quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24647: Historiografia da presença portuguesa em África (385): O império da Casa Gouveia em 1970, a grande empresa guineense (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
É uma mera curiosidade, talvez uma ajuda para quem um dia meta mãos para descobrir a fundo os negócios da Casa Gouveia, este anúncio abre imensas pistas, não refere as propriedades agrícolas nem as ligações à Sociedade Geral de Indústria, Comércio e Transportes (ver link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_Geral_de_Ind%C3%BAstria_Com%C3%A9rcio_e_Transportes), e muito menos a CUF.

Um abraço do
Mário



Foi numa revista intitulada Cartaz – revista mensal de cultura, informação e turismo (seguramente ligada ao SNI) no número de março de 1970 que encontrei este anúncio de prestígio da Casa Gouveia, dá perfeitamente a quem pretenda estudar economia colonial, nos seus últimos anos, a latitude e longitude daquele que se autoproclama a maior organização comercial e industrial da província. Não se fala nem na CUF nem na Sociedade Geral, elenca as casas de comércio, as instalações industriais no Ilhéu do Rei e o conjunto de representações como importador. A sua ligação em Lisboa, para efeitos de import-export era a ACTIMESA, na rua Tomás Ribeiro, nº 5, 4.º. Este anúncio de prestígio acompanha uma revista totalmente dedicada à visita do ministro Silva Cunha à Guiné.

O império da Casa Gouveia em 1970, a grande empresa guineense
Casa Gouveia no Ilhéu do Rei, instalações já em desmoronamento
As instalações da Casa Gouveia no início da Avenida da República
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24627: Historiografia da presença portuguesa em África (384): Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24646: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (11): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte VIII: o que fizeram de ti, Bafatá, princesa do Geba ?


Foto nº 1  > Mercado de Bafatá, visto do exterior.  (recorde-se que o nosso especialista de Bafatá, o Fernando Gouveia, já lhe dedicou um poste, P4769, considerando este edifício, de estilo revivalista, neo-árabe,  como o verdadeiro ex-libris de Bafatá)


Foto nº 2 > Mercado de Bafatá: interior (1)


Foto nº 3  > Mercado de Bafatá: interior (2)


Foto nº 4 > Mercado de Bafatá: interior (3)
 

Foto nº 5  > Porto fluvial de Bafatá visto da piscina municipal construída ao tempo do administrador Guerra Ribeiro


Foto nº 6 > Rua principal de Bafatá, vista da piscina; em primeiro, o parque com a estátua do governador Oliveira Muzanty, do princípio do séc. XX (e entretanto derrubada a seguir à independência), e a casa Gouveia; ao alto, ainda se vê a torre da igreja (Bafatá hoje é sede de episcopado).


Foto nº 7 > O Jaime Machado na prancha de saltos da piscina municipal


Foto nº 8 > A mesquita de Bafatá (ficava na tabanca da Rocha,  tal como... o Bataclã)


Foto nº 9 > Estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá que aqui, se não nos enganamos, atravessava o Rio Cofule, afluente do Rio Geba (ponte em madeira)


Foto nº 10  > O burro, que já estava em extinção... Aqui carregado de sacos de mancarra.
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Bafatá >  s/d (presumivelmente 1969)

Fotos (e legenda): © Jaime Machado (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do belíssimo álbum  do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).

[Foto atual, à direita, do Jaime Machado, que reside em Senhora da Hora, Matosinhos; sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]


2. Comentário do editor:

Bafatá tem 385 referências no nosso blogue.
No nosso tempo era a cidadezinha da Guiné mais aprezível, acolhedora, tranquila,e talvez a mais fotogénica. 

Quem andou no Leste, passou por lá e os nossos fotógrafos por certo lhe tiraram uma ou mais chapas... do Fernando Gouveia (que lá viveu com a esposa durante toda a comissão, entre 1968 e 1970) ao Humberto Reis (que estava ali a 30 km, em Bambadinca, entre kmeados de 1969 e março de 1971). 

O Jaime Machado, com as suas Daimlers dançarinas, iá também regularmente, em serviço ou me lazer.  Eram a nossa escvolta. No seu e nosso tempo era dos poucos troços de estrada asfaltada, que havia no território, a estrada Bambadinca-Bafatá. E ainda era um oásis de paz. O comércio da mancarra trouxe prosperidade a Bafatá. 

