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quarta-feira, 3 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21967: Antologia (77): Recordando dois generais do fim do império, e em especial Bettencourt Rodrigues, que se confirma ter feito uma visita-relâmpago a Madina do Boé, no último trimestre de 1973, acompanhado de jornalistas estrangeiros (excertos de António Martins de Matos, "Voando sobre um ninho de Strelas", Lisboa, 1ª ed, 2018, pp. 231-239)


1. A propósito da visita-relâmpago que o gen Bettencourt Rodrigues fez a Madina do Boé, em 16 de novembro de 1973, com dois jornalistas alemães (*),  fomos reler o livro de memórias do nosso amigo e camarada António Martins de Matos, na altura ten pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74), hoje ten gen pilav ref, "Voando sobre um ninho de Strel
as" (1ª edição, Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.; teve, em 2020,  em 2ª edição revista e aumentada, ver capa acima).(**)

O autor  [, foto à esquerda] fala deste episódio, em breves linhas, no capitulo 35 (pp. 231-239, 1ª ed.), que tem por título "Dois Generais". 

Tomamos a liberdade de reproduzir alguns excertos, para informação e conhecimentos dos nossos leitores, e com a devida vénia ao autor, que teve sob os céus da Guiné uma brilhante e corajosa atuação como piloto do Fiat G-91.


(…) Em 25AGO73 e em Lisboa, o General José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues tomou posse do cargo de Governador Geral e Comandante-Chefe da Guiné.

Militar brilhante, vinha habituado a grandes operações lá pelas vastidões do Leste de Angola. A sua chegada à Guiné só veio a ocorrer em 21SET73, praticamente um mês depois da sua tomada de posse.

(…) Aquele hiato entre a tomada de posse e a chegada a Bissau talvez tivesse sido aproveitada para alguns estudos, mais precisamente em como replicar as estratégias e tácticas de Angola naquele pequeno território.  E bem precisávamos de estratégias, já que, tendo chegado de férias ainda não há uma semana, [eu] já levava 14 missões de alertas e bombardeamentos em Fiat G-91.

(…) Fiquei impressionado com o senhor, militar de grande prestígio, antigo Ministro do Exército e pacificador do Leste de Angola (…). Só não conseguia compreender como se tinha prestado a tal sacrifício, vir ser crucificado em terras da Guiné (…).

(...) Coitado do General, a coisa começou-lhe logo mal, 3 dias depois de chegar a Bissau, o PAIGC declarou a “independência nas áreas libertadas do Boé”. Até parecia que era de propósito…

Estrebuchou, perguntou-nos como tal era possível, por que tazão não tínhamos previsto tal desiderato, lá lhe respondemos que tínhamos estado sempre em alerta, a cerimónia teria sido feita em todo e qualquer lugar menos onde eles afirmavam e garantíamos que naquele último mês e na Guiné nada de diferente se tinha passado.

Naquele tempo não havia GPS, era fácil enganar um qualquer jornalista, certamente não se podiam arriscar a sofrer um bombardeamento em plena cerimónia.

Apenas meio convencido, vestiu o camuflado e foi a Madina do Boé acompanhado por uma série de outros jornalistas [, na realidade, dois, alemães] (*)

Verificação no local (tipo S. Tomé, ver para crer), tudo no Boé continuava igual ao momento em que as nossas tropas a tinham deixado, nada ali tinha ocorrido.

Nunca viemos a saber onde teria decorrido a cerimómia de independência, desde logo suspeitámos que tivesse ocorrido em território da Guiné Conacri. Ainda hoje o tema é confuso, aos poucos a Guiné Bissau tem puxado o acontecimento para dentro do território já que não seria politicamente correcto confessarem terem feito a cerimónia no “estrangeiro”.

Tendo desistido [de Madina] do Boé, há actualmente vários locais candidatos, Vendu Leidi, Lugajole, One Fello… acho que o verdadeiro local do evento será identificado lá para o século XXIII.

(...) Em 26 ABR74 o General Bettencoitr Rodrigues, herói de Angola, foi devidamente enxovalhado preso no Forte da Amura pelos seus próprios subordinados. (...)

(...) Já o General Spínola era um grande Cabo de Guerra mas não percebia nada de política (...).

(…) Tenho saudades do meu “Caco Baldé” (pp. 231-239)

António Martins de Matos



Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters, Joachim Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que substituiu o carismático gen António Spínola. (Tomou posse do cargo, em Lisboa, em 25/8/1973., mas só chegou ao CTIG em 21/9/1973, três dias antes da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau; em 16 de novembro de 1973, fez uam visita-relâmpago à antiga Madina do Boé, no âmbito da Op Leopardo, 15-17 nov 1973 )

Fonte: Página do Facebook de J. Raffelber,Raffelnews, Álbum Madina do Boe, 29 de janeiro de 2018 (cm a devida vénia)
______________

Notas do editor:

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21956: Facebook...ando (60): o gen Bettencourt Rodrigues, em 16 de novembro de 1973, em Madina do Boé, com dois jornalistas alemães, para verem "in loco" o sítio onde o PAIGC teria alegadamente proclamado a independência unilateral


Foto nº 1

Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters,  Joachim  Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que, a partir de 21/9/1973, substituiu o carismático gen António Spínola.


