dada pelo nosso camarada José Câmara, que, como sabemos, há muitos anos se radicou nos Estados Unidos da América.

Nesta entrevista, publicada no Youtube, José Câmara fala de si, da sua ilha das Flores e de como os açorianos se integraram na sociedade americana, particularmente em Stoughton, MA. A não perder e a ouvir do princípio ao fim. 


Este o texto que enquadra a entrevista:

Numa viagem-sonho à América, por alturas do Natal e final de ano de 2014, foram feitas inúmeras recolhas de testemunhos, experiências de vida, bem como alguns costumes, tradições usos e costumes das populações, outrora idas de Portugal e, na maioria, dos Açores. 
A maioria dos trabalhos contemplaram testemunhos de emigrantes e, também aconteceram, alguns de segunda geração, já nascidos e criados no Continente Americano. 
O contacto com centenas de pessoas com as mais diversas profissões e até aposentados, foi um enorme enriquecimento e uma forma de olhar completamente diferente da que existia sobre os nossos emigrantes. 
Uma das dificuldades em comum a quase todos foi a “língua” de seguida a adaptação ao clima. 
A Costa Ocidental teve o apoio de todos a quem se dirigiu, tendo sido em alguns casos, uns mais que outros. 
Este trabalho retracta um pouco da vida de um Açoriano/Florentino, homem de família, sonhos e realizações, o Sr. José Alexandre Câmara, no seio de uma comunidade de Açorianos, mais concretamente de florentinos, em Stoughton, MA – USA, que faz/tem a sua vida na América, mas sempre pautada por princípios Açorianos, princípios esses que ainda hoje mantêm e, vivamente, transmite a todos os que o rodeiam. Mas para ficar a saber tudo da conversa que teve com a Costa Ocidental, nada melhor que ver as imagens/vídeo: 
Obrigado ao Sr. José Alexandre Câmara, pela prontidão e amabilidade em conceder estes momentos fantásticos, que serão mais um enriquecimento para a história e património imaterial dos Açores. 
Obrigado à Gabriela Silva, pela mestria e profissionalismo, bem como a disponibilidade e prontidão com que abraça o projecto “Costa Ocidental”.
Obrigado à Família Costa (Osvaldo, Connie e Tânia) por me acolherem, darem apoio logístico, contactos de pessoas interessantes, entre outras coisas. 
Obrigado ao clube S. João, onde foram captadas estas imagens 
Obrigado à Luísa Silveira, que embora ficando na Ilha, deu todo o apoio familiar necessário para que tudo corresse conformemente planeado. 
Obrigado à SATA-Transportadora Aérea Açoriana, e a todos os que de uma forma ou de outra tornaram possíveis estas imagens. 
José
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Notas do editor

(*) José da Câmara foi Fur Mil da CCAÇ 3327 e do Pel Caç Nat 56 e esteve em Brá, Bachile e Teixeira Pinto, nos anos de 1971 a 1973.

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12664: História de vida (37): O AVC é uma doença subtil que chega sem avisar (José Saúde)

Guiné 63/74 - P14231: Recortes de imprensa (72): Portugual e Espanha: parecenças e diferenças... Esterótipos: (i) "Portugueses, pocos, pero locos"; (ii) "De Espanha nem bom vento nem bom casamento...

1. Quem somos nós, portugueses ?

A pergunta é difícil de responder, porque não somos decididamente o somatório dos 10 milhões que aqui vivem, neste retângulo de 89 mil km quadrados, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores, mais o ex-faroleiro das Berlengas...  E mais os cinco (?) milhões de "portugas" que vivem, na diáspora lusitana, em cerca de 200 países diferentes...

É mais simples começar pelos "estereótipos" que os outros têm de nós... Neste caso, os que nos estão mais próximos, geográfica, genética, cultural e historicamente falando: os "nuestros hermanos!", os únicos vizinhos terrestres que, de resto,  temos, do lado poente e setentrional da Europa...

