sexta-feira, 16 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22376: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (61): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Está para breve a digressão em torno de vários cemitérios na Flandres, Paulo prometeu a um amigo identificar e fotografar lápides de vários familiares. Sempre zelosa, e ajudada por um bambúrrio da sorte, Annette adquire num alfarrabista de Bruxelas um Guia Michelin sobre campos de batalha da I Guerra Mundial, as batalhas de Ypres entre 1914 e 1918, cerca de dois milhões de mortos, o sonho da Alemanha Imperial em obrigar os britânicos a retirar e conquistar a França. Annette confessa a Paulo que aquelas fotografias mostrando Ypres completamente arrasada, templos e casas vetustas reduzidas a escombros, os impressionantes cemitérios dos Aliados e dos Alemães pareciam suficientes para jamais se pensar em guerra, só que ela regressou cerca de 20 anos depois mais avassaladora que os gases-mostarda e aqueles canhões que à distância de 14 quilómetros reduziam cidades a cinzas. Ficou estupefata quando leu o comentário que naquele dia 9 de abril de 1918 o Corpo Expedicionário Português sofrera um desastre tão grande, que aproximava a tragédia a algo que não se via desde Alcácer Quibir. E Annette vai escrever logo de seguida uma operação que Paulo viveu na região do Xime, em 8 de março de 1970, a cerca de meio ano de findar a sua comissão, será a única operação que lhe deram para delinear e executar, e Paulo confessa que teve muito orgulho nos resultados obtidos, regressou sem mortos e feridos e apanhou os guerrilheiros numa surpresa total.

Um abraço do
Mário


Rua do Eclipse (61): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Mon adoré Paulo, mon triomphe de l’amour, imagina tu a sorte que tive, num alfarrabista do Boulevard Lemonnier, a uma curta distância da Rua do Eclipse, encontrei a um preço irrisório, de um conjunto de guias ilustrados Michelin da I Guerra Mundial, uma edição de 1919 sobre Ypres e as batalhas de Ypres, propondo viagens com partida e chegada em Lille (diga-se, de passagem, que depois de consultar as cartas geográficas, é o mais lógico itinerário que devemos seguir para encontrar as lápides funerárias dos tais John Minton, Craig Lloyd, Robin Stewart, e depois seguimos para Calais, ando à procura dos cemitérios). Confesso-te que dormi mal, sei que esta guerra foi o horror dos horrores, que na região de Ypres morreram dois milhões de homens, que se travaram batalhas sanguinolentas, autênticas carnificinas, e sei o que os portugueses sofreram na última ofensiva alemã, iniciada em 7 de abril e que apanhou o contingente português a 9 de abril, ali acontecendo uma tragédia, diz o guia que foi a maior que os portugueses sofreram depois da batalha de Alcácer Quibir.

Os próprios autores do guia se interrogam como foi possível escolher aquele terreno, uma bacia natural formada por uma planície marítima cheia de canais, com pequenas colinas arborizadas, mas sobretudo pensar que esta rede de canais do rio Yser, cheia de riachos, um verdadeiro sistema hidrográfico incompatível com o modelo de guerra que ocorria noutros sítios, o das trincheiras. Daí a singularidade desta frente, onde os nevoeiros e as chuvas torrenciais descarnaram o solo que está quase ao nível do mar, é uma terra esponjosa, a 30 centímetros da crosta parecem logo lençóis de água, imagina agora a potentíssima artilharia a destruir Ypres e os destacamentos dos Aliados, uma região cheia de quintas que se irão tornar fortins com bunkers cimentados cercados de arame farpado. É neste cenário que em breve iremos visitar que irão ocorrer a violenta ofensiva alemã de 1914, a contraofensiva aliada de 1915, um compasso de espera até 1917, a ofensiva alemã de 1918 e a resposta aliada nas planícies da Flandres, quando a Alemanha já está exangue e pedirá o Armistício.

Estou a sublinhar alguns dos dados destas quatro grandes batalhas que envolveram a Alemanha Imperial que aqui implantou dois exércitos e um sistema impressionante de artilharia, alguns dos melhores canhões da época, do outro lado britânicos, canadianos, neozelandeses, franceses e belgas. Os alemães pretendem chegar até ao Mar do Norte, destroçar os britânicos, o imperador alemão pretende fazer uma entrada solene em Ypres, haverá lutas encarniçadas à volta da saliência de Ypres, recuos e avanços de um lado e do outro, tudo isto entre outubro e novembro de 1914, tudo ficará num impasse. Exasperada pelo seu insucesso, a Alemanha Imperial vai sistematicamente destruindo Ypres com bombas incendiárias. Pelas consultas que fiz, creio que Craig Lloyd irá morrer a 17 de dezembro, o Exército Alemão lançou um violento ataque sobre Langemarck e Bixschoote, foi uma autêntica tempestade de lama, na retirada os belgas inundaram os campos.

Espero não te estar a aborrecer com estes pormenores, é na ofensiva alemã de 1915 que surgem os gazes asfixiantes, tudo começava com uma nuvem de fumo de cor verde, uma brisa ligeira avançava para o campo dos Aliados que caíam asfixiados num sofrimento atroz. Tu já me tinhas feito a referência a um livro escrito por um historiador português, Jaime Cortesão, médico, que descreve o horror de um contingente português a entrar em Lille afetado por esses gases, em carne viva e muitos deles cegos, claro que mais tarde, visto que a vossa presença é posterior à ofensiva aliada de 1917 que, segundo o guia, teve seis fases, a tomada de linhas alemãs entre julho e agosto e a resposta alemã de agosto a setembro, uma resposta dos Aliados entre setembro e outubro e a ofensiva britânica de outubro, novos ataques entre outubro e novembro, a partir daí considera-se que Ypres fica fora de perigo de uma ofensiva brutal dos alemães. O resto tu deves saber perfeitamente. Com o Tratado de Brest-Litovsk, a Rússia é posta fora de combate, a Roménia assina a paz, a Itália está neutralizada, a Alemanha Imperial desloca todos os homens e equipamentos para a frente ocidental, o general Ludendorff, à frente de um número impressionante de divisões pretende atirar os britânicos para o mar e temos a rotura da frente em 9 de abril, demorou semanas a neutralizar estes assaltos alemães que se irão prolongar até 29 de abril. O resto tem a ver com a ofensiva libertadora e o fim da guerra.

Meu adorado, é evidente que tudo mudou desde 1919, Ypres foi reconstruída bem como todas as povoações-mártir, temos museus em locais onde se travaram batalhas, penso que era útil partirmos de Bruxelas para Lille e fazermos a primeira viagem até ao cemitério britânico de Tloegsteert, iríamos depois de Messines até Passchendaele, aqui está sepultado o tio do teu amigo Colin, John Minton, há vários cemitérios alemães, indico-te, pois, quais são, na eventualidade de os quereres visitar. E iríamos de Passchendaele a Ypres, o memorial é impressionante, há todos os dias sem interrupção um cerimonial de homenagem a todos os que caíram em nome da liberdade, já anotei o cemitério ao pé de Ypres onde está sepultado Robin Stewart. Este Guia Michelin é assombroso, mostra-nos ainda Ypres completamente em ruínas, palácios e casas muito antigas reduzidas a escombros, os templos religiosos muito danificados. Tens que me dizer abertamente se achas bem este itinerário para as visitas dos cemitérios de Ypres. A última etapa seria de Poperinghe para Lille, folheio esta obra e interrogo-me como foi possível cerca de 20 anos depois termos voltado às carnificinas e às dezenas de milhões de mortos.

