sábado, 10 de março de 2018

Guine´61/74 - P18397: Álbum fotográfico do João Martins (ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) - Parte I: A caminho de Piche, con 3 peças de artilharia 11.4, em setembro de 1968


Foto nº 89/199: > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > A caminho de Piche,  o novo destino do Pel Art.


Foto nº 81/199: > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 >  Picada a caminho de Nova Lamego. Só mais tarde é que foi construída uma estrada alcatroada entre Bafatá e Nova Lamego, com seguimento até Piche.



Foto nº 90/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Paragem obrigatória para descansar... Rm primeiro plano, uma das 3 peças de artilharia, 11.4


Foto nº 63/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > LDG 101, "Alfange", no cais de Bissau


Foto nº 68/199 >   Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > A bordo da LDG 101, "Alfange"   > As peças de artilharia 11.4. ao lado de garrafões de vinho...



Foto nº 73/199 >  Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche >Setembro de 1968 > Chegada da LDG 101. "Alfange",  ao porto fluvial de Bambadinca,


Foto nº 76/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Em Bafatá, com as peças 11.4 à espera de prosseguirem, em coluna auto, até Piche, via Nova Lamego.



Foto nº 81/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Partida de Bafatá


Foto nº 82/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Chegada da coluna auto a Nova Lamego


Foto nº 94  A/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 > Finalmente as peças em posição e com bidões de proteção (1)



Foto nº 94 /199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 > Finalmente as peças em posição e com bidões de proteção (2)



Foto nº 95/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 >  O régulo de Piche veio, em nome da população, dar as boas vindas ao Pel Art e ao seu comandante, o alf mil Art João Martins. Missão cumprida.


Foto nº 96/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 >   O disparo de uma peça 11.4


Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Depois de ter gozado um merecido mês de férias, na metrópole, em agosto de 1968, o João Martins regressou ao CTIG, para ompletar a segunda parte da sua comissão de serviço. Em setembro de 1968,  lá o vemos a caminho de Piche, ma região de Gabu, com o seu Pel Art e 3 peças de artilharia 11.4... 

Estas fotos, editadas, que reproduzimos acima são relativas à coluna que, partindo de Bambadinca,  tinha como destino Piche, passando por Bafatá e Nova Lamego,

As peças (e o pessoal) vieram de LDG (Lancha de Dsembarque Grande) de Bissau, até Bambadinca, tendo feito portanto o incrível troço do Geba Estreito (a partir do Xime),

Há diferenças entre a peça 11.4 e o obus 14, que não são imediatamente percetíveis pelos "infantes" (como nos chamam, à nós, pessoal de infantaria, os nossos camaradas artilheiros, com humor e algum paternalismo...).

Recorde-se:

(i) o João José Alves Martins foi alf mil art do BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69); e entrou para a Tabanca Grande em 12 de fevereiro de 2012.

(ii) ele chega a Bissau em 19 de dezembro de 1967 (e só regressará à metrópole nos princípios de janeiro de 1970).

(iii) a Bataria de Artilharia de Campanha [BAC] nº 1 é uma  unidade de recrutamento da província com cerca de 25 pelotões de artilharia (Pel Art) de soldados de todas as etnias, espalhados por muitos dos aquartelamentos do território da Guiné.


2. Sobre o obus  14 (cm e não mm...), ele já nos deu as seguintes explicações técnicas:

(...) 14 cm é  o diâmetro da alma do canhão. Recordo que um obus é constituído por "reparo", a parte que assenta no chão e que tem duas "flechas" à retaguarda para que não recue, o "canhão" que começa na "culatra" que é a parte onde se colocam as "granadas" e os "cartuchos" com diferentes dimensões e cargas, conforme a força impulsionadora que se pretende, e que está relacionada com a distância, e, finalmente, a "massa recuante" que é o sistema hidro-pneumática  que, após o tiro, leva o "canhão" à posição inicial. 

Quando estive em Bedanda, e antes de rumar a Gadamael-Porto, com destino a Guileje, os 3 obuses estavam dirigidos para 3 direções bem distintas porque os ataques eram provenientes de 3 lados bem diferenciados, pelo que, regra geral, não disparavam simultâneamente, além de que estavam em extremos do aquartelamento. 

Recordo-me que um dia, alguém vestido de modo "estranho" me perguntou se os obuses disparavam só para longe, ou, também, para perto. Respondi que só para longe. É claro que,  naquela noite, perceberam quando queriam entrar no aquartelamento, que também disparava para perto. Os africanos que se encontravam no interior da moranças é que não gostaram do "festival" porque as granadas, que pesam 45Kg, passaram-lhes a rasar, eu diria que entre 1 metro e 2metros. Numa das fotografias das minhas memórias, vê-se um furriel a acimentar o chão, onde o obus rodava... Enfim, algumas das minhas muitas recordações...que não esquecerei facilmente.. (...) (**)

No essencial,  pode dizer-se o seguinte:

(i)  a peça de 11.4 cm e o obus 14 cm eram parecidos (mesmo reparo );


(**) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18396: Parabéns a você (1400): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Março de 2018 > Guiné 61/74 - P18389: Parabéns a você (1399): Cor Art Ref (DFA) António Marques Lopes, ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

sexta-feira, 9 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18395: Notas de leitura (1047): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (25) (Mário Beja Santos)

Bafatá nos anos 70, instalações da Sociedade Nacional Ultramarina


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estamos no auge da segunda guerra, é assombroso como se fazem relatos minuciosos sobre a produção de arroz, tanto de Bissau como Bolama estão atentíssimos ao que se produz, crescem as necessidades e levantam-se problemas de exportação; o gerente de Bolama, nesse ano decisivo da transferência da capital da colónia, tece hossanas à navegação aérea naquele local onde se instalou a Pan-Am e faz mesmo conjeturas daquela placa giratória nesse tempo glorioso dos hidroaviões. É nisto que o gerente de Bissau apresenta os protestos do governador que se queixa da luminosidade da fachada do banco, mesmo em frente do edifício onde trabalha, e o gerente pede ao pormenor tudo o que é necessário para duas de mãos de cinzento, para que o senhor governador não fique mais ofuscado...

