sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20161: Notas de leitura (1219): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (24) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Era compreensível que os acontecimentos da Ilha do Como merecessem amplo destaque na gesta do bardo. Espero que quem ali combateu naquele terrível penar aqui venha exprimir outros pontos de vista, narrar outros episódios, clarificar situações que ficaram no olvido. A história da Unidade do BCAV 490 é parcimoniosa, como se disse, faz-se referência a um anexo, que não encontrei e se algum dos confrades o possuir bom seria que aqui se referenciasse outros episódios que não couberam na poesia nem nos testemunhos. A imaginação de quem acompanha o bardo saltitou para as belezas da natureza, sempre irresistíveis, a despeito das aflições e sofrimento vivido. Repare-se na descrição que Alpoim Calvão faz de uma missa ao ar livre e o maravilhamento do céu e das águas, a par da comoção dos mortos e da emoção dos vivos.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (24)

Beja Santos

“Temos muita companhia
já com pouco pessoal:
coxos, doentes e feridos
vão indo para o hospital.

Há muito tempo passado
e sempre a mesma labuta.
Há quase dois meses que se luta
e ainda há muito malvado
que tem que ser acabado
o bando que cá existia
é uma patifaria,
que dá cabo da rapaziada,
mas isso não lhes vale nada,
temos muita companhia.

Em duas ocasiões
no meio dos terroristas
morreram dois paraquedistas
deram gritos de aflições.
Fizeram muitas operações
dentro daquele matagal,
mas quase sempre se deram mal
devido a tantos bandidos.
Por isso, os pelotões reduzidos
já com menos pessoal.

Um dia Cauane atacaram
foi atingido Joaquim Augusto,
apanhando um grande susto
quando as granadas rebentaram.
No sacristão também acertaram,
dando grandes gemidos.
Com as mãos e dedos perdidos
Quítalo e o sapador doutra vez,
e em pouco mais de um mês
coxos, doentes e feridos.

Dois paraquedistas se perdiam
longe de S. Nicolau,
o caso esteve bem mau
porque entre os bandidos se viam.
Indicados por um avião saíam
sem perderem o moral.
Será isso o principal
no soldado cheio de heroicidade.
E os feridos com gravidade
vão indo para o hospital”.

********************

O tom pungente que o bardo usa, vamos encontrá-lo em obras do tempo e posteriores. Contemporâneo, temos os relatos de Armor Pires Mota e Alpoim Calvão. Naquele Sul, de 1963 em diante, andaram Álvaro Guerra, José Martins Garcia, Luís Rosa, José Brás, António Loja, Idálio Reis, entre outros. O sul de Mejo, Guilege, Gadamael, Cacoca, Sangonhá, Gandembel, Cacine, Catió. Páginas de fraternidade, de lástima pelas perdas, de revolta pela construção de aquartelamentos feitos com tanto de sangue, suor e lágrimas e depois abandonados. E mesmo nessa apoteose de sofrimento ou mágoa há a extraordinário revelação do feitiço africano, a descoberta de uma natureza viva.

E aqui lembro Leonel Olhero e o seu livro “Ultrajes na Guerra Colonial – Reminiscências de furriel de cavalaria”.
Primeiro, uma trovoada tropical:
“Uma trovoada, com carácter primitivo e sagrado, apavorou-nos. Receoso, o Sol estremeceu de inquietação e correu a esconder-se. Numa embriaguez de luzes, relâmpagos cintilaram em ziguezagues de fogo, bateram nas trevas e apanharam relâmpagos em resposta. De alto a baixo, raios riscaram rasgando fundo os céus. Irrequietos, os trovões estalaram implacáveis vibrando de tronco em tronco e em cada folha, assustando aves e ribombando pelos caminhos do céu imenso num estampido ensurdecedor, enquanto que o vento, carregado dos cheiros da terra e do odor da selva, bradou com fúria e em rajadas hirtas e tudo impeliu numa maluca confusão”.

Agora o Furriel de Cavalaria embarca num Sintex, vai a Bula buscar salários, assombra-se com a travessia do rio:
“Para lá das desviadas margens, num sussurro, naquele rio largo como uma promessa via-se água que penetrava na brumosa mata de onde, desafiando nos céus altas fasquias, se erguiam crescidas e seculares árvores. Por causa das investidas da nossa artilharia, com olhos cansados de procurar, vi cepos definhados com galhos despidos e rasgados. Braços vegetais abertos que nos desejariam abraçar e onde poisavam centenas de colónias de coloridos periquitos (…) Na tona da água, bandos de periquitos de rabo de junco rasavam, chispavam à nossa passagem e rabiscavam hieróglifos (…) Inumeráveis abutres repugnantes e agoirentos que poisavam nos poleiros altos da sossegada e densa ramagem, alteavam-se impassíveis, estremecendo penosamente as enormes e aborrecidas asas. Alguns, mais tímidos, alavam para o escuro daquele tão intemporal bosque e ali ficavam à espera, de olhos tristes e adiados”.

Mas vamos descer até ao Como e ouvir o que escreveram os biógrafos de “Alpoim Calvão, Honra e Dever”:
“Uma operação tão longa como a Tridente, que decorria há já cerca de mês e meio, sempre com duros combates e em que os estacionamentos temporários eram desconfortáveis e penosos, tinha necessariamente um impacto negativo no estado físico e anímico do pessoal. Mas o esforço compensava. Era notório que a actividade inimiga esmorecia, a resistência era agora fugaz e em nada se comparava já à bravura dos combates travados no início da operação.
O dispositivo inimigo nas ilhas de Caiar, Como e Catunco estava praticamente desmantelado, o prestígio do PAIGC e dos seus chefes abalado, a sua confiança desaparecera, o respeito e temor pelas autoridades portuguesas era evidente.
Tinha entretanto o Tenente Calvão criado um núcleo de guias guinéus que com os seus camaradas metropolitanos partilhavam as mesmas canseiras e os mesmos perigos. Havia, no entanto, dois homens que o seguiam para todo o lado como sombras e aos quais Calvão ficou eternamente grato pela coragem, desinteresse de si próprios e dedicação que sempre revelaram: um do Bombarral, o José António; e outro um Manjaco do Pecixe, o ‘Touré’. Mais tarde, num jornal, Alpoim Calvão recordou um caso ocorrido durante aquela operação e que tão profundamente o marcou:
‘(…) Os sucessos da guerra tinham causado várias baixas na minha Unidade. Pedi ao Capelão Militar que acompanhava as forças em operação para rezar uma missa pela alma dos mortos. Numa manhã, na praia onde estava localizado o estacionamento, preparou-se a realização da cerimónia. Aliás, tudo o mais simplificado possível: o altar era um caixote que servira para transportar rações de combate e o templo, o ar livre, com o mais maravilhoso dos tectos: um céu azul, incomparável.
Mal barbeados, sujos, com as faces vincadas pelo cansaço e pela tensão da luta, os homens foram-se chegando e a missa começou. Juntaram-se-lhes, por serem católicos, alguns dos carregadores negros que acompanhavam as forças. O profundo silêncio era apenas alterado pela voz do celebrante e pelo barulho do mar, que, em pequeninas ondas, se enovelava na praia.
Uns de joelhos, outros em pé, os homens seguiam, ou melhor, viviam o santo sacrifício. Acabrunhados pela morte de alguns camaradas, sentiam a necessidade daquele diálogo com Deus e muitos deles, pela primeira vez, souberam o que era a Missa.
Eu estava de pé, um pouco apertado, duplamente comovido pela lembrança dos mortos e pela emoção dos vivos.
E num deslumbramento, numa autêntica revelação de ecumenismo, vi, sobre a minha direita, alguns guias muçulmanos que olhavam a cena com muita dignidade e compostura e procuravam participar nela, orando também ao mesmo Deus, pelo descanso das almas dos que tinham caído e pela vitória das armas portuguesas’.”