Está praticamente coligido o material referente à Operação Rinoceronte Temível, pelas informações do meu coordenador, trabalho amanhã numa reunião do Comité Económico-Social, provavelmente acabará muito cedo, venho para casa e enviar-te-ei o meu relatório, se me permites usar a expressão. Não me tivesses tu enviado um documento policopiado dessa operação e ter-me-ia passado pela cabeça que era tudo pura ficção. Quem é que pode acreditar que andaste com centenas de homens numa noite escura dentro de quilómetros de arrozais, na mira de obteres surpresa sobre os guerrilheiros? E o que me admira é que foste bem-sucedido, bateste a zona ocupada e retiraste sem um ferido. Vem depressa, sei que é repetitivo, talvez muito cansativo para ti, mas é uma dor insuportável a tua ausência. Bisous, milles, mon amour éternel, Annette.

(continua)

Imagem iconográfica da terceira batalha de Ypres
O interior de uma trincheira, imagem do consagrado filme 1917
Tropas de assalto alemãs emergem de uma espessa nuvem de gás fosgénio estabelecido por forças alemãs que atacam linhas de trincheiras britânicas, na França (1917). A nuvem de gás oferece cobertura para os soldados atacantes.
A chegada da fotografia aos campos de batalha, veja-se o moinho marcado pelos estilhaços das granadas
Museu dos campos da Flandres, cemitério
Batalha de Passchendaele, homenagem aos seus mortos gloriosos
Monumento que não necessita de palavras
Excursão aos campos de batalha da Flandres
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22355: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (60): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22375: In Memoriam (398): José Martins Rosado Piça (1933-2021), 1º srgt inf ref (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso grã-tabanqueiro nº 660... Mais do que "o nosso primeiro", um grande amigo e melhor camarada.



Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal > 2014 > O José MartinsRosado Piça, em fotograma de vídeo que nos mandou o régulo, o Tony Levezinho (*)... Conheci-o em Santa Margarida, por volta de abril de 1969, por ocasião da formação da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), mobilizada para o CTIG. Teria então 38 anos (, pelo que terá nascido em 1931), e já com três comissões de serviço no ultramar (se não erro). 

Foi o sargento mais "bacano" que conhecia na vida e, em Bambadinca, foi um grande camarada e um amigo... para a vida!...Para todos os efeitos, foi o "nosso primeiro", substituindo o Fragata quando este foi frequentar a Escola Central de Sargentos em Águeda. 

Integrou a Tabanca Grande em 2014. Ainda nos vimos, depois da "peluda", duas ou três vezes, e falámos várias vezes ao telefone. Lamentavelmente, nunca o cheguei a visitar em Évora onde vivia. E também, infelizmente,  tem poucas referências no blogue. Mas vai deixar-me uma grande saudade,  a mim, ao Tony, ao Humberto Reis e demais camaradas que tiveram o privilégio de com ele conviver, nomeadamente na tropa e na guerra. 

O José Martins (e não Manuel...) Rosado Piças nasceu em Aldeias de Montoito, em 25 de setembro de 1933. Morreu, pois, com 87 anos anos, (LG).


1. Acabo de saber, pelas redes socais, da triste notícia da morte do nosso querido camarada e amigo, José Martins Rosado Piça, ontem, quinta-feira. 

Hoje, sexta-feira, chegará o corpo por volta das 17h30m à capela de Montoito (Évora), sua terra natal.  O funeral será amanhã, sábado, dia  17, às 12h00, seguindo posteriormente para o crematório de Elvas.

A sua neta, psicóloga. Tânia Caçador, escreveu o seguinte, na sua página do Facebook:

(...) O meu avô Zé! Que me acompanhou, guiou, orientou e protegeu desde que sou gente, um PAI, partiu, e com ele leva um pedaço de mim. Homem de trato fácil, com uma gargalhada inconfundível e altamente sociável, nunca encontrei quem não gostasse dele!

 Foi um BRAVO avô, o mais bravo deste pelotão da vida, essa é a verdade, e os bravos jamais serão esquecidos. Hoje o céu está em festa, disso tenho a certeza, e nós, eu, profundamente infelizes...para mim é insuperável, enfrentar um mundo do qual já não faz parte, simplesmente terei de 8esperar até que possamos novamente nos reencontrar, mas, e quando chegar a hora, sei que estará lá e será a sua mão que agarrarei...amo-o com todo o foi um privilégio tê-lo como avó e estou imensamente grata pela sua vida e pelos momentos e memórias inesquecíveis que me proporcionou, que nos proporcionou. Até sempre...Até já...(...)


2. Escreveu, com grande propriedade e ainda maior carinho, em 2014,  o Tony Levezinho (**);

(...) Sobre o nosso Sargento José Martins Rosado Piça ("Piça para servir V. Exa.",  como ele gostava, por brincadeira, de se apresentar) não serão precisas muitas palavras para descrever este homem simples.

Oriundo de Aldeias de Montoito, Évora, este alentejano, na altura em que convivemos, apenas o separava de nós, a idade, (teria uns 40 anos) e o facto de ser um profissional do quadro permanente do Exército.

Quanto ao mais, a sua relação com os milicianos do Bando (era assim que ele se referia à nossa companhia) fazia toda a diferença, pela positiva, dos demais elementos da sua classe, com quem nos cruzámos, ao longo da nossa aventura pelas fileiras do Exército.

Com efeito, era homem de piada fácil, mas também muito sensível aos afetos. Era disso expressão óbvia o brilhozinho nos seus olhos. De alegria, quando partilhávamos momentos de relaxamento, tais como, as cartadas, os copos, as cantorias, etc., ou de preocupação/tristeza sempre que nos via partir, em missão, para fora do perímetro do aquartelamento.

Era clara para nós a necessidade que sentia de estar por perto dos seus furriéis, muito mais do que partilhar a mesa de jogo com os seus iguais, do quadro. E este seu comportamento teve a sua expressão maior, depois da partida do 1.º Sargento da companhia, o que se compreende.

Diria que o elenco que ele encontrou na CCaç 12 o terá tocado, de forma particular. Atrevo-me a fazer esta afirmação porque, há um par de meses, encontrei-o, em Portimão, ao fim destes anos todos, acompanhado da mulher.

A alegria e o abraço apertado foram mesmo espontâneos. Achei ainda muito significativo o facto da sua mulher, que eu não conhecia, ter dito que ele não se cansa de falar de nós. Logo me pediu o contacto do Henriques, do Reis, o meu, e a verdade é que, desde então, já falamos algumas vezes, ao telefone, e está combinado um encontro em Sagres, quando a oportunidade surgir.

Ele continua no Alentejo e tem um apartamento em Portimão, terra onde a filha vive, passando, por isso, algum tempo nesta cidade algarvia.

Apesar dos seus 80 e picos anos, continua com uma memória de elefante, tal foi o desbobinar de episódios daquela época que evocou, em detalhe, nos breves 20-30 minutos que durou o nosso encontro acidental.

Que continue com a mesma capacidade de comunicar, como a que lhe reconheciamos, à época e que, acreditem, se mantém.

Se há elemento que merece ser puxado para a nossa tabanca é, sem dúvida, o Sargento Piça. (...)


3. Na apresentação à Tabanca Grande, eu escrevi o seguinte (**):

(...)  Meu amigo, camarada, compincha: como vês, somos uma espécie em vias de extinção, os últimos soldados do império... É por isso, também, que te queremos cá, sentado sob o poilão da nossa Tabanca Grande. Passas a ser o nosso grã-tabanqueiro n.º 660, um  número bonito e fácil de decorar. Um dia destes telefono-te a dar-te mais dicas para te manteres ligado a nós. O Tony Levezinho já disse tudo ou quase tudo a teu respeito. Não poderias ter melhor "padrinho". Muita saúde e longa vida porque tu mereces tudo. E faz favor de partilhar o teu álbum fotográfico connosco!.. Um xico...ração. O Henriques.(...)


E acrescentei em comentário, ao poste P13325 (**): 

(...) O Piça era (e é) dotado de um desconcertante sentido de humor... Recordo-me de nos ter contada esta, dos seus primórdios da tropa...

Como muitos alentejanos, pobres, da sua geração, o Piça casou-se "à maneira da época"... As famílías de um lado e de outro não tinham dinheiro para custear a despesa de um casório com boda... A única solução, para não se ficar mal perante amigos e vizinhos, era "simular o rapto"... O noivo "raptava" a noite e ficava o assunto resolvido...Juntavam os trapinhos e esperavam por melhores dias...

Um das soluções - para além da emigação interna e externa - era a tropa. Foi o que fez o Piça. Meteu o xico. Mas agora era preciso dos papéis e regularizar o seu estado civil: casado "de facto", mas não "de jure"...

Um belo dia, foi lá ao padre, às 8 da manhã, com a noiva para receber o santo sacramento do matrimónio... E logo a seguir, às 9h, trouxe a filhota para batisar...O padre, espantado, interpelou-o:
- Já, tão cedo?!
- Ó sr. padre, de mamhã é que se começa o dia! (..:) 


 Uma figura impagável da Bambadinca do meu/nosso tempo!... Um grande amigo, para além de camarada, no verdadeiro sentido da palavra...Nunca conheci sargento tão "bacano" como ele... Como eu era do "reviralho", chamava-me na brincadeira o "Soviético"...

Daqui envio para toda a família, e para os seus amigos mais íntimos, os votos de pesar, meus, da Alice, e de toda a Tabanca Grande. (***)
__________


(***) Último poste da série > 10 de julho de  2021 > Guiné 61/74 - P22360: In Memoriam (397): Renato Monteiro (Porto, 1946 - Lisboa, 2021), ex-fur mil, CART 2439 / CART 11 (Contuboel e Piche, 1969), e CART 2520 (Xime e Enxalé, 1969/70)... "Morreu o meu querido amigo, no passado dia 7... Escrevo a notícia a chorar" (Valdemar Queiroz)

Guiné 61/74 - P22374: Tabanca do Atira-te Ao Mar (8): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte II: uma capela, que merece uma visita, totalmente revestida por painéis cerâmicos, a azul e branco, do séc. XVIII, representando cenas da Virgem Maria



Foto nº 1 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remedios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor:   "Nascimento da Virgem"  



Foto nº  2 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação da Virgem no Templo"



Foto nº 3 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (i)



Foto nº 4 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (ii)


Foto nº 5 >  Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores"


Foto nº  6 > Peniche > Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores" e  cartela com a inscrição, em latim, "C(h)ristum Canamus Principem Natum Maria Virginae": Cantemos a Cristo, nosso príncipe, nascido da Virgem Maria


Foto nº  7 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação do Menino no Templo"  ou será a  "Adoração dos Reis Magos" ? Ficamos na dúvida...
  > Na cartela pode ler-se: "Vocatum est nomem eius Iesus" ("Então era esse o nome de Jesus").



Foto nº 8 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Fachada lateral direita (muro do adro), lado Norte, com o mar em frente. Está situada junto à costa o num nível mais baixo em relação aos edifícios que o circundam.



Foto nº 9 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Entrada, virada para nascente.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  A capela da Senhora dos Remédios está classificada como imóvel de interesse público desde 1996. Confesso que já só tinha uma vaga ideia do seu interior, devo ter cá vindo  na segunda metade da década de 1970. E lembrava-me, não tanto dos fabulosos azulejos que revestem toda a nave da capela, como sobretudo da sala dos ex-votos, alguns deles ofertados por antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, e que me causaram alguma impressão por serem moldes em cera de certas partes do corpo, com destaque para pernas e braços. Mas desta vez a sala de oferenas  e a tribuna não estavam acessíveis... (São revestidos, as paredes e o tecto, a azulejos polícromos seiscentistas, que não pude observar nem fotografar.)

Há sempre uma "lenda" por detrás destes locais de culto cristão, em geral mariano. No caso da Senhora dos Remédios, tudo remonta à ocupação da península ibérica pelos "inféis" (sic), vindos do Norte África, a partir de 711...

Segundo a lenda, os cristãos da região da Atouguia, atemorizados, teriam escondido uma imagem de Nossa Senhora, numa pequena gruta ou caverna junto ao mar, a norte do Cabo Carvoeiro, com as Berlengas ao fundo... "Milagrosamente", a imagem é encontrada no séc. XII, por um foragido...que calhou entrar na gruta... Nessa altura, Peniche era um ilha e a Atouguia da Baleia... um dos portos mais importantes do novo reino. (A "descoberta" da imagem da Virgem seria mais ou menos contemporânea da da Senhora da Nazaré, por volta de 1179, ou seja, 3 dezenas de anos depois da "reconquista" da região que é hoje o oeste estremenho. Diz a tradição a capela-mor terá sido construida na tal gruta onde terá "aparecido" a pequena imagem da Virgém com o Menino Jesus nos braços...e foi a partir deste local que se desenvolveu o santuário,)

O culto da Sra dos Remédios estará, pois, associado à "Reconquista Cristã"... Com o tempo tornou-se importante, à escala regional. E mantém-se até aos nossos dias, cm peregrinações anuais, os "círios", que vêm das redondezas (, desde Mafra à Nazaré, de Torres Vedras a Alcobaça, da Lourinhã a Óbidos), mas também até, imaginem!, da vizinha Espanha (Valladolid)...

 2. A capela, que chegou aos nossos dias,  é  de pequenas dimensões, e de estilo maneirista e barroco, e tem planta retangular, sendo  composta por: (i) capela-mor (onde se venera a imagem da Virgem com o Menino Jesus nos braços) e nave, abobadadas; (ii) com espaço de culto prolongado por um grande alpendre (que  estabelece a comunicação com a zona exterior e sala de oferendas );  e (iii) adro e pátio envolventes. (O extenso pátio ou terreiro fronteiriço é orlada das casas destinadas ao ermitão, aos mordomos e aos romeiros, incluindo as indispensáveis cocheiras ou  cavalariças; hoje é local de feira, em dias de romaria).

No adro, que é vedado, ergue-se, do lado poente, a fachada do santuário e a torre sineira,

A  criação do atual  santuário remonta ao séc. XVII (, embora a sua origem seja mais antiga). As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejos azuis e brancos, setecentistas, que representam episódios da vida da Virgem, sobre um rodapé com cartelas de emblemas marianos. Esta exuberância de painéis cerâmicos significava que, na altura, o santuário era rico ou tinha benfeitores ricos.

Do lado do Evangelho, os painéis de azulejos representam cenas do Nascimento da Virgem (Foto nº 1), da Apresentação do Templo  (Foto nº 2) e o Casamento. 

Da parte da Epístola, a Anunciação foi interrompida pelo púlpito, sendo, por isso mesmo, posterior aos azulejos, e seguindo-se  a "Adoração dos Pastores"  (Foto nº 5). 
 
A cobertura da nave é também revestida a azulejos. A Assunção da Virgem é o tema principal,envolto pela figuração das virtudes. 

Lê-se no sítio Património Cultural:

(...) Assinados, na nave, por António de Oliveira Bernardes, estes azulejos constituem um importante testemunho da fortuna que este género de decoração alcançou no nosso país, e em particular em Peniche, onde pela mesma época (década de 1720), encontramos mais duas igrejas totalmente revestidas por painéis cerâmicos - Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Uma diferença, no entanto, isola a ermida dos Remédios neste contexto, e que é a ausência de talha dourada, aqui substituída por talha a imitar mármore, no retábulo-mor, denotando um certo afastamento dos modelos nacionais e reflectindo um gosto mais erudito e "joanino". (Rosário Carvalho) (..:)

Horário de culto e visitas: todos os dias, exceto à sexta-feira, das 10h00 às 17h30. O santuário pertence à freguesia da Ajuda, Peniche. Pároco: padre Diogo Correia.

Fico com vontade de, um dia destes, visitar as duas referidas igrejas, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Confesso que sou fã da nossa azulejaria, uma arte única que nos veio dos árabes, e tem 500 anos de produção. "O azulejo português é uma das marcas que representa a cultura de Portugal", diz o National Geographic. E devemos ter orgulho nisso!

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22373: Tabanca do Atira-te Ao Mar (7): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte I: "Pagadores de promessas"

Foto nº 1 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > O grupo de "romeiros" fotografaddos no adro, tendo ao fundo a achada principal da igreja: da esquerda para a direita (...e para "memória futura"), o Joaquim Pinto Carvalho (Porto das Barcas, Lourinhã) o António Pinto da Fonseca (Estrada, Peniche),o Joaquim Jorge (Ferrel, Peniche), a Esmeralda Silva Costa (irmã do Jaime) e o marido, Francisco Costa (Lourinhã), a Lurdinhas (a prima do Jaime e da Esmeralda) (Seixal, Lourinhã), a Alice Carneiro (Lourinhã), o Jaime Silva (Seixal, Lourinhã) e o José Carvalho (Roliça, Bombarral). O fotógrafo foi o nosso editor, Luís Graça.



Foto nº 2 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Os "quatro magníficos", os "romeiros" que vieram a pé desde a Praia da Areia Branca e chegaram à meta: da esquerda para a direita, Maria do Céu Pinteus, Joaquim Pinto Carvalho, Jaime Silva e Esmeralda Silva Costa.



Foto nº 3 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Painel de azulejos afixado na parede do lado sul, com listagem, por ordem alfabética, dos círios que aqui vêm (ou vinham) tradicionalmente.  O painel foi oferta da Misericórdia de Óbidos e remonta a 2008. Oito das povoações que realizam (ou realizavam) círios, num total de 33, são da Lourinhã (Atalaia, Areia Branca, Miragaia, Moledo, Reguengo Grande, Reguengo Pequeno, Toledo e Vimeiro)... Só um é da terra (Peniche), o que vem dar razão ao provérbio popular, "Santos da casa, não fazem milagres"...



Foto nº 4 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 >  Jaime Silva, um "pagador de promessas"...


Foto nº 5 > Peniche > Restaurante "Toca do Texugo" >  13 de julho de 2021 >   O José Carvalho, um "barão do K3", que veio expressamente do Bombarral, para se juntar, na parte final,  aos "caminheiros" da Tabanca do Atira-te ao Mar... Viu, a tempo, a notícia no nosso blogue (*)...  Aqui à conversa com o régulo Joaquim Pinto Carvalho, seu vizinho do Cadaval... Contemporâneos na Guiné , descobriram agora que andaram no mesmo colégio, pelo menos um ano...



Foto nº 6 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 > Sala de oferendas, onde se acendem velas à Virgem e se depositam ex-votos.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar andam agora... "numa" de peregrinações, romarias, romagens, círios, caminhadas a pé até a um lugar de culto sacro-profano... desde que seja num raio de 20/30 km... 

Uns movidos pela fé, outros para pagar promessas antigas, outros ainda pela nostalgia da infância, e a maior parte... pela simples vontade de (con)viver!... Bolas, três anos de tropa e guerra e, agora, ano e meio de pandemia, não há cristão que aguente!... É caso para erguer as mãos aos céus e perguntar: "Que mal fiz eu a Deus ?!... Se foi o pecado original, bolas, já está mais que pago pago ao fim de tantas e tantas gerações!"...

Há dias foi o "círio" ao Senhor Jesus do Carvalhal (c. 26 km / cinco horas, da Lourinhã ao Carvalhal, no concelho vizinho de Bombarral). Anteontem, 13,  foi a "romaria" à Sra. dos Remédios, em Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro (c.18 km / 4 horas, pela orla costeira, partindo da Praia da Areia Branca, e seguindo por Paimogo, São Bernardino, Consolação. Peniche, Remédios).

A organização foi da parelha Joaquim Pinto de Carvalho / Jaime Silva, dois "antigos combatentes", o primeiro na Guiné (alf mil at inf, CCAÇ 3398, e CCAÇ 6, Bula e Bedanda, 1971/73) e o segundo em Angola (alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72), e ambos membros da nossa Tabanca Grande.

O Jaime contou-nos, em grupo, que foi pagar uma promessa, atrasada, de meio século. E ele não me levará a mal que eu partilhe aqui esse "pequeno segredo"...com a Tabanca Grande.

Quando ele regressou de Angola, "são e salvo", depois de uma dura comissão, sobretudo no Leste, que lhe deu direito a uma cruz de guerra, a mãe, naturalmente aliviada mas emocionada, confessou-lhe:
– Agora, meu filho, temos que ir a pé à Senhora dos Remédios, pagar a promessa...
– Ó senhora minha mãe, temos que ir ?!...Que história é essa ?... Eu não fiz nenhuma promessa!... E muito menos a de ir a pé à Senhora dos Remédios!
– Ó filho, fui eu que pensei por ti!...
– Então, vá a mãe, que eu estou cansado de andar a pé pelas chanas do leste de Angola...

Fez-se silêncio, criou-se um impasse... Mas a mana mais nova, a Esmeralda, que estava a assistir à conversa, veio salvar a honra da família:
– Ó mano, se não te importas, eu vou por ti!...

E foi, com a mãe, a pé, do Seixal da Lourinhã até aos Remédios, em Peniche,  pagar a promessa à santa, que era devida pelo facto de o Jaime ter regressado "são e salvo"... Enfim, uma "história bonita"...

Quase cinquenta anos depois, em homenagem ao gesto solidário da irmã mas também à grandeza de alma e coração da mãe (já falecida), o nosso camarada Jaime Silva planeou este "círio" (sem vela...). E liderou o grupo dos 4 magníficos que, partindo às 7h30  da Praia da Lourinhã, e seguindo pela costa, chegaram, frescos e felizes, à meta, por volta das 12h30, com uma "paragem técnica", pelo caminho... para "verter águas" e beber um café... (Fotos nº 1 e 2).


2. Os "círios" e os "pagadores de promessas"

Nos anos 60/70 do século passado, os nossos santuários (a começar, "naturalmente", pelo de Fátima) eram locais, muito concorridos, por peregrinos, muitos deles "pagadores de promessas", como os militares, regressados do Ultramar, e/ou suas famílias... (Isso está devidamente documentado nas reportagens da RTP antes e depois do 25 de Abril: Soldados em peregrinação a Fátima (11 de julho de 1965); Peregrinação a Fátima ( 13 de agosto de 1969); Silva Cunha recebe peregrinos da Guiné (22 de maio de 1972);  Assistência aos Peregrinos em Fátima (17 de novembro de 1975)...

"Manifestações de fé" do povo português, escreviam em títulos de caixa alta os jornais da época (, mais apolegéticos do que críticos, e sobretudo rigorosamente vigiados pelos "senhores coronéis da comissão de censura"), sobre as peregrinações a Fátima (Nossa Senhora do Rosário), que ocorriam ao dia 13 de cada mês, entre maio e outubro.

Fátima era então (e continua a ser) o mais "mediático" e "popular" santuário mariano do país. Mas havia (e há)  outros, inúmeros, alguns não  menos conhecidos do que Fátima, de Norte a Sul do país: São Bento da Porta Aberta (Terras de Bouro), Sameiro (Braga), Bom Jesus do Monte (Braga), Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), Nossa Senhora da Abadia (Amares), Penha (Guimarães), etc.  todos no Norte, curiosamente...

Outros há, espalhados pelo país, que também eram (e continuam a ser) procurados pelos fiéis, embora a uma escala mais reduzida, local e regional... É o caso, por exemplo, do Senhor Jesus do Carvalhal (Bombarral) e da Senhora dos Remédios (Peniche) ou ainda o da Nossa Senhora da Misericórdia (Misericórdia, Moita dos Ferreiros, Lourinhã)...

O êxodo rural, a emigração (interna e externa), a guerra do ultramar / guerra colonial, a industrialização e urbanização do país, a par do aumento da escolaridade, tiveram reflexos na mudança de "usos e costumes", incluindo as normas e as práticas da religiosidade dos portugueses...

Com a emigração e a guerra do ultramar / guerra colonial, muitas terras ficaram  sem homens adultos... E a incerteza dos tempos terá ajudado a retomar e/ou a fomentar práticas mais tradicionais de religiosidadee como as "peregrinações" e o "pagamento de promessas"... Ia-se a Fátima ou à Senhora dos Remédios (tanto em Lamego como em Peniche) "pedir graças" e "pagar promessas", que a religi~so dos portugueses também era a do "deve e haver": dás-me isto (o "milagre" da cura ou do regresso de um filho da guerra, "são e salco") e eu pago-te (em orações, penitências, ex-votos, dinheiro, géneros...).

Numa época em que a mobilidade ainda era reduzida, e o poder de comnpra reduzido,  e ir a Fátima ficava longe e era caro, ia-se de preferência aos santuários da região, a pé, ou de carroça (só depois de motocultivador, tractor e carro...).

Em todo o lado, este culto é sacro-profano, realizando-se de preferência no verão, findo o essencial dos trabalhos agrícolas... Não é só uma "manifestação de fé", tem sempre uma componete lúdica e festiva. As romarias no Norte metem sempre muito fogo de artifício, música, comes & bebes...

Mas voltemos ao início da nossa conversa... ou ao ponto em que estávamos...

(Continua)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22372: Tabanca Grande (520): Vítor Ferreira, ex-Fur Mil (Cameconde e Bissau, 1970/72) que se senta no lugar 843 do nosso Poilão


1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Vítor Ferreira, ex-Fur Mil (Cameconde e Bissau, 1970/72), com data de 26 de Maio de 2021:

Caro Carlos
Estive na Guiné de 1970 a 1972. Primeiro em Cameconde e depois em Bissau.
Sou acompanhante assíduo do blogue.
Para “padrinho“ posso indicar o Hélder Sousa, conceituado cronista.

Fico ao dispor.
Vitor Ferreira


O Vítor Ferreira, "ontem", talvez em Cameconde
O Vítor Ferreira "hoje"
XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 25 de Maio de 2019. Na foto, da esquerda para a direita: Armando Pires, Luís Paulino e o estreante Vítor Ferreira.
XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 25 de Maio de 2019. Nesta foto de família, à esquerda, logo a seguir ao Jorge Canhão o casal Maria Luísa e Vítor Ferreira.

Fotos do Encontro Nacional de Hélder Sousa, editadas pelo coeditor.

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2. Mensagem enviada pelo coeditor CV ao Vítor, com conhecimento ao nosso colaborador permanente Hélder Sousa, em 26 de Maio de 2021:

Caro Vítor
Obrigado pelo contacto.

Para uma apresentação mais completa gostaríamos que nos desses mais pormenores sobre ti, a saber:
Posto, especialidade, unidade(s) a que pertenceste, data de ida e regresso, locais por onde andaste e outras informações que aches úteis.
Quanto ao "padrinho", acho uma boa opção mas parece que ele é muito forreta, nem sequer dá folar pela Páscoa.
Fico a aguardar a volta do correio.

Abraço do camarada
Carlos


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3. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa, enviada ao Blogue em 26 de Maio de 2021, com conhecimento ao Vítor Ferreira:

Olá Carlos
Que bela surpresa!

O Vítor foi um dos amigos vilafranquenses que me acolheu quando cheguei à Guiné.
Foi no quarto que ele na altura (9 de Novembro de 1970) ocupava, com outro vilafranquense, o Zé Augusto Gonçalves meu colega de curso de montador-electricista na EICVFXira e também e ainda com o muito falado e "desaparecido" Pechincha, que me acolhi até ir para Piche.
O Vítor esteve já em Monte Real no último ou penúltimo Encontro.

Entre várias outras coisas recordo principalmente as partidas de bilhar na "Brasileira", em Vila Franca.
Teve um problema grave de saúde, mas para isso falará ele, se quiser, mas congratulo-me vivamente pela disposição manifestada por ele.
Vou aguardar o desenvolvimento. Fico à espera do "aparecimento" no Blogue.

Abraço, caro Carlos V e para o Ferreira, também.
Hélder Sousa


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4. Comentário do coeditor CV

Caro Vítor Ferreira
Uma vez que nunca mais nos voltaste a contactar, fica feita a tua apresentação formal à tertúlia com os elementos que nos disponibilizaste.
Posso especular que terás pertencido à açoriana CCAÇ 2726, uma vez que afirmas ter estado em 1970 em Cameconde. Consultados, o 7.º Volume da CECA - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné e o 3.º Volume da CECA - Dispositivo das Nossas Forças - Guiné, verifiquei que a 2726 esteve sediada em Cacine entre 1970 e 1972, com destacamentos em Cameconde. Outro sinal, será tu apareceres numa das fotos publicadas, do nosso XIV Encontro Nacional de 2019, junto ao Luís Paulino, também ele Fur Mil da mesma Companhia.
Esperamos por novo contacto teu para nos confirmares ou desmentires.

Com a tua adesão, ficamos com mais um lugar preenchido debaixo do nosso "poilão sagrado", esperando que nos possas enviar fotos e textos da tua comissão de serviço, que parece não ter decorrido na totalidade na CCAÇ 2726, uma vez que também estiveste colocado em Bissau, onde o nosso comum amigo Hélder em boa hora te foi encontar.

Já agora, se se confirmar que foste para a Guiné integrado na açoriana CCAÇ 2726, ficas a saber que viajámos no mesmo navio. O "Ana Mafalda" embarcou em Lisboa, no dia 11 de Abril de 1970, a tua Companhia e fez escala no Funchal, no dia 13, para embarcar a madeirense CART 2732. Chegámos a "bom porto" no dia 17.

Resta-me então, deixar-te em nome dos colaboradores deste Blogue e da tertúlia, um abraço de boas-vindas e os parabéns pelo padrinho que escolheste.


Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22304: Tabanca Grande (519): Alfredo Fernandes, ex-1º cabo aux enf, CCAV 678 (1964/66)... Natural de Valença, vive em Viana do Castelo, é enfermeiro aposentado do SNS. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 842

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22371: Historiografia da presença portuguesa em África (271): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (8) (Mário Beja Santos)

Sociedade de Geografia de Lisboa > Pormenor da Sala Portugal no decurso de uma exposição


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
O que é bom nem sempre dura, estas atas das sessões, redigidas numa tonalidade bem distinta dos artigos publicados no boletim espelham um pensamento, conclamam interesses de diferente ordem, não esquecer que a primeira ideia que presidiu à fundação foi conhecer melhor o país e repentinamente inseriu-se um outro objetivo maior, o III Império, e daí, conforme podemos ler no texto de hoje assistirmos ao culto dos heróis em simultâneo com a agonia lenta da Monarquia Constitucional, tudo isto entremeado de alocuções científicas que podiam ir desde a hidrologia ao Meridiano de Greenwich, mas achou-se interessante aqui fazer larga referência a uma comunicação do Dr. Sousa Martins sobre os perigos da peste que ele descreve com os conhecimentos da época, claro está, não fala do vírus chinês mas verbera os ingleses, alguém tinha que ser culpado por aquele surto pestífero que desassossegava o mundo inteiro.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (8)

Mário Beja Santos

A cerimónia de arromba no Real Teatro São Carlos, de enaltecimento aos heróis das campanhas de Moçambique parece que trouxe um novo alento à vida da Sociedade de Geografia. As atas das sessões empolam tudo quanto se passou na sessão solene no Real Teatro de São Carlos, a 24 de abril de 1896, o Coronel Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo, comandante da expedição a Moçambique procurou detalhar os acontecimentos, e momentos há da sua prosa em que demonstra ser um observador atento no meio, veja-se como ele descreve a chegada dos expedicionários a Lourenço Marques:

“O aspeto da cidade é lindíssimo; as suas amplas praças e largas ruas ladeadas de construções ligeiras, em que predomina a madeira, o zinco e o ferro, tornam-na alegre e dão-lhe uma aparência diversa das nossas povoações de além-mar, em geral muito parecidas com a da metrópole.

As bandeiras das diversas nacionalidades, coroando os edifícios onde se acham estabelecidos os negociantes estrangeiros, dão-lhe um ar de festa permanente.

Apesar do que deixo dito, muitas construções de alvenaria existem na cidade, tornando-se notáveis pela posição, e vistas do porto a igreja e um edifício de forma quadrangular com portas, janelas e ameias rendilhadas, que eu soube depois ser… o paiol!”
.

Falar-se-á largamente de Marracuene, os rebeldes Mahazul e Gungunhana, do rio Incomati. O Coronel Galhardo apresenta assim Paiva Couceiro: 

“Do Sr. Capitão Paiva Couceiro, tudo o que eu pudesse dizer estaria ainda abaixo do que ele merece. Só direi que, à sua extrema coragem e sangue-frio se deve o ter-se evitado um desastre, talvez possível, pois se os pretos têm atacado os auxiliares, estes, cujo comportamento foi de uma indizível cobardia, seriam vergonhosamente derrotados, e a força branca, por não ter pernas que se comparem com as dos negros, não os poderia salvar”.

O Conselheiro Ferreira do Amaral também teceu elogios de Mouzinho de Albuquerque e deu-lhe para recapitular a saga dos Descobrimentos, e sentiu-se em posição de discorrer sobre a situação presente, ou quase:

“A bancarrota nas finanças havia sido precedida da bancarrota dos nossos direitos coloniais; as nossas dificuldades internacionais, a pressão das grandes nações, onde a necessidade de expansão dos trabalhadores via a necessidade da expansão colonial, tudo concorria para fazer lá fora pensar, mesmo nos mais antigos, que Portugal era uma nação que se extinguia, era uma nacionalidade que já não podia levantar-se; as suas colónias o bolo a distribuir como compensação de pactos secretos entre as grandes nações do mundo”.

Estamos agora em 1896, a Sociedade de Geografia teve papel na transladação dos ossos de Afonso de Albuquerque para os Jerónimos. No ano seguinte, o Dr. Sousa Martins profere uma comunicação acerca da Peste, estamos a falar do mesmo Dr. Sousa Martins que em 1881 andou na Serra da Estrela com Hermenegildo Capelo em expedição científica, disto falaremos adiante, agora temos a Peste, veja-se o que rezam as atas:

“Definiu o preletor o que seja a peste levantina, inguinal ou bubónica, levantina porque é originária do Levante, inguinal ou bubónica porque geralmente a carateriza um enfartamento dos gânglios linfáticos das virilhas.

Comparou-a com a cólera-mórbus e com a febre-amarela, indicando como região de origem ou habitat de cada qual destas moléstias um grande rio, o Ganges para a cólera, o Mississípi para a febre-amarela e o Nilo para a peste, e fez ver como todos eles se encontram sob o Trópico de Câncer, deduzindo desse facto geográfico e climatológico certas analogias entre as três doenças.

De todas elas a mais terrível é a peste, não só pelos estragos enormes que diretamente causa, mas pelo terror que infunde nas populações, pela dor que causa nos que a ela escapam, mas que presenceiam o aniquilamento dos atacados, e pelo desalento, pela depressão moral que origina nos espíritos e que também produz milhares de vítimas durante as epidemias da peste.

Se a Europa quiser, a Europa não terá peste. Hoje a ciência está armada de recursos variadíssimos e absolutamente eficazes para impedir a invasão do flagelo, ou, quando a invasão se dê, para sufocar rapidamente a epidemia”
.

Prosseguiu fazendo a história das epidemias da peste e depois falou sobre os meios de que a Ciência hoje dispõe para obstar os desastres. 

“Na terapêutica, temos o soro antipestoso, extraído de cavalos previamente injetados com o princípio maligno, e que é uma vacina cuja eficácia está oficialmente comprovada. Temos depois os grandes meios que a higiene moderna faculta, e temos sobretudo a profilaxia, que é a grande conquista científica do século que vai expirar”

E imprevistamente, o Dr. Sousa Martins faz um comentário que nos surpreende:

“Atribui ao egoísmo comercial de Inglaterra a grande extensão que a atual epidemia tem tomado na Ásia. Baixando dos planaltos do centro da China, o micróbio da peste foi ter a Cantão, e daí a Hong Kong; mas só muitos meses depois de grassar nesta última cidade, e quando já era de todo impossível negar oficialmente a sua existência é que as autoridades britânicas se resolveram a fazer a declaração oficial da epidemia (…) Também disse que o micróbio da peste procura de preferência a gente pobre e miserável, como aliás sucede com os micróbios de outras doenças análogas. Atribui isto ao facto de se alimentarem esses indivíduos mais especialmente de vegetais, o que lhes torna o sangue mais alcalino, e ser nos líquidos alcalinos que melhor se mantêm e desenvolvem os micróbios”

O orador foi saudado com uma salva de palmas.

No início de 1897 é eleito como Presidente da Sociedade o Conselheiro Joaquim Ferreira do Amaral, haverá lugar para uma sessão solene e auto da inauguração da nova sede da Sociedade já nas instalações do Coliseu dos Recreios e procede-se à celebração nacional do IV Centenário do Descobrimento da Índia. Em novembro é feito o elogio do falecimento do Dr. Sousa Martins.

No final desse ano, o rei D. Carlos volta a presidir a uma grande homenagem, desta vez ao herói de Chaimite, Mouzinho de Albuquerque. E assim chegamos a 1898, há um voto de sentimento pela morte de Roberto Ivens, no final de janeiro e em maio temos nova sessão solene, estamos em plena comemoração do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia, tudo com fausto, pompa e circunstância, vêm numerosas representações internacionais, o rei agradece e lembra aqueles que pela pátria verteram o seu sangue generoso, saúda os soldados e marinheiros de hoje que andam em ásperas campanhas em África e na Ásia, sustentando gloriosamente a honra da nossa bandeira.