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (25)

Beja Santos

O relatório de exercício de 1940 da filial de Bolama adita uma curiosa informação sobre os meios de transportes na ainda capital. Quanto à via marítima, operavam dois vapores do Estado, fazendo carreiras semanais entre a capital e Bissau e ligando as diversas ilhas do arquipélago dos Bijagós. A via área trazia uma novidade: um pequeno avião, propriedade do aeroporto, fazia a ligação entre Bolama e Bissau e outros pontos da colónia que dispunham de campo de aterragem. No porto de Bissau estabelecera-se a companhia americana de navegação aérea, a Pan-American Airways Company, aproveitando o aeroporto de Bolama, em desenvolvimento para as carreiras de Lisboa América do Norte. Esperava-se que esta companhia fizesse paragem neste porto, dentro do mês de Novembro ou Dezembro, mas até à data o acontecimento não tivera realidade. A falta de embarcação para o reabastecimento dos aparelhos, como gasolina e óleo, fizera demorar a presença da Pan-Am. Mas o relatório adiantava que a companhia aérea superaria essa falta com a construção de uma grande jangada que suportando enormes tanques teria facilidade em abastecer os aparelhos. Era grande a espectativa para Bolama:  
“Dos resultados que para este porto possam advir desta carreira ainda não podem ser avaliados, mas espera-se que venham a beneficiar grandemente esta cidade e esta colónia. Dos americanos, gerente e empregados da companhia que aqui se encontram, uns para ficar e outros que vieram para estagiar e fazer preparativos, nada se consegue saber. Nós aguardamos para ver os resultados”.

Entre 1940 e 1941 cruzam-se ainda relatórios de Bolama e Bissau, a agência e a filial, mesmo dispondo de um encarregado geral pretendiam mostrar serviço a Lisboa. Veja-se um curioso texto, alusivo à situação do mercado, saído de Bolama, é a primeira parte do relatório de 1940:
“Arroz – Abriu a campanha do mês de Janeiro último. As chuvas faltaram em algumas regiões de Tombali. Em Cubumba e Cabelol e para os lados de Caboxanque os arrozais foram plantados já tarde.
Na altura das colheitas, começou a aventar-se que era escassa a produção desse ano, o que logo ao nosso regresso à colónia fomos verificar pessoalmente, correndo algumas tabancas cuja produção conhecíamos dos outros anos. Realmente os celeiros não tinham muito arroz mas quem quisesse ver encontraria as medas nas bolanhas, à espera de condução e debulha.
O indígena produtor de arroz, vendo o preço exagerado da mancarra, estava a jogar, à espera que lhe fizessem preço relativo, sob o ponto de vista de acréscimo, ao seu produto. O pequeno comerciante, o que compra diretamente ao indígena, queria convencer também o industrial que havia muita falta de arroz, para este lho pagar melhor, caso lhe quisesse comprar.
As autoridades, caladas mas agradando-lhe este estado de coisas de onde poderia resultar mais dinheiro na mão do indígena e este poderia pagar mais e melhor os seus impostos. O governo da colónia, confidencialmente nos foi dito, pediu ao ministério das colónias notícias sobre futuros, preços de arroz, na metrópole. Se fossem mais altos, obrigavam-se aqui os compradores a pagar mais caro.
Sobre exportação, nada se sabe. O Senegal deve precisar de arroz porque lhe há de faltar navegação que transporte o arroz da Indochina e que costuma ficar, em Dakar, mais barato que o arroz da Guiné!!! A Gâmbia precisa de 6 a 7 mil toneladas de arroz e já o pede mas quer barato porque o indígena não tem dinheiro para pagar mais que no ano passado pagou o arroz das colónias francesas e algum das inglesas que para lá ia”.

Não deixa de ser elucidativo o relatório de Bolama referente a 1941. Descreve o pessoal da filial; fala da natureza e valor das importações e exportações, logo adiantando que “Tendo sido transferida para Bissau a Repartição de Estatística foi-nos impossível colher os elementos necessários ao desenvolvimento do movimento geral de importância e exportação que transitou pelas alfândegas da Guiné; quanto a transportes, relativamente à via marítima, havia dois vapores do Estado, já velhos, para passageiros e carga, lanchas à vela e motor das casas exportadoras e a ligação de Bolama para Bissau e algumas circunscrições é feita por pequenos vapores, o “Geba” e o “Bolama”.


Falando da via aérea, crê-se ser do maior interesse reproduzir a informação de gerente da filial:

“Um pequeno avião que liga a colónia em serviço de governador, servindo oficiais e alguns particulares, quando urgentes e de extrema necessidade. A Pan-Am liga esta colónia com a metrópole pelo porto de Lisboa e com as Américas do Sul e o Norte, pelo porto de Natal e Belém, no Brasil. Dá-nos esta empresa oportunidade para dizer a V. Exas., depois de ouvirem pessoas que de perto acompanham o seu movimento, o seguinte.
A esta importante sociedade norte-americana de navegação aérea concedeu já o governo português grandes facilidades para a utilização do aeroporto de Bolama. A importância destas facilidades torna-se cada vez mais evidente pela posição de Bolama em relação ao continente americano e as distâncias que a separam dos aeroportos de Natal e Belém e ainda com escala para futuras ligações dentro do continente africano. A mesma sociedade criou este ano mais algumas bases de escala neste continente, entre elas uma no Lago Fischerman, na Libéria, e outra no Congo Belga, prevendo-se para um futuro próximo grandes carreiras aéreas transoceânicas.
Na impossibilidade de conseguir que os capitais portugueses se arrisquem a empresas desta natureza, é de louvar a atitude do governo português facilitando à Pan-Am o estabelecimento destas carreiras. Todas as facilidades concedidas são poucas se considerarmos não só o desenvolvimento que pode advir para Bolama, mas também que na Libéria, República criada pela América do Norte, situado um pouco ao Sul da Guiné, tendo eles toda as facilidades e só este aeroporto pode ser preferido pelas condições naturais e pelo seu apetrechamento.
Não devemos esquecer também que a ocasião é a mais própria para eles se estabelecerem em Bolama, devido ao estado de guerra em que a maior parte das nações estão envolvidas.
Um pouco mais ao Norte da Guiné está o importante porto de Dakar, que já tirou a navegação marítima a S. Vicente do Cabo Verde e não se poupariam os franceses a esforços para tirarem a navegação aérea de Bolama, se não houvesse a guerra.
Portanto, repetimos, todas as facilidades são poucas, dada a importância destas carreiras e dos benefícios que delas pode vir a ter a Guiné”.