Foto nº 2

Guiné >Região de Gabu >  Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > Os dois  jornalistas alemães, à esquerda (Joachim  Raffelberg, da agência Reuter, e Guenter Krabbe,  do Frankfurter Allgemeine Zeitung; e à direita  o gen Bettencourt Rodrigues. Ao centro, um oficial superior não identificado e um oficial paraquedista, da força do BCP 12 que montou a segurança no local (Op Leopardo, Madina do Boé, de 15 a 17 de  novembro de 1973,  em que participaram as CCP 121 e CCP 122, tendo a CCP 121 ficado de reserva em Dulombi, segundo informação do nosso camarada Manuel Dâmaso). 

Recorte do Diário de Notícias, 23/11/1973



Foto nº 3

Recorte do Diário de Lisboa, 23/11/1973


Foto nº 4

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > c. 13-20 de novembro de 1973 > O jornalista alemão da agência Reuters,  Joachim Raffelberg a bordo do NRP LFG Cassiopeia, de 300 toneladas, e 27 tripulantes, a caminho da fronteira com o Senegal, depois da visita a Madina do Boé (no dia 16).

1. Na página do Facebook do antigo jornalista da  agência Reuters, Joachim Raffelberg, chamada Raffelnews, Serviço comunitário, encontrámos esta "preciosidade", um álbum sobre Madina do Boé, com fotos (legendadas  em inglês), inseridas em 29 de janeiro de 2018, incluindo recortes de jornais portugueses (Diário de Notícias e Diário de Lisboa) que reproduziram a notícia da agência noticiosa portuguesa, ANI, dando conta de uma visita de jornalistas estrangeiras, de helicóptero, à antiga Madina do Boé, acompanhados do gen Bettencourt Rodrigues, o então novo comandante-chefe do CTIG.  

A visita terá ocorrido no dia 16 de novembro de 1973, quase dois meses depois da proclamação unilateral da independência que o PAIGC reclamava ter sido feita na antiga Madina do Boé, evacuada em 6 de fevereiro de 1969. (*)

Com a devida vénia, reproduzimos alguns desses documentos, que são importantes para informação e conhecimento dos nossos leitores, antigos combatentes  (**),  com tradução nossa, livre,  para português, das legendas (, no todo ou em parte), que se reproduzem, a seguir, em itálico:

Foto nº 1

(....) Os cerca de 500 anos de domínio colonial português estavam a chegar  ao fim. (...)  Apesar das minhas reportagens críticas, em 1971,  sobre o uso de napalm no teatro de operações de Angola, o Governo português convidou-me,  mais uma vez,  para visitar uma das suas colónias africanas, desta vez, a Gyuiné, um pequeno ponto na costa da África Ocidental

[O antigo jornalista também tem um pequeno álbum sobre o alegado uso de napalm em Angola, vd. aqui: Napalm in  Angola 25 jan 2018]

(...)  Aqui, na Guiné,  o PAIGC de Amílcar Cabral, um dos principais líderes anticoloniais africanos (assassinado em janeiro de 1973), esforçava-se por derrubar  as forças armadas portuguesas,  primeiro sob o comando do general do monóculo,  António de Spínola, e agora, em 1973, sob a liderança pelo general José Manuel de Bettencourt Rodrigues, ex-ministro da Defesa.

Lisboa sempre rejeitou, como falsa,  a reivindicação do PAIGC de extensas áreas libertadas no  interior do território, mas quando o PAIGC em 1973 declarou que tinha proclamado a independência da Guiné-Bissau num  local chamado Madina do Boé em 24 de setembro, as autoridades militares portuguesas levaram, até lá,  jornalistas estrangeiros,  sete semanas depois,  para provar que os rebeldes estavam errados.

Hoje já sabemos qual foi o desfecho: o próprio General de Spínola abriu caminho aos libertadores,  com o seu livro “Portugal e o Futuro”,   que pôs em marcha a revolução dos cravos de 1974: ao som da canção “Grândola, vila morena”,  tocada pela Rádio Renascença a partir da meia-noite de 25 de abril, em menos de 24 horas, seria derrubada a ditadura mais antiga da Europa.(...)


Fotos nº 2:

Guenter Krabbe (...) e eu  fomos acompanhados pelo governador Bettencourt Rodrigues (...) no nosso passeio de helicóptero ao local, situado a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacri. Depois de Bafatá, o piloto vestiu o seu colete à prova de bala para não correr nenhum risco. 

Verificamos o percurso no mapa do comandante. Em Madina do Boé, o nosso grupo foi saudado por Forças Especiais Portuguesas [. tropas paraquedistas, CCP 122 /  BCP 12,] que tinham enviadas previamente para limpar a área, em caso de necessidade. (***)

O general  deu-nos 'uma pausa para o cigarro' , o tempo suficiente para dar uma olhadela no terreno à volta,  antes de regressarmos. Tudo o que encontramos no terreno de savana  foram os restos de um edifício que parecia um barraco e as fundações de várias palhotas. Não tínhamos permissão para inspecioná-los porque o local havia sido minado, conforme aviso que nos fora feito. 

Se o PAIGC tivesse ter declarado aqui a independência, eles bem poderiam  ter atravessado a fronteira próxima e regressado a correr,  após uma possível breve cerimónia.

Embora o Krabbe tenha escrito que não havia nenhuma povoação em Madina do Boé, muito menos com aspeto de estar inserida numa zona libertada, os jornais portugueses citaram extensivamente a minha história com um enfoque no colete anti-balas do piloto.

Foto nº 3

(...) Sem mo dizer, o QG da Reuter tinha enviado, ao mesmo tempo que eu,  um colega a Conakry para confirmar, do “outro lado”, a declaração de independência alegadamente feita em Madina do Boé,  e a Reuters atrasou a transmissão da minha reportagem aos nossos nossos subscritores, até que eles validassem comigo as coordenadas do lugar que nos disseram ser Madina do Boé, uma vez que tinham detectado um erro  no grau de latitude no meu fax. Acontece que o grau correto se perdeu na transmissão (...)

J. Raffelberg, na altura  correspondente da Reuter em Bona,  tinha recebido instruções para  explorar a oportunidade de obter informação em primeira mão  sobre um assunto controverso (a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau), o mesmo é dizer, conseguir um "furo jornalístico", mas o relato do repórter deveria passar primeiro pela sede da Reuter em Londres, com vista a garantir que os padrões da agência, de objectividade,  imparcialidade e triangulação de fontes,  estavam assegurados.

Foto nº 4

 "Os marinheiros nos disseram ter [, a Cassiopeia.]  participado da invasão marítima de Portugal à Guiné-Conacri em [22 de novembro] de 1970 para capturar ou matar Amílcar Cabral, mas a missão falhou. Quando naveguei com eles no rio Cacheu em 1973, o seu comandante  era o 1.º tenente António Silva Miguel".

O gesto do novo comandante-chefe e governador-geral,  gen Bettencourt Rodrigues, parece ter chegado demasiado tarde. E não terá tido grande repercussão na imprensa internacional: os dois jornalistas alemães terão estado menos de 15 minutos em Madina do Boé, e com forte protecção militar. Acrescente-se ainda o facto de a Op Leopardo não ter ficado barata, dada a mobilização de meios que implicou (parte do BCP 12 e parte da frota de Helis AL III).
 
Cerca de 8 dezena de países, sobretudo do bloco soviético, China e países não-alinhados africanos, árabes e asiáticos,  foram reconhecendo o novo país. Portugal, como é sabido, só   um ano depois, em 10 de setembro de 1974, é que reconhece "de jure" a independência da Guiné-Bissau. E também só nessa altura, a 17 de setembro de 1974, é que a Guiné-Bissau é  reconhecido como novo membro da Assembleia Geral da ONU. Guiné-Bissau que é agora um país lusófono, integrado na CPLP.   

(...) Assunto - P3909: Perguntas, por que é que a FAP não bombardeou Madina de Boé em 24/9/73 ?

Não tenho qualquer dado para responder a isso, mas posso contar o que aconteceu em 69

(...) Como sabes, Madina foi abandonada mas ficou "minada". Passados uns dias (?) desta retirada, Spínola foi com um fotógrafo, o Maj Bruno e cinco páras, fazer umas fotos pois o Paris Match tinha publicado imagens de Amílcar Cabral como sendo em Madina, com a legenda "A tomada de Madina".

Eram dois Helis, eu seguia num, com os Páras (picadores na especialidade). As ordens eram as seguintes: Eu largava um Pára que picaria o terreno para os Helis aterrarem. Assim foi executado.

Para que o IN pensasse que havia muita tropa, foi feita uma manobra de diversão. Enquanto o Gen Spínola estava em terra, os dois helis aterravam e levantavam fazendo voltas de pista, para sugerirem muitos efectivos.

As movimentações em terra eram feitas com muito cuidado. No único local onde há montes na Guiné [, as famosas Colinas do Boé,], os Helis apareciam e desapareciam para dar a ideia de muito aparato.

Recuperado o Chefe, Maj Durão, fotógrafo, e julgo mais um graduado, e os quatro Páras, que seguiram comigo, nunca mais voltei a aterrar em Madina do Boé.

Com estas fotos, Spínola queria mostrar que Madina ainda era controlada por nós, mesmo abandonada.

Porquê toda esta tosca explicação?

Acho que seria inapropriado o PAIGC ir com o seu Povo fazer uma cerimónia de independência num local que eles sabiam estar minado. Não saberia a FAP que eles nunca iriam a Madina ?

A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? A Guiné-Conacri fica ali a dois passos.

Gostaria de saber se, em 1973, o Gen Bettencourt Rodrigues aterrou em Madina ou só fez umas passagens para ver se havia alguém.

Afinal não estou a esclarecer nada, estou a aumentar as dúvidas!!! (...)

(**)  Último poste da série > 5 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)



Guiné > Região de Bafatá > Dulombi > Op ÇLeopardo (15-17 de nevembro de 1973) > Heli Al III estacionados em Dulombi. 

Cortesia de António Dâmaso / Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 61/74

(***) Segundo informação prestada pelo Manuel Dâmaso, membro da nossa Tabanca Grande, no Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 61/74 >1 de setembro de 2011 > Voo 2465: Um comandante de ideias fixas (2)

António Dâmaso, Srgt-Mor Paraquedista.
Azeitão

(...) Gozei as minhas merecidas férias, regressei mais renovado e continuei a comandar o 2.º
Pelotão, nestas funções tomei ainda parte na Guarda de Honra que a CCP 121 fez à recepção da chegada do novo Governador da Província, General Bettencourt Rodrigues em 21 de Setembro de
1973. (...)

A actividade operacional tinha abrandado muito, enquanto estive de férias a Companhia só fez uma operação conjuntamente com a CCP 123.

Comandei o Pelotão até 01Nov73, data em chegou um Alferes para o comandar, participei na Operação “Leopardo” de 15 a 17 de Nov73, em Madina do Boé em que participaram as CCP 121 e CCP 122, consistiu em levar uma equipa de fotógrafos ao local onde diziam que tinha sido declarada a Independência, mas quem lá foi disse que não havia lá nada, nem indícios,  não há dúvidas que filmaram foi noutro local e não em Madina do Boé. (...)

Desta vez não fui como operacional, fui como responsável pela logística da Companhia, no dia 15 fomos jantar e dormir a Bafatá, pela manhã arrancámos até Dulombi em viaturas auto, a minha Companhia  [, CCP 121,] ficou de reserva em Dulombi, já lá tinha estado 4 anos antes em 1969 (...).

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21554: Casos: a verdade sobre... (17): o mistério do "berço da nacionalidade": Madina do Boé? Lugajole? Vendu Leidi? Lela ou Malanta, já na Guiné-Conacri, na Estrada Nacional n.º 23, permitindo uma fácil (e segura) ligação à base de Boké?... (C. Martins / António Martins de Matos )

(...)

Texto da proclamação do Estado da Guiné-Bissau, pelo PAIGC, em 24 de setembro de 1973, documento datilografado, de 4 folhas, em formato  A4... Em parte alguma do texto há uma referência ao local, a não ser  "Região do Boé" (p. 4) ou "Região Libertada do Boé" (p. 2). 

Hoje há indícios crescentes de que a cerimónia, com a presença de alguns (poucos) observadores estrangeiros, se realizou no território da vizinha República da Guiné, nalguma localidade fazendo fronteira com a região do Boé mas servida pela Estrada Nacional nº 23, como era o caso de Lélaa e de Malanta, e portanto com fácil ligação à base de Boké, mais a sul.

Citação:
(1973), "Proclamação do Estado da Guiné-Bissau", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40019 (2020-11-17) (com a devida vénia...)


1. Comentários ao poste P21539 (ª):
 
(i) C. Martins [, médico, ex-cooperante da AMI, na Guiné-Bissau, em 1998; ex-alf mil art, 23º Pel Art, Gandembel, 1973/74; profundo conhecedor da Guiné-Bissau e com informantes privilegiados no território tem mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue; não integra a nossa Tabanca Grande por razões de deontologia profissional]:

Caro Rosinha,  esse médico não sou eu.

Estive em 98 durante a guerra civil como voluntário da AMI [, Assistência Médica Internacional], sediado em Canjufa , fazendo uma cobertura sanitária de toda a região de Gabú.

Sobre o tema supra já dei para este peditório.

Conheço a região do Boé, na época seca é quase desértico com caraterísticas de savana, e na época das chuvas cresce muito arvoredo junto às linhas de água e é praticamente intransitável.

Conheço a tabanca de Lugajole onde a AMI teve uma missão durante vários anos desde finais de 80 e principios dos 90.

Quem contactou com ex-guerrilheiros desde os de mais elevada hierarquia até aos de base, sabe perfeitamente qual é o tipo de comportamento: quando fala a orgãos de comunicação ou similares, o PAIGC segue a escola soviética (vidé Maria Turra ), mas quando em contacto meramente pessoal é pessoal muito simpáticos e não tem problema nenhum em dizer a verdade.

Têm muito respeito por nós, ex-combatentes, inclusive não têm problema nenhum em dizer que, se Portugal quisesse voltar novamente a administrar a Guiné,  eles não voltariam a revoltar-se contra nós.
Cada um que tire as suas conclusões.

PS - É evdienten que o PAIGC ao proclamar a independência [em 24 de setembro de 1973] tinha que dizer qie foi em território [libertado] da Guiné.
 


António Martins de Matos


(ii) António Martins Matos (ten gen pilav refor, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74]


Factos e Opiniões

Vamos aos factos: Nunca saberemos onde aconteceu a Declaração de Independência.

A razão de tal desconhecimento é ser um assunto sigiloso, do tipo Segredo de Estado. A República da Guiné-Bissau não pode reconhecer publicamente que a referida Declaração tenha sido feita fora do seu território.

Primeiro foi Madina do Boé, mais tarde agarrou-se a Lugajole [ou Lugadjole].

O filme sobre o evento, feito por uma equipa sueca, mostra viaturas a desfilar ao longo de uma estrada, debaixo de uma mata cerrada. Diz o presente post, “ainda hoje é quase impossível chegar a Lugadjole por estrada”.
 

Capa e contracapa da livro do António Martins de Matos, 
"Voando sobre um ninho de Strelas", 2ª edição, revista e aumentada 
(Lisboa, Sítio do Livro, 2020, 456 pp.)


Vamos às opiniões:

Para mim, que, por causa do livro sobre os Strelas, andei a esgravatar este assunto, encontrei variadas soluções, a terceira mais falada… Vendu Leidi.

A minha opinião é outra: 

Léla, a duzentos e vinte quilómetros de Bissalanca, fora do alcance dos Fiat-G 91 e apenas a três quilómetros da fronteira, já no território da Guiné-Conacri. Tem tudo o que aparece no filme: estrada, mata frondosa, segurança.

Quanto àquela historieta de terem levado as rampas dos Strelas mas se terem esquecido dos sistemas de pontaria…,  a história do capuchinho vermelho é mais credível.

Que os Strelas nem tinham rampas de lançamento!

(iii) C. Martins:

Caro A.M. Matos:

Quase no alvo... grande Pilav!

E.N. [Estrada Nacional]n.º 23 [, Guiné-Conacri],  mais a sul: localidade... não digo porque posso ser processado, e não tenho provas materiais.


(iv) Comentário do editor LG:

Já gastámos  "muita tinta" (neste caso, muitos Kbytes), à volta da toponímia associadas ao "berço" da Nação Guineense: durante anos aceitaram-se, acriticamente, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo, algumas "lendas e narrativas" do PAIGC à volta desta questão... Ainda hoje há trabalhos académicos (até da Academia Militar!) em que se refere o topónimo Madina do Boé como o local da declaração de independência unilateral (DUI) da Guiné-Bissau...

Pelo menos desde 2009 que nós aqui, nosso blogue, temos debatido esta questão que não é de lana caprina: "a verdade a que temos direito", não é só para alguns, é para todos... (**)

E vamos continuar a debater, sem intuitos polémicos, com serenidade, com assertividade, porque a guerra já acabou há muito e não há mais inimigos... Mas a História, essa, vai-se fazendo e refazendo... Daí que este e outros dossiês sobre a "história da Guiné, 1961/74" não chegarão ao fim, tão cedo, pelo menos nos tempos mais próximos... 

Infelizmente, os que protagonizaram a guerra,  de um e do outro lado,  estão a envelhecer, a adoecer e a morrer...  Do lado do PAIGC, já haverá muito pouca gente viva (e credível) que possa trazer algo de novo sobre a questão  do "berço da Nação"...

[Revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]

(**) Vd., por exemplo, postes de:


20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1 de março de  2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)

9 de outubro de  2009 > Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21539: Casos: a verdade sobre... (16): Onde foi o "berço da nacionalidade" ? Terá sido em Feto Lugajole, uma colina à cota de 200 mt, frente à atual tabanca de Lugajole ? Fica a 5 km da fronteira, a 40 km de Madina do Boé... E ainda hojé é intransitável de carro, em setembro... (Patrício Ribeiro, Bissau)

 


 Foto nº4 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2005 > Restos do Quartel de Madina > Entrevista a dois antigos militares,   ainda tinham a caderneta militar portuguesa.

 
 Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2010> Passeio para visitar o local onde o PAIGC diz que proclamou a independência em 24/9/1973.


Foto nº 5  > 
Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2010>   Monumento à independência.



Foto nº 6 >  Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  Lugajole > Na colina declararam a independência, ao fundo, foto obtida  a partir do Centro de Saúde


Foto nº 1 > 1/7/2018 > Escola de Madina do Boé e cantina escolar



Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  1/7/2018 > Escola Básica (EB) de Madina do Boé > Cantina Escolar > Programa financiado  pelo Departamento Americano de Agricultura (USDA) , sendo o promotor o Porgrama Alimentar Mundial (WFP).


 Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé >  2005 > Vendu Leidi > Antiga guerrilheira que costumava acompanhar o Amílcar Cabral nas deslocações ao Boé. Esta foto foi tirada, na tabanca Vendu Leidi ( ver mapa militar Vendu Leidi) a sul de Lugajol, junto a fronteira da Guine Conacri, quando a RTP a foi entrevistae para um programa sobre a independência. 


 

Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé > Uma da diversas escola, 2018,  no caminho entre Beli e Madina


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sector de Boé > 2018 >  Uma das diversas escolas, em tabancas que encontramos no caminho entre Beli e Madina.



Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro(2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Patrício Ribeiro 

 [, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola,  com família no Huambo, antiga Nova Lisboa, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem também uma "ponta", junto ao rio Vouga, Agueda, onde se refugiou agora, fugindo da pandemia de Covid-19: é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses, o último dos nossos africanistas: tem uma centena de referências o nosso blogue]


Data - domingo, 8/11, 15:41


 
Boas tardes,

É estranho a RTP nunca ter passado nas televisões a reportagem que fizeram nas colinas do Boé, em 2005.

Será que a reportagem mexeu em Lisboa, em algo que não interessava alterar?  Ou foram os antigos militares Portugueses naturais da Guiné, que a reportagem filmou com as cadernetas militares, dentro do que resta do antigo Quartel de Madina, que não interessava informar?

Não sei quantas operações militares foram feitas durante a ocupação de Beli, para o sul do rio Féfine, para os lados de Vendu Leidi…

Certamente seria zona livre do PAIGC, “naturalmente” pela dificuldade de lá chegar (onde os Angolanos andam a fazer furos de sondagem de Bauxite)

A independência foi declarada em cima de uma colina, à cota 200 mt,  “por cima da Tabanca de Lugajole” (conforme monumento, que lá foi construído).

- 5 Km, da fronteira.

-10 km, a sul de Beli.

-40 km, a leste de Madina do Boé (e onde em setembro é quase impossível lá chegar por estrada, devido à época da chuvas).

Esta zona é muito bonita, nem parece que estamos na Guiné.


Abraço, de domingo de confinado.

Patrício Ribeiro

2. Mensagem enviada em 25 de outubro último pelo Patrício Ribeiro

Luís,

Para nós os confinados, aqui vai.

Sobre a "Montanha Cabral", nunca ouvi falar deste lugar, das diversas vezes que fui a Madina do Boè.

Falei com 2 investigadores Portugueses  que conheces, o Geólogo, Paulo Aves e o Biólogo, Luís Catarino, que também fizeram trabalhos no Boé, mas também não conhecem a "Montanha Cabral".

Madina fica á cota de 90 mt, em uma zona plana (foto 1) mas uma das diversas colinas,  a Dongal Dandu, perto de Dundum,  tem a cota 170 mt (ver carta geológica da Guiné Bissau do Paulo Alves, assim como mapas militares e outros que me ofereceste em CD)

Ver P 18.862, com outras fotos, que enviei daquela zona (*).

Parabéns à Joana Benzinho e sua equipa que, com muito sacrifício, andam a levar a língua Portuguesa a locais de difícil acesso,

Depois da AMI [, AssistênciaMédica Internacional,]  nos anos 80 com a sua equipa médica, chega mais alguém a falar Português ao Boé, esta língua é pouco falada naquela zona.

Envio uma foto de uma antiga guerrilheira do PAIGC ( foto nº 2 tirada em 2005), que costumava acompanhar o Amílcar Cabral, quando ele se deslocava pelas colinas do Boé.

Esta foto foi tirada, na tabanca Vendu LeidI ( ver abaixo mapa militar de Vendu Leidi),  a sul de Lugajol, junto a fronteira da Guine Conacri, quando a RTP a foi entrevistar, para um programa sobre o dia da Independência da Guiné Bissau.

Não sei quantas operações militares, se terão feito para o sul do rio Féfine. Certamente seria zona libertada do PAIGC “naturalmente” pela dificuldade de lá chegar (ver mapa de Capebonde)

“A independência [, em 24 de setembro de 1973] foi declarada a mais de 200 mt altura, numa colina perto da tabanca de Lugajole”:  ver monumento (fotos nº  3, 5 e 6 ), poste P 5050 (**)

Ora em  setembro é quase impossível chegar, mesmo hoje,  por estrada, àquela zona. [Recorde-se que a indepência unilateral da Guiné-Bissau foi feita pelo PAIGC em 24 de setembro de 1973.]

É estranho a RTP nunca passado “esta reportagem”, feita nas colinas do Boé em 2005. Será que a reportagem mexeu em Lisboa, em algo que não interessava alterar ? Ou foram as muitas cadernetas de antigos militares Portugueses,  naturais da Guiné, que a reportagem filmou, dentro do que resta do antigo Quartel, que não interessava informar ? (foto nº 4) (Ver o Poste P5050 de 4.10.2009) (**).

A tabanca de Lugajole ( ver mapa de Beli) está à cota 110 mt, de onde se pode ver perto uma colina com mais de 200 mt de altitude (foto 5), onde alegadamente  foi declarada a Independência, na zona do Felo Lugajole.

Esta tabanca passou a ser importante pós-independência. Tem diversas construções prefabricadas de betão, provavelmente construídas pela fábrica, que os Cubanos tinham em Bissau, na década de 80 ainda funcionava.

Foi lá construído um bom Centro de Saúde, em blocos de cimento. Onde já dormi, era o melhor hotel da região…

Há poucos anos, tentaram fazer lá mais uma romaria, mas a jangada não deixou.

Foram construídas muitas escolas na região (foto  nº 8) em pequenas tabancas, de muito difícil acesso, onde só é possível as viaturas chegarem no tempo seco. Ao longo do caminho que acompanha o Rio Cobolom, e não em cima nas colinas...

O caminho é entre a tabanca de Cobolom,  é muito bonito, até cruzamento entre Madina e Dandum .

Perto deste cruzamento, morreu o Domingos Ramos, atingido pelos morteiros do quartel de Madina. (ver foto do Memorial, no P 18.863).

A Região do Boé  sofreu grandes alterações nos últimos anos… as casas características dos Fulas, que eram quase todas cobertas a palha e redondas, já quase não existem, agora são retangulares e cobertas a chapa de zinco, como quase por toda a Guiné, perderam a originalidade (foto nº 7).

Os Angolanos, andaram lá a fazer uns furos de sondagem, para a exploração de Bauxite, para os lados de Vendu Leidi.

Já outros procuram, naquela zona, ouro, ainda outros procuram diamantes, etc. Deve haver alguma “coisa” naquelas Colinas e não só as grutas, onde o PAIGC guardava munições.

Já que do outro lado da fronteira, na montanha do Futa Jalom, andam para lá os chineses entretidos, em diversas minas de minerais, junto á estrada de Koundara para Labé. Mas também se dão ao trabalho de abrir a estrada pela montanha acima a ligar as duas cidades.

 Para os Guineenses, o ouro atual é a castanha de cajú… Que dá para construir casas novas e também e trocar a palha da cobertura das casas, por chapas de zinco, e passa a não ser necessário trocar de 4 em 4 anos.

Abraço, que vou fugir para a lareira.(***)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Vendu Leidi (1959) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa da tabanca de Vendu Leidi, junto à fronteira com a Guiné-Conacri. A sudeste fica o Felo Canhage, uma das colinas do Boé que se aproxima da cota dos 300 metros. A tabanca fica a sul de Lugajole.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2020)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Béli (1959) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Béli, de Lugajole e do rio Fétiné, afluente do rio Corubal, que divide o Boé ao meio, a parte ocidental e a parte oriental. A declaração de independência teria sido feita  num colina, à cota de 200 metros, Feto Lugajole... Mas não havia estradas para este sítio, na altura, não se sabendo como o PAIGC transportou os seus convidados...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné (2020)



Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Carta de Capebonde (1959) (Escala 1/50 mil) > Não havia tabancas nem estradas, apenas um picada que atravessava a fronteira vinda de Béli...

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Notas do editor:


(*) Vd.poste de 21 de julho de  2018 > Guiné 61/74 - P18862: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (7): Os meus passeios pelo Boé - Parte I: 30 de junho de 2018: a travessia do Rio Corubal, de jangada, em Ché Ché

(**) Vd. de 4 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

(***) Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21538: Casos: a verdade sobre... (15): A retirada de Madina do Boé e o enfraquecimento do flanco sul / sudeste do território (regiões de Gabu e Bafatá) (Valdemar Queiroz / Cherno Baldé / António Rosinha / Fernando Gouveia)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15790: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (17): Os 'cronistas' suecos do PAIGC: os cineastas Lennart Malmer e Ingela Romare


Foto nº 1


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B [A imagem não é nítida: mas parece-nos ver um homem, com camisa de caqui e calções, e aparentemente calçado, transportando munições, talvez granadas de RPG, e atrás dele uma mulher, jovem, transportando uma arma ou um tubo de RPG 2 ou 7... Ambos atravessam uma improvisada ponte, feita de paus, sobre um rio com alguns metros de largura... Essa ponte aparece em várias fotos dos "amigos suecos" do PAIGC... (LG)


Fonte: (s.d.), "Populações das regiões libertadas", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42259 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)



Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04602.164
Título: Populações das regiões libertadas
Assunto: Postal alusivo às populações das regiões libertadas da Guiné-Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos

Arquivo Amílcar Cabral > 04. PAI/PAIGC > Propaganda



Foto nº 2 

Fonte: (s.d.), "A Escola Piloto - Instituto de Amizade", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39979 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)


Pasta: 04602.165
Título: A Escola Piloto - Instituto de Amizade
Assunto: Postal alusivo à Escola Piloto - Instituto de Amizade, fundada pelo PAIGC na Guiné Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare.
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos
Página(s): 2

Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora. (*)


1. As  fotos acima (nºs 1 e 2) são dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare, cineastas, os únicos jornalistas estrangeiros que, alegadamente, presenciaram (e filmaram) as cerimónias da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, em 24 de setembro de 1973, "algures na região do Boé" (**)..


[À  esquerda: Fotograma do documentário dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare "En Nations Födelse" [Birth of a Nation (Nascimento de uma Nação), Sweden / Suécia, 1973, 48'']: o único filme que existe sobre a declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24 de setembro 1973. Passou no DocLisboa 2011. Não cheguei a ver o filme. Quanto à imagem à esquerda, julgo tratar-se de uma operadora de radiotelegrafia (código de Morse) do PAIGC. Fonte: Arsenal – Institut für film und videokunst e.V., Berlim, com a devida vénia.] (LG).

2.  Eis o que consta, sobre estes dois cineastas suecos, "cronistas" do PAIGC, no livro de  Tol Selltröm - "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné". Uppsala: Nordiska Africka Institutet, 2008. 2008,, p, 169 [disponível aqui, em português, em formato pdf]. 

(...) O PAIGC organizou eleições populares nas zonas libertadas em Agosto–Outubro de 1972. Um ano mais tarde, a 24 de Setembro de 1973, reuniu-se a primeira Assembleia Nacional do Povo da Guiné, na região leste do Boé, na qual se proclamou o Estado da Guiné-Bissau como um ”Estado soberano, republicano, democrático, anti-colonialista e anti-imperialista”. As fronteiras do país coincidiam com as da Guiné continental ”portuguesa”.179 Luís Cabral foi eleito presidente. Como únicos jornalistas ocidentais presentes180, a cerimónia solene foi documentada pelos cineastas suecos Lennart Malmer e Ingela Romare.181 O seu filme exclusivo, com uma hora de duração, ”O Nascimento de uma Nação”182, foi transmitido via televisão pela empresa oficial sueca de televisão.183

Apesar dos portugueses continuarem a deter o controlo da capital Bissau e dos principais centros do país, o novo Estado foi imediatamente reconhecido por um grande número de nações. Por volta do mês de Outubro de 1973, o reconhecimento diplomático tinha-se alargado a mais seis governos e, a 19 de Novembro de 1973, a República independente da Guiné-Bissau foi formalmente aceite como o quadragésimo segundo membro da Organização de Unidade Africana.184 (...)





3. Fundação Amílcar Cabral > Arquivo Amílcar Cabral

Não é demais reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira. (***) (LG)

___________

Notas de Tol Selltröm:

(...) 179. A proclamação de independência não incluiu as ilhas de Cabo Verde.

180. Conversa telefónica com Lennart Malmer, 7 de Outubro de 1999.

181. Malmer e Romare haviam apresentado, em 1971–72 a luta moçambicana de libertação aos telespectadores suecos (ver capítulo seguinte).

182. Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”, Sveriges Television (SVT) ["Birth of a Nation" / "Nascimento de uma Nação", Sweden / Suécia, 1973, 48'']

183. Na altura não havia redes comerciais de televisão na Suécia. Em 1973, Malmer e Romare produziram também um documentário sobre as crianças e a luta de libertação na Guiné-Bissau, para a estação pública de televisão, com o título ”Guiné-Bissau är vårt land” (”A Guiné-Bissau é o nosso país”), Sveriges Television (SVT). A seguir à independência, produziram, entre outros, os documentários para televisão ”Guiné-Bissau: Ett exempel” (”Guiné-Bissau: Um
exemplo”) e ”Guiné-Bissau efter självständigheten” (”Guiné-Bissau a seguir à Independência”), Sveriges Television (SVT), 1976.

184. Rudebeck op. cit., p. 55.194.

[Sobre Lars Rudebeck vd. também, no supracitado livro do Tol Selltröm:

"nota 194. "Lars Rudebeck do Grupo de África de Uppsala visitou as zonas libertadas na Guiné-Bissau na mesma altura (PAIGC Actualités, Nº 23, 1970 e Nº 27, 1971). O futuro professor universitário em ciência política da Universidade de Uppsala, Rudebeck publicou em 1974 o livro Guinea-Bissau: A Study of Political Mobilization, Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala"...

"nota 144. Na fase final da guerra de libertação, a União Soviética forneceu ao PAIGC mísseis terra-ar, dando a supremacia, de forma decisiva, ao movimento de libertação. Os mísseis foram pela primeira vez usados em Março de 1973, altura em que o PAIGC abateu dois caças-bombardeiros fornecidos pela República Federal da Alemanha. No ano que se seguiu, os portugueses perderam trinta e seis aviões (Rudebeck op. cit., pp. 52–53)"...]  (**)
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. primeiro poste da série > 12 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte


(***) Nas guerras (e sobretudo nas crónicas das guerras) muito se mente... Mas a verdade é que muitas mentiras ficam impressas em papel ou em suporte digital para a posteridade... Cabe-nos também a nós, enquanto editores do blogue, separar o trigo do joio... Um arquivo não é a História,mas sem arquivos não se  faz a História. Todos os arquivos são de interesse público, neste caso tanto o nosso Arquivo Histórico Militar como o Arquivo Amílcar Cabral e, talvez, no futuro, o Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

Quero aqui, mais uma vez, publicamente, reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, incluindo os antigos combatentes, do lado e do outro, envolvidos na guerra colonial, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral (e de outros arquivos que integram o projeto Casa Comum). Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira.

... Mas "por mor da verdade histórica", convém esclarecer todos os nossos leitores (incluindo os nossos eventuais leitores suecos)  que, em 1974, mais exatamente em 31/1/1974, a FAP - Força Aérea Portuguesa perdeu, no TO da Guiné,   um avião,  abatido por um Strela: tratou-se do caça-bombardeiro subsónico Fiat G.91 R/4 "5437"  pilotado pelo ten pilav Victor Manuel Castro Gil, da Esq 121, BA 12, Bissalanca, que saiu ileso. Foi um e não 36 (!) aviões... De resto, nem a BA 12 em 1974 deveria ter, no total, 36 aeronaves operacionais...
  
Vd. poste de 21 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

domingo, 11 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14138: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XX: setembro de 1973: (i) declaração unilateral da independência; (ii) início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva; (iii) propostos como candidatos a peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora; (iv) morte do Cherno Racide, e AldeiaFormosa





Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >  Julgo que  estas imagens têm alguma coisa a ver com a visita que o Cherno Rachide fez a Bambadinca, no meu/nosso tempo (c. 1970)...Infelizmente as fotos do meu camarada Arlindo Roda não trazem legenda (nem data)... ... A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  pode muito bem ser o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... 

Recordo-me de as NT lhe terem armado uma tenda, no recinto do quartel de Bambadinca, para ele receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fieis...  Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973. O Cmnd do BART 3873 organizou uma coluna de transporte (!) para os seus fiéis poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa!,,,  No meu tempo, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... 



Fotos: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de setembro de 1973 (pp. 67/69) vai para:

(i) declaração unilateral, por parte do IN, da independência da Guiné-Bissau, "ato político que não teve eco no seio da população controlada pelas NT";

 (ii)  início do Ramadão: o Islão como forte barreira antissubversiva;

(iii) propostos como candidatos à peregrinação a Meca os régulos do Xime e Badora [, Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha];

(iv) morte do Cherno Rachide, de Aldeia Formosa
















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Nota do editor: