Mostrar mensagens com a etiqueta Bigene. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bigene. Mostrar todas as mensagens

domingo, 3 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21729: Memória dos lugares (416): Um casamento em Bigene (António Marreiros, ex-alf mil, CCAÇ 3544, Buruntuma, 1972, e CCAÇ 3, Bigene, 1973/74)








Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 3  (1973/74) > "Um casamento em Bigene"... Fotos a precisarem da ajuda de etnólogo ou, talvez ainda melhor, do "conselho sábio" do nosso assessor para os assuntos etnolinguísticos, o Cherno Baldé que "firma" em Bissau... Parece ser um casamento manjaco, não, Cherno ? Podes dar-nos alguns "pistas de leitura" ?


Fotos (e legenda): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de  António Marreiros, a viver há 48 anos no Canadá (Victoria, BC, British Columbia), ex- alferes miliciano em rendição individual na Companhia CCaç 3544, "Os Roncos", Burumtuma, 1972,  e, meses depois, transferido para Bigene/Guidage, CCaç 3, até Agosto 1974 (*):


Data - 2 jan 2021 22:19
Assunto . Casamento em Bigene
 

Para o álbum de recordações...são 5 fotos.

Penso que foi em 73, os mangueiros estão em flor... (**)

António Marreiros


____________


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21643: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (7): É Natal, é Natal, apesar dos confinamentos (António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74), membro n.º 822 da Tabanca Grande


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1972 > Igreja local (*)  > Natal > O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores


Guiné > Bissau > 1973 > 
Uma montra na baixa de Bissau, com decoração natalícia... e provavelmente com animação, a avaliar pelo número de crianças especadas no passeio...

Fotos (e legendas): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74) , membro nº 822 da Tabanca Grande (**):

Data - 12/12/2020, 17:58
Assunto - Mensagem de Natal


 
Amigos:

Hoje recebi esta mensagem natalícia do Carlos Pereira um camarada e amigo dos tempos de Bigene que acho apropriado partilhar com vocês. Oxalá possam abrir este link:
 
Linda Mensagem De Natal, de Audete de Fazio

Entretanto, num álbum encontrei estas duas fotos :

(i) O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores...Igreja de Buruntuma,  1972;

(ii)  Uma montra em Bissau numa ida à cidade (em 73, quando estava em  Bigene?), de avioneta, em serviço, talvez levantar o dinheiro para pagar a tropa em Bigene...

Lembro-me, nessa ocasião, de visitar um amigo que tinha namorada com família abastada... Lembro-me  do excesso de presentes que as crianças, que ali estavam,  nem apreciaram...

Ah!, como a memória vai ficando enevoada mas de repente uma imagem toma realidade!


É Natal, É Natal ...apesar dos confinamentos! (***)
Felicidade e cuidem-se

António Marreiros
Victoria, Canada
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16049: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (8): A bonita e original capelinha de Buruntuma, de estética modernista (José Mota Tavares, ex-alferes mil capelão, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67)

(**) Vd. poste de 9 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822


Foto nº 1


Foto nº 2

Fotos (e legendas): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de António Marreiros, a viver há 48 anos no Canadá (Victoria, BC, British Columbia), ex-alferes miliciano em rendição individual na Companhia CCaç 3544, "Os Roncos", Burumtuma, 1972,  e, meses depois, transferido para Bigene/Guidage, CCaç 3, até Agosto 1974 (*):


Date: sexta, 4/12/2020 à(s) 01:00
Subject: Hoje ...e 48 anos antes

Olá,  Luís Graça,

Depois de uma volta a pé nesta tarde cinzenta de Dezembro, fui à procura da caixa com fotos antigas e encontrei o grupo de Buruntuma e Bigene. Vou tentar copiar algumas mas não sei a melhor maneira de mandar:  Messenger, WhatsApp,  ou assim?

Para me registar na Tabanca aqui vai a minha foto tirada em Março [deste ano] no Algarve [Foto nº 2]  e …48 anos antes,  no rio Cacheu a caminho de Bolama ...e ainda muito "pira"! [Foto nº 1]. Penso que ainda tenho nalgum sítio aquele colar nativo feito com osso de peixe.

Sim, pelo apelido  de família [, Marreiros,] viste que sou algarvio! Nasci em Sagres e um mês depois de vir da Guiné estava numa longa viajem para este lado do Pacífico…

Nos primeiros 10 anos foi difícil regressar a casa periodicamente, mas com o tempo surgiram mais possibilidades e hoje volto  pelo menos cada 2 anos.

Ainda não respondi ao amigo Crisóstomo,  de New York, mas vou fazê-lo, ele foi tão pronto em me contactar!

Só agora é que tive coragem de abrir os outros links que me mandaste (P) …Tive dificuldade em ler a vivida descrição do ataque a Guidage e as emboscadas  (Amilcar Mendes, 38.ª CCmds) de Maio de 1973, porque eu fiz parte da tropa que se juntou aos Comandos nessa coluna que conseguiu finalmente chegar  a Guidage.

Tenho um nó no estômago outra vez... ver os nomes dos dois alferes que se perderam e toda aquele caos que se seguiu (eles voltaram dias depois a Bigene com a ajuda dos soldados africanos que conheciam o mato)…

Vou ler mais, mas noutro dia…
Um abraço do Canadá.
António Marreiros


2. Comentário do editor LG:

Camarada Marreiros, em meu nome pessoal, dos demais editores, colaboradores permanentes  e o resto da Tabanca Grande (que abaraça um leque de mais 8 centenas de camaradas que passaram pelo CTIG de 1961 a 1974), eu saúdo e faço votos para que te sintas sempre bem, ao nosso lado, sentado à sombra do nosso poilão...

Passas a ser nº 822... E o teu nome passa a constar permanentemente da lista alfabética, de A a Z, dos membros da Tabanca Grande, constante da coluna estática do blogue, no lado direito.

Peço desculpa de, no comentário anterior (*), ter confundido a tua segunda companhia, que não é a CCAÇ 19 (que estava em Guidage), mas sim a CCAÇ 3, da qual temos meia centena de referências. Mais à frente, no ponto 3, apresento-te um resumo do historial da CCAÇ 3.

 Em relação às tuas dúvidas... Tudo o que nos quiseres mandar (fotos, digitalizadas com boa resolução, em formato jpg, de preferência; ou textos em word ou pdf), usa de preferência o meu endereço de email, o mesmo que usaste agora: luis.graca.prof@gmail.com.

O nosso blogue tem algumas regras, simples, pacíficas, consensuais, que podes consultar aqui.

Mas, no essencial, devo dizer-te o seguinte, para te sentires inteiramente confortável aqui e à vontade para partilhares as tuas memórias, sem constrangimentos.

O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, criado em 2004, é um espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, abertos a todos os combatentes que conheceram o TO da Guiné, entre1961 e 1974). 

O nosso comportamento (bloguístico) deve estar  de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelos nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

Não menos importante:

(xi) defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).