E continua a exaltar Bolama e o transporte aéreo:
“Antes de terminar a guerra é que se deve intensificar o apetrechamento do aeroporto de Bolama, onde já o governo gastou milhares de contos apesar de pouco se ver feito.
A maior parte dos maquinismos e aparelhos para serviço do aeroporto encontram-se ainda encaixotados e armazenados, por montar, nos armazéns da alfândega, embora já despachados há mais de ano.
Concluídas as obras que faltam no aeroporto de Bolama, é de esperar que os americanos, para não terem de gastar mais dinheiro na Libéria, escolham Bolama, não só para escala, como para entroncamento das carreias transoceânicas”. 

E o gerente presta informações sobre arrendamentos à Pan-Am e de que a comissão municipal já tinha oferecido à empresa um terreno nas proximidades do banco, para eles ali construírem, mas nada resolveram.

Em 30 de Julho de 1941, segue de Bissau um ofício assinado por Virgolino Teixeira que tem o seu algo de caricato:
"Sua Excelência o Governador instalou o seu gabinete no edifício em frente ao nosso.
A ação do tempo e o sol descoraram a tinta da nossa frontaria, que está agora muito clara e é um perfeito espelho que reflete intensa luz dentro do gabinete do senhor governador, prejudicando muito. Sua Excelência desejaria que a frontaria do nosso prédio fosse pintada de escuro, desejo este que solicitamos a V. Exa. que nos deixe atender.
Mas aqui não há tintas capazes e as que aparecem melhores, mal aplicadas, já estão estragadas pelo sol intenso.
Deste modo, agradecemos que V. Exa. nos mande remeter tinta de óleo boa, cor cinzenta muito escura, para cobrir uma superfície de 400 metros quadrados e o preparo respetivo para se aplicar uma primeira camada de suporte para a tinta boa.
Aquela tinta cinzento-escuro deve vir em quantidade que permita darem-se, pelo menos, duas demãos.
Seria útil que tudo viesse remetido com urgência para aproveitarmos uns operários que vieram da Europa fazer os acabamentos em edifícios do Estado.
Por outro lado, a instalação das repartições em frente do banco tornou a casa completamente devassada.
Por esta razão, pedimos licença para fazermos aqui 7 estores de cujo custo daremos depois conta e não será exagerado”.

Os despachos apostos, em Lisboa trazem as devidas contas e a administração questiona mesmo se o assunto não é mesmo urgentíssimo…

(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 2 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18373: Notas de leitura (1045): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (24) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 5 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18381: Notas de leitura (1046): “A History of Postcolonial Lusophone Africa”, autor principal Patrick Chabal, com participações de David Birmingham, Joshua Forrest, Malyn Newitt, Gerhard Seibert e Elisa Silva Andrade, Hurst & Company; Londres, 2002 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18394: Agenda cultual (632): Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, 10 de março, às 14h30: comemorando o Dia Internacional da Mulher, com vozes no feminino, plurais e lusófonas, na arte e na música



1. Convite aos nossos leitores e leitores, gentilmente enviado à Tabanca Grande pela Casa do Alentejo:

É já á amanhã, 10 de Março, a Comemoração do Dia Internacional da Mulher na Casa do Alentejo.

A partir das 14h30, venha participar nesta festa de pluralidade, com o tema da Língua Portuguesa como elo de união das Mulheres.

Esta tarde de comemoração conta com participações de Mulheres de Língua Portuguesa desde o Alentejo, ao Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Cabo Verde.

Pode assistir a atuações de Grupos Alentejanos, e das Batuqueiras do Grupo Finka Pé, um desfile de moda do Estilista Mom’s Amade, bem como ver mostras de arte, artesanato e gastronomia. Não deixe de visitar também a Exposição “A Arte e A Mulher”, coma presença de vários artistas plásticos dos países de Língua Portuguesa!

A não perder!

Casa do Alentejo
Rua das Portas de Santo Antão, 58
1150-268 Lisboa


CANTE ALENTEJANO
É PATRIMÓNIO
DO ALENTEJO PARA O MUNDO

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2018 >  Guiné 61/74 - P18366: Agenda cultural (631): Lisboa, Bairro Alto, Teatro do Bairro, hoje, 28, às 21h30: Lançamento do álbum de estreia do músico e compositor lourinhanhense Diogo Picão, "Cidade Saloia"

Guiné 61/74 - P18393: Fotos à procura de... uma legenda (102): Uma mulher fula a amamentar a "sua" cabrinha!... Ainda em tempo, celebrando o Dia Internacional da Mulher (Foto de João Martins, Piche,1968)


Guiné > Região de Gabu > Piche > Foto nº 112/199  do álbum do João Martins > 1968 > Uma  mulher fula amamentando, com o leite do seu próprio peito,  a "sua" cabrinha (ou cabritinho ?), provavelmente um dos bens mais preciosos do seu escasso património familiar... Uma ternura de foto do álbum do nosso camarada João Martins, já célebre nas redes sociais.... Era mais fácil aos fulas vender-nos uma vaca do que um cabrito...

Foto: © João José Alves Martins (2012).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já na altura (*) eu tinha comentado a "felicidade" e a "ternura" desta foto (e,  por tabela, a apreciação do João sobre os fulas)... Dizia mais ou menos isto:

João: sobre as tuas andanças pelo leste, o "chão fula" (foste de Bambadinca a Piche com 3 peças de artilharia 11.4), as tuas reflexões, os teus temores, a tua perceção do portuguesismo dos fulas, não me compete, a mim, pronunciar...

Sabias, logo entraste,  que umas das regras de ouro do nosso blogue era justamente não fazer "juízos de valor" sobre o que cada um de nós viveu, experimentou, sentiu, pensou (ou pensa)... Aliás, no dia em que transformássemos o nosso blogue em tribunal (inquisitorial) dos combatentes da Guiné, assinarímos a sua sentença de morte!... O que felizmente não aconteceu ao fim de quase 14 anos a "blogar"...

