domingo, 17 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18749: (D)o outro lado do combate (33): As deserções no PAIGC no Sector de Tite ao tempo do BART 2924 (1971-1972) e suas consequências (2) (Jorge Araújo)

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Nota do editor

Poste anterior de 16 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18746: (D)o outro lado do combate (32): As deserções no PAIGC no Sector de Tite ao tempo do BART 2924 (1971-1972) e suas consequências (1) (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18748: Blogpoesia (571): "Catedral do Universo", "Corrimão da escada" "Com sentimento..." e "Parece que já não há mais...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Catedral do Universo

Vivemos como parte integrante, mergulhados na catedral do Universo.
Sumptuosa, rica e imponente, se ergueu do nada pela mão omnipotente do Criador.
Suas torres agudas vão do chão ao infinito.
Seus dois hemisférios, sul e norte, são as naves cravejadas de rosáceas
Por onde a luz do sol entra, tudo inundando de luz e cores, desde os cumes mais altos às profundezas dos oceanos.
Tem dois braços de igual tamanho que abraçam o mundo, o dia e a noite.
O sol e a lua são os dois turíbulos, em combustão constante, que a incensam em contínuo movimento pendular
Espalhando a vida com seu calor e luz.
Nela habita e ora, desde sempre, a privilegiada humanidade.

Ouvindo “Adágios Russos”
Mafra, 10 de Junho de 2018
7h9m
Amanhecer cinzento e chuvoso
Jlmg

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Corrimão da escada

Tem horas na vida em que subir ou descer é um calvário de dor.
Quando falte a mão ou o braço de alguém,
Haja sempre um corrimão, à mão.
Quanto bom e bem ficou na vida por fazer porque faltou alguém com sua mão.
Com ajuda se chega ao infinito.
O impossível desaparece
E o sonho se realiza.
Mesmo os órfãos, tenros meninos, podem chegar a ser alguém
se, naquela hora, houver alguém que lhes estenda as mãos.
Com ajuda, tudo se faz mais fácil...

Bar Polo Norte em Mafra, 12 de Junho de 2018
9h1m
Jlmg

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Com sentimento…

Como o sol, Dá cor à vida o sentimento.
De que serve viver sem sabor?
Ser matéria inerte que o vento não agita e a chuva não fecunda.
Passar o tempo alheio à dor ou alegria que anda à volta.
Num tanto faz, nada me toca.
Indiferente ao mundo. Espectador sentado que vem e vai.
Entrou, assim saiu.
Peso morto o dia a dia.
Nem bom nem mau.
O Senhor nos livre de quem é assim…

Ouvindo Mendelssohn, concerto para violino por Hilary Hahn
Mafra, 14 de Junho de 2018
7h9m
Jlmg

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Parece que já não há mais...

Compro vinho em caixotes de cartão, aos cinco litros.
Adoro dar à torneirita e vê-lo, todo contente, a correr para o copo.
Uma sensação boa. De fartura e liberdade.
O pior é quando se adelgaça a bica, avisando do fim.
Olhos em bico. Tudo acaba. Já não dá mais.
O que vale, as vinhas já estão cheias.
E o verão está aí.
Entretanto, há que ir ao mercado e abastecer.
Um bom almoço requer bom vinho.
É bom sinal. Ainda há gosto!...

Bar Castelão, em Mafra, 15 de Junho de 2018
10h9m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18730: Blogpoesia (570): "É como um rio a nossa vida...", "Forças invisíveis..." e "Visita do Sol...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18747: Parabéns a você (1455): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BART 3872 (Guiné, 1071/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18740: Parabéns a você (1454): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e CMDT do Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

sábado, 16 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18746: (D)o outro lado do combate (32): As deserções no PAIGC no Sector de Tite ao tempo do BART 2924 (1971-1972) e suas consequências (1) (Jorge Araújo)


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18702: (D)o outro lado do combate (31): Os dois aviões DO-27-A1, da FAP, nºs 3333 e 3470, abatidos em 6 de abril de 1973... Fotos do médico holandês Roel Coutinho (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18745: Os nossos seres, saberes e lazeres (272): De Aix-en-Provence até Marselha (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Aqui estamos em plena Gália Narbonense, especados e aturdidos com o génio arquitetónico romano, Arles conserva uma das obras-primas do românico provençal, em romano e românico os tesouros são imensos, os museus espetaculares, como adiante se verá, e importa não esquecer que em fevereiro de 1888 aqui arribou Van Gogh, pintava então como um possesso, obras-primas como Le Café d’Arles ou Le Pont de Langlois nasceram aqui, o produto final foram 200 pinturas e 100 desenhos, Van Gogh quis fundar em Arles uma associação de artistas, Gauguin respondeu ao seu apelo, mas desavençaram-se, Van Gogh teve aqui uma crise neurótica e cortou uma orelha. Não se vê mas a cidade conserva na atmosfera e no seu casco histórico a vida que o atraiu, convém não perder de vista que o majestoso Ródano passa pela berma da cidade antiga e moderna.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (4)

