Mostrar mensagens com a etiqueta António Duarte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta António Duarte. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22918: A nossa guerra em números (13): Literacia e numeracia... A propósito das 2 minas A/C accionadas em 13/1/1971, à saída do reordenamento de Nhabijões, causando 1 morto, 8 feridos graves e 2 viaturas destruídas (1 Unimog 411 e 1 GMC)...




Fonte: (1971), "Comunicado - Frente Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40689 (2022-01-18)
(Com a devida vénia...)

Instituição:Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.117
Título: Comunicado - Frente LesteAssunto: Comunicado da Frente Xitole Bafatá sobre as acções militares do PAIGC em Nhabiam, Bambadinca e Xime.
Data: Quarta, 27 de Janeiro de 1971
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios. Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos 


1. Transcrição de comunicado do PAIGC sobre acções levadas a cabo em Nhabijões (13/1/1971) e Xime (14/1/1971), referidas no poste P12139 (*), com revisão/fixação de texto pelo editor L.G. O comunicado é manuscrito em papel de carta, com linhas.

Comunicado

No dia 13/1/71, um grupo de 5 camarada[s] armados estalaram [instalaram] 2 minas anti-carro na estrada entre Nhabions [Nhabijões] e Bambadinca, causou os [causando aos] inimigos de grandes perdas em vidas humanas, e destruiu [destruindo] 2 viaturas cheio[as] de tropas tugas que tinham ido [iam] pra [para] Bambadinca buscar comida para aqueles que ficaram na[em] Nhabions [Nhabijões].

Os Inimigos sofreram grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.

Por no [nosso] lado não houve nada mau.
Dirigido por [pelos] camaradas:
Mário Mendes e Mário Nancassá.

No dia 14/1/71, os nossos artilheiros bombardiaram [bombardearam] guarnição fortificada de militares tugas no Xim[e], com canhões e morteiros 82, causou os [causando aos] inimigos estagionados [estacionados ] de grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.

Por nosso lado, não houve nada mal.

Bombardiamento [bombardeamento] foi dirigido por [pelos] camaradas:

Djambu Mané, António da Costa e Bicut Iula [ou Tula] [?]

[Assinatura ilegível]

Sector 2 da Frente Leste, 27/1/71
 


Guiné > Região de Baftá > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa Soares, que teve morte imediata, ao accionar uma mina A/C, à saída de Nhabijões, aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Samba Silate davam-lhe um valor estratégico tanto para o PAIGC como para as NT.. (**)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor:

Segundo informação do António Duarte, nosso camarada, membro da Tabanca Grande, ex- furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão". (***)

O Mário Nancassá era, por seu turno, o chefe do grupo de sapadores do setor 2 (Xime/Xitole). Foi ele que montou as minas em Nhabijões. Foi ele que matou o sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12... Enfim, a guerra também tem rostos!

Cotejando as versões dos acontecimentos, do nosso lado e do lado do PAIGC, é óbvio que eram diferentes as preocupações de rigor factual, bem como a literacia dos combatentes de um lado e doutro.  Na realidade, há diferenças no cômputo das baixas: "1 mortos e 8 feridos graves" (segundo as NT) e as
 "grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos" (segundo o PAIGC).

Eu fui uma das "vítimas", embora tenha saído ileso da GMC, a 2ª viatura,  que foi pelos ares nessse dia fatídico...

A mesma expressão hiperbólica  "grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos" volta a ser  usada o caso da notícia sobre flagelação, à distância,  ao aquartelamento do Xime (, guarnecido pela CART 2715 / BART 2917), no dia seguinte, e que não teve quaisquer consequências.

 Mas fica aqui, para apreciação crítica dos nossos leitores, o que sobre nós diziam e escreviam  ou difundiam os homens (e as mulheres) que. no passado, foram nossos inimigos e contra os quais combatemos. (**)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)

(...) Resumo: Em 13/1/1971, às 11h24, na estrada Nhabijões-Bambadinca um Unimog 411 que ia buscar a comida para o pessoal do destacamento, accionou uma mina A/C, causando um morto e 3 feridos graves.

O Gr Comb da CCAÇ 12, que estava de piquete em Bambadinca, dirigiu-se de imediato ao local... No regresso, duas horas depois, cerca das 13h30, a GMC que transportava duas secções, accionou outra mina A/C, não detectada, na berma da estrada, a 10 metros da anterior. As NT sofreram mais cinco feridos graves, de imediato evacuados para o HM 241.

No dia seguinte, em 14/1/1971, o IN flagelou o Xime, da direcção de Ponta Varela, com morteiro 82, "à distância, sem consequências". (...)

Vd. também poste de 13 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22903: Efemérides (361): À uma e meia da tarde, à saída do reordenamento de Nhabijões... Em 13 de janeiro de 1971... Quando o teu relógio parou... (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 18 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22917: A nossa guerra em números (12): baixas militares e civis, de um lado e do outro... Por cada militar português morto, terá havido 2,7 guerrilheiros mortos... Na Guiné, o PAIGC terá tido 9 mil baixas, entre mortos (78%) e feridos (22%), entre guerrilheiros e população sob o seu controlo. Mas o nº de feridos pode estar subestimado e o de mortos sobreestimado.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21718: O segredo de ... (33): conversas da treta entre dois milicianos da CCAÇ 12 (Luís Graça / João Candeias da Silva)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970, ao tempo do BART 2917 > O Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. Era o comandante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12 e, na prática, o 2º comandante da companhia. Era o homem de confiança do Cap Inf Carlos Brito. O melhor preparado dos oficiais milicianos da companhia. Tinha o curso de operações especiais. Era disciplinado e disciplinador. Um homem afável, mas algo distante e reservado, muitas vezes escondido sob os então na moda óculos de sol Ray-Ban (um "ronco"  muito apreciado pelo milicianos, que tinham algum poder de compra no TO da Guiné...). 

Sempre o tratei por você... Fora da actividade operacional, convivíamos pouco, eu e ele. Não era homem de noitadas. E nunca ou raramente vinha beber um copo connosco no bar de sargentos, contrariamente ao alf mil Abílio Machado, da CCS / BART 2917. 

Era "compreensível":  os furrieís da CCAÇ 12, milicianos, mais os dois sargentos do QP (e, em particular, o impagável 2º sargento Piça), tinham um excelente espírito de corpo... Mas, numa sede de batalhão, o "espírito de casta" era cultivado e mantido, e o convívio, "fora do mato" (leia-se: da guerra) entre oficiais, sargentos e praças não eram bem vistos ... 

O bar de sargentos de Bambadinca era, em 1969/71, o único sítio, dentro do grande quartel que era o de Bambadinca, onde "os três estados, a nobreza, o clero e o povo", podiam confraternizar...  Vistas as coisas à distância de meio século,  Bambadinca era bem um retrato de um Portugal que estava em vias de desaparecer... 

Não creio que o Moreira conheça o nosso blogue... Nunca nos contactou. Respeito o seu silêncio, o dele e dos demais camaradas que estiveram connosco no TO da Guiné, e que têm, provavelmente,  reservas quanto ao risco de exposição da sua vida privada, decorrente da participação de um blogue como este...  

Vi-o,  pela última vez, em 1994, em Fão, Esposende, no 1º encontro do pessoal de Bambadinca (1968/71). Desejo-lhe muita saúde e longa vida e um ano de 2021 melhor do que o "annus horribilis" de 2020. E daqui vai, para ele,  um alfabravo do tamanho do nosso longo e sinuoso Rio Geba de cuja água bebemos os dois. 