Eu estive 22 meses entre os fulas, numa companhia africana, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969/março de 1971), composta por praças fulas, do recrutamento local,  comi e dormi em tabancas fulas, defendi tabancas fulas, vivi entre os fulas, fiz amigos e amigas fulas... Tenho outras vivências, diferentes de ti, que estiveste de passagem pelo "chão fula"...

Agora, acredita, nunca vi, que me lembre, uma mulher (fula) a dar de mamar, com o leite do seu próprio peito,  a uma cabrinha!... Nem fula nem balanta ou de outra etnia... Mas no caso dos fulas, entende-se melhor: eram originalmente um povo de pastores e nómadas...

Ainda continuo a pensar o mesmo que te disse em 2012: espantosa foto a tua, parabéns!... Se fosse agora, merecias que a mandássemos para o concurso da Worl Press Photo!

Passou ontem o Dia Internacional da Mulher, ainda vou a tempo de voltar a reproduzir, no nosso blogue, esta foto que merece, seguramente,  melhor legenda do que a minha!... Aqui fica o desafio aos nossos leitores e leitoras. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

13 de maio de  2013 > Guiné 63/74 - P11565: (Ex)citações (220): Cherno Baldé, deixo aqui a minha homenagem à mulher do teu país...(João Martins)

quinta-feira, 8 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério municipal > Talhão militar português > Abril de 2006 > Campa nº 1271, de Anastácio Vieira Domingos, doldado, CCAÇ 727, falecido em 13 de dezembro de 1964, por doença, no HM 241, Bissau. Era natural de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, distrito de Beja. O soldado Anastácio Vieira Domingos, nº 688/64, teve como unidade mobilizadora o RI 16, de Évora. A comissão no CTIG  foi de outubro de 1964 a agosto de 1966. O soldado Anastácio Vieira Domingos não chegou a conhecer a época das chuvas: morreu ao fim de dois meses de Guiné, mais exactamente a 13 de dezembro de 1964. O seu nome consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > 6 de Março de 2008 > Um dos três talhões atribuídos aos militares portugueses, mortos durante a guerra colonial: trata-se, neste caso, do Talhão Esquerdo, onde estão as campas não identificadas. Como já o dissémos aqui, no nosso blogue, estes serão porventura os restos mais dolorosos do que restou do nosso Império... Segundo a Liga Portuguesa dos Combatentes, na Guiné haveria mais de uma centena de cemitérios improvisados (locais de enterramento, desde Buba a Nova Lamego, passando por Cacine a Guidaje), onde repousam, sem honra, nem glória, nem dignidade, os restos mortais dos nossos camaradas cujas famílias não tinham, na época, recursos financeiros suficientes (cerca de 11 mil escudos na época, cerca de 4500 euros, hoje) para, a suas expensas, trasladar os seus corpos para Portugal.

Foto de Nuno José Varela Rubim, hoje cor art ref,  um dos comandantes da CCAÇ 726 (Quinhamel, Guileje, Cachil, Catió, 1964/66), contemporânea da CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que só teve um comandante, o já falecido cap inf Joaquim Evónio Rodrigues Vasconcelos, e a que pertenceu o avô da Adelise Azevedo,

Foto (e legenda) : © Nuno Rubim (2008) . . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa leitora Adelise Azevedo (França):


Data: 3 de março de 2018 às 13:43

Assunto: Pedido de informações sobre a era guerrilheira e a independência da Guiné


Bon dia,  Senhor Luis Graça,

Meu nome é Adelise Azevedo, sou a neta do Senhor José Alves Pereira (CCAÇ 727).

Tenho 14 anos e estou no Colégio "Saint Joseph La Salle" em Wattrelos, no norte da França, perto da fronteira belga.

Eu tenho que preparar um exame chamado "Passeurs de Mémoires" ("Passadores de Memórias") para o mês de maio de 2018.

Eu escolhi de falar sobre a guerrilha na Guiné de 1963 a 1974.

Tenho sorte de ter o testemunho do meu avô, mas você poderia, por favor, me enviar documentos, fotos ... deste período da história da Guiné e de Portugal e me  comunicar títulos de livros, documentários ...

Com antecedência, agradeço sua ajuda.

Atenciosamente,

Adelise Azevedo

59150 Wattrelos

FRANCE


Bonjour Monsieur Luis Graça,

Je m'appelle Adelise Azevedo, je suis la petite-fille de Monsieur José Alves Pereira (CCAÇ 727).

J"ai 14 ans et je suis au collège Saint Joseph La Salle à Wattrelos, dans le nord de la France, à proximité de la frontière belge. 
Je dois préparer un examen qui s'appelle "Passeurs de mémoires" ("passadores de memorias") pour le mois de mai 2018. J'ai choisi de parler de la guérilla en Guinée de 1963 à 1974.

J'ai la chance d'avoir le témoignage de mon grand père, mais pourriez-vous me transmettre des documents, photos... sur cette période de l'Histoire de la Guinée et du Portugal et me communiquer des titres de livres, documentaires...

D'avance, je vous remercie de votre aide.

Cordialement,

Adelise Azevedo



2. Pedido aos nossos camaradas José Martins e Mário Beja Santos:

Zé Martins e Mário:

Duas ou três sugestões para a nossa amiga Adelise Azevedo, neta de um camarada nosso... Tenho notado uma crescente procura do nosso blogue, por parte  dos franceses (ou luso-franceses)...Vejo pelas estatisticas do Blogger.

Este mês, com um total de c. 90 mil visualizações / visitas, a França vem surpreendentemente em 2º lugar, à frente ds EUA, nas visitas ao nosso blogue... Ab, Luís



Visualizações de páginas
Portugal
24566
França
23676
Estados Unidos
15284
Reino Unido
6347
Turquia
2271
Itália
1588
Brasil
1225
Espanha
1049
Canadá
804
Alemanha
728



3. Resposta do Mário Beja Santos, com data de ontem:


Bom dia a todos, a nossa jovem amiga tem duas versões para o seu trabalho: o que escreveram os autores franceses e os testemunhos dos portugueses.

Obviamente que temos de ser parcimoniosos, para ela não se afogar em papel. Lembro os testemunhos de Gérard Chaliand (não terá dificuldade, penso, em encontrar La Pointe du Couteau, Robert Laffont, Paris, 2009), Réné Pélissier, Basil Davidson em francês. 

