quinta-feira, 4 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24282: Agenda cultural (833): Apresentação do livro "João Cardoso de Oliveira - homem e sacerdote", da autoria do nosso camarada António Mário Leitão, a levar a efeito no próximo dia 6 de Maio de 2023, pelas 16h30, na Igreja Matriz de Ponte de Lima

1. Em mensagem do dia 3 de Maio de 2023, o nosso camarada António Mário Leitão, (ex-Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973), enviou-nos o convite para o lançamento do seu livro "João Cardoso de Oliveira - homem e sacerdote", a levar a efeito no próximo dia 6 de Maio, pelas 16h30, na Igreja Matriz de Ponte de Lima:


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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24254: Agenda cultural (832): livro «50 Anos (1975-2025) de factos e feitos da História do CCRAM - primeira década: 1975/1985»; convite para a sessão de lançamento, Corroios, Seixal, dia 29, sábado, às 15h30 (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico


O barbeiro-sangrador,   c. 1805 > Ilustração de James Gillray (1757-1815)  (London, Victoria and Albert Museum). 
Imagem do domínio público. 
Cortesia de Wikimedia Commons.


1. Começámos a publicar, desde de meados de março passado, uma série de textos, da autoria do nosso editor Luís Graça, sobre as lições que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...

Às vezes quando a doença e a morte nos batem à porta, à minha, à da minha família, à dos meus amigos e camaradas mais próximos, é que eu me lembro que dediquei uma boa parta da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública... E dão-me saudades esses tempos quando, sendo mais novo, escrevia sobre esses temas...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos (nós/vós) a pandemia de Covid-19, eis-nos agora a fazer o luto pela perda recentes de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade  da publicação  deste textos que fomos (re)buscar ao nosso "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos, entre 1961 e 1974.

São textos, com vinte e tal anos, que constavam da nossa antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

Contando com a complacência ou até a cumplicidade dos nossos leitores, esperamos, ao menos, que a  leitura desses textos, agora revistos, possa ter algum proveito e dar algum prazer. Para o nosso editor, é também uma forma de continuar a lidar com o seu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que lhe estão próximas.  

Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": fez 19 anos em 23 de abril p.p.  E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG


5. Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva 
e do Encarniçamento Terapêutico


(Continuação)

No pós-25 de Abril, numa leitura algo imediatista e datada, recusava-se a ideia de que a grande maioria destes provérbios fosse de origem popular, dada a sua "função de ocultação ideológica" (Gomes, 1974). Na melhor tradição jacobina e anticlerical, via-se aí a língua viperina da "padralhada", dos frades, dos jesuítas, etc. já que o povo não podia ser intrinsecamente... "reaccionário".

Populares ou nem tanto, os provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa não deixam de refletir uma experiência amarga da população, vítima não só de um ciclo infernal de epidemias que durou mais de 400 anos ("Da peste, da fome, da guerra - e do bispo da nossa terra, Libera nos, Domine!") como do uso e abuso, por parte dos praticantes de artes médicas até à alvorada do Séc. XX, de técnicas terapêuticas agressivas, invasivas e de duvidosa eficácia como era o caso da purga e da sangria.

Nesta perspectiva, alguns provérbios podem ser vistos como formas de contestação avant la lettre do encarniçamento terapêutico de que é hoje acusada a medicina defensiva: "Se não morre do mal, morre da cura" (Quadro XIV, em anexo).

Em meados do Séc. XVII, o uso da sangria (ou flebotomia), praticada por cirurgiões e barbeiros-sangradores (uma profissão só extinta entre nós em 1875) tal como a purga ou o clister (ministrada pelos cristaleiros e cristaleiros), generalizara-se de tal modo que dera motivo ao adágio popular: "Em Lisboa não há sangria má nem purga boa"

De facto, havia médicos que num mesmo episódio de doença mandavam sangrar "trinta e quarenta vezes" (Lemos, 1991, vol. II. 37). Sangravam-se 0s ricos e os pobres, os reis e os súbditos, os doentes e os sãos...

Outros provérbios terão uma origem semelhante (Quadro XIV):
  • "Arrenego da tijelinha de ouro em que hei-de cuspir sangue";
  • "Como é o braço assim é a sangria";
  • "Dia de purga, dia de amargura";
  • "O que faz mal ao corpo é o sangue";
  • "Sangrai-o e purgai-o e, se morrer, enterrai-o";
  • "Sangrar de saúde".

Além da prática da sangria, o barbeiro também era chamado para tratar dos dentes: "A quem dói o dente vai à casa do barbeiro". E em quase todas as vilas e aldeias deste país, até aos anos 60, ele era para todos os efeitos um verdadeiro praticante da arte médica a quem se recorria para tratar de um abcesso, dar uma injecção, fazer um penso ou receber um conselho. De resto, "é na cara dos pobres que os barbeiros aprendem"...

No regulamento do Hospital Real de Todos os Santos, inaugurado em 1504, estava prevista a figura do barbeiro-sangrador. Competia ao enfermeiro-mor (chefe de uma enfermaria) estar presente "quando algum Enfermo se ouver de sangrar"- tarefa essa que era executada pelo barbeiro-sangrador, externo (Capº XVI) -, devendo para o efeito requisitar ao hospitaleiro as necessárias "ataduras e panos" (p. 75).

A profissão de barbeiro-sangrador só será extinta, oficialmente, por decreto de 13 de Junho de 1870, o que testemunha a longa persistência de séculos da prática da flebotomia entre nós (Pina, 1937.21-22). 

No entanto, a sangria ainda se praticava em Lisboa nos finais da Monarquia!