E depois tornou-se também o "ventre da guerra"... O "patacão"  da tropa alimentava Bafatá, que tinha um porto fluvial, mas já em decadência, com a concorrência do Xime e de Bambadinca, mais a jusante. Tinha algumas excelentes casas comerciais e restaurantes. E, claro, o Bataclã, o comércio do sexo em tempo de guerra.

Enfim, são mais umas fotos (reeditadas e melhoradas) para o roteiro de Bafatá (descritor com cerca de 20 referências),  um lugar que já não existe mais, a não ser nas nossas memórias: os visitantes de h0je são unânimes em reconhecer a decadência da cidadezinha colonial que conhecemos antes da independêncioa do território.



Guiné > Zona Leste > Estrada Bambadinca-Bafatá > 1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá,  acompanhada de uma AM (autometralhadora) Daimler, do Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo alf mil cav Jaime Machado... Era a nossa escolta habitual. (Parece-nos, mas não temos a certeza, de ser ele, o  Jaime Machado, quem ao lado do condutor.) 

Fotos (e legenda): © Humberto Reis  (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
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terça-feira, 12 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24645: Ser solidário (258): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (5) (Renato Brito)

1. Mensagem enviada ao nosso Blogue, em 9 de Setembro de 2023, por Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa:

Bom dia Carlos Vinhal,
Partilho mais um bilhete-postal que vai dando notícias sobre a campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa – Guiné-Bissau.
Partindo da imagem sugestiva de um grupo de mulheres que transportam água na aldeia de Cabuca, apresento uma reflexão sobre a força das mulheres da Guiné-Bissau.
Destaco também a ideia reconhecida e premiada da Associação Afectos com Letras de oferecer em aldeias descascadoras mecânicas de arroz para que as meninas possam frequentar a escola.
Bem ilustrativo desta realidade este vídeo:



Ainda sobre este tema, procurei ajuda para traduzir do Crioulo a música de Zé Manel “Mindjer i um Kumpanher” que pode ser ouvida neste site:


Apresento ainda um projecto de distribuição gratuita de água potável realizado no sul do Senegal, desenvolvido pela Associação Italiana Salo Balouo.
Referem no site que com um investimento que pode variar entre 7.000 e 12.000 euros, beneficiam desta água sem vírus nem bactérias, diretamente 3000 pessoas e indiretamente 10.000.
Possível consultar a descrição detalhada deste interessante projecto neste site:
https://www.balouosalo.com/projects/pozzo-kenewal.html


Ainda, como acontece com cada “cartolina”, divulgo a apresentação da minha viagem à Guiné-Bissau que se vai realizar no Centro Cultural Urania, na cidade de Merano.
Uma noite onde os presentes vão poder também experimentar a gastronomia e ouvir a música do país.
Para quem tenha curiosidade, possível aceder à apresentação deste deste evento aqui:
https://urania-meran.it/it/cultura-societa/cultura-allurania/kurs/2310C10271/merano-travel-nights-02-guinea-bisseau-in-bicicletta-attraverso-lafrica-oc/

Muito grato pelo seu contributo em divulgar este projecto.

Cumprimentos,
Renato Brito

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Notas do editor

Vd. poste anterior de 27 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24260: Ser solidário (255): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (4) (Renato Brito)

Último poste da série de 30 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24268: Ser solidário (257): Com a consignação de 0,5% do nosso IRS a favor da ONGD Afectos com Letras (NIF 509301878), podemos ajudar a levar descascadoras de arroz até à Guiné-Bissau, retirando as meninas do trabalho manual da descasca e permitindo que vão à escola

Guiné 61/74 - P24644: Documentos (43): Panfleto dos "Soldados da Guiné", datado de 16 de Maio de 1974, com um apelo às suas famílias para que não os abandonem (Abílio Magro)

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), com data de 5 de Setembro de 2023, trazendo em anexo um panfleto dos chamados "Soldados da Guiné" com um apelo patético, digo eu editor, às suas famílias aqui na metrópole, para forçar o regresso imediato dos militares ali em serviço.

Bom dia caro ex-camarada Carlos Vinhal:

Espero que essas molas e esses amortecedores se encontrem em acelerada recuperação e que brevemente estejas apto a correr a meia-maratona de Matosinhos-Leça (para já só a meia, ok?).

Entretanto, tendo eu andado a vasculhar no baú encontrei dois pequenos jornais da Voz da Guiné de 7 e 10 de setembro de 1974, cujo director era um tal Duran Clemente que julgo tratar-se do capitão de Abril.

Se, por acaso, entenderes que o que por lá se dizia naquele tempo tem algum interesse para o blogue, diz que eu tentarei, por partes, digitalizar tudo ou transcrever os textos mais importantes.

Encontrei também um apelo escrito, assinado pelos “Soldados da Guiné” que envio em anexo.
Nestas andanças vieram-me à memória alguns acontecimentos que julgo poderem trazer alguma luz sobre a data da bomba no café Ronda.

Então é assim: recordo-me, muito ao de leve, de ter lido algures que o café que se situava na avª da República, um pouco abaixo do cinema UDIB e do outro lado da rua, não se chamava Ronda, mas que assim era conhecido e o nome foi sendo passado entre militares, mas também não me recordo de lá ter visto qualquer referência ao seu nome e que o verdadeiro café Ronda era um pequeno café junto (ou dentro?) do pilão onde aos fins de semana havia uns bailaricos com pouca gente.
Nesse café, em 1974, teriam rebentado duas granadas que poucos estragos fizeram e nunca mais ouvi falar no assunto.

No café “Ronda” da avª da República, por volta de setembro de 1973, rebentou uma bomba que se encontrava dentro de uma mochila que foi deixada abandonada.

Eu e o meu irmão Álvaro andávamos ali por perto. O ex-Fur. Mil Carlos Filipe Gonçalves estava de férias em Cabo Verde em setembro de 1973 e recebeu a notícia desse acontecimento e quando regressou de férias foi ver os estragos naquele café.

Um abraço,
Abílio Magro



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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24525: Documentos (42): "Acordo Missionário", de 7 de maio de 1940, celebrado entre a Santa Sé e a República Portuguesa

Guiné 61/74 - P24643: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (6): Instalaçóes do quartel de Buba

  


Foto nº 1 > Guiné > Regiã
o de Tombali > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Capela (1)




Foto nº 2 > Guiné > 
Regiã de Quínara >  Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Capela (2)


Foto nº 3 > Guiné > Regiã de Quínara > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Bar de oficiais


Foto nº 4 > Guiné > 
Regiã de Quínara >Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > À esquerda,  a secretaria e centro cripto;  à direita,  a cantina;  ao centro,  o depósito de água



Foto nº 5 > Guiné > Regiã de Quínara > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Mastro da bandeira nacional



Foto nº 6 > Guiné > 
Regiã de Quínara >> Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Posto de transmissões



Foto nº 7 > Guiné > 
Regiã de Quínara > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Instalações dos Oficiais


Foto nº 8 > Guiné > Regiã de Quínara > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Instalações de Sargentos. à esquerda, em segundo plano, está um camarada de pé, junto á porta, era a caserna do 3º pelotão.


Foto nº 9 > Guiné > Regiã de Quínara > Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Cantina. Ao lado, era a caserna do 1º Pelotão. As camas nas casernas dependiam do espaço, havia as duas situações: simples e sobrepostas.




Foto nº 10 > Guiné > Regiã de Quínara >Buba > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Depósito de géneros.


Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 11 referências n0 nosso blogue. O descritor Buba tem 375 referências.

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Nota do editor;

Último  poste da série > 7 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24628: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (5): Ainda Bolama, abril de 1973

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24642: Manuscrito(s) (Luís Graça) (228): Uma romã e um cacho de uvas douradas, para ti, querida Nita(s), com a nossa (e)terna saudade

 

Foto nº 1 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023) (*)

Foto nº 2 > Quinta de Candoz > Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), a Mi (cunhada) e a Chita (Alice, irmã)

Foto nº 3 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (1)...



Foto nº 4 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (2)...



Foto nº 5 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Os cachos  (arinto / pedernã) que a Nita(s) adorava apanhar...


Foto nº 6 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindimas...Este ano começou a vondimar-se mais cedo, foi um ano "atípico", diz o nosso engenheiro e enólogo... Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos..., para dar uma mãozinha.


Foto nº 7 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindima...Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos... Filhos, sobrinhos/as, sobrinhos-netos...


Foto nº 8 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Antigamente acarretava-se os "cestos de vime" às costas até ao lagar... Hoje, felizmente, o trator alivia-nos as costas...


Foto nº 9 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Tud0 gente da casa, da 2ª e 3ª geração...



Foto nº 10  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Cestos (de plástico...) cheios de uvas de castas (loureiro, avesso, algum alvarinho...),  que amadurecem mais cedo.


Foto nº 11 > Quinta de Candoz > Vindimas > 9 de setembro de 2023 > A "romãzeira da tia Nita(s)", na borda de um dos nossos campos... (Nome científico: Punica granatum)


Foto nº 12  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > As primeiras romãs maduras para a "tia Nita(s)" com a nossa (e)terna saudade...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Amigos e camaradas, deixem-me falar de outra das minhas geografias emocionais, que é Candoz, a Quinta de Candoz, ou Tabanca de Candoz, como eu também gosto de lhe chamar.  

Há quase meio século, desde 1975, que venho aqui, à casa  e à terra onde nasceu a mãe dos meus filhos. Por herança (e opção), somos sócios da Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal).  Havia momentos especiais do ano, festivos, em que não podíamos faltar: o Natal,  a Páscoa, as vindimas... Mesmo estando longe, a 350 km de distância, eu, a Alice, os nossos filhos, procuramos estar aqui em Candoz nessas datas...

As vindimas são um momento mágico e agregador das famílias que nasceram no campo e sempre conviveram com a terra e a vinha. Mesmo quando se partia para a cidade (Porto, Lisboa) e depois para o Brasil, a França e a guerra em África, Moçambique e Angola (como foi o caso dos très rapazes da família),  quem podia vir, vinha dar uma ajuda quem não podia vir, escrevia cartas ou aerogramas cheios de saudade...  

Dos seis filhos do casal José Carneiro e Maria Ferreira, quatro (três raparigas e um rapaz) decidiram constituir, nos anos 80, a Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal) e constuir uma vinha inteiramente nova, nos solcalcos roubados ao longo dos séculos à floresta de carvalhos e castanheiros, sustentados por grossos muros de pedra, e que está na família Ferreira Carneiro desde pelo menos os primeiros decénios do séc. XIX. 

Era uma pequena exploração familiar projetada, há 40 anos, para produzir no máximo 20 pipas (c. 15 toneladas de uvas),  de vinho verde branco, das castas arinto/pedernã e azal (maioritariamente, mas também com videiras  de loureiro, alvarinho e avesso), a uma cota entre os 250 e 0s 300 metros acima do nível do mar.

Durante estes anos todos a nossa Nita (para o marido e os filhos) ou Nitas, a "tia Notas" (para os restantes familiares e amigos) foi a "alma" desta pequena comnunidade. A morte, traiçoeira, levou-a aos 76 anos, depois de trabalhar uma vida inteira como engenheira química no laboratório do Departamento de Engenheiria Química do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto (*)

Este  é o primeiro ano que fazemos a vindima sem a sua presença física. Nas duas primeiras fotos acima, de 18 de setembro de 2020, ela já sabia o diagnóstico da doença que a haveria de matar, e a que não teria sido alheia a exposição profissional a substàncias cancerígenas.  Estóica e digna na doença, e ainda em tempo de pandemia de Covid-19, a Nita(s) não deixava de nos brindar com o seu sorriso luminoso, a sua gentileza, a sua fotogenia, o seu carinho , a ternura, o amor, o desvelo, a entrega, a generosidade e a alegria que sempre pôs em tudo o que fazia,  bem como nas relações que mantinha com  os outros. 

Foi fada e rainha deste lar.

Estas primeiras fotos da primeira vindima de 2023 (vamos fazer três, e no próximo fim de semana a maior) é dedicada à nossa querida Nita(s), figura tutelar da nossa Quinta de Candoz. Para ela vai um cacho de uvas douradas e a primeira romã madura que colhemos da sua romãzeira. (**)

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Notas do editor:

(*) 26 de março de 2023  > Guiné 61/74 - P24170 : Manuscrito(s) (Luís Graça) (219): Na despedida da Terra da Alegria: à minha querida 'mana' Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023)

(**) Último poste desta série : 18 de agosto de  2023 > Guiné 61/74 - P24564: Manuscrito(s) (Luís Graça) (227) : Chita... Não vale a pena parar, / A vida é p’ra se viver, / Com momentos p’ra sofrer, / É tudo sempre a somar.

Guiné 61/74 - P24641: Notas de leitura (1615): "Guiné-Bissau: Um Caso de Democratização Difícil (1998-2008)", por Álvaro Nóbrega; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015 (1) (Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
É um estudo rigoroso, bem datado, uma observação que cuida do mosaico étnico, das condições da luta pela independência, toma em consideração as sucessivas práticas do poder, visita a transição democrática em África para aquilatar o processo democrático formalmente encetado em 1991 mas que foi sujeito a inúmeros escolhos, interpreta o que há de completamente diáfano no chamado sentido do Estado, como se organiza o poder soberano do mando, e como permanece longínqua a distância entre as leis que se fabricam em Bissau e o quotidiano de quem vive agarrado à subsistência. Um estudo de leitura obrigatória, com bom trabalho de campo, oferece uma reflexão sobre os diferentes fatores que têm induzido a disfuncionalidade do Estado e do processo democrático na Guiné-Bissau, nada de moralização, factos são factos, os guineenses que ponderem sobre a revitalização da sociedade civil, a participação nas decisões de quem está longe dos jogos de Bissau, o tal caminho longe que deve ser feito para erradicar o narcotráfico, o fantasma tribal, as mil e uma manifestações da corrupção.

Um abraço do
Mário



Uma soberba investigação sobre uma Guiné-Bissau que viveu a guerra civil, dilacerante (1)

Mário Beja Santos


Álvaro Nóbrega, Doutor em Ciências Sociais e professor universitário, é autor de uma obra de referência "A Luta pelo Poder na Guiné-Bissau" (2003), e na sequência desse primoroso trabalho produziu "Guiné-Bissau: Um caso de democratização difícil (1998-2008)", Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 2015. Este ensaio, de leitura obrigatória, desvela o itinerário ziguezagueante das instituições democráticas e pluralistas na Guiné-Bissau; o investigador reflete a fundo sobre as condições do nascimento do Estado, após uma prolongada luta armada de libertação nacional, elenca sobre as fragilidades, os erros, a vertigem dos cargos, o nepotismo, a tentação tribal, a Nação firme, mas o Estado volátil; enfim, importa esclarecer se faz vencimento aludirmos a um Estado frágil ou falhado ou supor que haverá outros itinerários, que seguramente requerem imensa coragem, a trilhar para consolidar a democracia e o respeito pelas instituições.

O autor privilegia, no início do seu trabalho, a análise do processo de liberalização política encetado nos anos 1990, vai forçosamente a décadas atrás e enquadra com a evolução que ocorreu noutros países, regimes autocráticos que simularam ou com um certo grau de sinceridade aprovaram as instituições pluralistas, o respeito pela liberdade de expressão, a independência da justiça e a primazia do trabalho parlamentar. Quando Nino Vieira abriu caminho para as instituições pluralistas, fê-lo com uma pedra no sapato e com enormes resistências no seio do PAIGC. Quando este chegou ao poder em Bissau, em outubro de 1974, parece ter esquecido as advertências de Cabral para as armadilhas que potencialmente Bissau reservava; com a gula do poder, esqueceram-se questões medulares do mosaico étnico-cultural, que o autor elenca, vale a pena uma referência:
“No litoral registam-se as maiores densidades populacionais e congregam-se os povos de cultura animista que resistiram ao processo de islamização que vingou em toda a sub-região. Manjacos, Mancanhas, Felupes, Papéis ou Pepel, Baiotes, Bijagós e Balantas foram o grosso desta população de cultura animista. No litoral sul e no interior do país predominam, por ordem decrescente de importância populacional, Fulas, Mandingas, Beafadas e Nalus/Sossos, Jacancas e Saracolés. Há quem defenda hoje, como no tempo colonial, que o processo de islamização será rápido entre a população que ainda resiste animista. Pode ser que assim aconteça face a um proselitismo islâmico muito ativo, e é uma igreja católica que, pese a sua ação social valiosa, não parece em condições de travar o processo. Mas não se pode esquecer a ação das seitas evangélicas, especialmente as brasileiras, as da torna-viagem, intensamente prosélitas e com rituais e práticas que vão ao encontro do esoterismo das populações africanas”.