E os autores chegam ao termo do seu relato:
“Decorridos mais de dois meses sobre o início da Operação Tridente, concluiu-se que militarmente nada mais havia a fazer na zona, pelo que foi decidido o regresso de todas as forças em acção, ficando apenas montado um aquartelamento em Cachil, onde foi instalada uma Companhia do Exército com a missão de controlar as margens do rio Cobade, numa posição estratégica muito importante para o reabastecimento de Catió. Sendo de prever que dentro em breve aquele local voltaria a estar sujeito a uma intensificação dos ataques, tornou-se necessário manter ali uma LDP em permanência, de modo a garantir o regular abastecimento do aquartelamento de água, mantimentos e munições. Às 12h00 do dia 22 de março, o DFE8 embarca no ‘Bor’ rumo a Bissau, onde chega na manhã seguinte. Era o fim da Operação Tridente”.

(continua)

 O bardo a caminho da Ilha do Como

O bardo e camaradas a caminho da Ilha do Como

O bardo faz leituras na Amura, inspira-se junto da velha peça de artilharia.

Página do jornal do BCAV 490, gentilmente cedida pelo confrade Carlos Silva, um investigador infatigável a quem devo muitas atenções.
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Notas do editor

Poste anterior de 13 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20145: Notas de leitura (1217): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (23) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 16 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20150: Notas de leitura (1218): “O Massacre Português de Wiriamu, Moçambique, 1972", por Mustafah Dhada; Tinta-da-China, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20160: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (14): continuando a falar de..."futebol, elites e nacionalismo"


Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra (n. 1926) > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (, pai do nosso amigo Nelson Herbert) (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo (, falecido recentemente em Portugal 22/1/2019); no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acederá à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Norberto Tavares de Carvalho - "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor, 2011, p. 41.

Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Quer queiramos quer não, não conseguimos deixar de falar... de futebol. Temos mais de seis dezenas de referências no nosso blogue... Hoje retomamos o tema "futebol e nacionalismo" (*)...  E continuamos a celebrar os nossos 15 de existência, enquanto blogue e enquanto grupo de amigos e camaradas da Guiné que se reune à sombra do simbólico poilão daTabanca Grande (**)

Fomos encontrar, no livro do Norberto Tavares de Carvalho, a foto acima, já nossa conhecida, da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, onde figura o Armando Lopes (jogador da UDIB, pai do nosso amigo Nelson Herbert, e que também era conhecido como Búfalo Bill).

Recorde-se que ele fez o seu serviço militar no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e, infelizmente, já faleceram od dois, o meu, em 2012, o pai do Nelson Herbert, mais recentemente, em 2018. Ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol...

A foto que publicamos acima,  é do arquivo pessoal do João Nascimento Burgo Correia (ou Corrêa) Tavares, o Joãozinho Burgo, do Sport Bissau e Benfica... Mas o nosso blogue já tinha publicada uma igual, em 15 de agosto de 2010, do arquivo do Armando Lopes / Nelson Herbert.

Cabo-verdiano, da ilha do Fogo, onde nasceu em 1929, Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (1920-2018),  mas mais velho que o Bobo Keita (1939-2009). O auge da sua carreira é em 1960, com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame Nkrumah.

Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita, Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes (Penicilina), 'Djinha', João de Deus, 'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar já época, distante,  de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém) (p. 36).

O Bobo Keita, mais novo (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica, clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (primeiro em Bolama, depois Bissau, Mansoa, Bafatá...).

O futebol também foi um viveiro de militantes, combatentes e dirigentes do PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante aprofundar as razões deste fenómenos...


Guiné > Bissau > Março de 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (hoje, Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.  O estádio foi construído em 1947 e electrificado, já no tempo de Spínola, em 1971. O Lino Correio, antigo jogador da UDIB, morreu precocemente, em 25/11/1962, em Conacri, de acidente, numa sessão de preparação física. 

Foto do nosso grã-tabanqueiro, Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Os Maiorais, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Recorde-se que o Júlio Almeida, antigo funcionário da granja de Pessubé, que trabalhou com Amilcar Cabral, é referenciado como um dos fundadores, em 1956, do PAIGC, ou melhor do PAI, mais tarde PAIGC. Segundo informação do Nelson Herbert, a indicação e a consequente transferência de Júlio Almeida do futebol mindelense (São Vicente, Cabo Verde) para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense, no ínício dos anos 50, pelo seu pai, Armadndo Lopes, que na altura estaava a passar férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.

Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Corona, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)... Keita, miúdo de rua, não tinha botas. As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo Sport Bissau e  Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos juniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.

Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... "A partir daí, segundo as circunstâncias, passei a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezassete anos e outro com dezoito anos", confidencia o Bobo keita ao seu biógrafo (p. 31).

Acabou por jogar a defesa direito no Benfica. Dos juniores passa às reservas e depois à equipa principal. Para além de ser o orgulho do seu pai, tornou-se muito popular entre os adeptos. O grande dérbi, em Bissau, eram o jogo Benfica-Sporting. Na época, o Benfica era de longe a melhor equipa de futebol da província, recheada de estrelas (que integravam por sua vez a seleção da província).

Foi o Victor Mendes, um treinador português, que levou Bobo Keita para a seleção e que o pôs a jogar como defesa lateral esquerdo, depois de muito trabalho... Outro clube cotado localmente era o UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau, onde jogava o seu primo João de Deus.