Se vivesse em Paris, era de sugerir consultas no Centro Cultural Português, está recheado de literatura alusiva. 

Creio igualmente que se poderia mandar referências aos vídeo franceses [ do INA] de que largamente temos aqui feito referência. Vejo com dificuldade pôr a jovem a ler o nosso blog em toda a sua extensão. 

Vou enviar-vos em PDF o meu livro “Adeus, até ao meu regresso”, neste caso, seria de a avisar que se trata do panorama da literatura da guerra da Guiné. Tenho outros PDF  de outros livros meus, vocês dirão se devemos inundar a jovem com toda esta literatura. 

Um abraço do Mário

4. Resposta do editor Luís Graça:

Em Dia Internacional da Mulher temos a obrigação de ajudar esta jovem, neta de um camarada nosso, um português da diáspora. Como a gente costuma dizer, na nossa Tabanca Grande, os filhos e os netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são...

Obrigado, Mário, pelas tuas sugestões de leitura. Vou enviar inclusive o pdf do teu livro à nossa menina. Tu és, nesta matéria,  uma verdadeira autoridade, ninguén como tu tem o conhecimneto, em extensão e profundidadr, da literatura sobre a guerra colonial na Guiné. E és, de há largos anos, o  crítico literário por excelência do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

A Adelise fará, depois, uma triagem  do que lhe interessa para o seu trabalho escolar, que eu imagino seja relativamente rudimentar. O nosso blogue também é uma vastíssima e rica fonte de informação e conhecimento sobre a guerra colonial na Guiné. Mas ela não irá ter muito tempo para vascular 14 anos de blogue, com mais de 18 mil postes e 70 mil imagens e alguns vídeos, para além de outros  tantos 70 comentários. Tem as cartas ou mapas da Guiné, disponíveis em formato digital, à escala de 1/50 mil...

Temos ainda, na coluna do lado esquerdo  do nosso blogue,  una lista com links, com mais de 4 mil marcadores, descritores ou referências, que serão seguramente úteis para o seu trabalho. Veja-se, por exemplo, o descritor CCAÇ 727, que foi justamente a companhia a que pertenceu o avô José Alves Pereira. 

Ver aqui, nais especificamente. a história da unidade, os sítios por onde passou, as baixas (mortos) que teve, etc. Mas a Adelise também pode (e deve) fazer uma entrevista, semi-estruturada, ou semi-diretiva, ao avô. Ponha-o a falar, no caso, obviamente, de ele viver em França e ao pé dela... Em suma, fazer uma "petite histoire de vie",com fotos dele e dos seus camaradss, por exemplo...

Aconselho também a consulta do portal Guerra Colonial 1961-1974, organizado pela A25A - Associação 25 de Abril, em colaboração com a RTP. Sobre o Teatro de Operações da Guiné, a Adelise encontrará informação específica aqui. Inclui multimédia.

O INA - Institut National de l'Audiovisuel, da França, também tem alguns vídeos interessantes sobre a guerra na  Guiné (hoje, Guiné-Bissau). Ver em especial este "Guerre em Guiné" (, ORTF, 1969) (c. 14 minutos), de que temos um resumo analítico alargado, no nosso blogue.

No Google Imagens, encontrará centenas e centenas de documentos que lhe poderão interessar... Fazer a pesquisa deste modo: Google > Imagens > Guiné + "guerra colonoal" [, assim, com aspas]...

Na RTP Arquivos também tem algumas reportagens, mas menos interessantes...O regime político, de então, não estava nada interessado em mostrar à população a brutal realidade da guerra, em especial na Guiné...

No portal Casa Comum, organizado pela Fundação Mário Soares, tem à sua disposição o Arquivo Amílcar Cabral, de consulta também útil e interessante, nomeadamente em termos de espólio fotográfico.

Poderá ainda consultar uma obra de referência,  enciclopédica, " Os Anos da Guerra Colonial (1961 - 1975)", da autoria dos historiadores militares  e coronéis reformados, Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Matosinhos: Quidnovi: 2010, 838 pp., preço de capa c. 45€). O Carlos Matos Gomes foi, inclusive, combatente na Guiné.

Haveria muito mais fontes, mas para já e atendendo à natureza do trabalho em curso, para efeitos escolares, achamos que é suficiente. A Adelise poderá, de resto, consultar-nos, para tirar qualquer dúvida mais concreta.

Vamos desejar boa sorte  para o trabalho da Adelise, vamos ajudá-la a ter uma excelente nota no exame.  E no final vamos convidá-la a integrar a nossa Tabanca Grande, em representação do seu avô. Para isso, vai mandar-nos uma foto dela, e duas do avô (uma atual e outra do tempo da Guiné). Mas isso só depois de entregar o trabalho... no próximo mês de maio. Um beijinho para ela, um grande abraço para o avô.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O obus 14

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite.

"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão; reformou-se, entretanto] [LG]...

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

Guiné > Região de Tombali > Bedanda> CCAÇ 6 > 1970 > O famoso obus 14... [Julgamos que esta foto terá sido dada ao Hugo Moura Ferreira por uma dos camaradas da CCAÇ 6 que estavam em Bedanda em 1970}.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > "PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL" (OUT-DEZ'69) - ATAQUE A BEDANDA EM 25 DE OUTUBRO DE 1969 (AO TEMPO DA CCAÇ 6, 1967/1974)

(Parte II)
1. INTRODUÇÃO

Com a presente narrativa, a última de duas relacionadas com o ataque a Bedanda em 25 de Outubro de 1969, ocorrido treze dias após o primeiro, encerra-se a análise à segunda missão do "plano de acções militares" do PAIGC (*), de um "pacote" de nove – mais uma do que inicialmente pensado, uma vez que Buba seria contemplada com outra flagelação "extra" devido aos fracassos registados por "Nino" Vieira (1939-2009), e seus guerrilheiros, na primeira – todos eles previstos concretizar durante o último trimestre desse ano, nas regiões de Quinara e de Tombali, contra os diferentes aquartelamentos das NT, cujo calendário se recorda abaixo.

Para a elaboração deste trabalho de pesquisa global, apresentado em fragmentos, continuaremos a utilizar um documento base, que é o relatório "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_40082 (2018-1-20)], localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares, adicionando-lhe, sempre, outras informações de diferentes fontes bibliográficas, como metodologia de caracterização e de aprofundamento histórico.




