domingo, 14 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22004: Blogpoesia (724): "Pelas esquinas das vielas"; "Sacadas de flores"; "Mar das imperfeições" e "Os lampiões das vielas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Pelas esquinas das vielas

Há surpresas a cada hora, pelas esquinas das vielas.
Enlaces e desenlaces.
Despedidas mui sofridas.
O mar se interpõe.
As ausências que se impôem.
Sabe-se lá até quando.
Os mares se interpõem implacáveis.
Pelo destino e pela fortuna.
É a sina que a sorte lhes traçou.
Ser marujo.
Já o foram os seus avós.


Berlim, 7 de Março de 2021m
Jlmg


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Sacadas de flores

São jardins pendentes
As varandas das casas da cidade.
São sonho dum jardim
Com terra e húmus.
Ficaram desertos na sua aldeia.
Luta da sobrevivência
Arranca cruelmente
Quem quer ganhar o pão
E vencer a vida.
Mas o coração ali fica preso
E nunca esquece.
Uma lei cruel.
Que só a injustiça dita alheadamente
E não repõe.


Berlim, 8 de Março de 2021
11h59m
Jlmg


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Mar das imperfeições

Vivemos mergulhados no mar das imperfeições.
Desde logo, é com dor de parto que todos nascemos.
Depois, a tarefa ingente de nos adaptar-nos às coisas deste mundo.
A saber falar com ele. Interpretar os seus caprichos.
A variação do tempo.
Ora chove ora faz sol.
Entendermo-nos uns aos outros.
Complicadas e variadas são as formas do falar.
Essa coisa de sermos homem ou mulher.
Os laços que nos prendem, desde a nascença.
Aos pais e aos mais próximos.
E aquele sentimento indefinido, que germina dentro de nós
E nos leva a amar quem nos quer bem.
Tudo são as faces inúmeras deste poliedro
Que é o enigma desta vida.
Fomos uns privilegiados.
Seríamos muito ingratos se a não soubéssemos aproveitar.


Ouvindo Albinoni

Berlim, 12 de Março de 2021
8h36m
Jlmg


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Os lampiões das vielas

Se acendem à noitinha e iluminam as madrugadas.
Com lua e sem sol, clareiam as ruelas.
Como faunos pelos bosques,
Vagueiam os ladrões.
Aparecem pelas esquinas.
Não são do bem suas facadas.
Grande risco andar nas ruas.
Só arrisca quem o quiser.
Vai longe o tempo em que se andava à vontade.
Era o respeito quem reinava...


Berlim, 10 de Março de 2021
14h47m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21977: Blogpoesia (723): "Atalhos da vida"; "Miam os gatos pelas ruelas"; "Melodias do Mondego" e "Lampiões das madrugadas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 13 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22003: Memória dos lugares (418): Sonaco e a loja do sr. Orlando; Fajonquito e o Teixeira (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, Contuboel, 1972/74)

Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco >  12º 23' 47'' N 14º  28' 55 W:  Localização da antiga loja do sr. Orlando, que ficava na "avenida" principal (que de ia de oeste para leste). Ao fundo, o rio Geba.


Foto nº 2>  Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco >  Outra vista da localização da antiga loja do sr-. Orlando, que ficava no lado direito da  "avenida" principal (que de ia de oeste para leste)



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco > Outra vista da localização da antiga loja do sr. Orlando, que ficava no lado direito da  "avenida" principal (que de ia de oeste para leste)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco > 12º 23' 47'' N 14º 28' 41'' W: Localização da antigo "aquartelamento", onde agora se ergue a mesquita local.
 

Infografias: Manuel Oliveira Pereira (2021) (com a devida vénia ao Google Earth]



Foto nº 5 > Guiné > Região de Bafatá  > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Foto nº 6 > Guiné > Região de Bafatá  > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Foto nº 7 > Guiné > Região de Bafatá  >  CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2021) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Manuel Oliveira Pereira,  na sequência de comentários ao poste P 21992 (*)

[O nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), é membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora]

Foto à esquerda: Contuboel, rua principal. Crédito: Francisco Allen & Zélia Neno (2006).  


Data: sábado, 13/03/2021 à(s) 00:22

Assunto: Sonaco e o sr. Orlando; Fajonquito e o Teixeira 
Manuel Oliveira Pereira,
no Rio Geba, c. 1972/74



Meu caro Luís, as minhas saudações.

O Sr. Orlando era um comerciante com estabelecimento de café e mercearia em Sonaco e ainda outros negócios, nomeadamente o gado bovino . 

A sua loja situava-se a meio da "avenida", no sentido do aquartelamento para casa do Chefe de posto administrativo. 

Curiosamente, e desde há algum tempo, mantenho (reactivei) amizade com as duas filhas,  de seus nomes Helena e Elsa.

Sim, conheço o Teixeira [, da CCAÇ 3549 / BCAÇ 3884, "Deixós Poisar" (Fajonquito, 1972/74)]. Não era da minha Companhia, mas faz parte de um " grupo" de amigos entre membros  das diversas Unidades que compunham o Batalhão  [, BCAÇ 3884, Bafatá, 1972/74]. 