(xii) em contrapartida, uma vez editados, os "postes" não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

(xiii) qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou da página do Facebook da Tabanca Grande), necessita de autorização prévia dos autores (por ex., publicação em livro).

Dito isto, camarada António Marreiros, esperemos que partilhes também connosco alguns dos "segredos" que vais contar à tua neta, relativamente àquele período da tua vida (cerca de 3 anos) em que estiveste ao serviço do Exército Português... Happy Cristmas!... Luís Graça

PS - Noutra oportunidade, falar-te-ei do nosso camarada A.Marques Lopes, cor inf DFA,  que foi também alf mil na CCAÇ 3, tendo estado em Barro, em 1968. É autor do livro "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, e que conta a história de António Aiveca. É um dos históricos da Tabanca Grande. Tem cerca de 250 referências no nosso blogue.
 


3. Companhia de Caçadores nº 3  (CCAÇ 3) > Ficha de Unidade:
 
Comandantes:

Cap Art Samuel Matias do Amaral
Cap Inf Cassiano Pinto Walter de Vasconcelos
Cap Inf Carlos Alberto Antunes Ferreira da Silva
Cap Inf José Olavo Correia Ramos
Cap Art Carlos Alberto Marques de Abreu
Cap Art Fernando José Morais Jorge
Cap Inf João da Conceição Galamarra Curado
Cap Inf Carlos Alberto Caldas Gomes Ricardo
Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria
Cap QEO João Pereira Tavares
Alf Mil Inf José Manuel Levy da Silva Soeiro
Cap Inf Manuel Gonçalves Mesquita
Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco
Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia de Carvalho
Cap Mil Inf José Maria Tavares Branco

Divisa: "Amando e Defendendo Portugal"

Início: lAbr67 (por alteração da anterior designação de 1ª CCaç)
Extinção: 31Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 1Abr67, foi criada por alteração da anterior designação de 1ª Companhia de Caçadores.
.
Era uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local.

Continuou instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCaç 1887 e estacionados em Binta e Jumbembém, este depois em Canjambari a partir de finais de Set67. 

Ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.

Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20Jul68, destacou, em meados de Out68, um pelotão para Guidage, tendo assumido, em 09Mar69, a responsabilidade do subsector de Guidage por troca com a CArt 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 2l/22Jan69 tomou parte
na operação "Grande Colheita", realizada pelo COP 3.

Em 22Fev72, rendida em Guidage pela CCaç 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCaç 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BArt 3844.

Em 08Dez72, foi substituída, transitoriamente, por forças da CArt 3358 no subsector de Saliquinhedim e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26Nov72 e 08Dez72 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCaç 4540/72, ficando então novamente
integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.

Em 31Ag074, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.

Observações
Não tem História da Unidade. Tem Resumo de Actividade referente ao período
de Mai73 a Set74 (Caixa n." 129 - 2.a Div/d." Sec, do AHM).

Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. .627/628
_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21561: O nosso livro de visitas (207): António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Victoria, BC): foi alf mil, em rendição individual, CCAÇ 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 19 (Bigene e Guidaje, 1973/74)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21561: O nosso livro de visitas (207): António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Victoria, BC): foi alf mil, em rendição individual, CCAÇ 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 19 (Bigene e Guidaje, 1973/74)


Mapa do Canadá e posição da cidade de Victoria, capital da província da Colúmbia Britânica. Fonte: cortesia de  Wikimedia Commons


1. Comentário de nosso camarada e leitor António José de Sousa Marreiros, que vive no Canadá (Vd. poste P21532 )(*):

Amigos, 

Nunca falei muito da minha passagem pela Guiné quando vim viver para o Canadá (Victoria, BC, British Columbia). Tentei esquecer e dar lugar às novas experiências num país novo e língua diferente. 

Com os anos e para não ter muitas saudades fui enterrando memórias e aprendendo os hábitos desta nova sociedade. Só consegui manter contacto com 3 amigos que também fizeram a Guiné comigo e por um deles encontrei este blogue.

Nessa altura só tive coragem para ler umas quantas histórias e, como não gostei da depressão em que fiquei,  abandonei o site e só hoje, já perto dos 70, voltei à Tabanca. 

Estou a fazer um esforço para lembrar e escrever uma pequena história, em inglês, da minha vida forçada de militat de guerra. Estou a pensar que a minha neta, agora com apenas 7 anos, um dia vai querer saber as origens e o que fez o avô... 

A pandemia [de Covid-19] trouxe outra realidade e uma necessidade mais forte de procurar linhagens e realidades de juventude sobretude que estou fora de Portugal e das minhas raízes.Por isso tem sido mais fácil ler este mar de informação dos camaradas da Guiné e uma recolha de nomes e termos que afinal ainda estavam na meu vocabulário e apenas adormecidos. 

António José de Sousa Marreiros,
Ex-alferes miliciano em rendição individual
na Companhia CCaç 3544 (os Roncos) em Burumtuma (1972) e,  meses depois,  transferido para Bigene/Guidage, CCaçadores 3, até Agosto 1974.

Um abraço a todos e que continuem bem!

2. Comentário de Valdemar Queiroz (*):

António Marreiros.

Então por Burumtuma, quer dizer que fez a estrada Nova Lamego-Buruntuma e passou pela Ponte Caium.

A minha CART 11 (1969/70), de soldados fulas, esteve fixada em Nova Lamego (Quartel de Baixo) e depois mudamos para Paunca, mas estávamos em intervenção em toda a zona leste e também fomos a Buruntuma em operações.

Ponte Caium, ninguém acredita haver um "Quartel" em cima duma ponte naquelas condições.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

3. Comentário do editor Luís Graça:

Camarada Marreiros, és bem vindo!... Não percas o contacto connosco... Vamos escrever-te para o teu email, constante do teu perfil no Blogger. E estás desde já convidado a juntar-te aos bravos da Tabanca Grande... Somos já 821, entre vivos e mortos, espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Infelizmente, temos apenas duas referências à tua primeira companhia, a CCAÇ 3544.  Por exemplo, será que viste este poste, com referência ao Francisco Alves, um camarada da tua companhia (**) ?... Já sobre a CCAÇ 19 há pelo menos umas 25 referências

Pelo teu apelido, pareces-me ser algarvio... Quando escreveres a tua história, em inglês, para a tua neta canadiana, manda-nos um "cheirinho", ou até uma cópia... A gente faz a tradução para português. Na parte relativa à Guiné, tens aqui uma "montra" para divulgares a tua história... 

