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sexta-feira, 22 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23187: Documentos (37): Boletim Informativo n.º 1 do Movimento das Forças Armadas na Guiné, de 1 de Junho de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 5 de Fevereiro de 2022:

Amigos e camaradas da Guiné,
Como é do conhecimento geral, a JSN (Junta de Salvação Nacional) foi constituída por 7 militares das Forças Armadas, onde os Srs. Generais António de Spínola e Costa Gomes eram dominantes. Penso que o primeiro, por muitos considerado um Cabo de Guerra era mais militar e menos político e o segundo além de militar, foi o fundador da 5ª Divisão e era mais hábil na política.

Estas duas figuras são incontornáveis antes e depois do 25 de Abril de 74 e seguiram caminhos diferentes depois da constituição da 5º Divisão. Eles entraram em ruptura em 28 de Setembro de 1974, tendo gerado consequências para o Sr. Gen. Spínola e a 5ª Divisão continuou a exercer um papel dominante na política portuguesa até à sua extinção em 25 de Agosto de 1975.

Em retrospectiva, devemos questionar se o Sr. Gen. Costa Gomes esteve bem e se a outra via não fosse a melhor,  porque se o não fizermos, corremos o risco dos nossos netos voltarem a repetir os mesmos erros. Por isso este debate é necessário.

Na Metrópole o Boletim Informativo das Forças Armadas n.º 1 foi publicado em 9 de Setembro de 1974, sendo nesta data constituída formalmente a 5.ª Divisão do EMGFA, com honras de primeira página.

Mas de facto, é em 1 de Junho de 1974 que o MFA na Guiné publica o seu Boletim Informativo n.º 1 que mostra que a 5.ª Divisão nasceu na Guiné (se é que nasceu...) estava era já na mente de alguém que se encontrava na Metrópole. Isto porque me parece que existiu aqui uma utilização rebuscada e abusiva da Lei Mental. Na História, D. João I foi o da Boa Memória e o de 1974/75 vai ser lembrado como o cinzento ou o da má memória.

Na primeira página deste Boletim Informativo encontra-se a constituição da Comissão Central, da Comissão Coordenadora e do Secretariado do MFA na Guiné e os nomes dos militares que as compunham e resultam da deslocação à Guiné do Sr. Ten. Cor. Almeida Bruno em 7 de Maio de 74. Também está lá publicado como deviam ser constituídas as Delegações do MFA nas Unidades. As páginas seguintes contêm informação sobre o Programa do 1.º Governo Provisório que o Boletim Informativo considera notável, o Programa do MFA, as Conversações para um Acordo de Paz para a Guiné e Cabo Verde e onde já é abordado o futuro das NT nativas que tinham combatido contra o PAIGC, a dissolução da JSN, Constituição durante um ano, etc.

Este Boletim Informativo n.º 1 do MFA na Guiné, aposta fortemente na informação e é também o primeiro e o único a fazê-lo.

O segundo Boletim Informativo é já o Órgão Oficioso da 5.ª Divisão e porque são muito diferentes, irei abordá-los em separado. Este Boletim Informativo virá também acompanhado de uma outra mensagem.

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur. Mil. At. Inf.

Página 1 de 4 do Boletim Informativo n.º 1 do MFA na Guiné, publicado em 1 de Junho de 1974

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Comentário do editor:

Pedimos desculpa ao Victor Costa por só agora publicarmos o "Boletim Informativo n.º 1 do MFA na Guiné", que gentilmente enviou para conhecimento da tertúlia.
Como não era tecnicamente viável a edição e publicação das páginas no Blogue de modo a serem facilmente lidas, optamos agora pelo acesso directo ao Google Drive onde o Boletim está alojado.

Ver aqui

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23133: Documentos (36): Psico e propaganda: por uma "Guiné Feliz": um desdobrável com postais a cores, tipo Banda Desenhada, doado à Tabanca Grande pelo Joaquim Sequeira, o "Sintra", ex-1º cabo carpinteiro, BENG 447 (Brá, 1965/67)

sábado, 2 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23133: Documentos (36): Psico e propaganda: por uma "Guiné Feliz": um desdobrável com postais a cores, tipo Banda Desenhada, doado à Tabanca Grande pelo Joaquim Sequeira, o "Sintra", ex-1º cabo carpinteiro, BENG 447 (Brá, 1965/67)


Postal  nº 2


Postal  nº 3
Postal  nº 4

Postal  nº 5
Postal  nº 6


Postal  n 8

Postal  nº 9


Postal  nº 8


Postal   nº 1 > Guiné Portuguesa, Guiné Feliz... O nosso caamrada Joaquim Sequeira, o "Sintra, que foi 1º cabio carpimnterio, BENG 447 (Brá, 1965/67) assinalou os nomes dos aquartelametos e destacamentos por onde passou em serviço: no sector de Bissau, Brá, Santa Luzia, Bissalanca e Safim; na região de Quínara, Enxudé, Tite, Jabadá e São Joao; no arquipélago dos Bijagós, ilha das Galinhas e Bolama; na região do Gabu, Nova Lamego e Canjambari: no região do Oio,  Cuntima, Jumbembem, Farim, K3, Mansabá,Mansoa, Cutia, Bissorã, Olossato; na região do Cacheu, Binta...

Fotos (e legendas): © Joaquim Sequeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Joaquim Sequeira, o "Sintra",
Tabanca da Linha (2016)


1. Já aqui falámos, mais do que uma vez, dos "cartazes de propaganda que deixávamos no mato, nas clareiras, nos trilhos, nas bolanhas, nas regiões fora do nosso controlo, na esperança de que os guerrileiros do PAIGC, as suas milícias e a sua população se entregassem em massa às nossas autoridades, administrativas e militares" (*).

Pessoalmente, "nunca cheguei a observar os efeitos práticos e objectivos deste tipo de propaganda. Os 'homens do mato' que conheci foram os que fizemos prisioneiros; a população do mato (mulheres, velhos e crianças) que recuperámos, foi a que arrancámos, à força, das zonas controladas pela guerrilha".

O A. Marques Lopes, logo no início do nosso blogue (Poste P81) (*), mandou-nos uma coleção de cartazes, ou melhor, de postais, que voltamos a publicar mas desta vez com melhor qualidade de inagem: a coleção foi-nos dada, para publicação no blogue, pelo Joaquim Nunes Sequeira,  mais conhecido na Tabanca da Linha pela alcunha "O Sintra". Ex-1º cabo carpinteiro, BENG 447, Bissau, 1965/67, é um camarada sempre sorridente, afável, voluntarioso, que exerce (ou exercia antes da pandemia, em 2019)  as funções de vogal da direção e porta-estandarte do Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes.  

Os postais foram por nós digitalizados. É um material produzido no âmbito da Acção Psicológica (mais congecida por Psico) e remonta ao tempo do com-chefe e governador-geral gen Arnaldo Schulz (1964-1968). Já aqui o dissemos: é um material "muito interessante,se bem que revele alguma ingenuidade e uma estética de duvidosa eficácia". Mas trata-se de um documenatação valiosa, com interesse iconográfico e historiográfico. Não a encontro, por exemplo, no sítio do Centro de Documentação 25 de Abril.

Já tínhamos pedido ao  A. Marques Lopes, para ver se descobria a origem e o ano ("Quem os produzia, quando, para usar onde"...).

O Marques Lopes respondeu-me, na altura,  que "esses folhetos que enviei tínhamo-los quer em Geba quer em Barro, portanto em 1967 e 1968, para espalhar pelas matas. Nenhum deles tem indicação de autor ou de origem, mas é certo que apareciam em pacotes vindos do Comando Chefe de Bissau". 

Uma coisa é certa: eram cartazes destinados especificamente ao teatro de operações da Guiné. E deviam ser produzidos no QG/CCFAG, Rep ACAP- Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, cujas instalações se situavam na Fortaleza da Amura. Um dos nossos camaradas que lá trabalhou, na segunda parte da sua comissão, foi o Ernestino Caniço.

2. Julgo que também me passaram pelas mãos alguns desses cartazes, mas não fiquei com nenhum. Alguns foram deixados atabalhiadamente no terreno, depois de uma violenta embioscada dos "homens do mato". Não tive a preocupaçao de guardar nenhum documento desse tipo, de um lado ou do outro. Na altura o que eu queria mesmo era esquecer a Guiné... para sempre.  

A colecção (no fundo, é uma sequência de banda desenhada, sob a forma de um folheto desdobrábvel com uma meia dúzia de postais, impressos de um lado e do outro) começa com uma imagem do mapa da Guiné ("Guiné Portuguesa, Guiné Feliz") (Postal nº 1) (**)

A numeração é da minha única responsabilidade: tem a ver a lógica da sua sequência para efeitos de leitura.

O segundo postal mostra um grupo de guerrilheiros, no mato, feridos e/ou desmoralizados (vd. i,magem no topo deste poste). Os combatentes do PAIGC nunca são tratados como tal, mas simplesmente como "homens do mato" (leia-se: bandidos, indivíduos que estão fora da lei e da ordem). Aliás, no nosso tempo, "ir no mato" era, no falar das gentes da Guiné, juntar-se à guerrilha, fugir das zonas sob administração portuguesa. Portugal, de resto, nunca reconheceu o PAIGC como inimigo, no sentido militar e legal do termo,  nem a luta contra o "terrorismo" (ou a "subversão) como uma situação de guerra, face à Convenção de Genebra. (Postal nº 2)

O título do cartaz é : "No mato, há doença, fome e morte", A legenda, por sua vez, diz o seguinte: "O Chefe do Grupo do mato julga que vai morrer. Foi gravemente ferido"

No Postal nº 3 vemos o mesmo grupo de "homens do mato" a entregar-se às autoridades militares portuguesas da zona. Depois do Chefe do mato ter ido falar com o "homem grande da tabanca" (que veste à maneira fula, o que está longe de ser inocente, já que os fulas eram os nossos grandes aliados).

Legenda: "O Homem Grande diz à tropa que estes homens foram enganados, estão arrependidos e fartos da guerra".

No Postal nº 4 vemos os "homens do mato, arrependidos" serem bem tratados pelas autoridades portuguesas: (i) são tratados pelos enfermeiros da tropa, (ii) bebem cerveja com soldados africanos; (iii) recebem alimentos (pão) da tropa.

No Postal nº 5 vemos uma tabanca, sob a bandeira portugesa (e, parece-me, ao canto superior direito, descortinar uma inverosímil antena de televisão ou takvez antes de rádio. Legenda: "A família e os amigos abraçam a gente do mato que estava enganada e não vivia na tabanca há muito tempo". a 

Por fim, "a tropa e os civis ajudam aqueles que se apresentam a reconstruir a sua tabanca" (clara referência aos famosos "reordenamentos" (o equivalente às "aldeias estratégicas" na Argélia e no Vietname) que, no tempo do Spínola, tiveram um grande incremento (Postalnº 6).

Por fim, surgem os homens grandes de Bissau (o gen Arnaldo Schulz e a sua equipa) para observar (e regozijar.se com)  os progressos: "Agora sim! Aqueles que regressaram arrependidos  vivem contentes na tabanca nova..." concluindo.se que "há paz e alegria e nunca mais faltará Felicidade" (um conceito abstracto, para a generalidade dos guineenses daquela época). (Postal nº 7)

O postal seguinte  tem uma lógica implacável, a da deserção e da rendiçao: "Apresenta-te à tropa, levanta os braços"... Mostra dois "homens do mato", de braços levantados, segurando a sua espingarda semi-automática (Simonov ?) por cima da cabeça (Postal nº 8)... O último postal  é o da bandeira verde-rubra, que se repete nas costas dos postais anteriores.

3. Veja-se o que diz o Centro de Documentação 25 de Abril sobre a propaganda, usada durante a guerra colonial, por um lado e outro:

(...) "A acção psicológica destina-se a influenciar as atitudes e o comportamento dos indivíduos. Na guerra subversiva é utilizada para obter o apoio da população, desmoralizar e captar o inimigo e fortalecer o moral das próprias forças, assumindo três aspectos diferentes, embora intimamente relacionados: acção psicológica, acção social, acção de presença.

"Quer as forças portuguesas, quer os movimentos de libertação, usaram intensamente a acção psicológica como arma, integrando-a na panóplia de meios disponíveis para a conquista dos seus objectivos, dentro da ideia que as palavras são os canhões do séc. XX e que, como se ensinava aos futuros chefes da guerrilha na escola de estado-maior da China, na guerra revolucionária deve atacar-se com 70 por cento de propaganda e 30 por cento de esforço militar.

"A acção psicológica exercida sobre a população, o inimigo e as próprias forças foi conduzida através da propaganda, da contrapropaganda e da informação, de acordo com as finalidades de cada uma destas áreas: a primeira, pretendendo impor à opinião pública certas ideias e doutrinas; a segunda, tendo como finalidade neutralizar a propaganda adversa; por último, a informação, fornecendo bases para alicerçar opiniões. Mas, para serem eficazes, os meios de condicionamento psicológico necessitam de encontrar ambiente favorável.

"Quanto às populações, procurou-se criar esse ambiente propício com a acção social, que visava a elevação do seu nível de vida, para as cativar, conquistando-lhes os corações e originando condições mais receptivas à acção psicológica. Esta acção foi desenvolvida sob a forma de assistência sanitária, religiosa, educativa e económica.

"Relativamente ao adversário, a acção psicológica das forças portuguesas era isolar os guerrilheiros das populações, desmoralizá-los e conduzi-los ao descrédito quer na acção, quer na dos seus chefes. Para o efeito utilizaram-se panfletos e cartazes lançados de aviões ou colocados nos trilhos de acesso e nas povoações, emissões de rádio, propaganda sonora directamente a partir de meios aéreos, apelando à sua rendição e entrega às forças militares ou administrativas, garantindo-lhes e explicando-lhes que a participação na guerrilha constituía um logro". (...) (Negritos nossos)
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 20 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22923: Documentos (35): Comunicações e Ordens enviadas pelo Estado-Maior do Exército e do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné - Anexo à Circular N.º 1703/NP da 2.ª Repartição do Estado-Maior do Exército (2) (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23031: In Memoriam (430): Padre Mário de Oliveira, de 84 anos, ex-alf mil capelão, CCS / BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/68): o funeral realiza-se amanhã, sábado, dia 26, pelas 16h00, no Barracão da Cultura, Macieira da Lixa, sendo sepultado no cemtiério local, em campa rasa, de acordo com o seu testamento de 2009



Fonte:  Página do Facebook do Grupo Barracao da Cultura, ACR "As Formigas de Macieira"


I.  Testamento, do Padre Mário de Oliveira, escrito em 2009 (um documento humano  impressionante, que pode ferir algumas sensibilidades ou suscetibilidades, mas que deve ser lido com espírito ecuménico, indepentemente das crenças ou valores de cada um de nós enquanto leitores):

Prólogo ao Amanhã-que-Vem (ou o meu ”Testamento”)

In: Padre Mário de Oliveira - "Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação". Mira,  Areias Vivas, 2009 (Col Olhares, 1), pp.  661-665.

Não ficaria completo este meu livro, com tudo de póstumo, sem este Prólogo ao Amanhã-que-Vem. Assim, quando, Amanhã, eu me tornar para sempre invisível aos olhos de todas as pessoas, condição sine qua non para me tornar definitivamente vivente na Fonte-e-no-Mar da Vida, o nosso Abbá que um dia me fez Acontecer, por pura Graça, irrepetível e único, no decurso da Evolução-Expansão do Universo, peço a todas, todos Vós, Companheiras /Companheiros com quem mais tenho partilhado a minha vida presbiteral militante e a Mesa comunitária em nome e em memória de Jesus, que tenhais em conta esta minha vontade:

1. No Dia da minha Páscoa definitiva, começai por dar a todas as pessoas, através da Vossa alegria e da vossa paz, a boa notícia: o Mário acaba de explodir / ressuscitar e, desde agora, é definitivamente vivo! Nada de toque de sinos. Nada de anúncios pagos nos jornais. Nada de pagelas panegíricas, sempre despropositadas. E, se possível, tão pouco nada de agências funerárias que sempre se fazem acompanhar por toda aquela tralha de mau gosto e sem sentido, panos pretos ou roxos, cruzes, círios, velas, carros fúnebres, e coisas que tais. Apenas a urna com o meu cadáver dentro, e nada mais. Quando muito, uma fotografia ou mesmo algum vídeo recentes, a remeter as pessoas para o tempo em que estive /estou visível, entre Vós e convosco.

2. Ao meu cadáver — nunca o confundais comigo que, a partir daquele Novíssimo Instante, já serei definitivamente vivente convosco — vesti-o com alguma das roupas que me vedes utilizar diariamente, e depositai-o depois na urna, uma das mais baratas que houver no mercado. Tanto o meu cadáver, como a urna fechada, apresentem-se totalmente despojados de quaisquer símbolos religiosos, como o terço, o cálice, ou a cruz (do Império romano), tudo coisas beatas e deprimentes, por isso, inumanas, pelo menos, simbolicamente.

3. A urna manterse-á sempre fechada, até ser depositada numa campa rasa, em terreno comum destinado aos Sem-jazigo, do cemitério de Macieira da Lixa, a terra que, desde a década de setenta do Século XX, inopinadamente, se tornou / revelou um Lugar Teológico de Deus, o de Jesus, que gosta de Política, não de Religião e, nessa mesma qualidade, se colou para sempre ao meu nome de homem presbítero da Igreja do Porto.

4. Sobre a urna fechada, colocai, até à hora do seu levantamento, exemplares dos meus livros, com destaque para Salmos Versão Século XXI; O Outro Evangelho Segundo Jesus Cristo; Em Nome De Jesus Chicote No Templo; Que Fazer Com Esta Igreja?; E Deus Disse: Do Que Eu Gosto é de Política, Não de Religião; Canto (S) Nas Margens Na Companhia de Jesus e de Ateus e, é claro, também este, Novo livro do Apocalipse ou da Revelação. Nenhumas flores cortadas sobre a urna ou à volta dela, nem, depois, sobre a campa. Na campa rasa, em vez de flores cortadas, lançai sementes de flores de cores alegres e vivas, para que o meu cadáver floresça em festa, nos dias / meses que se seguirem. Colocai, igualmente, um pequeno rectângulo em madeira, à cabeça ou a meio da campa, apenas com estes dizeres e sem nenhuma data: Mário, presbítero da Igreja do Porto.

5. Nenhuma missa — ouvistes bem? Nenhuma missa! — deverá ser celebrada por mim. Nem durante as primeiras 24 horas, após a minha Explosão / Ressurreição, nem depois, nos dias  /meses / anos subsequentes. Confio tanto em Deus, nosso Abbá, Deus de vivos, e não de mortos, que sei que o seu Nome é muito mais glorificado assim, do que com todo esse obsceno Negócio eclesiástico das chamadas ”missas pelos mortos”, que por aí se faz nas paróquias. Um verdadeiro vómito, com tudo de sacrilégio!

6. Se houver mais pessoas que convosco se disponham a acompanhar o meu cadáver dentro da urna fechada, até ao cemitério, fazei-o, do princípio ao fim, em sororal / fraternal conversa, à mistura com cantos, alguns dos quais eu próprio escrevi e continuarei a cantar convosco. Levai também convosco, nos vossos braços, pequenos cestos com nacos de Pão e de Vinho, para Partirdes e Repartirdes singelamente umas com as outras / uns com os outros e com as demais pessoas. Fazei-o em memória de Jesus e em minha memória, enquanto seu discípulo, prosseguidor das suas mesmas Práticas Maiêuticas e dos seus mesmos Duelos Teológicos Desarmados. Esta é, como sabeis, uma prática eucarística que se quer, politicamente, subversiva e conspirativa, que podereis / havereis de prosseguir, a partir desse meu Novíssimo Dia, sempre que duas /dois ou três Vos encontrardes uns com os outros e comigo, definitivamente vivo, em redor de uma Mesa Comum e Partilhada.

7. O meu cadáver dentro da urna fechada não entrará, obviamente, em nenhum dos muitos templos paroquiais que por aí há, todos ou quase todos, outras tantas casas de opressão, de alienação religiosa, de mentira, de idolatria e covis de ladrões, dentro dos quais, ao longo dos séculos, sacrilegamente, se roubou e continua ainda a roubar a voz, a vez, a consciência crítica às pessoas / populações, que os frequentam, e — como não podia deixar de ser — o seu dinheiro. O cortejo, sempre animado com conversas e cantos, seguirá, por isso, directamente para o cemitério da freguesia de Macieira. Tão pouco, haverá orações recitadas / ritualizadas, antes, durante e no final do cortejo, já em pleno cemitério. Apenas Palavras Partilhadas, as vossas, Afectos Partilhados, os vossos, Cantos, Poemas vários, algum Salmo do meu livro Salmos Versão Século XXI e, se possível, Danças de Paz em redor da urna fechada com o meu cadáver. Sabei que, nesse Momento, já eu estou definitivamente vivo convosco e no meio de Vós, ainda que invisível aos vossos olhos.

8. Nenhum clérigo / pastor de Igreja, enquanto tal, presidirá ao cortejo, rumo ao cemitério. O cortejo será presidido por todas / todos Vós e demais pessoas que o integrarem, bispos / presbíteros amigos que sejam. Fá-lo-eis todas / todos em comunhão comigo, definitivamente vivo e definitivamente convosco. Porque a Maioridade Humana que a mesma Fé de Jesus nos dá, dispensa e até recusa toda a espécie de intermediários /hierarcas /poder sagrado, os quais, lá, onde são aceites, apenas eles crescem e se impõem, como eucaliptos que secam tudo em redor. Ora, a minha alegria e a alegria de DeusVivo, nosso Abba, é que todas as pessoas cresçam em Liberdade, em Maioridade, em Vez, em Voz e, com humildade / verdade, tomem nas suas mãos os seus próprios destinos. E os destinos da História e do Planeta. Sem mais necessidade de terem de recorrer a tutores, clérigos ou laicos.

9. Sabei que, em momento algum de todas aquelas horas em que o meu cadáver tiver de estar sobre terra, vós jamais estareis sós. Eu estarei ininterruptamente convosco, invisível aos Vossos olhos, é verdade, mas, intensa e definitivamente, presente no meio de vós e convosco. Sinal / Sacramento desta boa notícia, será o meu cadáver no interior da urna fechada que Vós singelamente entregareis, finalmente, à Terra, também ela ainda à espera do seu Novíssimo Dia de Liberdade e de Paz, na plena Sororidade /Fraternidade universal.

10. Este vosso Acto da Entrega do meu cadáver-grão-detrigo, dentro da urna fechada, à Terra, será de profundo e fecundo Silêncio, para, assim, poderdes escutar o que o Espírito de Jesus e o meu em comunhão com o dele, estaremos a dizer-Vos nessa Hora Derradeira / Primeira.