Este grupo (re)encontrava-se - penso já te ter referido isso -, todo ou em parte conforme a disponibilidade de cada um, para além dos "convívios" anuais, e por norma, também, ir a todos (CCS, CCaç 3547, 3547 e 3548). 

Farei os possíveis para o "trazer" para a "Tabanca".

 Quanto aos " negócios" do Sr. Orlando, irei junto das filhas, saber pormenores para "enriquecer" o nosso espaço.

Abraço.
Manuel Oliveira Pereira

PS - Junto algumas fotografias de Sonaco. O nosso antigo aquartelamento é agora a Mesquita. O café do Sr. Orlando está assinalado (a meio da avenida) com o simbolo "localização", a vermelho (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21992: (Ex)citações (393): por que razão é que os fulas não gostavam de vender as suas vacas à tropa (Cherno Baldé, Bissau)

(...) Comentários:

(i) Manuel Oliveira Pereira:

Meu caro Cherno Baldé, como as tuas palavras me fazem recuar no tempo! 

Como sabes, não fazia parte dessa Companhia, mas como a amizade ficou, e independentemente da Companhia a que pertencíamos, vamos-nos (uns tantos) encontrando de tempos a tempos, em particular nos "convívios anuais". 

E é desses " convívios", que me recordo de ouvir o Teixeira (hoje empresário ligado ao comércio de motas), abordar essa questão, não propriamente, pela "comida", mas pelo carinho que sentia (nem sempre expresso) por essas crianças, entre elas tu, que circundavam o aquartelamento de Fajonquito. 

Recordo que um dos grandes intermediários na venda de vacas à "tropa", era o conhecido comerciante em Sonaco, o Sr. Orlando.

Fica o abraço, e vai continuando a contar-nos histórias do "teu" povo, que tanto me (nos) encanta.
Manuel Oliveira Pereira
CCaç 3547 - Os Répteis de Contuboel


(ii) Luís Graça:

Manuel Pereira, tens que nos falar desse sr. Orlando. 

Sonaco era, no meu tempo (1969/71),  o maior mercado abastecedor de gado vacum da nossa tropa. Ia-se de Bambadinca ate lá buscar vacas. 

Quem era esse Orlando ? Quem eram os seus fornecedores ?

E já agora conheces o Teixeira, trá-lo até nós...Era também uma alegria para o nosso irmãozinho Cherno. Ab. Luis

(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21841: Memória dos lugares (417): Ilha do Sal, Bissau, Prábis, Ponta do Inglês... Fotos do ex-fur mil Jorge Ferreira, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime,1964/66) (Rui Ferreira)
 

Guiné 61/74 - P22002: Da Suécia com saudade (88): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte II: John Philip Sousa (1854-1932), o rei das marchas militares


John Philip Sousa, c. 1900

Fonte: Crédito: "[John Philip Sousa, retrato cabeça e ombros, virado ligeiramente para a direita]." C1900. Divisão de Impressos e Fotografias da Biblioteca do Congresso.  
American Library   | Cortesia de Wikipedia


1. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West  (Florida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia...

Data: sexta, 19/02/2021 à(s) 18:38

Assunto: E...mais um português famoso nos States ... quase desconhecido em Portugal.


John Philip Sousa (1854-1932)


Nasceu em 1854 em Washington, DC,  EUA, filho de pai português, de origem açoriana,  e mãe alemã. E faleceu  em 1932 em Reading, Pennsylvania, aos
77 anos. Foi sepultado com honras oficiais em Washington, no Cemitério do Congresso.

Era o terceiro filho de uma família de dez crianças. O pai, João António de Sousa (John Anthony Sousa) (1824 – 1892), nasceu em Sevillha, Espanha, de pais portugueses. A mãe, Maria Elisabeth Trinkhaus (1826-1908) era alemã da Baviera.

John Philip Sousa foi maestro e compositor de inúmeras e célebres marchas militares. Entre outras o actual Hino dos Fuzileiros Navais Norte Americanos (Marines),  intitulado "Semper Fidelis" [, Sempre fiel ou leal], que pode ser ouvido aqui, no You Tube.

Foi, no entanto,  a marcha "Stars and Stripes Forever " que o colocou no lugar de rei das marchas e bandas norte-americanas, lugar que ainda hoje ocupa. É também o autor da marcha "Washington Post", entre muitas outras.

"Stars and Stripes Forever" foi designada em 1987 como a marcha oficial dos Estados Unidos sendo tocada em cerimónias tanto civis como militares. (Não confundir com o Hino Nacional dos EUA.)

Tendo recebido na juventude uma muito boa educação musical,  foi violinista em orquestras clássicas e posteriormente maestro

Prestou serviço nos fuzileiros navais, e depois na Marinha, cuja banda elevou então, como maestro (1880-1892),  ao mais elevado escalão de virtuosismo e execução em todos os Estados Unidos.

Fez tanbém uma notável carreira de compositor tendo entre 1879 e 1915 escrito 11 operetas,70 canções célebres,11valsas,12 peças musicais,11 suites, etc., etc.