De qualquer modo, o teu gesto é de uma grande ternura. E é importante, que para lá do teu património genético, possas também transmitir à tua neta algo das tuas "geografias emocionais" (e a Guiné é, com certeza, uma delas). (***)

Um alfabravo (ABraço), Luís Graça

PS - Aqui seguem as fichas das unidades a que pertenceste no TO da Guiné:

Batalhão de Caçadores nº 3883

Identificação > BCaç 3883
Unidade Mobuluzadora > RI 2 - Abrantes
Cmdt >  TCor Inf Manuel António Dantas
2.° Cmdt > Maj Inf Manuel Azevedo Morujão e Oliveira
OInfOp/Adj > Maj Inf José Luís Guerreiro Portela

Cmdts Comp: 
(i) CCS >  Cap Inf Joaquim Pinheiro da Costa | Cap Mil Inf José do Nascimento Leal Varela
CCaç 3544 > Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho | Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes
CCaç 3545 > Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo
CCaç 3546 >  Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira

Divisa: "Nobreza no Dever"
Partida > Embarque em 19Mar72 (Cmd e CCS), 20Mar72 (CCaç 3544),
22Mar72 (CCaç 3545) e 23Mar72 (CCaç 3546); desembarque em 19,22,23 e 24Mar72
Regresso: Embarque em 19,21,22, e 23Jun74

Síntese da Actividade Operacional:

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24Abr72, com as suas subunidades, para o sector de Piche, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCav 2922.

Em 24Mai72, assumiu a responsabilidade do referido Sector L4, com a sede em Piche e abrangendo os subsectores de Buruntuma, Piche e Canquelifá. 

Em29Mai73, por subdivisão do subsector de Buruntuma, foi criado o subsector de Camajabá. As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, de vigilância da fronteira e de defesa e segurança dos aquartelamentos e aldeamentos, que foram alvo e fortes e frequentes flagelações, particularmente a partir de Ag073. 

Actuou ainda em numerosas missões de protecção e segurança a trabalhos nos reordenamentos e de reparação de itinerários, e ainda na asfaltagem da estrada Piche-Buruntuma; a par de uma decidida colaboração na promoção socioeconómica das populações da região e organização do sistema de autodefesa.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 4 espingardas, 9 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 29 minas.

Em 31Mai74, foi rendido no sector pelo BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau para embarque.

Companhia de Caçadores nº 3544 (CCAÇ 3544)

A CCaç 3544, após treino operacional e sobreposição com a CCav 2747, assumiu, em 24Mai72, a responsabilidade do subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá e onde se manteve após a criação do respectivo subsector em reforço da respectiva guarnição até meados de Ago73.

Em 26Jan74, por troca com a 2ª C/BCav 8323/73, foi colocada em Piche, tendo então assumido a responsabilidade do respectivo subsector e cumulativamente as funções de subunidade de intervenção e reserva do sector, tendo efectuado acções de patrulhamento, emboscadas e escoltas a colunas.

Em 31Mai74, foi rendida pela 3ª  C/BCaç 4610/73 e recolheu a Bissau.
 
Companhia de Caçadores nº 19 (CCAÇ 19)

Identificação > CCaç 19
Crndt >  Cap Inf Afonso José Carmona Teixeira | Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas | Cap Mil Inf Carlos Alberto Gaspar Martinho | Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia Carvalho
Início > 01Dez71
Extinção>  princípios de Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Em 01Dez71, foi constituída com quadros e algum pessoal especialista metropolitano e o restante pessoal natural da Guiné, predominantemente da etnia Mandinga e na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo efectuado a instrução no CIM, em Bolama, de 06 a 31Dez71.

Seguidamente, foi colocada em Guidage, inicialmente em reforço do COP 3 e da guarnição local, com vista à realização de acções na referida área. Em 22Fev72, por saída da CCaç 3, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Guidage, ficando então integrada no dispostivo e manobra do COP3.

Em princípios de Ago74, então na dependência do BCaç 4512/72, e de acordo com o plano de retracção do dispositivo, foi desactivada e extinta.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n." 117 - 2.a Div/d." Sec, do AHM).


Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 161-162 e 640
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21532: Historiografia da presença portuguesa em África (238): Uma viagem à Ilha de Orango em 1879, um magnífico relato de viagens no Boletim n.º 1, 6.ª Série de 1886, da Sociedade de Geografia de Lisboa (1) (Mário Beja Santos)

domingo, 4 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21416: Blogues da nossa blogosfera (142): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (53): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.




 GUERRA NA GUINÉ (PEQUENAS MEMÓRIAS)

ADÃO CRUZ

Bigene


Esta velhota, fumadora de cachimbo, veio um dia ter comigo porque tinha o “Verme-da-Guiné”. Chamávamos a este verme “Dracontia”.
Embora Dracontia seja o nome de uma das vinte e cinco mil espécies de orquídeas, aqui é um parasita denominado “Dracunculus Medinensis” o qual produz uma doença chamada “Dracunculíase”. Pertence ao grupo das “Filarias” e é um parasita que é transmitido pela água infectada com larvas de Dracunculus. No intestino acasala-se com os machos, que depois morrem, e em seguida infiltra-se na pele, no tecido celular subcutâneo (gordura debaixo da pele), onde cresce e se desenvolve, podendo atingir o tamanho de um metro.
Aloja-se em qualquer parte do corpo, mas aparece sobretudo nas pernas e abdómen. Não tem tratamento, podendo causar graves infecções e processos inflamatórios. Vi alguns casos, e felizmente todos bem sucedidos, graças a uma técnica que alguém inventou, e quem a inventou, não há dúvida que “tinha esperto no cabeça”.

Reparem bem na maravilha desta invenção. O parasita vem pôr os ovos (um a três milhões) quando está dentro de água. Para isso abre um pequeno orifício ulceroso e muito doloroso, onde enfia uma espécie de cabeça, semelhante ao escolex da ténia. Nesta mulher, essa úlcera estava na parte interna da perna, logo acima do tornozelo. Então, com uma pinça, agarra-se a cabeça, puxa-se suavemente para fora alguns centímetros (nunca por nunca partir ou romper, pois dessa forma fica o caldo entornado e nunca mais o conseguimos tirar), e enrola-se num palito, fixando-o à perna com adesivo.
Ao outro dia, como o verme se sente preso, sai um pouco mais para o exterior e enrolamos mais uns centímetros, fixando de novo com adesivo. E assim sucessivamente, todos os dias, até sair por completo, o que pode levar semanas. Associamos alguma medicação analgésica, anti-infecciosa e anti-inflamatória.

Em 1986 havia cerca de 3,6 milhões de casos. Nesta altura, o Verme-da Guiné, existente em muitos outros países, está praticamente erradicado.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21396: Blogues da nossa blogosfera (141): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (52): Palavras e poesia

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21403: Operação "Grande Colheita", Península de Sambuiá, Janeiro de 1969: sem termos disparado um único tiro, descobrimos um dos maiores depósitos de armamento do PAIGC, cerca de 10 toneladas (António Baltazar Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745)

1. Em mensagem do dia 25 de Setembro de 2020, o nosso camarada António Baltazar Dias,(*) (ex-Alf Mil Art MA da CART 1745, Ingoré e Bigene, 1967/69), enviou-nos a narrativa da sua participação na Operação Grande Colheita, levada a efeito em Jabeiro de 1969.


OPERAÇÃO “GRANDE COLHEITA”

No obituário do Almirante Nuno Matias, antigo Chefe de Estado-Maior da Armada, consta a sua participação na operação "Grande Colheita" que ocorreu na região de Sambuiá, norte da Guiné, em janeiro de 1969.

Pelo sucesso da operação, o então 1.º Tenente Matias, à época Comandante do DFE13 estacionado em Ganturé junto ao rio Cacheu, presenteou-me com um canivete do Comando da Defesa Marítima / Guiné Portuguesa, recordação que guardo religiosamente.

Porque participei naquela ação e já li várias descrições da mesma que não coincidem com as recordações que guardo na minha memória, decidi registar por escrito os acontecimentos tal como então os vivi e recordo e que ainda se mantêm presentes ao fim de mais de 50 anos.

********************


Península de Sambuiá - © Luís Graça & Camaradas da Guiné - Infogravura da Carta de Binta 1:50.000


Operação "Grande Colheita" / Jan 1969

CART 1745 + CCAÇ 3 + CART 2412 + CCAV 2443 + DFE13 + CAÇ NAT

Naquela manhã de 1968 (já não recordo a data) a maioria dos oficiais da CART 1745 estava reunida no gabinete do comandante da companhia para interrogar o gila (contrabandista) saracolé (1) que periodicamente atravessava a fronteira com o Senegal para exercer o seu mister junto à população de Bigene. Entre várias notícias afirmava ele, com ar convicto, que o PAIGC tinha os depósitos de armas em Sambuiá, "dentro de água".

Solicitámos ao intérprete que confirmasse a tradução do discurso, já que a informação parecia perfeitamente inverosímil.

Sabíamos que, por uma questão de sobrevivência, a maioria (se não a totalidade) dos contrabandistas eram nossos informadores e também do PAIGC e que, para agradar aos inquiridores e obter algumas benesses, havia que dar algumas novidades, por mais disparatadas que pudessem parecer.

Assim, perante a perspetiva que nos pareceu absurda de que pudesse haver material de guerra dentro de água, trocámos olhares com um sorriso e rapidamente esquecemos o assunto. Em janeiro de 1969, já com a CART 1745 integrada no COP 3 (cujo comando estava atribuído ao saudoso Major Correia de Campos), foi programada uma operação à península de Sambuiá integrando diversas companhias. 

Recebi a notícia com resignação, já que se aproximava o período da rendição da companhia e, com um pouco mais de sorte, pretendia chegar ao final da comissão vivo e com suficiente saúde física e mental para regressar para junto dos meus entes queridos.

Assim, pelas 22h00, reunimos o pessoal operacional junto às casernas e iniciámos a progressão no negrume da noite atravessando a tabanca (2) silenciosa, onde apenas alguns latidos e a persistência de uma mosca que teimosamente me acompanhou nas primeiras centenas de metros, davam sinais de existência de vida.

Progredimos pelo carreiro que nos levou até à bolanha (3) de Sindina, território que considerávamos seguro e onde o IN só se aventurava quando vinha atacar o quartel, atravessámos a cambança (4) para uma zona que o PAIGC e as NT patrulhavam e onde a confrontação era inevitável caso nos cruzássemos no caminho, facto que, felizmente, nunca ocorreu durante a minha comissão.

Percorrida essa área, fizemos a travessia de um pequeno ribeiro equilibrando-nos sobre um tronco de palmeira que por vezes nos proporcionava momentos hilariantes (que eram aumentados pelo nervosismo), sempre que alguém se desequilibrava e mergulhava nas águas pouco profundas do pequeno riacho. Entrámos então na península de Sambuiá onde o confronto com o IN era quase sempre obrigatório. A missão da CART 1745 era localizar e destruir a tabanca de Talicó, facto que ocorreu com a captura de uma arma e algumas poucas munições e sem que tivesse sido detetado qualquer guerrilheiro.

Completada a tarefa que nos fora atribuída, encetámos a retirada satisfeitos por regressar ao quartel sem baixas e sem grandes percalços. Porém, logo que alcançámos a cambança e antes de iniciarmos a travessia, recebemos ordens para atravessar toda a península de Sambuiá e socorrer as outras companhias que participavam na operação e que haviam tido forte contacto com o IN sofrendo várias baixas e que se encontravam com falta de munições.

Fizemos das tripas coração e após algum tempo e dificuldade, reencontrámos os restantes elementos das NT participantes da operação.

Receio que ao descrever o que se nos deparou (ou, pelo menos, o que guardo na memória dos momentos desse reencontro), seja mal interpretado ou quem me acompanhava possa ter outra visão dos acontecimentos. Mas a imagem que permaneceu durante todos estes anos na minha memória foi a de muita gente moralmente destroçada, chorando e lamentando a sua triste sina e manifestando a sua preocupação pelos acontecimentos que pressagiavam, dado que, tendo sido já detetados, anteviam novos e fortes contactos com os guerrilheiros.

É difícil descrever o impacto devastador que aquela visão me provocou e confesso que levei algum tempo até me recompor.

Colocava-se então a questão do regresso ao quartel, uma vez que já não existia o efeito surpresa e poucos ou nenhuns sucessos havia a esperar na continuação da operação.

No regresso pela via terrestre as hipóteses de novos confrontos em situação desvantajosa para as NT era mais que certa, pelo que foi solicitado ao comandante da operação (que acompanhava os acontecimentos por meios aéreos), permissão para o embarque numa LDM (5) que se encontrava a sul, no rio Cacheu, para eventual apoio às forças terrestres. Essa solicitação foi recusada, tendo sido dadas instruções para que o regresso ao quartel se efetuasse atravessando as bolanhas, situação que se antevia altamente problemática pois os guerrilheiros tinham já tido tempo para se posicionar devidamente e tal iria provocar, por certo, mais feridos e mortes nas NT.

Feitas mais insistências junto do comando, perspetivando um futuro que se antevia muito complicado, as recusas foram sucessivas.

Colocava-se, então, a questão de qual o grupo de combate que iria na frente da coluna que seria, por certo, a situação mais perigosa, pois seria o primeiro a receber a maior intensidade de fogo inimigo.
As discussões demoraram algum tempo pois todos tinham a noção de que seriam os elementos da frente da coluna os que ficariam mais expostos e, com a aproximação do final da comissão, não se afigurava agradável a nenhum de nós correr tão grandes riscos.

Por fim, atendendo a que a CART 1745 e a CCAÇ 3 eram as forças mais experientes, e tendo em consideração o desgaste emocional das outras companhias, foi decidido que na frente seguiria o primeiro grupo de combate da CART 1745 e na retaguarda da coluna a CCAÇ 3, ficando as restantes forças mais resguardadas.

Eu fazia parte do 1.º grupo de combate da CART 1745 e, pouco tempo após o início da marcha, um elemento da frente da coluna (que até hoje não consegui identificar) dirigiu-se-me solicitando autorização para encher o cantil junto de um riacho existente na zona, permissão que foi concedida com as necessárias recomendações e alertas.

Alguns minutos passados o referido soldado apareceu eufórico, exclamando: “Armas, muitas armas… venha ver e também certificar-se que o local não está armadilhado”.

Acorri ao lugar onde se encontravam as armas e, para meu espanto, as mesmas localizavam-se em estrados cobertos com panos de lona em zona que em fase de maré cheia apenas as canoas dos guerrilheiros teriam acesso, bastando acostar aos ditos estrados para recolher as armas e transportá-las para a outra margem do rio Cacheu, ou seja, para o interior do território da Guiné.

Identifiquei mais dois ou três locais onde se encontravam mais armas e munições. De imediato solicitei ao operador de rádio que contactasse o comandante da operação e requisitasse meios aéreos (helicópteros) para a recolha do armamento dado que a sua quantidade e tipo não permitia o seu transporte pelo pessoal da operação,

Ao mesmo tempo solicitei que a evacuação das tropas se efetuasse por via fluvial, através da LDM, que se encontrava estacionada no rio Cacheu, dado que era impraticável transportar o material apreendido por via terrestre. Perante esta evidência o pedido foi finalmente aceite.

Com a chegada dos meios aéreos, recuperamos uma significativa quantidade de material que íamos colocando nos helicópteros. Entretanto os guerrilheiros do PAIGC não ficaram parados e de longe efetuavam disparos de morteiro flagelando a zona, felizmente sem consequências, já que, por certo, desconheciam que tínhamos descoberto as arrecadações de material e também porque receavam que alguma granada as destruísse.

Recordo que um soldado do meu grupo de combate (também não consegui identificar quem foi), enquanto efetuava o transporte de algumas armas para um helicóptero apareceu coberto de lama e quase sem fala, por uma granada de morteiro ter caído perto dele. Sem hesitar, coloquei-o dentro do helicóptero, que o transportou para fora do local da operação.

Na pesquisa por mais armamento e munições deparei com um considerável volume de minas antipessoal e, ao mesmo tempo que constatava a impossibilidade de as transportar face ao seu volume, verifiquei que apenas eu e mais cerca de seis ou sete elementos do meu grupo de combate ainda permanecíamos no local, já que todos os restantes haviam iniciado a retirada em direção ao rio Cacheu onde se encontrava estacionada a LDM.

Sabendo que a maioria das baixas da companhia haviam resultado da ação de minas antipessoal, debatia-me com a solução a dar à questão, pois não concebia a hipótese de as deixar no local sujeitas a serem utilizadas e provocarem outras baixas nas nossas tropas. Optei, então, por lançar uma granada incendiária na tentativa (que presumo bem sucedida) de as destruir, após o que retiramos do local e seguimos em passo acelerado para alcançar os restantes elementos das NT que já se encontravam a alguma distância.

Quando por fim os alcançámos, fui instado a não revelar a eventualidade da existência de outras arrecadações de material do IN, pois tal poderia significar o retorno à zona de operações, situação que não agradava a ninguém e, obviamente, a mim também não encantava.

Regressei ao quartel sempre com a questão das minas antipessoais a remoer na minha consciência e, ao relatar a situação ao comandante do COP 3 (o comandante do DFE13 também estava presente), dei a entender que era possível que existissem mais depósitos de material mas que as tropas estavam já num estado de exaustão tal que o seu eventual regresso à zona de Sambuiá seria muito penoso.

Verdadeiro Comandante, o então Major Correia de Campos (comandante do COP3) apercebeu-se prontamente da situação e descansou-me dizendo que já tínhamos feito a nossa parte e que outras tropas iriam para o local procurar por mais armas e munições.

Assim, a operação prosseguiu com outras forças, tendo sido detetados mais depósitos de material na zona.

Recordei-me, então, do gila saracolé que afirmara que as armas se encontravam dentro de água.
E não é que ele tinha razão…?

Esta é a descrição da operação “Grande Colheita” como eu a recordo, em que, sem ter disparado um único tiro, a CART 1745 descobriu um dos maiores depósitos de armamento dos guerrilheiros do PAIGC (cerca de 10 toneladas), constituindo o que à época foi a maior captura de material de guerra nas três frentes de combate em África (Guiné, Angola e Moçambique).

Notas:

(1) Saracolé – Uma das muitas etnias existentes na Guiné Bissau
(2) Tabanca – Povoação indígena
(3) Bolanha – Zona alagadiça por vezes utilizada para o cultivo do arroz
(4) Cambança – Local de travessia de ribeiro, muitas vezes constituída por um tronco de palmeira
(5) LDM – Lancha de Desembarque Média
____________

Notas do editor

Pesquisando na internete,a Operação Grande Colheita terá ocorrido no dia 23 de Janeiro de 1969

Vd. poste de 24 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21387: Tabanca Grande (503): António Baltazar Valente Ramos Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745 (Ingoré e Bigene, 1967/69): senta-se no lugar n.º 819 do nosso poilão

domingo, 27 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21396: Blogues da nossa blogosfera (141): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (52): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.




 GUERRA NA GUINÉ (PEQUENAS MEMÓRIAS)

ADÃO CRUZ

Bigene - O nosso Corpo Clínico




O que está do meu lado esquerdo, de barbas, é o furriel Pimentinha, meu furriel enfermeiro, que ainda hoje me telefona uma a duas vezes por ano. A sua profissão, antes de vir para a guerra, era electricista, electricista do Hotel Estoril-Sol. Pois, meus amigos, transformou-se num excelente parteiro e melhor puericultor. Leu e releu a minha sebenta de obstetrícia e deixava os bebés todos perfumadinhos e polvilhados de pó de talco, o que fazia a delícia das mães.

Duas histórias sobre o Pimentinha:

Primeira:
Um dia de madrugada, apareceu uma parturiente com uma apresentação de pelve, isto é, com o bébé a nascer de rabito em vez da cabeça. É um parto difícil e perigoso. Tentei, quanto sabia, algumas manobras, o mais suaves possível, mas não fui bem sucedido. Virei-me para o Pimentinha e disse: - meu caro Pimentinha, logo que comece a raiar a manhã, peça uma evacuação “Y” (urgente) de helicóptero, para levar esta mulher para Bissau, e fui-me deitar. Algum tempo depois, entra o Pimentinha no meu quarto, dizendo cheio de entusiasmo: - sr. Dr. o catraio já está cá fora. Com muito jeitinho lá consegui tirá-lo.


Segunda:
O Pimentinha ia de avioneta a Bissau, acompanhar um soldado que tinha um enorme hidrocelo (líquido nos testículos). Logo pela manhã, a avioneta, um Dornier levantou voo e meio minuto depois estatelou-se no solo. Felizmente não morreu ninguém, apenas o piloto fracturou uma vértebra. A carlinga da avioneta passou a ser a casota do nosso macaco.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21376: Blogues da nossa blogosfera (140): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (51): Palavras e poesia

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21387: Tabanca Grande (503): António Baltazar Valente Ramos Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745 (Ingoré e Bigene, 1967/69): senta-se no lugar n.º 819 do nosso poilão

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano António Baltazar Valente Ramos Dias, ex-Alf Mil Art MA da CART 1745 (Ingoré e Bigene, 1967/69), com data de 22 de Setembro de 2020:

Boa noite,

Desejando acolher-me à sombra do poilão que alberga muitos dos meus camaradas de armas que, tal como eu, sofreram as agruras da guerra da Guiné, segue o meu pedido para que me recebam na vossa companhia.

Segue em anexo uma breve resenha da minha breve (???) passagem pelo GEP (Glorioso Exército Português).

Oportunamente enviarei um relato com a minha versão sobre uma operação realizada no norte da Guiné em Janeiro de 1969.

Abraços
A. Dias


********************


Nome: António Baltazar Valente Ramos Dias
Nascido em 21 de Abril de 1945 em Montijo – Distrito de Setúbal
Ex-Alferes Miliciano de Artilharia
Fazendo parte da CART 1745, embarcou para a Guiné em 13 de Julho de 1967 e regressou a Lisboa em 13 de Junho de 1969.


Ganturé - António Baltazar Dias, então com 22 anos


Breve resenha:

Iniciei a minha vida militar em maio de 1966, tendo sido incorporado no COM em Mafra.
Após o 1.º ciclo de recruta fui destacado para Vendas Novas onde cumpri um 2.º ciclo na especialidade de atirador de artilharia.

Com a minha promoção a Aspirante fui colocado no RAL 1 (muito depois RALIS e hoje, tanto quanto sei, unidade relacionada com transportes).

Seguiu-se Tancos (“pós-graduação” em Minas e Armadilhas), GACA 2 (Torres Novas - hoje Escola Prática de Polícia), Santa Margarida (Treino Operacional), de novo GACA 2 para formar companhia e, posteriormente, Guiné, na CART 1745.

No CTIG estive na fronteira Norte, em Ingoré e Bigene entre julho de 1967 e junho de 1969.




Posição relativa de Bigene e Ingoré - Estrada Bigene Sedengal. © Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta da Província da Guiné - 1:500.000


********************
2. Comentário do editor

Caro António Baltazar Dias - vai ser este o teu "nome de guerra" porque já cá temos o António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406 - sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande.

Escusado será dizer que podes escolher o melhor lugar à sombra deste nosso poilão sagrado, uma tertúlia onde se juntam os antigos combatentes da Guiné (e não só) para de certo modo fazerem a sua catarse, ao escreverem as suas memórias e enviando as suas fotos. 

Simultaneamente contribuímos com as nossas vivências para memória futura, quiçá uma fonte de conhecimento para os futuros historiadores e estudiosos da Guerra de África de 1961-1974.

Consultando o Blogue, apenas encontramos uma referência à CART 1745, pelo que te cabe a responsabilidade de dar a conhecer aos nossos leitores a actividade da tua Unidade, assim como possíveis "roncos", ou circunstâncias menos boas.

Eu tive um percurso idêntico ao teu, tirei a Especialidade de Atirador de Artilharia do CSM no 3.º turno de 1969 na EPA de Vendas Novas. Findo o curso, já com a alta patente de Cabo Miliciano, fui colocado no GACA 2 de Torres Novas, onde estive apenas uma semana antes de ingressar na EPE de Tancos - filial do Casal do Pote - para frequentar o XXX III Curso de Minas e Armadilhas. A Guiné esperava-me, não sem antes passar pelo BAG 2/GAG 2 do Funchal, onde formámos a primeira Unidade ali mobilizada e embarcada para o Ultramar.

Vou terminar, não sem antes te deixar um fraterno abraço em nome da tertúlia e dos editores em particular, que por aqui ficam ao teu dispor. Não esqueças que as fotos devem vir acompanhadas de legendas que nos indiquem pelo menos, a data, local e o nome dos retratados.

Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21351: Tabanca Grande (502): Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72): senta-se, no lugar nº 817, à sombra do nosso poilão

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20142: Controvérsias (136): Não consta que o Amílcar Cabral, o "pai da Pátria", tenha reivindicado a autoria (moral e política) do "atentado terrorista" de 1 de novembro de 1965, em Morocunda, Farim, e muito menos denunciado ou condenado esse ato monstruoso... Pelo contrário, até lhe convinha, para memória futura, que as criancinhas de Farim continuassem a repetir, em coro, estes anos todos, na escola, que esse ato foi obra maquiavélica e tenebrosa dos "colonialistas portugueses"...


República da Guiné > Conacri > c. 1963-1973 > Reunião de responsáveis do PAIGC, membros do Comité Executivo da Luta.  Da esquerda para a direita: (i) Lourenço Gomes, (ii) Honório Chantre, e (iii) Victor Saúde Maria.

 Foto (e legenda): Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Pasta: 05247.000.074 (adapt por Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2018, com a devida vénia...)




Citação:

(1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35300 (2019-9-10)


Fonte: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04615.074.082
 Assunto: Seguem os comunicados; Prisões e massacres em Farim e Begene.
Remetente: Lourenço Gomes
Destinatário: Amílcar Cabral
Data: Quarta, 1 de Dezembro de 1965
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada 1963-1965 (de Amílcar Cabral e Aristides Pereira).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondência

 (Reproduzido com a devida vénia...)


1. Um mês depois do "atentado terrorista" em Farim, que causou pelo menos  27 mortos e 70 feridos graves entre a população civil e um ferido grave entre as NT (*),  Amílcar Cabral toma conhecimento das consequências que se abatem sobre os suspeitos, aos olhos das autoridades portugueses, através de comunicado assinado por Lourenço Gomes, membro do Comité Executivo da Luta.

Não há qualquer referência ao "atentado terrorista" de Farim, do dia 1 de novembro de 1965.  Muito menos o PAIGC reivindica a sua autoria, moral ou material. Terá tido pudor ou vergonha o dirigente do PAIGC que proclamava, "urbi et oribi", que não lutava contra o povo português mas contra o colonialismo do Estado Novo, leia-se Salazar e depois Caetano.

Afinal, as vítimas não foram as odiosas tropas colonialistas (que estavam a dormir na caserna), mas sim as crianças e as mulheres de Farim, Nema e Morocunda, mandingas,  que se divertiam nessa noite,  à volta da fogueira... Mas também não condenou o atentado , "o pai da Pátria", cuja estatura moral e intelectual era, ou foi , ou ainda é, reconhecida internacionalmente como um dos "gigantes! de África, a par do Nelson Mandela... Que nós saibamos, Amílcar Cabral (ou o  PAIGC) nunca denunciou, ou rejeitou ou condenou este "atentado terrorista"...

Em todo o caso, no lastro da memória do povo de Farim ou entre os mandingas convinha ficar, pelo menos para alguns espíritos ingénuos,  a suspeita de que este atentado fora coisa dos "colonialistas portugueses"... e assim se falsifica a história...

Faço, desde já,  a minha confissão de interesses: sempre considerei  tenebrosa a atuação da PIDE, na metrópole e nas colónias; considero que alguns militares portugueses, nossos camaradas, foram também tenebrosos, mas defendo aqui a honra da maior parte dos jovens da minha geração, que fizeram a guerra (e a paz) na Guiné, e que nunca poderiam aceitar e pactuar com métodos de "terrorismo puro e duro" e de "tribalismo"como aconteceu em Farim, em Morocunda, no dia 1 de novembro de 1965, numa festa mandinga, nem com as prisões em massa, os interrogatórios e os linchamentos (ou execuções sumárias) que se seguiram....

 Tenho pena que o exército português, que eu servi, nada tenha acrescentado de novo, até hoje, mais de 50 anos depois, sobre a "verdade dos factos"... Nenhuma das versões que até hoje li me convencem, a começar pela "tosca" versão do comando do BART 733 (, não confundir o "comando" do batalhão com os camaradas do batalhão)...

No comunicado  do PAIGC fala-se em "prisões e massacres" em Bigene e em Farim, mas não no "engenho explosivo" que esteve na origem da tragédia de 1 de novembro de 1965, O comunicado é datado de 1 de dezembro de 1965, Samine, Senegal (, onde havia uma delegação do PAIGC mas onde os guerrilheiros de Amílcat Cabral não podiam, teoricamente, andar armados.).

Lourenço Gomes, conhecido como "ti Lourenço",  faz-se eco de "informações recebidas de refugiados vindos nos últimos dias de Bigene", entre os quais se contam o chefe dos CTT daquela localidade, Domingos Évora, tio de um militante do PAIGC, Jorge Évora,  que "fugiu para também não ser preso, nos fins de novembro" (sic)...

Recorde-se que na lista dos 64 detidos em Farim, logo a seguir ao atentado de 1 de novembro, há dois indivíduos de apelido Évora: Pedro António Évora, pescador; e Benjamim Pedro Évora, empregado dos CTT de Farim (*).

O comunicado do PAIGC faz referência  a 38 prisões efetuadas em Bigene, entre as quais a do próprio chefe de posto, o cabo-verdiano Henrique de Pina Pereira (, que teria sido morto).

Referindo-se a Farim, Lourenço Gomes, então radicado no Senegal, em Samine, dá conta do seguinte:

(i) "mataram o Paulo Cabral e o filho mais velho" (, o Paulo Cabral teria sido detido, logo em 28 de outubro de 1965, com a sua canoa e um carregamento de coconote; era acusado de ter transportado as duas  granadas (!),  que vieram expressamente de Conacri (!), e que terão servido para montar o engenho explosivo que o soldado milícia, mandinga, Issufe Mané, um pobre diabo,  alegadamente subornado pelo Júlio Lopes Pereira com um fortuna - 14 contos em pesos da Guiné, cerca de cinco mil euros hoje (!), que ele não teve tempo de receber nem de gozar (!) - terá lançado para a fogueira do batuque, para logo no dia seguinte "pôr a boca no trombone" e denunciar  toda a gente (ou quase toda a gente) de Farim e, depois, arrepender-se  dese a"ato tresloucado",  para o resto da vida, e chorar baba e ranho pelas vítimas inocentes, os  seus filhos e  irmãos mandingas de Farim  (*);

(ii) há também referência à prisão do chefe da alfândega de Farim, "um patrício cabo-verdiano de nome Nelson" [, trata-se de Nelson Lima Miranda, antigo estudante da Casa do Império, em Lisboa, que não vem na lista que já publicamos anteriormente] (*);

(iii) é referido também ter sido preso "o encarregado da Ultramarina, Augusto Pereira", outro  nome que não vem na lista do BART 733 (*) [, ou pode tratar.se de confusão de nomes: Júlio Lopes Pereira, ou só Júlio Pereira,  que era o gerente da Casa Ultramarina];

(iv). além de "irmãos do Marcelo, um irmão do Duarte e muitos outros de que se desconhece o destino dado" [, presumindo que o Marcelo e o Duarte fossem militantes do PAIGC,  conhecidos tanto do Lourenço Gomes como do Amílcar Cabral, e muito provavelmente também cabo-verdianos: Marcelo, quê ?, Marcelo Ramos de Almeida ? Duarte, quê ? Abílio Duarte ?]

(v) apontamento subtil mas interessante: "Entre os presos figuram também muitos que com eles colaboravam". [, Lourenço não diz: "que connosco colaboravam"...]. Será que os "patriotas" de Farim agiram sozinho, por sua conta e risco ? Ou o PAIGC quis sacudir a água do capote, face aos resultados (desastrosos) do "atentado terrorista"  que devia passar, aos olhos da população local, como um "bombardeamento colonialista" ?

 O comunicado também omite o nome dos principais comerciantes de Farim, presos na altura, bem como o do Júlio [Lopes] Pereira, o gerente da casa Ultramarina, acusado pela tropa e pela PIDE de ser o "autor moral" do atentado, tendo recebido instruções de Nélson Lima Miranda em ligação com os dirigentes do PAIGC em Conacri ( a "crer" na versão das autoridades militares portuguesas e da PIDE de Farim). Foi morto na prisão por esses dias. Era uma figura conceituada na Guiné, genro de Benjamim Correia.

2. Enfim, estes documentos, "do outro lado do combate",  como diz o nosso coeditor Jorge Araújo, valem o que valem... Mas compete-nos, a nós, antigos combatentes de um dos lados da barricada,  saber "lê-los e relê-los"... 

A nós, para quem a guerra nunca acabou, nem acaba... mesmo que os outros nos considerem "doidos varridos, que  nunca mais se libertam da memória da merda da guerra" (sic)...  Há quinze anos que eu, pessoalmente, oiço isto, de amigos e familiares e até de camaradas de armas...

Em boa verdade, a quem é que interessa a "verdade" e o "rigor factual"  sobre o que aconteceu em Farim, no bairro de Morocunda, na noite de 1 de novembro de 1965 ?..

Na minha desencantada opinião, interessa a muito pouca gente dos vivos, a avaliar de resto pelos escassos comentários que têm sido feitos a estas "controvérsias" do passado (**)...

Matenhas, boa noite!..
LG
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19062: Memória dos lugares (381): Bigene, na fronteira com o Senegal... Foi lá que fomos render a CART 3329, em outubro de 1972, antes de ir parar ao Cantanhez (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Nhacra, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > Junto aos brasões das Companhias que por lá tinham passado



Foto nº 2 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 >
O descanso do “guerreiro” junto ao posto de rádio

Foto nº 3 > Guiné > Regão de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > Com um amigo de ocasião


Foto nº 4 > Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 4540 > c. out / dez 1972 > De vez em quando dava para tomar banho.


Fotos(e legendas): © Eduardo Campos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Excerto de um texto de memórias do Eduardo Campos (ex-1.º cabo rádio-telegráfico, CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério", Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1972/74) (*)


No dia 28 agosto 1972, teve início no Regimento de Infantaria 15 (RI 15), em Tomar, a concentração do pessoal que constituiria a Companhia de Caçadores 4540 ["Somos Um Caso Sério", 1972-1974]. Na sua grande maioria, os militares eram oriundos do Norte do País, sendo de realçar a presença de alguns que vieram de França, para cumprirem o Serviço Militar.