Veja-se (e já agora comente-se) este artigo, publicado há menos de seis meses, no jornal diário espanhol, de Mdrid, o ABC...  (LG)

PS - Acabei por não ir, ontem,  à última das "7 conversas sobre a humanidade", organizadas pela Fundação EDP na véspera do encerramento da vídeo-exposição "7 mil milhões de outros", porque à última da hora houve troca de "artistas"... A conversa era sobre os "portugueses"... (*)




ABC > Sociedad > Diferencias entre portugueses y españoles
Belén Rodrigo, corresponsal en Lisboa.
Día 14/09/2014 - 23.38h (**)


Somos parecidos pero no iguales. Compartimos un territorio pero cada uno tiene sus propias costumbres. De forma divertida y entretenida se pueden contar, a rasgos generales, lo que más nos diferencia

Hermanos, primos, amigos, vecinos, compañeros, socios, cómplices o aliados. Son muchas las formas de relacionar a españoles y portugueses, dos pueblos ibéricos que comparten un territorio y muchos años de historia. Evidentemente hay similitudes entre ambos, por tratarse de dos países fronterizos dentro de Europa, pero a veces se comete el error de pensar que somos en todo iguales o muy parecidos, porque tenemos nuestras diferencias.

Existe siempre el riesgo de generalizar demasiado y no se debe olvidar que no hay ni dos españoles ni dos portugueses iguales, por lo que no se puede hacer de una generalidad una regla. Y al hablar de estos temas nos basamos también en nuestras propias vivencias y experiencias por lo que cada uno puede tener una visión distinta. Además de ser diferentes, unos y otros nos enfrentamos a mitos y estereotipos que se han ido creando a nuestro alrededor. Y no siempre es fácil acabar con esas ideas que pueden perjudicar nuestras relaciones.

Empezando por la forma de ser de cada uno, se tiende a definir al español como una persona alegre y al portugués como una persona triste. Pero ni todo es fiesta en España ni todo es fado en Portugal. Sin embargo, sí que hay rasgos muy diferentes al definirnos.

Los españoles somos más extrovertidos, charlatanes, gritones, expresivos, informales y besucones. Expresamos más abiertamente nuestros sentimientos. Los portugueses por su parte, son más reservados, hablan mucho menos y más bajito, muy educados y formales. En esto de las formalidades nos ganan, sigue siendo el país de doctores e ingenieros, donde el título tiene mucha importancia, demasiada. Los españoles prefieren el tuteo y hasta nos ofendemos si nos tratan de usted.

En Portugal ir de chatos no está muy generalizado. 

En los horarios tampoco nos ponemos de acuerdo, y no sólo porque en Portugal sea una hora menos. A las 12 del mediodía en España se toma un pinchito de tortilla con una caña o una tostada con tomate y aceite, por poner un ejemplo. A esa hora en Portugal ya se empiezan a poner los manteles para comer aunque los restaurantes se llenan alrededor de las 13 horas. Comer a las tres de la tarde y cenar a las diez de la noche es algo muy habitual en las familias españolas pero no en las portuguesas donde ya son horarios muy tardíos.

Y en España, quien puede, después del trabajo se toma una cañita con los compañeros u amigos antes de ir a cenar. En el país vecino eso de ir de chatos no está muy generalizado aunque cada vez hay más lugares para ir de tapas y cañas. Y ya que hablamos de comida aunque ambos compartimos la dieta mediterránea existen algunos matices, sobre todo en la forma de elaborar y de presentar los alimentos.

Y hay que acabar con mitos. Los portugueses son los reyes del bacalao pero no consumen únicamente este pescado. Y los españoles no comemos solo fritos ni estamos todo el día con pinchos y raciones, como a veces se piensan nuestros vecinos. Si nosotros no perdonamos el primer, segundo plato y postre, en Portugal no pierden la costumbre de mezclar todo en un mismo plato en el que normalmente no falta el arroz.

