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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16319: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VI: Em louvor dos camaradas da 35ª CCmds e das nossas velhas e gloriosas Daimlers


Foto nº 56 A >  Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto. Cacheu > Eu, à direita, com o Alferes Comando Alfredo Campos  


Foto nº 56


Foto nº 57A  .


Foto nº 57 > Foto nº 57 > Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto - Cacheu > Eu com o então Alferes Comando ui Andrade [que empunha uma Kalash,]


Foto nº 58A 


Foto nº 58 > Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu.  Eu, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando  Paquete  e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam.


Foto nº 58B >  Alferes Comando Alfredo Campos, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Foto nº 58C > Furriel  Mil Comando Paquete, da 35ª CCCmds, que infelizmente já não está entre nós. Segundo informação do Ramiro de Jesus, também ele ex-fur mil comando da 35ª CCmds, natural de Aveiro (e, portanto, meu conterrâneo), o Paquete,  depois do regresso à metrópole, morreu atropelado por um comboio em Vila Franca de Xira.


Foto nº 57B > Outro camarada da 35ª CCmds, Alferes Comando Rui Andrade  (mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª CCmds, ferido em combate, graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia)

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > 35ª CCmds e Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73)  (*).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50€). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt.
O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


2. Mensagem do Francisco Gamelas, com data de 5 do corrente:

Bom dia,  Luís.

Sobre a questão da 35ª  CComandos, naturalmente, confirmo o que o então furriel Ramiro de Jesus (também residente em Aveiro, portanto meu conterrâneo) escreveu sobre a sua companhia. [O Ramiro Jesus, fur mil comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73),  é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012][, foto à esquerda]. (**) 

Sobre a 38ª, se o António Graça de Abreu a menciona [, no seu "Diário da Guiné"], provavelmente terá sido esta que substituiu a 35ª às ordens do CAOP 1, após este se ter retirado de Teixeira Pinto, tanto quanto me recordo, na mesma altura em que a 35ª foi fazer a segurança do General em Bissau. 

Com a saída do CAOP1 e da 35ª de Teixeira Pinto, deixaram de existir ali tropas especiais. Tempos houve - antes da minha chegada - que em Teixeira Pinto estavam sediados Fuzileiros, Paras e , segundo creio, também Comandos. 

Por curiosidade, junto envio uma foto [nº 58]  onde estou no centro, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando Paquete e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam. 

A foto foi tirada em Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu. 

A 35ª e o meu Pelotão Daimler eram os responsáveis pela protecção a estes trabalhos. 

Na foto nº 57 figuro eu com o então Alferes Comando  Rui Andrade, mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª, ferido em combate [, cap QEO comando Ribeiro da Fonseca, hoje cor ref], foi graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia [57]. 

Na foto 56 figuro eu com o então Alferes Comando Alfredo Campos. Ambos, o Campos e o Rui, eram meus especiais amigos do peito daqueles tempos. [O Ramiro de Jesus era também do pelotão do alf Campos].

Um abraço.
FG


Guiné > Zona leste > Estrada Bambadinca - Bafatá > 1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá, vendo-se ao fundo uma AM (autometralhadora) Daimlerdo Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo alf mil cav Jaime Machado, nosso grã-tabanqueiro. Em primeiro plano,  malta  do 2º Gr Comb da CCAÇ 12.  A viatura, de matrícula ME-31-37, de pneus completamente carecas, fazia habitualmente escolta ao nosso tranquilo "passeio" até  Bafatá... O PAIGC nunca ousou atacar-nos neste troço (alcatroado, o primeiro do CTIG),pelo menos no tempo da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Giiné]


3. Comentário de LG:

Obrigado, Francisco... A confusão foi minha... O António Graça de Abreu esteve no CAOP1, em Teixeira Pinto, de 26/6/1972 a 1/2/1973... Nesse período apanhou a 35ª CCmds e a 38ª CCmds. 

Quando o CAOP1 muda para Mansoa (em 3/2/1973), ele vai com a malta da 38ª CCmds (onde se incluía o nosso grã-tabanqueiro, o 1º cabo comando Amílcar Mendes, herói de Guidaje...). Portanto, deves ter ainda apanhado a 38ª CCmds, em Canchuingo, o alf Paiva, e outro malta...

Peço desculpa a todos pela confusão. E obrigado pelas novas fotos com as tuas Daimlers e os teus/nossos camaradas da 35ª CCmds, vão dar outro poste ...

Confesso que tenho uma grande "ternura" pelas Daimlers e o seu pessoal... Em Bambadinca apanhei "cavaleiros" excionais como o Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046 (1968/70) e o Zé Luís Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler, 2206, 1970/72). E vou confessar um "pecado moratl": um dia, completamente "apanhado do clima", e já mais para o fim da comissão, conseguiu convencer um dos homens do J. L. Vacas de Carvalho a ir ao Xime... beber uma bejeca...

A estrada estava em construção, e nós montávamos segurança à empresa TECNIL, mas havia sempre risco de minas e emboscadas. Eram 12/14 km para lá e outros tantos para cá... E ainda levei o Tchombé, que era a nossa mascote, um puto de 4/5 anos, adotado por nós... Eu, o Tchombé e o condutor... Loucuras, quem não as fez, com 23 anos, no teatro de operações da Guiné?

Julgo que nunca contei esta ao Zé Luís... E espero que ele me perdoe... Ou será que o condutor era ele mesmo? Não juro, nem acredito, mas era menino para "alinhar"... Tem alma e voz de fadista... Mas, não, não era ele... o condutor... O apontador da metralhadora foi dispensado; não cabíamos todos na "lata de sardinhas"... Estou a imaginar a "porrada" que levaria se as coisas tivessem dado para o torto... Mas nessa altura o troço em construção, Bambadinca-Xime (mais tarde alcatroado) era todo nosso, e os "gajos" do PAIGC, donos da margem direita do Rio Corubal,  pensavam duas vezes antes se meteram com os "nharros" (brancos e pretos) da  CCAÇ 12...

 As "vossas" Daimlers podiam ser um "bocado de lata", mas davam-nos sempre um grande "conforto" nas nossas colunas logísticas... Ou até na simples e rotineira viagem a Bafatá, por estrada alcatroada (30 km), que era o nosso dia de glória ("comer o ovo a cavalo com batatas fritas" na Transmontana, "dar dois dedos de conversas com as libanesas", "mudar o óleo no Bataclã!, "rezar na catedral", "fazer umas compritas na Casa Gouveia!", "dar um mergulho na piscina municipal", enfim, "respirar a civilização cristã e ocidental da Princesa do Geba"...).

E como eram "bailarinas" as vossas Daimlers, nunca as vi atascadas, nem nunca nos deixaram mal, mesmo com os pneus carecas... Glória às nossas velhas Daimlers!...

Ab. Luis


4. Comentário do Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046, Bambadinca, 1968/70)

Caro Luis

As tuas doces palavras fazem-me recuar no tempo. Tudo o que escreves me volta à memória.
Será estranho dizer que quase tenho saudades desse tempo? Pudera, quem não gostaria de voltar aos 23 anos?

Faria tudo na mesma,  tenho pena do que deixei por fazer.
Ai as minhas Daimlers, que vaidade, que orgulho, que saudade.

Um abraço do Jaime.
____________

Notas do editor:

(*) Ultimo poset da série > 5 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16272: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte V: (Des)encontros... E em louvor das velhas Daimlers, que a sorte protege... quem tem olhinhos!

(**)  Vd. poste de 9 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

sábado, 26 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15159: O nosso querido mês de férias (3): 10 de março de 1970: eu a partir e o ministro do ultramar, Silva Cunha, a chegar, no mesmo Boeing 707, da TAP ( Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 > Saída dos passageiros

Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 > Aguardando a chegada do 707 da TAP, com o ministro do Ultramar, Silva Cunha



Guiné > Bissau > Bissalanca > Aeroporto > 10 de março de 1970 >  Sessão de cumprimentos. [Joaquim Silva Cunha foi ministro do ultramar, de 1963 a 1973; a visita à Guiné nessa altura foi de 10 a 19 de março de 1970].



1. Texto do Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


Estive em Jolmete desde maio de 1969 até março de 1971. Fui de férias, uma vez,  à metrópole, no período de 10 de março a 10 de abril de 1970 [, e não em julho de 1970, como escrevi por lapso no poste P5246 (*)].

Quando fui de férias embarquei no mesmo 707 da TAP que tinha trazido Silva Cunha à Guiné, daí as fotos que tirei no aeroporto [, vd acima].

No aeroporto de Bissalanca havia grande agitação. Esperava-se a chegada do avião da TAP com o senhor ministro do ultramar, e não dos deputados da metrópole que vinham visitar a Guiné, e que depois irão morrer num acidente de helicóptero (. A minha confusão deveu-se aos 40 anos de esquecimento quase total das coisas da Guiné, só quando descobri o nosso blogue é que me comecei a entusiasmar.)

Tirei algumas fotos no aeroporto,  mas como a minha meta  era embarcar (**), não liguei muito a essa visita. Era um dia de semana, 3ª feira, o 10 de março de 1970.

Silva Cunha irá depois visitar Jolmete no dia 16 de março, 2ª feira. Silva Cunha dirigiu-se ao CAOP em Teixeira Pinto, e de lá foi a eventualmente ao Pelundo, sede do meu Batalhão. A comitiva foi depois a  Jolmete em três helicópteros.

Chegado a Jolmete, depois das férias, em abril de 1970,  fui informado  da visita do ministro do ultramar. Como havia fotos da visita,  tiradas pelo furriel Rodrigues,  da minha Companhia, eu adquiri cópias, que são as que mostro a seguir.

Terminada a visita,  os helis saíram de Jolmete para Teixeira Pinto depois do almoço, para deixarem o pessoal do CAOP. Como não estive lá,  não sei quem foi do CAOP, mas pelo menos o sr. coronel Alcino, comandante, esteve lá, como se pode ver em quase todas as fotos.

Jolmete era um aquartelamento exemplar no mato. O sr. general Spínola tinha um fraquinho por Jolmete; esta mensagem foi-nos transmitida logo à chegada. Os nossos antecessores, CCaç 2366 comandada pelo sr. cap Barbeites, construíram o quartel de raiz, nós continuamos e aperfeiçoamos. Eles tiveram uma forte actividade militar, nós continuamos e aumentamos, com saídas praticamente diárias, o que nos privou de ataques ou flagelações ao aquartelamento durante toda a comissão.

Construímos, entre outras coisas, dois abrigos, a vala de defesa em volta do quartel, uma escola e 24 casas para a população civil, graças à nossa equipa de pedreiros, como o Firmino (Régua), o Ramos, o Lima, o Spínola (não confundir com o nosso General), o Risadas e outros que não me recordo os nomes, mas que de seu modo, deram o corpo ao manifesto, erguendo obra que após a independência foi toda destruída.

A companhia que nos sucedeu, foi a CCAÇ 3306.

Manuel Resende


Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Abre-se a porta e vê-se o gen Spínola. No banco de trás o cor Alcino, cmdt do CAOP.




Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Do outro heli saem outras individualidades



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Cap Almendra, cmtd  da CCAÇ 2585 cumprimenta e dá as boas-vindas ao gen Spínola e ao ministro do ultramar, Silva Cunha





Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Cumprimentos ao oficial de dia, alf mil Marques Pereira, pelo ministro Silva Cunha e gen Spínola. Vemos distanciado, à esquerda, o cor Alcino,l cmdt do CAOP.




Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Visita da comitiva à cozinha. Além de Siva Cunha e coronel Alcino, vemos dois furriéis dos helis e dois repórteres

Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Visita à Capela



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > 16 de março de 1970 > Despedidas finais, regresso a Bissau



Guiné > Região do Cacheu > Jolmete >  O capitão Almendra, cmdt da companhia, a CCAÇ 2585. Era alferes mil graduado em capitão, tendo substituído, em agosto de 1969, o capitão QP, António Tomás da Costa, promovido a major.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15016: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (16): De 23 de Junho a 6 de Julho de 1973

1. Em mensagem do dia 13 de Agosto de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

16 - De 23 de Junho a 6 de Julho de 1973


23 de Junho de 1973 – (sábado) – Aldeia Formosa; Descanso

Dia de descanso sem nada de especial a assinalar. Em Nhacobá não tem havido problemas, salvo o problema das minas.
O camarada Alf. J. A. C. P. falou comigo sobre a eventualidade duma estadia minha em Nhala como Cmdt. Int.º da nossa Companhia, uma vez que o Alf. C. L. já lá está há bastante tempo e o seu grupo está aqui em Aldeia Formosa, como os demais, mas comandado apenas por um furriel por o outro ter ido de férias. Concordei e ele falou com o Major M. D. que acedeu. Parto amanhã na coluna que vai a Buba e, no regresso da mesma a Aldeia Formosa, virá o C. L. Falei aos meus soldados à noite. Ficarão comandados pelos dois furriéis.


24 de Junho de 1973 – (domingo) – Aldeia Formosa; Nhala: o descanso merecido e os problemas

Parti de manhã com destino a Nhala, onde cheguei relativamente cedo. Troquei impressões com o camarada C. L. sobre o comando da Companhia e questões pendentes.

Finalmente vou ter oportunidade de descansar aqui algum tempo, se bem que estejam sempre a surgir pequenos problemas para resolver, mas que, comparados com a minha recente actividade operacional, são meras mesquinhices. Lamento apenas que, comigo, não pudessem ter vindo os meus soldados, esses sim, mais do que eu a precisarem de descanso e bom trato. É que eu, além de ter um tratamento diferente do deles, tenho a possibilidade de matar a fome bastando, para isso, abrir o porta-moedas. E eles? Como sobrevivem? Eles, a quem até os cantineiros negam uma cerveja se não tiverem dinheiro trocado. E, o pior, é que por cá não há trocos. Já tenho pago caixas de cerveja ao pessoal mas, infelizmente, não o posso fazer sempre.

Aqui em Nhala estão agora, além da Formação [?] da minha Companhia, a CCAÇ 3400 completa, do Capitão M.. Este anda totalmente desmoralizado, traumatizado mesmo, e em momentos de crise torna-se insuportável mas, até ver, não me causou problemas. Eu limito-me a assinar dezenas de papéis por dia e a resolver esta ou aquela chatice que, quase sempre, surgem com o pessoal ou com a população. Nada de grave até à data. A possibilidade aventada de um ataque em grande escala a Nhala continua de pé, se bem que, ultimamente, se dê menos importância ao facto.

Gabinete do Comandante. de Companhia de Nhala: Eu e o Fur. J. R., meu colaborador e amigo.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUN73/25 – Recebemos a visita do Exmo. CORONEL LEITÃO, CMDT DO CAOP-1

-  Terminaram hoje os trabalhos do Destacamento Engenharia na desmatação da periferia do Destacamento de NHACOBÁ, deixando portanto de haver companhias do BCAÇ empenhadas na protecção dos trabalhos de Engenharia.


Do meu diário: 

25 de Junho de 1973 – (segunda-feira) – Nhala: o descanso e o lazer

Hoje estou de Oficial de Dia, mas sem nada de especial para fazer, a não ser marcar presença no içar e arrear da bandeira, e providenciar os cuidados para o bom funcionamento e aspecto do aquartelamento. Rotinas.

Actualmente estou a dormir na tabanca do C. L., onde tenho relativa comodidade. Além de poder dormir descansado numa boa cama de madeira, tenho bastante espaço e uma boa ventoinha, além de que, o espaço interior é agradável. É que a minha tabanca ficou em péssimo estado aquando do tufão que por aqui passou há pouco tempo.

Hoje aproveitei a manhã a revelar filmes (película) no meu pequeno “estúdio”, para à noite poder passar umas horas a fazer fotografias. É um passatempo interessante e lucrativo, e o meu maior receio é que tenha de sair um dia definitivamente daqui para uma localidade que não tenha luz eléctrica. À noite, afinal, passei largas horas a ler o “Papillon”, o que me dá imenso prazer.

Nhala, 1973 – Aspecto geral da tabanca e da minha palhota.

Nhala. Arrear da bandeira quando entrava um Grupo de Combate.

26 de Junho de 1973 – (terça-feira) – Nhala; Nós e o IN

Levantei-me tarde hoje e nada fiz a não ser ler o Perintrep, (documento do QG enviado aos Comandantes de Companhia, de cariz confidencial e que deve ser incinerado 72 horas após a recepção). Este documento revela factos extraordinários, tanto sobre a nossa actividade operacional, como da actividade IN, potencialidades materiais IN, resenha dos acontecimentos importantes referentes ao período corrente, etc. Face a tais informações, ficamos cientes de que temos pela frente um IN cada vez mais numeroso, bem organizado e melhor armado que nós, fazendo supor um futuro de dificuldades crescentes.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUN73/27 – Conforme DIRECTIVA OP do CCFA o BCAÇ 4513 torna-se independente operacionalmente do BCAÇ 3852.

[Acrescenta o Doc Resumo dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513]. (...) passando a actuar como Batalhão de Intervenção na Região de CUMBIJÃ-NHCOBÁ.

JUN73/29 – Desloca-se para o Destacamento de CUMBIJÃ o PC (posto de comando) do BCAÇ 4513, PEL REC e PEL SAP e 2.ª CCAÇ.

JUN73/30 – GR IN NESTM (Grupo IN não estimado) destrui com explosivos dois pontões na estrada MAMPATÁ-CUMBIJÃ.

[(Agosto/2015) - Viviam-se tempos difíceis em toda a região sob a responsabilidade de Cumbijã e, os tempos que se avizinhavam, a piorar o cenário, eram de incerteza e de incompreensão face ao que pretendiam os mais altos responsáveis militares. Adivinhava-se uma situação perto do colapso ou ruptura. Para se perceber melhor as sucessivas queixas e lamentos anotados à época no meu diário, transcrevo partes do resumo da actividade do mês de Julho/73, – hoje, com estes dados à mão, é fácil de entender -, referida no 2.º Fascículo (Período de 01JUL a 31JUL73) – HU-CAP II / págs. 9 e 10, com sublinhados meus a negrito:]

“SITUAÇÃO GERAL

Durante o período o Comando do Batalhão continuou sediado em Cumbijã, cumprindo a sua missão de intervenção numa área atribuída pelo COMANDO CHEFE, limitada a leste pelo RIO SARE HAGI, a norte pela picada MISSIRÃ-BOLOLA, a oeste pelo RIO SALANQUEUAL e a sul pelo RIO CUMBIJÃ.

De toda a esta área no início do período apenas era conhecida pelas NT uma pequena parcela. Havia que tornar mais extensos os patrulhamentos, que desvendar os mistérios das áreas ainda não exploradas, que criar ao IN sensação de insegurança e quanto possível fazê-lo abandonar a área atribuída à nossa responsabilidade. No entanto esta área abrange a região do UNAL, confluência dos corredores de abastecimento do IN, que do antecedente constitui um dos seus pontos fortes, concentrando ali, além da sede do seu 3.º CE, 5 bigrupos de Infantaria, uma Bat. Artª., um Pel. AA, e ainda um bigrupo de Fuzileiros e presumivelmente 1 grupo de mísseis. Torna-se pois pelos efectivos referenciados, como pela dificuldade de acesso, como ainda pela importância que a sua manutenção tem para a sua estratégia, um objectivo extraordinariamente difícil para as NT, agora agravado pelas limitações de apoio da nossa Força Aérea”.

[Quem foi que disse que nunca chegaram a haver estas limitações?].

“De acordo com o planeamento elaborado, são levadas a efeito sucessivamente acções sobre LENGUEL, SAMENAU, TUNANE, SAMBASÓ e BRICAMA. (...).
A seguir era o UNAL. [Isto tem qualquer coisa de evangélico e profético!]. (...) Como ir ao Unal? Tentando reconstruir o pontão? Fazendo a progressão no sentido N/S a partir de Buba? Optámos pela primeira modalidade, que embora nos pareça mais vulnerável tem a grande vantagem de ser mais próximo do objectivo, favorecendo qualquer necessidade de evacuação”.

[Afinal, foram usadas a primeira e a segunda modalidades e mais que houvessem... Estive na 1.ª e, na 2.ª esteve o meu grupo sem mim por motivos de saúde, mas deu para eu perceber que, ainda tão longe do Unal e já a “porta” que nos barrava o caminho era completamente blindada a tontices... Não era com cordões humanos infindáveis a caminhar pela mata, denunciando a intenção logo à partida, que chegaríamos ao Unal. Dizia-se que antes, muito antes, tinham sido lançadas sobre as imediações do Unal tropas especiais que nada conseguiram. A completar, (sublinhado a negrito), para se perceber o estado das nossas tropas, tantas vezes referido no meu diário, transcrevo a parte final do documento já referido].

“O pessoal começa a denunciar sintomas de cansaço consequente do ritmo de actividade que lhes tem sido exigida, agravada pelas deficientes condições de repouso, pois há mais de 3 meses que dormem em colchões pneumáticos, muitos deles, em barracas de lona”.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

(Sublinhados meus a negrito)

JUL73/04 - Inicia-se praticamente nesta data uma batida a zonas nunca dantes patrulhadas pelas NT
Forças da 1.ª, 2.ª e 3.ª CCAÇ, durante a acção “OVIEDO”, patrulham a região de SAMENAU e TUNANE, tidos como locais em que o IN se encontrava instalado. É a primeira acção que se realiza para esta área. O IN não foi encontrado, embora fossem detectados vestígios da sua presença. Foi detectada e levantada em SAMENAU 1 mina antipessoal PMD-6.

JUL73/05 - Forças da CCAV 8351 durante a acção “OTÍLIA”, na região de SAMBASÓ detectaram e destruíram 1 palhota celeiro que continha estimadamente 1 Ton de arroz, aproximadamente a 50 metros desse local detectaram a destruíram 100 atados de capim.


Do meu diário:  

6 de Julho de 1973 – (sexta-feira) – Nhala; Notícias desanimadoras

Porque não tem havido nada de especial, só hoje faço umas anotações. Aqui em Nhala tudo continua normal. Tenho tido imensos problemas para resolver nesta inopinada qualidade de Comandante de Companhia. Surgem com a população, surgem com os elementos da minha Companhia, (os que estão aqui e os que estão em Cumbijã), e surgem com o Comando do Batalhão, de quem recebo constantemente mensagens ou simples correspondência confidencial.

A única coisa a quebrar a monotonia, por aqui, continuam a ser as colunas que, de passagem, sempre trazem caras novas e notícias, além da nossa correspondência. Soube, através de elementos das colunas, que o IN não tem causado problemas no que diz respeito a flagelações, mas, pela terceira vez, fez ir pelos ares os dois pontões da estrada alcatroada entre Mampatá e Colibuia.

A minha Companhia, excepto a Formação que está aqui comigo, foi transferida de Aldeia Formosa para o inferno de Cumbijã e, ao que parece, definitivamente. Só de pensar nisso fico com ansiedade. Não que tenha medo da actividade IN que na zona é um bocado intensa, mas porque Cumbijã é um “buraco” onde não se tem o mínimo de condições para viver. Demasiada tropa e, agora, com o comando do Batalhão lá instalado. (...).

Nhala, 1973. Cair da noite sobre Nhala. Podem ver-se as garrafas de alarme aos pares no arame farpado.

(continua)

Texto e fotos: © António Murta
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 11 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14993: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (15): 19 a 22 de Junho de 1973

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13410: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (3): A Xerazade de Teixeira Pinto... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74] [, foto à direita, em Cufar, c. 1973/74]

Data: 15 de Julho de 2014 às 00:16

Assunto: Libanesa bonita

Meu caro Luís

Está no meu Diário a 1 de Janeiro de 1973, em Teixeira Pinto

Acredito que tenha sido exactamente assim. Não escrevi de memória. Com todo o respeito pelas mulheres libanesas, iguais ou mais bonitas do que as mulheres de todo o mundo, Creio que é de publicar.

Forte abraço,
António Graça de Abreu

2. Excerto de Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007.


[Foto à esquerda,. capa do livro, Guerra e Paz Editores, SA (2007), com a devida vénia]

Canchungo, 1 de Janeiro de 1973

Ontem à noite houve corrida de São Silvestre organizada pela Acção Psicológica do CAOP 1. Às nove e meia da noite, tínhamos noventa figurões equipados, com postura de grandes atletas, a dar três voltas à avenida principal. Fui assistir na companhia do alferes Paiva, da 38ª de Comandos [1].

Mas ele tinha outra ideia, sub-reptícia, fixa. Quase em segredo, queria-me mostrar a sua namorada (?) libanesa, uma mulher solteira, com quase cinquenta anos convencida que tem vinte e dois, e que atrai os homens. Vive no centro da vila, na praça Dr. Oliveira Salazar com a família de comerciantes vindos do Líbano. Como é que esta gente veio parar à Guiné? (*)

A senhora pinta o cabelo – uma tenebrosa cabeleira loira, – pinta os olhos, pinta os lábios, pinta as unhas, pinta tudo. Usa uns brincos de folheta vindos de Salamanca, Espanha – diz ela, – tem a cara envelhecida coberta de cremes e pós. É um mamarracho digno de exposição. O Paiva, pouco mais de vinte anos garbosos e valentes, conduziu-me até casa dela, queria que eu a conhecesse. A mulher recebeu-nos como se tivessem chegado dois príncipes da Pérsia. Cumprimentei-a e vim educadamente embora. O alferes Paiva, Comando, capaz de todos os gestos heróicos, ficou lá a desmaquilhar suavemente a dama libanesa. (**)

À meia-noite, em casa do capitão Pancada abriram-se umas garrafinhas de Magos e de champanhe. O Pancada e o alferes Gamelas têm consigo as esposas, simpáticas, bonitas, ambas de nome Helena. Estavam felizes, dançavam enlaçados, beijavam-se. Na sala havia mais quatro homens casados com as mulheres em Portugal. Olhávamos uns para os outros, mastigávamos em seco, sorumbáticos, tristes. Éramos o alferes Teixeira, um excelente rapaz do Batalhão 3863, o alferes Tomé, meu companheiro de quarto, o furriel Rodrigues também do Batalhão, e eu.

Depois do “réveillon chez Pancada”, o Tomé foi ainda beber com os alferes Comandos – não sei se o Paiva já voltara do seu sortilégio libanês, – e regressou às tantas ao quarto, a gatinhar, a gritar a frase do costume “Tirem-me daqui, tirem-me daqui!”.

[1] Para a história da 38º. Companhia de Comandos, ver Resenha, 7º vol., tomo II, pag. 536.
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Notas do editor:

(**) Xerazade de Teixeira Pinto; o subtítulo, irónico,  é da responsabilidade do editor.

Consulta da Infopédia:

(...) "Xerazade: Filha de um vizir, Xerazade é uma princesa bela e sagaz que, sob ameaça de morte, consegue distrair o rei Shahriyârnarrando-lhe os contos que constituem As Mil e Uma Noites. Esta personagem tornou-se um símbolo do Oriente muçulmano, fantástico e voluptuoso, tal como o imaginou romanticamente a Europa após a leitura da famosa coletâneade histórias. A figura de Xerazade inspirou diversas obras, tais como o ballet oriental de Léon Bakst, em 1908, e o de Michel Fokine, em 1910." [... Sem esquecer a popularíssima suite sinfónica para orquestra, nº 35, do genial compositor russo Rimsky-Korsakov, Scheherazade, de 1888, baseada no livro de As Mil e Uma Noites... Pode ser ouvida aqui, no You Tube... LG].

Fonte: Xerazade. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-07-17].
Disponível em http://www.infopedia.pt/$xerazade,2

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem, com data de ontem, de Vasco Pires (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]


Assunto: Raspando o fundo do baú..

Caríssimos,

Quando li o desafio do Luis, para "raspar o fundo do baú", nada me ocrreu, contudo, há dias, fazendo um comentário num post, "veio à memória":


O ATO MAIS IRRESPONSÁVELDOS MEUS DOIS ANOS DE SERVIÇO COMO SOLDADO DE ARTILHARIA!

Decorria o ano de 1970, quando cheguei a Bissau, no BAC1  (ou já seria GA7?), que era Comandado por um controverso Oficial Superior de Artilharia, a quem a caserna dera o codinome de "Paizinho", entre outros, que vou me abster de mencionar.

Circulavam "estórias" por Bissau, algumas falsas, outras verdadeiras, como o facto de ter "saído no Braço" com o Segundo Comandante, o que acarretou a ruína da carreira do desdito Oficial. Esse comportamento do Comandante, digamos errático para ser generosos, contaminou as relações dos Oficiais do Comando, e consequentemente, se foi alargando (como as pragas).

Após a chegada, foi feita uma apresentação ao material em operação nos Pelotões (10,5,  11,4, e 14); já quanto á situação operacional do TO, apesar de desde a recruta, vermos cartazes "gritando", "O boato fere que nem uma lâmina", as "infomações" vinham mais do "Jornal da Caserna", que propriamente um "briefing" consistente.

Alguns dias após a chegada, mandaram-me, por um curto período, para um Pelotão no Bachile, acredito, que para cobrir férias do Comandante.

Lembro bem, que no entusiasmo de "periquito", aceitei o convite do Comandante de uma patrulha, para ter uma ideia, de como seria um pedido de apoio; errado, porque a ordem expressa do Comando do BAC1, era de que o Pelotão (material e militares), só poderia sair dos quartéis, com uma ordem escrita do Comando do Aquartelamento.

A ativadade operacional do Pelotão era nula. Deslocava-me a Teixeira Pinto com alguma regularidade, um dia no Bar do CAOP1, fui abordado pelo Major de Operações, que, após se certificar da minha identidade de soldado de Artilharia, desferiu:
- Amanhã, terá uma grande operação, forças especiais e tropa regular vão atacar uma base IN na Mata X [da qual não lembro o nome, e que na altura, como recém-chegado, pouco ou nada dizia para mim]. Nós ( eu e ele) vamos regular o tiro. Amanhã às Y horas, esteja no lugar Z!!!

No auge da minha "periquitice", sem nada perguntar, limitei-me a dizer:
- Sim, senhor, meu Major!

Na minha fantasia, iríamos regular o tiro, a bordo de um helicóptero; na hora e local determinado, como não poderia deixar de ser, me apresentei devidamente "armado" com a minha tabela de tiro. Qual não foi a minha surpresa, quando subimos numa Dornier!

Por lá andamos ás voltas, ele identificando os alvos, e eu,  tabela de tiro no colo, calculando, e transmitindo a ordem de fogo para o Pelotão!!! Felizmente nada ocorreu de anormal.

Quando descemos, me faltaram as palavras e a coragem, para transmitir o meu espanto do ato que tínhamos acabado de cometer.

Ainda hoje, mesmo que tenha cometido outros erros, considero este como o ato mais irresponsável, dos meus dois anos de serviço na Guiné, como soldado de Artilharia.

E siga a Artilharia...

Forte abraço a todos

Vasco Pires

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domingo, 9 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12812: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (2): O primeiro contacto com a bibliografia da guerra colonial

1. Segundo episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

2 - O PRIMEIRO CONTACTO COM A  BIBLIOGRAFIA DA GUERRA COLONIAL

O meu regresso às minhas memórias da Guiné, iniciou-se quando um colaborador e companheiro de trabalho (que também escreve livros e com vários prémios literários, de pseudónimo Paulo Assim) me falou que tinha lido recentemente um livro sobre a guerra na Guiné e que referia um episódio, de que eu lhe falara, de um acidente com militares, que tinha provocado vários mortos e feridos, na sequência de uma desavença ocorrida num jogo de futebol; que deveria ser o mesmo episódio e que eu deveria conhecer o seu autor. Prontificou-se a adquirir-me o livro. “Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura”, de António Graça de Abreu. Li-o de seguida e com sofreguidão. Era a primeira vez que lia algo sobre a guerra da Guiné, onde também tinha estado e logo a falar-me dos lugares e de pessoas com quem tinha convivido, despertando-me assim para outros interesses...

Também, já há alguns meses me havia sentido “estranho”, ao constatar que a série televisiva “A Guerra”, de Joaquim Furtado, tinha mexido comigo, quando os episódios se referiam à Guiné. Dei comigo a discorrer sobre a condução política e militar de Portugal e da Guiné, a esse tempo, interrogando-me: como tinha sido possível que se tivesse deixado acontecer os “infernos” de Guidage e Guileje. Não era previsível o que aconteceu? Onde estavam os serviços militares de informação e reconhecimento? O que faziam? Por que é que não se actuou preventivamente? Porquê?... Onde estava a competência dos senhores da guerra? Se não havia capacidade para controlar, prever e contrariar a actividade do IN, o que andávamos a fazer? Eu, que não era militar nem guerreiro, via os erros que tinham sido cometidos, remediando tarde e em desespero de causa, com elevados custos humanos, morais e materiais, o que deveria ter sido prevenido e evitado. Mas logo, num ato de autocensura, abafei tais sentimentos, pensamentos e considerações. O que interessava agora pensar nisso? Para que serviria? Que parvoíce!... Os responsáveis já não estarão entre os vivos e ninguém responde pelas causas da guerra e pelos seus erros e consequências!


Sede do BCaç 3863 em Teixeira Pinto. Ao centro, edifício do Comando. À esquerda o das Transmissões.

Quanto ao Alf. Mil. António Graça Abreu, decerto que nos cruzámos em Teixeira Pinto, embora por pouco tempo. Teremos partilhado o mesmo bar ou até a mesma mesa, mas a minha memória não o acusava. Ou se apagara o registo, ou estava imperceptível. Lembrava-me sim do CAOP 1, da cena do simulacro de ataque ao quartel na minha primeira noite, dos acontecimentos do dia 1 de fevereiro de 1973, em que fazia pela primeira vez de Oficial-Dia; do Cor. Pára Rafael Durão e do seu porte e conduta militar, que até respeitava, dos seus frugais pequenos-almoços na messe de oficiais, em mesa separada, à base de frutas (grandes mangos da Índia).

O seu livro recordou-me o número de Batalhão a que eu pertencera, as Companhias que o constituíam, tornando-me possível acordar outras memórias. E agora estava disposto a libertar-me dos bloqueios que tinha montado, recordar e sentir a guerra da Guiné, pensar nos bons e maus momentos, poder analisá-la, criticá-la, não por saudosismo ou masoquismo, nem para condenar os envolvidos, governantes, políticos e militares, mas para reflectir sobre o que aconteceu durante esses anos: sobre a política que Portugal trilhou e as suas consequências, identificando os seus responsáveis, chamando os "bois" pelos nomes.

Mesmo considerando que os erros do passado são irremediáveis, sempre poderemos aprender algo com eles, para o presente e para o futuro e se possível minorar os seus efeitos, pela palavra e pela acção.

Iria também permitir-me procurar e saber dos meus antigos camaradas e talvez um dia encontrar-me com eles; principalmente com os do meu Grupo, o 4.º Pelotão, “Os Americanos”. Espero que ainda estejam todos vivos e de saúde. Mas por onde andarão?


Guião do BCaç 3863. Constituiu-se no RI 1 – Amadora. Esteve na Guiné de 22 Set.1971 a 16 Dez. 1973. Dados que obtive nas minhas pesquisas no Blogue.

Aqui chegado, o passo seguinte foi ir ao encontro do desconhecido e a via seguida foi ir à internet ver o que conseguiria, eu, que até então, pouco ou nada tinha navegado. (Já me bastavam as longas horas que passava agarrado ao computador por razões profissionais, quanto mais desperdiçar o meu tempo livre nesses luxos).

Eis-me agora nisto: Google > Bat. Caç. 3863 e entretanto estava a entrar no Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné. Desde então tem sido quase um vício. Pena é a falta de tempo, pois é um mundo que nunca mais acaba. A corroborar a máxima: “O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca é Grande”.

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 6 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12802: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (1): Monte Real, 8 de Junho de 2013, o primeiro contacto com a Tertúlia

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12704: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (10): O massacre do chão manjaco: acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry, de 11 a 13/5/1970: Transcrição, fixação de texto e notas de Jorge Picado

1. Mensagem,  enviada com data de 28 de janeiro último, pelo Jorge Picado [, foto à direita: ex-cap mil,  CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72 . . aos 32 anos, pai de 4 filhos, engenheiro agrónomo, ilhavense]:
Amigo Luís

[...] Olha, quanto às minhas pesquisas que vou fazendo,  sempre que posso,  no Arquivo Amílcar Cabral, descobri numa acta de um Conselho de Guerra as referências do PAIGC ao caso dos "3 Majores e do Alf Mil Mosca".

Não sei é retirar para publicação as referências.

Lê e vê se tem algum interesse. Entre parenteses rectos estão achegas pessoais que fiz. Jorge Picado


2. Reprodução, com a devida vénia, do documento Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry. 

 Transcrição, fixação de texto e notas pessoais [, dentro de parênteses retos, em itálicos] de Jorge Picado, que, como se sabe, também foi oficial do CAOP1, tal como os malogrados  Major Magalhães Osório, Major Passos Ramos, Major Pereira da Silva e Alferes Mosca


Para ver e ampliar o original, clicar aqui:

Conselho de Guerra: reuniões de 11-05-1970 a 1 13-05-1970: Acta das Sessões  (25 pp.)

Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07073.129.004

Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry

Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, de 11 a 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral. Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai, Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai 

Secretário: Vasco Cabral

Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 - Quarta, 13 de Maio de 1970

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1960-1970.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: ACTAS

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125 (2014-2-9)


“S. G. [Secretário Geral, Amílcar Cabral]- … A situação mudou também por causa da acção levada a cabo no Norte contra alguns oficiais superiores, em conseq[uência] da acção combinada das n[ossas] forças armadas, da segurança e da Dir[ecção] do P[artido]. 

A liquidação dos 3 majores, 1 Alferes e alguns outros elementos (2.º alguns cam[aradas] - um capitão e um Chefe da PIDE) [Não havia outros Of, mas sim mais 3 guineenses. Se algum era da PIDE, desconheço.], mostrou que era falsa a propaganda dos tugas [termo depreciativo para designar os Portugueses] de que estavam à vontade na n[ossa] terra e Por outro lado, os tugas estavam convencidos de que conseguiam comprar a n[ossa] gente. 

Toda a política de Spínola [COMCHEFE e GG], em conseq[uência] destas n[ossas] acções, está posta em causa. E para toda a gente, tanto dentro como fora da n[ossa] terra, o n[osso] prestígio aumentou bastante e até para o n[osso] inimigo. Sobretudo esta liquidação dos oficiais superiores, contribuiu para isso. O tuga, o Português, pensava antes que nós todos éramos cachorros. O tuga agora já se convenceu do contrário… Os nossos cam[aradas] foram capazes de enganar, discutir com eles, convencê-los, apesar da sua imensa experiência e capacidade e liquidá-los... 

Através [de] certos cam[aradas] que estão em CANCHUNGO, os tugas tentaram ligações com eles, com vistas a desmobilizar a n[ossa] gente. Tentaram, servindo-se de elementos do Fling [Frente de Libertação para a Independência Nacional da Guiné, fundada em Dakar-Senegal em 1962, opositora do PAIGC], portanto a um nível mais baixo, desmobilizar a n[ossa] gente. Sem resultados. As conseq[uências] foram a prisão de 4 dirigentes do Fling. Tentaram contactar Albino, Braima Dakar [Era um dos 2 componente do Comando Geral da Zona BIAMBI-NAGA-BULA, fazendo também parte do Comando Conjunto da Frente BIAMBI-CANCHUNGO] e outros. E na região de Quínara. E tb [também] com gente na periferia da n[ossa] luta: Laí, Pinto e João Cabral. 

Tentaram a ligação com André Gomes e Quintino [O 1.º era um dos 3 responsáveis pela Zona de NHACRA, um dos 3 componentes do Comando Conjunto da Frente NHACRA-MORÉS, um dos 23 componentes do Comité Executivo da Luta (CEL) e por inerência também um dos componentes do Conselho Superior da Luta (CSL). O 2.º, Quintino (Vieira), era o responsável pela Segurança e Controle (SC) do Sector Autónomo de CANCHUNGO, no Comité Regional da Região Libertada a Norte do Geba (CRRLNG) e por inerência igualmente membro do Comité Nacional da Região libertada a Norte do Geba (CNRLNG)].

 Eles avisaram a Dir[ecção] do P[artido], para a interrogar. André Gomes deu mais uma prova de confiança ao P[artido]. Ele mesmo supunha que os tugas queriam desertar. Só depois é que se viu que o [que] queriam [era] desmobilizar a n[ossa] gente. O S.G. [ Secretárioi Geral, Amílcar Cabral] deu o seu acordo à proposta, mas pediu que agíssemos depressa.

 Luís Correia [Responsável pela SC do Sector do OIO no CRRLNG e igualmente do CNRLNG, além de membro do CSL e creio também do CEL], pôs-se, por sua própria iniciativa, em contacto com os cam. [camaradas] da zona. Lúcio Tombô [Ou Tombon, um dos comandos da Zona de BULA] tb [também] foi envolvido na combinação. Ele pôs-se em contacto com os tugas, mas quem devia falar era Braima Dakar que jogou um papel de defesa do P[artido]. 

Os tugas escreveram cartas amáveis e respeitosas aos cam[aradas], num grande namoro. Deram-lhes grandes presentes. Propunham que os guineenses deviam ir substituir os cabo-verdianos, de quem já tinham feito uma lista negra de 30 e que deviam ceder os seus lugares a guineenses. Deram presentes vários: conhaque, whisky, rádios, relógios, panos para as mulheres, cigarros bons, etc. Encontraram-se 5 vezes. Na 4.º vez esteve presente o Governador, que apertou a mão, tirando a luva, do n[osso] cam[arada] André Gomes. (Amílcar lê uma das cartas de um major, Pereira da Silva, a André Gomes). 

No dia do encontro deviam vir os n[ossos] cam[aradas] chefes e estava prevista a vinda do próprio Governador. Os cam[aradas] vieram de facto acompanhados das suas armas. Apareceu mesmo o Luís Correia e eles já sabiam da sua presença. Para não desconfiarem, disseram-lhes que o Luís Correia estava presente e era um alto dirig[ente] do P[artido]. Durante as conversações com os tugas, foi decidido pararem os bombardeamentos aéreos, e os combates. Isso aconteceu de facto: os nossos camar[adas] pararam também certas acções. (Amílcar lê uma outra carta do Major Mosca). [Mosca não era Maj, mas sim Alf Mil]. 

Durante as conversas, Braima Dakar, aproveitou para fazer certas exigências. Pediu a libertação de seu pai, a libertação de 2 cam[aradas] (Claude e José Sanhá) [Este 2.º elemento, antes de 1964 já comandava guerrilheiros numa Zona do Norte e depois de libertado foi novamente integrado pelos responsáveis da Frente BIAMBI-CANCHUNGO, sem que tivessem consultado a Direcção do Partido, acto entretanto criticado pelo S.G. na reunião alargada da Direcção Superior que teve lugar em Conakry de 12 a 15ABR70 e onde foi apresentada e aprovada uma nova Estrutura do Partido e onde este elemento em causa foi confirmado como um dos comandantes da Zona de BIAMBI, da Frente BIAMBI-CANCHUNGO] e foram mesmo soltos (já cá estão). 

Durante as tréguas, os cam [aradas] levantaram minas na estrada de Bula-Binar. Mesmo assim, houve uma emboscada em Biambi, aos tugas, na qual, 2.º uma carta apanhada, de um dos majores, afirmam que morreram 4 tugas. Também dão notícia dos ferimentos graves que sofreu um capitão que estivera com eles numa reunião, ao tentar detectar minas: perdeu um braço e uma das vistas. Salienta ainda o facto de ter havido nas nossas bases, vários camaradas que começavam a protestar contra as ligações que estavam a ver com os tugas. Alguns disseram que se isso continuasse se iam embora. Isto é tb [também] uma coisa muito importante, porque mostra a fidelidade desses cam[aradas ao P[artido] (eles não estavam ao corrente das coisas).

Nino – Saliente a import[ância] de os n[ossos] cam[aradas] terem levado à certa grandes homens dos tugas. Isso foi porque os tugas nos consideram como cachorros. Os tugas sentem hoje qual é a n[ossa] força, tanto moral como política.

Amílcar – Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos n[ossos] cam[aradas] do Norte. É a 1.ª vez que numa luta de libertação nacional se mata assim 3 majores, 3 oficiais superiores que, nas condições da n[ossa]  luta, equivale de facto à morte de generais…“.


3. Esclarecimento posterior do Jorge Picado [12 fev 2014, 23:18]


Amigo Luís:

Sobre o conteúdo transcrito nas actas desse Conselho de Guerra, apenas encontrei motivo de interesse nessa parte que transcrevi sobre o caso dos "3 Majores e do Alf Mil do CAOP 1" e que se resumiu a esse pedaço.

Quanto ao resto são questões variadas internas do PAIGC sem qualquer interesse para a nossa temática da Guerra.

Abraço, Jorge.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12349: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (9): Em setembro de 1964, a situação estava feia na antiga Zona 7 do PAIGC, segundo carta do 'Nino' Vieira [Marga]: (i) falta de homens, material, medicamentos e alimentos; (ii) 1 guerrilheiro deserta e apresenta-se em Bambadinca; (iii) as NT desembarcam no Rio Corubal, na Ponta Luís Dias, e avançam até ao Poindom e à Ponta do Inglês, provocando baixas entre a população e a guerrilha; (iv) 300 fulas da zona leste recebem instrução militar em Bissau, mas... (v) o moral da guerrilha parece ser... alto, estando disposta a ocupar militarmente o Saltinho e o Xitole (o que, como sabemos, nunca virá a acontecer até ao fim da guerra)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12545: O segredo de... (14): António Graça de Abreu (,ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74): Também fiz o curso de Minas e Armadilhas, em Tancos, ainda em 1971... E até sonhei um dia em ser... bombista!

1. Comentário, com data de ontem,  de António Graça de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74, ] ao poste P12540 (*):

Também fiz o curso de Minas e Armadilhas, em Tancos, ainda em 1971. (**)

Encartado, licenciado,  nunca mais esqueço uma barras de trotil, amarelinhas, cilíndricas que roubei e escondi na cozinha da minha casa, em Benfica, com uns detonadores e cordão lento guardados no outro lado, na sala, à espera de fazer umas bombas para ajudar a rebentar com o regime. 

Santa e perigosa ingenuidade! Depois do 25 de Abril, o trotil, os detonadores, o cordão lento foram metidos em dois sacos diferentes, com umas pedras de lastro, e lançados por mim para o fundo das águas do Tejo, num barco, a meio do rio, na carreira Belém/Trafaria. 

Nunca contei isto em parte nenhuma. Vai agora. As coisas que um homem faz, ou não faz, na vida!... Abraço, António Graça de Abreu 

 2. Comentário de L.G.:

Vai fazer, em abril próximo, quatro anos que esta série (***) tem estado parada... Publicaram-se até então 13 postes, com pequenos/grandes segredos que camaradas nossos quiseram partilhar connosco... Um deles, o Luís Faria (1948-2013) infelizmente já não está entre nós... Ontem por acaso, tropecei neste pequeno/grande segredo que o nosso camarada António Graça de Abreu quis divulgar... "Nunca contei isto em parte nenhuma. Vai agora. As coisas que um homem faz, ou não faz, na vida!"... O propósito deste série é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo de vida militar que, até então, por uma razão ou outra, guardámos só para nós... 

É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que  esses factos pudessem eventualmente, à luz da época,  constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou  ética militar, etc. ...Saibamos ouvir sem julgar.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12540: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (5): Sou do famigerado XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 e terminado 17 de Setembro de 1966, na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos

(**) Vd. poste de 16 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10809: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (20): Notícias da minha antiga companhia, a CCAÇ 3460/BCAÇ 3863, e do meu substituto, o alf mil Potra

(...) Canchungo, 18 de Setembro de 1972

Entrei para a tropa em Outubro de 1970. Durante seis meses em Mafra, com a recruta e especialidade, fizeram de mim um pequeno aspirante a oficial miliciano atirador de Infantaria. Fui colocado no Batalhão de Caçadores 5, em Lisboa, onde dei instrução a soldados durante um curto espaço de tempo.

Segui para Tancos, para a Escola Prática de Engenharia e em dois meses tirei um curso de Minas e Armadilhas. Fui mobilizado para a Guiné e colocado no Regimento de Infantaria 1 na Amadora, para formar Batalhão, exactamente este Batalhão 3863 que veio para o chão manjaco. A minha companhia 3460 foi parar ao Cacheu, mas eu não parti para a Guiné juntamente com estes homens.

Uma operação a uma velha luxação crómio-clavicular no ombro direito, resultado de uma cena de pancadaria em que fui o personagem principal quando tinha dezassete anos, devidamente explorada, possibilitou-me a passagem aos serviços auxiliares. Fui reclassificado com a especialidade de Secretariado e desmobilizado. (...)

(***) Vd. postes anteriores desta série O Segredo de...

30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações

(..) Estando com o meu grupo de comandos no Xitole, sensivelmente em meados de 1965, fomos fazer uma patrulha de reconhecimento pois o inimigo há muito mostrava sinais de intensificar a sua actividade na região. Porém, as informações eram escassas. Desconhecia-se com precisão por onde andavam os guerrilheiros e as possíveis localizações dos acampamentos. Por tal facto, foi-nos dada a missão de efectuar um reconhecimento ofensivo, tentando localizar o destruir o inimigo. (...)
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN

(...) Tinha acabado de receber notícias trágicas acerca da morte dos meus dois amigos de infância.Isolava-me e chorava e este sentimento de perda prolongou-se por alguns dias.O poiso escolhido era o topo da paliçada, onde fingia estar a fazer a vigilância habitual, embora perfeitamente exposto. Apetecia-me morrer. Foi terrível. P3143: Blogoterapia (62): A minha vida morreu; morreram os meus amigos (Santos Oliveira) (...) 

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato

(...) Tinha-a comprado no Porto. Era equilibrada adaptava-se muito bem à minha mão, éramos inseparáveis e até dez passos o lançamento não falhava o alvo. Levantou 1032 minas, mas nunca chegou a ser usada em/contra alguém. Um dia, numa operação na zona de P. Matar, embrulhei (amos) forte e feio. (,,,)


11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

(...) Numa das saídas das explorações que nos eram confiadas, foi apanhado um guerrilheiro e feito prisioneiro. Quando o pessoal chegou, já era noite. Não eram horas de entregar o prisioneiro à PIDE. Então o capitão lembra-se da brilhante ideia, como o Colaço está de serviço permanente ao posto rádio, fica a guardar o prisioneiro. Ordens são ordens e não há que contestar. (...)


4 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

(---) Das nossas lides bloguísticas eu sabia, talvez há mais de dois anos, que o meu amigo e camarada Virgínio Briote acalentava a secreta esperança de um dia poder entrevistar (ou ter uma conversa franca com) o Luís Cabral... Fez várias tentativas. Em vão. Até que a morte do histórico dirigente do PAIGC, ocorrida há dias em Lisboa, veio fechar-lhe a última porta (...) 

11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4936: O segredo de... (6): Amílcar Ventura: a bomba de gasóleo do PAIGC em Bajocunda...

(...) Amigos e Camaradas Editores, há muito que quero contar um facto real que se passou comigo e o grupo do PAIGC da minha zona de guerra que era Bajocunda, mas como é um facto que pode ser sensível a alguns Camaradas de blogue. (...)

(...) Apesar de me terem advertido para a eventual polémica a propósito da revelação da entrega de gasóleo ao PAIGC , surpreendeu-me a quantidade e agressividade dos comentários produzidos. Vou tentar clarificar as coisas. (...)


(...) Eu era um simples Aspirante a Oficial. Não tinha culpa de levar a sério a minha posição. Já tinha estado no RII 19 no Funchal nos meus primeiros meses de activo depois do curso de Oficiais Milicianos em Mafra. Destacado para Évora para preparação da Companhia que me iria levar para o Ultramar, eu levava as minhas responsabilidades muito a sério. Se era para ser Oficial de Dia ao Batalhão, era mesmo Oficial de Dia.(...) 


(...) O meu irmão, José dos Santos Moreira, [Fur Mil,] fez parte da CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra, BCAV 2867 [, Comando e CCS em Tite]. Em 1969 feriu a tiro de G3 o Cap Médico do batalhão.Regressou a Portugal em 28 de Dezembro de 1969. Teve baixa de serviço por incapacidade física em Março de 1970. Foi julgado no Tribunal Militar Territorial do Porto, em Novembro de 1973. Libertado depois do 25/4/74. (...)


(...) Desde há algum tempo tenho vindo a pensar que nem sempre éramos correctos no nosso relacionamento com os civis e que essa faceta raramente ou nunca tem sido aqui objecto de qualquer relato. Parecendo-me que esta perspectiva da nossa (con)vivência com a população também faz falta à verdadeira história da guerra do ultramar ou colonial, eis-me aqui a falar de mim, falando dos meus pecados (...)



(...) Vou contar a história real dum ataque a Bissau feito em 1971. Um dia, eu e o meu amigo Julião Pais dos Santos (o Django), pensámos em atacar Bissau... Dito e feito. Mas faltava a estratégia. Depois de alguns dias a pensar na estratégia, finalmente chegou a luz ao fundo do túnel. (...)

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló)

(...) Uma das primeiras operações (a segunda, depois de uma ida ao Óio) que o Amadú fez, integrado no Grupo Fantasmas, do Alf Saraiva, foi no meu conhecido Buruntoni, no Xime, em 11 de Novembro de 1964. Na véspera, o grupo deslocara-se de barco, de Bissau até ao Xime. A 11, andaram toda a noite, a corta-mato, com um guia local. Como era quase inevitável, nas matas do Xime, o guia perdeu-se. O objectivo era um acampamento da guerrilha. Chegaram ao Buruntoni por volta das 7h00, quando o sol já ia alto… Deparam-se, entretanto, com um “rapazito de 8 ou 9 anos” (...)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12473: O que é que a malta lia, nas horas vagas (21): Valentim Oliveira: a Plateia, livros e a correspondência; João Rebola: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, saborear uns franguitos, etc.

1. Mensagem do nosso camarada Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490, ComoGuidaje e Farim, 1963/65), com data de 17 de Dezembro de 2013:

Caro Amigo Luís.
Voltando aos anos vinte, e recordando os quase 50 anos que já lá vão, ainda tenho presente na memória as leituras que devorava quando o tempo me permitia.
Lia livros meus e de amigos, mas a que mais gosto me dava era a Revista Plateia que a minha Bajuda hoje esposa me enviava.
Envio em anexos duas fotos as quais mostram a minha razão de ser.

Aproveito esta mensagem para desejar a todos os amigos da tertúlia um Natal feliz e um Ano novo com muita alegria.

Um abraço das terras de Viriato.
Valentim Oliveira




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2. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, , Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2013:

Boa noite, Carlos
Na verdade, nos primeiros meses, em Có e Cacheu, principalmente, não era fácil arranjar tempo e vontade para grandes leituras (excepto os famosos aerogramas), pois a desgastante actividade operacional - CAOP1- e suas consequências, não permitia envolvimento em situações "culturais".
Porém, quando tomámos conta do sector de Bissorã, onde permanecemos cerca de 14 meses, aí sim já se arranjou tempo para muita coisa: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, que comprei em Bissau por 6 contos, saborear os frangos do Lavinas, etc, etc.
Foi o melhor tempo que passei na Guiné.
Tudo isto "fazia" esquecer os maus momentos passados.
Seguem algumas fotos ilustrativas.

Bom Natal e Feliz Ano Novo
João Rebola

Acelerando a minha Onda 

Montando um dos burros de Sitafá Camará

No restaurante do Manuel Lavinas 

Fado na messe de sargentos. A cantar o fado, o nosso camarada Armando Pires 

As minhas bajudas 

Frente-a-frente com Armando Pires 

Equipa da CCAÇ 2444

No Bingo de Bissorã
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12472: O que é que a malta lia, nas horas vagas (20): Desde a revista "Plateia" até ao romance "Os Lobos", de Hans Helmut Kirst, leituras que depois eram discutidas em grupo (Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971)