Nas conversas com Noberto Tavares de Carvalho, Bobo Keita recorda o Torneio da África Ocidental, que começou na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1958, e que juntou outras  seleções (Cabo Verde, Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri) (pp. 39-40). Também, jogou na Gâmbia, onde a seleção guineense era, de há muito, temida, desde o tempo do Armando Lopes.

E acrescenta o Nelson Herbert: "Convém não perder de vista que ante a então apertada vigilância da PIDE, a 'bola' foi por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e cabo-verdianos em redor de ideais nacionalistas.

"E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na 'massificação'  do futebol naquela antiga província ultramarina."

2. Mas voltando ao Bobo Keita e à selecção de futebol da Guiné, que foi apurada para a final da taça Kwame Nkrumah, jogada em  Acra, capital do Gana, em 1959. 

O encontro com o presidente Kwame Nkrumah terá sido decisivo na vida de Bobo Keita. Recorde-se que a antiga colónia inglesa, Golden Coast, a Costa do Ouro, proclama oficialmente a sua independência em 6 de Março de 1957. Nkrumah, num cerimónia de receção nos jardins do seu palácio, incentivou então os jovens futebolistas a lutarem pela independência dos seus países. 

Em 1 de outubro de 1960, Keita está em Lagos, capital da Nigéria, outra vez num torneio de futebol, por ocasião das festas da independência de mais um grande país africano (p. 44-46). Que memórias guarda desse tempo ?

"Como acontecera com o discurso do Nkrumah, fui de novo sacudido por um mar de interrogações, sempre falando com os meus botões e acabando por concluir que tudo aquilo era bonito, mas completamente impensável na Guiné. No entanto, pela segunda vez, o acaso punha-me de caras com os pensamentos revolucionários daquele tempo. Só que desta vez senti algo a despertar em mim" (p. 45)...

E mais à frente acrescenta, na entrevista com Norberto Tavares de Carvalho, publicada em livro, que temos vindo a citar:

"Fiquei com aquela imagem de um povo confiante, independente e livre. Esse quadro ficou gravado em mim como o segundo factor de formação da minha consciência nacionalista" (p. 46).

Três meses depois, em 26 de dezembro desse ano, Bobo Keita, que tinha apenas a 4ª classe da instrução primária, "vai no mato", isto é, entra na clandestinidade, mais exatamente segue em viagem para o sul, disfarçado de alfaiate, mas com destino certo: Conacri. Em 12 de janeiro de 1961 tem à sua frente Amílcar Cabral, o homem que lhe tinha dado um bola, quando "djubi" do Cupelom, seu bairro natal...

Como é que um jovem e promissor jogador de futebol chega até aqui, ou seja, entra em ruptura com a sociedade onde, mal ou bem, está integrado ? Antes de mais, é de referir o sentimento de injustiça e de revolta que começa a apoderar-se dos jovens jogadores da seleção da Guiné. Na Nigéria não recebem os prometidos e ansiados prémios de jogos. Sentem-se explorados e inferiorizados quando comparados com os jogadores das outras seleções africanas, em particular os nigerianos. Na capital da Gâmbia, Bathurst, o conflito, latente, estala, passando a conflito aberto, manifesto... Recusam-se a jogar... Acabam por ceder para "não ficarmos mal vistos" (p. 48), mas recebem no final o dinheiro prometido...

Os dirigentes da seleção estranharam o comportamento jogadores e não gostaram... No regresso a Bissau, entra a PIDE em ação. O ambiente é de crispação, dentro e fora do balneário. Chegou-se a pensar prender toda a selecção, mas acabou por imperar o bom senso... Os jogadores, incluindo Bobo Keita, foram discretamente interrogados, um a um, pela PIDE nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Bissau (pp. 52 e ss.). Dada a sua popularidade, os jogadores da seleção, envolvidos no conflito passado na Gâmbia, acabaram por se safar... Acrescenta o Bobo Keita, que até o próprio Governador, na altura o Peixoto Correia [1913-1988; governador entre 1958 e 1962], "uma ardente adepto do futebol", não terá apreciado a ação da PIDE (p. 53)...



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A valorosa equipa de futebol da CCAÇ 12, que disputou campeonatos em Bafatá...  Supremacia branca, discriminação racial, elitismo ?... Nada disso, os graduados e especialistas metropolitanos da companhia eram apenas um terço; o resto da companhia era do recrutamento local, de etnia fula... Os fulas, pastores, místicos  e guerreiros,  não jogavam à bola, ou   não tinham especial apetência pela prática do futebolmuitos deles numa tinham visto uma bola de futebol, ou um equipamento desportivo, lá nas suas tabancas dos regulados de Badora e de Cossé...

Mas é bom lembrar que, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... Do Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa (Mansoa) [Região do Oio], era, ao que parece o Corca Só, lendário comandante do PAIGC que um dia terá prometido "limpar o sebo" ao "Tigre de Missirá", o nosso amigo e camarada Mário Beja Santos...

Enfim, o futebol continuava a ser  o desporto, por eleição, dos "tugas", no final dos anos 60...mas também fora um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC no início da década...

Os "tugas" da CXAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71=, aqui fotografados,  da esquerda para a direita, são, na primeira fila:

(i) Gabriel Çonçalves, o "GG" (1º cabo cripto, vive em Lisboa),

(ii) Francisco Moreira (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, vive em Santo Tirso);

(iii) Arlindo Roda (fur mil at inf,. do 3º Gr Comb, vive em Setúbal);

(iv) Arménio Fonseca, o "Campanhã" (sold at inf, 1º Gr Comb, vive no Porto);
(v) e o guarda-redes, João Rito Marques (o 1º cabo quarteleiro, vive no Souto, Sabugal);

e na segunda fila:

(vi) Fernando Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa),

(vii) Luciano Pereira de Silva (1º cabo at inf, 4º Gr Comb, natural de São Mamede do Coronado, Trofa, emigrado em França);

(viii) Fernando B. Gonçalves (1º cabo aux enf, que veio substituir o 1º cabo aux José M. Sousa Faleiro, evacuado logo no início para o Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas; morada atual desconhecida)

(ix) Alcino Carvalho Braga (sold cond auto; vive em Lisboa)

(xi) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, 2º Gr Comb; vive na Póvoa do Varzim)

(xi) e o António Manuel Martins Branquinho (fur mil at inf, 1º Gr Comb; falecido, vivia em Évora).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas de leitura:

(*) Vd. postes de:



(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P20159: Agenda cultural (701): Festival TODOS 2019: Lisboa, São Vicente, 19-22 setembro: "Avizinhar o mundo". Uma mão cheia de eventos este fim de semana: arte urbana/instalação, cinema, culinária do mundo, dança, encontros / experiências / conversas / performances, fotografia, música, novo circo, teatro, visitas guiadas...