Donde los portugueses nos sacan una gran ventaja es en el café. Nosotros utilizamos mezcla de café natural y torrefacto y se nota mucho en el sabor y en la intensidad. El café solo y expreso forma parte de la cultura lusa, toman dos, tres y hasta cuatro por día. Después de comer en casa, en vez de estar de sobremesa, la familia entera se marcha a tomar café al local de costumbre. Ayuda el precio, una media de 0,60 euros por café.

Idiomas

Y por seguir hablando de ventajas portuguesas, capítulo aparte es el de los idiomas. La fonética lusa es mucho más rica que la española lo cual les facilita mucho las cosas a la hora de aprender idiomas. A eso hay que sumarle el hecho de que a excepción de los dibujos animados, todas las series y películas se emiten en versión original, tanto en el cine como en la televisión.

Es cierto que los españoles tenemos un oído mucho más cerrado pero tampoco se pueden hacer milagros cuando de pequeños nos dan clase de inglés profesores españoles y en general es el único idioma que escuchamos en nuestro día a día. El oído está poco o nada habituado a escuchar los otros idiomas.

Pero este problema español se exagera bastante en Portugal donde nos critican además por traducir todo a la española. Entre los mitos de los que hablaba, muchos portugueses siguen afirmando que decimos “Piedras Rodadas” en lugar de “The Rolling Stones” y “Juanito caminante” en vez de “Johnnie Walker”.

Como ocurre con muchos idiomas, entre el español y el portugués existen los llamados falsos amigos. Si un portugués le dice a una chica que está espantosa significa que está espectacular, apabullante. Y cuando los españoles decimos que la comida está exquisita para un portugués no significa que está deliciosa sino que es rara o extraña.


Los niños

Diferentes somos también a la hora de cuidar a los más pequeños. En Portugal siguen a pie de la letra la recomendación médica de no sacar a los bebés las primeras semanas de vida, a excepción de lo necesario, como son las revisiones médicas. El médico español, por el contrario, te recomienda paseo diario con el bebé, haga frío o calor, le tiene que dar el aire. Apenas se ven capazos por las calles de Portugal, sino las maxicosi o “huevos”, pero los tapan con una mantita o una gasa de tal forma que difícilmente al niño le llega un poquito de aire.

A las mamás españolas les encanta presumir de carritos y de bebés, con vestimenta mucho más emperifollada, sobre todo si son niñas. Los pendientes y los lazos están presentes prácticamente desde el primer día. Y como somos muy de estar en la calle, pues los niños igual. Los portugueses son mucho más estrictos con los horarios de los peques y no pierden detalle con el cuidado. Es casi imposible ver a un peque sin su gorrito si da un poquito el sol y llegan a la playa a las 9 y se van a las 12, si van con bebés. Los españoles sabemos que es lo más adecuado para nuestros niños pero nos relajamos bastante más, son más todoterrenos y no les protegemos en exceso.

La puntualidad no es un punto fuerte ni para unos ni para otros pero en Portugal hay un rasgo muy peculiar a la hora de convocar un evento. En las invitaciones aparece “pelas 12 horas”, por ejemplo. Es decir, sobre las 12. Con esta costumbre tan generalizada nadie sabe muy bien a qué hora empieza un acto y esto ocurre hasta en las invitaciones de boda.

Juntos somos una mezcla interesante, logramos un buen equilibrio

Como forma de resumen, se puede decir que los españoles confiamos mucho en nosotros mismos, nos consideramos en muchas cosas los mejores. Somos, en pocas palabras, muy echados para adelante. El portugués suele ver la botella medio vacía, se lamenta de sus problemas, es bastante envidioso y se fija demasiado en lo que hacen los otros sin darse cuenta de las muchas virtudes que tiene. Y juntos podemos vernos como una mezcla interesante porque lo que en uno exagera el otro se queda corto. Logramos un buen equilibrio aunque normalmente no nos damos cuenta. Tenemos mucho que dar y recibir y sobre todo que aprender de los que están tan cerca de nosotros.

[Reproduzido com a devida vénia. Fixação de texto: LG] (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  31 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14207: Agenda cultural (377): Nós, os portugueses, e os 7 mil milhões de outros: Fundação EDP, Museu da Eletricidade, Lisboa, 7 de fevereiro, 16h00... A não perder!

(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14227: Recortes de imprensa (71):Hepatite C: ex-combatentes são um grupo de risco: antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários (SOS hepatites Portugal, fundada em 2005)

(***) Vd. também  poste de 26 de setembro de  2014 > Guiné 63774 - P13654: Manuscritos(s) (Luís Graça) (39):Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros...O que fazer com tantos clichés, estereótipos e preconceitos idiotas ? E não se pode exterminá-los ?

(...) Nisto de comparações internacionais, todos perdemos, ao fim e ao cabo... Porque acabamos por reforçar a filosofia de senso comum, as ideias feitas, os estereótipos que temos uns sobre os outros... A sua origem, às vezes, ou quase sempre, perde-se nos tempos, isto é, na história,..

Por exemplo: o mais internacionalista dos povos, pretendem os valorosos tugas descendentes do Viriato (mas também de judeus, bérberes, africanos negros subsarianos...) seria, sem dúvida, o português. Poderíamos apresentar dezenas de argumentos a favor desta tese. Fiquemo-nos por umas 3 dezenas de proposições a favor da tese do "internacionalismo português"..

O mais internacionalista, universal, ecuménico, global, aberto, flexível e... desenrascado dos povos à face da terra, seria o português (também conhecido por portuga, tuga, Zé, Zé Povinho...)... É a tese da idiossincrasia portuguesa que teria ajudado "a dar novos mundos ao mundo" (...)

Guiné 63/74 - P14230: Memória dos lugares (286): a ponte-cais de Binta e o madeireiro Manuel Ribeiro Carvalho (José Eduardo Oliveira / Antº Rosinha)








Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1964/66) >  Ponte-cais de Binta, no rio Cacheu > Fotos do álbum do nosso camarada  José Euardo Oliveira (JERO), natural de Alcobaça,


Fotos: © José Eduardo Oliveira  (2015). Todos os direitos reservados.

1. Comentário do JERO ( (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66) (*)


"Tropecei" com particular emoção neste anúncio do madeireiro Manuel Ribeiro de Carvalho, que conheci em Binta no 2º.semestre de 1964. Pertenci à CCaç.675 que esteve em Binta desde 30 de Junho de 64 a finais de Abril de 1966. Fui o Furriel Enfermeiro da Companhia e recorda-me de ter tratado do sr.Ribeiro duas vezes: a uma retenção de urinas, em que tive de o algaliar,  e um "ataque" de abelhas muito grave.

A minha Companhia fez-lhe segurança em algumas idas ao mato para cortar madeiras quando se aproximava a data do carregamento de barcos que vinham até Binta, pelo Rio Cacheu. 

Falei muitas vezes com ele. Era uma pessoa de bom trato e , nesse tempo, já com uns 30 anos de Guiné. Quando vi o seu "anúncio" nesta postagem fiz uma autêntica viagem ao passado. E já vão 50 anos !!! Obrigado., JERO


2. Comentário do Antº Rosinha:

Amigo Jero, Binta era de facto um antigo importante ponto de embarque de troncos de madeira, talvez a maior parte para exportação.

Se te lembras tinha uma ponte cais de madeira, pois o governo de Luís Cabral que dava muita importância ao transporte fluvial, ainda conseguiu dinheiro para substituir a pequena ponte cais de madeira por uma idêntica mas em betão armado.

Luís Cabral foi corrido e já não viu a sua obra.

Mas os guineenses já não precisavam da ponte cais porque com o equipamento e máquinas modernas e grandes tractores e camiões da VOLVO que a Suécia ofereceu, num instante cortaram e transportaram a maioria dos grandes troncos no porto de Bissau, e por via terrestre. (...)


3. Comentário do editor:

Jero, se puderes manda-nos algumas fotos da ponte-cais de Binta (**).

Obrigado pelo teu primeiro comentário a este poste. Mais de meio século depois, consegues sentir e transmitir uma emoção concreta ao ler um anúncio de uma revista de 1956, que fala de um tal Manuel Ribeiro de Carvalho (*), madeireiro, que tu conheceste em 1964, em Binta, e a quem trataste, de um problema de saúde.

