segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16742: Notas de leitura (904): "Textos de Amílcar Cabral - Declarações Sobre o Assassinato" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Tenho procurado fazer o inventário da documentação publicada logo em 1974 sobre a obra de Cabral. Creio que este era a antologia em falta. Quem a fez, conhecia aprofundadamente o pensamento do líder do PAIGC, escolheu com conhecimento de causa um conjunto de texto apropriados para entender o pensamento e ação de Cabral, estão aqui extratos de artigos, intervenções, discursos, entrevistas, conferências e mensagens.
Tirando Cabo Verde, onde a Fundação Amílcar Cabral é operante através da publicação da sua obra, fazendo seminário e conferências, é raríssimo estudar-se Cabral, aquele pensamento revolucionário entrou em desuso ou ficou desgastado pelas desilusões que deixaram os seus seguidores na Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Textos políticos de Amílcar Cabral

Beja Santos

Penso que com esta recensão se conclui a enumeração dos livros dedicados ao pensamento de Amílcar Cabral e editados a seguir ao 25 de Abril. Neste caso trata-se de uma seleção que inclui declarações sobre o assassinato, como se verá adiante, era toda a conveniência atribuir o assassinato ao colonialismo português.

Trata-se de uma seleção com um critério sólido, quem a ela procedeu conhecia aprofundadamente a documentação de Cabral. Encontramos aqui excertos de artigos publicados a partir de 1962, intervenções, como a que fez no Centro Frantz Fanon, de Milão, o excerto do seu discurso, a “Arma da teoria” proferido na primeira conferência de solidariedade dos povos de África, Ásia e América Latina, Janeiro de 1966, Havana. É indispensável ler este documento para perceber como esta reflexão política projetou definitivamente o nome de Amílcar Cabral para o primeiro plano do movimento revolucionário. Foi um discurso que provocou celeuma, alterava a ortodoxia do pensamento marxista quanto a luta de classes e ao papel de vanguarda do partido revolucionário. Vejamos como o líder do PAIGC observava a nova realidade das revoluções do Terceiro Mundo:
“Os que afirmam – e com razão – que a forma motora da história é a luta de classes, estariam certamente de acordo para rever esta afirmação, a fim de a precisar e de lhe dar um campo de aplicação mais vasto, se conhecessem mais profundamente as caraterísticas essenciais de certos povos colonizados. Com efeito, na evolução geral da humanidade e de cada um dos povos que a compõem, as classes não aparecem nem como fenómeno generalizado e simultâneo na totalidade destes grupos, nem como um todo acabado, perfeito, uniforme e espontâneo. A definição de classes, no seio de um ou vários grupos humanos, é uma consequência fundamental do desenvolvimento progressivo das forças produtivas e das caraterísticas da distribuição das riquezas produzidas por este grupo ou confiscadas a outros grupos. Fatores externos a um dado conjunto socioeconómico em movimento podem influenciar de maneira mais ou menos significativa o processo de desenvolvimento das classes, acelerando, travando-o, ou mesmo provocando regressões”. 

E, mais adiante a sua reflexão parecia explodir como uma bomba:
“Tudo isto permite levantar a seguinte questão: será que a história só começa a partir do momento em que se desenvolve o fenómeno “classe” e por consequência a luta de classes? Responder afirmativamente seria situar fora da história todo o período de vida dos grupos humanos que vai da descoberta da caça, e posteriormente da agricultura nómada e sedentária, até à criação dos rebanhos e à apropriação privada da terra. Seria então também – o que nos recusamos a aceitar – considerar que muitos grupos humanos da África, da Ásia e da América Latina, viviam sem história no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo. Seria de considerar que a população dos nossos países, tais como os Balantas da Guiné, os Koaniamas de Angola e os Macondes de Moçambique vivem ainda hoje, se abstrairmos das ligeiras influências do colonialismo às quais foram submetidos – fora da história ou sem história.
Esta recusa, baseada aliás no conhecimento concreto da realidade socioeconómica dos nossos países e na análise do processo de desenvolvimento do fenómeno “classe”, levamos a admitir que, se a luta de classes é a força motora da história, só o é num certo período dado. Isto quer dizer que antes da luta de classes – e necessariamente após – um fator, ou fatores, foi e será o motor da história. Admitimos sem custo que este fator da história de cada grupo humano é o modo de produção – o nível das forças produtivas e o regime de propriedade – que carateriza este agrupamento. Mas ainda a definição de classe e a luta de classes são elas próprias o efeito do desenvolvimento das forças produtivas conjugadas com o regime de propriedade dos meios de produção. Parece-nos pois correto concluir que o nível das forças produtivas, elemento determinante do conteúdo e da fórmula da luta de classes, é a verdadeira e permanente força motora da história”.

Consta que a sala em que ele discursou estava completamente siderada, o pensamento ortodoxo e dogmático sofria fissuras, o conceito de luta de classes e o nível das forças produtivas eram severamente questionados.

Amílcar Cabral possuía não só um pensamento político sólido como sabia encontrar fórmulas frescas para renovar o conceito das lutas de libertação: é o caso da sua apreciação sobre o papel da cultura da luta pela independência como no conceito de que a luta contra a guerra colonial transformaria a realidade portuguesa, como termo à ditadura.

Na sua mensagem de Ano Novo de 1973, Cabral profere o seu último discurso, refere-se às eleições para a primeira Assembleia Nacional que iria aprovar a constituição da República, e a reunião dessa Assembleia levaria à proclamação do Estado da Guiné-Bissau. Dentro do balanço, recorda os apoios recebidos ao longo de 1972, a guerrilha era inicialmente apoiada pela URSS e seus aliados, e com a credibilidade internacional que o PAIGC granjeara, os países escandinavos, o Concelho Mundial das Igrejas, a Cruz Vermelha Internacional e várias agências das Nações Unidas tinham passado a dar uma cooperação a favor das populações. E acrescentou:  
“… nenhum crime, nenhuma força, nenhuma manobra ou demagogia dos criminosos opressores colonialistas portugueses poderá deter a marcha da História”.

Assassinado dias depois, a 20 de Janeiro, sucedem-se as declarações de pesar e de encorajamento. Logo o PAIGC, reafirmando a sua determinação de vingar “esta traição ignóbil pela exterminação dos colonialistas e dos seus agentes corruptos”, era com esta fórmula que se procurava enredar as autoridades de Bissau ao complô de centenas de guineenses que nessa noite prenderam os quadros e funcionários cabo-verdianos. As mensagens do MPLA e da FRELIMO, por dever de ofício, atribuíam o crime ao regime colonial-fascista e exaltavam o pensamento e obra de Cabral.

Funeral de Amílcar Cabral em Conacri
Fundação Mário Soares, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16732: Notas de leitura (903): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, fotografias de Francisco Nogueira, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16741: Fotos à procura de... uma legenda (77): Malta da CART 2520, no Xime, em 1970: afinal de quem é o braço com relógio no pulso que está por cima do ombro do Renato Monteiro ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis:  da esquerda para a direita: (i) Fermandes, (ii) José Nascimento (o autor da foto).  (iii), Oliveira e (iv)  Renato Monteiro [este último, pertenceu originalmente à CART 2479 / CART 11 (1969/70), ao tempo do Valdemar Queiro:  é hoje um grande  fotógrafo do nosso quotidiano, do nosso tempo e lugares, com direito a entrada... na Wikipédia],

Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem,. com data de 20 do corrente:Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Mais uma foto à procura de uma legenda!