Não esquece as etnias transnacionais, são as que demograficamente mais pesam, que têm estreitas ligações com o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Conacri, e daí também um quadro de descentralização política, um verdadeiro tampão contra o Estado coeso. O PAIGC tentou infiltrar-se nas estruturas locais e perdeu, foram as estruturas locais que esvaziaram os comités e os representantes nomeados por Bissau foram desde muito cedo ostracizados. Igualmente a tentativa de modernização imposta não vingou. “A desorganização crescente do Estado, o processo de abertura política, que levou os políticos de volta às tabancas para disputarem intensamente o voto das zonas rurais, conduziu a uma reafirmação do poder tradicional que está bem consciente da importância que tem em tempos eleitorais. Assim se compreende a posição das autoridades administrativas que tanto escrevem documentos de reconhecimento ao poder tradicional, como aconteceu na investidura do novo régulo do Forreá, ou que, chamadas a intervir em chão Papel num conflito de direitos sucessórios, entregaram a sua resolução ao poder regular contra quem tinham sido chamados. Nestes momentos em que o Estado visita a tabanca não é raro que não consiga falar diretamente com o seu povo, nem ouvir o que ele diz, sem recorrer a um intérprete que domine a língua étnica e o crioulo”.


Assim se põe a questão da identidade nacional, ela existe ou não, é possível falar-se ou não de uma identidade guineense? O autor recorda que Amílcar Cabral contornou a questão adotando o princípio de que a nação se forjou na luta de libertação. Mas cedo surgiram clivagens e antagonismos internos, e o autor recorda aspetos nevrálgicos: “entre as etnias não abertas à modernização; entre as classes sociais em vias de formação”. Quando encaramos o conflito armado, era admissível tentar-se uma leitura de que havia uma resposta da Nação coesa contra invasores e opressores internos. O autor observa: “Vencido o opositor, as divergências emergem e começam a minar a unidade firmada nas trincheiras. Além disso a luta, porque é violenta, não é inclusiva e a vitória de uns sempre significou a derrota para outros. E essas são as etnias magoadas da Guiné: os Fulas no tempo colonial, os Balantas nos anos 1980 e os Mandingas nos anos mais recentes”. Como estamos a falar de Ciências Sociais, é apropriado que o autor também lance olhar sobre os escolhos à identidade nacional: “O guineense depara-se quotidianamente com a questão de múltiplas pertenças (comunitária, religiosa, étnica e política), o que, por um lado, coloca em questão a coesão nacional e, por outro, dificulta a governação e a gestão dos interesses nacionais, predominando a identificação, a autonomia e lógica étnica”.

E chegamos a um novo elemento do Estado: o “Tchon”. Nova dissertação histórica nos é apresentada pelo autor, o “Tchon” é o local de nascimento, onde vive a família, a etnia, tem um poder soberano. Do “Tchon” passamos para a fragilidade do Estado, e vem uma recordação datada de 10 de outubro de 2003 em que um jornal de Bissau alerta para as ruínas da Casa da Independência em Lugadjole: “A placa comemorativa da proclamação da independência já desapareceu. Onde foi parar? Ninguém sabe. É provável que o metal deste símbolo da liberdade já tenha sido fundido para fabricar algum objeto fútil, de uso vulgar. Triste reciclagem dos valores da independência!”. É brandido o espetro do narcotráfico e passamos para a sede real do poder que é pertença de militares e civis ligados por interesses patrimoniais e por outros níveis de solidariedade. “É este núcleo informal que detém, em última instância, a capacidade de terminar o exercício da força e da violência do Estado. Tudo tem de ser negociado. Nenhum ato de força do Governo é possível sem a sua concordância e não há poder interno capaz de se lhe impor”.

Nesta teia de constrangimentos, todas as instituições são abertamente frágeis, logo o desempenho e a eficácia da Justiça, o quadro da anormalidade é patente:
“Todos os dias são estabelecidas inúmeras relações jurídicas na Guiné, não se pode dizer que não recorram com normalidade e satisfação para os seus intervenientes. A maioria destas decorre, contudo, ao abrigo da personalização das relações, de contratos ritualizados que comprometem pelo nível de sanções de índole social e espiritual que decorrem do seu incumprimento. A desonra, a vergonha do indivíduo perante as suas relações sociais e o medo dos castigos provindos do mundo espiritual coagem, a quem a honra não obriga, ao cumprimento. Mas no mundo da ambivalência cultural que é a cidade de Bissau, onde as práticas e os povos se misturam, os conflitos são mais frequentes e as instâncias tradicionais, que auxiliariam à sua resolução de uma qualquer comunidade rural, não têm a máxima força. Assim sendo, tende a vigorar a lei do mais forte”.