Beja Santos

O viandante organizou a sua digressão por Arles quase com estratégia militar, veio entusiasmado até ao passado, aqui foi ponto focal do maior relevo na Gália Narbonense, por vontade de Júlio César. Mas, imagine-se, também aqui se vem à procura do provençal, a cultura portuguesa e a sua história muito devem a este rincão, recorde-se que D. Sancho I se uniu a D. Dulce, filha do Conde da Provença. O próprio D. Afonso III viveu 13 anos em França, e lá foi procurar o mestre do seu filho D. Dinis, o rei poeta e lavrador, que cantou:

Quer’eu em maneira de proençal 
fazer agora um cantar d’amor.

Tudo mudou quando a França absorveu a Provença e a nossa diplomacia se virou definitivamente para Inglaterra. Um Prémio Nobel da Literatura francês foi Frederico Mistral que dedicou um cativante poema a Portugal, que assim começa: “Belo pequeno povo, que encarnaste / Numa turba de heróis e num grande poeta, / Se nas tuas recordações estás refugiado, / Como o velho marujo que sonha com o leme…
Todas as indicações das ruas estão em francês e provençal, dá para sonhar sobre essa cultura que se cruzou com a nossa e tem identidade, mais adiante falaremos da arquitetura. Encontrou-se uma fórmula económica para ir ao teatro antigo, ao anfiteatro, às Termas de Constantino, aos criptopórticos, ao claustro de São Trófimo, ao museu arqueológico e ao museu Réattu, uma empanzinadela por 12 euros, fez-se bem em apostar estar em Arles dois dias inteiros, sem parança! Começou-se pelo teatro antigo, dá para ver a sua rara elegância, foi um dos mais importantes do Império no século I a.C. Conserva duas colunas admiráveis em brecha africana e mármore italiano. No século IX este espaço foi fortificado, felizmente que intervenções posteriores o levaram a manter uma boa relação com o meio circundante.



Na cadeira de História de Arte, o viandante tinha referências a toda esta fachada e à perfeição e rasgo espiritual do pórtico. É uma das obras-primas do românico provençal do século XII, só para andar a meter o nariz em toda esta estatuária primorosa se promete voltar, há muito que o viandante aprendeu que a melhor lente é a dos nossos olhos, e por isso pede atenção a certos pormenores das imagens que se seguem, não podemos esquecer o que era a fé medieval, a glória de Deus e a punição infernal.




Há a igreja de São Trófimo propriamente dita e o claustro, aqui estão algumas das mais belas esculturas medievais. O viandante precisa de muitas horas para aqui cirandar e uma coisa é certa, do pouco que já viu precisa muito de voltar, Arles é uma enciclopédia, foi centro comercial grego, colónia romana, capital imperial, lugar relevante da cristandade, um grande centro agrícola do renascimento. É um antigo atravessado pelo moderno, arquitetos como Henri Ciriani e Frank Gehry deixaram aqui as suas marcas, Arles com o seu conjunto de monumentos romanos e românicos está na lista do Património Mundial da Humanidade. O que dizer de exaltante, em duas palavras, para não cansar o leitor? As esculturas são de qualidade excecional, felizmente têm sido alvo de restauro, está-se convicto que ninguém pode ficar insensível a estes sinais de uma fé inabalável naquele século XII.




Numa das salas do claustro, talvez tenha sido a Casa do Capítulo do mosteiro, as paredes estão forradas de muito delicadas tapeçarias de Aubusson, do mais requintado lavor. Bem enternecedora é esta imagem do nascimento de Jesus.


Nova digressão no interior de Arles, a Praça do Fórum, de linhas muito equilibradas. Não é a primeira vez que o viandante vê incrustações do mundo antigo em arquitetura mais recente, ficou especado diante deste aproveitamento e, confessa, até acha bem engenhoso.


Pois é nesta praça que se assinala um quadro célebre de Van Gogh, que por aqui andou e até tem um espaço artístico com o seu nome. A fachada do que ele pintou tem alguma maquilhagem mas lembranças do que ficou na tela ainda são detetáveis, que coisa bem bonita este encontro com Van Gogh em Arles, no espaço público.