Afinal de quem é o braço, com relógio no pulso, que está no ombro esquerdo do Renato Monteiro, o último à diteita . no foto? Ou por outras palavras, quem abraça quem ?

É uma grande fotografia que eu gostava, todos nós gostávamos,  que fosse o Monteiro a explicar/comentar.

Abraço.
Valdemar Queiroz
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Nota do editor

Último poste da série >  20 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16739: Fotos à procura de...uma legenda (76): qual é a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947 ? (Luís Graça)

domingo, 20 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16740: Blogpoesia (481): "Suaves momentos matinais..."; "Suavidade e elegância..." e "Apagou-se a noite...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Suaves momentos matinais…

Suaves momentos matinais,
Quando o céu refulge azul
E brilha ao sol.

E as nuvens baixas se acantonam
Ao redor baixo do horizonte,
Feitas ponte entre o céu e a terra.

Donde eu estou,
Só diviso telhados de telhas negras
Em socalcos.
E os pendões ao alto das copas nuas
Das árvores que foram princesas.

Estão cerradas as janelas
Contra o frio.
É o cansaço da semana
Que só descansa aos domingos…

Berlim, 20 de Novembro de 2016
9h36m

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Suavidade e elegância...

O porte esbelto de girafa,
se projecta ao alto,
entre a terra e o céu.

Dromedário everest carrega cargas,
a toda a hora,
desde o chão até às alturas,
como os canecos duma nora.

Elegante bailarino roda e baila,
se entrega à sua arte,
como se fosse a sua dama.

Sempre pronto e não se cansa.
Tem a força ingente dum gigante,
a graça imensa duma garça.
Nada cobra.
É humilde e não se ufana.
É o guindaste.

ouvindo Adagieto de Mahler

Berlim, 19 de Novembro de 2016
9h32m
JLMG

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Apagou-se a noite...

A noite apagou-se,
mas o dia nascente
é tão cinzento e pálido.
Mais valia não despertar.

Esperar que o sol,
como um avião que sobe,
emerja e rasgue
esta cortina de nuvens espessas.

De novo brilhem as cores da terra
como as pintou a Natureza.
Seja azul o mar e o céu.
Reluzam ao sol todos os tons de cor
das vestes
desde os vales até aos altos cumes.

Se cubram de algas verdes
todas as praias.

Surjam golfinhos a bailar nos rios.
Gravitem nos ares em bandos livres
todas as aves vindas de além fronteiras.

Surjam sorrisos dos rostos tristes
por mais um Inverno que nunca mais passa.

Berlim, 18 de Novembro de 2016
7h39m
JLMG
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16714: Blogpoesia (480): "Cada dia tem sua farda..."; "Gosto das cegonhas..." e "Espanejo as minhas asas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16739: Fotos à procura de... uma legenda (76): qual é a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947 ? (Luís Graça)


Lourinhã > 5 de novembro de 2015 > Igreja de Santa Maria do Castelo, meados do séc. XIV, estilo gótico. Provavelmente construído sobre um anterior tempo românico, depois da "reconquista" aos mouros, em 1147 > Rosácea que encima a porta principal, virada para poente. A perfeição da simetria...Batizei-me lá, em 1947...E gosto de lá voltar, para admirar, entre outaras coisas, os seus capitéis, de motivos vegelatistas,que são considerados um das obras primas do naturalismo do séc. XIV.


Alfragide > 14 de novembro de 2016 > 19h45 > A lua vista da minha janela... A superlua, dizem os astrónomos... Nunca soube por que é que os cães, os lobos e os lobisomens ladram (ou ladravam)  à lua... Nem nunca  a gente via a superfície da lua, assim "tão perto"... No meu tempo, não havia telescópios nem máquinas de fotografia com zoom macro para tirar fotos como esta...

Quando a gente andava na escola, nos meados dos anos 50 do séc. XX, ainda se contava a lenda, segundo a qual estas  "manchas" que se viam, a olho nu, na superfície lunar,  seriam  nada mais nada menos bem  do que a figura de um pobre  camponês com um molhe de lenha (ou silvas) às costas,  depois de expulso da terra e condenado a  expiar, por toda a eternidade, o execrável pecado de trabalhar ao domingo, o dia santo do Senhor!...

O grande Galileu, mal amado, perseguido pela Santa Inquisição, ainda não chegara à minha escola de meados do séc. XX... Observando  a superlua da minha janela, através do macrozoom da minha Panasonic Lumix, não descortino o tal homenzinho que fazia parte do meu imaginário infantil... Afinal, a sua silhueta era formadas pelas crateras da lua, as tais "manchas" que eram visíveis, cá da terra,,,, A Ciência, afinal,  também pode matar as nossas fantasias infantis...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição;  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Confesso que não sei responder à pergunta (*) sobre qual  a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947. 

Também nunca soube por que é que os cães, os lobos e os lobisomens ladram à lua... Há uma história mitológica qualquer,,,

A lua fascina-nos, e já aqui publicámos diversos postes sobre a lua lua e a nossa relação com ela (**)... Pode ser que alguém, dos nossos leitores, tenha uma resposta...

De qualquer modo, "ladrar à lua" significa "fazer ameaças vãs", "ameaçar alguém a quem não se pode tocar ou fazer mal"... No fundo, é revelador de  um comportamento de bravata...

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Guiné 63/74 - P16738: Banco do Afecto contra a Solidão (20): últimas... mas poucas.. Estou sem computador... Camaradas, sou vítima daquilo que criei (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Data: 15 de novembro de 2016 às 00:14
Assunto: ÚLTIMAS... MAS POUCAS

Camaradas

Estou sem computador. Caiu água na minha secretária e fiquei sem computador. Só na casa do meu filho tive acesso ao Blogue.

Estranho ter enviado mensagens para o Luís e Carlos e não me terem respondido.

Estou numa fase confusa da minha vida. Não perco batalhas. Naquelas em que me envolvi saí sempre vencedor.

Verdade que nada tirei de partido. Desde estudante; fundador de um jornal estudantil; crítico de cinema; Ajudante de padeiro (com carteira profissional) - meu pai depois de trabalhar para patrões com a profissão de padeiro, saiu-lhe a Sorte Grande e tornou-se Industrial de Panificação; fui para o Serviço Militar OBRIGATÓRIO - nunca fui voluntário. Era contrário a essa guerra, podia dizer que era padeiro mas não o fiz, essa não era a minha profissão.

Fui um vagabundo na Recruta, Especialidades - mas essas guerras, por serem guerras perdi-as todas. O pior foi saber dos milhares de jovens que morreram e ficaram deficientes. Morreram muitos amigos. Todos os militares merecem a minha consideração.

Na guerra perdida fui um bom militar. Não fui medalhado, também por não querer. Salvei de morte certa o Capitão e Alferes, entre outros e outras. Fui professor de adultos; construtor civil entre aqueles atributos. Comandei 90 militares africanos (Praças "U" e Caçadores Nativos). Tive 4 comandantes de pelotão, no meio de tudo comandei eu.

E as minas. Dos 4 especialistas, morrem numa granada armadilhada o maue amgo,  furriel miliciano Vitor José Correia Pestana e o soldado Costa.

Outro Amigo de MA [Minas e Armadilhas], António Magalhães Maia cia num aramadilha e fica ferido e o alferes milicianp Sousa Teles apanha tamanho susto que nunca mais pega em MA. Resto eu...

Safei-me e regresso diferente. Tanta merda fiz. Cumpri sempre. Nunca enganei ninguém. Baldar-me. Paludismo e vezes e foi o amigp furriel miliciano Durães que me safou. Estava dispensado, mas não houve saídas para Operações.

Regressei e fui um bom Profissional - Lapidador de Diamantes. Passaram pela DIALAP 1000 e muitos, talvez mais perto dos 2000 trabalhadores, alguns pouco tempo. Juntos mais de 600. Fui sindicalista; estive numa greve em janeiro de 1974 como delegado de sector. Eleito no pós 25 de
Abril, delegado de sector e entre os delegados fui dos 3 executivos da Comissão de Reestruturação.

Fui Cooperativista, estando na origem da COOP LISBOA (acho que ainda existem uns restos). Andei metido no 25 de Abril até às raízes dos cabelos. Era outra história.

Fiquei até à última meia centena de Trabalhadores da DIALAP. Gostaria de saber de quem é o Património da DIALAP - onde se encontram a RTP e RDP.

Fui Autarca. Fundador e membro da Comissão de Moradores do Campo Grande. Ocupei o Asilo D. Pedro V. Foram lá colocados umas 50 pessoas sem posses.

Despedido aos 53 anos. Fundador e Dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra. Foram 11 anos. Fui uns meses vogal da Direcção Nacional, substituí o secretário. 4 anos vice-presidente e 6 presidente e responsável por toda a Legislação. Destaco o trabalho do 1º Presidente da APOIAR, Jorge Manuel Alves dos Santos
(curiosamente também colaborou com o Blogue). Foi ele a escolher-me para fundador e 1º director do Jornal APOIAR. Vários anos no cargo.

Cheguei a escrever artigos para quase todos jornais.

Tinha ideias e avançara no terreno, era só assinar Protocolos para que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas do Stress Pós Traumático de Guerra funcionasse em todo o Território Português.

Fui um dos 3 presidentes a assinar Protocolo com o Ministério da Defesa Nacional.

Ainda sou dirigente da Academia de Seniores de Lisboa e fundador do Jornal "Olhar do Mocho" e 1º director.

É de pasmar... Cortam-me o apoio, primeiro o Psicológico, depois o Psiquiátrico, no momento mais grave de saúde da minha vida. Já viram,  camaradas, sou vítima daquilo que criei.

Escrito no computador do meu filho. Estou sem computador.

Tenho imensos problemas de saúde. Estou vivo. Passei por um outro "corredor da morte".

Nem tive tempo de rever o que escrevi. Já passa das 24h00

Cumprimentos,
Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16698: Banco do Afecto contra a Solidão (19): Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74): está hospitalizado, com graves problemas de saúde... Vamos mandar-lhe uma palavrinha solidária (Juvenal Amado)

sábado, 19 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...


Foto nº 1A > Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis, à direita Renato Monteiro, seguindo-se o Oliveira, o José Nascimento e  o Fernandes


Foto nº 1


Foto nº 2 A > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, fur Renato Monteiro,  um dos picadores e  o fur José Nascimento


Foto nº 2


Foto nº 3A  > Xime > CART 2520 > c. 1970 > 1º. srgt  Vaz à direita, a seguir furriéis Nascimento e Soares...

Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 4 A A>  Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da direita para a esquerda:  sentados, fur Monteiro, fur Durão e 2º. srgt  Zé do Ó. De pé, também da direita para a esquerda, fur Costa, fur Nascimento e Mancaman, filho do chefe dos picadores [, Mancaman Biai].

Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime | CART 2520 (1969/71)

Fotos (e legendas): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 11 do corrente,  do nosso amigo e camarada algarvio José  Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71):

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal,

Aqui vai a história de um pequeno episódio passado entre o fur mil Renato Monteiro e o 1º. srgt Vaz,  da minha Cart 2520.

Já tive a felicidade de me encontar algumas vezes com o Renato Monteiro [, hoje escritor e fotógrafo,], mas o 1º. sgrt Vaz nunca mais o encontrei, creio até que já faleceu, gostava de o ter encontrado para lhe dar um grande abraço, isto apesar de ter havido algumas divergências entre nós, contudo existiu sempre muito respeito e sã camaradagem.

Um grande abraço,
José Nascimento 


2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10) > A música das nossas vidas: "Isabelle, Isabelle, Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz

por José Nascimento


Isabelle era a música preferida do furrriel Renato Monteiro e esta com alguma frequência dava umas voltas no pequeno gira-discos que morava no balcão do pequeno bar de sargentos no Xime.

Isabel vivia em Vila Real, ou nas suas proximidades, na longínqua Metrópole, amada esposa do 1º. sargento Vaz a quem já tinha dado dois rebentos, um na pré adolescência, o outro alguns anos mais novo. Já com alguns meses de Guiné,  a saudade do 1º. Vaz pela sua Isabel roía-lhe a alma.

Sempre que se proporcionava, o Renato Monteiro saltava para dentro do balcão do bar e punha às voltas a sua Isabelle preferida. Só que de tanto ouvir "chamar" por Isabelle,  a do Charles Aznavour, o 1º. sargento Vaz lembrava-se da sua Isabel, a que tinha ficado a milhas de distância,  e a sua cabeça também começava às voltas, girava, girava, ou melhor, entrava em parafuso.

Até chegou ao ponto de tentar proibir que o Monteiro ouvisse a sua música preferida, fazendo uso do maior número de divisas amarelas que ostentava sobre os seus esqueléticos ombros.

"Monteiro, não quero ouvir essa música",  vociferava o 1º. sargento.

"Mas se eu gosto?!," retorquia o furriel.

Normalmente ou era um, ou era outro que cedia e quando era o 1º sargento, refugiava-se na secretaria, batendo com alguma violência a já carcomida porta que a separava do bar de sargentos.

Até que um dia...

Mais uma vez o Monteiro liga a pequena máquina e entra em rotação a sua Isabelle, Isabelle, Isabelle mon amour (**).

De repente salta de dentro da secretaria, qual fera enfurecida,  o 1º. sargento Vaz.

"Outra vez Monteiro?!",  berrou.

Dirige-se ao pequeno gira-discos, saca a Isabelle do rotativo prato e exclama furioso:

"Agora só vai ouvi-lo no fim da comissão".

Enraivecido, enfia-se na secretaria e mete o pequeno disco no cofre aí existente e fecha-o à chave.

Não sei qual foi o destino desta Isabelle, se foi libertada ou se ficou prisioneira no cofre da CART 2520,  mesmo sem ter ido a julgamento. (***)

Um grande abraço para esta Tabanca que cada vez será maior.

José Nascimento
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(**) Letra da canção de Charles Aznavour (c. 1965/66):

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Les heures près de toi
Fuient comme des secondes
Les journées loin de toi
Ressemblent à des années
Qui donnent à mon amour
Un goût de fin du monde
Elles troublent mon corps
Autant que ma pensée

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Tu vis dans la lumière
Et moi dans les coins sombres
Car tu te meurs de vivre
Et je me meurs d'amour
Je me contenterais
De caresser ton ombre
Si tu voulais m'offrir
Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

[Letra reproduzidas com a devida vénia, a partir daqui:
http://www.paroles.net/charles-aznavour/paroles-isabelle#OXimuDIQg7WdWApW.99]

[Vd. também oágina oficial do cantor: Charles Aznavour (n. 1924),  O cantor francês, de origem arménia, vai atuar em Lisboa no próximo dia 10 de dezembro de 2016...Aos 92 anos!!! ]

Tradução (rápida) de LG:

As horas perto de ti
fogem como segundos,
os dias longe de ti
parecem  anos,
dando ao meu amor
um gosto de fim do mundo,
e perturbando tanto o meu corpo
como o meu pensamento

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

Tu vives na luz
e eu em cantos escuros,
porque tu morres de vida
e eu morro de amor.
Contentar-me-ia
em acariciar a tua sombra
se tu quisesses oferecer-me
o teu destino para sempre.

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

(***) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)

Guiné 63/74 - P16736: Agenda cultural (519): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau", por Mário Beja Santos, dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, Lisboa... Visita (gratuita) ao Museu de Farmácia e recital de Kora com o grande Braima Galissá!...



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Meus queridos amigos,

Dos cerca de 40 livros que escrevi, este foi o mais doloroso.
Como na tragédia grega, eu já conhecia o final, trágico e nebuloso. Anda um autor dois anos a vasculhar papel e a organizar 40 anos da vida de um novo Estado onde, pela extrema combatividade da guerrilha e da natureza genial do seu líder, Amílcar Cabral, procura superar assassinatos, execuções, genuínos e falsos golpes de Estado, e tem que questionar-se amargamente que futuro está destinado a este belo e paupérrimo país.

O que venho pedir-vos é a vossa companhia neste lançamento, a apresentação fica a cargo de dois renomados investigadores, Eduardo Costa Dias e António Duarte Silva, cabe-lhes falar sobre este empreendimento que é um pontapé de saída para que um dia se escreva, com mais fundamentos e factos comprovados, e numa sequência narrativa científica a História da Guiné-Bissau.

Não é preciso que adquiram o livro, visitem primeiro o Museu da Farmácia e oiçam depois um recital de Korá por um dos griots guineenses mais afamados, mestre Braima Galissá.

Antecipadamente grato pela vossa presença.

O Museu da Farmácia fica na Rua Marechal Saldanha, junto ao miradouro de Santa Catarina, metro Baixa-Chiado, elevador da Bica, elétrico 28.

A visita gratuita ao museu é entre as 17 e as 18h.

Junto o texto da contracapa do meu livro.

Um abraço do
Mário

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Guiné-Bissau, povo mais esperançado e afável não há 

Aqui se contam histórias que excedem meio século. Um engenheiro especializado em erosão de solos pôs em movimento uma luta pela independência, juntou numa só pessoa o construtor de uma nacionalidade, um hábil diplomata, um exímio cabo-de-guerra, um ideólogo de pensamento singular, tudo somado deu um líder revolucionário que surpreendeu Che Guevara e que Nelson Mandela admirava profundamente.

São também histórias de uma República que devorou muitos filhos da revolução, uma nação que continua a ter extrema dificuldade em reconhecer-se no Estado. A nação é surpreendente, aquele mesclado de etnias revê-se na bandeira e no solo pátrio, expulsou invasores e nunca abandona a esperança de que depois das últimas eleições os políticos escolhidos vão alevantar o Estado. Um povo sedento de justiça aguarda dias melhores. 
São estas algumas dessas histórias que aqui se contam por alguém que nunca quebrou o feitiço guineense. 

Porque nunca o preço do amor pela Guiné é ou será excessivo.
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Nota do editor

Último poste da série  > 18 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16734: Agenda cultural (512): "A Europa a ferro, fogo e gás (1914-1918)", de Graça Fernandes: apresentação do livro pelo cor inf ref Manuel A. Bernardo, 3ª feira, dia 22, às 18h00, no Palácio da Independência, Lisboa

Guiné 63/74 - P16735: Parabéns a você (1164): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16725: Parabéns a você (1163): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16734: Agenda cultural (518): "A Europa a ferro, fogo e gás (1914-1918)", de Graça Fernandes: apresentação do livro pelo cor inf ref Manuel A. Bernardo, 3ª feira, dia 22, às 18h00, no Palácio da Independência, Lisboa






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1. A sugestão (e o convite) chegou-nos, à caixa do correio, em 15 do corrente, pela mão do cor inf ref Manuel A. Bernardo, escritor  e leitor do nosso blogue:

Caro(a) Amigo(a):
No dia em que vou comemorar os 60 anos de entrada na então Escola do Exército (agora Academia Militar) difundo a apresentação deste livro da minha amiga e ex-colega da Univeridade Católica, Graça Fernandes, já com quatro livros publicados. Pode ser considerada como uma investigadora especialista da época da 1.ª Guerra Mundial que assolou a Europa.

O livro da Graça Fernandes, "A EUROPA A FERRO, FOGO E GÁS (1994-1918), é prefaciado pelo General Sousa Pinto, Presidente da Comissão de História Militar e tem posfácio do Professor João Luís Fernandes da Universidade de Coimbra.

Espero por vós no Salão Nobre da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, ao Rossio, Lisboa, na próxima semana (terça-feira).

Ab/Bjs, MB

3. Outras atividades na 4.ª e 5.º semanas de novembro de 2016 na Sociedade Histórica - Convite das Comemorações do 1.º de Dezembro de 2016


(i) INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO DE PINTURA, SEXTA-FEIRA, DIA 18 DE NOVEMBRO DE 2016, ÀS 18H00

Exposição de Pintura de Rouslam Botiev “Aproximações a Cervantes e a Shakespeare”, na Galeria Fernando Pessoa do Palácio da Independência, seguida de palestra do Escultor Francisco Simões, com intervenções da Prof.ª Doutora Annabela Rita e do Prof. Doutor Renato Epifânio (A exposição vai estar patente até ao dia 2 de dezembro)


(ii) CONFERÊNCIAS

Segunda-feira, 21 de novembro, às 18h00 - “Aviação nos Açores: da 2ª Guerra Mundial aos dias de hoje”, pelo cor eng Eduardo Brito Coelho, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP;

Terça-feira, 22 de novembro, às 17h00 – “História da Arte dos Jardins”, pela Arq.ª Pais.ª Sónia Talhé Azambuja e “Carácter, Ambiente e Elementos do Jardim Português”, pelo Arq.º Pais.ª Miguel Coelho de Sousa;

Segunda-feira, 28 de Novembro, às 18h00 - “O acidente de Camarate”, pelo Cor Victor PilAv (Ref.) João Lopes de Brito, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP.