2. O AQUARTELAMENTO DE BEDANDA E AS SUAS UNIDADES


Como foi referido no primeiro fragmento do ataque a Bedanda [P18387] (*), os antecedentes históricos da CCAÇ 6 têm a sua origem na estrutura orgânica da 4.ª CCAÇ (Companhia de Caçadores Nativos [ou Indígenas], esta criada e instalada, primeiramente, em Bolama em finais de 1959.


Quatro anos e meio depois, em Julho de 1964, mudou-se para Bedanda, por necessidades operacionais, como resposta ao pedido de intervenção dos africanos no esforço da guerra. Em 1 de Abril de 1967, decorridos três anos após a instalação dos seus primeiros efectivos em Bedanda, esta Unidade foi renomeada, passando a designar-se por Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6 - "Onças Negras"].


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1970 > Vista aérea da tabanca e aquartelamento. Foto que nos foi enviada pelo nosso camarada, da primeira hora, Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil inf, que esteve na Guiné, entre novembro de 1966 e novembro de 1968, primeiro na CCAÇ 1621 (Cufar) e depois na CCAÇ 6 (Bedanda).

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Um ano depois, em 10 de Junho de 1968, como reconhecimento da importante acção desenvolvida nas múltiplas missões que lhe foram confiadas, a CCAÇ 6 viria a ser merecedora de uma condecoração atribuída pelo Governo Central ao seu Estandarte [Cruz de Guerra de 1.ª Classe], em cerimónia pública presidida pelo Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz (1894/1987), de homenagem às Forças Armadas Portuguesas, realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa.

Recorda-se, acima, o texto que originou a condecoração tornado público na comunicação social [DL, em 11 de Junho de 1968, p11; e DN, em 12 de Junho de 1968].

Para além da CCAÇ 6, o Aquartelamento de Bedanda dispunha também de um Pelotão de Canhões sem Recuo [PCS/R], de um Pelotão de Artilharia de obus 14 [Pel Art] e de um Pelotão de Milícias [Pel Mil n.º 143], da etnia fula.


3.  O ATAQUE A BEDANDA EM 24OUT1969… QUE PASSOU PARA 25OUT1969 DEVIDO A SUCESSIVAS FALHAS NA SUA ORGANIZAÇÃO,

Desenvolvimento da acção: (Conclusão)

No dia 24 de Outubro [de 1969], às 17h15, as forças do Corpo Especial de Exército deviam atacar as instalações militares do campo de Bedanda mas, devido ao número insuficiente de transportadores não puderam concentrar no local toda a quantidade de munições necessária e muito menos distribui-la a tempo para as 3 posições de fogo, razão principal porque tiveram que adiar a missão.

No dia seguinte, com a aprovação do Comandante do Corpo Especial de Exército ("Nino" Vieira), as forças de Artilharia prontificaram-se a realizar a operação e a iniciá-la à mesma hora indicada para o dia anterior [17h15]. Às 17h00 todas as peças estavam prontas para o tiro, quando descobriram uma avaria na comunicação. Devido a esse imprevisto só meia hora mais tarde iniciaram o fogo de enquadramento com uma peça de canhão 75, desde a posição de fogo do GRAD. O inimigo [NT] respondeu imediatamente, cortando a instalação em dois pontos. Só 15 minutos depois foi retomada a direcção de tiro e deram por terminado o enquadramento para as [peças] GRAD [foguetes/foguetões de 122 mm]. Imediatamente as peças de canhão abriram fogo, realizando tiro indirecto desde a distância de 2.000 metros. Do posto de observação, pareceu (a visibilidade, dada a hora já avançada da tarde, era deficiente) ser um tiro efectivo, cobrindo a zona indicada.

Terminado o fogo dos canhões, as peças do GRAD fizeram o seu primeiro disparo que, do posto de observação, pelo clarão produzido, pareceu-nos ter atingido o objectivo. [Este disparo ficou na história da guerra por ter sido o primeiro foguete 122 mm a ser lançado por uma peça GRAD contra as NT]. Mais tarde, segundo os camaradas de infantaria situados a poucas centenas de metros do objectivo, esse disparo caiu dentro do objectivo. Deu-se a ordem de tiro de bataria e, salvo um foguete danificado, foram lançados os restantes [cinco], os quais se dispersaram pela periferia do objectivo.

Finalmente, os morteiros 82 iniciaram fogo, da mesma posição de fogo dos canhões, realizando fogo rápido, mas desordenado e sem muita afectividade, devido à impossibilidade de dirigir tiro naquela altura (tinha anoitecido já completamente) pois haviam roto [danificado] completamente as instalações telefónicas.


Citação: (1963-1973), "Combatentes do PAIGC deslocando uma peça de artilharia anticarro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_ 43753 (2018-2-12) (com a devida vénia)

Conclusão

1. O tiro de artilharia, no seu conjunto, não foi efectivo como esperávamos, especialmente devido à falta de direcção continua e ordenada do tiro e isso motivado pelas interrupções sistemáticas das instalações telefónicas.

2. Dada a distribuição dos quartéis (com pequenas concentrações em 3 pontos), Bedanda não é um objectivo muito favorável à utilização das [peças] GRAD. Prova-o o facto do primeiro obus ter caído dentro do objectivo e os restantes terem-se dispersado sem atingi-lo.

3. Com a experiência herdada de B1, concluímos que a direcção de fogo feita com a utilização de telefone não dá a mínima garantia. A introdução de rádios impõe-se como uma necessidade urgente para que a realização dessas operações tenham o mínimo de garantia e coordenação com os bi-grupos de infantaria.


4. Não é recomendável a realização de tiro de enquadramento de noite. A observação e as respectivas correcções são vagas e imprecisas.

5. O transporte de munições até aos pontos desejados é algo que deve ser encarado com toda a responsabilidade e garantido contra quaisquer atrasos ou imprevistos.



Actuação da Infantaria

A infantaria deveria actuar imediatamente depois do bombardeamento artilheiro.

Contava com os seguintes efectivos assim distribuídos:

- 3 bi-grupos no quartel do meio, com 5 bazookas RPG-7 (4 granadas cada)

- 2 bi-grupos no quartel de cima (onde estão as lojas), com 2 RPG-7 (4 granadas cada)

A acção da infantaria, prevista para as 17h45 (a operação devia ter início às 17h15) só foi possível 3 horas mais tarde, devido à reacção do inimigo [NT], que abandonou os quarteis, refugiando-se no mato, contra o intenso, embora não muito efectivo, fogo da artilharia. Três horas depois, quando o inimigo [NT] regressava aos quartéis, foi completamente surpreendido com fogo de bazookas (21 RPG-7) e outras armas de infantaria. Sofreu grande número de baixas, que, segundo informações posteriores, ultrapassou os 30 [trinta].

A retirada foi sem problemas, pois o canhão inimigo [NT] e sua dotação foram destruídos pelo primeiro foguete do GRAD.


Correcção às informações obtidas posteriormente pelo PAIGC:

De acordo com a base de dados existente na Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (sítio: http://apvg.pt), relativa ao número de militares – continentais e de recrutamento local – falecidos nos TO ultramarinos, verificou-se que durante o período em que a Companhia de Caçadores n.º 6 (CCAÇ 6) prestou serviço em Bedanda [de 01Abr1967 a 27Abr1974 = sete anos] o número total de baixas foi de 12 (doze), sendo 10 (dez) do Recrutamento Local e 2 (dois) do Contingente Metropolitano.

Das 10 (dez) baixas de naturais da Guiné, 5 (cinco) morreram em combate (50%), 3 (três) por acidente (30%), 1 (um) por doença (10%) e 1 (um) por afogamento (10%).

Para que conste, foi elaborado o competente quadro nominal.


Pelo acima exposto, conclui-se que as informações obtidas por parte do PAIGC, quanto ao número de mortos durante esta acção, carecem de fundamento (são absolutamente falsas), na medida em que este seu ataque não provocou qualquer baixa mortal, não obstante todo o aparato bélico.

Por outro lado, desde o início do conflito [1963] e até à alteração do nome para CCAÇ 6 [1967], a 4.ª CCAÇ contabilizou 15 (quinze) baixas, sendo 5 (cinco) do Contigente Metropolitano e 10 (dez) do Recrutamento Local.

Seguindo o mesmo procedimento anterior, apresenta-se o respectivo quadro nominal.


Continuaremos a desenvolver este tema com a apresentação dos principais factos ocorridos em cada um dos restantes ataques.

Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
07MAR2018.
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Nota do editor:

(`) Vd. poste de 7 de março de 2018  > Guiné 61/74 - P18387: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18390: Blogpoesia (557): No Dia Internacional da Mulher - "Mulher", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor do BCAÇ 3872

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Beldades de Fulacunda: bajudas biafadas... Pensando nas mulheres, em todas as mulheres do mundo, e em especial, neste Dia Internacional da Mulher, de todas aquelas que são (ou  foram) vítimas da Guerra, Mutilação Genital Feminina, do Casamento Forçado, da Rapto e da Violação, do Assédio Moral e Sexual, da Violência Doméstica, da Discriminação com base no género, na idade e na cor, da Intolerância Política e Religiosa, etc., etc., etc.

Foto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em mensagem de ontem, 7 de Março de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos este poema, a propósito do Dia Internacional da Mulher que hoje se celebra.

Olá Carlos e Luís,
Aproxima-se o Dia Internacional da Mulher. Aqui vai um apontamento. 
Celebrar a mulher é um prazer e não sabem aquelas culturas que a segregam, que a querem menorizar como individuo, a grande alegria que elas nos dão com a sua companhia e partilha. 
Há dias a Sara Tavares disse que o sorriso era a parte mais bonita do corpo humano. Como podem em certos países obrigar a esconder esses sorrisos? 

Um abraço
Juvenal Amado


MULHER 

Mostra um lindo sorriso 
Põe uma flor no cabelo 
Veste o teu melhor vestido 
Solta a rebeldia 
Grita bem alto a tua condição 

Esquece as dores nas pernas 
As mãos maltratadas 
O transporte público incómodo 
O assédio na fábrica 
Ri-te com desprezo de quem não te respeita 

Porque o teu rosto nos ilumina 
Mostra o teu poder 
Não deixes que te ignorem 
Sai para a rua 
Reclama-a como tua 

Assume-te de corpo inteiro 
Canta aquela canção em voz alta 
Celebra que este é o teu dia 
Tu és a alegria dos nossos dias 
Exige que eles sejam todos teus 

E salta para o palco da vida 
Dança como uma bailarina em pontas 
Salva-nos com a tua magia 
Mostra-nos o teu sorriso 
E transforma o cinzentismo em vibrante cor 

Juvenal Amado 
8 de Março 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18377: Blogpoesia (556): "Devasso minha alma...", "Moinho de vento", e "As regras...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18389: Parabéns a você (1399): Cor Art Ref (DFA) António Marques Lopes, ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18363: Parabéns a você (1398): José Rodrigues, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

quarta-feira, 7 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18388: Historiografia da presença portuguesa em África (112): Um estudo desconhecido sobre a etnia Manjaca em O Mundo Português, por Edmundo Correia Lopes (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Há algo de original e inovador no trabalho rudimentar deste etnógrafo. Desembarcaram uns manjacos no porto de Lisboa e num ritmo de boa convivência o cientista social procurou indagar elementos sobre a estrutura social, espiritualidade, a música, a língua, o posicionamento da etnia, medularmente animista, entre os islamizados. O autor confessa que é trabalho rústico, pesquisa de poucos elementos com exceção daqueles que ele foi repertoriando noutras jornadas científicas, como a que fez nos Bijagós. Inovador na justa medida em que só anos depois é que é lançado o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa e pedido aos administradores de circunscrição que fizessem inquéritos e elaborassem relatórios, documentação que, como se sabe, ainda é hoje é basilar no estudo etnográfico, etnológico e antropológico na Guiné. É uma curiosidade, mas há que reconhecer os seus méritos.