Compôs também 136 marchas militares, célebres não só pelo ritmo como também pelos efeitos instrumentais.

Formou então a sua própria orquestra, em 1892, a "Sousa Band",  tendo criteriosamente escolhido músicos de alta competência em música clássica e também militar. Entre 1900-1905 efectuou concertos em todos os Estados Unidos,Europa, seguindo-se um Tour Mundial.

Em 1890 desenvolveu um tipo de trombone chamado "helicon" que,  fabricado então a partir das suas instruções,  passou a ser conhecido como o "Sousaphone ". É usado nas bandas militares e civis Norte Americanas chamando à atenção pelo seu tamanho e,não menos, forte som.

O nosso John Philip Sousa é famoso nos Estados Unidos como.....John Philip SUZA! 

Mas de qualquer modo é mais um famoso anericano, descendente de portugueses,  Famoso e ainda hije acarinhado. Mas o mesmo não se pode dizer do seu reconhecimento em...Portugal!

J.Belo.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22001: Os nossos seres, saberes e lazeres (440): Voltei a Abrantes e nem tudo está como dantes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Tomem este conjunto de imagens e apreciações como um aperitivo, uma viagem de reconhecimento, há muito congeminada e desejada e por razões espúrias adiada. Feita em tempo de pandemia, com a generalidade dos edifícios fechados, levava-se bússola e houve que aproveitar entre o castelo-fortaleza, o centro histórico e o Tejo o tempo outonal com o seu anoitecer precoce. Tomaram-se notas, o regresso é muito mais do que uma promessa, há aqui património edificado e natural a chamar a nossa atenção. Ir-se-á corresponder ao apelo.

Um abraço do
Mário


Voltei a Abrantes e nem tudo está como dantes

Mário Beja Santos

Registo com mágoa que passara por Abrantes duas vezes, a chamada visita de médico, sair de um transporte, alimentar o estômago, perorar e responder a perguntas, voltar ao transporte e regressar a casa, guardara-se a recordação de uma cidade com um derramado centro histórico entre o castelo-fortaleza e as fímbrias do rio Tejo, que aqui corre ondulante e em largueza. Esta é, pois, a primeira visita com o título de preparatória, pego em literatura institucional, obra da Câmara Municipal de Abrantes de 2009, arruma-se o carro junto à Igreja de S. Vicente e adverte-se o leitor que Abrantes tem história remota e desenvolveu-se na nossa pátria graças à política de defesa territorial da linha do Tejo, muito provavelmente em meados do século XII, é seguro que Afonso Henriques doou o castelo à Ordem de Santiago da Espada. Há muito para ver: a arquitetura militar é relevante, lá nos altos da fortaleza subsistem elementos do Palácio dos Governadores, há a imponência dos baluartes, dentro deste espaço defensivo incrustou-se a Igreja de Santa Maria do Castelo, Panteão dos Almeidas e daqui passamos para a arquitetura religiosa. É princípio da tarde, estamos em tempos de pandemia, não há portas abertas para percorrer o interior. S. Vicente vem do século XIII, não faltam remodelações, as do período filipino deixaram marcas indeléveis, só tem uma torre sineira. Contempla-se com imenso prazer a fachada onde se destaca um interessante pórtico-retábulo. Lê-se no seu interior que está marcado pelo barroco, tem azulejaria de meados de Seiscentos. Deliciei-me a percorrer as estruturas entre os arcobotantes, a igreja é contrafortada e mesmo assim não fica com aquele ar de templo acastelado.
Antes de me lançar no centro histórico, não resisti a contemplar o Cineteatro S. Pedro, edifício de meados do século XX, modernista, é uma bela arquitetura, vê-se sem dificuldade que é merecedor de restauro e que lhe deem bom uso. Num passeio a Castelo Branco dei com a transformação do respetivo cineteatro numa sala pluriusos, desde fados e guitarradas, passando pela música de câmara e sessões de cineclube, a agenda é farta, oxalá que depois de o vírus se ir embora embelezem este belo edifício e o tornem um agradável espaço cultural, gostei também muito dos elementos escultóricos da parede lateral, também a pedir limpeza.
Dói um tanto ver estas fachadas escalavradas na velha Abrantes que irei percorrer até ao mercado, gosto do nome das ruas, e sinto-me enternecido por muitos se terem esquecido de uma abrantina dileta, Maria de Lurdes Pintasilgo, de quem tive o privilégio de ser amigo, acompanhei-a, entusiasmado, na sua jornada presidencial, o seu pensamento continua no topo da contemporaneidade, lê-la agora, nestes tempos de maior corrosão de caráter, de campanhas de ódio, de falsificação de notícias, de patrões dos média pretenderem manter-nos aterrorizados, é uma festa para o espírito rever as suas predições e o seu feminismo retemperado, o seu permanente convite ao aprofundamento da democracia na malha dos cidadãos ativos. Ainda bem, estimada Lurdes, que o teu berço não te esqueceu.
Lá vou a caminho do mercado, e a salivar numa paragem para comer uma tigelada e levar um pouco de palha de Abrantes. Regresso ao livro que despoletou esta visita: “Em Abrantes, as construções são em alvenaria de pedra, sobretudo a calcária, mas também, pontualmente, se observa o granito e o xisto. Relativamente à forma, as casas apresentam uma volumetria variável e estreita, moldando-se organicamente à morfologia do terreno. Na sua maioria, têm mais do que um piso, atentando o nível de urbanidade de Abrantes no Antigo Regime”. E sempre a mirar este casario, em muitos casos a pedir obras, passa-se pela fachada da igreja de S. João Baptista, mais outra que resolveu merecer consideração no período filipino. Merece bem a nossa atenção, é uma fachada de erudição admirável, de configuração sóbria e desornamentada, tem algo de palácio, provoca equívoco na tipologia e organização do espaço, podia ser tomada como um palácio, repito. Estava fechada, consta que o seu acervo é merecedor da nossa atenção, pois bem, ficará para um dia de visita quando Abrantes puder estar de portas abertas.
A Igreja da Misericórdia, segundo consta nesta obra, tem um património notável. À igreja adossou-se um edifício de dois andares, parece que num pequeno claustro há uma extraordinária cisterna e as fotografias que vi da sala de reunião dos mesários provoca deslumbramento. Postei-me em frente da fachada, pois claro, e tomo nota do que consta deste livro sobre o centro histórico de Abrantes: “Destaca-se o pórtico em trabalho de pedra calcária de modelação renascentista, desde logo no perfil em verga reta e nas pilastras que o delimitam. No remate da porta evidencia-se um tondo (composição de pintura ou escultura em forma redonda) onde temos um dos temas mais caros à irmandade, a Mãe Universal. Trata-se da Virgem da Misericórdia, ladeada por anjos que seguram o seu manto, símbolo de amparo”. O seu interior tem riqueza profusa e muito boa azulejaria, conserva mobiliário muito raro, enfim, templo de visita obrigatória. Saciado o estômago, retoma-se o passeio para uma quota mais elevada, a fortaleza-castelo, sabe-se que não há circunstância de visitar galerias ou a biblioteca, já se passou por um belo jardim, e há a promessa de que o jardim do castelo seja um regalo para os olhos.
A Igreja de Santa Maria do Castelo estava fechada, nada de mirar as preciosidades arqueológicas e o Panteão dos Almeidas. Lê-se num folheto que esta torre de menagem vem dos tempos provectos e há até mesmo uma lápide que recorda a visita D’El-Rei D. Pedro V. Cá em cima dá bem para perceber como no passado se moldaram duas Abrantes, a circunvizinha deste espaço tutelar e defensivo e aquela que vivia da azáfama do Tejo. Falou-se do período filipino, a Restauração veio reafirmar a relevância do castelo na estratégia militar no espaço da antiga província da Estremadura, não foi ao acaso que por aqui passou uma tumultuosa invasão napoleónica. No século XVIII, o Marquês de Abrantes iniciou a reconstrução do paço pertencente à sua família, como acontece frequentemente entre nós o que se começou não se concluiu e o tal majestoso palácio foi parcialmente destruído devido às obras de fortificação. O general Junot também permaneceu aqui uma boa temporada. Tudo somado e multiplicado, passeamos entre vestígios, só a torre de menagem está conforme, sabemos que é medieval e tem baluartes do século XVIII. Da tal magnificência do Palácio do Marquês restam onze arcos de volta perfeita, preenchendo o paramento de uma das muralhas.
A vista da torre de menagem é deslumbrante, vê-se à vista desarmada o Tejo a serpentear entre terras férteis, passeia-se entre baluartes, percebe-se agora com mais clareza a urbana Abrantes e a circunvizinhança, o jardim do castelo é aquilo que vemos. Para visita de reconhecimento, damo-nos por esclarecidos, há que preparar com mais critério para, pelo menos um dia inteiro aqui se deambular pelo centro histórico, entre maravilhas de arquitetura militar, religiosa e civil, e encontrar os vestígios do passado e do presente, quanto ao mais o Tejo parece uma espinha dorsal e lá de cima, da torre de menagem, sente-se perfeitamente o que é a marca de água das terras ribatejanas. Até à próxima!
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21975: Os nossos seres, saberes e lazeres (439): Fui visitar Alves Redol e Álvaro Guerra, Vila Franca de Xira recebeu-me em festa (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22000: Memórias cruzadas da região do Xime: a Op Garlopa e o ataque ao Enxalé, em 19 de julho de 1972, ao tempo da CART 3494 (Jorge Araújo)


Imagem de satélite da região do Xime/Enxalé [Sector L1] com infografia da área percorrida durante a «Operação Garlopa» e o modo como foi pensado/executado o ataque IN ao Enxalé, factos ocorridos ao longo do dia 19 de Julho de 1972, 4.ª feira, e que fazem parte das muitas memórias gravadas pelo colectivo da CART 3494 (1971/74).

 


Foto 1 - Enxalé (Jul'72). Uma das áreas atingidas durante o ataque IN à tabanca e ao Destacamento do Enxalé, onde se encontrava o 2.º Gr Comb da CART 3494, ocorrido em 19 de Julho de 1972, 4.ª feira, a partir das 20h20, e que teve uma duração de 20 minutos (aproximadamente). 

 


Foto 2 - Xime (19Jul72). Grupo de elementos da população sob controlo do PIAGC, no subsector do Xime, capturado em 19 de Julho de 1972, no decurso da «Operação Garlopa», num total de 10 indivíduos.


Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494

(Xime-Mansambo, 1972/1974)

MEMÓRIAS CRUZADAS DA REGIÃO DO XIME EM 19 DE JULHO DE 1972 (4.ª FEIRA) NO TEMPO DA CART 3494

- A «OPERAÇÃO GARLOPA» E O ATAQUE IN AO ENXALÉ -

► ADENDA AO P21960 (02.03.2021)

1.   - INTRODUÇÃO



Previno, desde já, que a presente adenda ao poste acima mencionado, não está directamente relacionada com a narrativa "do baú de memórias" do camarada José Ferraz de Carvalho, ex-fur mil op esp da CART 1746, titulada "não matem a bajudinha!", mas aproveita a legenda da foto que nela consta para a cruzar com outras "Memórias do Xime", em que estivemos envolvidos três anos depois, eu e o camarada cmdt António J. Pereira da Costa… entre outros, naturalmente!


2. - «OPERAÇÃO GARLOPA» EM 19 DE JULHO DE 1972.  


●► A «OPERAÇÃO GARLOPA I», também designada por "Acção", foi agendada para o dia 19 de Julho de 1972, 4.ª feira, para a qual foram mobilizadas as seguintes forças:


■ CCAÇ 12 – a 4 Gr Comb

■ CART 3494 – a 3 Gr Comb

■ CCP 121 – a 2 Gr Comb

■ Apoio aéreo de DO-27 e Helicanhão.


Segundo o livro da "História do BART 3873", p. 75 (capa ao lado), apenas consta o seguinte: "o percurso definido para esta operação/acção foi: "Bambadinca - Xime - Ponta do Inglês - Ponta Varela e Xime, consistindo numa batida, precedida de batimento da Artilharia do 20.º Pel Art (sediado no Xime) e heli-colocação (CCP 121). 


As NT destruíram oito tabancas, vários celeiros e recuperaram dez elementos da população (sob controlo do PAIGC). As NT não sofreram consequências.


Nota: Os locais anteriormente citados estão identificados na infogravura acima.


▬ OUTRAS «OPERAÇÕES» COM O MESMO NOME


●► «GARLOPA II» = Em 22 de Julho de 1972, sábado, envolvendo as seguintes forças:


■ CCAÇ 12 – a 4 Gr Comb

■ CART 3494 – a 3 Gr Comb

■ CART 3493 – a 1 Gr Comb

■ Apoio aéreo de DO-27 e Helicanhão.


A mesma fonte (pp 78-79) refere: "desencadeou-se a "operação/acção" com patrulhamento, emboscada e prévio batimento da Zona, na área de Xime - Madina Colhido - Ponta do Inglês e Poindom. Destruíram-se uma tabanca com dezassete moranças e capturaram-se peças de fardamento usado.


O IN flagelou com RPG-2 a CART 3494, causando-lhe um ferido ligeiro.


Além disso cumpre assinalar o denodo e destemor com que os Militares empenhados encaram os momentos de perigo, tal como sucedeu na flagelação havida no desenrolar da acção «GARLOPA II», aspecto este que se pode e deve reputar uma constante.


●► «GARLOPA III» = Em Setembro de 1972 (?), envolvendo as seguintes forças:


■ CCAÇ 12 – a 3 Gr Comb

■ CART 3494 – a 3 Gr Comb

■ Apoio aéreo de DO-27 e Helicanhão.


Sobre a 3.ª «GARLOPA», segundo a mesma fonte (p 81), é referido: "consistiu em patrulhamento e emboscada na zona Xime - Madina Colhido - Estrada da Ponta do Inglês e Poindom. As NT foram atacadas duas vezes no espaço de meia hora, sofrendo um ferido ligeiro.


3. - «ATAQUE AO ENXALÉ» EM 19 DE JULHO DE 1972.


Para o desenvolvimento deste ponto, recuperamos alguns factos historiográficos já publicados no Blogue, em particular a narrativa do meu/nosso camarada e amigo Luciano de Jesus (ex-fur mil art da CART 3494), escrita na primeira pessoa, por nele ter estado envolvido numa dupla missão: a primeira, por ser mais um elemento do grupo; a segunda, por ser o seu líder.

◙ Cito do P14022:

"Eram vinte horas e vinte minutos da data supra, estava eu a jantar na companha do furriel Benjamim Dias, quando rebentou o fogachal que logo fez estoirar com toda a iluminação do quartel. No céu via-se o rasto das balas tracejantes que tinham por missão orientar o fogo das armas pesadas em direcção do quartel. O furriel Dias saltou de imediato para o abrigo do nosso morteiro e fez um trabalho exaustivo de bater toda a zona circundante.