Foi-nos concedido o gozo de uma licença de 2 semanas, após a qual o pessoal da Companhia se foi apresentando novamente no RI 15, tendo-se procedido à cerimónia de Benção e Entrega do Guião à Companhia no dia 15 de setembro de 1972, seguido de um desfile das tropas, na parada do Regimento.

Às 2h00 do dia 19 desse mesmo mês, a Companhia embarcou em autocarros, em Tomar, dirigindo-se para o aeroporto de Lisboa, onde o pessoal transitou para um avião dos TAM (cerca das 09h00), após o que levantamos voo rumo aos céus da África Ocidental.

Após quatro horas de voo bastante confortável, durante as quais imperou a boa disposição, já que a quase totalidade do pessoal realizava a sua primeira viagem aérea, aterramos no Aeroporto de Bissalanca. Procedeu-se então ao desembarque, perante um calor tórrido e sufocante, próprio das regiões tropicais.

Terminadas as formalidades habituais destas rotinas, procedeu-se ao transporte dos militares e respectivas bagagens, numa coluna de viaturas com destino ao Cumeré onde ficamos instalados. No dia 22 de setembro de 1972, de manhã, fomos chamados para uma formatura geral, a que se seguiu o desfile da Companhia recém-chegada, perante o Brigadeiro Alberto Silva Banazol [, comandante do CTIG, ] que proferiu algumas palavras de boas-vindas. Nesse mesmo dia segui para Bissau, com destino ao Regimento de Transmissões, onde estive cerca de 15 dias a fazer o chamado IAO.

Terminado o IAO, houve lugar a nova formatura geral no dia 17 de outubro de 1972, desta vez frente ao General António Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Força Armadas do CTIG. No dia seguinte, a 18 a Companhia partiu do Cumeré com destino ao porto de Bissau, onde se procedeu ao nosso embarque na LDG Bombarda, rumando à "terra prometida”, Bigene, junto à fronteira com o Senegal.

E assim, lá fomos rio acima (Cacheu), desembarcando numa localidade chamada Ganturé, onde nos esperavam os camaradas da CART 3329, que iríamos substituir. Era notável a alegria com que nos receberam, tendo-nos em seguida transportado para Bigene (cerca de 6 ou 7 km), onde deparamos com vários dísticos e cartazes alusivos à chegada da nova Companhia de periquitos, espalhados pelas paredes e pela rua principal, cheios de humor e ironia......

Bigene era bastante povoada, com gentes de várias etnias, predominando os Fulas e os Balantas, havendo ainda bastantes Mandingas. A população europeia, além dos militares e do administrador de Posto, era praticamente inexistente, havendo apenas 1 português que era proprietário de uma casa comercial. Havia mais 3 casas comerciais, propriedades de 3 libaneses.

No posto sanitário de Bigene acontecia algo que eu considerava surpreendente, que era receber e tratar populares do Senegal, que atravessavam a fronteira para receberem tratamento médico. Ao mesmo tempo, esta gente aproveitava para comercializar os seus produtos no mercado local.

No dia seguinte, começou o treino operacional em conjunto com a CART 3329, cuja finalidade era adaptar e capacitar o pessoal em situações operacionais semelhantes às que iria encontrar nas suas futuras actividades dentro do sector atribuído à Companhia. É de salientar que, ainda no período de treino operacional a 23 de outubro de 1972, se ter verificado o 1º contacto de fogo com o IN, mesmo junto ao marco fronteiriço que separava a Guiné e o Senegal.

Só me apercebi que a palavra guerra fazia aqui todo o sentido, quando saí pela primeira vez para o mato e assisti à implantação de um campo de minas, e algumas armadilhas, na zona Samoge-Sambuía [dv. mapa, abaixo].O primeiro baptismo de fogo aconteceu a 24 de outubro de 1972, próximo de Nenecó, sem consequências. O PAIGC pelas informações que tínhamos, não tinha estruturas dentro do subsector de Bigene, nem se encontrava implantado no mesmo.

Partiam de bases situadas no Senegal, principalmente em Kumbamori, crê-se que utilizando as variantes do corredor de Sambuiá, para “cambar” o rio Cacheu, transportando material e mantimentos até ás margens do rio Cacheu, que procuravam atravessar em canoas e botes de borracha, para o interior do território, sendo, por vezes, surpreendidos pelos fuzileiros que se encontravam em Ganturé.

Terminado o período de sobreposição com a CART 3329, foi transferida por esta Companhia, para a nossa, toda a responsabilidade administrativa e operacional. No dia 15 de novembro de 1972, a CART 3329 terminou a sua comissão e despediu-se de Bigene.

Foi com muita emoção que os vimos partir, após um convívio comum de quase um mês, passado naquela localidade. Passou, desde então, a nossa Companhia a dar cumprimento às missões que lhe foram atribuídas, executando as directivas do COP 3.

Uma semana depois recebemos a noticia que iríamos ser transferidos para Sul, sendo substituídos pela CCAÇ 3 e, de novo, lá fomos na LDG Bombarda...

Estávamos no dia 9 de dezembro de 1972, rio Cacheu abaixo... Destino: Cadique, Cantanhez, região de Tombali... (***)



Planta topográfica de Bigene (parte superior) > Escala aproximada 1:5000. A norte, fronteira do Senegal (Nenecó, Sindina); a nordeste, corredor de Samoge-Sambuiá); a leste da pista de aviação, Binta; a oeste,  Barro (a 13 km); a sudeste, Ganturé (e rio Cacheu) (a 6/7 km). Havia 3 obuses 14 (140 mm) e 4 ou 5 morteiros 81 (mm). (***)

Legendas:

6 - Estação dos Correios
7 - Chefe de posto
8 - 3º Gr Comb
9 - Espaldão da metralhadora Breda
10 - 1º Gr Comb
11 - Espaldão da metralhadora Breda
12 - Capela [, ao lado esquerdo, o campo de futebol]
13 - Enfermaria civil
14 - Quartos de sargentos
15 - Secretaria
16 - Arrecadação da Casa Gouveia
17 - Casa Gouveia
17A - Quarto do major e capitão do COP3
18 - Casa Issufo (?) [nome ilegível; provável aportuguesamento de Youssouf]
19 - Arrecadação de material de guerra
20 - 2º Gr Comb
21 - Escola missionária
22 - COP 3
23 - Casa Rei (?) Mané [, nome ilegível]
24 - Casa Hilário
25 - Padaria
26 - Casa Assad
27 - Quartos de oficiais
28 - Depósito de géneros, enfermaria e cozinha.




Planta topográfica de Bigene (parte inferior) > Escala aproximada 1:5000

Legendas:

1 - Central elétrica
2 - Vacaria
3 - 4º Gr Comb
4 - Arrecadação
5 - Oficinas
29 - Escola civil
30 - Mercado civil



Mapa topográfico de Bigene > Escala 1:5000.  S/d. Cópia do documento original, cortesia do nosso camarada Eduardo Campos. O original será da autoria do major Vinhas, do COP 3, na altura sob o comando do ten cor cav Correia de Campos.
_______________