Agora uma descida ao subsolo do Museu de Arte Cristã, aqui estão os criptopórticos, armazéns subterrâneos com cerca de 2 mil anos, deambula-se por aqui com sinais permanentes do passado, dá para meditar o génio arquitetónico romano, como toda esta estrutura permanece inabalável, a despeito da sua imensidão. Escusado dizer que ainda agora a procissão vai no adro, muitíssimo há para ver em Arles e o viandante ainda não desfiou as imagens captadas pelo telemóvel, teve que ser assim em vários museus, mas não esconde a sua satisfação pelo produto final. É o que se vai mostrar a seguir.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18727: Os nossos seres, saberes e lazeres (271): De Aix-en-Provence até Marselha (3) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18744: Efemérides (283): 17 de Junho, o "Dia da Consciência" - o dia em que o nosso grande humanista português Aristides de Sousa Mendes tomou a corajosa decisão de fazer o que fez logo no início da II Guerra Mundial (João Crisóstomo)

Cônsul Aristides de Sousa Mendes
Com a devida vénia a TVI24


1 . Em mensagem do dia 7 de Junho de 2018, o nosso amigo e camarada João Crisóstomo enviou-nos uma mensagem com o programa para assinalar o Dia da Consciência, que se leva a efeito a 17 de Junho de cada ano, dedicado à memória de Aristides de Sousa Mendes, Cônsul Português em Bordéus.

[ João Crisóstomo foi alf mil, na CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66) e  vive em Nova Iorque. 
É um mediático ativista comunitário, tendo estado ligado à defesa de três causas que tiveram repercussão internacional e que nos dizem muito, a nós, portugueses: gravuras de Foz Coa, independência de Timor Leste e memória de Aristides Sousa Mendes). Foi um dos fundadores do "Luso-American Movement for East Timor Autodetermination" (LAMETA)]


17 DE JUNHO DE 2018
DIA DA CONSCIÊNCIA

Eventos programados para este dia:

NOS USA:
Em Nova Iorque:
Igreja de Nossa Senhora de Fátima de Yonkers. - A missa terá lugar às 10h00 da manhã, celebrada pelo Sr. Núncio Apostólico Observador, Don Bernarditto Auza, Observador Permanente do Vaticano nas Nações Unidas. O Senhor Pe. Tomás Gomide prontificou-se a lembrar também este dia em Mineola e Farmingville.
- A Congregação Judaica da "Manhattan East Synagogue” chefiada pelo Rabbi Abie Abadie lembrará também este dia, mas na véspera, dia 16.
Ainda nos Estados Unidos:
Rodes Island (em New Bedford, pelo Senhor Bispo Edgar Moreira da Cunha (que foi Bispo Auxiliar em Newark e várias vezes celebrou este dia em Newark e em Nova Iorque.
- New Jersey, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Newark. e Califórnia, na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas em San José no dia 17.

EM PORTUGAL:
Em VISEU, terra natal de Aristides de Sousa Mendes: Contactei Sua Ex.ª D. Idílio Pinto Leandro que vai incluir a intenção referida na Missa de Domingo, na Sé Catedral, às 11h00 da manhã e fará uma referência a este dia na homilia desde dia.

Outras missas “a cobrir todo o território” foram organizadas pelo Luís Andrade, presidente do "Observatório Internacional dos Direitos Humanos -Portugal” e terão lugar pelo país fora, nomeadamente:
- Lisboa, missa celebrada às 09h00, na Igreja de Santa Clara
- Porto, missa celebrada às 09h15, na Igreja de São Nicolau
- Faro, missa celebrada às 18h30, na Igreja de São Francisco de Faro
- Guarda, missa celebrada às 11h00, na Igreja de São Vicente
- Viseu, missa celebrada às 10h30, na Paróquia de Pinho, Igreja de São João Batista.

RÚSSIA:
Em Moscovo: Don Celestino Migliori é agora o Núncio Apostólico em Moscovo.

FRANÇA:
Bordéus no dia 18 de Junho, conforme informação de Manuel Dias, Presidente do "Comité Aristides de Sousa Mendes" em França.

ÁFRICA DO SUL: o dia será lembrado pelo Núncio Apostólico neste país, Arcebispo Peter Wells que até há pouco foi assistente do Secretário de Estado do Vaticano.

BRASIL: Os Cardeais Cláudio Hummes (agora reformado, mas muito activo ainda,) e Dom Odilo P. Scherer, presente titular, acederam também ao meu pedido.

Pelas muitas afinidades que estes dois diplomatas apresentam: ambos de língua portuguesa, ambos diplomatas humanitários, ambos em Franca e falecidos ambos no mesmo mês e no mesmo ano,  lembramos também neste dia o brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18729: Efemérides (282): O último "Dia da Raça" comemorado em Bissau, 10 de Junho de 1973 (Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos)

Guiné 61/74 - P18743: Notas de leitura (1075): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (39) (Mário Beja Santos)

Nas cerimónias evocativas, em Bissau, do centenário do BNU


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Se bem que o registe nem sempre seja percetível, os relatórios da década de 1960 tornam claro as mudanças operadas pela luta armada, fala-se das transferências decorrentes do contingente militar, que ajudam a equilibrar as contas da delegação de Bissau; noticia-se que a partir de 1962 houve uma quebra drástica da cultura do arroz no Sul; e surge um dado insólito, um espantoso relatório onde se analisa o mais elementar da agricultura guineense e se fazem propostas para um aumento de produtividade na mancarra, no arroz, no coconote e óleo de palma. Também estes relatórios anunciam a chegada, ainda a título experimental, do caju. E o relatório de 1965 não esconde que a guerrilha é desgastante, pela primeira vez fala-se explicitamente em flagelações, minas, tabancas fiéis incendiadas.
A guerrilha, lê-se nas entrelinhas, estava para durar.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (39)

Beja Santos

O gerente de Bissau é um homem convicto, depois de ter efetuado um diagnóstico à agricultura, desvelando as mazelas do primitivismo, procura apresentar respostas e explica à administração em Lisboa o que é imperativo fazer. Começa por dizer que a divulgação das novas técnicas exige prévia doutrinação das populações, se acaso se pretende produzir mais reduzindo as áreas de cultivo, há que formar um escol de agricultores, escolas práticas, complemento da escola missionária ou oficial onde o agricultor veja e execute processos mais evoluídos:
“A disseminação de adubos e alfaias poderá permitir maiores colheitas, em certos casos maior área cultivada por família, sem necessidade de êxodo cíclico de mão-de-obra. A estrutura social do nativo é um entrave, por vezes, à evolução rápida do progresso, todavia, com um plano bem cisado, pacífica e persistentemente algo se conseguirá. Para atingir o objectivo proposto é necessário pessoal técnico que, enquadrado num programa, tenha sequência, por forma a mentalizar as populações em novos métodos de cultivo. Essencialmente do que a Guiné precisa é de técnicos”.

E vai dissertar sobre o que há e se deve fazer quanto a mancarra, arroz, coconote e óleo de palma e caju.
Quanto à mancarra:
“São muito fracas as produções unitárias de mancarra. A densidade da sementeira, a ausência de desinfecção de sementes, a tardia preparação do terreno e a consequente sementeira que facilita o ataque da roseta, a colheita antecipada e por outro lado o esgotamento dos terrenos já de si de fraca produtividade, contribuem para o baixo rendimento. Aproveitando uma semente nova, pensou-se em introduzir simultaneamente outras práticas agrícolas. Os resultados obtidos foram, na generalidade, surpreendentes. Fizeram-se campos de comparação em algumas tabancas dos postos de Contuboel e Bafatá. Nestes campos, em metade foram a sementeira e a adubação orientados por pessoal dos serviços respectivos e na restante área os nativos praticaram a cultura conforme os usos locais. Não tem interesse para a economia guineense aumentar as áreas de cultivo da mancarra mas sim aumentaras produções nas actuais”.

Passando para o arroz, disserta assim:
“Não faltou nos terrenos baixos da Guiné áreas extensas de cultivo. No entanto, as populações locais agarradas a métodos de trabalho seculares vêm utilizando práticas que por vezes redundam em fracassos estrondosos. Na generalidade as sementeiras são feitas tardiamente e quando adrega de baixa pluviosidade os meses de Setembro/Outubro, as produções já baixas, escasseiam e notam-se os efeitos. Por outro lado, as baixas produções devem-se ainda ao fraco rendimento de algumas sementes, a fracas densidades de plantação e ao sistema de armação do terreno que leva ao aproveitamento de 50 a 60% da área total.
Recuperar bolanhas e não ter sementes em condições de maior rentabilidade do esforço humano e até não ter a produção de valor comercial é trabalho incompleto. Foi pensando nestes inconvenientes que se distribuíram sementes de valor comercial padronizado pela Comissão Reguladora do Arroz e se fez a sua multiplicação no Posto Agrícola do Pessubé, com recurso a adubações. O que se fez neste capítulo parece-nos aceitável e o melhor caminho a seguir, mas só o recurso a adubações se nos afigura indispensável. No entanto, é difícil levar o agricultor pouco evoluído a seguir esta peugada. Só o sistema de cooperativas de produção e o estabelecimento de culturas piloto podem levar á adesão a estes métodos de cultivo”.

A sua atenção dirige-se agora para o coconote e óleo de palma:
“A exploração dos palmares naturais é feita, na generalidade, na época seca entre Fevereiro e Maio. Dessa exploração retira uma parte das populações locais o numerário para custear obrigações e necessidades familiares e sociais. Nos Bijagós, com uma maior rede de postos de britagem aliada ao interesse da administração local, a produção de 1964 passou de 200 para 600 toneladas, o que demonstra algo do que atrás se apontou”.

E chegamos agora a uma novidade, o caju, informa-se que a Brigada da Guiné da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar iniciara os estudos preliminares julgados necessários para a expansão do cultivo do cajueiro. Dos estudos efetuados chegara-se a conclusões promissoras, o trabalho ia continuar.
E depois da detalhadíssima exposição quanto à necessidade de uma reforma profunda da economia agrária, o relatório espraia-se por outros pontos, fala-se no preço médio local dos géneros alimentícios e outros bens essenciais, enumeram-se as indústrias locais e são referidas as vias de construção em curso. Estava então asfaltado o troço Bissau-Mansoa. Para o gerente de Bissau era crucial alargar picadas, abrir valetas, construir inúmeros aquedutos, fazer-se a correção do solo do pavimento em alguns casos.

E dá informações de tudo quanto se está a fazer:
“Começaram em Outubro as obras para a pavimentação asfáltica e obras de arte no troço da estrada Mansoa-Mansabá, na extensão de 30 quilómetros. Iniciaram-se os trabalhos para construção em estacaria de uma ponte provisória com o comprimento total de 72,5 metros sobre o rio Colúfi, em Bafatá, situada logo à saída desta última localidade e que assegurará o trânsito permanente para o Sul da Província, uma vez que a existente está em ruínas. Concluiu-se a construção da rampa de acesso ao ferryboat no Enxudé. Procedeu-se também ao estudo da terraplanagem, pavimentação e trabalhos complementares em várias ruas de Bissau e terraplanagens e obras de arte na Avenida Marginal de Bissau.
A Guiné dispõe de óptimas e numerosas vias navegáveis na faixa litoral e no interior, calculando-se que a rede de comunicações fluviais seja superior a quase um milhar de quilómetros. Contudo, se bem que na situação normal que a Província atravessa se tenha recorrido ao barco como meio de ligação, não atingiu ainda a navegação fluvial o desenvolvimento que seria de desejar”.

Ponte de Bafatá

É na primeira parte do relatório de 1965 que se fala claramente na guerra:
“Mais um ano findou sem que a tranquilidade tivesse voltado a esta portuguesa terra da Guiné.
Política e militarmente, a situação da Província não sofreu alteração digna de menção.
Se não houve agravamento, também não se vislumbra melhoria de vulto, o que de resto é tradicional neste tipo de guerra em que os factores tempo e desgaste, este quer em homens quer economicamente têm papel de preponderante influência.
A táctica dos terroristas continua, de um modo geral a caracterizar-se por emboscadas com a utilização simultânea de minas anticarro e antipessoal seguidas de atraques à metralhadora e à bazuca, destruição de tabancas fiéis com vista à intimidação das populações e cortes de estradas e pontes afim de impedirem não só a livre movimentação das nossa tropas como criar dificuldades ao escoamento dos produtos da terra com o objectivo de atingirem um dos seus principais, ambicionados e confessados fins: a ruína económica da Guiné.
Esperamos que tal não aconteça e para tanto contamos com o brio e valor dos homens a quem cabe o dever de velar pela integridade desta parcela do território nacional”.

(Continua)

Desenho de Jorge Barradas publicado na revista “Mundo Português”
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Nota do editor

Poste anterior de 8 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18722: Notas de leitura (1073): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (38) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18733: Notas de leitura (1074): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (4) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18742: FAP (108): Memórias sobre "Alguns dos Falcões que passaram por Monte Real em 1964/65" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2018:

Caro Carlos.
Daqui te envio mais uma relíquia para publicação.

Grande abraço,
Mário Santos

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Memórias sobre "Alguns dos Falcões que passaram por Monte Real em 1964/65" e muitos deles mais tarde também pela Guiné

Esta foto foi retirada de um blogue de um destes Aviadores, infelizmente já desaparecido.
Como Especialista em F-86 e Fiat G-91, na BA12 em Bissalanca e mais tarde na BA5, em Monte Real, cruzei-me pessoalmente com muitos deles. No resto fui ajudado na identificação pelo Major PilAv Alberto Roxo Cruz e pelo Coronel PilAv Vítor Silva.
Como é obvio nesta foto não cabem todos os "Falcões" até porque como todos nós, eles são de idades, incorporações e cursos diferenciados.
A intenção quando publicamos a foto no nosso Blogue foi apenas de uma singela homenagem a estes homens com quem tive a honra de servir a nossa Pátria.
Para mim, independentemente da habilidade de cada um deles a voar, conta mais o humanismo, o espírito de justiça e o avaliar sensato das situações a resolver e que tornaram alguns, verdadeiros exemplos a seguir.

De acordo com o Coronel Vítor Silva, 6 morreram a voar, e muitos outros também já não se encontram entre nós devido à lei da vida.
Que descansem em Paz!

Em pé, da esquerda para a direita:
1º Vitor Silva, 2º F. Fernandes, 3º Rui Balacó, 4º L. Quintanilha, 5º Moura Pinto, 6º Soares Moura 7º C. Araújo, 8º Firmino Neves, 9 º Menezes, 10º E. Guerra, 11º António Abrantes.

Em baixo, da esquerda para a direita:
1º Luís António, 2º Bispo, 3º Amílcar Barbosa, 4º Luís Tuna, 5º M. André, 6º Calhau, 7º Mónica, 8º José Nico, 9º Costa Joaquim.

 Vista aérea da BA 12 - Bissalanca - 1970

 BA 12 - Bissalanca - Guiné

Equipa de Fiat's G91, Guiné, 1968
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18711: FAP (107): O dia em que a Guerra na Guiné quase terminou… (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

Guiné 61/74 - P18741: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXVI: Bombaim ou Mumbai, Índia: De Catarina de Braganca a Mahatma Gandhi


Foto nº 1 > Mahatma Gandhi (1869-1948) 


Foto nº 2 > As grandes lavandarias artesanais


Foto nº 3 >  Hotel Taj Mahal, construído em 1903.


Foto nº 4 > Esculturas e baixos relevos da Ilha Elefanta

Índia > Bombaím  > 20-21 de novembro de 2016 >  

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Goa, Índia, 18 de novembro de 2016 (pp. 7-12, da terceira e última Parte)

Bombaim ou Mumbai, Índia 

Se a memória não me atraiçoa e se fiz a pesquisa certa, Bombaim foi cidade governada pelos portugueses desde 1534 até 1661 quando Catarina de Bragança, filha de D. João IV, irmã de D. Afonso VI e D. Pedro II, casou com Carlos II de Inglaterra e as cidades de Tânger e Bombaim, “com todas as suas pertenças e senhorios”, fizeram parte do dote da princesa e foram cedidas aos ingleses. 

Portugal precisava do apoio da coroa britânica nas lutas contra os espanhóis pela restauração da independência e, para isso, nada melhor do que um casamento real entre os dois reinos, com um valioso dote a oferecer ao monarca de Londres. A ida para Inglaterra da não muito bonita Catarina de Bragança teve, como iremos ver, implicações surpreendentes na história do mundo. Os ingleses aproveitaram o novo estabelecimento de Bombaim para estender o seu poderio e influência a mais territórios na Índia e, associado à ida da rainha Catarina para Londres, estendeu-se na sociedade inglesa, o hábito de beber chá, costume da princesa portuguesa. 

O chá era, na época, planta e bebida praticamente desconhecida nas ilhas britânicas. A partir de então, os ingleses passaram a viajar nos seus navios até Macau e a aproveitar os ancoradouros na ilha da Taipa, subindo depois até às províncias de Guangdong e Fujian onde carregavam as naus com caixas e caixas de chá, a preciosa bebida perfumada, apenas existente e cultivada no centro e sul da China. O comércio do chá cresceu de tal maneira que, a partir de finais do século XVIII, os britânicos necessitaram de despender elevadas maquias para pagar o chá aos mercadores chineses. Descobriram então um negócio altamente rentável, a troca de chá por ópio. 

Desde a Índia, cultivado sobretudo na região de Calcutá, mas também na zona de Bombaim e até na Turquia, o anfião ou ópio seguia para a China às toneladas em velozes veleiros. Embora ilegal, o comércio do ópio prosperou de tal modo que, no início do século XIX, se fizeram grandes fortunas, mesmo entre alguns portugueses de Macau. O vício de fumar ópio era um cancro que alastrava no mundo chinês. Em 1838, Lin Zhexu, governador de Guangdong resolveu acabar com a calamidade e proibiu a troca do ópio pelo chá no porto de Cantão. Milhares de caixas com ópio foram arrancadas dos navios de Sua Majestade, a rainha Vitória, e lançadas às águas do rio das Pérolas.

A Inglaterra, ofendida, queria continuar livremente os seus negócios no Império do Meio e declarou guerra à China. Enviou 16 fragatas de guerra com milhares e milhares de soldados, bem armados e equipados que rapidamente desbarataram a incipiente marinha chinesa e as ridículas defesas de costa. Em 1842 era assinado o tratado de paz de Nanquim que, entre outras humilhações, obrigava os derrotados chineses a ceder à Inglaterra um grande porto de mar e uma fabulosa cidade que nascia e crescia, chamada Hong Kong. 

Será que Bombaim, a introdução em Inglaterra do hábito de se beber chá, a fixação dos britânicos por terras da Índia, o comércio do ópio, Macau, a guerra, a fundação de Hong Kong, têm algo a ver D. Catarina de Bragança, princesa de Portugal, rainha de Inglaterra?

A prosa já vai longa e ainda não entrámos em Bombaim, ou Mumbay, assim denominada nos últimos anos do século XX.

O nome Bombaim terá origem no português “bom baía”, língua franca falada nas partes da Ásia, nos séculos XVI e XVII. Em 1995, os indianos decidiram abandonar o nome “colonialista” de Bombaim e passaram a chamar-lhe Mumbay, em honra de Mumba, uma divindade local venerada pelos primeiros habitantes da região.

Em 1900, a cidade contava já com um milhão de habitantes e hoje serão vinte e dois milhões os indianos conglomerados numa das maiores metrópoles do globo. As cidades grandes sempre me assustaram e Bombaim é, de certeza, lugar de rápida passagem para outras paragens, mas que valerá todas as penas conhecer. São muitos os edifícios catalogados como Património Mundial pela Unesco, sobretudo os que correspondem à herança colonial britânica.

Trata-se de grandes construções de finais do século XIX, no estilo vitoriano [Vd. foto ao lado], com alguns elementos de arquitectura hindu como a fachada da estação ferroviária, o museu do Príncipe de Gales, a Biblioteca Asiática, o Palácio da Justiça. Na estadia de dois dias em Bombaim, deu para ver do lado de fora e tirar fotografias.

No templo hindu de Sir Sir Radha Gopinath -- dedicado a Krishna, uma espécie de deus da amizade e do amor --, perdi-me na contemplação das paredes de mármore trabalhadas como se de filigrana se tratasse, e no passear dos olhos pelas muitas divindades espalhadas por altares, emolduradas em paredes, algumas numa saudação ao viandante de passagem. Com todo o respeito pela mitologia hindu, pela crença de cada um, recordei palavras do meu poeta chinês Bai Juyi (772-846), -- a quem chamo “meu” porque lhe traduzi 202 poemas para língua portuguesa --: “As criaturas não são divinas por conta própria, são os crentes que as fazem divinas.”[1] Se diante do bom Buda sou capaz de baixar levemente a cabeça e de entoar em silêncio uma pequena prece, estas divindades do hinduísmo deixam-me parado e distante. No entanto dizem-me que, com os cânticos de “hare Kishna, hare Krishna!” se limpam as impurezas da alma.

Com sumo prazer fui ao encontro da residência de Mahatma Gandhi (1869-1948) [Foto nº 1 ] esse grande senhor da História recente da Índia que habitou esta casa entre 1917 e 1934 e que lutou, até todos os limites da sua complexa vida, pela independência da pátria e pela fraternidade entre todos os indianos, pela igualdade e pela não violência. O combate não foi em vão, mas hoje, com um distanciamento de setenta anos – Gandhi foi assassinado em 1948 --, será mais fácil entender que o legado do excelente Mahatma ainda está em grande parte por cumprir. Na China existe um provérbio que diz mais ou menos o seguinte: “Mudam as montanhas e os rios, não muda a natureza dos homens.”

Na grande ronda por Bombaim, paragem para mais fotografias nas grandes lavandarias artesanais a céu aberto, um dos atractivos turísticos da cidade. Entre o muito lixo que atravanca quase tudo quanto é espaço nesta terra, as pobres mas enormes lavandarias correspondem a um oásis de limpeza e de brancura, mesmo quando os lençóis mal lavados são vermelhos ou azuis.[Foto nº 2]

Mais um dia na cidade e hoje é tempo de saída para a ilha da Elefanta.

Antes, em frente do pequeno cais de embarque onde pontifica a Porta da Índia concluída em 1924 -- um pórtico sob o qual passavam os altos dignitários ingleses na sua chegada ao território indiano --, uma ida rápida, logo ali ao lado, ao clássico Hotel Taj Mahal, construído em 1903.[Foto nº 3].
Foi alvo de um ataque de terroristas islâmicos, em 2008, que provocou quase quarenta mortos. Rapidamente reaberto, é um excelente cinco estrelas no centro da histórica Bombaim, a funcionar em pleno embora rodeado de extremas barreiras de segurança. Entrámos, sujeitos a um exaustivo controlo, mas dentro o hotel é soberbamente luxuoso, os quartos, os interiores, as lojas, a piscina. Estou convencidíssimo de que voltarei aqui numa próxima reencarnação, homem rico, jovem e bem apessoado.

Vamos então até à ilha da Elefanta que tem outras histórias para contar. Embarcamos numa lancha grande, em madeira, com dois andares, que nos vai levar durante quase uma hora de viagem até uma pequena ilha plantada no mar, aí a uns 15 quilómetros de Bombaim. Chama-se Elefanta porque os portugueses que por aqui andaram, descobriram na ilha, logo no século XVI, uma grande elefanta em pedra, junto de umas tantas grutas, onde haviam sido gravadas na rocha um conjunto de impressionantes figuras e estátuas associadas à mitologia hindu. Em 1864, a elefanta foi cortada e desmontada pelos ingleses e transportada para os Victoria Gardens, em Bombaim. Novamente montada, ainda hoje se encontra nesse jardim.

Na ilha da Elefanta, desembarcamos entre molhadas e molhadas de turistas indianos, num pontão onde impera a imundície. Há vacas, cabras, e até muitos macacos, a passear calma e sorrateiramente pelos caminhos de entrada na ilha, pelo meio das variegadas gentes acabadas de chegar. Os animais, nossos amigos, deixam montões pestilentos de dejectos e excrementos por tudo quanto é sítio. Há quem goste. Estamos na Índia.

Para chegar às grutas, Património Mundial pela Unesco desde 1987, temos um comboinho e depois uma longa escadaria, ladeada de lojas e bancadas, onde se vende de tudo o que eventualmente poderá interessar ao turista. Lá em cima, as diferentes grutas foram escavadas na pedra entre os séculos V e VIII e albergam dezenas e dezenas de esculturas de grande e média dimensão, sobretudo associadas à deusa Shiva. O baixo-relevo mais interessante será uma deusa de três faces, sendo a do meio, a de Brahma, o criador, e as laterais, a de Vishnu, o preservador, e a de Shiva, o destruidor. Tudo rodeado por mais umas tantas estátuas de assessores das divindades.[Foto nº 4]..

Apesar de ter comprado um livrinho em inglês com explicações sobre as grutas e os seus deuses, permaneço algo baralhado diante da complexa história das figuras da mitologia hindu. Reconheço a extraordinária qualidade destas esculturas e baixos relevos, infelizmente bastante delapidados pela impiedosa passagens dos séculos. Os indianos dizem que parte da destruição das esculturas tem a ver com os portugueses que, nos séculos XVII e XVIII, usavam o lugar como carreira de tiro e as estátuas como alvo, para acertar e aferir a pontaria de arcabuzes e espingardas. Não sei será é verdade, mas tudo é possível.

A fechar a visita à ilha da Elefanta, nada melhor do que subir pela outra colina, aolado, ao encontro da Cannon Hill. Leio que os canhões existentes lá em cima foram deixados pelos nossos compatriotas, quando abandonámos a ilha em meados do século XVIII. Apoiados em plataformas circulares, tinham um campo de acção de 360 graus e deviam ser armas temíveis para a defesa e segurança dos poucos portugueses ainda residentes do lugar. Hoje, os canhões de Cannon Hill não são antigos, parecem peças de artilharia já fabricadas no século XX. Mas dá para recordar o imenso receio que, durante trezentos anos, as desvairadas gentes da nossa ditosa pátria provocaram nos diversos povos da Índia.

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Nota do autor:

[1] Poemas de Bai Juyi, trad. António Graça de Abreu, Macau, IC. Macau, 1991, pag. 33.


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu-

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.


2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias" (*)

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimamos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;

(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);

(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

(xiii) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estão em Goa, seguindo depois para Bombaím (20 e 21 de novembro de 2016).
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de  2018 > Guiné 61/74 - P18671: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXV: Goa, Índia: "um adeus no entardecer dos dias, e uma lágrima, para sempre"...