Capa do programa > Cortesia do sítio da
Câmara Municipal de Lisboa
1. Somos fãs de (e apoiamos) este festival  (vd. referências no nosso blogue), numa cidade (e num país) em cuja matriz histórica e cultural estão a descoberta, a aproximação  e o acolhimento do(s) outro(s).  

Aqui ficam sugestões para este fim de semana para quem tiver pernas para andar, olhos para ver, ouvidos para ouvir, boca para falar, tacto para tocar, olfacto para cheirar, gosto para saborear, imaginação para descobrir, coração para acolher e amar, razão para compreender, enfim, corpo e alma para "avizinhar o mundo"... Porque "avizinhar o mundo é preciso"... Oxalá, inshallah, enxalé... a gente ainda vá tempo!...

Eu lá estarei, eu e a Alice, entre os "vizinhos" e "fregueses" de São Vicente mesmo que 3ª feira eu vá à faca: tenho uma artroscopia programada. No joelho esquerdo... Sequelas da vida, das andanças, da idade, quiçá da guerra... Boa saúde, bom fim de semana.  LG

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O TODOS - Caminhada de Culturas celebra, desde 2009, Lisboa como cidade intercultural através das artes performativas contemporâneas. Este ano, é a 11ª edição do festival.

Promovido entre a Academia de Produtores Culturais e a Câmara Municipal de Lisboa, o TODOS tem contribuído para a destruição de guetos territoriais associados à imigração, convidando os públicos ao convívio entre culturas de todo o mundo, na capital portuguesa.


Datas: de 19 (quinta-feira)  a 22 (domingo) de setembro de 2019
Locais: Lisboa: Graça, São Vicente e Santa Engrácia: 
Rua Voz do Operário / Campo de Santa Clara, 
Largo da Graça / Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen
Rua da Graça / Jardim  Cerca da Graça

TODOS 2019 | avizinhar o mundo

PROGRAMA COMPLETO EM PDF 
PARA DOWNLOAD AQUI

TODOS 2019 > Editorial (reproduzido com a devida vénia...)

Conhecemos a D. Conceição, moradora na Graça, num almoço em Lisboa com a comunidade filipina. Perguntámos-lhe o que ali fazia e respondeu-nos: “Há anos atrás o meu marido ficou muito doente e quem me ajudou a cuidar dele foram duas vizinhas nossas, filipinas. A minha gratidão para com estas vizinhas tornou-me próxima delas e sempre que posso venho almoçar e celebrar a vida com esta comunidade”. A compaixão e o amor, a atenção e o cuidado para com o outro, aproximaram estas mulheres de origens, culturas e línguas tão diversas. Um exemplo perfeito da urgência em avizinhar o Mundo.

Recuperada e soprada aos quatro ventos nesta 11.ª edição do TODOS, a palavra avizinhar, antiga e algo esquecida, é rica em significados: tornar vizinho, aproximar, estar perto. É isso que desejamos a cada ano e com cada vez maior intensidade – avizinhar-nos do Mundo a partir da janela da nossa casa, a partir da nossa rua, que não queremos jamais despojada de vizinhos. Pois será no abraço ao outro, bem como naquele que dele recebemos, os dois desejavelmente acolhedores e cúmplices, de gente que se conhece no território do quotidiano, que depositamos a esperança na nossa própria humanidade.

A programação deste ano celebra uma das ideias e palavras-chave do TODOS: o outro. Mas não um outro abstrato, não: o outro que está mesmo aqui, tão próximo e tão semelhante. Qualquer que seja a sua cultura de origem e/ou antiguidade no território que partilhamos, o vizinho é o semelhante mais próximo, aquele com quem o diálogo é uma feliz inevitabilidade. O TODOS de 2019 é, assim, e por excelência, um lugar de encontro entre os moradores e os trabalhadores de São Vicente e as populações estrangeiras que ali possam chegar, de modo a reforçar, ou a criar, se possível, sempre que possível, laços de vizinhança.

A partir de inquietações transversais a todas as culturas, propomos momentos artísticos e de convívio propícios ao avizinhamento entre pessoas muito diferentes entre si mas comuns caminhantes nesta nossa cidade. A partir das palavras dos poetas e do “eu poético” que habita em cada um de nós, ponderamos a Liberdade, o Racismo, a Fraternidade, a Paz, a Viagem. Num mundo repleto de imagens há que escutar as palavras, ainda assim. Escutámo-las. As palavras de desabafo, as palavras das canções (incluindo as de embalar), as palavras dos diários, as palavras das entrevistas que fizemos a centenas de pessoas de várias origens e idades.

De entre as muitas e variadas histórias que nos contaram, umas mais sussurradas que outras, a água, a seca, a fome e as doenças, mas também os direitos das mulheres, o direito ao trabalho, a liberdade, as guerras e as perseguições étnicas, emergem como preocupações principais de gentes dos quatro cantos do Mundo. Por essas questões se mata, se casa, se foge, se ama e se odeia; se imigra, se emigra, se viaja e se pede asilo político, se caminha em busca de um qualquer eldorado, esteja ele onde estiver.

Somos, cada vez mais, uma Humanidade de viajantes, de caminhantes movidos por anseios de aventura, de felicidade, de prosperidade, de futuro, por vezes perseguindo coisas aparentemente simples como a paz, um teto, trabalho, dignidade. Caminhamos pelo Mundo com garrafas de plástico eterno que nos vão sobreviver, na esperança da própria esperança, sonhando com uma vida nova, noutro lugar, onde estão ou por onde passam pessoas iguais a nós, ou parecidas, ou então muito diferentes, de quem é preciso avizinharmo-nos. O TODOS dá uma mãozinha, a partir de São Vicente.

Vd. também página do Facebook do Todos
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20136: Agenda cultural (700): Convite para a sessão de autógrafos do livro "A Minha Guerra a Petróleo", da autoria de António José Pereira da Costa, dia 13 de Setembro de 2019, pelas 14h00, na Feira do Livro do Porto patente nos Jardins do Palácio de Cristal (António José Pereira da Costa)

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20158: Convívios (908): Os "meninos da Linha": estão bem e recomendam-se... Parabéns ao José Miguel Louro e ao João Pereira da Costa, a quem se cantou hoje os parabéns (Luís Graça)


Oeiras >  Algés > 19 de setembro de 2019 >  Estação de comboio > A caminho do 45.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, vejo este grafito e registei-o em fotografia: "Quando eu partir, Algés, reza por mim!"... (Autor desconhecido).