Claro que ele não tem nada a ver com a "conversa da treta" travada entre mim e o Joâo Candeias, reproduzida a seguir.

Foto do  álbum do Benjamim Durães, tirada numa tabanca fula em autodefesa, que não consigo identificar.  

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > CCAÇ 12  (1969/71) > Estrada Xime-Bambadinca > O 1º comandante da companhia, o Cap Inf Carlos Brito (hoje, coronel na reforma), uma homem afável e  educado, mas já à beira dos 40 anos, e que delegava grande parte das responsabilidades operacionais no alf mil op esp / ranger Francisco Moreira... 

O Carlos Brito também não tem a nada a ver com os "segredos" aqui partilhados a seguir. Esta foto pretende apenas ilustrar a "solidão" de muitos dos nossos comandantes operacionais, quer do QP, quer milicianos, que os impediam de conviver com os seus subordinados, milicianos e praças, fora das horas da guerra... Como se dizia na tropa, "serviço era serviço, conhaque era conhaque". Ou seja, nada de misturas. Acredito que noutros quarteis do mato, com instalações mais precárias e exíguas, o "distanciamento social" fosse mais curto...

Foto: Arquivo de Humberto Reis (ex-fur mil op esp / ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O nosso blogue vai fazer 17 anos (dezassete anos !!!), em 23 de abril de 2021, se lá chegarmos,..  Desde 2008, ou seja,  há 12 anos,  temos vindo a contar "segredos", pequenos e grandes segredos, da nossa vida militar, ou até pessoal ou mais íntima,  "coisas" passadas há mais de meio século, mas que só agora, por uma  razão ou outra, queremos partilhar uns com os outros... 

O propósito deste série, "O segredo de...", é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo da tropa e da guerra (1961/74),  que estavam guardadas só para nós ou só eram do conhecimento do nosso círculo de relações restrito (alguns camaradas de armas) ou mais íntimo (cônjuge, filhos, amigos do peito).

É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que esses factos pudessem eventualmente, à luz da época, constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou ética militares, os usos e costumes, a moral da época, o "politicamente correto",  etc.

Aprendemos, neste blogue, a "saber ouvir os nossos camaradas de armas e a não julgá-los"!...  Nomeadamemnte, os vivos... Nos dois casos a seguir referidos, há omissões que são compreensíveis (*). Trata-se de uma "conversa" que não é da treta, entre o nosso editor Luís Graça e o João Candeias da Silva, por coincidências dois camaradas que integraram a mesma companhia, a CCAÇ 12 (formadas por praças do recruramento local) mas em épocas diferentes, e que por isso nunca se cruzaram, "nem lá nem cá"... A CCAÇ 12, formada no CIM de Contuboel (1969), esteve em Bambadinca (1969/73) e no Xime (1973/74), tendo estado "ao serviço de" quatro batalhões diferentes. Foi extinta em meados de 1974.

O João Candeias Silva foi fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74). O Luís Graça é um dos "pais-fundadores" da CCAÇ 12 e é o autor da única história da unidade que existe no Arquivo Histórico-Militar.

(i) João Candeias Silva:

Não sei se estou a pôr a pata na poça, mas em 73 um alferes, que não recordo o nome, foi colocado numa companhia que estava a fazer a protecção aos trabalhos nessa estrada [Farim-Mansabá]

Estivemos juntos em Cabuca na CCAC 3404 em finais de 1972. Em 73 Janeiro fui para a CCAÇ 12 e ele para a companhia que estava a fazer a segurança à estrada de Farim.

Passados meses, talvez uns seis encontramo-nos em Bissau, placa giratória, para ir e para vir de férias ou ir para o mato ou consulta externa, etc. E qual não é o meu espanto, em vez de ter o galão de alferes, era 2° sargento. Tinha levado uma porrada.

Da conversa que tivemos o assunto tinha chegado ao Spínola. Ele, um ótimo rapaz, precisava de desabafar e ficávamos muito tempo à conversa. O assunto tinha-o abalado muito. Não era caso para menos.

Não sei como terminou.

Julgo ter sido um caso inédito.

Sobre este assunto tem de haver registo no arquivo do exército e sobre a nega da CCAÇ 12 em ir para o Xime também é pouco plausível que não haja. (*)

(ii) Luís Graça:

João, há muitas histórias da nosssa guerra que nunca chegarão à luz do dia... Algumas já chegaram ao nosso conhecimento através do blogue...

Isto é como a história dos impedimentos do casamento em que o oficiante, antes de se dar o nó, pergunta, na presença dos noivos, dos padrinhos, dos pais, da família e dos demais convidados, se alguém tem alguma objeção aquela união, então que "fale ou cale-se para sempre"...

Alguns de nós perdemos a oportunidade de falar na altura devida, e agora resta-nos falar aqui ou calarmo-nos para sempre... Sempre assim foi em todas as guerras...e nos pós-guerras.

Mesmo assim, entre dois uísques, num alamoçarada, num convívio, às vezes lá sai um "segredo de confessionário"...

Quando fui a Angola (e fui lá meia dúzia de vezes a partir de 2003), houve antigos miliatres das FAPLA, do topo da hierarquia (oficiais generais), que me contaram "segredos de Estado", à mesa... Coisas "sinistras" que só agora há coragem para se falar delas em público (como o que aconteceu na sequência dos trágicos dias de 27 de maio de 1977 e seguintes)..

Mas voltando à Guiné, soube há uns anos de uma história dessas que não podem aqui ser contadas, com datas, locais, topónimos, nomes de camaradas, etc.

Num destacamento (que não vamos identificar porque os protaggonistas estão vivos), guarnecido por a nível grupo de combate, e na ausência do comandante (alferes miliciano), dois militares desatam à porrada, por razões de lana caprina...

Muitas veses estes conflitos entre dois camaradas e amigos eram provocados pelo stress, a tensão, o isolamento, a exaustão, o cansaço, a promiscuidade, a subnutrição, mas tabém o álcool, etc.

Soco atrás de soco, um deles cai de costas, bate com a cabeça no chão, takvez nalguma pedra,  e morre, de traumatismo craniano (presume-se)... E agora ? Como justificar um "trágico acidente" destes, na ausência de um ataque ou flagelação do destacamento por parte do IN ou de embocada nas imediações ?...

Fez-se um "pacto de silêncio" entre todos os presentes (soldados, cabos e um furriel...). O corpo foi transportado num Unimog e entregue na sede da companhia ou do batalhão, já cadáver...

Deve ter havido um auto de averiguações, mas toda a gente (os graduados e as praças) mantiveram a mesma versão, a de uma queda acidental, infelizmente mortal...

O "pacto de silêncio" também faz(ia) parte das regras de camaradagem... Ontem como hoje... em toda parte do mundo, em todas as guerras (*)


(iii) João Candeias da Silva:


Caro Luís: As conversas são como as cerejas. Ao ler o que descreveste sobre a pancadaria que teve tão trágico desfecho (*), veio à minha memória uma ocorrência na CCAÇ 12 que vou descrever.

Estávamos ainda aquartelados em Bambadinca, no topo do edifício onde era a messe da CCAÇ 12, virado para a escola, havia 4 ou 5 cadeiras de baloiço feitas de pipas de vinho.

E nós, os furrieis, costumavamos depois do pequeno almoço ficar por ali na cavaqueira. Naquele dia, algures entre feveiro e março de 1973, devia ser domingo, pois estávamos à civil. Bem instalados, e na conversa da treta, éramos uns de 4 ou 5 furrieis.