Um abraço do
Mário


Um estudo desconhecido sobre a etnia Manjaca (2)

Beja Santos

Tem-se aqui repetidamente falado da publicação O Mundo Português, da Agência Geral das Colónias, teve a sua influência nas décadas de 1930 e 1940, apresentava-se como revista de cultura e propaganda, incluía discursos das figuras gradas do Estado Novo, artigos de divulgação histórica, pequenas reportagens e até ensaios. Figuras importantes do modernismo português como Stuart, Jorge Barradas, Manuel Lima, Bernardo Marques e Diogo Macedo emprestaram a sua colaboração ao nível gráfico.

Entre Maio e Novembro de 1943 apareceu em O Mundo Português um conjunto de artigos sobre a etnia Manjaca assinados por Edmundo Correia Lopes. Encontramos no Google os seguintes elementos sobre o autor: Edmundo Correia Lopes (1898-1948), filólogo e etnógrafo, distinguiu-se como estudioso africanista, e desde cedo a cultura das colónias portuguesas despertou nele um profundo interesse. Formado em Letras, publicara já um repositório de música tradicional, fruto do seu apego à cultura popular, quando embarcou para o Brasil em 1927 e se fixou no Rio de Janeiro e em São Paulo, tendo percorrido Pernambuco, o Ceará e a Amazónia. Faleceu no arquipélago dos Bijagós, onde integrava uma missão etnográfica ao serviço do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

O estudioso propôs-se apresentar de forma resumida os dados que obtivera sobre a etnia, a língua, a vida material, a estrutura familiar, a música e a vida espiritual. Em texto anterior fez-se aqui uma síntese dos elementos apresentados sobre as origens da etnia, a língua e a vida material, vamos agora apreciar os restantes elementos.

Quanto ao clã e família, o clã é matrilinear, mas há jogo complexo de elementos que devem ter sido em conta, caso dos direitos políticos hereditários e os régulos eletivos, as relações económicas e até as classes de idade. Os Manjacos de Pecixe não caçam fora da ilha. O clã é que sucede e a representação do seu direito de sucessão está no irã, isto quanto a direito políticos e acerca da sucessão do régulo. Diz o autor que é necessário não fazer confusão entre a família e a unidade de ordem superior – o clã – embora ambas sejam de natureza matrilinear. E depois de citar o que conseguiu apurar da entrevista feita aos Manjacos que vieram a Lisboa tira a conclusão de que há necessidade de orientar o estudo dos Manjacos de modo a conhecer a organização do clã, a extensão da sua influência política, ritualística e social. E diz mais: as interdições matrimoniais não são determinadas apenas, como entre nós pelo parentesco carnal mas pelo classificatório. Os enteados tratam os padrastos como pais e portanto os padrastos não podem casar com enteados e com maior razão o não podem fazer sogro com nora ou sogra com genro, porque se tratam de pais a filhos. Tratamento de irmão estende-se aos primos coirmãos.


As fábulas e narrativas da cultura Manjaca parecem aparentar-se com a de outras culturas quanto ao uso de animais, caso da hiena, raposa, lobo, lebre, crocodilo. Tratar-se-á de moralidades espelhadas por histórias de animais, como ele narra:
“Um homem levava a corda para subir à palmeira para ir procurar coconote. Via um lagarto (crocodilo). O lagarto disse-lhe: leva-me para o mar. Tem paciência, leva-me para a água. Tem vinte dias que não como. O homem respondeu: eu levo-te e tu matas-me para me comer. O lagarto disse: não te como. Amarra-me a boca, amarra-me o pé. O homem pegou no lagarto ao colo e levou-o para o rio. Chegado ao rio, disse: arreio-te aqui. Avança mais, insistiu o lagarto. O homem avançou. O lagarto disse: arreia-me. Quando o homem o arreou o lagarto mandou que o soltasse e o homem soltou-o. E ele: agora, eu como-te. E o homem respondeu: então, faço-te bem e tu pagas-me mal? O lagarto replicou: digam os três que passaram qual é a verdade. Passou uma velha. O lagarto perguntou-lhe: se alguém faz bem não é com mal que lhe pagam? A velha preta, animal de carga desprezado pelo marido, podia confirmar a sentença diabólica do crocodilo. O mesmo se passou com um cavalo velho, agora abandonado. Só a lebre é que não partilhava de igual doutrina, manifesta incredulidade do facto do homem ter transportado crocodilo para o rio e insiste em que se repita a operação…”.
Esta história foi contada ao autor por António Pecixe, é muito conhecida no folclore Mandinga, tem várias versões.


Falando da estrutura musical Manjaca, diz que o padrão musical é muito simples, há de certo modo uma íntima associação com a vida espiritual, as composições musicais possuem temas próximos da sacralidade, mas também entre o sagrado e o profano, as divisões do trabalho, os ritos de promoção, os requisitos e condicionalismos do casamento e os respetivos festejos. Os casamentos obrigam a grande matança de cabeças de gado e há etapas a percorrer: os pedidos de casamento realizam-se em Maio mas só em Janeiro seguinte é que os casais podem erigir a sua palhota, mesmo que vivam já em mancebia.

Falando do fanado, o autor diz que este não tem nenhuma originalidade e observa:  
“Lá encontramos o irã representado num mascarado de pele branca, barbado, cabelos crescidos que lhe caem sobre as espáduas, pequenos e mofinos olhos encarnados, da cor do manto de mangas curtas, segurando na mão a espada. Assim, pelo menos, os novos lhe pintam a máscara, designando o mascarado pelo mesmo nome que os Mandingas – Kankura. Bastaria esta aproximação para nos persuadir que se trata de uma influência dos povos centrais (Fulo-Mandingas) sobre este povo atlântico, a que devia naturalmente corresponder uma iniciação incruenta, como a dos Bijagós".
Falando dos Beafadas, população vizinha dos islamizados, que estavam a ser progressivamente islamizados, observa também que os Manjacos são muito diferentes dos Beafadas. Além de não terem atração pelo islamismo, tem ritos de passagem bastante distintos e descreve com algum pormenor a sociedade do fanado. Termina esta série de artigos dizendo que procura aproveitar o melhor do que colheu sobretudo pela originalidade e a paciência em pescar etnografia africana à beira do Tejo, não esconde que os elementos obtidos carecem de mais estudo, para maior clarificação.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18365: Historiografia da presença portuguesa em África (110): Um estudo desconhecido sobre a etnia Manjaca em O Mundo Português, por Edmundo Correia Lopes (1) (Mário Beja Santos)