"Partir", verbo intransitivo e verbo pronominal, quer dizer: (i) pôr-se a caminho, seguir viagem; (ii) ir-se embora, retirar-se, sair de cena; (iii) (em sentido figurado) morrer...

Qualquer um de nós, camaradas e amigos da Guiné, tabanqueiros da Tabanca Grande e da sua rede de tabancas (Matosinhos, Centro / Monte Real, Melros / Gondomar, Maia, Lapónia, Porto Dinheiro / Lourinhã, Ferrel / Peniche, Algarve...) têm legitimidade para "grafitar" as  paredes das nossas tabancas: "Quando eu morrer, não chorem por mim, mas não me deixem ir para a vala comum do esquecimento"...

É essa, afinal, a  nobre missão das nossas tabancas: exercer o nosso direito à memória, lutar contra o nosso Alzheimer coletivo, contestar o politicamente correto... E não temos que pedir desculpa por  ainda não termos morrido, "lerpado" (, no nosso calão de caserna)... A elite dirigente deste país  já está farta de nós: porra, estes gajos nunca mais morrem, nunca mais desamparam a loja, nunca mais se calam, nunca mais viram a puta da página da História!... Querem dizer, os senhores ministros da defesa e os senhores generais da guerra, que estamos a mais, a estragar a festa da História... A sua festa, a festa deles...


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  O José Miguel Louro, ao centro, o terceiro a contar da esquerda, alvo de manifestações de carinho: festeja o seu aniversário natalício; teve um grupo de 4  camaradas que vieram expressamente do Norte (Vila Nova de Famalicão e Maia) para passar o dia com ele... Ao grupo juntou-se o Jorge Pinto... São da esquerda para a direita: (i) Joaquim Pinto (em primeiro plano, de costas,  (ii) José Manuel Santos; (iii) Carlos Camacho Lobo; e (iv) Costa e Silva (entre o Louro e o Pinto).

Fiquei a saber que o José Louro pertenceu à 3.ª CART/BART 6520 (Fulacunda, 1972/74). Por lamentável lapso, ainda não pertence à Tabanca Grande: é presença assídua na Tabanca da Linha e participou diversas vezes no nosso encontro anual em Monte Real... Enviuvou recentemente. É o primeiro ano, como aniversariante, que passa sem a sua querida Maria do Carmo. Encontrámo-la,  juntamente com o Miguel Louro, pela última vez. no Hospital da Luz, há mais de um ano.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > Em primeiro plano, à direita, de perfil o João Martins associando-se aos brindes de parabéns ao José Louro. Na outra ponta, à esquerda, de pé, outro camarada que veio do Norte, com o dr. Carlos Camacho Lobo, o José Manuel Santos.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  Os dois aniversariantes do dia, João Pereira da Costa (Lisboa) e José Miguel Louro (Algueirão / Sintra).


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Carlos Camacho Lobo, médico dermatologista  (Maia), e o José Miguel Louro, aniversariante...


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  O Jorge Pinto (Sintra), com mais um camarada da sua 3.ª CART/BART 6520 (Fulacunda, 1972/74), o Costa e Silva, natural de Vila Nova de Famalicão (, radicado no Brasil, no Estado de São Paulo, há muitos anos, vem a Portugal com regularidade; foi convidado por mim para a integrar a Tabanca Grande, tendo como "padrinho" o Jorge Pinto).


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Joaquim Pinto, outro dos camaradas que vieram do Norte, neste caso de Vila Nova de Famalicão, para cantar aos parabéns ao José Louro; esteve em Mampatá é cunhado do Costa e Silva.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > Dois almadenses que não se conheciam: o nosso coeditor Jorge Araújo, à esquerda, e o Domingos Robalo, novo na Tabanca da Linha e próximo membro da Tabanca Grande.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Manuel Macias (Linda a Velha / Oeiras) e o João Rosa (Lisboa)... O Manel Macias, da Aldeia de São Bento, Serpa, pediu-me para mandar um "alfbravo" para o seu conterrâneo, amigo e camarada José Saúde... Ambos são sentam-se à sombra do poilão da Tabanca Grande.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > À direira, o Luís Paulino (Algés); o camarada da esquerda, não o consigo, de imediato, identificar.


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica  Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O António Maria Silva (Cacém / Sintra) e o Carlos Silvério (Ribamar / Lourinhã)


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > As únicas senhoras presentes: Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), a Gina (esposa do António F. Marques) e a Irene (esposa do Luís R. Moreira)


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  O Luís R. Moreira e o Manuel Joaquim, dois fiéis tabanqueiros e bons sintrenses.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O cor inf ref João Ares, ex-cmdt da C557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), e o Mário Fitas (Estoril / Cascais). O coronel Ares é a primeira vez que vem à Tabanca da Linha, é portanto um "pira". Foi convidado pelo José Colaço.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45º Convívio >  O cor inf ref João Ares, ex-cmdt da CAÇ 557, CachilBissau e Bafatá, 1963/65).


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Mário Fitas, um dos fundadores da Tabanca. E nosso grã-tabanqueiro: tem 140 referências no nosso blogue.


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Carlos Alberto Pinto (Amadora)


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama, 1963/65], que vive em Lisboa, um dos veteranos da guerra da Guiné, membro da nossa Tabanca Grande, que eu já não via há anos... Se não erro, desde 2013, por ocasião do 1.º encontro do pessoal de Bedanda, em Peniche...


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O João Parreira, também conhecido aqui pelo seu outro apelido, Latada (Carcavelos / Oeiras) que também já não via há anos: divide o seu tempo, em Carcavelos e em Barbacena, Elvas... A seu lado, o nosso António Graça de Abreu (tem cerca de 240 referências no nosso blogue).


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  O João Parreira, membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Tem meia centena de referências no nosso blogue.


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Jorge Ferreira, o nosso camarada que pôs Buruntuma no mapa, ainda a guerra era uma criança!...



Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Armando Pires (Carnaxide / Oeiras): "parte mantenhas com Bissorã!"... Elemento querido da Tabanca Grande, tem oitenta referências no nosso blogue...


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O António Duque Marques (Amadora) e o Carlos Marques de Oliveira (Sintra): este último vai entrar para a Tabanca Grande, que é a mãe de todas as tabancas... O António Duque Marques, não sei porquê, ainda não figura na lista alfabética!... O que é se passa, camarada e vizinho?


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O Carlos Marques de Oliveira (Sintra) e o João Pereira Costa (Lisboa)


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  O  João Martins (Lisboa) e o Carlos Marques de Oliveira, próximo membro da Tabanca Grande. O João Martins tem mais de meia centena de referências no blogue.