(Continua) (**)

(Bibliografia a apresentar no final da série)

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Quadro XIV— Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre o barbeiro, a purga e a sangria

Objecto

Provérbio

Barbeiro Barbeiro- Sangrador Dentista

 

  • " A quem dói o dente vai à casa do barbeiro"

  • "A quem dói o dente vai a dentuça" (Séc. XVI)

  • "Da vida alheia é mestre o barbeiro"

  • "Dente fora cangalhão na cova"

  • "É na cara dos pobres que os barbeiros aprendem"

  • "Guarde-nos Deus de oficial novo e de barbeiro velho"

  • "Quando Deus tira os dentes, alargar a goela"

  • "Quando Deus tira os dentes, endurece as gengivas"

  • "Quando dói o dente é que se vai ao dentista"

Purga       Sangria

  • "Como é o braço assim é a sangria"

  • "Dia de purga, dia de amargura"

  • "Dia de tosquia, dia de sangria"

  • "Em Lisboa não há sangria má, nem purga boa"

  • "Mais vale suar que enfermar"

  • "Não é sangria desatada"

  • "Quando se está esmagado não se chora, sangra-se"

  • "Sangrai-o e purgai-o, e, se morrer, enterraio-o"

  • "Sangrar de saúde"

  • "Sangria que no princípio da manhã é salutífera, por ventura sucede ser mortal na declinação do dia"

  • "Um ar purgado, morte ao cabo"

Sangue

  • "Arrenego da tijelinha de ouro em que hei-de cuspir sangue"

  • "Bebe vinho branco de manhã e à tarde tinto para teres sangue"

  • "Dar o sangue das veias" (Séc. XVII)

  • "Ficar sem pinga de sangue"

  • "Mais vale onça de sangue que libra de amizade"

  • "Não quero escudela de ouro em que cuspa sangue"

  • "O bom vinho faz o bom sangue"

  • "O que faz mal ao corpo é o sangue"

  • "O sangue se herda e o vício se pega"

  • "Sangue pela boca nem das gengivas"

  • "Sangue quer sangue, sangue quer vida"

  • "Todo o sangue é vermelho"

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:




20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

(**)  Último poste da série > 10 de abril de  2023 > Guiné 61/74 - P24214: Manuscrito(s) (Luís Graça) (222): Circadiana, a vida

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24280: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte VI: Sexo, álcool e amuletos... A maldição ou a premonição do Amílcar Cabral ?..."Só nós somos capazes de destruir o Partido" (Boké, Guiné-Conacri, finais de 1970)


Guiné-Bissau (sic) > PAIGC > s/l > Março-abril de 1974 > Mulher com criança /Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - B 29 - Life in the Liberated Areas, Guinea-Bissau - Woman with child - 1974.tif

Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)






1. A seguir à invasão de Conacri por tropas portuguesas e forças da oposição ao governo de Sékou Touré, em 22 de novembro de 1970 (Op Mar Verde), Amílcar Cabral (AC) reuniu as cúpulas do PAIGC em Boké, na Guiné-Conacri, próximo da fronteira sul com o território da então Guiné Portuguesa, em data que não podemos precisar mas sabemos, pelo testemunho de Luís Cabral (LC) ("Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 1984, 464 pp.), que foi ainda em 1970, por volta do final desse  ano. (*)

AC aproveitou para fazer o balanço da "bárbara agressão do inimigo contra a capital da República da Guiné", segundo o relato do seu mano, LC (pág. 373).

Difícil para ambos  era compreender "a traição de muitos dos principais colaboradores do presidente Sékou Touré" (sic) (pág. 374). Naturalmente o AC não revelou,  aos seus  colaboradores mais próximos,  as tremendas dificuldades  (económicas, politicas,  sociais, etc.) por que estava a passar a Guiné-Conacri nem ele alguma vez denunciou a natureza ditatorial do regime de Sékou Touré. Obviamente, não iria cuspir na sopa nem dizer mal dos seus hóspedes.... e aliados. Amílcar Cabral (e o seu estado-maior) estava nas mãos do "camarada" Sékou Touré (em relação ao qual, de resto, havia um temor reverencial, visível na maneira como o LC se  referiu a ele da primeira vez que o conheceu, à distância, chegando na sua viatura presidencial ao aeroporto da capital).

Mas não deixou, o AC,  de avançar com a sua própria teoria espontânea  sobre os riscos que estava a correr o próprio PAIGC, cujas sementes de destruição não eram exógenas (ou seja, vindas do exterior) mas endógenas (geradas a partir de dentro), insistindo repetidas vezes que "só nós" (sic) (...) "estávamos em condições de destruir o Partido" (pág, 375). Uma premonição, quiçá, do seu próporio assassinato dois anos mais tarde, em Conacri, a 20 de janeiro de 1973, e onde a participação do Sékou Touré, como autor moral,  está  ainda por esclarecer, bem como a de dirigentes do PAIGC como o Osvaldo Vieira, primo do 'Nino'.

E contou, o AC, para gáudio geral da audiência,   a história ou a fábula do bode que, numa pequena terra se havia celebrizado pela sua extraordinária capacidade de procriação, até ao dia em que o presidente do município local se apressou a comprá-lo e instalá-lo num estábulo-modelo, promovendo-o a "bode municipal"...

A partir daí, bem comido e melhor dormido, o bode desinteressou-se totalmente das cabras. Quando o seu antigo proprietário, indignado, lhe pediu explicações, face às reclamações do seu novo dono ( o presidente do município). o bode limitou-se a responder, cinicamente: "Agora sou funcionário público." (pág. 376).

A mensagem que o AC quis transmitir  aos seus "generais", depois da prova de fogos  que fora, para todos aqueles que  lá estavam, a invasão de Conacri e a tentativa de derrube do regime, era clara: ninguém nos destrói,  a partir de fora, a começar pelos "tugas", se continuarmos de mãos dadas a certar fileiras... Mas nós podemos destruir-nos uns aos outros...

Foi nesta reunião de Boké que apareceu, pela primeira vez, a figura do Partido-Estado. Foi criado o Conselho Superior de Luta no seio do qual era eleito o Conselho Executivo da Luta (pág. 377). Foi também nesta reunião que passaram a fazer parte das Forças Armadas, "as forças regulares - o Exército Popular, a Marinha Nacional e, mais tarde, a Aviação Militar" (pág. 378). Por seu lado, "a Guerrilha e a Milícia foram juntas numa única organização, as Forças Armadas Locais (FAL)", cabendo a sua direção ao Comité Nacional das Regiões Libertadas (sic).

E chegamos ao ponto que nos interessa. No final da reunião, o AC punha mais uma vez o dedo na ferida, manifestando as suas reiteradas preocupações com a "vida pessoal dos quadros e dirigentes do Partido" (pág. 378).

Escreve o irmão, LC:

"Sei bem quanto era doloroso para o Amílcar ter de abordar sempre esta questão delicada cuja origem nascia do comportamento de alguns dos dirigentes da luta" (Negritos nossos)...

E o LC exemplifica, com algum prurido, duas condutas altamente perniciosas para um partido que se pretendia "libertador": 

(i) "o consumo exagerado da bebida alcoólica" (pp. 378/379); 

e (ii) a prostituição, o assédio sexual, a poligamia (pp. 380/383), 

e (iii) implicitamente a cultura do "cabra-macho"... (Claro que ele nunca usa as palavras prostituição, assédio sexual e cabra-macho..).

As questões do álcool e do sexo eram extremamente incómodas e até fracturantes num  "partido revolucionário", de inspiração marxista, como o PAIGC, que se queria frugal, puritano, impoluto. 

Os dirigentes e os quadros sabiam quem eram os visados pelas palavras de AC. Um deles seria o Osvaldo Veira, grande apreciador da "água de Lisboa", acrescentamos nós. 

No caso do álcool, LC conta que havia dirigentes que se davam ao luxo de ter os seus "furadores" privativos (!) para extraírem o vinho de palma, bebida que rareava no mato tal como as bebidas alcoólicas que eram importadas (e disputadas em Conacri).

A questão da "violência sexual" (outra expressão que nunca é usada, por falso moralismo) era outro grave problema que já vinha de trás. Diversos "senhores da guerra" haviam sido denunciados, julgados e condenados à morte, em Cassacá, no I Congresso do PAIGC, em fevereiro de 1964, acusados de brutais abusos sexuais e atrocidades para com a população, e nomeadamente para com as  raparigas e outras mulheres jovens (mas também contra os que os que se opunham a estas práticas horrendas). LC só volta a referir a persistência deste problema por ocasião da reunião de Boké, em finais de 1970.  Isto significa que ele nunca fora resolvido ao longo daqueles anos todos...

"Todos os homens normais gostam de mulheres, dizia ele [ o Amílcar Cabral] (...). No auge do seu desespero em ter de abordar esta questão uma vez mais, o Amílcar acrescentou, elevando ligeiramente a voz: 'Se pensam que são mais machos do que nós, estão enganados, se quiserem podemos ir ao quarto ao lado e fazer a experiência! Temos as nossas mulheres, a nossa família, e sabemos a responsabilidade que nos cabe nesta fase da vida do nosso povo`".(...) (pág. 382).

O que estava em causa era a cultura, então dominante no seio do PAIGC, do "cabra-macho", de peito feito às balas, de "peito vermelho", aguerrido, corajoso, mas também violento, machão, predador sexual...

Umas terceira preocupação do AC (e do LC) era o uso e abuso de amuletos, já abordado nas pp. 166/167. LC revela que os dirigentes do PAIGC, no mato, "tinham sempre um combatente muito jovem, que transportava,  num saco, os variados amuletos a que cada um tinha direito, dada a sua condição de chefia" (pág, 166). 

No caso do 'Nino' Vieira, por exemplo, não se deslocava no mato em situações de combate,  sem o seu arsenal de amuletos, e de pelo menos dois ajudantes (!),  que os carregavam, além de um bigrupo reforçado,  segundo o testemunho (suspeito) do Bobo Queita (que não gostava dele, e ainda mais depois do golpe de Estado de 14 de novembro de 1940).    [ In: Norberto Tavares de Carvalho, "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita". Edição de autor, Porto, 2011. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes. p. 197.)

O AC, de formação católica, filho de ex-padre e professor primário (todavia, sexualmente muito promíscuo, com muitos filhos de várias mulheres), não apreciava também estes "aspectos menos racionais" do comportamento dos seus homens... Mas teve que engolir este e muitos  outros sapos (como, por exemplo,  a "mutilação genital feminina" praticada pelos povos "islamizados" da Guiné: não me lembro de ele alguma vez se ter pronunciado, ou pelo menos escrito, sobre este problema, ele que, de resto,  era pai de duas meninas, filhas de uma portuguesa... que foi alegadamente o "amor da sua vida").

"O amuleto - mezinho, como lhe chamávamos - era uma fraqueza que foi transformada em força pelo Partido" (pág. 166). Quando ainda não havia armas para se defenderem, "o Amílcar entregava-lhe(s) o dinheiro necessário para mandar fazer o mezinho - algumas citações do Corão, escritas em caracteres árabes" (...), amuleto que depois era "cuidadosamente forrado de cabedal, e que tinha a virtude de reforçar no combatente a confiança em si próprio, trazendo-lhe a confiança psíquica indispensável ao bom cumprimento da sua missão (pág. 167).

Umas páginas à frente, LC conta a história caricata de um grupo de estrangeiros, o sociólogo sueco Rolf Gustavson e uma equipa de cineastas e fotógrafos franceses, constituída por Michel Honorim, Giles Caron e Michel Carbeau" (pág. 385). Os franceses vinham do Biafra e queriam ver cenas de guerra e sangue...

Isto passa-se entre Farim e Jumbembem, quase nas barbas das NT. Face ao risco de serem apanhados por uma emboscada das tropas portuguesas, LC deu ordem à escolta, comandada por Bobo Queita, para fazer uma "retirada forçada" até à fronteira... Não tendo nada de interessante para filmar (nem sequer umas tabancas em ruínas, carbonizadas pelo napalm dos colonialistas... ), "o chefe da equipa francesa disse em voz alta que éramos um bando de mentirosos" (sic).

Apesar da desculpa do cansaço físico e da tensão acumulada, o LC é obrigado a ameaçar confiscar-lhe as películas há utilizadas. Resultado: 

"Do documentário que devia ser feito das filmagens de Michel Carbeau, pelo realizador Michel Honorim, chefe da equipa, nunca tivemos notícias" (pág. 387). 

Restou o fotógrafo Gilles Caron que terá feito, mesmo assim, algumas belas imagens dos sítios por onde passou...

Destes (e doutros nomes que andaram pelas "áreas libertadas" a documentar a luta do PAIGC) há escassíssimas referências na Net: vd. Journal of Film Preservation, 77/78, october 2008.

Guiné 61/74 - P24279: Historiografia da presença portuguesa em África (366): Diogo Gomes na obra de Vitorino Magalhães Godinho (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Agosto de 2022:

Queridos amigos,
Não deixa de ser uma fascínio e provocar uma grande admiração folhear estes documentos de expansão portuguesa coligidos por Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011), obra da sua juventude, este data de 1943, serão publicados ainda 2 volumes, em 1944 e 1956, uma trilogia que é hoje uma raridade bibliográfica. Neste primeiro volume, aquele que se irá consagrar como o maior historiador português dos Descobrimentos procede ao levantamento das fontes que se propõe estudar e comentará um acervo de documentos, hoje reconhecidamente de valor irrefutável, tudo à volta do projeto henriquino. A escolha da Relação de Diogo Gomes tem extrema importância a vários títulos: primeiro, vemos o historiador a cortar cerce em confusões de Diogo Gomes, mostrando haver poucas coincidências entre o seu relato e o de Zurara; segundo, tratando-se a Relação de Diogo Gomes o primeiro escrito na contemporaneidade do Infante D. Henrique, revela os conhecimentos científicos da época, caso de se pensar que o Senegal era o braço ocidental do Nilo, tudo dentro de uma lógica do mundo concebido por Ptolomeu; terceiro, Vitorino Magalhães Godinho deixa bem claro que o Infante D. Henrique tem a alma de um cruzado, de um empreendedor comercial e o desejo de espalhar a fé, as informações que vai obtendo das sucessivas viagens seguramente que lhe terão dado conta que o islamismo já tinha forte difusão, a despeito de um grande espaço destinado à cristianização, junto dos povos animistas. Esta Relação é muito mais do que uma curiosidade, tudo começa em Ceuta e nas ilhas do mar oceano do Ocidente, resolvido o diferendo das Canárias, aposta-se no povoamento da Madeira e dos Açores.

Um abraço do
Mário



Diogo Gomes na obra de Vitorino Magalhães Godinho (1)

Mário Beja Santos

Na sua juventude, aquele que se virá a credenciar como o mais importante historiador dos Descobrimentos portugueses, Vitorino Magalhães Godinho, publica duas obras que serão a alavanca da sua assombrosa investigação, no arranque da década de 1940: A Expansão Quatrocentista Portuguesa e os Documentos Sobre a Expansão Portuguesa. Logo na introdução do Vol. I de Documentos Sobre a Expansão Portuguesa, o historiador deixa bem claro que sabe ao que vem, pauta-se pela evidência científica, não vai haver fantasia nem batalhas de Ourique nem as invenções da historiografia de Alcobaça, alerta-nos para as fontes do seu estudo: as narrativas (crónicas, relações); fontes diplomáticas (diplomas régios, diplomas emanados de entidades com direitos senhoriais, bulas pontifícias); documentos diversos, obras técnicas (tais como roteiros, regimentos náuticos, tratados cosmográficos e náuticos). E elenca o conjunto de todas estas fontes que pretende compulsar para o seu trabalho.

É exatamente neste vol. I, publicado pela Editorial Gleba em 1943 que Vitorino Magalhães Godinho retoma o estudo da Relação dos Descobrimentos da Guiné, atribuído a Diogo Gomes e que tinha sido publicada em 1900 no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Que importância se pode conferir a tal relação? É o único documento publicado por um navegador ou explorador contemporâneo do Infante D. Henrique, Diogo Gomes (ou Diogo Gomes de Sintra) está bem identificado como o colaborador do Infante, tendo exercido atividades de responsabilidade no reinado de D. Afonso V. O debate que ainda hoje persiste sobre a autoria da Relação é se teria sido ditada a Martinho de Boémia ou por este redigida e/ou modificada.

Chama logo à atenção a forma como arranca o texto:
“De que modo foi achada a Etiópia austral, a qual se chama Líbia inferior, além da que Ptolomeu descreveu, agora chamada Guiné pelos descobridores portugueses, a qual descoberta referiu Diogo Gomes, almoxarife do Paço de Sintra, a Martinho de Boémia, ínclito cavaleiro alemão (o historiador refere que ao tempo ainda não havia nenhum estudo crítico sobre a Relação de Diogo Gomes). A Relação começa sempre com o início do projeto henriquino, as viagens ao rio do ouro, as expedições conduzidas por Nuno Tristão e António Gonçalves, a procura do caminho para Tombuctu, as viagens de Gonçalo de Sintra e Dinis Dias que foram para além da Ponta da Galé, a construção da fortaleza de Arguim, novas armadas com Gil Eanes, Lançarote de Lagos, Nuno Tristão e Gonçalo Afonso de Sintra, as capturas de gente africana, prosseguem as expedições, já se está no país dos Jalofos, mais adiante passa-se o rio de S. Domingos e o rio Grande (o Geba) “e tivemos ali grandes correntes do mar, e na enchente faz grande ímpeto, o que chama o macaréu, porque então não há âncora que possa aguentar. Por esse motivo outros capitães e homens deles temiam muito, julgando que era assim todo o mar além, e me rogavam que voltasse. E a meio da maré ficou o mar bastante manso, e vieram os mouros da terra nas suas almadias e nos trouxeram as suas mercadorias, a saber: panos de seda ou algodão, dentes de elefante e uma quarta de malagueta em grão. E parámos aí, nem passámos além por causa das correntes do mar. E quando veio a maré cheia aconteceu-nos a nós como antes e assim nos voltámos a donde nos saímos”.

Descreve os palmares, os animais, volta a referir os elefantes e menciona as tocas dos crocodilos. Retornam viagem para o promontório de Cabo Verde, passam obrigatoriamente pelo rio Gâmbia, por ele navegam, vão estabelecendo relações com a população local, há quem os informe de que estavam cristãos em Cantor, falam-lhes de grandes cidades comerciais com abundância de ouro, caravanas de camelos trazendo mercadorias de Cartago ou Tunes, de Fez e do Cairo, Diogo Gomes vai obtendo informações sobre os reis, o comércio, sabe da existência do grande senhor chamado Batimansa, havia também um rei chamado Nomimans bastante hostil aos cristãos, Diogo Gomes mandou-lhe presentes, o rei apresentou-se, falaram de religião e o rei informou que só cria no Deus vivo e uno, queria ser batizado, escreveu uma mensagem ao senhor Infante para que lhe mandasse sacerdote e um fidalgo que o instruísse na fé e que lhe mandasse um açor, ave de caça, porque se admirou muito quando lhe disse que os cristãos traziam na mão uma ave que apanhava as outras aves.

No regresso vai contactando embarcações portuguesas e gente em terra. Tudo contando ao Infante D. Henrique, deu particular atenção ao que lhe dissera o rei Nomimans. “O Infante tudo fez, e mandou para ali o sacerdote parente consanguíneo do cardeal, Abade de Souto da Casa, para que ficasse com aquele rei, e o industriasse na fé.”

E dá-se a morte do Infante em Lagos, em 13 de novembro de 1460, será depois transladado para Santa Maria da Batalha. “Dois anos depois, o senhor rei Afonso armou uma grande caravela, onde me mandou pôr capitão; levei dez cavalos comigo e fui à terra dos Barbacins, ali há dois reis. O rei deu-me poder sobre as margens daquele mar, para que quaisquer caravelas que encontrasse em terra de Guiné fossem sob minha autoridade ou domínio, porque ele sabia que ali estavam caravelas que levavam espadas e outras armas aos mouros, ordenando-me que as tomasse e lhas trouxesse a Portugal (a bula de Eugénio IV de 25 de maio de 1437 concedera autorização aos portugueses para comerciar com os mouros, excetuando, porém, a venda de armamento). Com a ajuda de Deus, em doze dias cheguei a Barbacins”.

E descreve quem encontrou e dá-nos uma noção dos termos dos resgates: os mouros vendiam sete negros por um cavalo. Refere adiante que foi com António da Noli de regresso a Portugal. “E porque a minha caravela era mais veleira que a outra, cheguei eu primeiro a uma daquelas ilhas, onde vi areia branca, e, parecendo-me bom o porto, lancei a âncora e o mesmo fez António. E disse-lhes que queria ser o primeiro a pôr pé em terra, e assim fiz, e nenhum indício de homem vimos aí”. Observa Vitorino Magalhães Godinho que o descobrimento do arquipélago de Cabo Verde era atribuído a Diogo Gomes ou António da Noli ou a Cadamosto. Na Relação a viagem de Diogo Gomes em companhia do genovês é de 1462; ora a viagem do veneziano é de 1456, e documentos oficiais atribuem o descobrimento a António da Noli, cuja viagem deve ter sido anterior à de Cadamosto que ao encontrar quatro das ilhas supôs erradamente ser o seu descobridor. Mesmo admitindo que na Relação há confusão cronológica, e que Diogo Gomes acompanhasse António da Noli, não parecesse de aceitar o tirar ao genovês a glória do descobrimento, pois de contrário certamente o rei não lhe concederia a capitania de Santiago, como o próprio Diogo Gomes informa.

Trata-se de um belíssimo texto e vale a pena acompanhá-lo até ao fim.

(continua)

Estátua de Diogo Gomes na cidade da Praia, Cabo Verde
Estátua de Diogo Gomes na fortaleza de Cacheu
Vitorino Magalhães Godinho na juventude
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24253: Historiografia da presença portuguesa em África (365): António de Cértima, cônsul português em Dacar, anos 1920 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24278: Parabéns a você (2165): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAV 3366/BCAV 3846 (Susana e Varela, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24271: Parabéns a você (2164): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuna, 1964/66)

terça-feira, 2 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24277: Efemérides (390): Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar da Freguesia de Paus, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 29 de Abril (Fátima Soledade / Fátima Silva)


1. Mensagem com data de 1 de Maio de 2023 das nossas amigas, Fátima Soledade e Fátima Silva, ambas filhas de antigos combatentes do ultramar, com a reportagem da Homenagem prestada aos Combatentes da Freguesia de Paus, levada a efeito no passado dia 29 de Abril. Nesta cerimónia, o nosso Blogue esteve representado pelo editor Eduardo Magalhães Ribeiro.

Caro editor Carlos Vinhal,
Eu, Fátima Soledade e Fátima Silva, gostaríamos de partilhar, com a equipa que dinamiza tão respeitável blogue, bem como com todos os seguidores, a concretização da Homenagens aos combatentes naturais da freguesia de Paus mortos no Ultramar, falecidos na vida civil e aos que, felizmente, ainda se encontram entre nós, que ocorreu no dia 29 de abril.

Estiveram presentes várias entidades/instituições, familiares e amigos dos combatentes e alguns membros da Liga dos Combatentes de Lamego. A cerimónia teve início com a alocução da Sr.ª Presidente da Junta, onde evidenciou a coragem dos jovens heróis que durante 13 anos foram mobilizados para palcos de guerra, indo ao encontro do desconhecido. Referiu que, desde sempre, ouviu muitas narrativas partilhadas pelo pai, também ele foi prisioneiro de guerra na Índia e que as guarda na memória, apesar de já ter falecido, destacando especial relevo ao legado histórico que lhe deixou.

Num outro momento teve a palavra o ex-Furriel Miliciano Operações Especiais/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Eduardo Magalhães Ribeiro, que partilhou a sua experiência em terras da Guiné, transmitindo alguns conhecimentos geográficos, culturais das comunidades nativas e experiências de cariz militar sobre o período decorrido em território da “Guiné portuguesa”.

Os três militares mortos em combate foram relembrados com base de testemunhos recolhidos junto de familiares, amigos e antigos combatentes. Foram eles:
Amadeu de Oliveira, Soldado de Armas Pesadas da CCAÇ 390/BCAÇ 381, falecido em 29 de janeiro de 1963, em Úcua, encontrando-se ainda sepultado em Pango-Aluquém, Angola;
Joaquim Rodrigues, Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2893, falecido em 15 de novembro de 1970, em Nova Lamego, Guiné, encontrando-se sepultado no cemitério de Benfica, em Lisboa e
Lucídio Rasinhas, Soldado Atirador da CCAÇ 2405/BCAÇ 2852, falecido em 13 de julho de 1969, em Bafatá, Guiné, encontrando-se tumulado no cemitério da freguesia de Paus de onde era natural.

A celebração religiosa esteve a cargo do Sr. Pe. Excelso Ferreira que, de forma singela, dedicada e atenciosa, deu o seu contributo devoto à homenagem aos combatentes do Ultramar.

Como forma de sensibilizar as gerações mais novas, uma neta homenageou o avô materno, prisioneiro na Índia, lendo um testemunho bastante emotivo e saudoso.

O primeiro momento da cerimónia terminou com a participação da cantora Mónica Pires que, com a sua extraordinária voz, cantou e encantou com a letra de uma canção escrita pela mesma em consagração ao pai, antigo combatente em Moçambique, depois de ter falecido. Também houve a intervenção do Sr. Presidente da Assembleia Municipal, tendo presenteado os presentes com um pequeno testemunho pessoal na qualidade de antigo combatente e evidenciado o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas promotoras, a nível concelhio.

O momento de Louvor, no cemitério, começou com o descerramento de uma lápide alusiva aos três militares mortos em combate e com o canto do Hino Nacional, junto à sepultura do soldado Lucídio Rasinhas por parte da cantora Mónica Pires, tendo-se juntado à sua voz todas as vozes ali presentes.

Por fim, seguiu-se um momento de confraternização e convívio, onde os combatentes tiveram oportunidade de recordar e partilhar experiências vividas no Ultramar.

Foi um dia de muita comoção, mas também de muita alegria. Ambas queremos continuar a contribuir para dar VOZ aos HOMENS que não fora devidamente reconhecido pelo AMOR prestado em prol da PÁTRIA.

Muito gratas pelo apoio prestado. Podem contar sempre connosco.
Fátima Soledade e Fátima Silva


Momento religioso a cargo do Pe. Excelso Ferreira
Ex-Fur Mil Op Esp Eduardo Magalhães Ribeiro e elementos dos Órgão Sociais do Núcleo de Lamego da LC
Intervenção do Ex-Fur Mil Op Esp Eduardo Magalhães Ribeiro
Elementos dos Órgãos Sociais do Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes com Fátima Soledade e Fátima Silva
Descerramento da Lápide pela Presidente da Junta de Freguesia e Presidente da Assembleia Municipal
Lápide que homenageia os Combatentes de São Pedro de Paus caídos em campanha
Canto do Hino Nacional pela cantora Mónica Pires

Fotos: © Gentil José Pereira
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Notas do editor:

Vd. poste de 23 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24244: Efemérides (385): Convite para participação na homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar da Freguesia de Paus, Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24273: Efemérides (389): "Primeiro de Maio", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24276: Notas de leitura (1578). Lançamento do livro do ten gen ref Garcia Leandro, "O Balanço de Uma Geração" (Lisboa, Gradiva, 2023, 360 pp.)...Vídeo com a recensão crítica do Presidente da República

 


O Presidente da República faz, de improviso, uma recensão crítica do recente livro do ten gen ref Leandro Garcia, "O Balanço de uma Geração" (Lisboa, Gradiva, 2023, 360 pp.), Cortesia do autor. O vídeo (que não está na página oficial da Presidència da República) chegou-nos, com pedido de divulgação,  por mão do Virgínio Briote, antigo alf mil 'comando' que esteve na Guiné com o então cap 'cmd' Garcia Leandro (tem 1o referências no nosso blogue mas não faz parte da nossa Tabanca Grande).





1. Mensagem do Virginio Briote, nosso coeditor jubilado, um histórico do nosso blogue (nascido em Cascais, frequentou a Academia Militar, e foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan-Mai 1965); fez o 2º curso de Comandos do CTIG, comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / Set 1966); regressou em Jan 1967; casado com a Maria Irene; foi quadro superior da indústria farmacêutica; editor literário do livro de memórias do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Portuguès", publicado em 2010, sob a chancela da Associação de Comandos):

Data - segunda, 24/04, 20:17 (há 2 dias)
Assunto - Vídeo com o Presidente da República por ocasião do lançamento do livro do ten gen ref Garcia Leandro

Luis Graça e Carlos Vinhal, Caros Camaradas

O  meu antigo Cmdt CCmds, Garcia Leandro,  acabou de publicar o livro “O Balanço de uma Geração” (Lisboa, Gradiva, 2023, 360 pp). 

Não pude estar presente (no dia 17 do corrente, na Fundação Calouste Gulbenlian) mas o general Garcia Leandro enviou-me a declaração do PR sobre a referida obra. O Professor Marcelo Rebelo de Sousa aborda o tema da obra de forma interessante.

O vídeo, reproduzido acima, aqui disponível,  na conta You Tube / Luís Graça. Cortesia de Garcia Landro (8' 01")


Abraço do Virgínio Briote

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2. Mais  informação sobre o livro e o autor:



Neste livro dedicado à sua geração, o autor faz uma análise integrada de Portugal, no passado e no presente, com particular foco nos séculos XIX e XX e sobretudo nos consulados de Salazar e Caetano e da III República. Além disso, perspectiva o futuro possível, com base na sua vivência e testemunho.

De um modo articulado e objectivo, procura explicar a situação de Portugal a partir da década de 1950 e, nesse contexto, o comportamento de Salazar e de Caetano até 1974. Mas vai além desse período, pois faz o enquadramento internacional desde o século XIX, numa contribuição para interpretar a nossa História e como chegámos ao Estado Novo, depois de décadas muito difíceis e com grandes fragilidades.

Para o século XX, a sua análise, assente em dados concretos e factos vividos, aborda a questão ultramarina, os problemas, como foram encarados a partir do início da guerrilha em Angola e o que antecedeu o 25 de Abril de 1974. Que significou esse pedaço da História para a geração nascida durante a II Guerra Mundial e para as populações do então Ultramar?

Além de reflectir sobre esta questão e o funcionamento da III República, o autor analisa a reconstrução das Forças Armadas e das Forças e Serviços de Segurança, a sua modernização e a internacionalização. Ajudando a compreender este mundo em mudança, Garcia Leandro antevê como poderá ser o futuro do país a curto prazo, os problemas que se podem pôr a Portugal e a nossa viabilidade.

Este é um livro que faltava para uma compreensão melhor e independente de Portugal e das hipóteses que se porão para o futuro mundial.


Autor > 
José Eduardo Garcia Leandro


(i) nasceu em Luanda (1940):

(ii)  foi tenente-general do Exército desde 1998;

(iii) a sua vida profissional dividiu-se:

(iii a) entre o antigo Ultramar (Angola, 1962-1964 e 1970-1972; Guiné, 1965-1967;  e Timor, 1968-1970;

(iii b) tendo sido governador de Macau entre 1974- 1979);

(iii c) as funções de comando, a nível nacional e internacional (conselheiro militar da Delegação de Portugal junto da NATO entre 1987-1990, comandante da Componente Militar da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental da ONU em 1996, diretor do Instituto de Altos Estudos Militares e do Instituto de Defesa Nacional, e vice-chefe do Estado-Maior do Exército);

(iii d) e o ensino superior (no Instituto de Altos Estudos Militares, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa);

(iv) teve participação ativa em várias entidades ligadas à cidadania, foi membro do Conselho Geral da Universidade Aberta e presidente da Fundação Jorge Álvares, de 2016 a 2021, onde se mantém como curador;

(v) é académico,  correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e membro do Conselho Supremo da Sociedade Histórica da Independência de Portugal;

(vi) publicou, em 2011, o livro "Macau nos Anos da Revolução Portuguesa - 1974/1979" e coordenou o livro "Portugal e os 50 anos da Aliança Atlântica", lançado em 1999 pelo Ministério da Defesa Nacional.

Fonte: Wook (com a devida vénia)

[Seleção, revisão e fixação de texto, negritos e itálicos: L.G.]
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Nota do editor;

Último poste da série > 1 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24274: Notas de leitura (1577): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24275: Tabanca Grande (549): As "fotos da praxe" do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, que completou 90 anos em 12/12/2022... Foi 2.º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73) e Cmdt do Comando Geral de Milícias (1973)


Mário Arada Pinheiro, cor inf ref, membro da Tabanca Grande, nº  871, desde 20 de fevereiro de 2023 (*).  Faltavam-nos as fotos da praxe para completar o seu processo de adesão à nossa comunidade virtual (**)


1. Em complemento do poste P24072 (*), o nosso novo grã-tabanqueiro, nº 871, cor inf ref Mário Arada Pinheiro,  mandou-nos finalmentre as "fotos da praxe" para completar o seu processo de adesão à Tabanca Grande.(**)

Recorde-se que, após duas comissões de serviço em Moçambique, como capitão (em 1961/63 e 1968/70, foi mobilizado para a Guiné, como major, e onde permaneceu, de 16/9/71 a 21/9/73,

Esteve um ano no comando do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73), em Catió,  onde foi substituir o 2º comandante que tinha sido evacuado por doença.

Esta unidade ra apenas composta por Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 16dez70, após sobreposição com o BArt 2865, desde 7dez70, assumiu a responsabilidade do Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações, especialmente quando situados junto da fronteira. Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Em 21Ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque.

Nessa altura, o  Mário Arada Pinheiro foi  colocado na Repartição de Operações,  do Comando Chefe, na Amura,  cujo chefe era o tenente coronel Firmino Miguel. Cerca de 3 meses depois, foi convidao para (e nomeado) comandante do Comando Geral de Milícias, em substituição do major inf Carlos Fabião que regressara a Lisboa após 8 anos de Guiné.

Além das milícias, tinha também sob o seu comando as companhias africanas tal como os pelotões de caçadores nativos num total de cerca de 13000 militares.

Nasceu em 12/12/1932, em Samora Correia, Benavente, filho de  um oficial da Marinha. Ficou órfão cedo. Entrou para o Colégio Militar em 1943 onde fez o curso liceal.  Frequentou depois a Academia Militar (1951/54). Tirou o tirocínio em Mafra em 1954/55. Foi promovido a alferes em 1955, tenente em 1957 e capitão em 1960. Atingiu o poste de posto de coronel em 1976. Faz férias, de há muito, na Praia da Areia Branca, Lourinhã. Foi aí que nos conhecemos. É uma pessoa de trato afável e um grande contador de histórias. Ultrapassou recentemente um problema de saúde.  Completou no passado dia 12 de dezembro os 90 anos. (LG)
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Guiné 61/74 - P24274: Notas de leitura (1577): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Trata-se de uma narrativa muitíssimo bem urdida, estribada na solidez da documentação, e se dúvidas subsistissem quanto à hierarquia dos problemas cruciais que levaram ao desmoronamento do Estado Novo, o rigor e a probidade deste estudo, a consulta de arquivos nacionais e estrangeiros, falam por si: como o livro de Spínola teve o poder de espoletar a discussão pública e no interior de regime quanto às soluções possíveis depois do prolongamento de uma guerra que conhecia, após 1973, um acirramento asfixiante. 

Naqueles últimos meses que precedem ao baqueamento do regime procurava-se desesperadamente comprar armas para manter a guerra, isto graças ao financiamento sul-africano. E acompanhamos a evolução do que podia parecer exclusivamente uma querela corporativa transformar-se numa vaga estuante, o MFA; e, mais facilmente se torna compreensível como praticamente ninguém tenha vindo defender o regime, que caiu num só dia, e com escasso derramamento de sangue. Mas ainda estamos no princípio, segue-se um corropio de peripécias até ao momento em que a PIDE/DGS capitula, na António Maria Cardoso.

Um abraço do
Mário



Os últimos meses do Estado Novo, como a guerra colonial fez baquear um regime (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", Guerra e Paz, Editores, 2023, por José Matos e Zélia Oliveira, o primeiro investigador em História Militar, a segunda, jornalista e com uma tese de mestrado sobre a crise final do marcelismo. Estão aqui registados numa narrativa que prende o leitor do princípio ao fim os três últimos meses que antecederam o 25 de Abril. Basta ver a bibliografia para perceber que os autores consultaram centenas de documentos de arquivos nacionais e estrangeiros, temos aqui um olhar sobre aquele que terá sido o período mais tumultuoso do marcelismo, aqui se registam os principais ingredientes que conduziram ao seu colapso.

15 de fevereiro de 1974, Marcello Caetano preside à última reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional. 

“Costa Gomes informa os presentes de que tinha sido assinado um contrato para a aquisição de uma bateria de mísseis antiaéreos, para defender Bissau, e que o governo procurava rapidamente adquirir armas anticarro, para enfrentar as viaturas blindadas que se dizia estarem na posse do PAIGC na fronteira sul da Guiné. As baixas causadas pela guerrilha às forças portuguesas na Guiné, em 1973, tinham sido de 347 mortos e 1007 feridos, o que representava um quantitativo muito elevado. Neste ponto da reunião, Marcello Caetano intervém para referir que o governo sentia grandes dificuldades em comprar armas nos mercados internacionais, dando, como exemplo, o caso dos mísseis antiaéreos franceses Crotale. O governo francês tinha concordado em vender os mísseis por 75 milhões de francos, na perspetiva de que eram armas de defesa e que não seriam usadas no combate às guerrilhas.” 

Costa Gomes passará em revista os teatros de operações de Moçambique e Angola, interveio o secretário de Estado da Aeronáutica, Tello Polleri, sublinhando a importância de prosseguir o programa de reequipamento da Força Aérea, havia que comprar caças Mirage.

Três dias depois desta reunião, Caetano recebeu um exemplar do livro "Portugal e o Futuro", lerá o livro na noite de 20, escreverá mais tarde que tinha compreendido que o golpe de Estado militar era agora inevitável. Os autores debruçam-se sobre as razões de fundo das razões de Spínola que levaram a escrever a obra, as peripécias um tanto tortuosas sobre quem autorizou a publicação, foi uma corrida ao livro que se esgotou no mesmo dia, os leitores aperceberam-se da bomba: a vitória exclusivamente militar era inviável. 

“Pretender ganhar uma guerra subversiva através de uma solução militar é aceitar, diante mão, a derrota, a menos que se possuam ilimitadas capacidades para prolongar indefinidamente a guerra, fazendo dela uma instituição. Será esse o nosso caso?” 

Costa Gomes e Spínola são convocados a 22 de fevereiro, Caetano sente-se desautorizado e sugere aos dois generais que deviam assumir as suas responsabilidades, que serão enjeitadas por estes.

Por essa altura, a 25 de fevereiro, a Comissão Coordenadora Executiva do MFA reúne-se em casa de Otelo Saraiva de Carvalho, é elaborado um texto, agenda-se um mini plenário para 5 de março. Os autores dão-nos conta do que desencadeara esta movimentação, uma legislação publicada no verão de 1973 que essencialmente procurava atrair oficiais milicianos à profissão militar, de acordo com a primeira legislação promulgada os oficiais milicianos mediante cursos rápidos passariam ao quadro permanente, a antiguidade dos oficiais deste quadro parecia posta em causa. 

“Os oficiais oriundos de milicianos iriam ultrapassar na carreira os oriundos de cadetes do quadro permanente, situação que se considerava ser uma injustiça.” 

Caetano encontra-se com o Presidente da República em 28 de fevereiro, pede a Thomaz que aceite a exoneração do executivo, Thomaz responde que esta não fazia sentido.

A situação internacional era manifestamente intolerável para a vida do regime, o ataque da Síria e do Egito a Israel a 6 outubro de 1973, teve consequências gravíssimas para a economia portuguesa, os grandes produtores árabes bloquearam o fornecimento dos hidrocarbonetos a Portugal, o abastecimento passou a ser feito no mercado livre, a um preço gravoso. Kissinger escreveu mesmo uma carta a Caetano em tom de Ultimatum, precisava da base das Lajes imediatamente, senão… Isto numa altura em que Portugal precisava de obter desesperadamente mísseis terra-ar portáteis, do tipo Redeye para proteger as tropas portuguesas na Guiné. 

Costa Gomes fizera uma análise na reunião de 19 de outubro no Conselho Superior de Defesa Nacional, chamara a atenção para uma possível escalada da guerra da Guiné, “uma vez que aquele país dispunha de caças MiG-15 e MiG-17 e havia informações de pilotos do PAIGC a serem treinados na União Soviética, que se podiam juntar aos da própria Força Aérea da República da Guiné. Costa Gomes refere ainda que a situação militar na colónia se tinha agravado devido às novas capacidades militares da guerrilha e à alteração do conceito de manobra que levou o PAIGC a fazer grandes concentrações à volta de três quartéis das tropas portuguesas, em zonas de fronteira, que isolou e bombardeou com elevado poder de fogo.” O general falou dos números decorrentes destas operações e do agravamento da guerrilha: “As nossas forças tiveram 125 mortos e 586 feridos até ao fim do período em análise, o que são números muito elevados (correspondem à perda de um batalhão), dos quais 96 mortos e 500 feridos só nos mês de maio.”

E os autores continuam: “A situação podia piorar ainda mais no caso de um ataque de aviação que, na opinião de Costa Gomes, poderia conduzir ao colapso militar das forças portuguesas naquele teatro de operações. Sendo assim, defendia que a nova ameaça exigia a existência de meios de defesa antiaérea apropriados para a cidade de Bissau, o que teria de incluir mísseis terra-ar e, complementarmente, aviões de caça modernos que podiam ser usados para retaliar sobre o país vizinho. A defesa de Bissau era prioritária, mas qualquer quartel na Guiné podia ser atacado, o que exigia também mísseis terra-ar portáteis para defender as tropas portuguesas. Sá Viana Rebelo, o ministro da Defesa, deu conta das negociações com a Africa do Sul de fornecimento de material de guerra, nessa altura considerava-se a possibilidade de um empréstimo avultado em dinheiro para reequipar as forças portuguesas que precisavam urgentemente de ser modernizadas.” 

E nesta reunião, Cota Dias, ministro das Finanças, informou não estar em condições de assegurar despesas suplementares.

É num capítulo intitulado “Uma questão de vida ou de morte” que os autores escrevem as conversações luso-norte-americanas para a aquisição de mísseis, veículos, aeronaves, equipamentos. Quando Kissinger vem a Lisboa em 17 de dezembro de 1973 recebe um memorando onde claramente se põem números para mísseis terra-ar, veículos modernos com sistema antitanques e aviões de transporte C-130, o secretário de Estado lembrou que o Congresso dos EUA iriam levantar inúmeros obstáculos, impunha-se encontrar soluções em intermediários, segue-se um período em que Washington andou a empatar até um dia o embaixador português ter recebido uma resposta de que os EUA iriam ofertar uma central nuclear.

No início de 1974 dá-se o agravamento da situação em Moçambique, uma família de agricultores brancos é atacada por guerrilheiros da FRELIMO, a mulher é morta, segue-se uma greve geral, apedreja-se a messe de oficiais do exército na Beira, Costa Gomes vai a Moçambique, é no decurso dessas reuniões que o general confirma as dificuldades decorrentes da dependência portuguesa, crescera o número de países que impediam a venda de armamento, acresce a falta de oficiais do exército para comandar a polícia. 

“As tropas no Ultramar e em instrução na metrópole tinham aproximadamente 200 mil homens, e em função desse número deviam existir 18 mil oficiais. Mas na verdade, no terreno, existiam pouco mais de 4 mil. Um estudo do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, datado de março de 1973, já chamava a atenção para o problema referindo que era uma questão inadiável e que os oficiais em funções de combate estavam a atingir o limite da exaustão. No estudo podia-se ver que o número de oficiais que o Exército devia ter na metrópole, no Ultramar e de reserva para as forças de segurança estava muito abaixo do necessário. Em teoria, deviam ser 5650 oficiais na globalidade, mas em janeiro de 1972 existiam apenas 2872. Além disso, as carências eram mais graves ao nível de capitães e oficiais subalternos. Nas conclusões, o estudo alertava para a situação gravíssima e potencialmente perigosa que se vivia no Exército, e para a urgência de medidas de fundo a tomar rapidamente para não se correr o risco do Exército se desmoronar.”

José Matos
Zélia Oliveira
Notícias sobre o levantamento das Caldas, em 16 de março de 1974
Imagem de Guidage ao tempo em que o coronel Moura Calheiros e a sua equipa fora exumar os paraquedistas falecidos durante as operações de libertação do cerco, que ocorreram maio de 1973
Outra imagem de Guidage, da autoria de Albano Costa, publicada no blogue Dos Combatentes da Guerra do Ultramar, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24263: Notas de leitura (1576): Atitudes e comportamentos raciais no Império Colonial Português (2): "Relações Raciais no Império Colonial Português", por Charles Ralph Boxer, Tempo Brasileiro, 1967 (Mário Beja Santos)