Os cadeirões todos ocupados. Chegou um alferes da 12, começou a conversar connosco.
A conversa foi-se prolongando durante um bocado e, completamente fora do contexto, o alferes disse para um furriel: "Levanta-te, que eu quero sentar-me."

A nossa primeira reacção foi que o alferes estava a brincar, mas como o furriel não se levantou para lhe ceder o lugar, o tom de voz subiu e disse ostensimante: "Levanta-te, é uma ordem!.

Como o furriel não lhe obedeceu, deu-lhe uma chapada na cara. Após a agressão, o furriel levantou-se e, felizmente, não reagiu à agressão. Nós estávamos incrédulos e sem palavras. Era surreal o que estava a acontecer na nossa frente.

O furriel acabou por fazer queixa, pois como sabes o inferior hierárquico não pode participar, e tem logo à partida garantida uma porrada que tem como consequência imediata a perda do mês de férias.

O fim da ocorrência não sei como terminou.

Para situação ainda hoje não encontro justificação. Foi presenciada por mim e pelo António Duarte, entre outros, que não recordo.

Durante muito tempo fiquei a matutar: "E se fosse comigo?!!... (*)
________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21170: O segredo de... (32A): Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)... "Também tenho um víquingue na minha árvore genealógica"

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21646: Casos: a verdade sobre... (19): A recusa dos militares guineenses da CCAÇ 12 em irem render a CART 3494 no Xime, em março de 1973, obrigando a uma intervenção do gen Spínola (António Duarte / Valdemar Queiroz / Luís Graça / Jorge Araújo)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na famosa  Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.

A Ponte dos Fulas (sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal) era uma espécie de guarda avançada do Xitole (na altura, a unidade de quadrícula, do Setor L1, mais a sul, era a sede da CART 2716, em 1970/72).

Perspetiva: norte-sul, quando se vem de Bambadinca e Mansambo para Xitole e Saltinho. A ponte, em madeira, de construção ainda relativamente recente e em bom estado, era vital para as ligações de Bambadinca e Mansambo com o Xitole, o Saltinho e Galomaro... A ponte era defendida por um 1 Gr Comb do Xitole, em permanência, dia e noite... Na foto sãos visíveis, em segundo plano à esquerda, o fortim; em terceiro plano, ao fundo, à direita, as demais instalações do destacamento.

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno, Sori e Umarau (que irão depois para a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12). Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade (!). Eram do recrutamento local.

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários sobre a alegada insubordinação da CCAÇ 12, em março de 1973 (*):

(i) António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; tem 52 referências no nosso blogue]: 

Boa tarde Camaradas

Sou o António Duarte, que foi furriel atirador na Ccaç12 ente janeiro e dezembro de 1973.

Sei da recusa da companhia em seguir para o Xime, para substituir a CART 3494. Por azar em março de 73, estava eu em Portugal a gozar as minhas segundas férias e, como tal, deixei a CCAÇ 12 em Bambadinca e encontrei-a já instalada no Xime. 

Daquilo que me contaram, nomeadamente o Jioão Candeias da Silva e o António Manuel Sucena Rodrigues, a companhia recusou em seguir para o Xime, alegando transtornos na vida familiar. Não nos podemos esquecer que as praças eram, na esmagadora maioria, muçulmanos, com filhos e alguns com mais de uma mulher.

Por outro lado,  a segurança de Bambadinca nada tinha de semelhante com a do Xime.

Segundo parece a companhia formou e o comandante do batalhão [, BART 3893,]explicou o que se pretendia e levou com uma recusa. Parece que os graduados se demarcaram da situação.

Entretanto acabou por chegar o General Spínola que lhes deu a "volta", ameaçando que o chão fula, nestas circunstâncias de recusa, iria ser defendido por uma unidade de outra etnia, suponho balanta. Este facto seria uma vergonha para toda a comunidade fula da CCAÇ 12.

De qualquer forma o Candeias da Silva poderá dar mais detalhes. Infelizmente,  e por já nos ter deixado, o Sucena Rodrigues não pode ajudar.

Um abraço para todos e, se me permitem um mais apertado, para o Luís Graça
António Duarte.

13 de dezembro de 2020 às 13:53 (**)
 
(ii) Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; tem cerca de 120 referências no nosso blogue, e é um activo e incansável comentador]:

E interessante a recusa da CCAL 12 mudar de Bambadinca para Xime, alegando transtornos na vida familiar.

No caso da minha CART 11, também de soldados fulas, muçulmanos, com mulheres e filhos, como Companhia de Intervenção com o Comando em Nova Lamego, os quatro Pelotões estavam constantemente a mudar de local de permanência,  fazendo reforço a outras Companhia,  por exemplo,  em Canquelifá, Piche, Pirada, Paunca... E  quando se previa maior tempo de permanência fora da base lá seguiam com os soldados as mulheres, filhos e bagagens, para depois regressarem novamente a Nova Lamego.

Inclusive, depois de mais de um ano em Nova Lamego, toda a CART 11 mudou em definitivo para Paunca e não houve nenhum problema quanto a transtornos na vida familiar.

A vida no Xime era diferente de Bambadinca, mas em Piche, Canquelifá, Pirada ou Paunca também o era, e de que maneira, em relação a Nova Lamego.

Coisas da puta da guerra.

Abracelos
Valdemar Queiroz

13 de dezembro de 2020 às 14:59

(iii) Tabanca Grande Luís Graça:

Obrigado, António, pelo tua pronta e esclarecedora resposta. É certo que não estavas lá, em Bambadinca, em março de 1973, mas ouviste o testemunho dos teus camaradas. 

Só podia ser essa a razão da recusa: as praças guineenses da CCAÇ 12 tinham as suas razões pessoais, familiares e étnicas para não irem, de bom grado, para o Xime…

Não podia ser por medo: em quatro anos de guerra (duas comissões para a malta metropolitana…) eles já tinham dado sobejas provas de coragem, dedicação, lealdade, apego ao seu chão, e até de portuguesismo… 

Quem andou, como eu, com eles no mato, durante ano e meio, no tempo das chuvas e no tempo seco, no mato, em tabancas, em colunas, em destacamentos, etc., do princípio ao fim, sem o mais pequeno problema disciplinar ou humano, sabe do que fala…

E estou a falar da primeira geração, a da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, ou seja, do período que vai de junho de 1969 a março de 1971. Éramos, como sabes, 6 dezenas de graduados e especialistas, oriundos da então “Metrópole”, a que se juntaram, em Contuboel, no CIM, mais 100 recrutas do recrutamento local, fulas e futa-fulas (sem esquecer 2 mandingas; depois começpu a vir, em rendição individual, um ou outro de fora do chão fula, como o Vitor Sampaio, que era mancanha, de Bissau, e um grande “reguila”). 

Sim, porque o sangue, começou a correr cedo, e para alguns a guerra depressa acabou… Lembro-me do batismo de fogo, em finais de julho de 1969, em Madina Xaquili, ainda em farda nº 3…

O Valdemar Queiroz, um dos instrutores mais queridos das nossas praças, sabe do que eu falo: deu-lhes a recruta e foi com eles ao juramento de bandeira, em Bissau, na presença de Spínola… E ele sabe bem como a parte deles eram crianças, com 16 anos ou menos...

Claro que o exército não era (nem é)  uma democracia… E não havia o hábito de perguntar à malta o que é que queriam para o jantar e muito menos que “resort” turístico preferia… 

Os batalhões de Bambadinca (BCAÇ 2852, BART 2917, BART 3873 e, no fim, BCAÇ 4616/73) usavam e usavam das unidades africanas (,milícias, Pel Caç Nat, companhias de caçadores, etc.). Estavam alia à mão, “eram da terra”, eram "pau para a toda a obra"…Até para "abrir valas" !... Resquícios do tempo do "trabalho forçado" ?!

Será que o comando do BART 3873 não olhou para aqueles homens, com quatro anos de guerra (!), e lhes perguntou a opinião ?

Percebo por que é que ninguém queria ir para o Xime (a começar pelos graduados e especialistas “metropolitanos” que, em Bambadinca, estavam no bem-bom, pelo menos em termos hoteleiros…). 

Os guineenses estavam, desde meados de 1969, a viver, com as suas famílias, na tabanca de Bambadinca (e, se calhar alguns, em Bambadincazinho, não posso jurar)… O Xime era o desterro, para mais a tabanca era exígua, as instalações militares ainda piores, e a população local era mandinga, com parentes no mato…. 

E, a propósito, gostava de saber como é que as duas comunidades passaram a coexistir… Talvez o nosso amigo José Carlos Mussá Biai, o "meino do Xime", hoje o senhor engemheiro, ainda tenha  recordações dos vizinhos fulas da CCAÇ 12... 

 Como se sabe, o Xime era o pior aquartelamento do Sector L1 e "embrulhava" com frequência no meu tempo… E, depois, do Xime até ao Corubal era a “terra de ninguém”, palco de frequentes e sangrentos episódios de guerra: bombardeamentos aéreos, barragens de artilharia, e da Marinha, emboscadas, golpes de mão, minas e armadilhas, operações de maior ou menor duração, muitas vezes tendo por guias prisioneiros do PAIGC…Não é por acaso que o Xime tem mais de 400 referências no nosso blogue, contra 200 do Xitole, 340 de Mansambo, 630 de Bambadinca…

Fico-me por aqui. Mas gostaria também de saber a “versão” dos nossos camaradas da CART 3494, como o Jorge Araújo, que muito provavelmente nem se deram conta do “drama” da malta da CCAÇ 12… 

De qualquer modo, “tudo está bem quando acaba em bem”… O Caco Baldé (, alcunha do gen Spínola, entre carimhosa e sarcástica),  geriu o conflito, utilizando a velha técnica dos cabos de guerra coloniais, ou seja, dividir para reinar… Claro que a caixinha de Pandora dos ódios étnicos teria que vir ao de cima, depois da independência… 

O que vai ficar para história é que Spínola criou expetativas demasiados altas para os fulas e outras etnias como os manjacos... O caso dos fulas foi paradigmático: morreram pelo seu "chão" e pela "pátria portuguesa", e  quando os portugueses se foram embora, a única coisa que tinham nos bolsos era o patacão pago até ao fim do ano de 1974... Foram miseravelmente tratados como simples mercenários.. Foarm sempre soldados de 2ª classe, que aprenderam a falar português durante a tropa e a guerra, e que nunca tiveram tempo de frequentar,  entre 1969 e 1974, os Postes Escolares Militares e tirar o exame da 4ª classe...Nunca ninguém se preocupou com a promoção escolar, profssional, social e cívica destes valorosos combatantes fulas a quem alguns de nós deve a vida. 

E a gente sabe, por fontes cruzadas, como Bambadinca (, em mandinga, “a cova do lagarto”) foi um altar de martírio para os nossos camaradas guineenses, fulas, que, infelizmente para eles,  acreditaram na nossa palavra e na "palavra de honra" dos novos senhores da guerra, o PAIGC...

José Carlos Suleimane Baldé (, meu camarada da CCAÇ 12 que seria capaz de dar a vida por mim ou pelo António Fernando Marques) e o António Baldé (da CCAÇ 11, pai da infeliz Alicinha, que eu e a Alice quisemos trazer para Portugal, e meu vizinho de Alfragide, hoje apicultor na sua terra) contaram-me coisas, atrozes, que se fizeram em Bambadinca, depois da independência, contra os "colaboracionistas", os "cães do colonialismo", que nos envergonham a todos e não honram a memória de Amílcar Cabral nem dos demais "mártires da liberdade da Pátria"... 

PS1 - O António Baldé, 1º cabo, natural de Contuboel,  esteve no CIM de Bolama (1966/69), np Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e na CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71): é membro da Tabanca Grande, nº 610].

O ex-1º cabo José Carlos Suleimane Baldé, felizmente ainda vivo, espero, a morar em Amedalai, Xime, é  o único camarada guineense da CCAÇ 12, a integrar a Tabanca Grande, além do Umaru Baldé, este a título póstumo.

 PS2 - António e Valdemar, convenhamos que o tema é pouco natalício... Mas, infelizmente, o nosso blogue não é compaginável com as conveniências do calendário litúrgico... E as nossas conversas são como as cerejas...

Mas já agora: o João Candeias, que estava lá (, enquanto tu, António,  estavas no gozo da tua merecida licença de férias), diz que o Spínola apareceu acompanhado de "quadros africanos"... Seria o régulo de Badora, tenente de 2ª linha ? Ou figuras prestigiadas militares como o ten graduado 'comando' Jamanca que já estava a comandar a CCAÇ 21, se não erro ? O que é que tu sabes sobre isso ?

13 de dezembro de 2020 às 18:07 

(iv) Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), nosso coeditor; tem 275 referências no nosso blogue]:

Camaradas,

Ao ler a presente narrativa notei que o camarada Luís Graça refere o meu nome,  pedindo-me que acrescente algo mais relacionado com a "recusa da CCAÇ 12 em render no Xime a minha CART 3494", no longínquo mês de Março de 1973.

Com efeito, não tenho memória de ter tido conhecimento de qualquer situação anormal relacionada com o tema em análise. E a justificação é a seguinte:

- A exemplo do ocorrido com o camarada António Duarte, eu também não participei na sobreposição entre as duas Unidades, uma vez que, como veio a ficar gravado na cronologia da H.U., a minha última missão no Xime acabou por ser a «Operação Guarida 18», realizada em 3 de Fevereiro de 1973, na região de Ponta Varela.

Nesta Operação conjunta, onde estiveram envolvidos seis Gr Comb (três da CART 3494 e três da CCAÇ 12), acabei por ter um "encontro imediato" com o IN (ver P13839). Concluída a missão, e após o regresso ao Aquartelamento do Xime, preparei-me para seguir para Bissau a fim de voar para Lisboa, de férias, onde cheguei dois dias depois.

Ao regressar ao Xime, em meados de Março de 73, para cumprir o restante tempo da comissão, foi com espanto que constatei que a minha CART 3494 tinha sido transferida para Mansambo, substituindo a (irmã) CART 3493, ocorrência que, segundo julgo saber, teve lugar na primeira quinzena desse mês.

Sobre este assunto, é o que posso afirmar.

Saúde para todo o auditório e um forte abraço... com distanciamento.

13 de dezembro de 2020 às 23:49
___________


(**) Último poste da série > 13 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21641: Casos: a verdade sobre... (18): Os "momentos dramáticos" vividos pela CCAÇ 12, em março de 1973, obrigada a render no Xime a CART 3494 [António Lalande Jorge, ex-fur mil mecânico auto, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, março de 1972 / abril de 1974)]

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21637: Casos: a verdade sobre... (17): A alegada "insubordinação" da CCAÇ 12, em março de 1973, recusando-se a render no Xime a CART 3494 [João Candeias Silva, ex-fur mil at inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama, 1973/74]


Capa, desenhada pelo Tony Levezinho, fur mil at inf, 2.º Gr Comb, para a capa da História da Unidade: CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/1971), elaborada pelo fur mil armas pes inf Luís M. Graça Henriques, mimeog, Bambadinca, fevereiro de 1971. (Há cópia no Arquivo Histórico-Ultramarino).


1. Comentário do João Candeias Silva, ex-fur mil at inf, de rendição individual,  CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74),  ao poste P21614 (*)

Bolama. Natal de 1973. 

Fui transferido da CCaç 12 para Bolama como, deduzo eu, consequência de uma recusa da 12 avançar para o Xime para substituir a companhia que lá estava  [CART 3494 / BART 3873[, e com a qual fizemos algumas operações conjuntas de que destaco duas em Fevereiro desse ano onde tivemos dois contactos com o IN [, ao tempo do  cap mil inf José António de Campos Simão].

Foi um Natal excelente, o de Bolama, porque era para mim o prenúncio do fim da missão. Curiosamente será pelo mesmo motivo que não falamos nas parvoíces fruto da idade, que não falamos em casos como o da Ccaç 12 que fez frente ao comandante da CAOP 3 [, lapso, deve ser CAOP 2, anteriormente designado por CAOP Leste até 22 de agosto de 197o],  sediada em Bambadinca [lapso, deve ser Bafatá]. 

Nunca li uma linha, uma referência a situações como a ocorrida em meados de Março [de 1973] na CCAÇ 12 em Bambadinca. 

Julgo que era o prenúncio do cansaço da guerra e um sinal de que a capitulação dos capitães, com a cobertura do topo da hierarquia,  estava próxima. Por coincidência ou não, pouco tempo depois, cerca de um ano, aconteceu [o 25 de Abril]. 

Situações como a que vivi, nunca vi serem referenciadas nem em blogues nem na "mídia". Será o caso da CCAÇ 12 único? Para se ter um pouco a ideia da situação,  a recusa [em render a CART 3494 no Xime] fez,  2 ou 3 dias depois,  o General Spinola deslocar-se a Bambadinca,  acompanhado de vários quadros africanos. E o assunto foi ultrapassado. 

E com o 25 de Abril saímos o mais depressa possível. No meu caso pessoal,  paguei a viagem na TAP e no fim de Maio [de 1974,] regressei. Tinham-se passado 25 meses. 

Fui em rendição individual em Abril de 72, passei pela CCav 3404, em Cabuca, em seguida, em Janeiro, vou para Bambadinca para a CCAÇ 12, e, por fim, para o CIM [, Centro de Instrução Militar,] em Bolama. 

Talvez noutras companhias também tenham surgido sinais de insubordinação. Talvez seja a altura de partilhar essa parte da guerra porque passámos. 

João Candeias Silva,  furriel mil at inf


2. Comentário LG (*)

João, a história da CCAÇ 12, no papel, fui eu que a escrevi. Até Fevereiro 1971. E está disponível no blogue.

Depois de fevereiro de 71 não há mais nada, de história escrita, até à extinção da CCAÇ 12 em 18 de agosto de 1974. Pelo menos no Arquivo Histórico Militar... Como sabes, para lá do primeiro comandante, o único que conheci, o 
Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito, a CCAÇ 12 teve, até ao final, mais quatro [Vd. ficha da unidade, no ponto 3, a seguir].

Eu e os demais graduados e especialistas, metropolitanos, a chamada 1.ª geração, éramos todos de rendição individual, pertencíamos à CCAÇ 2590, éramos apenas umas 6 dezenas de militares... Fomos dar a instrução de especialidade e a IAO, no CIM de Contuboel, às 100 praças guineenses, oriundas dos regulados de Badora e Cossé... 

A partir de 18 de junho de 1970 passámos a ser, oficialmente, a CCAÇ 12, por alteração da anterior designação de CCaç 2590.

A prineira geração de graduados e especialistas regressou a casa, na sua quase totalidade, a 17 de março e 1971, no T/T Uíge.

O que tu nos contas, ou o que deixas dar a entender, é relevante. E concordo contigo: deve ser partilhada por todos nós, aqueles que temos alguma informação sobre o que terá passado  (**). "Insubordinação"? Recusa em ir para o Xime, rendendo a CART 3494? Se sim, terá sido a segunda "insubordinação" na história da CCAÇ 12...

Teria, de facto,  havido já outra, anteriormente, ao tempo do BART 2917, e do tenente-coronel Polidoro Monteiro, e sendo comandante da CCAÇ 12 o
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa... Algo que está mal documentado, mas é referido na história do BART 2917... Terá ocorrido em março de 1971, se não erro, aliás tenho que  averiguar melhor.

Os graduados eram já os da segunda geração....Todos "piras"....Tu e o António Duarte que são da terceira, podem e devem esclarecer o que se passou nessa operação para os lados do Poindom / Ponta do Inglês...

Dessa vez não foi o Spínola, mas o Polidoro Monteiro que, metendo-se a caminho pelo mato fora, terá ido ao encontro dos grupos de combate da CCAÇ 12 que estariam "acampados" no mato, aparentemente recusando-se a cumprir a missão que lhes fora destinada...

O assunto é muito melindroso, ignoro as razões da alegada insubordinação, mas terá havido consequências disciplinares....Enfim, falta-me informação dos protagonistas e de fontes independentes (, se é que as há).

O nosso coeditor  Jorge Araújo também deve saber algo mais sobre o que se passou em março de 1973... De qualquer modo, em finais de março de 1973, a CART 3494 foi para Mansambo e a CCAÇ 12, contrariada ou não, foi para o Xime, 
assumindo a responsabilidade do respetivo subsetor, e ficando  integrada no  dispositivo e manobra do BART 3873 e depois do BCAÇ 4616/73. É desativada a 18/8/1974.

Abraço. Festas boas e quentes. Luís

PS - Tenho pena, João, que não queiras sentar-te aqui connosco à sombra do nosso poilão, apesar dos meus reiterados convites, meus e do António Duarte. Podíamos ao menos falar pelo telefone... Aliás, não precisas de convite. O blogue é teu/nosso. Vejo que estiveste na CCAÇ 12 entre janeiro e julho de 1973.  Portanto, estiveste em Bambadinca e ainda no Xime, já com a estrada alcatroada de Bambadinca até ao cais do Xime... Tens fotos e outros documentos desse tempo? Gostava de os ver e publicar... mesmo que não queiras dar a cara...


 [Vi uma entrevista tua, no You Toube, sobre a mortalidade do sobreiro no concelho de Santiago do Cacém, onde és proprietário: vd. aqui Biosfera - João Candeias, You Tube / Nuno Candeias, 13/5/2012, vídeo 7' 53''. E gostei de te conhecer e ouvir... Também adoro o nosso montado de sobro, tal maltratado nas últimas décadas; também há alguns sobreiros na Quinta de Candoz, junto ao Douro...]

3. Fichas de unidade: CCAÇ 12

Cmdt: 
Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Mil Inf José António de Campos Simão
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus

Início: 18Jun70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2590)
Extinção: 18Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando os quadros e praças especialistas metropolitanos, que constituíam anteriormente a CCaç 2590, e pessoal natural da Guiné, da etnia Fula.

Continuou instalada em Bambadinca, como subunidade de intervenção e reserva do CAOP 2, sendo particularmente orientada para a realização de patrulhamentos, escoltas a colunas de reabastecimento e segurança, protecção dos trabalhos de construção da estrada Bambadinca-Xime e acções sobre grupos e bases inimigas, estas efectuadas nas regiões de Enxalé, Ponta do Inglês, Ponta Varela, Satecuta e Madina-Belel, em reforço do sector de Bambadinca. 

Destacou ainda pelotões para aldeamentos da zona por períodos variáveis, nomeadamente
para Missirá, ponte do rio Undunduma e Nhabijões entre outras, com vista a garantir a segurança e protecção das populações.

Em finais de Mar73, rendendo a CArt 3494, assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, onde se instalou, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 3873 e depois do BCaç 4616/73.

Em 18Ag074, foi desactivada e extinta.

Observações
Tem História da Unidade até Fev71 - CCaç 2590/CCaç 12 (Caixa n.º 124 - 2ª
Div/4ª Sec, do AHM).

Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de Unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág.  632.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21614: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (13): O Elias Parafuso e o bolo de chantili

(**) Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21539: Casos: a verdade sobre... (16): Onde foi o "berço da nacionalidade" ? Terá sido em Feto Lugajole, uma colina à cota de 200 mt, frente à atual tabanca de Lugajole ? Fica a 5 km da fronteira, a 40 km de Madina do Boé... E ainda hojé é intransitável de carro, em setembro... (Patrício Ribeiro, Bissau)

terça-feira, 7 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19757: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Felizmente, estou vivo; infelizmente, não poderei ir a Monte Real, no dia 25... De qualquer modo, aqui deixo as minhas saudações a todos os participantes (Antero Lopes, Alcides Silva, Anselmo Reis, António Duarte, António Murta, António Ramalho, António Santos, Carlos Baptista, Durval Faria, Eduardo Santos)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > A família António Santos: António Santos, Graciela, Sandra, Catarina e Raquel (Caneças / Odivelas)... Só falta, na foto, o Rui, que é o genro, mas que também veio.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Duas famílias com direito a mesa reservada: o António Santos (à esquerda, 6 pessoas) (Caneças / Odivelas) e o António Osório (à direita, 3 pessoas) (Vila Nova de Gaia)..  Este ano o António Santos não ve, (tem nesse dia em Paredes o encontro do seu Pelotão de Morteiro 4574/72, e o Antóni Osório ainda não se inscreveu...

Fotos: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


Foram enviados convites aos amigos e camaradas da Guiné que constam da nossa base de dados.  Pedíamos também que fizessem "prova da vida"... 

Publicamos hoje as dez primeiras respostas daqueles que infelizmente não poderão estar connosco, por esta ou aquela razão, em Monte Real, no dia 25. 

Cerca de 3 dezenas de camaradas e amigos já nos disseram, pessoalmente ou por escrito, que não podiam vir este ano.  Alguns têm, no mesmo dia, o convívio anual da sua unidade ou subunidade.  É o caso, por exemplo,  do pessoal de Bambadinca de 1968/71, incluindo os meus camaradas da CCAÇ 12 (que vão estar no Porto, comemorando os 50 anos da nossa partida para o "degredo", em 24 de maio de 1969).

A todos os que tiveram a gentileza de nos responder, o nosso obrigado. E esperemos que haja ainda oportunidade, motivação, saúde e coragem para fazer mais algum(uns) encontro(s). 



1. Antero Lopes, quinta, 2/05/2019, 00h17

Caro Luís Graça,

Obrigado pela mensagem e parabéns pela excelente iniciativa. Farei o possível para ir, se me conseguir libertar das tarefas que tenho na ONU... em Bissau.

Forte abraço,

Antero Lopes
(WhatsApp +245...)

2. Alcides Silva, 2 de maio de 2019, 10h54

[membro da nossa Tabanca Grande desde 15/5/2010; foi 1.º cabo estofador, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69]

Bom dia,  Amigo Luís Graça, recebi o convite, mas informo que não estarei presente, as viagens distantes para mim chegaram ao fim, não aguento as viagens por problemas de coluna e provoca uma dor nas pernas que não aguento, mas também nesse dia, 25 de Maio de 2019, é o aniversário do Batalhão, que vai ser celebrado em Vila Nova de Gaia, no Quartel de Artilharia por onde fomos mobilizados, que também não vou lá estar, os problemas de saúde já são alguns, tenho os rins a trabalhar a 42%, de forma que tenho de evitar muita coisa para ir levando a vida com calma enquanto não chegar a hora da ultima viagem.

Obrigado pelo convite, um abraço, Alcides.

3. António Santos, 2 de maio de 2019, 17h03:

[ex-sol trms, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74; o último encontro que veio, com a família em peso, foi o de 2016]

Caro camarada Luís

Eu, e os meus, estamos bem de saúde.  Não tenho ido ao almoço da Tabanca, porque o do meu pelotão tem coincidido na mesma data, e, como deves calcular, primeiro avanço para o meu pelotão (quase 2 esquadras).

Portanto no dia 25 de maio, passo perto, pela A-8, mas direito a Paredes. Entretanto estou a contar de ir ao próximo almoço da [Tabanca da] Linha. (...)

Um alfa bravo do António Santos

Noprodigital, Lda.
Tel.: +351 219 809 880
Fax: +351 219 809 889
www.noprodigital.pt



[Anselmo Garvoa (ex-Fur Mil, CCAÇ 2315 / BCAÇ 2835, Mansoa, de Janeiro de 1968 até ser ferido em combate em 30/9/1968, e evacuado para o HMP; entrou para a Tabanca Grande em 22/12/2010]

Estou vivo, gostaria de poder ir mas não posso,
5. António Murta  quinta, 2/05/2019, 22:42

[ex-alf mil linf, MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74; tem mais de 75 referências no nosso blogue; vive em Buarcos, Figueira da Foz, nunca veio a nenhum dos nossos encontros]

Amigo e camarada Luís Graça. Estou vivo, sim, mas não vou a Monte Real. Grande abraço do António Murta

6. António Duarte, 3 de maio de 2019, 06h10

[ex-fur mil da CART 3493,  a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem meia centena de referências no nosso blogue]
Infelizmente este ano não vamos, pois até Setembro estarei em Macau, associado a um projeto num banco.

Desejo que tudo corra muito bem e que sejamos todos felizes

Abraço, António Duarte (Cart 3493 e Ccaç 12)

7. Carlos Baptista, 3 de maio de 2019, 22h46

[ Carlos Manuel Baptista Nunes, Marinheiro Fuzileiro Especial do DFE 8, Ganturé (Begene), Cacheu e Gampará, 1971/73; entrou para a Tabanca Grande em 11/7/2015]

Gostaria de poder ir,  mas, atendendo a que se trata de um convívio - e não, de um casamento - penso (salvo melhor opinião) que as [35]  morteiradas bem que podiam ser de 60 ou 80 mm, em vez de 120 mm.

Aquele abraço, Carlos Baptista

8. António Ramalho, 4 de maiode 2019, 09h37

[ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue]



Caro Luís Graça, bom dia!

Ainda não será este ano que irei conviver convosco e conhecer-te pessoalmente.

Sou voluntário do BACF de Lisboa  [, Banco Alimentar contra a Fome,] e é nesse fim de semana precisamente que fazemos a recolha bianual de bens alimentares para aqueles que mais necessitam, junto das grandes superfícies comerciais.