Eu fui ao gabinete buscar o mapa dos pontos marcados pela nossa bateria de obuses do Xime (20.º Pel Art), com o objectivo de orientar o nosso fogo pesado, logo que se localizassem os pontos de origem do fogo pesado IN. Nesse percurso passou uma canhoada a cerca de dez metros de mim que entrou pelo depósito de géneros, causando alguma destruição. Entretanto, o nosso posto mais acima no quartel, onde tínhamos alguns elementos utilizando também um morteiro pesado, fazia o seu trabalho de contenção, a um eventual avanço, respondendo em conformidade.

O ataque durou cerca de vinte minutos.

O grupo de assalto IN movia-se perto do arame farpado, fazendo fogo. O nosso pessoal despejava metralha. Uns enchiam carregadores e outros disparavam. A bazuca não funcionou. Esperámos nova vaga… mas ela não aconteceu… porque eles tiveram algumas baixas, graças à competência do nosso camarada Fur Art Josué Chinelo, do 20.º Pel Art [obuses 10,5] instalados no Xime, onde este observava perfeitamente, em posição privilegiada da margem esquerda do rio Geba, o desenrolar dos acontecimentos.

Com a sua experiência e saber, ainda que a olho nu, apontou ao ponto de origem do fogo pesado IN (canhão s/r) e… foi na muche. Acertou no posto de comando e fez algumas baixas entre os quais o comandante. Entretanto eles já tinham despejado o fogo todo.

Nessa altura chegou a milícia da tabanca com um ferido grave, um sargento de um dos pelotões. Ainda enviamos um grupo até ao rio para evacuar o ferido para o Xime e recolher mais munições, pois o stock tinha ficado muito em baixo. O ferido entretanto veio a falecer durante a caminhada.

No dia seguinte, como seria de esperar, fizemos o reconhecimento do terreno. Encontrámos um ferido IN junto ao arame farpado; tinha um ferimento grave nas costas e outro na perna e estava em mau estado, crivado de estilhaços.

É de assinalar que este ferido pertencia ao grupo de assalto; tinha vindo da zona do Morés. Estava ferido, mas que eles julgaram morto por isso levaram a sua arma. Vestia uma farda de nylon verde azeitona, calçava bota de lona francesa e as calças tinham elásticos nas bainhas para passar por baixo do pé. Estava, pois, devidamente equipado.

Viemos a saber dias depois, por informantes privilegiados, que o IN, constituído por uma força de 150 unidades (3 bi-grupos, sendo 1 CE), reforçados com 1 canhão s/r, dois morteiros pesados, mais de uma dezena de RPG e um grupo de assalto, tinham feito a sua aproximação durante o dia. Ficaram na orla da bolanha e quando anoiteceu montaram o dispositivo. Um grupo de assalto [o do ferido] oriundo de um mangal e outro arvoredo do lado esquerdo do quartel [para quem está de costas para o Xime, logo a seguir ao final da bolanha).

O mais curioso é que montaram o canhão s/r na bolanha, junto a uma árvore isolada, e que não era visível do quartel mas amplamente observada do Aquartelamento do Xime e que foi [bem] aproveitado pela experiência do Josué Chinelo.

Dois dias depois fui de férias e foi aí que o Jorge Araújo se deslocou ao Enxalé até à chegada do Alferes José Henriques Araújo (1946-2012)".

Para além do guerrilheiro ferido, foram recuperadas cinco dezenas de invólucros de granadas de canhão s/r, um deles ainda com a respectiva granada, que não foi retirada devido ao facto de estar amolgado, e muitas dezenas de invólucros de outras munições, nomeadamente 7,62.

Do ataque ficaram, também, mais duas imagens "memórias" desse combate nocturno, que seguidamente se reproduzem.

 


Foto 3 - Enxalé (Jul72). Um chapéu "cubano" recuperado após o ataque de 19Jul72.




Foto 4 - Enxalé (Jul72). Imagens dum RPG-7 destruído durante o ataque de 19Jun72.



 

▬ O QUE DIZ A "HISTÓRIA" DO BART 3873 SOBRE ESTA OCORRÊNCIA


●► No 4.º fascículo; Julho de 1972, ponto 31. «INIMIGO»; alínea d) Subsector do Xime; refere-se o seguinte:


● "Em 192030, o Destacamento do ENXALÉ foi intensamente atacado e durante 20 minutos. A nossa reacção surgiu pronta e ajustada. Sofremos 1 morto [Milícia] e 2 feridos [Milícias]. O inimigo: 4 mortos, 7 feridos e 1 prisioneiro [ferido]. Salienta-se o tiro acertado de Artilharia do XIME em apoio às forças atacadas.


● Quanto ao ferido [prisioneiro], foi evacuado, primeiramente, para a enfermaria do Xime, sendo aí prestados, pelo camarada Fur Mil Enf Carvalhido da Ponte, todos os actos de enfermagem que se impunham, dos quais fui testemunha, seguido do pedido de evacuação para o Hospital Militar de Bissau (HM 241).

Estava, de facto, muito mal tratado, e ainda hoje me interrogo como é possível um ser humano resistir tanto tempo, sempre a perder sangue. O seu corpo mais parecia um "mapa político" onde, em cada estilhaço, estavam projectados vários espaços. 

Enquanto aguardava pela sua evacuação, perguntei-lhe se queria comer algo. Com um sinal positivo transmitido por um pequeno movimento de cabeça, pedi ao cozinheiro Machado algumas batatas cozidas, que já estavam prontas para o almoço desse dia, vindo a comer algumas metades… mas com muita dificuldade. Enfim… lá foi; mas a minha/nossa melhor expectativa era muito baixa.

Segundo informação oral dada, recentemente, pelo camarada Luciano de Jesus, algum tempo após o ataque, um elemento do seu Gr Comb, ao deslocar-se ao HM 241 em consulta externa, acabou por encontrar este guerrilheiro ferido, estando ele em franca recuperação.

    

▬ A MINHA IDA PARA O ENXALÉ DOIS DIAS DEPOIS


●► Dois dias após o ataque fui "convidado", pelo camarada Cmdt Pereira da Costa, para ir dar uma ajuda ao 2.º Gr Comb do Enxalé, aliás como é referido acima. E lá atravessei o Rio Geba, que as imagens abaixo confirmam.




Foto 5 - Rio Geba (21Jul72). Travessia em canoa entre o Xime e o Enxalé com o objectivo de apoiar o 2.º Gr Comb da CART 3494,  na sequência do ataque IN.

 


Foto 6 - Enxalé (22Jul72). Eu na companhia do camarada Fur Benjamim Dias e de dois elementos da população da tabanca, onde estes fizeram questão de partilhar connosco algumas porções de carne, como reconhecimento do nosso apoio.




Foto 7 - Enxalé (22Jul72). O Furriel Benjamim Dias em amena cavaqueira com alguns elementos da população, onde se falava, ainda, do episódio da antevéspera. 


 

4. - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 3494

       = XIME - ENXALÉ - MANSAMBO - BAMBADINCA - PONTE DO RIO UDUNDUMA (1971-1974)


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada 2 [RAP2], de Vila Nova de Gaia, para cumprir a sua missão ultramarina no CTIG, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira e última Unidade de Quadrícula do BART 3873, do TCor Art António Tiago Martins (1919-1992), embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, em 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», sob o comando do Cap Art Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques (o 1.º; até 22Abr72), Cap Art António José Pereira da Costa (o 2.º; de 22Jun72 a 10Dez72) e Cap Mil Inf Luciano Carvalho da Costa (o 3.º; de Dez72 a 03Abr74), tendo chegado a Bissau em 28 do mesmo mês.



4.1 - SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494


Após a realização da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional «IAO», que decorreu no CMI do Cumeré, de 30Dez71 a 26Jan72, a CART 3494 seguiu em 28Jan72, em LDG, para o Xime, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CART 2715 [25Mai70-25Mar72; do Cap Art Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014) - (1.º)], assumindo, em 15Mar72, a responsabilidade do respectivo subsector do Xime com um Gr Comb (o 2.º) destacado em Enxalé. 

Em finais de Mar73, foi substituída pela CCAÇ 12 [do Cap Mil Inf José António de Campos Simão] e foi colocada no subsector de Mansambo, onde rendeu a CART 3493 [28Dez71-02Abr74; do Cap Mil Inf Manuel da Silva Ferreira da Cruz], tendo destacado um Gr Comb para Bambadinca em reforço da guarnição local. 

Em 09Mar74, foi rendida no subsector de Mansambo pela 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 [05Jan74-12Set74; do Cap Mil Inf Augusto Vicente Penteado] e recolheu seguidamente a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso, tendo ainda colaborado na segurança de operações de descarga de navios. 


O regresso à metrópole realizou-se em 03 de Abril de 1974, a bordo do TAM (Transporte Aéreo Militar), (CECA; 7.º Vol; pp. 236-237).


Fontes consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

03Mae2021

sexta-feira, 12 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21999: Agenda cultural (769): "Judeus portugueses na América: uma outra diáspora", de Carla Vieira (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2021, 344 pp.)


 Carla Vieira: "Judeus portugueses na América: uma outra diáspora" (2021). 


Título: Judeus Portugueses na América: Uma outra diáspora
Autora: Carla Vieira
ISBN: 9789896269036
Ano de edição ou reimpressão: 03-2021
Editor: A Esfera dos Livros
Idioma: Português
Dimensões: 165 x 235 x 20 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 344
Tipo de Produto: Livro 
Classificação Temática: Livros > Livros em Português > História > História de Portugal

Preço de capa: c. 18,5 €

Fonte: Bertrand Livreiros

Sinopse:

A Liberdade, que desde 1886 recebe de chama na mão quem se aproxima de Manhattan, guarda aos seus pés a memória de uma diáspora com origens no outro lado do Atlântico.
Emma Lazarus, a autora do poema gravado no pedestal da estátua, conseguia recuar a sua ancestralidade até um judeu de Lisboa que, em 1738, chegara naquela mesma cidade de Nova Iorque. Mas a história dos judeus portugueses na América do Norte havia começado bem antes, quando, em meados do século XVII, o navio St. Catrina aportou em Nova Amesterdão, trazendo a bordo 23 refugiados do Recife.

A gesta continuou ao longo das décadas e séculos seguintes, repleta de personagens inolvidáveis. Do rabino patriota ao príncipe mercador, do herói revolucionário ao daguerreotipista do Faroeste, da matriarca que escrevia poemas ao médico que catalogava as maleitas da Virgínia, este livro revisita estas e outras histórias de judeus portugueses que marcaram os primórdios dos Estados Unidos da América.

O presente livro resgata do esquecimento as histórias destes indivíduos cujas vidas espelham a extraordinária epopeia dos judeus portugueses, uma outra «Expansão» da língua e cultura ibéricas pelo mundo, perpetuada por um grupo marginal, perseguido, alvo de ostracismo, mas, ainda assim, capaz de se reinventar, de reconstruir vidas e fortunas, e de manter aceso o sentimento de pertença a uma entidade grupal que atravessava impérios e culturas. 

Lá fora, apelidavam-nos de «a nação portuguesa».Apesar de dignas de nota, estas e outras histórias da diáspora judaico-portuguesa na América do Norte têm sido praticamente votadas ao silêncio pela historiografia portuguesa. Um silêncio ainda mais ensurdecedor quando comparado com a proficuidade com que a literatura norte-americana trata o tema, mote de numerosos livros e artigos publicados em periódicos de referência.

Suprimir uma lacuna? Só em certo ponto. Afinal, esta não é uma obra historiográfica. É um livro de divulgação científica, destinado ao leitor comum, que não abrirá este volume à procura de material e referências para o seu trabalho académico. O rigor nos dados transmitidos e a metodologia aplicada na busca de informação são comuns a um estudo historiográfico, mas não a forma nem os objectivos. 

A intenção é que o leitor se envolva na trama partindo de casos particulares, em registo biográfico, que abrem janelas para um retrato do tempo e das comunidades em que se inserem e dos episódios históricos dos quais participam. 

O aparato crítico inerente a um estudo historiográfico, como as notas referenciais ao longo do texto, foi sacrificado em prol de maior fluidez do texto. Para minorar essa ausência, no final do livro poderá encontrar uma breve nota sobre as fontes e bibliografia consultadas na composição de cada um dos capítulos. E ainda há muito mais por saber.


Autor: Carla Vieira

Carla Vieira é investigadora de pós-doutoramento no CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e membro da Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste. 

Nos últimos anos, tem centrado a sua pesquisa em torno da diáspora sefardita e das relações luso-britânicas no século xviii. É autora de vários artigos científicos publicados em revistas da especialidade portuguesas e internacionais, bem como dos livros 

(i) Uma amarra ao mar e outra à terra. Cristãos-novos no Algarve (1558-1650) (2018), baseado na sua tese de doutoramento, 

(ii) Mendes Benveniste. Uma família nos alvores da Modernidade (2016), em co-autoria com Susana Bastos Mateus, 

e (iii) Olhão, Junho de 1808. O levantamento contra as tropas fracesas através da imprensa e literatura da época (2009), que recebeu o Prémio Nacional de Ensaio Histórico Francisco Fernandes Lopes.

Para mais informações ou contato com a autor:

Victoria Gallardo > victoria.gallardo@esferalibros.com

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P21998: Agenda cultural (768): a propósito do livro "Ataque a Conacry: História de um Golpe Falhado", José Matos deu uma entrevista à RTP - África, no passado dia 9



Capa do livro, montagem do editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 
com a devida vénia. O  livro é publicado sob a chancela da  Fronteira do Caos Editores
Lisboa, 2021.


1. Mensagem do José Matos, historiador militar e membro da nossa Tabanca Grande, ainda a propósito do seu livro (em coautoria com Mário Matos e Lemos), "Ataque a Conacry: História de um Golpe Falhado" (Lisboa, Fronteira do Caos, 2021, 170 pp., il.) (*):

Date: quarta, 10/03/2021 à(s) 10:43
Subject: Re: Mar Verde

Olá, Luís

A respeito do livro sobre a Mar Verde enviava-te mais alguma informação sobre o seu conteúdo, que podes publicar no blogue.

O livro está dividido em 4 capítulos de forma a enquadrar a operação no período em que Spínola esteve na Guiné. Vejamos então o que é abordado.

Capítulo 1- Spínola na Guiné - Começa com a nomeação do general Spínola para a Guiné e faz uma análise do seu desempenho até à Mar Verde.

Capítulo 2 - Os antecedentes da Mar Verde - Neste capítulo são analisados os contactos entre as autoridades portuguesas e os movimentos dissidentes guineanos com especial de destaque para a FLNG [, Frente de Libertação Nacional da Guiné-Conacry].

Capítulo 3 - A invasão de Conakry - Aqui é analisada a preparação da invasão e a sua execução.

Capítulo 4 - A impossibilidade de uma solução militar - Uma análise sobre o período seguinte com as tentativas de Spínola para negociar uma solução para resolver o conflito na Guiné.


Ver, entretanto, a  partir do minuto 24:56, a entrevista que dei para a RTP África sobre o livro,