sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18994: Convívios (873): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte II)


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O régulo da Tabanca, Eduardo Moutinho dos Santos, falando do homenageado e da sua história de vida... No final, deixou uma garrafa de aguardente bagaceira, envelhecida, que o Joaquim lhe oferecera em tempos, produto da sua Tabanca de Guilamilo. Pelo Bando do Café Progresso, falaria ainda o José Ferreira e, pela Tabanca Grande, o nosso editor Luís Graça. O Joaquim pertenceu a estas três tertúlias, tendo frequentado ainda a Tabanca dos Melros (Gondomar). Em boa verdade, teríamos que lembrar ainda aqui a Tabanaca de Guilamilo, de que era o régulo, bem como a Tabanca da Sra. da Graça (Santa Marta de Penaguião), onde pontifica a matriarca Luísa Valente Lopes. Sem esquecer a Tabanca de Candoz, onde ele foi, com a Margarida, um ou duas vezes...


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Margarida Peixoto e Luísa Valente Lopes, mulher do nosso poeta e vitivinicultor José Manuel Lopes (Josema), que no final ofereceu um poema seu para a Margarida ler em voz alta: "Recuso dizer uma oração ao deus que te abandonou" (*)...


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >A esposa do Brito da Silva  (ex.fur mil, CCAÇ 3414, Sare Bacar e Bafatá, 1971/73) e a Joaquina Carmelita, esposa do Manuel Carmelita, dois casais muito amigos do casal Peixoto,


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Foto de grupo, da direita para a esquerda, de pé: Maria Alice Carneiro, Maria Cancela, Margarida Peixoto, Luísa Valente Lopes, Manuela Teixeira e a jovem Andreia (que completou 13 anos nesse dia, e a quem todos cantámos os parabéns a você); sentadas, a esposa do Brito da Silva e a Joaquina Carmelita.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Outra foto de grupo.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > A Margarida saudando a jovem Andreia


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O professor e a aluna: o capitão cavaleiro Leite Rodrigues, que tem uma escola de equitação em Leça da Palmeira (e que esteve na Guiné, como alferes, onde foi gravemente ferido em combate, em Sinchã Jobel), e a sua  jovem aluna, a amazona Andreia (nascida na África do Sul, vive em Moçambique, e fez 13 aninhos nesse dia). O Leite Rodrigues sabe dar valor à solidariedade na dor e na perda, uma vez que já pssou por isto: em 2006, perdeu a sua filha, Filipa, de 14 anos, num trágico acidente com um dos seus  cavalo.s.. A Filipa era uma promissora atleta da equitação portuguesa, tal como o pai (que foi atleta olímpico). As palavras que o Leite Rodrigues dirigiu à Margarida, np final da refeição, elogiando a sua coragem e dignidade,  tocaram-nos fundo, a todos nós, os presentes.




Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Leite Rodrigues e Virgílio Teixeira, dois homens do Porto.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >José Ferreira e o primo, que andou na Marinha e no TO da Guiné.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Manuel Carvalho e o Isidro


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >O régulo Zé Teixeira com os tabanqueiros Vitorino, Nelson e Abreu


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Brito da Silva é, agora, na Tabanca de Matosinhos, o único representante da CCAÇ 3414, a "açoreana", a que ele pertenceu juntamente com o seu camarada Peixoto. Reforcei, mais uma vez, o convite para ele se juntar à malta da Tabanca Grande.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > José Manuel Moreira Cancela. Escreveu na sua página do Facebook: "O nosso amigo Peixoto deixou-nos. Obrigado, amigo, pelos momentos que passámos juntos, e foram muitos. Os amigos só morrem quando nos esquecermos deles"...


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 >  Manuel Carmelita, outro amigo do peito do Joaquim. Mora em Vila do Conde.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >A "aguardente do espírito do frade" (referência ao fantasma do frade que paira, há 170 anos, pela casa e quinta de Guilamilo). O rótulo foi desenhado por um camarada da Tabanca de Matosinhos.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Aspeto da decoração da sala do restaurante, reservada à Tabanca de Matosinhos

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da notícia do convívio de 4ª feira passada, na Tabanca de Matosinhos, em que se homenageou a memória do nosso camarada Joquim Peito mas também a dignidade e a coragem da sua  conpanheira de uma vida, a Margarida (Guida).