Tudo é ténue, precário, dominado pelo princípio da anulação ou revogação. Acresce que tudo se promete para melhorar o bem-estar e tudo fica na mesma ou pior por causa das coligações precárias inter e intrapartidárias, é um poder de sátrapas, em que se multiplicam os ministros, secretários de Estado e secretários-gerais, lugares que dão acesso aos benefícios de função com o longo cortejo de chefes de gabinete, assessores e colaboradores, tudo inevitavelmente transformado em mecanismos de corrupção, onde o fantasma tribal não está ausente.

E temos por último a instabilidade política e militar, os ajustes de contas entre Nino Vieira com Carlos Gomes Júnior é um bom exemplo, o assassinato de Veríssimo Seabra só porque houve atraso no pagamento das Nações Unidas ao contingente de manutenção de paz na Libéria, tem-se permanentemente a sensação de que não há avanços seguros, que rapidamente se pode recuar até práticas selváticas ou cavernícolas.

E o autor seguidamente vai-nos dar uma poderosa reflexão sobre a elite política da Guiné-Bissau.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24633: Notas de leitura (1614): "Uma História do Mundo em 100 Objetos", por Neil MacGregor; Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24640: Parabéns a você (2204): Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24622: Parabéns a você (2203): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)

domingo, 10 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24639: As nossas geografias emocionais (4): a piscina de Piche onde eu ainda nadei 3 ou 4 vezes (Hélder Sousa, ex-fur mil trms STM, Piche e Bissau, 1970/72


Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Quartel: legenda: A > Messe dos oficiais; B > Quartos: C > Campo de andebol; D > Piscina;   E Horta;  F> Loja do libanês Taufik Saad (Tufico).


Foto nº 2 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Vista aérea parcial do quartel e tabanca


Foto nº 3 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Vista aérea parcial do quartel


Foto nº 4 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > O fur mil Luis Borrega, já falecido a nadar de costas


Foto nº 5 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > O Eduardo Teixeira Lopes, da CART 3332, desolado, junto à piscina, com rachas e vazia...

Fotos: recolhidas pelo Hélder Sousa, com a devida vénia ao blogue do BART 2857 (Piche, 1969/71), e editadas pelo blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023).


1. Mensagem de Hélder Valério Sousa (ex-fur mil trms, 
do STM, ribatejano a viver em Setúbal, cumpriu a comissão de serviço na Guiné entre 9 de novembro de 1970 e 10 de novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche, ao tempo do BCAV 2922,   e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné; nosso colaborador permanente, provedor do leitor; tem mais de 190 referências no nosso blogue)


 Hélder Sousa (ex-Fur Mil Trms TSF,
Piche e Bissau, 1970/72)
Data - exta, 8/09/2023, 19:35
Assunto - Piscina de Piche

Caros amigos

O texto que se segue não é de guerra. É mais de "lazer em tempo de guerra".

E vem a propósito de se ter falado, há uns "posts" atrás, (*) de haver estranheza quanto à existência de piscina em Farim e depois também em Piche.

Aqui pretendo deixar registrado o que sei sobre essas duas piscinas.

Também fui umas duas vezes à piscina do Clube de Oficiais em Santa Luzia mas sobre essa piscina não parece haver dúvidas.

As fotos que anexo não são de boa qualidade mas talvez possam servir para ilustrar melhor o pretendido.

Abraços, Hélder Sousa

As Piscinas

por Hélder Sousa


Recentemente, as piscinas foram objeto de referências aqui no nosso Blogue. Alguém disse que em Farim havia uma piscina (creio que pública) e isso intrigou alguns dos nossos. Nessa ocasião tive oportunidade de reforçar essa ideia dando conta do que sabia, e como sabia, dessa existência.

Como já escrevi em tempos, do Curso de TSF iniciado com o 2º Ciclo do CSM em Setembro
de 1969, composto por 15 elementos, foram mobilizados 7 em rendição individual para a Guiné, precisamente no início de setembro de 1970. Com os atrasos de transporte e outras
dificuldades que, entretanto, ocorreram, 3 deles, onde me incluía, chegaram a Bissau em 9 de novembro, a bordo do cargueiro Ambrizete e os outros 4 chegaram no dia seguinte a
bordo do Carvalho Araújo.

Dos 7 “encaixaram-se” em Bissau 3 deles e os outros 4 começaram um estágio no Posto central do STM para adaptação/formação com vista a poderem depois ir chefiar postos em Unidades no interior, vulgo “mato”.

No início de dezembro o Comandante das Transmissões, o ainda Major ou já Tenente-coronel Ramos (não me recordo bem), no primeiro sábado desse mês de 1970, ao fazer a sua habitual/semanal “revista às tropas e às instalações”, não reconheceu o furriel Luís Dutra que estava de Sargento-de-Dia e ao inquirir quem era ficou a saber que se tratava de um dos 4 furriéis que estavam a “estagiar”. 

Imediatamente ordenou ao 1º Sargento Taveira, que chefiava o Posto central do STM, que deveriam ir “já p’ró mato! já p’ró mato!.

Na sequência disso o tal Sargento-de-Dia, o furriel Luís Dutra, já falecido, procurou saber quais os destinos em causa e o que havia neles. Ao saber que em Farim havia uma piscina disse logo que era isso que escolhia. Seguiu-se o furriel Manuel Martinho que também depois de se inteirar do que havia, escolheu Tite, porque “era o que ficava mais perto de Bissau”. 

Chegou a minha vez e do furriel Nelson Batalha, sendo que o 1º Taveira nos informou das escolhas dos outros camaradas e que se não concordássemos fazia-se um sorteio. Dissemos que “escolheram, está escolhido” e para decidir dos nossos destinos jogámos à moeda calhando a sorte de Catió ao Nélson e Piche para mim.

Ora bem, até aqui fica confirmado que em Farim, no final de 1970 havia piscina. O que eu não sabia era que em Piche também havia uma, por essa altura.

Esta afirmação fez levantar dúvidas em alguns dos habituais leitores, dos que se manifestam,
embora creio que em alguns mais. Esquecem-se, muitas vezes, que a realidade não é só a que os nossos olhos veem. Muitas vezes a melhor forma de se referir a situações seria a de dizer “no meu tempo”, ou “quando estive por lá”, etc., pois a vida era dinâmica e as coisas mudavam. A piscina de (em) Piche não era pública, era do aquartelamento.

Não tenho, aqui e agora, elementos que possam determinar a data da sua construção, nem
da “inauguração”, mas sei que foi obra de elementos da CCS e da CART 2440 do BART 2857, portanto antes da chegada a Piche do BCAV 2922, que ocorreu, salvo o erro, em Junho de 1970 e onde eu estive adido.

Tenho ideia que tinha alguma utilização, embora comedida, pois os chamados “tempos mortos” era coisa que por lá não abundava. Aliás, como creio que acontecia um “muito” por todo o lado, já que as tarefas do pessoal em quadrícula eram abundantes e para isso o pessoal não era excedentário.

Usei a piscina aí umas 3 ou 4 vezes. Sei que terei por aí, algures, uma foto que me tiraram, mas não a consegui encontrar. Em compensação, envio uma outra (foto nº 4) onde se vê o falecido furriel Luís Borrega a “retemperar forças” a nadar de costas, sendo que ao fundo, encostado à parede, parece-me ser o furriel Fernando Boto, de uma das CCAV do BCAV 2922.

Envio também uma vista geral do aquartelamento de Piche (fotos nº 2 e 3), que retirei da página do nosso camarada João Pereira da Costa, com o “Batalhão Artilharia 2857”. Não estãp muito boa, têm má resolução, mas foi o que encontrei e serve para dar um aspeto geral.

Na foto nº 2 vê-se (mal) em primeiro plano os espaldões de alguns obuses. Vê-se bem o ziguezag das valas de proteção e também alguns locais para abrigos. O edifício retangular mais
pequeno era a capela e à direita dela num pequeno quadrado posicionado para a abertura entre uma caserna, na vertical, e um outro edifício, na horizontal, que era do comando, ficava então o Posto do STM, que fui chefiar e que tinha acoplado uma viatura para as transmissões. Na parte mais em cima, sobre a esquerda e depois dos edifícios é que ficava a famosa piscina.

A foto parcial deste lado mais próximo do aquartelamento (foto nº 3 ) mostra melhor os
elementos que atrás referi.

A foto parcial da outra parte (foto nº 1) tem já a “piscinazinha” bem visível a meio da mesma.

Quando deixei Piche, a meio de Maio de 1971, a piscina encontrava-se sem água por força de umas rachas que entretanto ocorreram e que originavam a sua fuga. Testemunho disso é a foto do Eduardo Teixeira Lopes, da CART 3332 (foto nº  5) que se mostra bem pesaroso na da piscina pela falta da água. 

Não sei se depois a repararam ou se já não tinha cura.