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domingo, 20 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16738: Banco do Afecto contra a Solidão (20): últimas... mas poucas.. Estou sem computador... Camaradas, sou vítima daquilo que criei (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Data: 15 de novembro de 2016 às 00:14
Assunto: ÚLTIMAS... MAS POUCAS

Camaradas

Estou sem computador. Caiu água na minha secretária e fiquei sem computador. Só na casa do meu filho tive acesso ao Blogue.

Estranho ter enviado mensagens para o Luís e Carlos e não me terem respondido.

Estou numa fase confusa da minha vida. Não perco batalhas. Naquelas em que me envolvi saí sempre vencedor.

Verdade que nada tirei de partido. Desde estudante; fundador de um jornal estudantil; crítico de cinema; Ajudante de padeiro (com carteira profissional) - meu pai depois de trabalhar para patrões com a profissão de padeiro, saiu-lhe a Sorte Grande e tornou-se Industrial de Panificação; fui para o Serviço Militar OBRIGATÓRIO - nunca fui voluntário. Era contrário a essa guerra, podia dizer que era padeiro mas não o fiz, essa não era a minha profissão.

Fui um vagabundo na Recruta, Especialidades - mas essas guerras, por serem guerras perdi-as todas. O pior foi saber dos milhares de jovens que morreram e ficaram deficientes. Morreram muitos amigos. Todos os militares merecem a minha consideração.

Na guerra perdida fui um bom militar. Não fui medalhado, também por não querer. Salvei de morte certa o Capitão e Alferes, entre outros e outras. Fui professor de adultos; construtor civil entre aqueles atributos. Comandei 90 militares africanos (Praças "U" e Caçadores Nativos). Tive 4 comandantes de pelotão, no meio de tudo comandei eu.

E as minas. Dos 4 especialistas, morrem numa granada armadilhada o maue amgo,  furriel miliciano Vitor José Correia Pestana e o soldado Costa.

Outro Amigo de MA [Minas e Armadilhas], António Magalhães Maia cia num aramadilha e fica ferido e o alferes milicianp Sousa Teles apanha tamanho susto que nunca mais pega em MA. Resto eu...

Safei-me e regresso diferente. Tanta merda fiz. Cumpri sempre. Nunca enganei ninguém. Baldar-me. Paludismo e vezes e foi o amigp furriel miliciano Durães que me safou. Estava dispensado, mas não houve saídas para Operações.

Regressei e fui um bom Profissional - Lapidador de Diamantes. Passaram pela DIALAP 1000 e muitos, talvez mais perto dos 2000 trabalhadores, alguns pouco tempo. Juntos mais de 600. Fui sindicalista; estive numa greve em janeiro de 1974 como delegado de sector. Eleito no pós 25 de
Abril, delegado de sector e entre os delegados fui dos 3 executivos da Comissão de Reestruturação.

Fui Cooperativista, estando na origem da COOP LISBOA (acho que ainda existem uns restos). Andei metido no 25 de Abril até às raízes dos cabelos. Era outra história.

Fiquei até à última meia centena de Trabalhadores da DIALAP. Gostaria de saber de quem é o Património da DIALAP - onde se encontram a RTP e RDP.

Fui Autarca. Fundador e membro da Comissão de Moradores do Campo Grande. Ocupei o Asilo D. Pedro V. Foram lá colocados umas 50 pessoas sem posses.

Despedido aos 53 anos. Fundador e Dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra. Foram 11 anos. Fui uns meses vogal da Direcção Nacional, substituí o secretário. 4 anos vice-presidente e 6 presidente e responsável por toda a Legislação. Destaco o trabalho do 1º Presidente da APOIAR, Jorge Manuel Alves dos Santos
(curiosamente também colaborou com o Blogue). Foi ele a escolher-me para fundador e 1º director do Jornal APOIAR. Vários anos no cargo.

Cheguei a escrever artigos para quase todos jornais.

Tinha ideias e avançara no terreno, era só assinar Protocolos para que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas do Stress Pós Traumático de Guerra funcionasse em todo o Território Português.

Fui um dos 3 presidentes a assinar Protocolo com o Ministério da Defesa Nacional.

Ainda sou dirigente da Academia de Seniores de Lisboa e fundador do Jornal "Olhar do Mocho" e 1º director.

É de pasmar... Cortam-me o apoio, primeiro o Psicológico, depois o Psiquiátrico, no momento mais grave de saúde da minha vida. Já viram,  camaradas, sou vítima daquilo que criei.

Escrito no computador do meu filho. Estou sem computador.

Tenho imensos problemas de saúde. Estou vivo. Passei por um outro "corredor da morte".

Nem tive tempo de rever o que escrevi. Já passa das 24h00

Cumprimentos,
Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16698: Banco do Afecto contra a Solidão (19): Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74): está hospitalizado, com graves problemas de saúde... Vamos mandar-lhe uma palavrinha solidária (Juvenal Amado)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15987: Nota de leitura (831): “As guerras coloniais portuguesas e a invenção da História”, por Luís Quintais, Imprensa de Ciências Sociais, 2000 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Junho de 2015:

Queridos amigos,

Temos aqui uma narrativa de antropólogo que pediu ajuda à psiquiatria para conhecer as vítimas da desordem de stresse pós-traumático. Passadas estas décadas, como alguns livros recentemente ilustram, há famílias que continuam a sofrer com o sofrimento do ex-combatente que se recusa a desvelar as topografias da memória e a procurar alívio e a socorrer-se de terapêuticas.

Trata-se de um ensaio que põe frente a frente as ciências psiquiátricas e esta desordem a que continuamos indiferentes, viajamos com o autor num serviço do então Hospital Júlio de Matos, questionamos silêncios da muita gente que teme ingerências inoportunas do passado no presente. Talvez o último grande tabu das nossas guerras coloniais.

Um abraço do
Mário


Desordem de stresse pós-traumático: 
Quando a guerra é uma ferida da memória e um enigma para a medicina

Beja Santos

A desordem do stresse pós-traumático passou a ser alvo de estudos intensos a propósito da guerra do Vietname, gerando novos rumos para a psicoterapia e abalando o muito que se pensava saber acerca das ciências da memória. A memória de aqui se fala é traumática e a medicina, ao tempo da guerra colonial, praticamente que lhe passava ao lado. Mas acontece que muitos dos que vieram dos teatros de operações continuaram a sentir a guerra dentro de si, a viver em alerta, submetidos a uma ansiedade inexplicável, a comoverem-se imprevistamente numa sala de cinema ou num hospital.

“As guerras colonias portuguesas e a invenção da História”, por Luís Quintais, Imprensa de Ciências Sociais, 2000, é um trabalho etnográfico que tem por centro sessões de psicoterapia. Luís Quintais, então assistente de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra integrava-se nos grupos de terapia e estabeleceu contactos com vários ex-combatentes que frequentavam o Serviço de Psicoterapia e que se reuniam na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stresse de Guerra. Trata-se de um pertinente ensaio em que o investigador demanda o que pode a ciência psiquiátrica face a esta desordem, quais as terapias possíveis, como apreciar o contexto português, como lidar com a memória, o trauma, por onde param as melhores terapias para tratar estas vítimas que se infelicitam e condenam os seus meios familiares à derrisão e à angústia.

Escreve o autor que qualquer indivíduo para ser diagnosticado com a desordem de stresse pós-traumático tem de: ter sido exposto a um acontecimento que vivenciou ou testemunhou envolvendo morte ou ferimento grave e em que a resposta pode ter implicado impotência, horror ou medo; essa pessoa irá revivenciar o acontecimento traumático através de penosas recordações, pesadelos e até sentir que o acontecimento traumático está a acontecer de novo; tudo conjugado, a vítima padece de intenso sofrimento psicológico e a sua fisiologia pode ser severamente afetada por essas recordações, sonhos e até mesmo alucinações.

Há duas formas de intervenção terapêutica para atacar esta desordem: a farmacoterapia e a psicoterapia. Diz o autor que os fármacos prescritos são usados, fundamentalmente, para controlar situações descritas como patológicas e que concorrem com a desordem do stresse pós-traumático: por pressão, ansiedade generalizada e abuso de substâncias químicas ou álcool. As psicoterapias socorrem-se de técnicas que se apoiam na comunicação verbal e emocional. Há três abordagens psicoterapêuticas: a terapia comportamental, a terapia cognitiva e a terapia psicodinâmica. Pretende-se acima de tudo reduzir a ansiedade e as reações que a acompanham expondo os pacientes a estímulos que sejam claramente inofensivos.

O médico que mais preocupações tem revelado quanto à obtenção de diagnóstico desta desordem em Portugal tem sido Afonso de Albuquerque. Em 1986, a ADFA – Associações dos Deficientes das Força Armadas organizou uma reunião sobre stresse de guerra e Afonso de Albuquerque propôs-se a estudar e a fazer um diagnóstico desta desordem. Assim apareceu, a partir de 1990, o Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, serviço esse que não lidava só com o stresse pós-traumático mas também com o tratamento de fobias. É um serviço hospitalar de consulta externa. Nesse ano 2000, tinha cerca de 4000 mil consultas por ano. Ainda no século XX Afonso de Albuquerque e colegas que com ele trabalhavam sugeriam que havia em Portugal cerca de 140 mil ex-combatentes sujeitos a esta desordem.

Entramos agora nas topografias da memória, o autor assiste às sessões, regista os casos, houve as vítimas, acompanha o trabalho que assenta na necessidade em “deitar cá para fora”. O autor tece um juízo: “Pensar estes homens como vítimas de processo de adaptação fisiológica e psicológica afigura-se como a única maneira cultural e socialmente sancionável de tornar o insuportável suportável. Trata-se, se quisermos, de humanizar o inumano, um exercício que tem como agente simbolicamente mediador uma retórica sobre o sofrimento”.

E depois ouvimos as vítimas que combateram em Angola e Moçambique. Entramos nos meandros profundos das sessões de psicoterapia onde se jogam a memória individual e memória social, o corpo individual e o corpo social, para constituir um processo de criação de memórias em vários pontos do espaço-tempo. Passa-se em revista o trabalho da APOIAR, as relações desta com a ADFA e ouvem-se vítimas como o nosso confrade Mário Vitorino Gaspar que descobriu que era dado por falecido na sua caderneta. Numa entrevista a João Paulo Guerra, Mário Gaspar não esconde a sua constante conflitualidade: “Na rua meto o bedelho em tudo. Onde eu vejo uma situação que eu acho que não é justa… E então não há recuo possível, uma pessoa avança e não recua”. Só com a terapia de grupo é que começou a falar das suas experiências de guerra. Foi o motor do jornal da APOIAR, era assim que constantemente voltava à guerra.

Mas há outro ângulo, por sinal bastante instável, das topografias da memória: os silêncios das vítimas. E autor volta a tecer outro juízo: “Todas as formas mais ou menos voluntárias de silenciamento de que têm sido objeto as guerras coloniais só podem, em meu entender, explicar-se dada a impossibilidade de nos confrontarmos com a atrocidade e a violência extremas que se inscrevem no tecido da sua história. Atrocidade e violência que espelham indisfarçadamente a ininteligibilidade e a contingência das ações humanas e os desesperados esforços de constituição de sentido dos que as praticaram ou a elas se sujeitaram”.

Sobre esta desordem, também o autor diz que não conseguiu encontrar soluções tranquilizadoras: estamos perante algo para o qual as ciências sociais contemporâneas não encontram respostas claras.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Abril de 2016 Guiné 63/74 - P15978: Nota de leitura (830): Jorge Sales Golias, um capitão eng trms, no TO da Guiné (1972/74), que teve um papel prepoderante no MFA, no 25 de abril e no processo de descolonização: escreve um livro de memórias 40 anos depois

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15792: O meu coma: o corredor da morte (Mário Gaspar) - II (e última) Parte

1. Segunda e última parte do texto do Mário Gaspar sobre a sua experiência de internamento hospitalar  em março de 2002, quando foi operado ao coração... Tem hoje 4 bypasses. Esteve em coma, estve mais para lá do que para cá, É um herói, um duplo sobrevivente do "corredor da morte", na Guiné e na UTIC, no Hopsital de Santa Maria (*)

[Foto à esquerda: Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; lapidor de diamantes, reformado; cofundador e antigo dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra]


(Continuação)

Guerra. Descia e montava minas que rebentavam e matavam. Guerra. As cores de todo o ambiente, eram carregadas, visíveis, sendo de destacar, o verde e o vermelho. Parece que o verde de floresta e o vermelho de san­gue.

Fomos então à propriedade do “senhor x”. Tinha vários chapéus-de-sol espalhados pela relva bem verde. O senhor estava sentado numa cadeira de praia, junto a uma piscina. Falei com ele mas tive que me lançar para a relva. Tinha bastantes dificuldades em me mexer. Ele parecia ser boa pessoa, queria­ ajudar-me. Não sabia quem era, alguém importante. Tinha muitos empregados. Era um espaço luxuoso. Um paraíso.

Perto dele, um outro indivíduo. Emigrante, percebi e de visita à terra, mas mais pobre. Vivia também com algum desafogo. Pronto também para ajudar. Não entendia que tipo de apoios, nem tão pouco quem apoiava e quem era apoiado. Eu não estava bem. Tinha de me lançar para a relva. Até que veio um outro indivíduo, percebi ser muito pobre, que só queria que ajudassem uma mulher. Foi encaminhado.

Saí dali e voei até Vila Franca de Xira. Depois Alhandra e passei pela passagem de nível desta estação. Um pouco à frente está Campo Grande, e logo à curva a Praia de Santa Maria de Sintra (a praia não existe, mas existe a Freguesia de Santa Maria de Sintra que foi onde nasci). Vem Sintra. Toda a viagem foi voando como se fosse um anjo. Vejo o meu pai revoltado dizer:
– Eles não deviam mandar o meu filho para a guerra. Ainda, por cima mataram­‑no. Está escrito na caderneta militar:
– “Morto a 12 de Outubro de 1967” e também: – “Baixa de Serviço: por Falecimento”. Eles não podem matar o meu filho. – Continuava ele, enquanto chorava.

Vi a minha mãe a olhar­‑me. Chorava.

A sala onde me encontro é grande, e localiza­‑se na entrada de neu­rologia, no Hospital de Santa Maria, aliás local onde nunca estive. Tem muitas camas. No fundo, ao meio, está uma porta estreita. Para lá chegar é necessário subir uns degraus. Entrada de um corredor diferente, o “corredor da morte”?

Eu estou em pé à espera da minha vez. Alguém com um aspecto sinistro se põe à minha frente. A sala possui muitas camas com doentes. Dou um empurrão a um tipo por entender que ele não deve ultrapassar­‑me. Sou tratado à sua frente, e para além de me lavarem colocam­‑me uma matéria florescente no nariz, lábios e orelhas, que em contacto com a pele me dá uma outra força anímica. Fico numa cama limpa.

Depois vou para Entre Campos, dando uma volta por Alhandra, Vila Franca de Xira, Praia de Santa Maria de Sintra. Sempre a voar. Fiquei preso no elevador, no cruzamento da Avenida da República com a Avenida das Forças Armadas, com bastantes dificuldades em me mexer. Pedi a um indivíduo se me ajudava, ou a carregar no botão para o piso que eu queria, ou que me emprestasse o telemóvel dele para falar com a minha família. Nem resposta me deu. Olhou­‑me, com o cigarro entre os dedos.

Não consegui sair dali. Após verem­‑me levam-me para umas barra­cas (correspondentes às Barracas dos Tiros da Feira Popular – do lado da Avenida da República e do Teatro Vasco Santana).  Quem aparece, é o tal rapaz, um bom técnico de computador, fazendo peças de cerâmica e bolos. Coloca­‑me a tal matéria florescente no nariz, lábios e orelhas, que em contacto com a pele dá­‑me uma outra força, faz­‑me ter vida. Viver. Mas estou preso. Estou amarrado. Estou morto. Vejo mais uma vez a Sede da APOIAR na Avenida de Roma, 135 3.º, em corte, vista por cima.

Surge um médico preto a afirmar que afinal em relação à minha doença, a fibrose pulmonar (ao pó de diamante) e ao stress pós­‑traumático de guerra, estava pior, pelo que pensei em falar com o rapaz, o tal rapaz que faz bolos e peças de cerâmica. Poderia ajudar nalguma coisa. O meu pai gritava:
– Mataram o meu filho, quero o meu filho.

Volto à Guiné, e movimento­‑me pelo ar rapidamente, com a G3 em punho, matando mais guerrilheiros. O verde. Bem vermelho.  Depois vejo uma corneta. São os Correios localizados na Rua de São José, em Lisboa. Já havia lá trabalhado, ao serviço da DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes. Sou acompanhado também aí:
– Eu preciso de acompanhamento!

O porteiro que me dava a chave para eu trabalhar já lá não estava. Ali existia uma equipa grande e discutiam inclusive os vencimentos, considerando ganharem pouco. O psiquiatra preto que é guineense mandou vir a mulher da Guiné, e também a filha. No primeiro dia zangaram­‑se.  Pensava: – Como me podem ajudar, se eles não se entendem.

Ficou então estabelecido que a Rede Nacional de Apoio, esta apro­vada por Decreto Lei na Assembleia da República, por unanimidade, era eu Presidente da APOIAR. A Rede Nacional de Apoio funcionaria com 9 Psiquiatras de Angola, 9 da Guiné e 9 de Moçambique.

Volto novamente a Entre Campos, e ao entrar no prédio de gaveto da Avenida das Forças Armadas com a Avenida da República, vejo a Antonieta, Josefina, e outras personalidades históricas. Os rostos estão furados. As carnes carcomidas. Estão mortas.

Andavam a fazer publicidade a produtos alimentares num grande hipermercado. O local é o mesmo das barracas dos tiros:
– Ó freguês, vai um tirinho?

Nos locais onde sou acompanhado, principalmente pelo rapaz que uti­liza tal matéria florescente no nariz, lábios e orelhas. Aquela matéria aliviava as dores. Começam por me colocar mais pedaços, era matéria maleável e incandescente. Parece que andam a controlar a utilização daquela matéria que devia ter um valor incalculável. Fico mais aliviado das dores.

Fumo um cigarro, que apago logo, sendo visitado por um indivíduo que vem controlar aquele produto milagroso. Nada me diz. O rapaz, a partir de um determinado dia, começa a empurrar todo aquele produto para cima de mim. Com o fim de me comprometer? Ele continua a desconfiar. Fico com medo e grito:
– Ó da casa!

Alguém me tira daquela prisão que me atormenta e me corrói.  Faço outra visita ao “senhor x” que está debaixo do chapéu-de-sol. Num voo chego junto dele. Saboreia uma bebida. Falo­‑lhe. Não sei bem de quê, depois de eu próprio me lançar sobre a relva. Doía­‑me a barriga.

Vejo­‑me de repente perante o emigrante, tirando um cigarro do bolso, metendo­‑o de seguida na boca. Enchi o ambiente de fumo, até que chegam os meus irmãos José e o Ramiro. Via o meu pai, que chorava, enquanto a minha mãe me mirava com um olhar melancólico. À minha frente, está o meu filho, o Carlos, tem dois ou três anos. Vejo também o meu filho Alexandre, mas este com 27 anos.

Estou deitado na cama. Alguém se aproxima de mim. Quase cara na cara. Muito bonita a senhora. Afasta­‑se. Afasta­‑se. Afasta­‑se. Até desapa­recer por completo. A grande velocidade, velocidade da luz passa o Herman José, que para de seguida.
– Ando a pensar em clonar o Michael Jackson.
–  Muitos? Eu estou contra! – Respondo.

Herman José passa novamente a grande velocidade, dizendo estar tudo controlado, principalmente junto da fronteira. Mas o Michael Jackson não pode ser. Não é branco. Não é preto. Enfermeiros e Médicos olharam­‑me como se me acusassem. Será da utilização daquele produto que faz milagres?

Saí dali e fui a Vila Franca de Xira, depois até Alhandra, passando pela passagem de nível da estação, um pouco à frente está o Campo Grande, e logo à curva a Praia de Santa Maria de Sintra. Tudo em voo rasante. Vem Sintra. Passa o Herman.
– Há que clonar!

O meu pai reclama. A minha mãe olha­‑me com amor. O rapaz diz que me vai ajudar, porque entende de computadores, e vai juntar a História da minha Companhia, com uns bonecos parecidos com aqueles que a minha neta Raquel faz, e provar que eu estou vivo. Surgem uns indivíduos todos iguais. Carecas. Aquela careca típica, com cabeças parecendo cubos. Eram muitos, e militares. Clonagens?
Outros clonados, mais outros. O Herman passa a uma velocidade do Speed Gonzalez.

Não podem clonar o Michael Jackson. Somos brancos ou somos pretos. Vila Franca de Xira, Alhandra, Campo Grande, Praia de Santa Maria de Sintra. Voo fantástico.

Vejo algo como o paraíso encerrado em vidro. Entrei. Os soldados carecas de cabeça cúbica. Era tropa de elite e conheciam­‑me.

Ao fundo da sala uma porta estranha. Pequena. Quando chega a minha vez, e depois de uns indivíduos me analisarem, eu, que era dos primeiros, entro naquela porta carregada de uma luz bonita que não encandeava nem feria a vista. Uma luz mais pura e forte bate­‑me na vista. Atravessei um túnel, antes um corredor. Não estava a sonhar e vi um cenário que nunca imaginava existir: uma floresta multicolor; arco­‑íris; jardins que percorriam todo o espaço; plantas exóticas; relva e musgo; florestas; flores de uma beleza nunca vista; um rio de água límpida; cascatas; mares calmos bem azuis; um mar de areia cor de ouro.

Beleza celestial. Era um paraíso. Um paraíso difícil de identificar. Entro num corredor. Pode­‑se dizer ser um corredor de luz. Possui uma luz muito bela. Incandescente. Uma luz que para além de iluminar, corrompe o espírito e a alma.

Que beleza! Mundo que só poderia ser feito por um Deus maior, um ser superior. Num ápice afasto­‑me daquele mundo maior e regresso.  Estou livre. Vivo em liberdade. Afinal estou na enfermaria da UTIC, no Piso 6. Apalpo­‑me… Estou numa cama, do Hospital de Santa Maria. Um penso tapando o peito. As pernas estão igualmente ligadas.

Venho a saber mais tarde que é 27 de Março, e que fui operado ao coração (cardiopatia isquémica – quatro bypass), ficando em coma de seguida. Só me recordo de fazer o cateterismo. Estou repleto de tubos. Tenho hematomas nas costas da mão direita e a esquerda está cheia de tubos, devido ao soro.

Não votei. O acto eleitoral tinha sido a 17 de Março. Vou todos os dias ao Piso 8 fazer o penso. Todos me falam quando se cruzam comigo. Não os conheço. Um dia peço para visitar a sala onde estive em coma. O médico que diariamente me faz o penso é sósia daquele militar de cabeça cúbica.

Um dia ao transportarem­‑me na cadeira de rodas para fazer o penso no piso 8 colocaram­‑me o Processo Clínico nas mãos. Tentei ler para veri­ficar se estava lá algo sobre o tal produto, ou algo que me incriminasse. Não tinha óculos e fiquei sem saber aquilo que me intrigava: Tudo aquilo por que passara teria alguma verdade?

Pensava que tinha andado a tomar droga. Se não me prenderam é por­que não cometi qualquer crime. Vim a saber terem avisado a minha família que eu não escapava porque estava muito mal. Ia morrer.
Meu filho mais velho, o Carlos Pedro,  contou­‑me que no dia 19 de Março, dia do pai havia­‑me dito ao ouvido, quando eu estava todo entu­bado:
– Pai, o pai é forte e é capaz… É um combatente!

Acordei deste coma induzido, o meu filho Carlos Pedro perguntou:
– Pretende saber de algo para si importante, passado nestes dias? – Respondi com a pergunta:
– Quem ganhou as eleições, e pela vez não votei, e o Benfica tem algumas possibilidades de ser campeão?

Respondeu que tinha sido o PSD e coligado com o CDS-PP e que o Benfica ainda tinha hipóteses.
Tentei dizer, primeiro ao meu amigo Diogo, aquele mundo por onde viajara:
– Esquece!

Outros responderam do mesmo modo. Estou confuso, os Médicos falam em 10 dias, e para mim existe o espaço entre o 12 e o 27 de Março de 2002. Quanto aos Correios, existem na Rua de São José, tendo verificado há pouco, descendo do Marquês Pombal. Estão localizados do lado esquerdo. Curiosamente nunca lá passara. E os mortos vivos, figuras históricas?

O último nº da revista APOIAR,
96, nov/dez 2015, disponível aqui
em formato pdf
Não vi a minha neta neste período, mas ela que fez 3 anitos a 28 de Março, curiosamente disse a
primeira vez que me viu:
– É o avô. Tem dói­‑dói no coração por causa da porcaria do tabaco.

Dias depois da baixa o meu filho Alexandre foi comigo ver o filme de Pedro Almodôvar, “Fala com ela”. Foi ele que escolheu o filme.

O “senhor x”, o “rapaz, o mágico dos computadores”, o meu “voo sobre as terras”, a “raiva do meu pai”, a “acalmia da minha mãe”, “minha neta”, a “matéria florescente”, o “tipo que não ajuda quando fico preso no elevador”, “a razão dos médicos pretos”, a “clonagem”, o “regresso do meu filho mais velho à infância”, a “aproximação de uma figura feminina bonita”, “os vivos mortos”, “os três locais de tratamento”, a visão do “Paraíso”, o “corredor da morte”, e o “regresso à vida”.

Principalmente o regresso à guerra, são questões que necessitam de explicação. A verdade é que estive no “lado de lá”, à entrada do famoso túnel, o tal “corredor da morte”, ou “corredor da luz”.

Ou terei entrado mesmo no “corredor da morte”? A verdade é que depois saí daquele paraíso, para a vida … Voltei à guerra, que me corrompeu as entranhas, no “corredor da morte” e estive novamente no “corredor da morte”.

Recordei, com uma certa ansiedade, os anos passados. Logo na primeira oportunidade – com a mente vazia – escrevi este episódio.

Estivera reunido no dia 11 de Março reunido com o Major Mário Tomé, representando o Bloco de Esquerda. Pedira-lhe um copo de água.

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Nota do editor:

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


O primeiro "bate-estradas" que recebemos logo no início oficial do verão... Esperemos que seja o primeiro de muitos, a "pôr na caixa de correio", este verão, pelos amigos e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande... O pretexto é o verão, as férias (para quem as tem...), o passado, o presente e o futuro, a Tabanca Grande e os grã-tabanqueiros, a Guiné que conhecemos, a vida, o Portugal que amamos... Enfim, aproveitem, os menos assíduos nos últinos tempos, para dar notícias e "fazer a prova de vida"... (LG)



1.  Mensagem, de 21 do corrente, do nosso camarada  Mário Gaspar [ ex-fur mil at art,  minas e armadilhas,  CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associaçºao APOIAR]:


Caros Camaradas e Amigos

Toda a minha vida foi feita de pedaços. A guerra travou os meus passos. Ainda longe da hora da partida, já me antecipava ao tempo. Nunca o escondi, quando era questionado pela frieza dos textos que escrevia, e com ousadia, respondi que me identificaria sempre como Mário Vitorino Gaspar, primeiro por ser o meu nome de baptismo, e de seguida que “Gaspar” (nome do pai) e Vitorino (nome da mãe). Então, visto que se tratava de responsabilidades, era totalmente responsável. Até na carteira profissional de jornalista – que um senhor Secretário de Estado da Comunicação Social, me obrigou a tirar para simplesmente ser director de um Jornal.

Lembro que em 1996 não escrevia – gatafunhava o meu nome numa ficha de trabalho, e assinava os cheques do dia-a-dia. Tratei sempre tudo pelos seus nomes.

Jorge Manuel Alves dos Santos,  o primeiro presidente da APOIAR – Associação que ambos fundámos em novembro / dezembro de 1966   – disse que eu era o director do Jornal. Disse-lhe que não e que escolhesse outro, insistiu e aceitei, do mesmo modo que aceitei – mas contra vontade própria – de partir para Guiné. Fui para a Guiné a 100% – de responsabilidades – e cumpri até último milímetro a minha missão. Fi-lo com ajuda de todos, dos meus heróis – os soldados.

Na APOIAR cumpri não só como dirigente – cerca de 11 anos – como na guerra fui tudo. No primeiro mandato: vogal (pouco tempo), secretário e simultaneamente vice- presidente. No segundo mandato, fui  vice-Presidente. Estes mandatos eram de 2 anos. Depois sou eleito presidente, mas com a alteração estatutária os mandatos eram de 3 anos.

Posso dizer, ao contrário do que todos nós que lá estivemos, não ganhámos mais que a amizade e camaradagem, o resto – a guerra perdemos – e só não o sabia por não querer – A guerra estava perdida.... desde o início.


Folha de rosto da revista Apoiar, nº 34, out/dez 2004. O Mário Gaspar foi o diretor durante nove anos (1996-2004)


Mas na APOIAR ganhámos e orgulho-me por termos conquistado os principais objectivos: Reconhecimento da Doença – Perturbações do Stress Pós-Traumático (PTSD), há quem não pense assim. Conquistámos ainda que fosse criada uma Rede Nacional de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress Pós-Traumático de Guerra, abrangendo a família.

Para tal lutámos, contra tudo e todos, até contra aqueles que deveriam estar a apoiar a APOIAR, como nos disse numa reunião com o Grupo Parlamentar do PS, o amigo saudoso Coronel Marques Júnior:
– Eu apoio a APOIAR!

E foi a partir desta reunião que ganhámos a batalha. Após publicada lutámos pela promulgação e vencemos. Tudo aprovado por unanimidade.

Mas parar era morrer. Assinei em nome da APOIAR um protocolo com o Ministério da Defesa Nacional. O senhor Ministro da Defesa pretendia que discursasse e recusei. Recusei, e por 3 vezes, por considerarmos nada termos a agradecer. O Reconhecimento da Doença, a Criação da Rede e a Assinatura do Protocolo eram questões fundamentais, e ganhámos – com empenho meu que estive de coma 16 dias após um enfarte cardíaco.

Tinha a certeza que tínhamos vencido aquela batalha, mas havia muito tempo à nossa frente.

Posso dizer e com orgulho, Portugal começou finalmente a falar na Guerra Colonial – nesta do “Colonial”, é divisória por existirem camaradas que a denominam como Guerra do Ultramar, mas eu, e à minha inteira responsabilidade, considerei sempre o termo “Colonial”, até por o “Ultramar” só existir em Portugal. Além de se começar a falar daquela guerra em que no regresso nos chamaram de criminosos e traidores – ainda parti uns dentes a alguns senhores – mas editaram-se livros, fez-se teatro e cinema,  grandes Reportagens e entrevistas.

Entretanto algo correu mal – Contagem do Tempo do Serviço Militar, e Consoante Consta nas Cadernetas Militares ou nos Atestados Passados para o Efeito – o termo completo utilizado. DERAM UMA ESMOLA AOS COMBATENTES e aqueles que estiveram na Guiné mais prejudicados. Mas era uma batalha que considerei sempre que ganharíamos. Esgotei os mandatos e não me podia candidatar.

A luta estava bem encaminhada e a APOIAR estava em todo o país. Existiam acordos com as Câmaras Municipais de Almeirim, Benavente e Torres Novas, embora existissem compromissos de todas as Câmaras do distrito de Santarém, exceptuando Sardoal, Fátima e Ourém – aguardávamos datas para efectuar reuniões. Setúbal e todo o distrito. Nestas localidades seriam criados Centros de Apoio com apoio autárquico, bastando assinar protocolos e avançar com os bons técnicos que a APOIAR possuía. Existiam ainda acordos com os Centros Regionais de Saúde de Lisboa, Santarém e Setúbal.

Então foi tudo abaixo. Vi a derrota à distância. Lutar era treta. Os nossos doentes afectados pela guerra são gozados autenticamente: “Doença Nova”, “Doença do Doutor Afonso de Albuquerque”. Houve quem engolisse em Tribunal – o Senhor Oficial faleceu – não vale a pena dizer o nome. Estive do lado do Doutor Afonso de Albuquerque que foi ofendido e ganhou-se a acção.

Mas perdeu-se tudo. Nem sequer podemos dizer o mesmo que Dom Afonso IV disse ao Rei de Castela quando vencida a Batalha do Salado – isto consta nos livros –, o Rei de Portugal disse:
 – Não quero riquezas, basta-me a graça de Deus e a glória de ter vencido.

Perdeu-se uma batalha decisiva e com o poder, a força da razão do nosso lado, por não se ter lutado e continuam “impávidos e serenos, e de joelhos na terra pedindo que não nos roubem o protocolo”.

O que escrevo hoje é somente um pouco de tudo que havia para dizer. Envio em anexo jornais exemplificativos da APOIAR que podem testemunhar o que digo, aliás têm acesso a todos através do site da APOIAR.

Amor em Tempo de Guerra é um exemplo. Os artigos não assinados são todos meus.

Alguém pergunta:
 – O que fazem as Associações de Ex-Combatentes?

O nome de Ex-Combatentes diz tudo. Não são Combatentes e o General Joaquim Chito Rodrigues tem razão quando diz que não somos Ex-Combatentes mas Combatentes.

Pois, Luís, Carlos e todos os Camaradas, ando desiludido com aquilo que vejo suceder no dia-a-dia. Falam comigo e queixam-se. Estou doente mas luto, sozinho sou um inválido. Faço barulho com razão e…

“Começo a conhecer‑­me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser
e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo,
por que também há vida…
Sou isso, enfim…
Apague a luz, feche a porta
e deixe de ter barulho de
chinelos no corredor.”


Fernando Pessoa


Há que bater com os chinelos no corredor. E foi a única razão para colocar esse meu ídolo da poesia – o maior poeta do mundo – Fernando Pessoa.

Falando disso muito mal está a nossa literatura. Quem leu, leu… Quem não leu...  Estive na FNAC e existem poucos escritores a serem reeditados tais como José Cardoso Pires e Vergílio Ferreira e mais um ou outro. O Pessoa é favorecido. 

Mas Camilo Castelo Branco; Alves Redol (conheci pessoalmente e escutei muitas histórias que tenho gravadas na memória); Soeiro Pereira Gomes (amigo da personagem de Esteiros, o Gineto que é Joaquim Baptista Pereira); Eça de Queiroz; Branquinho da Fonseca; Urbano Tavares Rodrigues (conheci pessoalmente e até em debates da APOIAR); Aquilino Ribeiro; Manuel da Fonseca; Carlos de Oliveira; José Cardoso Pires, era bom que reeditassem “O Render dos Heróis”, “O Hóspede de Job” e “O Anjo Ancorado”; Domingos Monteiro; Agustina Bessa Luís (não gostava); porque não Albino Forjaz Sampaio; Almada Negreiros; Rómulo de Carvalho; Ary dos Santos; Augusto Abelaira; Cesário Verde; David Mourão Ferreira; Fernando Namora; José Gomes Ferreira (conheci pessoalmente); José Régio; Luís Francisco Rebelo; Luís de Sttau Monteiro; o nosso camarada Padre Mário de Oliveira (tenho os livros do Julgamento Subversão ou Evangelho, que tem a colaboração de um Advogado e O Segundo Julgamento do Padre Mário, escrito com vários Jornalistas); Mário de Sá Carneiro; e por que não Miguel Torga que teve recentes publicações; Romeu Correia (gostei muito); Ruy Belo; Guerra Junqueiro e mais.

Longo este percurso interrompido, nunca mais li um livro,  o último foi na Guiné.

Se quiserem publicar publiquem. Estou farto… Foi escrito sobre o joelho, só parei no poema de Fernando Pessoa e com o bater dos chinelos no corredor.

Despeço-me por hoje e por uns dias, saio daqui a pouco de Lisboa.

Cumprimentos, para todos os camaradas

Mário Vitorino Gaspar

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14750: Ser solidário (186): jornal APOIAR, nº 34. out / dez 2004 - Parte I: O então diretor da associação e do jornal Mário Gaspar com o então ministro da defesa Paulo Portas


Folha de rosto do nº 34 do jornal APOIAR, out / dez 2004 (, o último da direção do Mário Gaspar). Na foto, o então ministro da defesa, Paulo Portas, e à sua direita o Mário Gaspar. Desconhecemos quem era o outro camarada que está à direita do Mário Gaspar.  O último nº do jornal, o nº 92, mar /abr de 2015, está aqui disponível em formato pdf,  no sí.tiio da associação APOIAR. É atualmente seu diretor. o Manuel Vicente da Cruz. O jornal publica-se desde 1996.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, com data de 28 de maio último:

Caros Camaradas

Envio por mera curiosidade o último Jornal APOIAR – era Presidente da Direcção Nacional e Director do nosso estimado Jornal: uma arma apontada ao PODER – e foi este Boletim simplório que contribuiu para que a APOIAR chegasse onde chegou.

Fui sempre um mero aprendiz, empreendedor e entregue aos meus compromissos.

A verdade é que existe uma Lei – que não funciona por culpa unicamente das Associações amarradas e vinculadas aos Protocolos; existe uma Rede Nacional de Apoio – rôta, repleta de buracos – não é Nacional.

Como escrevo no Livro “O Corredor da Morte”:

- “Não estou aqui para enganar ninguém… Estou aqui por que a casa quer e a casa manda”.

Banha da cobra pura!

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar

[ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68;

sábado, 22 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13927: Ser solidário (174): Vamos ajudar o nosso camarada João Maximiano, que encontrei em Leiria, ex-sold cond auto da CCAÇ 3490 (Saltinho), que continua a sofrer com as recordações da terrível emboscada de que foi vítima no Quirafo, em 17/4/1972... (Juvenal Amado, ex-1º cabo cond auto, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)

1. Mensagem do Juvenal Amado [ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74],  com data de 7 do corrente:

Venho a chegar de Leiria onde dei uma vista de olhos pelo Fórum Leiria e acabei por encontrar um camarada do Saltinho [, CCAÇ 3490,]  dos que caiu na emboscada do Quirafo [, em 17 de abril de 1972].

Era o condutor da segunda viatura e também fiquei a saber que o condutor da GMC que caiu mesmo dentro da área de morte [, vd.fotos abaixo],  é aqui de Reguengos de Porto de Mós.

Mas o camarada [João] Maximiano, o que eu encontrei,  está a sofrer de stress pós-traumático e não consegue dormir e passa a vida nos médicos. Quando ele lhes diz que esteve na Guiné e lhes conta os pesadelos, eles tem uma atitude de muita compreensão, mas dão-lhe a entender que pouco ou nada podem fazer.

Agora a pergunta que urge... há malta do blogue que sabe onde se deve ele dirigir? Como proceder?

Olha eu tenho o nº de telemóvel dele e fiquei de lhe telefonar entretanto. Gostava de lhe dizer alguma coisa que o confortasse,  se isso for possível.

Um abraço.
Juvenal.


2. Resposta no mesmo dia, do nosso editor L.G.:

A Associação Apoiar dá ajuda, gratuita, à malta com problemas de stresse pós-traumático de guerra, ou vítimas de stresse de guerra... O problema é que fica em Lisboa... É sempre a mesma história, ou cada vez pior, com a litoralização do país...

Tens aqui o contacto [, telemóvel e emaill.] do Mário Gaspar, que foi cofundador e diretor da Apoiar... (publicou agora o livro "O Corredor da Morte", deves-te lembrar dele do nosso último encontro em Monte Real...).

Aquele abraço.
Luís


3. Nova mensagem do Juvenal Amado, com data de ontem:

Caro Luís, Carlos e demais camaradas da Tabanca Grande

Há dias encontrei o João [Maximiano] que foi condutor da companhia do Saltinho.

Falamos um bocado onde ele me confidenciou que estava com problemas de saúde. Acabou por acrescentar que a sua saúde hoje era reflexo de ter caído na emboscada do Quirafo,   pois era ele o condutor da segunda viatura.

O tempo não deu para falarmos,  como eu gostaria, mas mesmo assim fiquei com a impressão que os distúrbios de que padece são ao nível de stress pós-traumático,  o que não será para admirar.

Mas eu não sou médico nem técnico dessa área e, após informação do Luís Graça,  acabei por encaminhar para associação Apoiar e para a Liga dos Combatentes em Leiria.

Este é mais um caso de alguém que, passados tantos anos, passa sofrer com as recordações.

Também fiquei a saber que o condutor da primeira viatura vive em Reguengos do Fetal, que é aqui perto de Fátima. Vou tentar juntar os dois,  pois por mais que se fale daquilo,  é sempre pela boca de quem lá chegou depois.

Outra noticia que me deu foi que a companhia [, a CCAÇ 3490,] se reúne todos anos.

Um abraço.
Juvenal





Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), que transportava um grupo de combate reforçado, comandado pelo alf mil Armandino, e que sofreu uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74)... 

Foram utilizados LGFog e Canhão s/r. Houve 11 militares mortos, 1 desaparecido... Houve ainda 5 milícias mortos mais um número indeterminado de baixas, entre os civis, afectos à construção da picada Quirafo-Foz do Cantoro. A brutal violência da emboscada ainda era visível, em fevereiro de 2005, mais de três décadas, nas imagens dramáticas obtidas pelo Paulo Santiago e seu filho João, na viagem de todas as emoções que eles fizeram à Guiné-Bissau.

Fotos: © Paulo e João Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]

4. Poema de Juvenal Amado:

João Maximiano, sobrevivente do Quirafo 1972 (**)

A Paz não está ao alcance de todos.
Devagar,
Insidiosamente,
As recordações são viscosas,
Enleiam-se em ti.
És devorado sem saber,
Revives pela milionésima vez,
As tripas contorcem-se.
João, ali está a curva fatídica,
Violência que esperou por ti há hora marcada,
Foste poupado, para seres esmagado agora,
Saídas ensurdecedoras, impactos cavos e subterrâneos,
Martelo de dois tons,
Temores há muito esquecidos,
Regressam todas as noites.
Sem ser convidados.
Os fantasmas relembram medos passados.
Não tens defesa contra a guerra
Que te visita 40 anos passados.
Não há G3 que te valha.
O terror, esse, é real 
E povoa-te o sono,
Acordas mas não te livras do pesadelo,
Antidepressivos são hoje a tua ração de combate.
Regressaste, passaste pelos corpos dos teus camaradas,
Não os reconheceste,
Eles visitam-te agora, 
Persiste o odor acre e a dor.
Ficaram sempre jovens, 
Com a farda com que embarcaram.
Estás refém da memória que te esmaga,
Foste para a guerra 
E na verdade nunca regressaste dela.
Quem te escolheu o caminho?
A Paz nunca ficará ao teu alcance.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9763: In Memoriam (117): Recordando o dia 17 de Abril de 1972 e a trágica emboscada de Quirafo (Juvenal Amado)

Ainda sobre a emboscada de Quirafo, entre outros, vd. postes do Paulo Santiago:

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)

26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)

25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13497: Recortes de imprensa (68): Notícia sobre o lançamento do livro "O Corredor da Morte", do nosso camarada Mário Gaspar, no Jornal Apoiar



1. Em mensagem do dia 7 de Agosto de 2014, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos um exemplar do Jornal APOIAR de Maio/Junho onde consta a notícia do lançamento do seu livro "Corredor da Morte"(*).
Com a devida vénia ao referido Jornal, aqui fica a reprodução das páginas 8 e 9. 





Clicar nas imagens para permitir a leitura do texto
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

1 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio

30 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13214: Notas de leitura (595): "O Corredor da Morte", pelo nosso camarada e tertuliano Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Mário Beja Santos)

3 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13229: Agenda cultural (321): "Corredor da morte", de Mário Gaspar: a sessão de lançamento foi no passado dia 22, na presença de muitos amigos e de antigos combatentes... O autor irá promover o seu livro também no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no próximo dia 14
e
3 de Junho de 2014 > Guiné 63/74- P13230: Notas de leitura (597): Excerto do livro de Mário Gaspar, "O Corredor da Morte", cap 19: desmontando minas e armadilhas nos últimos dias de Gadamael, outubro de 1968

Último poste da série de 23 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12075: Recortes de imprensa (67): a situação, em Portugal, dos nossos camaradas guineenses (Deutsche Welle Africa)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13229: Agenda cultural (321): "Corredor da morte", de Mário Gaspar: a sessão de lançamento foi no passado dia 22, na presença de muitos amigos e de antigos combatentes... O autor irá promover o seu livro também no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no próximo dia 14


Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > Sessão presidida pelo gen ref Chito Rodrigues, presidente da direção da Liga dos Combatenrtes, que tem, à sua direita o psiquitra Afonso de Albuquerque e a prof Ermelinda Caetano; e à sua esquerda,  o presidente da APOIAR, Jorge Gouveia, e o nosso Mário Gaspar.



Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > O gen Chito Rodrigues no uso da palavra



Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 >  O psiquiatra Afonso de Albuquerque no uso da palavra.


Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > Jorge Gouveia, presidente da APOIAR.



Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 >  Mesa e assistência


Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 >  Aspeto parcial da assistência. Devido à duração da sessão, alguns amigos do autor tiveram que sair mais cedo.


Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspaer, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > No final,. houve sessão de autógrafos e um contacto mais próximo do autor com os seus amigos e leitores... Vê-se, ao fundo, de camisola vermelha o nosso camarada Carlos Silva.


Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014. Capa do livro.

Fotos: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]

1. Como foi anunciado pelo nosso blogue, realizou-se no passado dia 22, no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, a sessão de lançamento do livro de memórias do Mário Gaspar.[ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68] (*)

Presidiu à Mesa o presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

A professora Ermelinda Caetano fez a apresentação da obra, representando ao mesmo tempo a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa,  a que o Mário Gaspar está presentemente ligado.

Também usou da palavra o psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro, e antigo combatente, como alf médico mil no TO de Moçambique, e que é, como se sabe, um reputado especialista no domínio  do Stress Pós-Traumático de Guerra.

Esteve também representada, através do seu presidente Jorge Gouveiua, a APOIAR – Associação de Apoio aos Ex- Combatentes Vítimas do Stress de Guerra, de que o Mário Gaspar foi codundador e também dirigente.

Antigos combantentes e amigos do autor associaram-se à cerimónia. O Mário Gaspar, embora cansado, era um homem feliz. Como ele fez questão de referir e explicar, o seu primeiro livro diuvide-se em  três partes: (i) a aua operação ao coração e o quanto ele esteve perto da morte, conseguindo escapar-se-lhe; (ii) uma segunda parte em que se narram pisódios da sua  vida infanto-juvenil; e por, fim, (iii)  a história militar e de um furriel miliciano, atirador, especialista em minas e armadilhas, que integrou a CART 1659, mais conhecida por "Zorba", e que andou por terras do sul da Guiné, região de Tombali,  Gadamael Porto, Sangonhá e Ganturé, etc., entre Janeiro de 1967 e Outubro de 1968. 

Numa recente recensão, Mário Beja Santos, escreveu aqui, no nosso blogue, sobre a obra e o autor o seguinte: 

(...) " [Mário Gaspar] arrecadou recordações poderosas, oferece-nos páginas tocantes, tem orgulho nas suas origens, enfim, com surpresa ou sem ela visitou os corredores da morte, não o das penitenciárias que encaminham para execuções mas aqueles corredores onde em tempos de guerra e paz temos a vida em processo de licitação. Começa com todo o processo que leva à sua hospitalização e à operação ao coração, em março de 2002. Temos aqui uma estrondosa viagem pelo sonho, aquele vácuo de onde vamos buscar farrapos de reminiscências pelas errâncias da vida, há para ali descrições que nos lembram outras de pessoas que estiveram à beira de passar para a outra margem, luminosidade e turbilhão" (...) (**)

O autor vai ter oportunidade, no IX Encontro Nacional da Tabanca, em Monte Real, no dia 14 do corrente, de promover o seu livro junto dos participantes do evento, a maior parte deles seus camaradas, antigos combatentes no TO da Guiné.

Desejamos bom sucesso editorial ao livro do  nosso camarada Mário Gaspar, e damos-.lhe os parabéns pela coragem de voltar a enfrentar os "corredores da morte", agora  através da escrita!
_________________

Notas do editor:

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13175: Lembrete (3): Lançamento do livro "O Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, 22 de maio, às 17h30, no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, com apoio da Liga dos Combatentes e da associação APOIAR





1. Mensagem,  de 11 do corrente, do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Gaspar [ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68; autor do livro "O corredor da morte", a ser lançado no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, no próximo dia 22 de maio]:


Homem Grande da Tabanca:

Divido o livro em três partes:

(i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela; 

(ii) episódios da minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;

(iii)  e a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné para onde fui mobilizado como Furriel Miliciano, Atirador, Especialista de Explosivos, Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659), mais conhecida por "Zorba" para Gadamael Porto e Ganturé, desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968. 

E no livro - quase na totalidade - narro operações militares, patrulhas, emboscadas, ataques aos aquartelamentos desde Mejo, Guileje, Gandembel, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. 

Foco o nosso desespero ao assistir às mortes e aos ferimentos dos nossos camaradas, narro episódios de levantamento - principalmente de minas - do PAIGC e também da montagem e desmontagem de minas, armadilhas e fornilhos não só por mim montadas.

E o livro indica ter existido algo de comum na minha vida: “O Corredor da Morte”:

(i) estive no “corredor da morte”, quando fui sujeito a uma operação cirúrgica ao coração, ficando em coma;

(iii) estive no “corredor da morte”, quando manuseava explosivos, minas e armadilhas; 

(iii) estive no “corredor da morte” quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado “corredor da morte”, também chamado “corredor de Guileje”, junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, portanto Oficiais, Sargentos e Praças não possuem nem rosto nem nome, embora na grande maioria dos casos estejam identificados.

A CART 1659 que tinha como lema “Os Homens não Morrem” era constituída por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes.

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei não os enumerar, o que não é desrespeito.

Depois descrevo a minha abreviada participação na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Sendo um dos fundadores, iniciei o primeiro mandato, de mais de dois anos como Vogal e Secretário; o segundo mandato, de dois anos como Vice Presidente, e o terceiro e quarto mandato, mais de seis anos como Presidente. Sempre na Direção Nacional. Fui fundador e o primeiro Diretor do Jornal APOIAR.

O Lançamento do Livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17H30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a Mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – Professora Ermelinda Caetano fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua Comissão em Moçambique como Médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós-Traumático de Guerra;

4 – Eu, autor do livro;

5 - Jorge Gouveia,  Presidente da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex- Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em anexo o Convite e Cartazes que se encontram expostos em vários locais.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12947: Lembrete (2): Lançamento do livro "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro" por Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, a ter lugar no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Largo S. Domingos, Lisboa, amanhã, dia 9 de Abril, pelas 18 horas (Francisco Henriques da Silva / Mário Beja Santos)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio



Convite do autor para o lançamento do seu livro, "O corredor da morte"


1. Mensagem de 29 de abril último, do nosso camarada Mário Gaspar:


Camaradas e amigos da Tabanca Grande


 I. Fiz a minha Comissão de Serviço como Furriel Miliciano de Artilharia, Atirador e com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 - CART 1659 - também conhecida como a "ZORBA" em Gadamael Porto e Ganturé - desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968.

Divido o livro em três partes: (i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela após 16 dias em coma; (ii) a minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;  e (iii) a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné, para onde fui mobilizado.

E o livro tem o significado de ter existido algo de comum na minha vida, "O Corredor da Morte":

(i) estive no "corredor da morte" quando fui operado ao coração;

(ii) estive no "corredor da morte", quando manuseava explosivos, minas e armadilhas;  e

(iii) estive no "corredor da morte" quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado "corredor da morte", também chamado "corredor de Guileje", junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, Oficiais, Sargentos e Praças,  não possuem rosto, nem nome, embora na enormidade dos casos se possam reconhecer. A Companhia que tinha como lema "Os Homens não Morrem", formada por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei em não os enumerar, o que não é desrespeito.

II. O Lançamento do livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – A Professora Ermelinda Caetano que fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua comissão em Moçambique como médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós Traumático de Guerra;

4 – Eu, como autor do Livro projecto uns slides sobre o livro;

5 – O representante da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em Anexo o Convite para o Lançamento do Livro.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

PS - Gostaria imenso que o blogue Luís Graça & Camaradas na Guiné estivesse representada na mesa de lançamento.

Assim, convido-os a fazerem-se representar no mesmo. Para tal necessito da resposta dos Homens Grandes da Tabanca, tão breve quanto possível, visto pensar iniciar o envio dos Convites já para a semana que vem.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 014 > Guiné 63/74 - 13058: Agenda cultural (311): Lançamento do livro de Henrique Tigo, "As Portas de Abril", 30 do corrente, 4ª feira, 19h, Centro Cultural Malaposta, Olival Basto, Loures

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8289: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (6): Mais fotos da rodagem do filme "Quem vai à guerra"...



Clementina Rebanda, casada com umn militar vítima de stresse pós-traumático de guerra a quem o exército infernalizou a vida. num processo verdadeiramente kafkiano... A última parte do filme é dedicado às sequelas de guerra, nomeadamente a nível de saúde mental, de que as mulheres também foram vítimas (e quase sempre silenciosas)...  Esta e outras mulheres de camaradas nossos t tém sido apoiadas e companhadas quer pela ADFA quer   pela Associação Apoiar (Julgo que algumas  delas pertencem ao Grupo de Ajuda Mútua das Mulheres da APOIAR).


 Este tema, já de si complexo (tanto do ponto clínico e epidemiológico, como social), possivelmente deveria merecer um outro documentário,  específico...  O filme Quem Vai à Guerra tem, no entanto, o mérito de dar "visibilidade" a um problema, grave, de saúde que afecta dezenas de milhares de portugueses e suas famíias. "O Stress de Guerra é uma realidade para dezenas de milhar de ex-combatentes da Guerra Colonial e para as suas famílias. Desde 1994 que Associação APOIAR apoia os ex-combatentes que padecem de perturbação de stress pós traumático que adquiriram quando estiveram em combate. Esta doença afecta tanto o ex-combatente como mulheres, filhos e demais familiares. A APOIAR tem um corpo clínico e social que ajuda a tratar e a recuperar para a vida activa as pessoas afectadas com esta doença".





Ana Maria Gomes, cujo papel já não me lembro (embora tenha fixado o seu rosto e a sua voz)...




Rosa Redondo, casada  com um oficial fuzileiro especial, que acompanhou num dos teatros de operações (Angola, se não me engano)... Foi também professora, tendo guardado as fichas dos seus alunos, brancos e negros, com os nomes, as fotos, o aproveitamento escolar bem como o averbamento do que desejavam ser quando fossem grandes... Representa no filme o grupo, claramente minoritário, das mulheres "politizadas"...




Odete Barata cujo papel também já não me lembro (embora tenha  gostado do seu desempenho): possívelmente uma das mulheres que acompannhou o marido no Teatro de Operações... (Preciso de rever o filme, que dedicou bastante espaço às acompanhantes dos militares, bem como às viúvas).




Ercília Pedro, enfermeira pára-quedista (que se casou no ultramar com um dos militares que conheceu em serviço, julgo que da FAP)




Quatro enfermeiras pára-quedistas, da esquerda para a direita, a Cristina Silva e a Rosa Serra (1º plano) e a Maria Arminda Santos e a Natércia Neves (em 2º plano)...  


Em 21 participantes, todas mulheres, oito são ex-enfermeiras pára-quedistas, se bem as contei: além das já citadas, temos ainda a Giselda Pessoa,  a Ercília Pedro, a Aura Teles e a Júlia Lemos...


Julgo que a veterana Zulmira André Pereira (1931-2010) ainda chegou a ser contactada pela realizadora do filme... Infelizmente, a morte levou-a em Setembro de 2010. A sua presença não deixou, porém, de se fazer "sentir" no hall da Culturgest, antes da sessão de ante-estreia do filme...




Fotos da rodagem do filme Quem Vai à Guerra, disponíveis no mural da respectiva página no Facebook (Aqui reproduzidas com a devida vénia...)



1. Ver também aqui o nosso pequeno vídeo (34''), disponível na nossa conta You Tube > Nhabijoes, com a ficha técnica do filme e as palmas  dadas, por centenas de espectadores, no final da sessão de ante-estreia, na Culturgest, Lisboa, dia 13 de Maio último, no âmbito do 8º Festival Internacional de Cinema Independente (Lisboa, 5-15 de Maio de 2011).


Recorde-se que o filme vai estrear, comercialmente, no dia 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro (*).



Página principal da Associação Apoiar.

Além do apoio clíncio e psicossocial às vítimas de stresse pós-traumático de guerra, a Associação publica também o jornal APOIAR que é "a única publicação periódica especializada no stress de guerra em Portugal".  O nº 68, referente a Janeiro/Fevereiro de 2011,  pode ser consultado aqui a em formato PDF




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Nota do editor

(*) Vd. último poste da série > 17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8287: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (5): Filme "Quem Vai à Guerra", de Marta Pessoa, no circuito comercial, em Lisboa, Porto e Aveiro, a partir de 16 de Junho



Vd. também o blogue Quem Vai à Guerra