Joaquim e Margarida (Monte Real, 2010).
Foto de Manuel Carmelita /
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
O convívio, dois dias depois do funeral, reuniu 35 camaradas e amigos/as do Joaquim, incluindo a sua viúva, Margarida.

Foi uma bela jornada de confraternização e solidariedade, com destaque para a figura da Margarida que reafirmou a sua vontade de continuar a fazer aquilo que o marido gostava: estar com os amigos e camaradas da Guiné, frequentar as suas tabancas, etc. 

Houve várias intervenções, emotivas, de alguns dos presentes, em nome pessoal ou das tabancas que representavam: Eduardo Moutinho dos Santos  e José Teixeira (Tabanca de Matosinhos); Luís Graça (Tabanca Grande), Leite Rodrigues, José Manuel Lopes, Maria Alice Carneiro, e, por fim, Margarida Peixoto... Para a Margarida foi um convivio, naturalmente "difícil (...) mas muito gratificante pela amizade, companheirismo, respeito e saudade, manifestada por todos pelo camarada Carlos Peixoto".

Fica aqui o soneto, dito pelo nosso editor Luís Graça, em seu nome pessoal, da Alice e dos demais presentes. Recorde-se queo Joaqim foi fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73). A CCAÇ 3414 era uma "açoreana".


Soneto de homenagem a dois grã-tabanqueiros,
Joaquim Peixoto (Penafiel, 1949-Porto, 2018) e Margarida Peixoto

Joaquim, bom amigo e camarada,
nunca quiseste estar entre os primeiros,
mas, por nós, tens presença reservada
lá no Olimpo dos deuses e guerreiros.

Serás para sempre um dos nossos melhores,
e recordado com doce saudade,
por todos nós, da Guiné aos Açores,
sem esquecer a tua natal cidade.

A Guida, a tua mulher-coragem,
deu-nos o privilégio da sua presença,
juntando-se a esta homenagem.

O vosso Amor a Morte não o matou,
mesmo se, no final, foi a Doença
quem, à traição, a Vida te tirou.

Tabanca de Matosinhos, 5 de setembro de 2018

Luís Graça, Maria Alice Carneiro 
e demais amigos/as e camaradas presentes.

Foto: Manuel Carmelita (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

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Guiné 61/74 - P18993: Convívios (872): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte I)


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018)  (*) > Chegada dos primeiros tabanqueiros, à Rua Heróis de França, 721...



Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Manuel Carvalho e José Ferreira


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  António Carvalho e Jorge Teixeira (o "bandalho-mor", do Bando do Café Progresso)


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  António PImentel, Xico Allen, António Barbosa (Gondomar) e o Ferreira


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > José Teixeira, um dos régulos da Tabanca, e Leite Rodrigues (já o convidei para integrar a Tabanca Grande)-


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  António Carvalho e José Manuel Moreira Cancela


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Virgílio Teixeira e esposa Manuela... Vieram, pela primeira vez, à Tabanca de Matosinhos.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Virgílio Teixeira e Manuel Carmelita: vivem na mesma terra (Vila do Conde), conhecem-se de vista há 50 anos mas desconheciam-se enquanto camaradas da Guiné..
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Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  O Rodrigo e o José Manuel Lopes



Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Álvaro Basto, outro régulo (e músico)


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Vitorino, músico também da Tabanca.



Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Vieira, que é de Penafiel, a conversar com o Ferreira, sentado à esquerda.


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Nelson e o Abreu (quem há dias, a socorrer um náufrago, aleijou-se; já o tenho encontrado, quando vou à Madalena,  na marginal das praias de Vila Nova de Gais).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Guiné 61/74 - P18992: Notas de leitura (1098): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (50) (Mário Beja Santos)

Casa de Sobrado do comerciante Lourenço Marques Duarte 
Fotografia de Francisco Nogueira inserida no livro “Bijagós, Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,
Nesta fase que antecede a II Guerra Mundial, esta documentação avulsa, verdadeiramente heteróclita, pois tudo aqui aparece desde reparação de móveis a crédito malparado, ressaltam as informações sobre transportes, neste caso a Companhia Colonial de Navegação, as safadezas de um empregado e um espantoso relato em torno das manifestações dos comerciantes a protestar com a contribuição industrial.
O gerente de Bissau que comprovadamente detestava o governador, ridiculariza-o por interposta pessoa, o oficial da polícia, é uma peça demolidora.
Importa esclarecer que estes relatos eram solicitados pela administração em Lisboa, queriam saber tudo.
Iremos ver mais adiante que a partir dos acontecimentos do Pidjiquiti, em 3 de agosto de 1959, se escreve textualmente que os senhores gerentes devem informar de tudo, para além do que vem nos papéis oficiais. E de facto iremos ver páginas espantosas que relatam os acontecimentos que precedem e acompanham os primeiros anos da luta armada, o gerente de Bissau ia buscar todas as informações ao diretor da PIDE em Bissau.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (50)

Beja Santos

A documentação avulsa respeitante aos anos de 1934 e 1935 abordam assuntos como a Companhia Nacional de Navegação, as transferências indevidas da Casa Gouveia para a metrópole e a denúncia das safadezas de Francisco Marques Perdigão, funcionário do BNU. E muito saborosa é a carta que o gerente de Bissau envia para Lisboa em 3 de maio de 1936. Vamos aos factos.

Quanto à Companhia Nacional de Navegação, o gerente de Bissau informa o seguinte:
“Esta Companhia não tem carreiras regulares para a Guiné.
Durante os últimos três anos não me recordo de ter visto qualquer vapor seu nos portos da colónia.
Quanto às despesas a fazer com o aluguer de lanchas para a descarga em Bolama e a remuneração ao pessoal da Alfândega e Capitania para que os serviços corram sem entraves, não julgo de interesse para o Banco a representação definitiva da Companhia Nacional de Navegação, a não ser que tais despesas corram por conta da representada.
Se os portos da Guiné fossem regularmente representados por vapores dessa Companhia, era natural que devido a esse movimento se tirasse compensação material da representação; mas como assim não sucede e pode acontecer que o vapor chegue aos portos da Guiné em época em que o aluguer de lanchas seja dificílimo e caríssimo, como sucede durante a campanha da mancarra, os lucros auferidos com a representação seriam absorvidos por essas despesas extraordinárias. Assim, a representação só poderá convir desde que tais despesas sejam suportadas pela Companhia, pois, de contrário, as agências da Guiné teriam acréscimo de trabalho sem compensação”.

Nesse ano de 1933, o BNU abrira uma linha de crédito à Casa Gouveia de 9 mil contos, a empresa dizia não fazer transações bancárias e transferências para a metrópole, alegava que comprava por vezes produtos coloniais com a condição do seu contravalor ser pago em Lisboa. A Direção dos Serviços de Fazenda da Colónia da Guiné dizia que não era verdade, citando que a agência do BNU em Bissau já informara Lisboa que a Casa Gouveia continuava a fazer transferências para a metrópole ao contrário do que a lei dispunha. Este seria mais um dos litígios entre o BNU e a Casa Gouveia, o folhetim será enorme.

E vejamos agora as falcatruas do Sr. Perdigão.
António Esteves, em Bolama, escreve em 8 de agosto de 1935 para o gerente do BNU na mesma cidade:
“Venho trazer ao conhecimento de V. Ex.ª. que o Sr. Francisco Marques Perdigão, funcionário desse Banco, há tempos se acercou de mim prometendo-me uma transferência de mil escudos a favor de João Lopes sobre a Praça de Lisboa, e devido à grande dificuldade de transferências, eu na boa-fé e porque o Sr. Perdigão me merecia toda a confiança, entreguei-lhe a dita importância a fim de se proceder à dita operação.
Passou porém bastante tempo até que um dia o Sr. Perdigão me entregou um cheque em nome de João Lopes e que tornou a levar consigo visto que o nome do beneficiário vinha errado.
Constando-me agora que o Sr. Perdigão é useiro e vezeiro em toda a espécie de falcatruas, concluí que o cheque que me apresentou era falso, e como até agora mais nada me disse sobre o assunto, eu venho à presença de V. Ex.ª. pedir-lhe todas as providências que esta complicada história merece”.