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > Em primeiro plano, o Joaquim [Nunes] Sequeira (Colares / Sintra) e o José Inácio Leão Varela (Algés / Oeiras)


Oeiras > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019 > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio >  Aspeto parcial da sala onde se juntaram mais de meia centena de convivas. Em primeiro plano, na mesa, reconheço, à direita, o Daniel Gonçalves (Carcavelos / Oeiras)... A meio, está o José Albino Ribeiro (Mem Martins / Sintra), "pira" nestas andanças...


Oeiras >  Algés >  Restaurante Caravela de Ouro > 19 de setembro de 2019  > Magnífica Tabanca da Linha > 45.º Convívio > O magnífico régulo, Manuel Resende (São Domingos de Rana / Cascais), e o tabanqueiro Jorge Canhão (Oeiras), com 105 e 65 referências no blogue, respetivamente.

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Guiné 61/74 - P20157: Convívios (907): 45º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, hoje, em Algés, às 13h00 no restaurante "Caravela de Ouro" (Manuel Resende)




1. Com atraso e já sem efeitos práticos (, uma vez que as inscrições terminaram no dia 16), aqui vai a convocatória do magnífico régulo, Manuel Resende, da Magnífica Tabanca da Linha... Como a gente diz no nosso "Proverbiário",  há tabancas para todos e para todo os gostos, até para os meninos da Linha...


Vai realizar-se no próximo dia 19 de Setembro, quinta-feira, com início às 12,30 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "CARAVELA DE OURO" em Algés.

O Almoço será servido às 13 horas, no entanto podem começar a aparecer a partir do meio dia e meia hora.

+ + + E M E N T A + + +

APERITIVOS
Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel - Bolinhos de bacalhau - Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e Presunto

SOPAS
Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO DE CARNE
Cabrito assado no forno com batata assada e esparregado

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim e Café

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba-vinho da casa)
Águas - Sumos - Cerveja

PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)

Morada: Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)
Inscrições até às 24 horas do dia 16 pelos processos habituais para Manuel Resende (919 458 210)

2. Não estando hoje  na Lourinhã, lá estarei, em Algés, daqui a uma hora, com muito gosto, para dar as boas vindas as dois novos grã-tabanqueiros, o Domingos Robalo (Almada) e o Carlos Marques de Oliveira (Sintra). E também os parabéns aos aniversariantes de hoje, o José Miguel Louro (Algueirão) e o João Pereira da Costa (Lisboa). Muita saúde e longa vida para eles, e que os bons irãs das nossas tabancas os protejam. (LG)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram

Infografia: Miguel Pessoa (2019)
1. Mensagem do nosso leitor guineense, Erickson Té:


De: erickson te <ericksonte_23@outlook.com>
Date: quarta, 18/09/2019 à(s) 10:44
Subject: autorizção


boa tarde Sr. Luís Graça tudo bem consigo?

quero lhe agradecer por trabalho que tem estado a fazer refiro o seu blog luis graça e camaradas da Guiné aprendi muito com seu blog historia bonitas que nem quando estudava na guiné.  e também queria pedir sua autorização para uso destas informações (historias) para uma pagina feita por mim no instagram para informar a minha e futura geração já que só focamos nestas novas tecnologias


agradecia a sua resposta claro a sua autorização também.

obrigado e boa tarde.

ass: Erickson Té



2. Resposta do editor Luís Graça:

Caro Erickson Té:

Costumamos dizer, e é verdade, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!..

Como não temos portas em janelas, muito menos muros e arame farpado, todo o mundo pode entrar aqui e espreitar o que fazemos... Este é o lado admirável das redes sociais... Partilhamos memórias (e afetos), contamos histórias de guerra e paz, celebramos a vida, a amizade e a camaradagem,  não escondemos a nossa amizade para com o povo guineense, mas também a nossa preocupação pelo seu presente e pelo seu futuro.  

Só há uma terra, a casa comum da humanidade...  Portugal e a Guiné estão ligados por laços históricos com quase 600 anos e, apesar dos conflitos do passado, provocados pelas políticas das  nossas elites dirigentes, e pelo fascinante mas também doloroso processo da globalização, de que os portugueses foram pioneiros,  os nossos dois países  estão hoje em paz  um com o outro e pertencem, nomeadamente, à Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP). 

Em português nos entendemos, Erickon, e eu fico feliz por poderes encontrar, no nosso blogue, histórias "bonitas" que nunca te contaram quando andavas a estudar em Bissau. Não temos página no Instagram, mas vamos querer conhecer a tua.  Estás autorizado a usar o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, no respeito pelas regras da nossa política editorial. Se usares na íntegra alguns dos textos e imagens, deves sempre citar o autor e a o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Mas, para já, gostávamos que te juntasses a esta comunidade de "amigos e camaradas da Guiné". Somos já perto de 800. Temos também entre nós amigos guineenses. Mas precisamos gente mais jovem como tu, para manter a ponte entre gerações. Basta que me mandes uma foto tua e meia dúzia de linhas, com uma breve apresentação da tua pessoa e do teu trajeto de vida: onde nasceste, onde estudaste, onde vives hoje, etc.

Mantenhas. Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça.

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Guiné 61/74 - P20155: O nosso blogue em números (60): o futuro? Deus, Alá e os bons irãs o dirão... E o Miguel Pessoa estará cá para fazer o "boneco"...


Infografia: Miguel Pessoa (2019)


1.  Mensagem do nosso amigo e camarada Miguel Pessoa, herói dos céus da Guiné, cor pilav ref (ex-ten pilav, BA12,  Bissalanca, 1972-74), com data de 15 do corrente:

"Mais um boneco para a colecção. Aberto a sugestões... 
Abraço, 
Miguel Pessoa".

Respondi-lhe ontem, nestes termos:

"Miguel, obrigado pela tua criatividade e generosidade... Vamos testar o 'boneco' num próximo poste com estatísticas... Vamos lá ver se chegamos aos 800, antes do fim do ano. Tenho dois novos membros da Tabanca Grande na calha, espero poder estar amanhã com eles no almoço da Tabanca da Linha: o Domingos Robalo (Almada) e o Carlos Marques de Oliveira (Sintra), que já aceitaram integrar a Tabanca Grande. Ambos foram artilheiros, tendo pertencido ou estado ligados ao BAC 1 / GAC 7, em 1969/1971." (...)


2. O que é o que o "boneco" do Miguel Pessoa celebra? Alguns factos e dados:

(i) celebramos, este ano, o 15.º aniversário do nosso blogue, cuja certidão de nascimento remonta a 23/4/2004;

(ii)  estamos prestes a atingir os 800 membros (entre vivos e mortos) da Tabanca Grande; éramos 111 em junho de 2006;

(iii) publicámos até à data mais de 20 mil postes, vamos a caminho dos 20200; 

(iv)  deveremos chegar, até ao fim do mês, aos 11,3 milhões de visualizações de páginas;

(v)  temos um vasto acervo de textos e imagens sobre a Guiné e a guerra colonial que se travou naquele território entre 1961 e 1974.

