1. A propósito da visita-relâmpago que o gen Bettencourt Rodrigues fez a Madina do Boé, em 16 de novembro de 1973, com dois jornalistas alemães (*), fomos reler o livro de memórias do nosso amigo e camarada António Martins de Matos, na altura ten pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74), hoje ten gen pilav ref, "Voando sobre um ninho de Strelas" (1ª edição, Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.; teve, em 2020, em 2ª edição revista e aumentada, ver capa acima).(**)
(…) Em 25AGO73 e em Lisboa, o General José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues tomou posse do cargo de Governador Geral e Comandante-Chefe da Guiné.
Militar brilhante, vinha habituado a grandes operações lá pelas vastidões do Leste de Angola. A sua chegada à Guiné só veio a ocorrer em 21SET73, praticamente um mês depois da sua tomada de posse.
(…) Aquele hiato entre a tomada de posse e a chegada a Bissau talvez tivesse sido aproveitada para alguns estudos, mais precisamente em como replicar as estratégias e tácticas de Angola naquele pequeno território. E bem precisávamos de estratégias, já que, tendo chegado de férias ainda não há uma semana, [eu] já levava 14 missões de alertas e bombardeamentos em Fiat G-91.
(…) Fiquei impressionado com o senhor, militar de grande prestígio, antigo Ministro do Exército e pacificador do Leste de Angola (…). Só não conseguia compreender como se tinha prestado a tal sacrifício, vir ser crucificado em terras da Guiné (…).
(...) Coitado do General, a coisa começou-lhe logo mal, 3 dias depois de chegar a Bissau, o PAIGC declarou a “independência nas áreas libertadas do Boé”. Até parecia que era de propósito…
Estrebuchou, perguntou-nos como tal era possível, por que tazão não tínhamos previsto tal desiderato, lá lhe respondemos que tínhamos estado sempre em alerta, a cerimónia teria sido feita em todo e qualquer lugar menos onde eles afirmavam e garantíamos que naquele último mês e na Guiné nada de diferente se tinha passado.
Naquele tempo não havia GPS, era fácil enganar um qualquer jornalista, certamente não se podiam arriscar a sofrer um bombardeamento em plena cerimónia.
Apenas meio convencido, vestiu o camuflado e foi a Madina do Boé acompanhado por uma série de outros jornalistas [, na realidade, dois, alemães] (*)
Verificação no local (tipo S. Tomé, ver para crer), tudo no Boé continuava igual ao momento em que as nossas tropas a tinham deixado, nada ali tinha ocorrido.
Nunca viemos a saber onde teria decorrido a cerimómia de independência, desde logo suspeitámos que tivesse ocorrido em território da Guiné Conacri. Ainda hoje o tema é confuso, aos poucos a Guiné Bissau tem puxado o acontecimento para dentro do território já que não seria politicamente correcto confessarem terem feito a cerimónia no “estrangeiro”.
Tendo desistido [de Madina] do Boé, há actualmente vários locais candidatos, Vendu Leidi, Lugajole, One Fello… acho que o verdadeiro local do evento será identificado lá para o século XXIII.
(…) Tenho saudades do meu “Caco Baldé” (pp. 231-239)
Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters, Joachim Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que substituiu o carismático gen António Spínola. (Tomou posse do cargo, em Lisboa, em 25/8/1973., mas só chegou ao CTIG em 21/9/1973, três dias antes da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau; em 16 de novembro de 1973, fez uam visita-relâmpago à antiga Madina do Boé, no âmbito da Op Leopardo, 15-17 nov 1973 )
(*) Vd. poste de 28 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21956: Facebook...ando (60): o gen Bettencourt Rodrigues, em 16 de novembro de 1973, em Madina do Boé, com dois jornalistas alemães, para verem "in loco" o sítio onde o PAIGC teria alegadamente proclamado a independência unilatera