Bissau, acerca deste assunto, escreve para Lisboa em 12 de agosto, informando que fora demitido como falsificador Francisco Perdigão e pedia-se a transferência com a maior urgência do filho do Sr. Diretor da Fazenda da Colónia daquele escritório, praticante do BNU em Santiago. O gerente de Bissau fora a Bolama e confirmava a falsificação do cheque. “O Perdigão disse ser verdadeira a acusação que lhe era feita, declarando que as assinaturas do cheque foram por ele falsificadas. Tivemos ainda conhecimento de que o Perdigão havia retirado do Arquivo cheques em branco de cadernetas de depósito que preencheu e deu em pagamento de débitos seus, não tendo a necessária cobertura. Esta irregularidade criminosa foi igualmente contada pelo Perdigão. Convidado a defender-se destas acusações, a fim de subtermos a sua defesa à superior apreciação de V. Ex.ª., respondeu que não tinha defesa a apresentar, por serem verdadeiras as acusações. O Sr. Diretor da Fazenda da Colónia, que teve conhecimento da demissão do escriturário Perdigão, procurou-nos para nos pedir a transferência para Bolama do seu filho que é praticante na filial de Santiago, para preenchimento da vaga aberta pela demissão daquele escriturário”.

A história do Sr. Correia versa uma queixa de um arrendatário de um prédio do BNU em Bissau, uma carta endereçada para Lisboa, segundo o gerente de Bissau uma prosa chicaneira e verrinosa, vejamos como contra-argumenta o gerente:
“Bem pior que a crise material e as sérias dificuldades que o comércio atravessa, a que se refere o Sr. Benjamin Correia, é a crise moral que também, como a tantos outros, o afetou.
O Sr. Correia pediu-nos para que lhes baixássemos a renda do prédio que ocupava, como permanentemente fazem, por via de regra, todos os inquilinos, e nós respondemos-lhe com uma evasiva.
Obedecendo ao seu feitio chicaneiro e atrabiliário, bem conhecido de toda a praça, o Sr. Benjamin Correia, ao dirigir-se a V. Ex.ª, não resistiu, embora veladamente, à aleivosiazinha reles e tola ‘pedindo vénia para chamar a atenção especial de V. Exas. para as rendas das casas que antigamente eram 250 escudos e são hoje 150.’
‘Antigamente’ é tão vago que não podemos deixar de precisar a V. Ex.ª. que o facto relatado data do tempo em que ele era o senhorio dessas casas e da que ocupava, pela qual cobrava ao Sr. Dr. Marques Belo 1200 escudos, justamente o dobro da renda que ele estava pagando.
Quanto ao pagamento das rendas que o Sr. Benjamin Correia afirma ter andado sempre em dia, não é bem como diz, o que V. Ex.ª. poderá mandar verificar pelas datas das respetivas cobranças; e mesmo assim o pagamento só se conseguia com a insistência constante e insultando por mais de uma vez, como lhe é peculiar, o nosso cobrador. Mas o Sr. Benjamin Correia já abandonou o prédio, em boa hora”.

Data de 13 de janeiro de 1936 o ofício dirigido ao BNU em Lisboa sobre o protesto do comércio da colónia quanto ao lançamento da contribuição industrial. É um documento altamente crítico:
“Se a governação local se servisse dos moldes usados pelo Governo Central, teria procedido, primeiro que tudo, a um inquérito aos vencimentos, rendimentos ou lucros de todos os que se pretendia tributar, e depois de averiguar as possibilidades ou capacidade de cada profissão, tributar-se-ia mas com conhecimento de causa.
Entendeu-se o contrário, legislou-se sem se ouvir ninguém, com o simples fundamento de que noutras colónias também se pagava contribuição industrial, organizando-se um quadro publicado no preâmbulo do diploma que nada diz porque foi elaborado em relação à contribuição industrial das outras colónias, em vez de o ser em relação a todos os impostos e por habitante.
Reuniu-se o Conselho do Governo e os vogais não oficiais rejeitaram, na generalidade, a proposta do diploma que criava a contribuição industrial direta, ficando assim empatada a votação; convocado de novo o Conselho, seguiu-se a discussão na especialidade, com o mesmo resultado, usando então o Sr. Governador o seu voto de qualidade.
A discussão, tanto na generalidade como na especialidade, decorreu com muita falta de elevação por parte dos vogais oficiais, a quem cegou a subserviência, confundida com o desconhecimento completo do estado da economia privada da colónia”.

É um documento de grande minúcia, refere quem esteve nas reuniões, como argumentou, os protestos dos estabelecimentos comerciais com as portas encerradas, a manifestação dos empresários que se dirigiam às lojas estrangeiras pedindo-lhes que fechassem, tal como aconteceu. Tratou-se, segundo o relator, de um movimento de protesto ordeiro e pacífico. Importa não esquecer que Carvalho Viegas em nada era estimado pelo BNU, há correspondência para a Sede em que o governador é denunciado como criatura reles e imoral, noutro apartado descreve-se o que o gerente reporta sobre certos comportamentos de Carvalho Viegas, tratado como um dissoluto, arranjista e fazedor de empregos, rodeado por gente subserviente e tacanha.
Daí a prosa deste documento o caricaturar, como se pode ver a propósito destas manifestações e a reacção do governador:
“Entretanto, em 2 de janeiro, à noite, chegava de Bolama um oficial da polícia, muito conhecido pela sua dedicação ao Governo, mas um tanto disparatado na maneira de exteriorizar.
Logo ao desembarcar se precipitou declarando comunista o movimento de protesto do comércio. Foi recebido à gargalhada e isso irritou-o; toda a gente se ria do seu espalhafato, da forma como, em grandes gestos, dava instruções às patrulhas. Com as suas atitudes, esse oficial, além de bom defensor da ordem e elemento seguro da situação nacional, tinha o aspecto de ser o único elemento de desordem, porque toda a população da cidade, mas absolutamente toda, estava na tranquilidade mais perfeita que se possa imaginar.
Quando o barco que conduzia os componentes da comissão de protesto se aproximava do canal de Bolama, surgiu-lhes pela proa um gasolina da Delegação Marítima daquela cidade tripulado por soldados de baioneta calada, comandamos pelo tenente-maquinista das Oficinas Navais, que, disparando para o ar, os intimou a parar. Chegados à fala, aquele oficial-maquinista intimou-os a regressar a Bissau, informando-os de que não tentassem desobedecer porque o Sr. Governador os não receberia e não responderia pelas suas vidas, visto que a polícia tinha ordem para matar quem desembarcasse em Bolama!”.

E o gerente, que assina sempre “O Gerente Geral da Guiné”, na sua prosa acerada, conta os demais episódios desta ópera bufa, tudo acabou bem, o comércio reabriu no dia 6 de manhã, a Associação Comercial de Bissau constituiu um advogado, o protesto dos comerciantes prosseguia a sua marcha.

(Continua)

Mulher Felupe 
Imagem retirada do “Anuário da Guiné Portuguesa”, 1948.

Mulher Futa-Fula
Imagem retirada do “Anuário da Guiné Portuguesa”, 1948.
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Notas do editor:

Poste anterior de 31 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18967: Notas de leitura (1096): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (49) (Mário Beja Santos)

Último poste da série 3 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18977: Notas de leitura (1097): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18991: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte II




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796, Gadamael e Quinhamel, 1970-1972) com as fotos enviadas em mensagem do dia 21 de Julho de 2018, que retratam alguns dos momentos mais significativos da sua passagem por terras da Guiné.




Foto 9 - Parte da 1.ª Companhia de Comandos Africanos (Cap João Baker Jaló) que participou na invasão à República da Guiné Conakry em Novembro de 1970.

Foto 10 - Preparação de coluna a Guilege, com Fox e GMC – verdadeiras aventuras suicidas…

Foto 11 - Já tinha perdido 10kg …

Foto 12 - A minha tabanca remodelada pelos nossos corajosos, leais, habilidosos soldados.

Foto 13 - Uma pequena ideia de bolanha – quando a maré desce.

Foto 14 - Com alguns elementos da 1.ª Companhia de Comandos Africanos – a meu lado, o célebre e temido João Lomba, coleccionador de crâneos de IN. 

Foto 15 - Rezando (a Alá) com Juary.

Foto 16 - Na bolanha, com as nossas lavadeiras.

Foto 17 - Uma faceta protectora e afectiva.
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Nota do editor

Poste anterior de 30 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18964: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte I

Guiné 61/74 - P18990: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 65º : ataque ao quartel, em 7 de janeiro de 1974




Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > 7 de janeiro de 1974 > Alguns dos efeitos do ataque ao quartel e tabanca de Fulacunda


Fotos (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da pré-publicação do próximo 
Cortesia do autor, página do Facebook
livro (na versão manuscrita, "Em Nome daPátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita, com a esposa Amélia, no dia em que fazem 43 anos de casados] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade no âmbito do programa Novas Oportunidades; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.


2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(v) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vi) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(vii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(viii) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(ix) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas  por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(x) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xi) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xii) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xiii) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xiv) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xv) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xvi) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xvi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xvii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xviii) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xix) vê, pela primeira vez,  enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xx) vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné; 

(xxi) grande ataque, em 7/1/1974,  ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r,  resultando danos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 65 e 66

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


65º Capítulo > O ataque ao quartel

Talvez até agora este seja o momento mais doloroso. Tenho de escrever sobre o mais grave ataque que a minha companhia sofreu. Se escrevesse de memória, jurava que nada disto se passou. Se os meus ex-camaradas de guerra não estiverem de acordo, lamento imenso, mas tal como já me referi ao ler o que escrevi há 45 anos, parece-me que a minha guerra foi outra.

Estamos debaixo de fogo muito intenso. Vamos morrer todos”

Somente esta frase está escrita numa folha de papel. O que se segue está noutras duas folhas datadas de 8 de Janeiro de 1974.

“Minha eterna adorada.

Ontem sofremos um grande ataque, não sei muito o que aconteceu, mas o cheiro a pólvora e a queimado ainda se sente no ar.

Os meus colegas tinham ido para o mato fazer segurança, mas em vez de irem para o sítio onde o capitão mandou, ficaram ali perto da pista, os “turras” vinham atacar-nos ao arame e viram que eles estavam no mato e parece-me que avisaram os deles que tem os canhões sem recuo para em vez de atingir o quartel atingi-los a eles que lá não tinham abrigos.

Deviam ser seis horas quando ouvimos as primeiras saídas e fomos todos para os abrigos, os primeiros rebentamentos foram muito perto foi o Silva que disse que as bombas estavam a cair fora do quartel. Acho que as primeiras caíram em cima dos meus colegas que fugiram à balda do mato para o quartel sendo uma confusão enorme na pista 1 e na pista do meio porque não cabiam lá todos e parece que alguns estavam feridos.

O Cruz disse que ao atravessarem a pista, decerto estavam alguns “turras” na ponta a disparar Kalashnikov e R.P.G, também não sei se atingiram algum, mas disse que os nossos não podiam disparar logo, com medo de atingir algum colega que ainda estivesse no mato.

Eu estava nos Lagartos, ouvia tiros e bombas de todos os lados, mandaram-me ir buscar uma caixa de Dilagramas ao paiol. Tive muito medo acho que não devia ter ido porque é longe mas já não havia mais onde eu estava para o meu colega atirar. Um condutor ainda fez pior pois andava no Unimog de lado para lado nem vi quem era o doido.

Depois parecia que as bombas caíam mais perto e começamos a ouvir os nossos obuses a disparar. Nunca tinha ouvido um barulho tão horrível na minha vida. Fiquei aterrorizado, soube há bocado que mandamos mais de trezentas bombas. Onde estávamos ouvíamos a população a gritar e víamos chamas, mas só hoje é que soube que muitas tabancas foram atingidas e numa dela morreu um menino.

Já era muito tarde quando o ataque acabou, logo que eu saiba mais alguma coisa digo-te. É verdade, pelo menos os meus amigos mais próximos não sofreram nada.

Um beijo apaixonado do teu Dino”.


Não possuo a correspondência dos três dias seguintes, apenas me voltei a referir a este ataque dias depois, nos seguintes termos:

“Os meus colegas que foram fazer o reconhecimento ao local de onde nos atacaram com os canhões disseram-me que as nossas bombas destruíram um espaço enorme onde os “turras” estavam e que até havia sinais de sangue dos feridos deles”

Lamento sinceramente não ser mais específico e compreendo que os leitores que se deram ao incómodo de ler até aqui se sintam algo confusos, mas não posso, com sinceridade, dizer mais nada sobre este violento ataque que as nossas tropas sofreram.

Na carta seguinte, 9/1/74, falo de anedotas picantes e que o capitão não me cobrou o dinheiro dos artigos que faltaram na cantina. Acreditou que os roubaram durante o ataque de Novembro [de 1973].

Também me refiro que o carteiro iria omeçar a cobrar dinheiro por levar o correio tal o volume que transportava só da minha parte. Seria verdade?
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18881: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 63 e 64: que grande burro!, aposto que nenhuma mulher acreditava nesta treta [, o meu voto de castidade]...

Guiné 61/74 - P18989: (De)Caras (116): Sou dos que acreditam na história que o Cajan Seidi conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete, em 1964 (Manuel Carvalho, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)






Guiné > Região do Oio > Jolmete > Caç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) > O grandalhão do Manuel Carvalho com a "lavadeira Melinha", a Amélia, hoje a 3ª mulher do Cajan Seidi, atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, terá sido executado pelas NT, à frente de um grupo de duas dezenas de homens grandes, como represália pela sua alegada colaboração com o PAIGC. O  pai do Cajan, por sua vez, tinha sido morto pelo PAIGC, logo no início da guerra de guerrilha.


Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Baile, na recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar,  a partir da esquerda,  um furriel mecânico, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos."


Guiné > Região do Oio   > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Foto sem legenda: as "mulheres grandes" e a NT... Apoio médico-sanitário ?...  Nesta altura, a pouca população que existia, tinha sido "recuperada do mato"... Depois dos trágicos acontecimentos de junho/setembro de 1964, os sobreviventes (mulheres e crianças), ter-se-ão refugiado nas matas do Oio...


Guiné > Região do Oio  > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Vista (parcial) da tabanca.



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Eu, com o Dandi e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas". (Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, será fuzilado pelo PAIGC em 1975)

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) ao poste P18988 (*):


(...) "Pois o Cajan foi um dos nossos valentes milícias de Jolmete,  conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde, também não andará longe dos setenta anos.

A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa,  continua muito franzininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas,  suas colaboradoras. Quem quiser ver como ela era há 50 anos,  tenho uma foto com ela ao colo no poste P10191 (**).

Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete. (***) (...)

2. Excerto do poste P10191:

(...) Ao ler as estórias e ver as fotos do Augusto Santos, de Jolmete do ano de 72, lembrei que tenho fotos de Jolmete do inicio de 68 quando nós,  CCaç 2366,  lá chegamos. Sei que pelo menos o Augusto Santos o Manuel Resende e o Firmino vão gostar de ver algumas diferenças.

Como podem ver em Jolmete até bailes fazíamos,  foi a recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar da esquerda um furriel das viaturas, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos. (...)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira] [, foto à direita,]
ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884,
Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto
(, maio 69/mar 71)

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (, dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [, CCAÇ 2381]. Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [, um dos régulos,] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.


[Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada); foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação. Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

Olá, Resende.

De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Djolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Djol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência. O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Djolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um Post do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [, António Medina,] de uma companhia [, CART  527,] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**)... O Cajan teria nesta data 15/16 anos...

[Foto à esquerda: Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, CalequisseCacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]

Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Djolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Djolmete,  quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Actualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge. O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Djolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Djolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamance, secaram todos e a população (3.000 habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha...

Depois falamos sobre este assunto.

Um abraço,
Eduardo Moutinho Santos

[Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné] 
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Notas do editor: