quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18302: Agenda cultural (627): Foi inaugurado hoje, às 14h30, o Dino Parque da Lourinhã: mais de 400 milhões de anos de vida na terra, no maior museu ao ar livre do país... Mais de 120 réplicas de dinossauro em tamanho natural... Um projeto de ciência, educação e entretenimento, na Lourinhã, a "capital dos dinossauros"





Horácio Mateus (1950-2013). Cartoon de Simão Mateus, seu filho, hoje diretor científico do Dino Parque Lourinhã. Como ele estaria feliz hoje, se pudesse estar entre nós...







Foto da inauguração. 



1. O DINO PARQUE DA LOURINHÃ ACABA DE SER INAUGURADO ESTA QUINTA-FEIRA

Tal como estava agendado, realizou-se hoje,às 14h30, a abertura do Dino Parque da Lourinhã numa cerimónia exclusiva para entidades oficiais e convidados.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de convidado, não pôde estar presente   por  questões de agenda. Em nome do Governo, esteve o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, antigo presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, além do presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado.

Segundo informação do quinzenário regionalista Alvorada, este equipamento (o maior museu ao ar livre de Portugal) vai  abrir oficialmente as portas esta sexta-feira, 9, às 10h00. Situa-se na Rua Vale dos Dinossauros, na Abelheira (GPS: 39.278501, -9.293023), a cerca de cinco minutos do centro da Lourinhã e aproximadamente a 45 minutos de Lisboa. 

Para o ano em curso, o horário de funcionamento é o seguinte:

(i)  nos meses de Fevereiro, Outubro, Novembro e Dezembro,  das 10h00 às 17h00 (última entrada às 15h30);

(ii)  em Março, Abril e Maio,  das 10h00 às 18h00 (última entrada às 16h30); 

(iii) e em Junho, Julho, Agosto e Setembro, das 10h00 às 19h00 (última entrada às 17h30), incluindo sábados, domingos e feriados. 

O Dino Parque encerra apenas do dia 25 de Dezembro. 

Preçário:

(i)  9,50 euros para crianças dos 4 aos 12 anos; (Grátis, dos 0 aos 3 anos);

(ii) 12,50 euros para jovens e adultos a partir dos 13 anos; 

(iii) 11,50 euros para bilhete de grupo com mais de 20 pessoas; 

(iv) e 8,50 euros para bilhete de grupo com mais de 20 crianças.

Todas as pessoas residentes no concelho da Lourinhã irão receber numa das próximas facturas da água, um desconto de cinco euros em cada bilhete (dois adultos + duas crianças). 

Todos os alunos do concelho terão também direito a uma entrada anual gratuita e haverá ainda condições especiais para a hotelaria/alojamento local. 

Será ainda permitida a entrada de cães com trela, sendo obrigatório ter saco de plástico para recolha dos dejectos, havendo contudo a possibilidade de o adquirir no local. O parque possui também total acessibilidade para pessoas com necessidades de assistência especial.

Fonte: Adapt de jornal ALVORADA. ! 


2. Mais informações sobre o Dino Parque da Lourinhã:

Morada:

Rua Vale dos Dinossauros, 25 – Abelheira 2530-059 Lourinhã.
GPS: 39.278501 , -9.293023


Como chegar:
(i) Pela A8, direção Sul - Norte

Seguir na saída N8-2 Lourinhã (km 44) , seguir as sinaléticas até à Vila da Lourinhã.
Seguir pela estrada N247 em direção a Peniche por cerca de 7 km, no cruzamento voltar à direita e seguir a estrada N247-1 por mais 2,5 km e chegará ao Dino Parque.

(ii) Pela A8, direção Norte - Sul

Seguir na saída em direção a IP6 – Peniche (km 72) , continuar até à saída Atouguia da Baleia/Lourinhã.
Seguir pela estrada Nacional por cerca de 7 km até ao cruzamento, virar à esquerda pela estrada Nacional 247-1 por cerca de 2,5 km e chegará ao Dino Parque.


Linha de apoio ao cliente:

Tel.: +351 261 243 160 // +351 915 888 207

Página oficial: Dino Parque da Lourinhã

Página no Facebook: Dino Parque Lourinhã

Ver aqui aqui a reportagem da RTP1 | País, 5 de fevereiro de 2017 (vídeo, 2' 09 '')

3. Ver aqui a reportagem da TSF, com a devida vénia, sobre este evento.


Parque de dinossauros abre na Lourinhã para divertir e fazer ciência

08 DE FEVEREIRO DE 2018 - 13:29

O Dino Parque afirma-se como "o maior museu ao ar livre do país" e pretende captar o interesse de futuros cientistas pela paleontologia. Tem um museu, um laboratório e 120 dinossauros em tamanho real. 


Visita ao Dino Parque da Lourinhã, uma reportagem de Rui Silva com sonoplastia de Pedro Picoto

Vinte e um anos depois da ideia inicial, abre ao público esta sexta-feira, dia 9, o Parque de Dinossauros da Lourinhã (PDL), um espaço temático de lazer, implementado num pinhal a poucos quilómetros da Lourinhã.

O Dino Parque, como também é apelidado, ocupa uma área de 10 hectares ao longo dos quais foram desenhados quatro percursos pedestres correspondentes aos últimos 420 milhões de anos, "desde a época em que os dinossauros começaram a sair da água", explica o diretor científico do PDL, Simão Mateus.

Ao longo do percurso, o visitante vai encontrando vários tipos de dinossauros estáticos (incluindo as espécies descobertas na Lourinhã) com um "realismo impressionante", enfatiza o diretor-geral, Luís Rocha, explicando que a ideia "não foi apenas espalhar dinossauros pelo parque", mas sim criar encenações de como seria o quotidiano e o habitat natural dos animais naquele tempo.

Acreditando que "o nível de detalhe fará a diferença para o visitante", Luís Rocha pretende que as crianças possam aprender de uma forma divertida. "Quem sabe se não descobrimos uma nova geração de paleontólogos", questiona.

Além dos percursos pedestres, o Dino Parque tem um pavilhão com várias atividades para adultos e crianças, uma exposição permanente de fósseis e pegadas de dinossauros pertencente ao Museu da Lourinhã e um laboratório científico que "está aberto a estudantes e investigadores" de paleontologia.

O protocolo estabelecido entre a empresa de capitais alemães gestora do PDL, a Câmara Municipal da Lourinhã e o Grupo de Etnografia e Arqueologia da Lourinhã (GEAL) prevê que uma parte das receitas seja destinada a "continuar a investigação científica" sobre os dinossauros, para mostrar que "a história de Portugal não começou em D. Afonso Henriques".

O Dino Parque representa um investimento de 4 milhões de euros, demorou um ano a ser construído e vai empregar 30 pessoas.

Fonte: TSF (com a devida vénia...)

4. Relembro aqui o meu amigo, conterrâneo e geálico nº 1, Horácio Mateus (1950-2013), que nos deixou prematuramente há cinco anos


Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, maio 01, 2013

Horácio, querido amigo,
grande lourinhanense,
geálico nº 1… 

És o primeiro a partir, nessa viagem solitária e sem retorno
que todos teremos que fazer um dia.
Só não sabemos quando nem em que lugar,
só o velho barqueiro de Caronte
é que tem a lista dos passageiros
e os horários e os percursos da última viagem
da terra dos vivos.
Mas estamos tristes,
infelizes,
inconsolados,
porque achamos que partiste cedo demais.
Tinhas direito a realizar os teus sonhos. 


E alguns levaste-os contigo para sempre, 
sem os poderes partilhar connosco.
Alguns desses sonhos realizaste-os e deves ter orgulho neles;
o grande amor da tua vida,
a Isabel,
os teus filhos,
o Simão e o Octávio,
que seguiram as tuas peugadas,
a tua filha Marta,
o GEAL, o museu…
Poucos são aqueles que são profetas
na sua terra.
Tu podes orgulhar-te de ter sido um deles.
E um dia o Parque Jurássico
pelo qual lutaste,
há-de fazer jus
ao teu nome, ao teu exemplo, à tua obra, à tua memória.