Tenho uma vasta zona fora de Lisboa que não me permite "desenfiar-me" ao compromisso assumido.
Vou-me contentando com os Almoços em Algés [ Tabanca da Linha,] que não têm essa dimensão!

Mais uma vez te elogio pelo blogue que criaste pois todos os temas nele inseridos são de uma qualidade extraordinária, contam-me situações que eu desconhecia e avivam-me a memória de outras!

Desejo-vos um excelente convívio, irei contentar-me em ver a reportagem fotográfica.
Um forte abraço para ti extensivo a todos os que comparecerem.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (membro da Tabanca Grande nº 757)

9. Durval [Carlos Simas] Faria, 4 de maio de 2019, 13h33

[ O nosso camarada açoriano,  de Lagoa, São MIguel, ex-fur mil Durval Faria, um dos primeiros de nós, a partir para a Guiné, logo em 1962... Pertenceu à CCAÇ 274 / BCAÇ 356 (1962/64)... O Durval Faria chama-lhe Companhia de Caçadores Especiais nº 274, constituída por militares das lhas de São Miguel e Santa Maria]
Infelizmente não posso estar presente. Grande abraço. Durval Faria
10. Eduardo Santos, 4 de maio de 2019, 12h18

[ex-1.º Cabo Cripto, CCS/BCAV 1915 (Nova Lamego e Bula, 1967/69)]

Boa tarde, amigos. Quanto ao encontro de Monte Real, agradeço o contacto, mas infelizmente não poderei estar presente. Faço votos que surja nova oportunidade. Tudo de bom para todos, excelente convívio, obrigado.
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 6  de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19753: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Nós vamos a Monte Real, sábado, dia 25 de maio, e já nos inscrevemos antecipadamente... (Ernestino Caniço / Tomar, José Barros Rocha / Penafiel, José Manuel Cancela e Carminda / Penafiel, Manuel Resende / Cascais, Manuel Gonçalves e Tucha / Cascais, Manuel Reis / Aveiro)

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19240: (Ex)citações (346): Ainda e sempre 'o inferno do Xime'... A propósito da Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970) ( Vitor M. Amaro dos Santos, 1944-2014; José Nascimento, António Duarte, Luís Graça; António J. Pereira da Costa)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 > A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ...


É uma imagem que se repetia ao longo dos meses, sempre ou quase sempre que havia operações à península da Ponta do Inglês, nomeadamente na época seca. Como acontecerá em 26/11/1970 (*), já no tempo da CART 2715 / BART 2917, a subunidade de quadrícula do Xime que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art  Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro)...

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714, CART 2715 e CCÇ 12), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno...

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Ando a viver o inferno do Xime [em caixa alta].
Minuto a minuto.
Ambos sofremos isso.
[Você] sabe tudo [o] que fiz para evitar a tal op[eração]…
Sem a CCAÇ 12 talvez tivesse “acampado” [sic]
em Gundagué Beafada.
Não existia estrada [Xime-Ponta do Inglês]….
Era tudo mata densa…
Qual dispositivo [?!].
Aceito que o estado maior do CACO [sic, gen Spínola]
tenha feito relatório
[, incriminando-me,]
porque não denunciei [a] discussão c[om] Anjos [sic, major Anjos de Carvalho]
[, 2º cmdt do BART 2917].

Aliás [a] História[da] Unidade diz
embos[cada] [na] estrada.
[O] relatório [da] op[eração]
[foi] feito [por] Anjos e cap[itão] Brito [sic, Carlos Brito]
[, cmdt da CCAÇ 12].

Evacuado [, em 1 janeiro de 1971], fui bode expiatório.
Essa op[eração] alterou para sempre
[o] meu (des)equilíbrio [sic] psico[lógico].


Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, ex-cmdt CART 2715 (Xime, 1970/72). Excerto de mensagem, enviada por telemóvel ao editor do blogue, em 2 de março de 2012, às 10h15, dois anos antes de morrer, em Coimbra, aos 69 anos. Membro da Tabanca Grande, nº 781, a título póstumo.


1. Comentários dos leitores e do editor do blogue:

(i) José Nascimento [ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71)


Lamento muito a morte destes camaradas, principalmente do Cunha, com o qual estabeleci uma relação de amizade no tempo de sobreposição das companhias, mas também me lembro do Senhor Capitão [Amaro dos Santos] ironizar: "Isto aqui não há guerra", pelo facto de nos primeiros 15 dias em que as duas companhias [, a CART 2520 e a CART 2715]  estiveram juntas, não ter acontecido nada.

José Nascimento
26 de novembro de 2016 às 01:33 

[Foto acima: Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Enxalé > CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) > O José Nascimento na margem direita do Geba]..

Foto (e legenda): © José Nascimento (2017). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



(ii) António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola]


Impressionante a dor que se percebe no texto da mensagem enviada [, pelo ex-cap da CART 2715]. Aquela referência de que teria "acampado" antes do objetivo, se não estivesse presente outra unidade, menciona uma prática corrente, (pelo menos no meu tempo,  dez 71 a jan 74).

Curiosamente não me recordo do assunto tratado no nosso blogue. (**)

Já agora recordo uma emboscada que a CCAÇ 12 teve perto de Madina Colhido, em 1973, onde apanhámos, com surpresa, para as duas partes, um grupo do PAIGC, que supostamente iria atacar o Xime. Parámos praticamente, logo que o último homem da coluna deixou de avistar o quartel. Iam dois pelotões. A operação era para ser feita através de "rádio".

Explicando melhor, à medida que o tempo ia passando informava-se o aquartelamento da nossa falsa posição, "percorrendo-se" todo o itinerário. Riscos deste procedimento, era os obuses fazerem fogo para locais onde estava a nossa tropa. Suponho que até ao nível de capitão todos percebíamos o tema, pelo que nada de grave aconteceu... que seja do meu conhecimento.
Abraços a todos e renovando a memória dos camaradas que tombaram nesse malfadado dia.

António Duarte

Cart 3493 e CCAÇ 12

26 de novembro de 2016 às 19:05 


(iii) Tabanca Grande [editor LG]
CCAÇ 12, 2º Gr Comb, c. 1969/70.
Foto de Humberto Reis (2006)


António Duarte. essa famosa discussão com o 2º cmdt do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), dizem, terá terminado com o célebre ultimato: "O nosso capitão vai e torna a ir [, à Ponta do Inglês,] nem que seja a reboque de uma GMC!"...

Só me lembro de ver o Amaro dos Santos, completamente transtornado a entrar na messe de sargentos, com a malta pronta a sentar-se, e ele lançar um salto de felino sobre as garrafas de vinho que estavam 
alinhadas para a refeição (, deve ter sido 
à hora do almoço!)...

Há imagens que não se apagam... Está a ver o efeito devastador que cenas como esta tinham sobre o moral do pessoal... E, sem o sabermos, tinha acando de decorrer, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde... Estávamos todos em "alerta máxima" sme saber a razão... E o subsetor do Xime era "pressuposto" estar desfalcado, em termos de efetivos do PAIGC...

27 de novembro de 2016 às 09:12 


(iv) Tabanca Grande  [editor LG]

António, a tua o observação é pertinente: a técnica de "acampar" (recusando-se a ir ao objetivo ou não cumprir a missão) era usada com maior ou menor frequência pelas NT, e nomeadamente pelas subunidades de quadrícula...

A nível da CCAÇ 12 era mais difícil, porque éramos pau para toda a obra, "pau para a colher" do comando de batalhão do setor L1... Quando se fazia operações com PCV e vários destacamentos (caso desta, Op Abencerragem Candente: 3 destacamentos, 8 grupos de combate, 250 homens...) era mais dífícil fazer batota e acampar... Além disso, o nosso capitão, 38 anos, em vésepra de ser promovido major, também alinhou, o que estragou os planos do Amaro dos Santos de "acampar" em Gundagué Beafad... Além,d a avaria do rádio, que nos obrgiou a seguir juntos, os dois destacamentos, B e C... O A era o de Mansambo...

No fundo, era um técnica para gerir o mosso próprio esforço de guerra e fazer o "curto circuito das besteiras" do major de opeerações... Uma das técnicas que se usabva era o silêncio rádio, para evitar que o PCV nos localizasse... Arranjava-se a desculpa da falha nas transmissões...
27 de novembro de 2016 às 09:32 

 
(v) Tabanca Grande  [editor LG]

António:

Em boa verdade, desenvolveram-se, no TO da Guiné, diferentes formas de "pôr um pauzinho na engrenagem”... Não direi que se tratava de “contestação” política da guerra, insubordinações ou revoltas de caserna ou coisas do género…. mas sim de simples “contestação” da autoridade dentro do quartel…

Ao longo da guerra (1961/74), em diferentes unidades e lugares, todos teremos exercido (em maior ou menor grau, com maior ou menor regularidade, com maior ou menor “acordo tácito” dos nossos capitães…), o mais elementar direito à resistência passiva face a comportamentos de prepotência do comando (em geral do setor ou batalhão) ou a processos reiterados de uso e abuso do nosso "coirão": excesso (e elevado grau de risco) de operações, de saídas para o mato, de emboscadas, patrulhamentos, colunas, etc.

Além da técnica de "acampar" na orla da mata (referida pelo cap art QP Amaro dos Santos) ou a uns escassos quilómetros do quartel, fora das vistas do “comando”, havia ainda outras, mais ou menos encapotadas, umas mais fáceis, outras mais arriscadas, não pondo todavia em risco a segurança imediata de ninguém…

Algumas que me vêm à cabeça: “falsificar” os relatórios de ação, sobrevalorizar o número de baixas causadas ao IN, sabotar os planos de operações, evitar o contacto com o IN, “inventar” avarias nos rádios ou dificuldades de ligação com o PCV (posto de comando volante), fazer silêncio-rádio, reportar “enganos” do guia (ou até fuga do guia-prisioneiro) nos trilhos levando ao não cumprimento das missões, simular problemas de saúde do pessoal (obrigando a um regresso antecipado ao quartel), etc.

Claro que era mais fácil "fazer batota" a nível de um simples pelotão ou grupo de combate ou até de um companhia, desde que o capitão e os alferes alinhassem… Era mais difícil "fazer batota" quando as operações eram a nível de batalhão, e havia PCV (com o major de operações ou 2º comandante a dar ordens lá de cima, da DO-27)...

Toda a gente sabe o "ódio" que tínhamos ao PCV por denunciar no mato a nossa posição...
27 de novembro de 2016 às 17:46 


(vi) Tabanca Grande  [editor LG]

Já aqui se escrevu, por diversas vezes, que a malta começava a "cortar-se", a partir dos 18 meses de comissão, para evitar sofrer mais baixas... Precisamos de recuperar esses escritos... A ideia que se tem vindo a transmitir seria a seguinte: (i) nos primeiros seis meses, "os piras" são cautelosos, respeitam as normas de segurança, estão-se a "aclimatar", a "ambientar" a conhecer as manhas do IN e do comando do setor (ou batalhão); (ii) nos dozes meses seguintes faz-se a guerra pura e dura; e (iii) os últimos 3 a 4 meses, com o fim da comuissão á vista, a começa-se a fazer a "gestão do coirão"...

Verdade ?

27 de novembro de 2016 às 17:58



(vii) António José Pereira da Costa [ cor art ref, ex- alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; autor da série A minha guerrra a petróleo"]

Olá, Camaradas

Nunca aprovei e não pratiquei a técnica do campismo (***). Era arriscada para ambos lados. Por um lado informávamos falsamente o comando, dizendo que fazíamos uma guerra que não fazíamos; por outro deixávamos de criar no inimigo o respeito em que tinha da nos ter para não vir à porta-de-armas perguntar: "corpo di bó?

Quando fui colocado no Xime, em 22JUN72, informei lealmente o comando de que se me mandasse a qualquer lado e eu aceitasse a missão escusava de ir verificar porque era verdade. Porém, se eu dissesse que não ia era escusado empurrar. Dei-me bem com o sistema, embora sentisse que da parte do comando houvesse sempre essa dúvida. Numa das tais operações com PCV cheguei a ser mal guiado e isso custou um embrulhanço sem consequências, mas sem vantagens.

De outra vez fui sobrevoado por um DO-27 mas não fui visto embora fosse a atravessa (mal) uma superfície lateritizada (ferruginosa e sem mato). Ou íamos bem camuflados ou o observador era coxo dos olhos. Inclino-me para a segunda hipótese, dado o sucedido na operação com PCV.
No caso da operação à Ponta do Inglês diria que não vejo a vantagem, a menos que houvesse elementos de informação importantes a explorar... Nunca lá fui, mas sei que se tratou de um destacamento ao nível grupo que se tornou insustentável, o que já diz qualquer coisa.

No fundo poderemos concluir que a lealdade e a inteligência deveriam andar juntas naquela "Guerra a Petróleo". Tapar o Sol com a peneira dá mau resultado. (****)

Um Ab.
António J. P. Costa
________________

Notas do editor:

(*) 26 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...

(**) Vd. poste de 5 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16800: Inquérito 'on line' (93): "Batota no mato" ... ou no blogue ?... Esperávamos 100 respostas, obtivemos apenas 45... Resultados: as três formas mais frequentes de batota: (i) emboscar-se perto do quartel (37%); (ii) começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista (37%); e (iii) “acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo (24%)... Só não fazíamos batota era com o Natal no mato...

(...) Estamos a falar de "batota no mato"... Afinal, "pequena batota", da arraia miúda, os filhos do povo que fizeram a guerra (e a paz)... Treze anos de "sangue, suor e lágrimas".. Um milhão de homens, portugueses e africanos,,,

Nunca vi um oficial superior, de G3 na mão, oito carregadores, e dois cantis de água, a meu lado, em operações a nível de batalhão (!)... Falo de oficiais de posto superior a capitão, majores ou tenentes coronéis !...

Onde estavam os nossos comandantes, os nossos líderes ? Não passavam de burocratas, chefes de secretaria, alguns deles!... E no máximo, andavam lá em cima, de DO-27, no chamado PCV, a quem tínhamos, nós, os infantes, um ódio de morte!

Acredito que, pelo menos no TO da Guiné, eles já eram demasiados velhos para alinhar no mato connosco!... Tinham idade para ser nossos pais!...

Só conheci um, que foi comigo, connosco (CCAÇ 12), explorar as "imediações" do famiegrado inferno do Xime, no início de 1971, quando já estávamos em fim de comissão: chamava-se Polidoro Monteiro, era tenente coronel de infantaria, oficial da confiança de Spínola, e honrou-nos a todos, honrou as melhores tradições do exército português!..

Já morreu há muito: que descanse em paz! (...)



(****) Último poste da série > 16 deoutubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)