Agora vamos voltar um pouco atrás só para falar da expedição científica à Serra da Estrela e avançamos depois, já não falta muito para o final destas atas das sessões dos sócios, parece que é um mundo que acaba com a morte de Luciano Cordeiro, a partir de agora fica à disposição dos associados e dos leitores em geral o boletim, que ainda hoje vigora.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22347: Historiografia da presença portuguesa em África (270): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (7) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 13 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22370: O nosso livro de visitas (212): Ildeberto Medeiros, ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72)... Açoriano, vive nos EUA e quer integrar a Tabanca Grande

1. Mensagem de Ildeberto Medeiros, nosso leitor  e camarada:

Date: sábado, 12/06/2021 à(s) 12:17
Subject: Tabanca Grande

Sou um ex-combatente da Guiné, ex-1º cabo condutor da CCAÇ 2753, "Os Barões Mansabá, K3 (1970/ 1972)

Sigo o vosso "site" para melhor recordar esses tempos que por lá andei, porque recordar é viver. Já me tentei regisitar e não consigo.

Actualmento vivo nos Estados Unidos. Gostava de saber se me podiam ajudar com este problema?

Um abraço, Luís
Ildeberto Medeiros


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Ildeberto, já devia ter respondido ao teu pedido. I'm sorry, time management now is a big problem for me...

Vou ver se te ajudo:

(i) não te podes registar automaticamente no nosso blogue como membro da Tabana Grande (que conta já com 842 membros, 103 dos quais, infelizmente, já falecidos); mas o teu nome não me é estranho, tens feito comentários a postes aqui publicados;

(ii) tu podes ser, já amanhã, o nº 843: só preciso que me mandes as duas fotos da praxe: uma do teu tempo de Guiné (1970/72), e outra mais atual; (se não souberes como se manda, por email, pede ajuda a alguém das tuas relações, mais desenrascado nestas coisas da Internet);

(iii) já te apresentaste, hoje mesmo, embora laconicamente: estás situado no tempo e no espaço, pertenceste à CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72), eras 1º cabo condutor auto;

(iv) serás o primeiro açoriano da tua companhia a juntar-se, no nosso blogue, aos ex-alf mil Vítor Junqueiro e José Carvalho, e ao ex-fur mil Francisco Godinho, que são "continentais", como então a gente dizia; contigo, passarão a haver quatro "barões";

(v) mesmo com alguma dificuldade na escrita do português (, podes também escrever em inglês se te sentires mais à vontade), conta-nos depois algo mais sobre a tua vida, na tropa e depois da tropa, incluindo algumas das tuas recordações da Guiné mas também dos Açores; podes mandar algumas fotos digitalizadas, através do nosso endereço de email, o mesmo que usaste na tua última mensagem: luis.graca.prof@gmail.com


Terei, teremos todos, muito gosto e alegria em acolher-te aqui à sombra do nosso poilão, a árvore sagrada da Guiné, como bem te lembras... Ainda hoje tive o prazer de conhecer pessoalmente o José Carvalho (ex-alf mil, foto à esquerda) e de almoçar com ele, em Peniche... Embora meu vizinho (ele mora no Bombarral, e eu na Lourinhã), só agora tivemos a oportunidade de nos vermos "ao vivo e a cores"... 

O José Carvalho, hoje médico veterinário, por certo deve lembrar-se de ti, ao reconhecer-te na foto ou nas fotos  de 1970/72 que nos vai mandar. 

Falámos ao almoço dos "Barões do K3" e eu sou testemunha do carinho e apreço que ele ainda hoje manifesta por vocês, açorianos, da CCAÇ 2753. Foi ele, de resto, quem em fevereiro passado nos deu a triste notícia da morte do vosso antigo comandante, o cap mil art João Domingues da Rocha Cupido.

Conto contigo. Aguardo as tuas boas notícias. Best wishes. Good luck, good health. LG
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Nota do editor:

Último poste da série >11 d junho de 2021 > Guiné 61/74 -P22274: O nosso livro de visitas (211): João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, PTE - Pelotão de Transportes Especiais, Batalhão de Engenharia nº 447 (Bissau, 1968/71)

Guiné 61/74 - P22369: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte VIII: Henrique de Melo Geraldes, ten inf (Covilhã, 1889 - França, CEP, 1918)


Henrique de Melo Geraldes (1889 - 1918)


Nome:  Henrique de Melo Geraldes

Posto: Tenente de Infantaria

Naturalidade: Covilhã

Data de nascimento: 17 de Abril de 1889

Incorporação: 1911 na Escola de Guerra (nº 41 do Corpo de Alunos)

Unidade: Quadro Permanente de Instrutores, Regimento de Infantaria n.º 1

Condecorações

TO da morte em combate: França (CEP)

Data de Embarque: 28 de Fevereiro de 1917

Data da morte: 21 de Março de 1918

Sepultura: França, Cemitério de Richebourg l`Avoué

Circunstâncias da morte: No decurso de acção ofensiva alemã, na Primavera de 1918, faleceu na 1ª linha do dispositivo táctico do CEP, em Champigny, por ter sido mortalmente atingido por fogos inimigos.



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).


Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22352: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte VII: Óscar Monteiro Torres, cap pilav (Luanda, 1889 - França, CEP, 1916), o primeiro e único piloto-aviador militar português a tombar em combate na I Grande Guerra.


Guiné 61/74 - P22368: Tabanca do Atira-te ao Mar (6): Já os romeiros partem, às 7h30, da Praia da Areia Branca a caminho da Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Almoço (sardinhada), na "Toca do Texugo", por volta das 13h00 (aberto a quem quiser lá aparecer, não há inscrições nem reservas)...


Peniche > Santuário de Nossa Senhora dos Remédios > Fachada lateral direita (muro do adro). Cortesia de Património Cultural  (República Portuguesa, Direção Geral do Património Cultural)


1. A organização é da dupla Joaquim Pinto Carvalho - Jaime Silva, da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo), tabanca da nossa Tabanca Grande, aquartelada no Porto das Barcas, Lourinhã,  que já está toda vacinada contra a maldita Covid-19, e que agora anda a celebrar a vida, a amizade e a camaradagem, sempre que pode ou sempre que haja um pretexto. Porque, amigos e camaradas da Guiné,  a morte é certa e a fé, e sobretudo as forças, vão vacilando...

Depois do Senhor Jesus do Carvalhal (Bombarra) (*), os romeiros vão hoje à Senhora dos Remédios, não em Lamego, mas aqui mais perto, Largo dos Remédios, Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro. 

São cerca de 18 quilómetros, ao longo da costa (via Praia de Paimogo, Praia das Pombas, Geraldes, Praia da Consolação, Peniche...). Nada que  qualquer bom cristão não faça, em cerca de 4 horas...

Haverá carros de apoio para o regresso (à Praia da Areia Branca). A ideia é ir almoçar ao restaurante "Toca do Texugo" (ali nas imediações), por volta das 13h00, e depois visitar à tarde a capela da Senhora dos Remédios (que está aberta das 10h00 às 17h30, todos os dias, exceto às sextas-feiras). 

É um programa aberto a todos os tabanqueiros da Tabanca Grande...No restaurante, há excelentes grelhados (a carvão)  de peixe fresco, a começar pela nossa bela sardinha do Mar do Cerro...

Às 7h30 partem hoje, da Praia da Areia Branca, os caminheiros. Um pequeno grupo. Outros, como eu, irão lá ter de carro, ( Local de encontri: o restaurante "Toca do Texugo", aberto, das 12h00 às 15h00). No meu caso, idepois da sessão de fisioterapia que acaba às 12h20. (LG)

2. Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, também denominada «Ermida de Nossa Senhora dos Remédios» ou «Santuário da Senhora dos Remédios» > Nota Histórico-Artistica


(...) "Situada junto à costa, a ermida de Nossa Senhora dos Remédios é um santuário de romaria implantado num nível mais baixo em relação aos edifícios que o circundam, antecedido por um átrio e por um amplo adro murado.

Não se sabe, ao certo, em que época foi edificado, muito embora a estrutura actual deva remontar ao século XVII, com uma campanha decorativa da centúria seguinte. A tradição revela, no entanto, que a primitiva ermida corresponderia a uma capela talhada na rocha, e que hoje se encontra integrada na nave, do lado do Evangelho, sendo dedicada ao Senhor Morto (Calado, 1991, p. 272).

O muro que delimita o adro apresenta cunhais em cantaria e é aberto por um portal encimado por frontão de aletas, flanqueado por duas janelas. No mesmo eixo, mas na outra extremidade, um arco de volta perfeita, encimado por frontão semicircular, permite o acesso ao átrio que antecede a capela, num patamar inferior. A torre sineira, de planta hexagonal e cúpula bolbosa, encontra-se adossada num dos ângulos do adro.

Na capela, a nave única, coberta por abóbada de berço, articula-se com a capela-mor através de um arco de volta perfeita em cantaria. Do lado do Evangelho, a referida capela do Senhor Morto, talhada na rocha e abre-se para a nave por arco de pilastras com capitéis coríntios, em mármore.

As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejos azuis e brancos, que representam episódios da vida da Virgem, sobre um rodapé com cartelas de emblemas marianos. Do lado do Evangelho encontramos o Nascimento da Virgem, Apresentação do Templo e o Casamento. Da parte da Epístola, a Anunciação foi interrompida pelo púlpito, que é, por isso mesmo, posterior aos azulejos, seguindo-se a e a Adoração dos pastores . Na abóbada, também azulejada, a Assunção da Virgem é o tema principal, envolto pela figuração das virtudes.

Na capela-mor, os azulejos de figura avulsa enquadram o Trânsito de Nossa Senhora. Assinados, na nave, por António de Oliveira Bernardes, estes azulejos constituem um importante testemunho da fortuna que este género de decoração alcançou no nosso país, e em particular em Peniche, onde pela mesma época (década de 1720), encontramos mais duas igrejas totalmente revestidas por painéis cerâmicos - Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Uma diferença, no entanto, isola a ermida dos Remédios neste contexto, e que é a ausência de talha dourada, aqui substituída por talha a imitar mármore, no retábulo-mor, denotando um certo afastamento dos modelos nacionais e reflectindo um gosto mais erudito e "joanino". (Rosário Carvalho)

Fonte: Património Cultural (com a devida vénia).

Vd. também Ficha em www.monumentos.gov.pt)

3. Em páginas eternas (Os Pescadores, 1923), o grande (mas injustamente esquecido) Raul Brandão (Porto, 1867 - Lisboa, 1930), escreveu o seguinte sobre este lugar, em agosto de 1919 (quando visitou as Berlengas):

(...) A Senhora dos Remédios és escavada na rocha subterrânea, junto a fragas enormes que mal  se sustentam de pé e que os vagalhões assaltam formidavelmente. Que voz lá no fundo, e que esplendor de luz nesta mole negra e cenográfica que se esboroa na extremidade, tomando o aspecto estranho de torres medievais, que ficam a cinquenta metros de profundidade e que repercutem ecos, ameaças, uivos e lamentos de desespero, súplicas dramáticas! É o Castelo do Diabo!... E no fundo do horizonte sempre aquelas três nuvens pousadas sobre o mar, chamando por mim. Atraem-me e fascinam-me" (...) (pág. 108).

Fonte: A vida e o sonho : inéditos, antologia e guia de leitura / Raul Brandão ; org. de Vasco Rosa. - 1ª ed. - Silveira : E-Primatur, 2017. - 619, [2] p. ; 25 cm. - ISBN 978-989-99715-3-0

4.   Círios ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

(...) Este Santuário de âmbito regional, próximo do Cabo Carvoeiro, recebe círios de vários concelhos vizinhos tais como Mafra, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Bombarral, Óbidos, Caldas da Rainha e Nazaré, a par dos muitos peregrinos a título individual, contabilizando milhares de romeiros. O culto a Nossa Senhora dos Remédios verifica-se essencialmente de julho a novembro, mas tem especial incidência no mês de outubro (3º Domingo). Os círios ao Santuário terão a sua origem provavelmente do século XVII.

Embora com algumas alterações ao longo das décadas, são diversos os atos de culto praticados pelos romeiros dos quais destacamos, a par da cerimónia eucarística, da procissão em honra de Nossa Senhora dos Remédios e da oferta de círios, ou velas, para “pagar promessas”, as três voltas ao Santuário e as loas (hinos de louvor a Maria), cantadas pelos anjos (crianças) que acompanham os diversos círios.

Nos dias em que o Santuário recebe os romeiros, uma feira é montada, na qual, às tradicionais bancas de frutos secos, se juntam mais recentemente o vestuário e material variado. (,,,)

Fonte: Oeste, comunidade intermunicipal, com a devida vénia


5. A lenda da Sra. dos Remédios

(...) Conta esta lenda que, tendo os muçulmanos ocupado este território no séc. VIII, os cristãos aqui instalados receosos que a imagem da Virgem, muito venerada, fosse profanada pelos ditos infiéis, a procuraram esconder numa gruta junto ao actual Cabo Carvoeiro, tendo esta aí ficado guardada durante muitos anos.

Entretanto, durante o séc. XII, no reinado de D. Afonso Henriques, um criminoso, fugido à justiça, procurava refúgio nas cavidades rochosas da vertente ocidental da então ilha de Peniche, quando de forma providencial encontra numa pequena gruta a imagem da Virgem, que havia sido escondida quase quinhentos anos antes.

Maravilhado com a descoberta, não se atreveu porém de imediato a dela dar notícia aos habitantes locais, devido à sua situação de foragido.

Todavia não se conseguindo conter revela este segredo a um grupo de crianças, que brincavam junto aos rochedos vizinhos, e que surpreendidas correram para casa informando do magnífico achado. Em breve, toda a povoação se deslocou à dita gruta para admirar a imagem da Virgem.

Receando que naquele sítio a imagem estivesse sujeita a roubo ou profanação, trataram os habitantes de a levar para a então existente igreja de S. Vicente, em Peniche de Cima.

Porém, de todas as vezes que o tentaram a imagem misteriosamente desaparecia do seu altar, voltando a ser encontrada na mesma gruta onde havia sido descoberta.

Certos de que tal fenómeno correspondia à vontade da Santa, ergueram sobre a dita cavidade uma pequena capelinha, antecessora da actual Capela de Nossa Senhora dos Remédios, onde ainda hoje se conserva a sagrada imagem. (Texto adaptado de "Peniche na História e na Lenda", de Mariano Calado)

Guiné 61/74 - P22367: Parabéns a você (1978): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22364: Parabéns a você (1977): Sargento-Mor Paraquedista Ref António Dâmaso, CCP 121 e CCP 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)