(iii) APRESENTAÇÕES E LANÇAMENTOS DE LIVROS

Apresentação, no dia 23 de novembro, às 15h00, da obra literária do Prof. Doutor René Pélissier (autor de “Le Naufrage des Caravelles. Études sur la fin de Empire Portugais, 1961-1975”; “História de Moçambique, formação e oposição, 1854-1918” e “História de Angola”) no âmbito das Tertúlias Fim do Império.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P16733: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (23): Ainda a história rocambolesca do David Costa, meu camarada, que terá sido capturado pelo PAIGC em 17 ou 18 de maio de 1967, entre Mansoa e Braia, e que andou desaparecido 3 a 4 meses... (Jorge Lobo, ex-1º cabo at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68)


Guiné > Mapa geral da província > Escala 1/500 mil (1961) > Posição relativa de Mansoa e Braia (NT) e Iracunda e Morés (PAIGC). O David Costa que saiu do quartel de Mansoa por volta das 15h do dia 17 de maio de 1967, terá seguido, sem rumo, na direção de Braia (onde havia um destacamento das NT) e sido intercetado nesta região, mais tarde,  por forças do PAIGC que o levaram até à base do Morés e depois para o Senegal, Ziguinchor, onde terá conhecido o médico, português, desertor, e militante do PAIGC, Mário Pádua.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


1. Comentário do nosso camarada Jorge Lobo ao poste P16721 (*)

Relativamente ao comentário que a nossa Tabanca Grande fez ao poste do  Jorge Araújo, eu gostaria de acrescentar algo ao que eu próprio já tinha cá escrito sobre a deserção do David Costa.(**)

Ora bem, depois da cena da carta com a fotografia que alegadamente teria sido enviada pela namorada de um camarada do David, de nome, Chantre, 1º cabo enfermeiro da Cart 1660, o David acabrunhado com a situação decidiu sair do quartel de Mansoa vagueando pelos arredores
da vila até se perder no terreno.


1º cabo at art, Jorge Lobo, CART 1660 (Mansoa, 1967/68),
subunidade que esteve adida aos BCAÇ 1857 e BCAÇ 1912.
Tem um pequeno blogue, com 9 postes publciados
desde 2011, Guiné 1967/1968. Vive em Corroios,. Setúbal,

Eu estava na caserna no momento em que começou a sua odisseia, isto em 17/05/1967. A sua saída do quartel aconteceu por volta
das 15 horas,   logo após a distribuição do correio....

Entretanto, anoiteceu e deduzo que o David se tenha desorientado seguindo a estrada na direção de Braia [- Infandre-Bissorã].

Pelo que ele conta no seu livro, viu as luzes do quartel de Braia (?) ou então Cutia, mas decidiu não arriscar a entrar dentro do arame farpado.

Sou de opinião que o pessoal das tabancas na saída de Mansoa-Braia colaboraria com os guerrilheiros do PAIGC e,  ao ver aquele militar fardado, só e desarmado,  a sair da vila, provavelmente comunicou isso ao PAIGC. Tê-lo-iam seguido durante a noite, penso que o local da captura não seria muito longe do quartel, talvez entre Mansoa e Braia.

Os guerrilheiros do PAIGC teriam capturado o rapaz [, já no dia 18 de maio de 1967,]  tendo-o levado para a zona de Morés e arredores, nomeadamente para Iracunda,  perto da estrada que liga Bissorã a Mansabá. É uma região que conheço bem devido a várias emboscadas e ataques que lá fui fazer com a Cart 1660.

O rapaz, após a sua captura teria estado em alguns acampamentos do PAIGC incluindo na mata de Iracunda perto da estrada Bissorã-Mansabá e onde a minha companhia posteriormente fez um golpe de mão com vário material de guerra apreendido. Iracunda situava-se junto à tal picada, Bissorã-Mansabá, que na altura estava intransitável devido a imensas árvores que o PAIGC atravessou nessa via e que eu próprio constatei em várias operações  em Morés.

De Iracunda o David deve ter partido em direção ao Senegal (Zinguichor), levado pelo grupo do PAIGC, o mesmo grupo que o tinha antes capturado.
  Recordo que o David esteve desaparecido cerca de 3 a 4 meses, período este em que viveu a sua terrivel odisseia atravessando a Guiné entre Morés, Zinguichor, etc, odisseia que só ele saberá contar em pormenor.

Sei que depois do seu regresso a Mansoa, ele foi interrogado no quartel Foi até bastante mal tratatado chefe de operações do BCAÇ 1912 ao qual a Cart 1660 estava agregada, tendo inclusive saído com uma das companhias desse batalhão na tentativa de se conseguir que ele os levasse aos locais que antes ele tinha visitado, o que não foi conseguido porque o David compreensivelmente não conseguiu descobrir o seu anterior trajeto até à sua captura.

Segundo o rapaz contou na altura, o regresso dele foi feito através de Dacar, mas também já li por cá outras histórias diferentes em relação ao local onde a avioneta militar o foi buscar no Senegal.

Está correta a data da sua saída do quartel, 17/05/1967.
O caso da fuga do Daniel Alves deve ter acontecido já depois do julgamento do David, ao qual eu assisti, ao vivo.

O meu camarada foi condenado a 2 anos,  um mês e um dia de prisão nos primeiros dias de novembro de 1968, cerca de uma semana antes da CART 1660 ter regressado à metrópole. (***)

Jorge Lobo, 1º cabo Lobo, atirador da CART 1660 (Mansoa, 1967/68).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016~>  Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16722: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (22): Quem terá sido o Daniel Alves, "duplamente desertor" ? Primeiro, fugiu das nossas fileiras, possivelmente em 1967, e depois das fileiras do PAIGC... Amilcar Cabral, traído e preocupado, escreveu: "O Daniel Alves conseguiu enganar a malta (sic) e fugiu em Dacar. É um facto banal numa luta (deserção ou traição), mas pode complicar-nos muito a vida em relação aos amigos"....

(***) Sobre o caso do David Costa, vd. ainda os postes de;

5 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16686: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (18): Mais um caso "atípico", o de David [Ferreira de Jesus] Costa, ex-sold at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68 (Virgínio Briote)

27 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7351: Controvérsias (112): David Costa, da CART 1660 (Mansoa, 1966/68): Déserteur malgré-lui ? / Desertor à força ? (Jorge Lobo, ex-1º Cabo, CART 1660)

23 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16732: Notas de leitura (903): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, fotografias de Francisco Nogueira, 2016 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
O livro é irresistível, pelo rigor do conteúdo e pela preciosidade das imagens. Os Bijagós sempre provocaram um grande fascínio tanto pelos dons naturais, pela cultura, pela identidade do povo que durante séculos viveu em contenda com o continente, nomeadamente com os Beafadas, os vizinhos mais próximos.
Não se pode ficar indiferente com estes cadastro do legado colonial, impressiona o que se construiu e o que ainda está a tempo de ser conservado. Felizmente que alguma cooperação garante restauros e trava o aniquilamento de edifícios emblemáticos do que fora concebido com capital com contornos imperais. Quem perdura o seu amor pela Guiné não pode deixar de olhar esta obra primorosa sem orgulho e indignação.

Um abraço do
Mário


Bijagós e o seu património arquitetónico: que beleza de livro!

Beja Santos

O património arquitetónico dos Bijagós é uma edição da Tinta-da-China, tem por autores Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e fotografias de altíssima qualidade de Francisco Nogueira. Tem história, enquadramento urbanístico, análise do espaço tradicional Bijagó e do espaço colonial e desvela os mais significativos edifícios coloniais. Na base do empreendimento está o projeto “Bijagós, Bemba di Vida! Ação cívica para o resgate e valorização de um património da humanidade”, uma parceria do Instituto Marquês de Valle Flôr e da organização não-governamental Tiniguena. Trata-se de um estudo que se insere no projeto de conservação dos recursos naturais e de desenvolvimento socioeconómico numa das zonas centrais da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós: as ilhas Urok.

Os autores prepararam-se bem e o resultado está à vista, nesta edição cuidada, edição para guardar pelo cuidado posto no grafismo e na riqueza das imagens, fala-se dos Bijagós e de um património colonial que ameaça ruína, as imagens são tão impressivas que ninguém pode deixar de indignar-se com o descalabro que por ali vai.

A herança arquitetónica bijagó compreende o passado, através da compreensão dos textos, dos enquadramentos e das suas influências em comparação com outros patrimónios guineenses e coloniais; está o registo fotográfico do património existente e indaga-se o futuro, alguém tem que responder pela salvaguarda de um património comum de uma região com 88 ilhas e ilhéus, num total de 10 mil quilómetros quadrados. Há menção dos Bijagós em documentos dos descobridores a partir de 1457, são da maior importância as narrativas do navegador veneziano Luís de Cadamosto e do navegador genovês Uso de Mare. Os primeiros registos cartográficos surgiram em 1468 quando o navegador alemão Valentim Fernandes terá chegado às imediações de Canhabaque.

O processo de crescimento de Bolama está relacionado com a história e a cultural mercantil na região de Quínara e no Rio Grande de Buba. O povo Bijagó vivia em permanente tensão com os Beafadas que se espraiavam entre Tombali e Fulacunda. A presença portuguesa era episódica e a hostilidade Bijagó indisfarçável aos colonos. Bolama foi fundada em 1752, muito depois de outras vilas e cidades da Guiné, quando o governo português ordenou ao Coronel Francisco Roque de Sotto Mayor, Governador de Bissau, que tomasse posse da ilha, erguendo um padrão esculpido com as armas dos reis de Portugal. Recorde-se que a ilha de Bolama só pertenceu oficialmente a Portugal em 1870, após a arbitragem pelo presidente norte-americano Ulysses Grant do conflito luso-britânico.

A estrutura urbana baseia-se em modelos europeus: grelha ortogonal, reticulada, implantada a nordeste da ilha, e em contacto direto com o mar. Impuseram-se inicialmente os edifícios da Alfândega, o Palácio do Governador e Casa Comercial Gouveia. Surgiram depois outros edifícios-chave: o Banco Nacional Ultramarino, a escola, o arsenal e o hospital, a câmara municipal e os Paços de Concelho. A escala da cidade de Bolama, observam os autores, é definida por um grande número de edificações térreas, pontualmente marcada por construções com dois ou mais pisos. Nos anos 20 do século XX, surgem planos da autoria do engenheiro Guedes Quinhones inspirados nos modelos humanos ingleses do final do século XIX, da Garden City, de Sir Ebenezer Howard e dos ideais norte-americanos da City Beatiful Movement.

Quando Bolama deixou de ser capital, em 1941, tentou-se torná-la um destino turístico muito apetecível, daí as piscinas municipais, o cineteatro e o complexo balnear da praia de Ofir. Hoje, os seus largos e praças perderam grande parte do caráter, em virtude do abandono dos serviços públicos. Era tal a beleza e a graciosidade da cidade que muitos a tratavam por Nova Mindelo e nos meios intelectuais dizia-se que aqui se tinha radicado o berço do crioulo.

Folheia-se o álbum fotográfico e sentimos o coração pequenino com as ruínas do antigo palácio do governador, as ruínas de Bubaque, estão entregues às ervas a casa de férias de Luís Cabral e as casas inacabadas para generais. De premeio, os autores mostram-nos a organização das tabancas Bijagós, construídas em clareiras, têm um ar delicado na envolvente paisagística.

Uma imagem muito bela pode potenciar no leitor um cruel sofrimento, ele tem que perguntar porquê a decomposição daquele edifício da central elétrica, como ainda guarda majestade a câmara municipal em ruínas, como é grotesco o belo exótico das ruínas do Hospital Militar e Civil, e como ainda resiste o palácio do governador e o quartel militar. Há uma Bolama que nasce e renasce. Por exemplo, o edifício da Alfândega foi totalmente recuperado pela cooperação espanhola, AICCID. O cineteatro de Bolama resiste, é um assombro de Arte Deco já tardio. A Escola Superior de Educação é um dos equipamentos de maior interesse da Bolama atual. Ficamos sem fôlego a ver a notável Imprensa Nacional, os autores advertem para o seu enorme potencial turístico e museológico.

A análise patrimonial não se circunscreve à ilha de Bolama, já se falou de Bubaque, Canhambaque tem património em decadência, aqui se mantém de pé o monumento comemorativo das operações de pacificação de 1935-1936.

Os autores concluem que é muito grande a qualidade patrimonial deste arquipélago e que é iniludível a importância do legado patrimonial do colonialismo português, ainda há muita recuperação, conservação e restauro que podiam tornar esta região muitíssimo apetecível pelos dons que a natureza que lhe ofereceu.

Enquanto lia com sentimentos contraditórios este álbum de indiscutível interesse, procurando conhecer as linhas da presença colonial, tanto na fase de consolidação de Bolama como capital da província da Guiné e o período posterior, até ao momento da independência, sempre de coração contrito com o património em ruínas, lembrava da visita que aqui fiz em 1991, a embarcação a chegar ao cais de onde se avista aquele espantoso monumento em pedra que Mussolini ofereceu à cidade de Bolama em homenagem aos aviadores italianos mortos, procurava as placas esmaltadas com os nomes insignes dos políticos da I República que aqui ficaram consagrados, passeara-me neste mar de ruínas perplexo como era possível dois povos espezinharem esta esplendorosa memória de uma vida em comum.

Pescadores bijagós, imagem retirada do blogue LusONDA, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16718: Notas de leitura (902): “Memórias boas da minha guerra”, de José Ferreira, Volume I, Chiado Editora, 2016 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16731: Agenda cultural (517): "Depois da Guerra" - 1 peça de teatro e 2 filmes, a apresentar dia 18 de Novembro de 2016, pelas 21 horas, no Cine-Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo (José Brás)


1. Mensagem do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) com data de 14 de Novembro de 2016:

Amigo
Para teu conhecimento, junto convite que me foi enviado hoje mesmo.

Grande abraço
José Brás

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C O N V I T E

Caros amigos,
A Praça Filmes e a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo têm o prazer de o convidar a vir passar o serão do dia 18 de Novembro no Teatro Curvo Semedo em Montemor-o-Novo, pelas 21 horas.

"Nunca entenderemos o alcance da guerra colonial, se não derrubarmos o muro de silêncio que as famílias ergueram para sararem as suas feridas. Para isso, temos que voltar “lá”, de falar sobre onde nos levou, fugirmos para dentro de nós, é urgente reflectirmos sobre o que continuou depois de os militares regressarem a casa e os desalojados deixarem tudo para trás.

"DEPOIS DA GUERRA"
É uma experiência transdisciplinar feita de um espectáculo de teatro e dois filmes de animação. Reúne três gerações de criadores: Alfredo Brito, autor-actor de “Pensão de Sangue”; José Miguel Ribeiro, realizador do filme “Estilhaços”; Bárbara Oliveira e João Rodrigues, realizadores do filme “Lugar em parte nenhuma”.
Os quatro seguem o rasto da guerra nas gerações seguintes... e abrem frestas no muro de silêncio."

Texto: Virgílio Almeida

Contamos convosco!
P´la Praça Filmes
Ana Carina
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16724: Agenda cultural (510): Sessão de apresentação do livro do Paulo Salgado, 5ª feira, dia 17, às 18h30, na Fundação Portugal - África, Rua de Serralves, nº 191, Porto

Guiné 63/74 - P16730: Inquérito 'on line': Num total de 110 respondentes, apenas 16% disse que provou (e gostou de) carne de macaco-cão... Pelo lado dos "tugas", o "sancu" está safo... Agora é preciso que os nossos amigos guineenses façam o seu trabalho de casa...







Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > Babuíno, "macaco-cão"  (em cativeiro), Herlander Simões (hominídeo, da espécie "Homo Sapiens Sapiens" e cão (doméstico). (*)

Fotos do nosso camarada Herlander Simões, fur mil, que passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74. Destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra.

Fotos : © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [dição: Blogue Lu+ís Graça & Camaradas da Guiné]

I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ"





Total de respostas > 110 (100,0%)



1. Nunca comi > 71 (64,5%)

2. Comi e não gostei > 10 (9, 1%)

3. Comi e gostei 18 (16,4%)

4. Não tenho a certeza se comi > 11 (10,0%)




O inquérito terminou em 17/11/2016, às 7h32. (**)



II. Comentários:

(i) Tabanca Grande

Os mais cínicos ou os mais realistas dirão: "Quando a fome aperta, vai tudo!"... Os europeus, que conheceram a tragédia da II Guerra Mundial, e tiveram os seus países ocupados, e raparam fome da mais negra (por ex, os russos na Estalinegrado cercada pelo exército nazi...) comeram tudo o que era comestível e tudo o que era intragável, desde animais domésticos, a ratos e a cadáveres humanos...

Quem somos nós, descendente de ainda recentes recoletores-caçadores (... ainda não há muito, c. 10 mil anos!), para dizer: "Macaco, nunca!"... Por isso,o meu juízo sobre os comedores de macaco é muito relativo...Os meus amigos do Norte são incapazes de comer caracóis e caracoletas...


(ii) Augusto Silva Santos


Tanto quanto me recordo, julgo que comi uma vez macaco por engano... Por engano, porque me garantiram estar a comer cabra de mato, e só no fim me disseram tratar-se realmente de macaco. O que é certo é que me soube muito bem, e até parecia cabrito. Recordo ainda de comer outras "iguarias",  tais como  pombos verdes, rolas, periquitos, hipopótamo, cabra de mato, porco-espinho, etc. bem como outra "bicharada" com que o Dandi (comandante da milícia) nos brindava depois das suas caçadas nocturnas. Como se costuma dizer, "tudo o que vinha à rede era peixe", ou seja, tudo o que pudesse evitar as conservas das rações de combate, e até o arroz com marmelada (que cheguei a comer) ou com "estilhaços" de carne ou peixe, era bom.

(iii) Jorge Picado

Julgo que numa das minhas recordações publicadas nesta nossa Tabanca Grande, referi o que me aconteceu num certo final de dia, lá no magnifico "resort" de Cutia, bem ao lado do Morés. Quando já preparado para o lauto banquete de fim da tarde, no magnifico restaurante ao ar livre, sob as frondosas copas daquelas esbeltas e grandes árvores que ladeavam a estrada, aguardava calmamente a hora do repasto...,sou surpreendido por um "alegre rancho" de nativas, esposas dos camaradas guineenses do Pel Caç Nat 61, "chefiadas" pelo respectivo cmdt do mesmo, que me vinham presentear com uns nacos de "saborosa carne fresca" - segundo diziam - e por elas preparados. 

Apanharam-me "descalço",  como por vezes se diz, pois eu bem sabia que se tratava de "peças de caça" obtidas no decorrer da coluna de manhã para Mansabá e que tanto me marcara pela negativa (***).

Mas, "capitan, tem de provar"; "é uma oferta di nós". E o malandro do Simeão Ferreira (***) a ajudar... é preciso ter atenção com a Psico, meu capitão... e retribuir com algum vinho que elas querem...

E foi assim que eu passei a ser também "um dos que não merecem confiança". Engoli dois pedaços de carne e enfiei logo uma boa golada de "um qualquer Barca Velha" que por lá abundava, retribuindo generosamente, possivelmente com um garrafão de tintol baptizado.

Não sei qual a espécie em causa, mas para a questão em causa tanto faz. 


(iv) João Silva

Comi, sim, em Bambadinca e na [CCAÇ] 12. Já não recordo o nome do nosso cozinheiro africano que nos presenteou com uma caldeirada de macaco-cão. Estava bom mas a carne era pouca em relação aos ossos que eram muitos. A messe de oficiais e sargentos era separada do batalhão e tinha ementa diferente, consequência do estatuto da companhia de caçadores 12. Este menu não se voltou a repetir, deduzo que pela falta de sucesso perante o pessoal ou por determinação do capitão Simão. No fim deste verão estive com ele na casa de um amigo comum que é companheiro dele em Évora,  onde ambos são ortopedistas,  e não me recordei deste banquete.


Sim,  nós,  Marados,  uma vez em Gadamael  cozinhámos um., com esparguete. É uma carne doce. Não gostei.

(vi) Candido Cunha 

Tal como nós , é um dos 163 primatas conhecidos. Uma grande vergonha, que eu desconhecia que tinha acontecido.