É a prova, mais do que provada, de que tu, Jero, estás vivo e bem viv, e que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande.

Partilho a tua emoção. Mal de nós quando perdermos a capacidade de nos emocionarmo-nos.

Xicoração estremenho do Luís

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14221: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte IX (Mário Vasconcelos): o madeireiro Manuel Ribeiro de Carvalho (Binta, Farim) e a carpintaria mecânica de Humberto Félix da Silva (Bissau)

(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14211: Memória dos lugares (284): Fortaleza da Amura, estátua de Diogo Gomes, ponte cais de Bissau e edifício da Alfândega (Arménio Estorninho / Agostinho Gaspar / António Bastos)

Guiné 63/74 - P14229: Parabéns a você (858): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14222: Parabéns a você (857): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14228: Da Suécia com saudade (48): (Sobre)Viver na Lapónia (José Belo / Miguel Pessoa)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Ref), co-editor da Tabanca do Centro, com data de 6 de Janeiro de 2014:

Desafiámos o nosso camarigo José Belo, a viver há quarenta anos no extremo norte da Suécia, a descrever-nos o tipo de vida e as adaptações a que um lusitano se teve que sujeitar para viver num ambiente que para nós é difícil de imaginar... e de suportar...
A resposta está aqui, explicada pormenorizadamente por este nosso camarada.

Apreciem...
Miguel Pessoa


VIVER NA LAPÓNIA

José Belo(*)

Perguntam-me como se consegue (sobre)viver na Lapónia. Em primeiro lugar há que ter em conta que esta vastíssima área do Círculo Polar está enquadrada pelas fronteiras da Noruega, Suécia e Finlândia.

Não sendo propriamente países com dificuldades económicas, as realidades locais estão muito distanciadas das realidades árticas russas, para citar o exemplo mas próximo.

As auto-estradas e estradas que ligam os centros populacionais estão bem mantidas e a funcionar 365 dias por ano, independentemente das temperaturas, com um sistema de limpeza de neve e gelo, assim como os aeroportos locais, com carreiras regulares a funcionar também 365 dias por ano, independentemente das temperaturas extremas.

Muito importantes para a economia local (exportação que sai da maior mina Europeia de ferro situada em Kiruna, para o porto atlântico norueguês de Narvik) as vias férreas estão sempre abertas.

Um serviço de urgências, com helicópteros-ambulância estrategicamente distribuídos, garante um máximo de 30 minutos de voo até aos locais mais isolados.

Os custos destes serviços, somados ao facto de todas as auto-estradas, pontes (com excepção da que liga a sul a Suécia à Dinamarca), barcos transportadores de viaturas (serviço muito importante num país com inúmeros lagos) são obviamente muito elevados. Não será por acaso que os países Escandinavos, com a Suécia à frente, são mundialmente conhecidos pelos seus altos impostos.

Quanto ao "porquê" de eu viver largos períodos do ano em tal exílio, e procurando tornar uma longa história curta... A minha mulher é filha única de um conhecido industrial sueco com negócios na Escandinávia e nos Estados Unidos.

Este senhor mandou construir uma casa para convidar os amigos e outros industriais para umas férias exóticas, com passeios de trenó, pescarias várias, e nas horas vagas dar uns tirinhos nos animais selvagens circundantes.

Como não seria propriamente parvo, fez construir a casa junto do maior parque natural europeu (e dos mais espectaculares da Suécia), que é o de Abisko.

A casa está situada na margem norte do lago Torneträsk, precisamente a meio caminho da cidade fronteiriça sueca de Karesuando a nordeste, e o porto atlântico norueguês de Narvik a oeste.

A pequena localidade de Karesuando é a situada mais ao norte da Suécia, onde termina a estrada Europa-45 e a estrada do Reino-49.

Será talvez interessante para alguns uma vista de olhos às fotos aéreas do Google-Earth, tendo como referência a estrada que liga Kíruna a Narvik na costa atlântica. Aí poderão observar montanhas e lagos mais espaços infindáveis... mas casas?!

Cerca de 2/3 da população sueca vive a sul de Estocolmo e Estocolmo está a 1700 quilómetros lá para o sul daqui.

A Suécia tem uma área 14 vezes maior que Portugal com uma população menor (Para nos "situarmos", a distância da fronteira norte sueca à fronteira sul é a mesma que a da fronteira sul sueca à cidade italiana de Milão). Dentro deste contexto não se torna tão estranho o facto de o meu vizinho mais próximo viver a 200 quilómetros da minha casa… ou mais.

Como é que aqui se vive tendo em conta os Invernos de 9 meses e os 4 meses de escuridão total nas 24 horas do "dia", a somarem-se ao curto Verão de semanas em que o Sol nunca se põe?

Uma casa de madeira nórdica (e é importante ser de madeira!), com paredes duplas e largo material de isolamento intermediário.
Isolamentos extremos tanto em alicerces como no tecto.
Janelas de vidros duplos que criam uma almofada de ar quente entre eles.
Porta exterior dupla seguida de uma entrada que permita encerrar a porta da rua antes de entrar propriamente na parte residencial.
Uma boa caldeira dupla (!) de aquecimento a óleo, construída na cave da casa.
Um muito razoável depósito exterior (subterrâneo) para o óleo.
Óleo fornecido periodicamente por camiões cisternas.

A temperatura em toda a casa mantém-se entre os 22 e os 24 graus, sendo esta a recomendada como saudável. Nesta zona ártica tanto o óleo como a electricidade são subsidiados em percentagens muito elevadas pelo Estado, numa política inteligente de procurar manter alguma ocupação populacional da área.

Aquecimento eléctrico em forma de serpentina envolvendo os canos que ligam o furo de água sob a casa (Esta água obtida de furos profundos mantém uma temperatura de 8 graus positivos ao longo do ano).

Um "pequeno detalhe" a não esquecer... os esgotos. Os canos são também electricamente aquecidos até atingirem o depósito exterior, também subterrâneo, sendo este esvaziado periodicamente pela mesma firma que fornece o óleo para aquecimento.

Quanto a alimentos, e tendo em conta as quantidades necessárias para garantir aprovisionamentos confortáveis, o problema é inverso.

A serem guardados em arrecadação exterior esta tem que estar aquecida (!!!) às temperaturas normais de um frigorífico, que estão à volta dos 8 graus positivos.

Arcas congeladoras também são importantes para guardar durante todo o ano as grandes quantidades de carne selvagem aqui abatida e consumida, para além dos diversos peixes locais como a truta e o salmão.

Entrando em detalhe, um alce fornece muitos mais quilos de carne consumível que um cavalo. As renas funcionam um bocado como os porcos na Lusitânia... tudo se consome, desde o lombo, filé, febras, perna fumada, sangue para enchidos etc.


A isto somam-se as lebres e perdizes (ambas brancas!), alguns tipos de gazelas e... por muito que aí me não acreditem... enchidos de carne de urso (Um pouco como o nosso paio)!

E, um detalhe importante: Toda esta lista, tanto de carnes como de peixes, é obtida a umas centenas de metros da casa sem ser necessário o uso de dinheiro.

Quanto a bebidas para fins "medicinais... não há casa sem um alambique (dos antigos em cobre) que não produza vodka com percentagens de álcool que aí seria vendido nas farmácias…

Para frutas, vegetais, vinhos, drogarias e tudo o resto, tanto a cidade sueca de Kíruna como a norueguesa de Narvik estão a cerca de 200 quilómetros.

Tenho que concordar que talvez seja "um pouco" para se comprar tabaco ou o jornal da tarde, mas por outro lado o bacalhau norueguês que para aí vai é em grande parte da região de Narvik, só que... aqui se compra a menos de 80% do preço que custa na Lusitânia. Deste modo, bacalhau e "coubinhas quentes" por aqui não faltam.

