Foto (e legenda): © Rui Esteves (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Disse ao soldado Lurdes, natural do Vitorino de Peães, concelho de Ponte de Lima:
Ele pegou num tronco seco e atirou às galinhas, mas à sorte!... O milagre aconteceu… Não é que o pau, às cambalhotas, caiu na cabeça da galinha e matou-a fulminantemente! Nem queria acreditar!...
− Lurdes, vá a correr, pegue na galinha e ponha-a no bolso grande do camuflado e vamos mas é já embora− disse-lhe eu, perante o ar estupefacto dos outros soldados que estavam perto de mim, coçando-se do exército de formigas que os atormentavam…
Metemo-nos na Berliet Tramagal e só paramos no quartel de Tite. Pedi aos soldados para isto ficar em segredo.
Tenho uma foto (que ainda não consegui enviar), em que estão o Araújo, o Guimarães e outros dois soldados a depenar o galináceo e, como uma galinha era pouco, arranjámos mais uma, mas esta teve de ser comprada por 10 ou 20 pesos (moeda da Guiné).
Quando o Capitão, soube do nosso manjar, disse-nos:
− Vocês...estão a viver bem!
Comemos um bom arroz de cabidela, com a ajuda dos cozinheiros que participaram no repasto…
Foi das melhores refeições que tomei na Guiné… Obrigado, galinhas!...
A Guiné, que poucas alegrias me deu, assim como aos demais militares, sempre tinha destas histórias que atenuavam o sofrimento das situações trágicas e dramáticas que vivemos.
Hoje, estou numa de escrever, e envio esta história real, passada na Guiné em 1973, apenas como mera curiosidade no seio de um ambiente hostil em que a guerra, com todos os seus impactos trágico-dramáticos, infelizmente, “ditava lei “!
Esposende 9 de Junho de 2020,
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(*) Vd. poste de 30 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - P305: A escola de Bissássema (CCAÇ 3327, 1971/73) (Rui Esteves)
(...) Instalados em Bissássema, começámos vida nova: em Teixeira Pinto, terra do povo manjaco, tínhamos servido de seguranças ao pessoal que abria a nova estrada; aqui, na terra dos balantas, íamos continuar a construção do novo aldeamento.
Passado poucos dias, chama-me o Capitão Alves (Rogério Rebocho Alves, Capitão Miliciano, comandante da CCaç. 3327, tão periquito quanto nós todos!) e comunica-me que vou ser professor dos soldados que pretendessem completar o Ensino Primário. (...)
(...) Um dia, pela manhã, descobrimos que o caminho entre Bissássema e Tite estava minado: o PAIGC tinha colocado algumas minas anti-carro no caminho e também anti-pessoal num local onde escreveram “VIVA O PAIGC”. A mina anti-pessoal foi detonada da pior maneira: um guia ficou sem a perna.
Estava descoberto tema para essa noite: os meus alunos iam escrever sobre as minas. Nunca me esquecerei da redacção do Cabral, o nosso cozinheiro, e o meu melhor aluno: escreveu ele, “Há minas boas e minas más. As minas boas são as que nós pomos aos turras. As minas más são as que eles põem a nós.” (...)