(vi) enfim, somos um blogue que é visto e lido não só em Portugal, como nos EUA, no Brasil, França, Alemanha, Reino Unidos e resto do mundo;

(vii) apesar dos anos (que já pesam, e muito!), continaumos a gostar de dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande;

(vii) temos, além disso, uma página no Facebook, Tabanca Grande Luís Graça,  com cerca de 2900 "amigos"...

(viii) ah!, e não esquecer o nosso proverbiário: cultivamos o bom humor, mesmo não sendo optimistas... Sabemos que vamos morrer todos, mas fazemos questão de não ir para a vala comum do esquecimento...

Quanto ao  futuro ?!...  Deus, Alá e os bons irãs o dirão...  E o Miguel Pessoa estará cá, para fazer o "boneco".

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Nota do editor:

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20154: Fotos à procura de... uma legenda (117): os bombeiros voluntários de Bolama, em 1938, e o Sporting Clube de Bafatá, em 1958



Fonte: Câmara Municipal de Lisboa > Hemeroteca Digital > Jornal programa, editado pelo Sport Lisboa e Bolama, novembro de 1938, p. 4 (com a devida vénia).(*)


1. Não sei se o nosso camarada e amigo António Estácio, autor de "Bolama, a saudosa" (edição de autor, 2016, 496 pp.) nos sabe dizer quem era o comandante dos Bombeiros Voluntários de Bolama, em 1938, talvez o próprio autor, R. C. P.,  do texto que acima reproduzimos.  

O eng. Estácio não era desse tempo, nasceria  nove anos depois, em 1947, em Bissau, no chão Papel, mudando-se depois, com os pais, para Bolama, onde fez a instrução primária. Mas deve estar lembrado desta humanitária associação, de que reproduzimos também uma imagem, embora de muita fraca qualidade e pior resolução...

Tal como as equipas de futebol, raros os eram  negros, da Guiné, que faziam parte destas e outras associações, como por exemplo os clubes desportivos... mesmo 20 anos depois, como era o caso do Sporting Clube de Bafatá (vd. foto a seguir).

Enfim, as duas fotos merecem uma legenda! (**).


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1958/59 > Foto nº 242: > "Equipa de futebol do Sporting Clube de Bafatá"

Foto enviada pelo nosso camarada Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65). (***)

[Observação do LC:"Fotos de Bafatá, de 1959, tiradas por um familiar ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa, filha do senhor Faraha Heneni",


2. Recorde-se aqui alguns dados do recenseamento populacional de 1950,  na colónia da Guiné,  para se perceber melhor a estrutura social do território: havia uma clara distinção entre  uma pequena minoria de "civilizados" (os que tinham a  cidadania portuguesa),  e a grande maioria dos  "indígenas". 

"Civilizados" eram então 8320 residentes, dos quais 501 originários da metrópole, 1703 provenientes  do arquipélago de Cabo Verde e os restantes 4644 da própria Guiné.  Dos 366 estrangeiros, a maioria deles eram imigrantes libaneses e seus descendentes. A taxa de analfabetismo dos "civilizados" ultrapassava os 43%. Os "indígenas" eram cerca de meio milhão de indivíduos, distribuindo-se por 30 grupos étnicos. (****).

"Índigenas" eram todos os guineenses que não podiam ser "assimilados a europeus": (i)  eram  "de raça negra (sic) ou dela descendentes"; (ii) não sabiam ler nem escrever (o português); (iii) não possuíam bens ou profissão remunerada;  e, "last but not the least",  (iv)  praticavam "os usos e os costumes do comum da sua raça" (sic)...

Mais exatamente, em 1950, a população era constituída por "negros" (503 035), "mestiços" (4 568) e "brancos"  (2 263), num total de 510 776.  Os "brancos" (, europeus, na sua grande maioria) representavam apenas 0,4% do total da população. Só depois da II Guerra Mundial, é  que o seu número começou a aumentar: 1226, em 1930,  1419 em 1940, 2263 em 1950, 13686  em 1960...

Enfim, em 1950, o ensino oficial obrigatório abrangia apenas um escasso milhar de alunos, que frequentavam as 13 escolas primárias. As escolas das missões católicas acolhiam, por sua vez, cerca de 10 mil alunos. Em 1949, com a criação do Colégio-Liceu Honório Barreto, os guineenses passam a ter a oportunidade de aceder ao ensino secundário.

Em 1961, a distinção entre "civilizados" e "indígenas" foi finalmente abolida... No consulado de Sarmento Rodrigues, na segunda década de 1940, a colónia fez um notável esforço de modernização... de que o PAIGC vai recolher frutos: os seus melhores quadros saem da nova "elite crioula"...

Enfim, em 1973, no final do consulado de Spínola, já havia cerca de 4 centenas de "escolas oficiais" (mais cerca de 8 dezenas de escolas das Missões), para um total de 46 mil alunos... Mas quantas dessas escolas eram apenas simples "postos escolares militares" ?... Um esforço digno de nota,  que não foi inglório mas que pecou por tardio...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20152: Jorge Araújo: memórias de Bolama: a imprensa e o comércio locais há oito décadas atrás.

Guiné 61/74 - P20153: Historiografia da presença portuguesa em África (177): O jornal Bolamense, fonte de informação e cultura (1956-1963) (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Antes de mais, permito-me relembrar a quem acompanha estes pedaços da História da Guiné que aqui no blogue se publicou em extensa recensão a obra incontornável do Padre Henrique Pinto Rema "A História das Missões Católicas na Guiné", da Editorial Franciscana de Braga, que ainda está à venda a preço módico.
Este segundo relato do opúsculo que Teixeira da Mota publicou no Bolamense em 1958 relata dois martírios, missionários mortos, bem como os seus acompanhantes. Repare-se que no segundo episódio Frei Manuel de Malpica fazia parte da Missão da Serra Leoa, o que nos reconduz ao território da Senegâmbia Portuguesa, que foi minguando até ao século XIX e depois destroçado na Convenção Luso-Francesa de 1886. Este opúsculo possui um bom recorte literário, incontestavelmente apologético: quem se oferecia para missionar devia estar mentalizado para o martírio.