Quanto ao isolamento, ou dificuldades de transporte, é claro que quando os temporais de neve, gelo e nevoeiro apertam não se pode esquecer que estamos muitas centenas de quilómetros dentro do Círculo Polar. 


Dá por vezes trabalho extremo mas é um preço que vale a pena pagar tanto pelo sossego, silêncio quase místico, e a grandiosidade desta natureza envolvente, nas suas montanhas, bosques, rios e lagos que se veem de todas (!) as janelas da casa.

Detalhes práticos... Um bom Jeep com tração às quatro rodas, de modelo de fábrica aconselhado para estas condições extremas.

Pelo menos duas "scooters" para a neve. Uma para transporte pessoal e outra para rebocar trenós de cargas várias.

Existe um aparelho muito prático que consiste essencialmente numa larga pá facilmente adaptada à frente do Jeep, que permite remover a neve e gelo nas estradas secundárias que ligam as casas às estradas principais (as tais que têm a neve continuamente removida por empresas do Estado).

No que me diz respeito, a casa fica situada a 10 quilómetros da estrada principal.
A ter que deslocar-me coloco o aparelho á frente do jeep, e ao atingir a estrada principal o mesmo é facilmente colocado sobre o tecto da viatura. É aconselhável repetir esta operação nas estradas secundárias (mesmo que não se tenha que viajar) para evitar um acumular demasiado de neve e gelo.

Mas, e como tudo na vida, com um pequeno pagamento "amigo" aos condutores que limpam dia e noite as estradas principais, estes por vezes "enganam-se" e fazem também uns percursos pelas estradas secundárias. Tendo em conta as centenas e centenas de quilómetros que limpam dia e noite… não se notam estes "enganos" a nível central.

Quanto a renas à frente dos trenós, ou os cães, claro que aqui os usamos. Mas definitivamente não nos trabalhos ou actividades do dia a dia.

As renas... são mais para passear os netos ou outros visitantes.

Os cães de trenó... servem para algumas passeatas em busca de bons locais para abrir um buraco no gelo para a pesca, ou, mais uma vez, para aquando da vinda de alguns visitantes "turísticos", tanto suecos como dos Estados Unidos.

Em verdade, os cães servem hoje mais para companhia do que para transporte útil.

Mas se julgam que os cães comem pouco (8 de trenó e 4 de reserva)... posso garantir que é um alto consumo "por quilómetro"... mesmo quando estão parados! E não é propriamente ossos o que comem!

Nestes bilhetes-postais românticos não se pode esquecer que, hoje em dia, as manadas de renas em deslocamentos são seguidas durante o Inverno por modernas e potentes scooters para a neve, e nos reagrupamentos de Primavera e Verão são utilizados helicópteros. Desde o ano passado começaram a ser aqui também utilizadas os modernos "drones" aéreos para esse fim.

Para a minha família, esta casa mais não é que um refúgio de paz.
Para a manter com os níveis de conforto, modernidade e funcionalidade neste isolamento extremo, é claro que se torna necessário um custo económico considerável e, não menos, um planeamento contínuo e sempre bem antecipado.

As profissões, tanto da minha mulher como a minha, permitiram, felizmente, os largos períodos em que aqui nos refugiámos.

Já aqui me visitaram alguns Lusitanos amigos, e por esta zona passeou um simpático casal frequentador dos almoços da Tabanca do Centro.

Aos restantes… Sejam bem-vindos!
José Belo
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Nota: Boa parte das fotos apresentadas neste texto foi retirada do blogue da Lapónia, http://laplandnearkeywest.blogspot.pt/, com a natural autorização do nosso camarada José Belo.
Os nossos agradecimentos.

Miguel Pessoa
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Notas do editor

(*) José Belo foi Alf Mil Inf na CCAÇ 2381, (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70), actualmente é Cap Inf Ref e vive na Suécia)

Último poste da série de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13886: Da Suécia com saudade (47): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): E depois da independência e até 1994, atingiu os 2 mil milhões de dólares! (José Belo)