(vii) Antº Rosinha

O Com, não o "avec", mas o macaco, macaco-kom, foi a "ração de combate",  por excelência e por necessidade, dos Combatentes da Liberdade da Pátria, pois que havendo já alguma tradição no consumo desse "petisco", tornou-se como que prato nacional.

Nos primeiros anos de independência, era vulgar ver alguém, caminhando ao longo dos caminhos com um animal amarrado a um pau ao ombro e uma Kalash na mão.

O povo compreendia este consumo com a maior naturalidade.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  16 de janeiro de  2009 > Guiné 63/74 - P3750: Fauna & flora (10): Um par de Macacos à solta em Nova Sintra. (Herlander Simões)


(**) Últimos postes da série: 



Vd. também poste de 14 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16717: Manuscrito(s) (Luís Graça) (101): Comer macacos... só os do nariz!... Ajudemos os guineenses a proteger o "sancu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...Ficaremos todos mais pobres quando eles se extinguirem... e quando as areias do deserto do Sará chegarem às portas de Bissau!... Ficaremos todos mais pobres, os guineenses, os amigos da Guiné, todos nós, os últimos dos hominídeos.

(...) Não posso precisar o dia, mas foi um daqueles em que saímos de Cutia para Mansabá afim de receber a coluna que íamos escoltar até Mansoa. Eram ainda só as viaturas militares, as duas primeiras com soldados africanos (que julgo seriam do Pel Caç Nat 61) e eu, invariavelmente na terceira com pessoal da CCaç 2589, seguindo-se as restantes, quando por alturas da zona (não "aldeia") de Mamboncó rebenta um tiroteio de G-3 à minha frente. Mas que valente susto me pregaram aqueles guineenses... e tudo para ver quem conseguia matar mais macacos.

Um grande bando, adultos, jovens e muito jovens (alguns pela mão talvez de fêmeas), atravessaram a estrada que, naquele local,  era ladeada por revestimento arbóreo relativamente denso, mesmo à frente do início da coluna e os soldados africanos não estiveram com meias medidas. Atiraram a matar, de rajada e tudo, incitando os condutores a passarem por cima deles, ao mesmo tempo que saltavam dos Unimogs e atiravam com os mortos e feridos para cima das viaturas.

O choro dos feridos, grandes ou pequenos, era nitidamente humano. Posso garantir que os mais pequeninos gemiam nitidamente como os nossos bébés. E eu que tinha os meus filhos ainda bem pequenos, lembrava-me bem desses gemidos e choro...Fiquei bastante traumatizado e nem quis olhar para "os troféus" que os soldados exibiam. Sei que lhes passei uma descompostura, mas eles nem ligaram. (...) 

(***) Alf Mil Simeão Ferreira, hoje médico nas Termas de Monte Real... Foi cmdt do Pel Caç Nat 61 (Cutia, 1970/72 )

Guiné 63/74 - P16729: (In)citações (104): Um texto elucidativo... Onde se fala do Restaurante Bar Pelicano, de Momo Turé, do Tarrafal, da PIDE/DGS, do PAIGC... (Mário Serra de Oliveira)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data 12 de Novembro de 2016:

Prezado Carlos:

No decorrer dos anos, toda a gente tem altos na vida... mas, seja em que momento for, quando se recebe uma mensagem como que abaixo vou publicar - deixando aos teus princípios e do blogue, repassar - não há dinheiro no mundo que nos dê tanta saúde e alegria, como ler o dito texto, escrito por alguém que conheci e foi meu companheiro de trabalho n' "O Pelicano".

Mas, deixa-me explicar melhor:

Na sequência de um dialogo sobre os "problemas da Guiné",  eu, por conhecer pessoalmente, alguns dos intervenientes do diálogo, decido opinar dentro dos meus princípios e conhecimentos de causa. Incluso, mencionei Momo Turé - meu braço direito no dito Pelicano. Agora, repara só que... depois de mais de 50 anos (físicos) e cerca de 2 séculos de saudades, me sai esta mensagem, dirigida a 2 dos dialogantes - eu e outro respeitável guineense, vivendo em Paris.

Passo a transcrever...

Um texto elucidativo

"Aos dois interlocutores os meus respeitosos cumprimentos.

Ao Mário, pessoa com quem convivi durante três meses no Bar-Restaurante Pelicano da propriedade do senhor Marques, dono de Grande Hotel em Bissau.

Trabalhei como copeiro à noite (lavador de pratos e copos) e depois garçom no Bar, durante a tarde, ganhando 300$00 escudos guineenses por mês.

Tive o prazer de conviver também, no mesmo espaço, com o Momo Ture, aliás meu primo e vizinho de casas no Pilum de Baixo. Momo Ture foi companheiro da primeira hora de Rafael Barbosa e Amílcar Cabral.

Momo Ture participou da fundação do PAI. Diversas reuniões foram feitas na casa de Momo. Eu era um puto de 8 anos de idade, mas tinha consciência das coisas. Momo costuma nos reunir, pessoas da família,  para explicar as atividades sobre a gestação da política pela independência. Ele nos dizia é para amanhã não ficarem a lés das coisas. Ele perdeu a sua juventude toda na política que veio lhe rendendo prisões e morte. Passou de 7 a 8 anos nas masmorras da minha PIDE em Tarrafal,  Cabo Verde. Após 2 anos de libertado foi se juntar ao PAIGC. Quando foram libertados ele e o Aristides Barbosa, de origem caboverdiano-guineense,  foram os únicos que não assinaram o termo de arrependimento e de integração à bandeira portuguesa do ultramar. Isso está escrito e publicado. Por favor há farta documentação do PAIGC na Fundação Mário Soares, entre cartas, relatórios, atas de reuniões falando sobre a gestação da luta levada a cabo por este Partido, de 1959 até a independência.

Sobre o que problema de MOMO Ture no PAIGC,  só será esclarecido quando o PAIGC é o sucessor da PIDE em Portugal tornarem os arquivos e gravações públicos. Enquanto isso qualquer tentativa de esclarecimento e de discussão sobre a questão serão meras especulações. 

A você,  João Galvão. o meu irmão mais velho,  um forte abraço da Guiné, continuamos apesar de tudo o éramos antes da Luta e continuaremos sê-lo. 

Um abraço guineense também a você, Mário, um brilhante profissional na arte de gastronomia que ouso dizer não conheci um igual. Hoje a minha mulher me "gaba" de ser um bom cozinheiro e respondo a ela… graças a uma pessoa que conheci como o melhor inventor de pratos, o senhor".

Só por isto, vale a pena viver, para relembrar e ser feliz.

Creio que esta mensagem até daria alguma "luz" ao nosso camarada Mário Beja Santos" nas suas pesquisas, nas minhas... já cheguei a uma conclusão que farei constar em "Bissaulónia". Quando sai?... Eh pá, meti-me a fazer uma casa nova de raiz e isso atrasou o projeto do livro.

Deixo a tua consideração o texto acima.
Abraço fraternal
Mário de Oliveira
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16532: (In)citações (102): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte IV): "Viva Médicas e Médicos Portugueses. Viva Portugal com os Negros Unidos" (sic) (carta de 15 de novembro de 2000)