Um abraço do
Mário


O jornal Bolamense, fonte de informação e cultura (1956-1963) (3)

Beja Santos

O primeiro número deste jornal publicado em Bolama data de 1 de agosto de 1956, trazia uma consigna: “Servimos Bolama, os governos da Província e toda a família guineense”. O jornal irá desaparecer em 1963, aqui se reproduz a capa do último número, do que se consultou os editores não deram quaisquer explicações para tal extinção. Há dois aspetos surpreendentes, no cômputo destas edições: a tentativa, inglória, de reerguer a importância de Bolama, dela falando a torto e a direito, dedicando-lhe farto noticiário, sem descurar um aspeto etnográfico geral, mostrando imagens das diferentes etnias e realizações por toda a colónia; e procurando dados culturais que ajudassem a entender a presença portuguesa, na administração, na ocupação e até na missionação. Da leitura de todos os números, pareceu de manifesto interesse republicar um artigo de Teixeira da Mota intitulado “A morte de dois franciscanos setecentistas, na Guiné”. No número anterior pôs-se ênfase no primeiro episódio do opúsculo referenciado pelo historiador Teixeira da Mota. Ele lembra estes folhetos que tiveram larga profusão, principalmente no século XVIII. E à data em que ele publicou esta notícia no Bolamense alguns já estavam reproduzidos. Estranhava o historiador que este opúsculo não era mencionado nas mais conceituadas investigações, como na obra de Sena Barcelos, João Barreto, D. José Ribeiro de Magalhães ou Freire Manuel de Monforte, estes dois últimos missionários.

Relatado o episódio do martírio dos Bijagós, vamos agora ao segundo caso:
Almirante Teixeira da Mota
“A notícia deste primeiro sucesso certamente move o sentimento ainda à mais insensível pedra, e quando na nossa lembrança vive impressa a magoada história pretendo com o segundo golpe aumentar mais o pesar.
Havendo pouco tempo que se tinha recolhido o Padre Fr. Manuel de Malpica da Missão da Serra Leoa, donde veio por terra à Deponga e Rio de Nuno, tendo feito nestas paragens grandes frutos em alguns cristãos que hoje vivem quase com os mesmos ritos dos gentios, e aos quais lhes posso dizer com o maior orador dos portugueses que são cristãos no credo e hereges nos Mandamentos, finalizada esta sua incumbência, que fez e concluiu com os olhos de Deus e proveito das almas, estando no Rio de Nuno com um moço do Hospício, que o acompanhava, depois de recitar naquelas estéreis e infrutíferas terras admiráveis sermões com proveito de muitas almas, lhe maquinaram e teceram tais enredos, mostrando sempre que o amavam e temiam, usando destes pretextos e pedindo-lhe se não ausentasse, ao que o religioso condescendendo a seus roubos se deteve algum tempo, que gastou em os catequizar. Mas vendo que não tinham emenda em o perseguir, tratou de se pôr nas mãos de Deus, cuidando em fazer sua viagem para a Bolola, vizinha do Rio Grande, por ter concluído por então da sua parte o desígnio da missão. Metendo-se a uns intrincados bosques por se acautelar do caminho, onde só habitavam feras e residiam monstros, principiou logo a experimentar o terrível efeito da fome, e para de alguma sorte não sentir o da sede lambia e chupava o orvalho que de manhã rociava a aurora nas folhas das plantas. E depois padecer grandes e imensos trabalhos, chegou a Bolola, e debaixo de fiança ao rei desta terra se passou à Praça de Geba, povoação cristã, de onde mandando-se pelo síndico dos religiosos que ali estava a dita fiança ou resgate, se embarcou para Bissau.

Deste Hospício de Bissau, depois de estar convalescido de algumas moléstias, foi para o Hospício de Cacheu. E depois de embarcado começou a navegar prosperamente, mas tendo a lancha dado fundo sobre o sítio chamado Bijamita lhe saíram ao encontro os gentios denominados Brames, de um rio que vai do caminho de Cacheu para Farim e si ao pé de Canhop. Ao qual sítio lhes saíram e se puseram em tom e forma de os cativarem, como costumam, tomando logo a popa e a proa da lancha; e entrando dentro não acharam resistência, mataram a maior parte dos escravos.
Desta tirania escapou por então o padre e o piloto, o padre absolvendo a todos e clamando aos gentios e dispondo aos cristãos da parte de Deus se conformassem. Outros que também dormiam, depois que o motim espertou a todos, se lançaram a nadar em forma de escaparem; e aos que ficaram, entrando a ira dos gentios, matou a todos. E este religioso experimentou o ser degolado com um traçado, permitindo Deus que o dito padre, escapando das fomes e sedes nos matos e da ferocidade de muitos bichos, viesse a acabar a vida nas mãos daqueles bárbaros, em 26 de Abril de 1743.

Para se louvar é o zelo da santa e reformada Província da Soledade, pela perseverança em que continua a mandar os seus religiosos para o exercício missionário para bem das almas de todos os inumeráveis habitantes daquela conquista, indo uns e vindo outros há cento e tantos anos, em tempo do Senhor Rei D. João IV, sendo pedidos e mandados pela sua real piedade e grandeza para conduzir ao redil da Igreja de Roma as ovelhas desgarradas pelas cegas veredas e caminhos da gentilidade. Colhendo com efeito nos primeiros anos e muitos depois conhecidos frutos de tão grande seara, expondo-os agora e a nós a esta parte aos referidos e semelhantes insultos que outras muitas vezes têm sucedido.

E por isso é necessário expressar, como é público e notório a todos os filhos da Europa que para as ditas terras selvagens navegam, o quanto vivem cativos quotidianamente da indolência e tirania gentílica”.

Findo o relato, Teixeira da Mota observa que se deduz claramente que o primeiro episódio passado nos Bijagós teve lugar entre a Ilha de Pecixe e a região de Canhobe portanto no Canal de Cajegute ou proximidades. Neste segundo episódio, a referência é confusa, mas a indicação da região de Bijamita sugere o Rio Mansoa. Na época designavam-se em conjunto por Brames os atuais Brames, Manjacos e mesmo Papéis, o que é difícil saber ao certo quais foram os autores do assalto à lancha em que seguia Frei Manuel de Malpica. Os “Rios da Guiné” não foram somente vias de comunicação pacífica facilitando o estabelecimento dos portugueses. Os episódios relatados são somente dois entre muitos outros atos de guerra e pirataria que neles tiveram lugar, e em que se destacaram os Bijagós.

Releva Teixeira da Mota que o comércio de escravos veio contribuir para o agravamento de tal estado de coisas. Estes textos de Teixeira Mota foram publicados no Bolamense em 1958.

E deste modo finda esta síntese informativa ao jornal Bolamense cuja leitura nenhum investigador das terras da Guiné deve descurar.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20143: Historiografia da presença portuguesa em África (175): O jornal Bolamense, fonte de informação e cultura (1956-1963) (2) (Mário Beja Santos)