Sem a tua saudável loucura,
tua, da Isabel, do Octávio, do Simão,
e de outros tantos geálicos,
alguns presentes nesta hora
em que viemos despedir-nos de ti,
não haveria lugar a alguns dos sonhos bonitos
que aconteceram na nossa terra,
e que irão continuar a acontecer,
sob a tua inspiração e proteção.
Tu foste um exemplo de paixão pela vida,
pela terra,
pelos seres que o habitam ou habitaram,
pelas artes e ofícios dos nossos antepassados,
pelas pedras das suas casas,
pelos muros dos seus caminhos,
pelas árvores dos seus campos…
Cultivaste a paixão pela história,
pela ciência,
pela cultura,
pelo património de todos nós. 

És também um exemplo de amor
pela tua (e nossa) terra, Portugal e a Lourinhã,
mesmo quando a tua terra
nem sempre te compreendia,
ou te reconhecia
ou te amava,
como devia,
e como tu esperavas.
Julgo que terá sido Fernando Pessoa a dizer
que quando um português sonha,
alto e bom som,
há logo alguém que o acusa de estar
fora de escala
e de ser doido varrido...

Pois bem, tu tiveste o mérito de nos desassossegar,
desinquietar,
e de juntar alguns de nós,
e pôr-nos a sonhar alto
e a fazer coisas,
com paixão,
com inovação,
com verdade,
com rigor e credibilidade.
E isso às vezes incomoda os que se sentam na cadeira
da inércia, da mediocridade, do comodismo, da inveja.

Obrigado, Horácio, pela tua saudável loucura,
pela tua criatividade (muitas vezes imprevisível),
pelo teu humor (às vezes inconveniente e corrosivo
mas sempre inspirador),
Obrigado pelas flores que soubeste cultivar
no teu jardim do amor, da amizade e da convivialidade.

Foste um homem bom, um bom cristão
como Cristo possivelmente gostaria
que fosse um bom cristão,
um ser humano que soube nesta terra
praticar as obras de misericórdia
que vêm no evangelho do teu homónino,
São Mateus…
Lembras-te ? Sete eram corporais:
Remir os cativos e visitar os presos;
curar os enfermos;
cobrir os nus;
dar de comer aos famintos;
dar de beber a quem sede;
dar de pousada aos pobres e aos peregrinos;
e enterrar os mortos…
Ou de dar um barco ao náufrago,
como diz o livros dos mortos dos antigos egípcios…

E as outras sete obras de misericórdia eram espirituais:
ensinar os simples;
dar bom conselho a quem o pede;
castigar com caridade os que erram;
consolar os tristes desconsolados;
perdoar a quem nos errou;
sofrer a injúrias com paciência;
rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Na tua vida, tão rica e tão curta, fizeste tudo isso,
sem alarde,
sem pompa nem circunstância,
foste um homem misericordioso.


Onde quer que estejas, tens direito a estar em paz.
Se existe o céu, será aí a tua morada.

Nesta terra,
que foi a tua terra da alegria,
mas também às vezes uma das estações do inferno,
serás sempre lembrado
por aqueles que querem e podem honrar a tua memória.
Quanto a nós, vamos ter muitas saudades tuas.
À boa maneira dos nossos antepassados romanos,
dir-te-ei: Requiescat in pace.
Descansa em paz, Horácio,
Descansa finalmente em paz!

Lourinhã, Capela de Nossa Senhora dos Anjos, 30 de abril de 2013


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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18301: Da Suécia com saudade (57): Algumas coisas que um tuga tem que saber quando vier à Tabanca da Lapónia (José Belo)


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > O José Belo com as seus "canitos" de estimação"... "a caminho da praia". (Chamei-lhes "renas", dou um "lapsus lingau


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > A "praia"... [Há dias estavam por lá 48º graus abaixo de zero...]


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > "Home sweet home" ou a "minha alegre casinha" (na versão dos "Xutos & Pontapés")...  A morança, que funciona como sede da Tabanca da Lapónia, de que o José Belo é régulo e, por enquanto,  o único membro vivo e registado.



Suécia > Sápmi [Lapónia] > s/d >  "Laponas", diz o régulo  [Samisk kvinna]...

Fotos do arquivo do José Belo / Tabanca da Lapónia  (2018). Cortesia do autor.[Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo, português "assuecado", 
que vive na diáspora:

[Foto acima à direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem  125 referências no nosso blogue]

Data: 6 de fevereiro de 2018 às 02:14
Assunto: Respostas às tuas perguntas quanto à Lapónia

Desde os finais de 1700 o termo "lapão" foi usado tanto na Suécia como na Noruega e Finlãndia, como um termo profundamente depreciativo para com os locais. Ao mesmo nível do que o termo "negro" é hoje encarado nos Estados Unidos.

Lapão em Sueco diz-se "Lapp", que também significa exatamente "remendo". Com conotações facilmente associadas a "pobres remendados",e também tendo em conta as roupas tradicionais fabricadas com tecidos de cores separadas que, a querer-se ir por aí, pode dizer-se aparentarem ser feitas por diferentes "remendos".

Facto é que o termo "Lapp" e "Lapónia" não é hoje usado pelos locais, nem pela maioria dos suecos mais jovens. Isto apesar de o termo continuar a ser usado a nível administrativo central (!) como referência geográfica à zona.

Lapónia para os lapões é... Sápmi.

Lapöes é... Samer

Um Lapão é... Same

Mulher da Lapónia é... Samisk kvinna.


Os lapöes estão divididos em vários grupos e subgrupos,  sendo 4 os principais, dispondo também de dialectos próprios.

Os que vivem nas zonas mais ao sul da Lapónia têm as suas renas guardadas em currais,enquanto os do centro norte mantêm os animais em liberdade total e integrados em vastas manadas, mas imediatament reconhecidos pelos donos por marcações efectuadas à faca nas orelhas que,e por muito que possa parecer incrível, todas são diferentes.

As tiras de cores diverssas existentes nas mangas e colarinhos dos vestuários tradicionais ( usados em festas familiares, festas locais,cerimónias oficias, festas religiosas, funerais, e em todos os trabalhos ligados à criação de renas) indicam todas as referências familiares, geográficas e de grupo ou subgrupo, tornando obviamente fácil a identificação imediata de toda a "história" do indivíduo.

Quanto à criação de renas em grandes números, a mesma só é permitida (por lei da administração central sueca) aos indivíduos de origem lapónica.
Actualmente só cerca de 14% dos Lapões vivem da criação de renas apesar de a carne ser vendida a preços muito elevados em toda a Escandinávia e na Alemanha que é o maior importador. (Felizmente que a minha dúzia de renas de trenó e "estimação", não é número a ser abrangido por lei!)

É erro tradicional, cometido por turistas ou mesmo visitantes de outras zonas da Escandinávia, o perguntarem ao criador de renas quantos são os animais que constituem a sua manada. A resposta sempre brusca e irónica é do tipo :"Olhe lá! Eu perguntei-lhe quanto dispõe na sua conta bancária?"

O criador paga imposto ao Estado por cada uma das renas da manada; daí não estar interessado num número "exacto"....impossível de ser verificado por as renas viverem em estado totalmente livre todo o ano, por montes,vales, estepes e florestas. Só há possibilidade de as contar (sempre mais ou menos!) quando as mesmas são anualmente reunidas para abate ou venda.

Há sempre um número considerável de renas ,tanto adultas como jovens, que são mortas pelos númerosos lobos, ursos e outros predadores locais, assim como ao atravessarem linhas dos caminhos de ferro que dia e noite transportam o minério local.
As estradas e autoestradas são também uma armadilha mortal por serem diariamente preparadas com sal e areia para facilitarem o tráfego no gelo. O sal é irresistível para estes animais e, nos nevões e neblinas locais, pode-se dispor nos SUV dos faróis mais modernos e potentes...os resultados....


A  Lapónia (a vermelho).
Infografia: José Belo (2018)
De qualquer modo, o Estado paga ao criador o custo dos animais perdidos. Como em toda a parte,as tentativas de fraudes e as histórias à volta delas são infindáveis.
As estatísticas quanto a estas perdas estão registadas desde há cerca de noventa anos,tornando-se fácil para os responsáveis administrativos pagarem somas...mais ou menos certas...para números de animais também...mais ou menos certos. (No fundo, o Estado Sueco tem uma boa economia que permite algumas destas "brincadeiras").

Existem cerca de 80.000 lapões na "Sameland" que engloba os extremos norte da Noruega, Suécia, Finläândia e Rússia Europeia.

Na Suécia-20.000
Na Noruega-58.000
Na Finländia-6.000
Na Rússia o número é indeterminado ao nível administrativo local.

Um abraço.
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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18297: Da Suécia com saudade (56): por não ter existido anteriormente um único "luso-lapão", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico, e duvidando fortemente que outro venha a surgir, sinto-me obrigado a responder às vossas dúvidas sobre a Lapónia, os lapões... e o colonialismo sueco (José Belo)

Vd. também poste de 7 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14228: Da Suécia com saudade (48): (Sobre)Viver na Lapónia (José Belo / Miguel Pessoa)

Guiné 61/74 - P18300: Estórias do Juvenal Amado (59): Histórias com Pharmácias

Com a devida vénia a Visite São Pedro da Aldeia


1. Em mensagem de 2 de Fevereiro de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

58 - Histórias com Pharmácias

Na pintura da Crisal, onde ingressei com 14 anos, fui testemunha da ida e do regresso de trabalhadores que ora embarcavam ora chegavam ocupando o posto de trabalho que tinham deixado dois ou três anos para trás.
Assim tomei conhecimento com quem regressou de Angola, Moçambique, Guiné, etc. em várias alturas do conflito e era com deleite que ouvia contar as peripécias deles por terras africanas.
Era tudo longínquo, apaixonante, aventureiro e felizmente raramente trágico o que eles contavam.

Também vi ir o meu irmão mais velho, bem com os irmão mais velhos dos meus colegas de escola, que depois foram incorporados comigo e mobilizados na sua esmagadora maioria.

O Félix era irmão do Zé Cafézinho, que foi meu colega na 4.ª classe na escola do professor Pires e posteriormente meu camarada no RI6 no Porto, amizade sobre que escrevi já para aí em 2010 no blogue. O Félix era também um grande contador e estórias e tinha imensa graça quando juntava à volta dele os colegas da secção de pintura, que estavam na incubadora de ir bater com os costados em África como eu fui (alguns 7 e 8 anos depois). Dessas tertúlias ficou-me para sempre gravada uma história verdadeira, com mais graça por conhecermos todos os intervenientes, para além do nosso Félix.

A Crisal era o que se pode considerar uma grande família onde por vezes trabalhavam famílias inteiras e com a particularidade de namoros e celebração de muitos casamentos. Assim aconteceu a mim e à grande maioria de colegas da secção. Nas outras secções aconteceu o mesmo.

Quando ele regressou da Guiné, contou-me sobre a sua comissão lá e os costumes da população, estórias que depois revi pessoalmente, mas esta é uma estória de quando ele garoto foi aprender pintura na empresa.

O Félix era aprendiz de pintor na Crisal de Alcobaça e era natural o encarregado mandá-lo fazer pequenos recados, coisa que não desagradava ao jovem, uma vez que andar na rua era bem melhor do que estar na secção a repetir vezes sem fim os mesmos serviços.
Ora ia levar alguma coisa à esposa do encarregado, senhor João Neto, ou ia buscar o lanche para ele, enfim era aprendiz mais novo e por isso mais há mão de semear para esses pequenos serviços.

Um dia o chefe enviou-o à farmácia buscar uma caixa de preservativos da marca tal, que aliás ele já sabia de cor e salteado, uma vez que era useiro e vezeiro nesse recado.
Na nossa idade lembramos de como era difícil chegar à farmácia e pedir tal “equipamento”. Não era raro vermos homens de parte, assim como não quer a coisa, à espera do momento oportuno para pedir ao empregado ou mesmo dono do estabelecimento a famosa e milagrosa caixinha, que evitava inconvenientes ou males maiores nos relacionamento amorosos.

Ora o nosso herói chegou à farmácia onde era empregada uma senhora e era naturalmente de bom-tom evitar-se de pedir os “ditos” a ela, assim que a senhora via um homem assim de lado, arranjava alguma coisa que ir fazer lá dentro ao armazém, para que respectiva transacção fosse feita por colega longe dos seus olhares.
Mas do garoto nada disso havia a temer e à pergunta “o queres menino”, logo recebeu o pedido assim a frio:
- Quero uma caixa de preservativos da marca tal.

A empregada fez-se encarnada até às orelhas e logo retorquiu que não tinha lá nada disso, tentando desviar-se do incómodo. Mas o nosso Félix não era de deixar a coisa por metade e alargando um belo sorriso, pois sabia ele bem onde aquilo estava, disse prazenteiro apontando para a prateleira muito satisfeito por estar a prestar um serviço:
- Há, há, estão ali.

Pagou, pois já levava o dinheiro à conta e todo satisfeito, nem se apercebeu dos engulhos que tinha criado.

Hoje os tempos são outros e compram-se em qualquer farmácia ou supermercado sem constrangimentos de maior, mas o Félix, sem saber, fez a sua parte na transformação do tabu de então e na alteração dos comportamentos.

Depois de vir da Guiné, o Félix casou com uma colega da fábrica e também se fez à vida para a “estranja” que aqui a “coisa” era curta. Voltou já reformado, e a última vez que estive com ele, falámos da Guiné e do blogue a propósito do que eu tinha escrito sobre o seu falecido irmão “cafezinho”.

Também faleceu entretanto e só desejo que a terra lhe seja leve e que esteja em Paz

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (57): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

Guiné 61/74 - P18299: (In)citações (117): Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia, datado de Bissau, 1/2/2018 (António Graça de Abreu / PEN Club Português)

Bandeira da República da Guiné-Bissau
1. Através do nosso camarada e escritor, António Graça de Abreu, sócio efetivo (e membro dos corpos gerentes, para o triénio de 2015-2018) do PEN Club Português,  recebemos o pedido, por parte da direção daquela agremiação literária, de divulgação do Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia, datado de Bissau, 1 de fevereiro de 2018:

(...) A pedido dos nossos colegas da Guiné-Bissau, que estão em vias de constituir um Centro PEN, aqui enviamos um texto que eles nos pediram que divulgássemos por entre os nossos sócios. Evidentemente que a divulgação pode ser extensiva a outras pessoas, nomeadamente ligadas à comunicação social. (...)


Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária
pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia

Nós, abaixo assinados, cidadãos e intelectuais guineenses, sem filiação partidária,
Vimos:

- Manifestar a nossa profunda preocupação face à degradação do ambiente social e político a que o povo da Guiné-Bissau tem sido submetido nos últimos anos, fruto da disputa político-partidária, protagonizada por uma classe política que não tem medido as consequências dos seus actos quando se trata da luta pelo acesso e conservação do poder;

- Manifestar a necessidade de se promover a paz social e consolidar a unidade nacional, através da estabilidade sociopolítica, do progresso socioeconómico e da defesa dos valores democráticos consagrados na Constituição da República da Guiné-Bissau;

- Trazer ao conhecimento público a percepção geral dos guineenses segundo a qual a Comunidade Internacional, particularmente as Nações Unidas, a União Africana e a CEDEAO, não têm feito, no quadro do seu mandato, o suficiente no sentido de se encontrar uma solução efectiva e duradoira à crise vigente na Guiné-Bissau.

Os legítimos anseios do nosso Povo a uma melhoria das suas condições de vida têm vindo a ser sucessivamente adiados. As cíclicas crises que têm caracterizado a nossa história recente, que em 1998 conduziram a uma guerra fratricida, têm tido um impacto extremamente negativo em todos os sectores da vida nacional, afectando sobremaneira os alicerces de uma das maiores conquistas da Luta de Libertação: a Unidade Nacional.

O ambiente de pobreza e de precariedade extrema – incluindo a intelectual e espiritual – de impunidade e de intimidação que se instalou no país conduziu, por sua vez, a uma conflitualidade crescente, criando feridas profundas na sociedade guineense.

Face aos recentes acontecimentos ocorridos no país, nós, como cidadãos e intelectuais cientes dos seus direitos e deveres, não desejamos a reabertura de tais feridas.

Neste contexto, rejeitando o reacender das hostilidades, e em defesa das conquistas democráticas obtidas e garantidas constitucionalmente,

- Manifestamos a nossa indignação perante os sucessivos atropelos dos direitos e violação das garantias e liberdades conquistadas, que têm sido perpetrados pelos detentores do poder político por intermédio da Polícia, e do poder judicial através dos Tribunais e do Ministério Público;

- Alertamos para uma nova forma de repressão que consiste na usurpação da liberdade de expressão e do direito à informação, censurando conteúdos nos órgãos de comunicação públicos e impedindo o debate livre de ideias num momento delicado da nossa democracia e em que o pensamento crítico e independente se torna uma necessidade imperiosa;

- Repudiamos vivamente a negação do direito de manifestação e de reunião, expresso, por exemplo, no acto deliberado de intimidação, reprovando o cerco à sede de um partido político legalmente constituído, acto inédito na história da nossa democracia;

- Exigimos o respeito das regras básicas que garantem a existência de um Estado de direito.
Enquanto cidadãos comprometidos com a Guiné-Bissau, crentes numa solução pacífica, justa e duradoira:

- Exortamos a Comunidade Internacional presente na Guiné-Bissau, em particular as Nações Unidas, União Africana e CEDEAO, a que apoiem a promoção e protecção de todos os direitos na Guiné-Bissau;

- Apelamos a todos os guineenses, no país e na diáspora, que nunca deixem de lutar pelos seus direitos e que continuem a acreditar que os ideais fundadores do nosso Estado ainda devem ser valores fundamentais da nossa luta pela liberdade e consolidação da democracia, paz e desenvolvimento durável.

Bissau, 1 de Fevereiro de 2018

Nome | Actividade 

Abdulai Sila | Engenheiro, Escritor
António S. Lopes (Tony Tcheka) | Jornalista, Poeta
Aladje Baldé | Biólogo, Prof. Universitário
Abdel-Aziz V. Cruz | Linguista, Escritor
Anaxore Casimiro |  Médico
Carlos Cardoso | Filósofo, Investigador
Carlos Lopes | Economista, Prof. Universitário
Cátia N. Neto | Jurista
Edson Incopté | Gestor de Projectos, Escritor
Fátima Candé | Linguista, Prof.ª Universitária
Helena N. Abrahamson | Jurista, Activista Direitos Humanos
Lassana Sanó | Sociólogo, Activista Ambiental
Miguel de Barros | Sociólogo, Investigador
Patricia G. Gomes | Historiadora, Prof.ª Universitária
Paula F. Cabral | Jornalista, Activista Social
Peter Mendy | Historiadora, Prof. Universitário
Raul M. Fernandes | Antropólogo, Prof. Universitário
Rita Ié | Socióloga, Activista Cívica
Welket Bungué | Actor
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Guiné 61/74 - P18298: Parabéns a você (1388): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18289: Parabéns a você (1387): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18297: Da Suécia com saudade (56): por não ter existido anteriormente um único "luso-lapão", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico, e duvidando fortemente que outro venha a surgir, sinto-me obrigado a responder às vossas dúvidas sobre a Lapónia, os lapões... e o colonialismo sueco (José Belo)


S/d, s/l, sem legenda... Foi enviada pelo régulo da Tabanca da Lapónia, Joseph Belo, para os lapões, (Zé, simplesmente, para os amigos e camaradas da Guiné)... Não sabemos a quem atribuir os créditos fotográficos, dúvida que remetemos para o arquivo do José Belo... mas a verdade é que uma imagem vale mil palavras... Fica, entretanto, outra dúvida, se este é um dos "cães dos colonialistas"... suecos, ou se  é um dos "canitos" (lapões) que, corajosamente, enfrentou e afugentou a ursa (talvez russa, não se sabe...),  enquanto o Zé foi a correr a casa buscar a espingarda... Este foi, de resto,  um dos momentos dramáticos por que passou o nosso régulo luso-lapão, há uns meses atrás, e que originou um não menos (quase) épico soneto, assinado pelo nosso editor Luís Graça:

Infelizmente em Candoz os ursos foram extintos há mais de um século, pelo que eu nunca poderia sentir as emoções fortes do Zé Belo quando, lá na Lapónia, foi à pesca do salmão e deu de caras com uma ursa e duas crias... Valerem-lhe os seus nobres cães polares!...

Fico feliz por saber que a notícia da sua morte, comido por uma úrsula menor, foi um bocado exagerada... Mas fica o aviso e a lição: é preciso ter cuidados redobrados com os ursos e com o que se lê... na blogosfera.
 

Na ártica tundra do círculo polar
Vejo um temerário luso-lapão
Que, lesto, vai à pesca do salmão,
Não livre de um urso encontrar.

Não é urso, é ursa com seus filhotes,
Mas são os cães quem, com nobre coragem,
Salvam o dono de uma iminente carnagem,
O nosso Zé Belo, o último dos Dons Quixotes.

Sem pinga de sangue azul, instintivo,
Corre a casa, saca lá da G3,
E diz aos seus cães em tom efusivo:

"Amigos, hoje há rancho melhorado,
Falo com o meu coração português
Que pulsa sob este corpo assuecado." (*)



1. Em dia de anos, a 4 do corrente,  escrevi ao Joseph Belo o seguinte (**):

Zé Belo: que Deus, Alá e os bons irãs da nossa Tabanca Grande te continuem a proteger dos rigores do círculo polar ártico, das mudanças climatéricas, dos espirros e dos esbirros do Putin e do Trump, enfim, da peste, da fome e da guerra... e do bispo da nossa terra.

Olha, podes não acreditar, mas temos saudades tuas e das tuas renas... Bebo um vodca à tua, à nossa! À vida, à saúde, ao futuro e à amizade luso-lapónica!...
Luís Graça

PS - Zé, assalta-me um dúvida, logo no dia dos teus anos... Escrevi: "Bebo um vodca à tua, à nossa! À vida, à saúde, ao futuro e à amizade luso-lapónica!"...

Tu és o representante máximo dessa amizade, mais do que isso,  o embaixador dos "lapões" (povo sami...) na pátria lusa, mesmo que não te paguem o frete...

Mas eu pergunto: pode-se dizer "amizade luso-lapónica"? (Lapónia, lapónico, por analogia com Japão, japónico, embora a gente use mais o adjetivo "nipónico": amizade luso-nipónica... Não sei qual é o feminino de "lapão"... E o dicionário não me ajuda... Corrige-me lá tu... Entretanto, vou perguntar ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa...


Joseph Belo
2. Resposta do régulo da Lapónia (que só se representa a ele próprio, mas tudo somado são duas Nações, dois povos, duas culturas... ou se calhar três, já que ele é também cidadão sueco...) no dia 5 do corrente:

Colocaste no blogue algumas perguntas quanto a alguma "nomenclatura" lapónica.

Por saber não ter existido anteriormente um único "lusitano-lapäo", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico e duvidando fortemente que outro venha a surgir... sinto-me mais do que "obrigado" a responder em futuro, e mais detalhadamente, por e-mail.

[Foto acima à direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem cerca de 125 referências no nosso blogue]


3. Mail do dia 6, enviado pelo Joseph Belo (Zé, para os amigos e camaradas) e que eu interpreto como um sinal de  boa vontade,  a de querer "retomar" a sua série "Da Suécia com saudade", interrompida (ou dada mesmo por finda) em outubro de 2015] (***)

Data: 6 de fevereiro de 2018 às 02:36
Assunto: Colonialismo(s)

Como os "santos da casa não fazem milagres", a exploração colonial sueca na Lapónia, desde há muitos séculos, era acompanhada nos recentes anos sessenta (!) pelos contínuos votos anticolonialistas da delegação sueca nas Nações Unidas.

Eu diria, dentro de uma perspectiva humanista... ainda bem!

Só que, moral para o fazer (como muito gostavam de demonstrar),  talvez o tivessem unicamente  fora de fronteiras.

A julgares haver interesse em publicá-los num blogue sobre a Guiné, posso enviar-te alguns dados históricos que referem factos pouco conhecidos, e ventilados, tanto para a maioria dos suecos, hoje pouco interessados "nestas coisas", como para a quase totalidade dos que olham a sociedade sueca desde fora.

Um abraço.


4.  Resposta do nosso editor LG:

Pois é, Joseph, és um exemplar único de uma espécie que, se calhar, morre contigo... Não conheço mais nenhum luso-lapão... Obrigado pela foto do teu "canito" (como se diz no Alentejo)... 

Fico então a aguardar a douta lição sobre a arte lusitana de (sobre)viver na Lapónia e tudo o mais que queiras partilhar connosco... Espero bem que tenhas tido um dia de aniversário com doces lembranças e muito carinho dos teus filhos e amigos... 

Somos 'aquarianos', não é por acaso... Fiz a 29 de janeiro.
Alfabravo.
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de julho 2017 > Guiné 61/74 - P17572: Manuscrito(s) (Luís Graça) (120): A notícia da morte do Zé Belo, comido por uma úrsula menor quando ia à pesca do salmão lá na Lapónia... foi um bocado exagerada!

(**) Vd. poste de 4 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18282: Parabéns a você (1386): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

(***) Último poste da série > 20 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15270: Da Suécia com saudade (55): Despedida do blogue, dos editores e de todos os de mais camaradas... Afinal, também há 4 décadas saí do nosso querido Portugal sem bilhete de ida e volta... Os amigos terão sempre uma "casa portuguesa" ao dispor, na Lapónia sueca, em Estocolmo, ou em Key West, Flórida, EUA (José Belo)

Guiné 61/74 - P18296: E as nossas palmas vão para... (14): José Claudino da Silva, nosso grã-tabanqueiro, que teve a ideia de criar o "Bosque dos Avós" na serra do Marão, com o apoio da União das Freguesia de Aboadela, Sanche e Várzea, do concelho de Amarante




Cartaz do projeto "Bosque dos Avós". O autor da ideia é o nosso camarada José Claudino da Silva. E tem o apoio da união das freguesia de Aboadela, Sanche e Várzea, do concelho de Amarante. Cortesia de José Claudino da Silva.


José Claudino da Silva
 1. Com a devida vénia à agência Lusa e ao Jornal de Negócios, de 2 do corrente, publicam-se aqui alguns excertos da notícia sobre a criação do "Bosque dos Avós":



"Avós de vários países criam bosque no Marão com árvores baptizadas com nomes dos netos"


Lusa / Jornal de Negócios , 2 de fevereiro de 2018 às 19:22

"José Claudino Silva, de 67 anos, de Amarante, explicou que, actualmente, estão inscritos dezenas de avós residentes na Austrália, Suíça, França, Espanha e Moçambique, entre outros países, que representam cerca de 180 netos, mas esse número, previu, deverá aumentar nas próximas semanas.

"Por cada neto, o avô aderente à ideia plantará uma árvore, anotou, referindo haver casos de avós com 10 netos e que, por isso, terão de plantar uma dezena de exemplares na serra do Marão."

A ideia do "Bosque dos Avós",  surgiu na sequência de um passeio que o nosso camarada e membro da Tabanca Grande (, conhecido por Dino, entre os amigos),  deu pelo Marão. "Na época de fogos andei a visitar o Marão, vi aquilo tão despido e achei que poderia fazer algo", contou à agência Lusa.

E acrescenta a Lusa:

"José Claudino deseja 'criar um bosque, num terreno baldio', que 'toque nas pessoas', que 'possa ser visitado e que não permita que alguém lhe chegue o fogo', daí a ideia de se batizar cada árvore com o nome de um neto, para se criar uma maior ligação à comunidade.

"A campanha em curso para dar corpo à ideia chama-se 'Vamos plantar o Bosque dos Avós, porque os nossos netos merecem um mundo + verde' e tem envolvido cada vez mais pessoas.

"As redes sociais têm ajudado a promover a ideia e a permitir o contacto entre os que desejam associar-se à dinâmica do projecto. (...)

"As árvores vão ser sinalizadas com um número e registadas por sistema GPS. 'Os meus netos e os netos de outros participantes vão saber onde está a respectiva árvore', explicou.

"A acção de plantação vai decorrer a 24 de Março e conta com o apoio da União de Freguesias de Aboadela, Sanche e Várzea [, do concelho de Amarante], que irá coordenar a atribuição das árvores e o seu ordenamento no baldio. As árvores serão disponibilizadas pelo Parque Florestal de Amarante.

"José Claudino Silva deseja que ações de plantação ocorram todos os anos no 'Bosque dos Avós', porque o terreno baldio tem espaço para muitas árvores. 'Pretendemos que todos os anos haja avós, pais, tios, padrinhos, para plantar árvores com nomes dos familiares', concluiu."


2. O nosso camarada tem página no Facebook. E estamos a publicar no blogue a sua série "
"Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)

O "Bosque dos Avós" já tem também página no Facebook.

Para participar, ligar para:

Telef 255 425 009

Telem 965 804 597


https://www.facebook.com/bosquedosavos/



Merece também as nossas palmas o avô Dino. E os nossos leitores merecem também conhecer uma das tunas do Marão que tocam e cantam a Serra do Marão [clicar no tema 2:
Tunas do Marão,  por José Alberto Sardinha, Sons da Tradição,  Vol. 2, 2005]
Bravo, Dino!!!... Juntos vamos fazer a serra do Marão outra vez linda...ou ainda mais linda!...

Como diz a Tuna de Ansiães, "A nossa serra é linda, / Como ela não há igual! / Ela é a quarta serra / Mais alta de Portugal!"
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de abril de  2017 >  Guiné 61/74 - P17235: E as nossas palmas vão para... (13): Mário Leitão, farmacêutico reformado, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do Laboratório Militar, autor de "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012, 295 pp, mais de 500 fotografias), um homem de causas, agora empenhado em resgatar da "vala comum do esquecimento" os 52 bravos do concelho de Ponte de Lima que morreram na guerra do ultramar, 11 dos quais no CTIG

(**) Postes anteriores da série >

10 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16189: E as nossas palmas vão para ... (12): Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas", empresário em Bissau, português com P grande, que esperamos um dia destes ver condecorado no 10 de junho pelo presidente da República Portuguesa de todos os portugueses

1 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15694: E as nossas palmas vão para... (11): Catarina Gomes, a nossa amiga jornalista do "Público" que venceu o Prémio Rei de Espanha, na categoria imprensa escrita, com o trabalho "Quem é o filho que António deixou na Guerra?"... (Trata-se da segunda parte de um trabalho, iniciado em 2013, sobre os "Filhos do Vento")

30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14420: E as nossas palmas vão para... (10): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte II)

30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14419: E as nossas palmas vão para... (9): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte I)

17 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13299: E as nossas palmas vão para... (8): Nuno [José Varela] Rubim, autor de vasta obra sobre a nossa história militar, com destaque para "A organização e as operações militares portuguesas no Oriente, 1498-1580"

7 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13252: E as Nossas Palmas Vão para... (7): José Carmino Azevedo, autarca de Vila Frechoso, Vila Flor, que quis doar à Tabanca Grande 0,5% do seu IRS de 2013... Que gesto magnânimo!!!... Infelizmente não temos estatuto jurídico...nem sequer número de identificação fiscal (NIF) e, como tal, não existimos face ao Estado Português...

26 de março de 2013 > .Guiné 63/74 - P11315: E as Nossas Palmas Vão Para... (6): A banda musical portuguesa "Melech Mechaya", nomeada para os "Independent Music Awards" (IMA), 12ª edição anual, para a categoria de "Melhor Álbum Instrumental"

1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)

18 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6424: E as Nossas Palmas Vão Para... (4): O Município de Vila Nova de Famalicão no Dia Internacional dos Museus, a que se associaram dez museus, públicos e privados, incluindo o Museu da Guerra Colonial

24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5005: E as Nossas Palmas Vão Para... (3): Medalha de Prata de Serviços Distintos, com Palma (José Martins)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2316: E as Nossas Palmas Vão Para... (2): Os que lutam, na Guiné-Bissau, contra a Mutilação Genital Feminina (MGF)

17 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2273: E As Nossas Palmas Vão Para... (1): Sara Peres Dias e o seu microfilme Dizer a Guiné-Bissau em Três Minutos

Guiné 61/74 - P18295: (In)citações (116): A 'mindjer grandi' Anabela Pires, de visita a Iemberém, até 2ª feira... Vai ser confrontada com uma série de memórias dolorosas: as perdas sucessivas dos nossos amigos comuns Cadi, Pepito, Alicinha... Esperemos que tenha notícias do nosso grã-tabanqueiro António Baldé, que voltou de mãos vazias, de Alfragide para Caboxanque, com o sonho desfeito de ser apicultor e dar um futuro melhor à Cadi e à Alicinha


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi...Morreria 2 meses depois...

Eu e a Alice conhecê-la-íamos em março de 2008. O nosso filho, médico e músico,João Graça, conhecê-la-ia, grávida, em Iemberém, em dezembro de 2009, a um mês de ter uma linda criança. a Alicinha do Cantanhez... Ficou com o nome da sua madrinha, a Alice de Candoz. O elo de ligação entre mãe, filha e madrinha era o Pepito, que entretanto morre em em fevereiro de 2014. Pouco tempos é a vez da Alicinha, que o pai, o nosso camarada António Baldé, a viver em Portugal, nunca chegará a conhecer!...É uma sucessão, dolorosa, de perdas...


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Casa do Pepito e da Isabel Levy > 2010 > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita), que tem na Alice de Candoz (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Não fala português, só um pouco de crioulo, para desespero da Alice de Candoz que de vez em quando lhe telefona... De tempos a tempos, esta manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai-se rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja a menina (e a mãe)... Da cólera, do paludismo, das desinterias, da fome e das mil e uma causas de morte infantil na Guiné-Bissau...

Foto: © Pepito (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > região do Cacheu > São Domingos > 15 de março de 2012... A Cadi, já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal... E a Alicinha morrerá mais tarde, em Farim do Cantanhez. sem chegar aos cinco anos. (**)


Foto: © Pepito (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem, que nos acabou de chegar de Bissau,  ontem, da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires:



[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto à esquerda de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos amig@s:
Parece que é amanhã que vou para o Sul, para Iembérém, Cantanhez, onde estive há 6 anos.  E digo parece porque só quando lá chegar é que direi "Cheguei!". 

Vou apanhar um autocarro de manhã cedo até Mampatá, a meio caminho, e depois irá um carro de Iembérém lá buscar-me. Vai correr tudo bem e talvez regresse na próxima 2ª feira. 

Lá não terei Internet e como tal a única forma de contacto é o meu nº de telemóvel português, quando é possível estabelecer ligação.

A situação política está mais calma mas .... bem, em Iembérém não há problemas desse género.
Darei notícias após o regresso.

Um abraço,
Anabela (*)


2 Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Olá, Anabela!..Que faças boa viagem até Iemberém... E, já agora, vê se tens notícias do pai da Alicinha, a filha da Cadi. O seu nome é António Baldé, acho que nunca o chegaste a conhecer, vivia aqui em Alfragide. Vive hoje em Caboxanque (setor de Bedanda), a norte de Iemberém. Não chegou a conhecer a filha, a não ser por foto. Voltou para a sua terra, com o sonho (desfeito) de ser apicultor, levar com ele uma pequena reforma portuguesa e dar um futuro  melhor à Cadi e à filha de ambos... Foi um sucessão de tragédias... A Alice Carneiro era a madrinha, como sabes, o Pepito o nosso elo de ligação. Os três já morreram: a Cadi, a filha e o Pepito... Inevitavelmente vais reviver estes acontecimentos, dolorosos para todos nós...Eram nossos amigos comuns,,, O pai da Cadi ainda será vivo ? Vivia em Farim do Cantanhez, antigo combatente do PAIGC... Abdul Indjai, de seu nome, ficou sem uma perna numa mina.

Olha, dá depois notícias... Amanhã ponho notícia no blogue da tua partida. Boa estadia em Iemberém.... Bons encontros. Bj meus e da Alice. Luis

PS - Ah!, é vê se tens boas notícias da tua afilhadinha, de Catesse, e do projeto do Ecoturismo em que tiveste envolvida em Iemberém... A AD, parece-me,  ficou órfão do Pepito, perdeu o elã, entrou em entropia, não temos neste momento ligações diretas com a direção da ONG... É uma pena... Encontrámos há tempos em Lisboa a Isabel Miranda e o marido. Foi bom revê-los.  Boa noite. Luis.



Amadora > Alfragide > 27/7/2012 > O António Baldé com o nosso editior Luís Graça, foram vizinhos em Alfragide. O Baldé trabalhou em tempos com o Pepito no DEPA. É naural de Contuboel, onde fez a 4ª classe. Vive em Caboxanque e tem a nacionalidade portuguesa. Pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e à CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71). Era 1º cabo art.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Eduição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014). 

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. Recorde-se aqui o mail que a Anabela Pires nos mandou, em 20 de fevereiro de 2013,  por ocasião da morte da Alicinha:

Luís, acabei de receber o teu e-mail e estou em estado de choque. Nunca percebi de que mal padecia a Cadi mas depois de ir para o Senegal e para o hospital de Comura,  nunca pensei que o desfecho fosse este. Não imaginas como lamento esta notícia. E cuidado com a menina que pouco depois da mãe adoecer também ela andava doentita. Nunca me esqueço delas até porque no dia em que a Alicinha fez 2 anos (dia da minha chegada a Cantanhez) também eu ganhei uma "afilhada" em Catesse que tem o meu nome. As nossas "afilhadas" têm exactamente 2 anos de diferença. E não esqueço a visita que recebi da Cádi, da sua mãe (lindíssima mulher também), da Alicinha e do Ansumané (irmão mais novo da Cadi). Para sempre ficarão também no meu coração. Um grande abraço para ti e para a Alice.

Anabela Pires

___________

Notas do editor:



(**) Vd. postes de:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)


19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P18294: Brunhoso há 50 anos (13): Viagens de comboio ao Porto (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Estação de Mogadouro
Com a devida vénia a Caminhos de Ferro Vale da Fumaça


1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos mais um texto sobre Brunhoso, desta vez lembrando as viagens de comboio até ao Porto nos anos 60 e 70.


Brunhoso há 50 anos

13 - Viagens de comboio ao Porto

Vamo-nos entretendo com histórias, como os meninos que já fomos há muitos anos, e gostamos delas com muitos feitios gostos e temperos: suaves, doces, avinagradas, românticas, de viagens, eróticas, guerreiras, dramáticas, trágicas, apimentadas ou humorísticas.

Esta é uma estória que pretende falar das grandes viagens de comboio que eu e os meus conterrâneos fazíamos desde Brunhoso, essa aldeia perdida entre as dobras da paisagem transmontana do nordeste, até ao Porto, seguindo o percurso dos rios Sabor e Douro, sobretudo nas décadas de 60 e 70, quando para além dos emigrantes as pessoas se começavam a deslocar mais para estudar nos seminários ou colégios distantes, para cumprir o serviço militar, outros por alguma diversão, outros por negócios, outros porque tinham conseguido trabalho na cidade grande.

Da aldeia à estação de caminhos de ferro de Mogadouro que ficava num descampado, eram catorze quilómetros, que tinham que ser feitos num carro de praça. Lá apanhávamos um comboio pequeno e antigo, puxado por uma locomotiva a vapor, com carruagens em madeira, incluindo os assentos, lento nas curvas, nas descidas e nas subidas. Mais tarde automotoras um pouco mais rápidas, mais cómodas, mas mais pequenas, substituíram o velho comboio. Da estação de Mogadouro até ao Pocinho a viagem na linha do Sabor fazia-se por encostas e montes a alguma distância do rio e longe da sua vista. O rio só se tornava visível já depois de Moncorvo, na foz, quando alargava o leito ao encontrar-se com as águas do Douro e o comboio ia estabilizando a sua marcha ao atravessar a ponte perto da estação do Pocinho. Depois a confusão e a pressa habitual para mudar as malas de cartão, os sacos de batatas e de hortaliças, as galinhas, os presuntos, salpicões, linguiças, os garrafões de vinho e outros bens que muitos levavam para si próprios ou para os filhos e parentes, para o comboio maior da linha do Douro que nos levaria até à estação de S. Bento no centro do Porto.

O comboio da linha do Douro somente era maior porque a falta de comodidade era a mesma, do comboio da linha do Sabor, quente ou frio conforme as estações do ano, muito frio no Inverno, muito quente no Verão. Nas estações da CP seguintes, entrariam mais passageiros igualmente carregados de bagagens e sobretudo no tempo das festas do Natal, da Páscoa, no principio e fim das férias, esses comboios ficavam a abarrotar, sendo muitos deles obrigados a fazer toda a viagem de pé.

Linha do Sabor
Com a devida vénia a Os Caminhos de Ferro

O comboio segue pelo vale do Douro, bem próximo do percurso do rio, no meio dessa paisagem sublime, que para nós habituados a viver no meio da natureza eram caminhos da vida, bem difíceis de andar e trabalhar como os dos nossos montes e vales, que percorríamos sem lhes exaltar a beleza. Somente ao entrar em terrenos do distrito do Porto, no concelho de Marco de Canaveses, o comboio abandona as margens do rio.

Linha do Douro
Com a devida vénia a Viajar Entre Viagens

No Tua recebia muitos passageiras da linha com o mesmo nome e na Régua recebia também muitos passageiros da linha do Corgo.

Linha do Tua
Com a devida vénia a Pensar Ansiães

A Régua era a maior cidade da linha do Douro e tinha a maior estação de comboios de Trás-Os-Montes, terra com muito movimento, capital do Vinho Fino, como os velhos lavradores do Douro designavam o vinho que produziam nos socalcos das suas encostas e que os comerciantes do Porto e os ingleses baptizaram impropriamente de Vinho do Porto. Entre a Régua e o Porto existiam ainda algumas estações de caminhos de ferro com bastante movimento e o grande nó ferroviário de Ermesinde, onde as linhas do Douro e do Minho confluem para seguir a mesma rota até ao Porto que se aproxima. A Estação de S. Bento no terminus da viagem onde os viajantes depois de saírem dos comboios são recebidos com fidalguia no grande salão nobre da cidade, imponente com o seu tecto alto e trabalhado, as janelas grandes e artísticas e as paredes enormes decoradas com azulejos, que reproduzem belos quadros históricos da Cidade e da Nação. A Estação de S. Bento ergue-se em beleza e grandiosidade como símbolo da hospitalidade, dos comerciantes, dos artistas e dos burgueses da cidade do Porto, a todos os viajantes nacionais ou estrangeiros.

Estação da Régua

Todos os transmontanos das terras grandes e mais pequenas sentiam uma grande atracção pela cidade do Porto, onde gostavam vir pela sua grandeza, pela sua beleza, pelos seus limites fluviais e marítimos, pelo contacto com outras gentes, pela variedade de produtos comerciais disponíveis para a lavoura e outros actividades. Também pelo prazer de se sentirem a viver e a fazer parte duma grande comunidade de homens e mulheres e experimentarem essa envolvência, no meio da azáfama e do movimento que se sentia nas suas praças, ruas e avenidas, como algo novo e raro.

Estação de S. Bento
Com a devida vénia a Ruralea

Próximo da estação de S. Bento, situada bem no centro da cidade, para comer havia bons restaurantes que alguns entre eles frequentavam: a Regaleira, a Abadia, o Onix, a Flor dos Congregados, o Girassol, o Leal, o Palmeira, a Viúva, o Romão e outros. Para conviver e beber um copo com os amigos havia os cafés Imperial, O Guarany, o Embaixador e a cervejaria Sá Reis.

Para outro tipo de vivências que alguns gostavam de experimentar havia outros cafés, bares, casas de "passe" nas ruas Cimo de Vila, Banharia, dos Caldeireiros, Escura, Bonjardim, etc.

Na Rua do Almada havia a boite e casa de fados Candeia muito frequentada por soldados, marinheiros, rufias, estudantes, doutores, comerciantes e burgueses. Ao tempo era a casa de diversão nocturna mais importante da cidade.

O comércio, tal como hoje, espalhava-se por estas ruas já referidas e outras tais como Rua de Santa Catarina, Sá da Bandeira, Santo António, Rua do Bonjardim, Rua de Cedofeita e muitas outras.

Nesses anos era frequente encontrar na Sá Reis ou no Imperial, o Dr. António, um advogado bom bebedor de cerveja, simpático e conversador, grande proprietário de Mogadouro, com casas também no Porto, que gostava de esperar a chegada dos comboios de Mogadouro, para falar com os conterrâneos.

Nos anos próximos do 25 de Abril, antes e depois, recordo-me que havia muitos estudantes e alguns, poucos funcionários bancários e públicos, de Brunhoso no Porto, que se juntavam inicialmente no café Bissau, na rua de Cedofeita, mais tarde no café Encontro na rua do Rosário.

No bar do Hotel Paris, na rua da Fábrica, sobretudo à noite e também por vezes à tarde, nos fins de semana, juntavam-se muitos transmontanos, alguns de passagem e lá hospedados e muitos outros a viver na cidade, Eram transmontanos sobretudo do Nordeste: Bragança, Miranda, Mogadouro, Moncorvo, Vila Flor. Havia alguns, poucos, beirões, minhotos e galegos. O Hotel era propriedade de três galegos. O Constante o mais novo e mais simpático, por vezes atendia no bar, sendo o homem do bar mais habitual o Mota, um minhoto sempre bem disposto de Cabeceiras de Basto, que também tinha uma pequena quota na sociedade. Tomava-se café, bebiam-se algumas cervejas, discutiam-se as últimas novidades politicas e futebolísticas, jogava-se a sueca e por vezes comiam-se alguns petiscos que o Mota cozinhava.

Recordo-me das viagens de regresso a casa como sendo mais agradáveis, comboios mais livres com menos gente e menos confusão de bagagens. Mas feitas geralmente mais tarde no dia, no Verão o vale do Douro era um inferno e pelas janelas abertas entravam golfadas de ar quente.

Na estação de Valongo havia mulheres a vender regueifa, na estação da Pala vendiam pequenas bilhas de barro com água duma fonte fresca e na estação da Régua vendiam os rebuçados da Régua. Essas mulheres com os seus pregões e os seus produtos davam mais colorido e animação à viagem.

Praça da Liberdade - Porto - Homenagem a D. Pedro IV e aos Mártires da Liberdade, entre os quais o ilustre matosinhense António Bernardo de Brito e Cunha (1782-1829), condenados à forca pelo regime Miguelista e enforcados nesta mesma Praça em 7 de Maio de 1829 (CV)
Com a devida vénia a selvagemtexas

Nos dias e meses após a Revolução de Abril de 1974, os moradores do Porto tinham por hábito juntarem-se em grupos na Praça da Liberdade, de volta da estátua de D. Pedro IV a falarem, uns talvez a tentar compreender a politica e os acontecimentos políticos que corriam a muita velocidade, outros a procurar doutrinar os menos informados. Eu que não tenho muito gosto nem jeito para falar em público, um dia resolvi entrar numa discussão com outro cidadão e logo alguns fizeram uma roda como era habitual. A discussão mais ou menos política já decorria há algum tempo quando ao deitar um olhar pela assistência vejo o meu pai e o meu tio Aragão, que teriam desembarcado há pouco na Estação de S. Bento, muito atentos e interessados. Quando acabei, e os fui cumprimentar, embora ciente que as minhas ideias politicas eram diferentes das deles, não me fizeram criticas desfavoráveis. Pela atenção deles fiquei convencido que o principal motivo que os tinha trazido ao Porto tinha sido tentar compreender a situação política. Ao encontrarem logo o filho e sobrinho a arengar na praça pública, terão pensado que tinham ali um politico e futuro deputado para os defender no futuro. Para possível desilusão deles, esta minha intervenção pública terá sido talvez a última, e a minha carreira política acabou aí.

Brunhoso era afinal ali ao lado, tão perto do Porto, somente a seis ou sete horas de comboio, que os homens, apesar da pouca comodidade, faziam com mais prazer do que ir à azeitona ou fazer a sementeira

A linha do Sabor já foi abandonada há mais de trinta anos. A linha do Douro acaba no Pocinho, tendo sido abandonado o troço até Barca de Alva na fronteira com Espanha. Políticas, ao tempo indiscutíveis, segundo os governantes que tomaram essas medidas.

Sem o som do comboio a subir a serra e do apito que o anunciava, o Nordeste Transmontano foi ficando mais abandonado e silencioso. Faz-me lembrar a beleza triste do olhar duma pauliteira jovem que ficou tal como uma moura encantada (que também lá as houve) por terras de Mogadouro e Miranda.

Comboios do Sabor e do Douro que ainda me transportam ao passado, e trazem tantas recordações!
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17097: Brunhoso há 50 anos (12): As casas e as gentes (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Guiné 61/74 - P18293: Historiografia da presença portuguesa em África (108): Origem da palavra Guiné na revista O Mundo Português, editada pela Agência Geral das Colónias (Mário Beja Santos)




1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
O artigo do padre Dias está bem fundamentado dentro de um determinado quadro lógico em que ele extrapola Djennê para Guiné. Não é de excluir esta possibilidade, dezenas de outros investigadores fizeram outras abordagens, para sermos francos ninguém pode por as mãos no lume sobre a versão fidedigna.
Não resta sombra de dúvida que Azurara demarca os territórios dos Azenegues (o fim da Mauritânia) da Terra dos Negros e fala claramente na Guiné, mas nunca diz a origem da palavra. Aquele mundo opulento de Tungubutú e Djennê esteve permanentemente sujeito a conquistas e pilhagens e desmoronou-se definitivamente com a chegada dos europeus, que alteraram as rotas comerciais e tomaram conta do tráfico de escravos.

Um abraço do
Mário


Origem da palavra Guiné 

Beja Santos

Não é a primeira vez que aqui se faz referência à revista O Mundo Português, intitulada revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais, editada pela Agência Geral das Colónias, e onde se encontra informação de muito interesse. No número de Dezembro de 1938 insere-se um artigo assinado pelo padre António Joaquim Dias sobre a origem da palavra Guiné. Convém informar previamente o leitor que ainda hoje não existe consenso, a despeito de muita investigação e posição categóricas sobre a proveniência da palavra. Tudo quanto este investigador escreve tem erudição e rigor, mostra-se convicto mas estudiosos seguintes não confirmaram os termos apodíticos que ele aqui utiliza. Mas é um belo artigo, como se segue:
“A partir do século XIII, duas povoações do Sudão Ocidental desfrutaram um grande predomínio comercial e político: Tungubutú ou Tombuctú e Djennê.
A primeira, fundada no século XII pelos Tuaregues, Berberes, postada no limite da zona fértil sudanesa, à entrada do Sara, e quase debruçada sobre o rio Níger, ocupava posição privilegiada. A segunda deve a fundação aos Saracolés, pelos anos de 1250. Ficava perto da margem esquerda do Bani, o grande afluente do Níger.
Na vida da velha Tungubutú sobressaem dois períodos notáveis, pelo esplendor político, comercial, demográfico, intelectual mesmo arquitetónico. Marca-os o domínio dos Mandingas (1325-1435) e dos Sôngoi (1493-1528). Semelhante esplendor atraiu numerosos mercadores estrangeiros, sobretudo Berberes, que ali vendiam tecidos da Europa e produtos vários. A Tungubutú afluíram letrados muçulmanos, artistas numerosos e tecelões. Judeus e sábios islamitas viviam em quarteirões reservados. Manuscritos árabes, provenientes do Norte de África eram disputados a peso de ouro. Abundavam cereais, leite, gado, manteiga e sal-gema das minas de Tegaza. Sobre o casario de tijolo cozido, elevava-se a mesquita magnífica, cuja construção demorara 40 anos.
Também Djennê possui pergaminhos valiosos. Durante mais de do0is séculos, desfrutou vida rica, independente e próspera. Este pequeno país estendia-se do Bani ao Debo e de Diafarabê à falésia de Bandiagara".

Azurara parece ignorar aqueles dois centros do Sudão Ocidental. Conhece um único reino da terra dos negros, Méli. Máli ou Méli é o nome dado pelos autores dados e cronistas sudaneses ora ao império Mandinga, ora a uma ou outra das suas sucessivas capitais. Tal império estendia-se do alto Níger até Siguiri.

Por meados do século XIV, o império de Méli absorvera muito outros reinos, nomeadamente o de Tungubutú. Djennê, porém, conseguira manter-se independente, sem embargo das tentativas dos Mandingas para a dominarem. O imperador Mandinga esteve em relações amistosas com os sultões brancos da África do Norte, caso de Marrocos. Méli conheceu então os seus dias felizes mas depois de os Tuaregues se reapossaram de Tungubutú, em 1435, viram-se na necessidade de pedir a proteção do rei português D. João II.

Azurara deve ter redigido os capítulos 77 e 78 da crónica da Guiné sobre informações antiquadas ou erróneas, possivelmente baseou-se nas informações do explorador João Fernandes.

Segundo Diogo Gomes, tivemos conhecimento do Sudão antes dos Descobrimentos haverem atingido do Cabo Branco, e anos antes da estadia de João Fernandes no Rio do Ouro (1444). Em 1441, Antão Gonçalves e Nuno Tristão obtiveram os primeiros indígenas da África Ocidental e deles as primeiras notícias a respeito da ignota África aquém-Bojador.

Após o descobrimento de Arguim, e mormente depois de construído o castelo daquela ilha, traficámos largamente com os mercadores sudaneses. Di-lo Cadamosto ao descrever detalhadamente o comércio ativo que ali fazíamos em 1455. Diogo Gomes corrobora as afirmações de Cadamosto relativamente ao comércio entre Arguim e Tunbugutú. Lendo-se o relato Esmeraldo de situ orbis, de Duarte Pacheco, parece poder deduzir-se ser Tunbugutú mais habitada de Berberes e de Mouros marroquinos do que de negros, sucedendo precisamente o contrário em Djennê. Pacheco diz esta última povoada de negros. Julgo poder asseverar que, anteriormente à nossa avançada para Sul do Golfe de Arguim, nossos descobridores e primeiros mercadores supunham Djennê o verdadeiro chão dos negros. Dali nos terão vindo os primeiros a Arguim, através do comércio a Tunbugutú ou mesmo a Djennê. Os próprios escravos obtidos, interrogados sobre o nome da sua pátria, dir-se-iam naturalmente oriundos de Djennê, que, entre nós ficou sendo, por antonomásia, a terra dos negros. E a estes demos então o nome de Djenéus, forma rapidamente transformada em guinéus. As formas atuais de Guiné e guinéus são já usadas por Azurara.

Depois do descobrimento do Senegal e de vermos os indígenas deste litoral Jalofo tão negros como os que recebíamos do Sudão em Arguim, estendemos aqueles o nome de Guinéus, perpetuado até nossos dias; por Guiné ficou sendo conhecida toda a terra dos negros desta zona africana.

O autor da crónica da Guiné, que muitas vezes chamara Mouros aos Berberes e aos avermelhados Tuaregues como aos negros, discrimina bem, desde certa data o chão dos Mouros, a Mauritânia, da terra dos negros. Ocupando-se da viagem de Dinis Dias ao chão guineense, assevera que ele “nunca quis amainar, até que passou a terra dos Mouros, e chegou à terra dos negros que são chamados guinéus”. Pela primeira vez, Azurara marca a separação geográfica clássica entre Berberes da Mauritânia e os negros, depois reproduzida por Cadamosto, por João de Barros, por Duarte Pacheco, por André Alvares de Almada e ainda outros.

João de Barros observa ter sido Djennê, outrora, mais célebre de que Tungubutú e que esta é a cidade principal das que marginam o rio Senegal. O cronista confunde o Senegal com o Níger, mas é bem explícito acerca da origem da palavra Guiné. Barros dá a entender que povos vários, indígenas, traficavam connosco em Arguim. Declina os nomes deles, todos ou quase todos ainda identificáveis e relacionados com os mercadores de Djennê.

Tudo isto prova, suficientemente, a identificação e assimilação de Djennê como sinónimo da terra dos negros, como base etimológica, histórca e geográfica da palavra Guiné, em uso desde o século XV.

Tungubutú e Djennê figuram ainda nos mapas de África. Tunbugutú constitui hoje apenas uma recordação do passado relativamente glorioso e brilhante, desfeito pelo tempo. Imponente outrora, guarda dessa imponência toda somente altíssima torre, de perto de 53 metros, que vigia, como velho e gigantesco cipreste, as ruínas mais ou menos majestosas, da vetusta cidade adormecida.

Sobre uma falésia, divisam-se também as ruínas impressionantes de Djennê, outrora capital de grande e próspero império, cujos palácios, desmantelados, nitidamente inspirados na arquitetura berbere, sonham com o esplendor de antanho.



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Nota do editor

Último poste da série de 16 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18218: Historiografia da presença portuguesa em África (107): Alfa Moló (c 1820-1881) e Mussá Moló (1846-1931), heróis de todos os fulas, tanto dos fulas-pretos (antigos servos) como dos fulas-forros (antigos senhores), uns e outros oprimidos pelos mandingas (Cherno Baldé, Bissau)