11. Durante todas aquelas horas que precedem o início do cortejo, rumo ao cemitério de Macieira da Lixa, qualquer de Vós pode, se assim o entender, tomar algum dos meus livros pousados sobre a urna fechada e ler / declamar /cantar /comentar com os demais algum dos seus textos ou poemas, à mistura com outros da vossa autoria ou de outros autores da vossa preferência. Sereis assim, nessa hora, a minha boca, já definitivamente ressuscitado, naquele mesmo Espírito que paradigmaticamente ressuscitou Jesus.

12. Todas, todos Vós sabeis que, felizmente, não tenho bens acumulados para deixar em herança, nem a Vós, nem aos meus familiares de sangue. Sempre quis ser pobre e assim me tenho mantido durante todo o meu viver na História. Quanto aos livros que me têm acompanhado, vida fora, e que estão disponíveis na sede da Associação Padre Maximino, prosseguirão lá, à disposição das pessoas que quiserem consultá-los e lê-los. Caso, um dia, venha a ser dado outro destino àquela casa, então, os livros deverão ser entregues, como um sacramento meu que se parte e reparte, ao Barracão de Cultura, em Macieira da Lixa. O mesmo destino, o Barracão de Cultura, terão os poucos livros e outros objectos do meu uso diário, presentes na casinha alugada em que ultimamente tenho estado a viver em Macieira da Lixa. Igual destino, o Barracão de Cultura, terão também os meus direitos de Autor, pelo menos, até que a sua construção esteja totalmente concluída. Depois, se direitos de Autor ainda houver, deverão ser repartidos em partes iguais entre as duas Associações, as Formigas de Macieira e a Associação Padre Maximino, em S. Pedro da Cova.

13. Entretanto, não penseis que Vos deixo assim sem qualquer herança. Não! Deixo-Vos a mais necessária e a mais valiosa de todas as heranças. Deixo-Vos todas aquelas Práticas Maiêuticas que tenho abraçado ao longo dos anos e todos aqueles Duelos Teológicos Desarmados que tenho travado; deixo-Vos todos os livros (= bíblia) que escutei e, por isso, escrevi; sobretudo, deixo-Vos a Missão Eclesial e Jesuânica de Evangelizar os Pobres e os Povos, que tenho procurado praticar, oportuna e inoportunamente. Para que tudo Vós prossigais, de modo sempre actualizado, na fidelidade ao mesmo Espírito de Jesus.

14. Duma coisa podeis estar certos: na vossa Entrega pessoal a essas mesmas Práticas Maiêuticas e a esses mesmos Duelos Teológicos Desarmados, sempre me encontrareis activo convosco, na primeira linha, porque também para isso é que eu, na minha definitiva Páscoa, me torno para sempre invisível aos vossos olhos e definitivamente vivente, no Vivente Jesus, o de Nazaré, a quem, antes, o Império Romano crucificou, na sua Cruz. Ah! E não esqueçais nunca este meu último Apelo que aqui Vos deixo em Testamento: Amai-Vos umas às outras, uns aos outros, pelo menos, tanto como eu Vos amo. Se possível, ainda mais, muito mais do que eu Vos amo. Vosso, para sempre,

Mário, Presbítero da Igreja do Porto 
Macieira da Lixa, Abril 2009.

Revisão / fixação de texto: Filipe Azevedo | Grupo dos Amigos do Barracão da Cultura . Revisão / fixação de texto complementar, negritos e itálicos, de acordo com o original: LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23024: In Memoriam (430): Padre Mário de Oliveira (1939-2022), ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/68)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22923: Documentos (35): Comunicações e Ordens enviadas pelo Estado-Maior do Exército e do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné - Anexo à Circular N.º 1703/NP da 2.ª Repartição do Estado-Maior do Exército (2) (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)


1. Continuação da publicação dos documentos enviados pelo nosso camarada Victor Manuel Ferreira Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974) em mensagem de 16 de Janeiro de 2022:

Amigos e Camaradas da Guiné
Existem algumas fotografias publicadas sobre alguns militares das NT em acções políticas usando viaturas do Exército e camisolas do IN (PAIGC), abraços, envolvendo oficiais etc, que ocorreram durante o período pós 25 de Abril na Guiné,que desconhecia. Quero lembrar que, além de sermos militares, as Delegações do MFA tinham toda a informação sobre o processo negocial e a postura a assumir. Estas ações políticas, no processo de transferência de soberania da Guiné, a mim parecem-me no mínimo, desnecessárias, despropositadas, não respeitaram os nossos mortos em combate, não melhoraram a nossa imagem e entendo que não deviam ter acontecido.
Devo no entanto dizer que foi emitido um comunicado do Secretariado do MFA na Guiné de 16 de Junho de 74, com a linha política definida pela 5.ª Divisão constituída em 15 de Junho de 1974, onde estas actividades podiam eventualmente ser enquadradas. Desconheço porém se exerceram alguma influência no comportamento destes militares.

Assim é meu propósito dar a conhecer e tornar públicas as comunicações e ordens que recebemos enquanto Delegação do MFA na Guiné da parte do Estado Maior do Exército e do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné relativas a esse período, nomeadamente a Circular N.º 1703/NP e anexo, mandadas executar pelo ex-Cap. Dias Silva e mais tarde reafirmadas pelo próprio como mostra a nota original escrita a vermelho por cima da Circular N.º 2736/AP/74, cito "Deve a delegação do MFA desta dar cumprimento rigoroso explicando a todo o pessoal em 25/7/74", Dias Silva Cap - e que apelavam à disciplina e respeito pela hierarquia e informação das NT sobre as negociações em curso do Processo de Paz na Guiné, a abstenção de actividades políticas no exercício das nossas funções dentro do quartel, etc. Estava aberta a via negocial para o conflito, as ordens eram muito claras e equilibradas e foram cumpridas e executadas por todos nós. Só nos restava esperar o Acordo das partes em confronto para sairmos da Guiné com a cabeça erguida e regressar a casa. Assim aconteceu, a CCaç 4541/72, não esqueceu os camaradas mortos e feridos em combate, nomeadamente aqueles em Choquemone no dia 21 de Novembro de 1972. Tinham algum ressentimento resultante da condução desta operação e do número de militares envolvidos que sempre os acompanhou. Quando cheguei a esta CCaç encontrei "velhos" que não eram vaidosos, sabiam de guerra, tinham tarimba e era notável a sua capacidade psicológica e estas, tive a sorte de aprender com eles. No período de transição não tivemos nenhum envolvimento ou problema com o PAIGC e mantivemos nosso bom relacionamento com a população local.

Relativamente ao Comunicado às Delegações do MFA de 16 de Junho de 1974, devo dizer que não foram realizadas estas ações na nossa Unidade, no entanto eu recebi essa comunicação. Tem uma inscrição original escrita a vermelho, na parte superior, dirigida a mim, Fur. Costa. Estudei este documento e decidi que não me competia a mim enquanto militar nem me sentia habilitado para fazer esclarecimento político sindical, propaganda e animação cultural e outras que constam deste comunicado. Entendi também, que não era possível conciliar este tipo de ações com disciplina e hierarquia próprias da Instituição Militar.

Note-se que a Circular N.º 1703/NP de 28/5/74 diz claramente, que: (Perante a política, as Forças Armadas têm que ser imparciais, coesas e conscientemente disciplinadas) e nós graduados devíamos dar o exemplo.
Na operação acima citada estes rapazes da CCaç 4541/72, tinham menos de dois meses de Guiné, eram "Piriquitos". Porque lhes foi atribuída esta missão? Será que os Donos da Guerra, dos alfinetes, mapas e mesas, nas salas em Bissau como alguém aqui e muito bem lhes chamou, tinham consciência do tempo necessário para fazer um operacional? Penso que não. Na minha opinião, eram necessários seis meses de atividade operacional numa zona de menor atividade, antes de sermos colocados no ferro. Entretanto a CCaç 4541 vai para Bissau tratar das feridas do Choquemone. Ainda estas não tinham sarado, um mês depois, "operação Grande Empreza", conquista do Cantanhez na posse do IN onde era o "Maior". Entram na posse de Caboxanque gentilmente cedida pelas CCP 121 e 122 e mantêm-nas em sua posse até serem transferidos para Safim em Março de 1974. As guerras nem sempre são justas, mas hoje temos um problema mais grave no nosso país: Não valorizamos os nossos guerreiros. Penso que não devemos fechar este debate, nunca esqueci os lamentos e raiva de alguns deles, "se fosse hoje aquilo nunca tinha acontecido". Como é evidente, referiam-se à Operação do Choquemone.

(Seguem os documentos citados)
Circular Nº1703/NP e anexo de 28/5/74
Circular Nº2736/AP/74 de 22/7/74
Comunicado às Delegações do MFA em Bissau de 16 de Julho de 1974

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf


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(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22921: Documentos (34): Comunicações e Ordens enviadas pelo Estado-Maior do Exército e do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné - Circular N.º 1703/NP da 2.ª Repartição do Estado-Maior do Exército (1) (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22921: Documentos (34): Comunicações e Ordens enviadas pelo Estado-Maior do Exército e do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné - Circular N.º 1703/NP da 2.ª Repartição do Estado-Maior do Exército (1) (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)


1. Mensagem do nosso camarada Victor Manuel Ferreira Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 16 de Janeiro de 2022:

Amigos e Camaradas da Guiné
Existem algumas fotografias publicadas sobre alguns militares das NT em acções políticas usando viaturas do Exército e camisolas do IN (PAIGC), abraços, envolvendo oficiais etc, que ocorreram durante o período pós 25 de Abril na Guiné,que desconhecia. Quero lembrar que, além de sermos militares, as Delegações do MFA tinham toda a informação sobre o processo negocial e a postura a assumir. Estas ações políticas, no processo de transferência de soberania da Guiné, a mim parecem-me no mínimo, desnecessárias, despropositadas, não respeitaram os nossos mortos em combate, não melhoraram a nossa imagem e entendo que não deviam ter acontecido.
Devo no entanto dizer que foi emitido um comunicado do Secretariado do MFA na Guiné de 16 de Junho de 74, com a linha política definida pela 5.ª Divisão constituída em 15 de Junho de 1974, onde estas actividades podiam eventualmente ser enquadradas. Desconheço porém se exerceram alguma influência no comportamento destes militares.

Assim é meu propósito dar a conhecer e tornar públicas as comunicações e ordens que recebemos enquanto Delegação do MFA na Guiné da parte do Estado Maior do Exército e do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné relativas a esse período, nomeadamente a Circular N.º 1703/NP e anexo, mandadas executar pelo ex-Cap. Dias Silva e mais tarde reafirmadas pelo próprio como mostra a nota original escrita a vermelho por cima da Circular N.º 2736/AP/74, cito "Deve a delegação do MFA desta dar cumprimento rigoroso explicando a todo o pessoal em 25/7/74", Dias Silva Cap - e que apelavam à disciplina e respeito pela hierarquia e informação das NT sobre as negociações em curso do Processo de Paz na Guiné, a abstenção de actividades políticas no exercício das nossas funções dentro do quartel, etc. Estava aberta a via negocial para o conflito, as ordens eram muito claras e equilibradas e foram cumpridas e executadas por todos nós. Só nos restava esperar o Acordo das partes em confronto para sairmos da Guiné com a cabeça erguida e regressar a casa. Assim aconteceu, a CCaç 4541/72, não esqueceu os camaradas mortos e feridos em combate, nomeadamente aqueles em Choquemone no dia 21 de Novembro de 1972. Tinham algum ressentimento resultante da condução desta operação e do número de militares envolvidos que sempre os acompanhou. Quando cheguei a esta CCaç encontrei "velhos" que não eram vaidosos, sabiam de guerra, tinham tarimba e era notável a sua capacidade psicológica e estas, tive a sorte de aprender com eles. No período de transição não tivemos nenhum envolvimento ou problema com o PAIGC e mantivemos nosso bom relacionamento com a população local.

Relativamente ao Comunicado às Delegações do MFA de 16 de Junho de 1974, devo dizer que não foram realizadas estas ações na nossa Unidade, no entanto eu recebi essa comunicação. Tem uma inscrição original escrita a vermelho, na parte superior, dirigida a mim, Fur. Costa. Estudei este documento e decidi que não me competia a mim enquanto militar nem me sentia habilitado para fazer esclarecimento político sindical, propaganda e animação cultural e outras que constam deste comunicado. Entendi também, que não era possível conciliar este tipo de ações com disciplina e hierarquia próprias da Instituição Militar.

Note-se que a Circular N.º 1703/NP de 28/5/74 diz claramente, que: (Perante a política, as Forças Armadas têm que ser imparciais, coesas e conscientemente disciplinadas) e nós graduados devíamos dar o exemplo.
Na operação acima citada estes rapazes da CCaç 4541/72, tinham menos de dois meses de Guiné, eram "Piriquitos". Porque lhes foi atribuída esta missão? Será que os Donos da Guerra, dos alfinetes, mapas e mesas, nas salas em Bissau como alguém aqui e muito bem lhes chamou, tinham consciência do tempo necessário para fazer um operacional? Penso que não. Na minha opinião, eram necessários seis meses de atividade operacional numa zona de menor atividade, antes de sermos colocados no ferro. Entretanto a CCaç 4541 vai para Bissau tratar das feridas do Choquemone. Ainda estas não tinham sarado, um mês depois, "operação Grande Empreza", conquista do Cantanhez na posse do IN onde era o "Maior". Entram na posse de Caboxanque gentilmente cedida pelas CCP 121 e 122 e mantêm-nas em sua posse até serem transferidos para Safim em Março de 1974. As guerras nem sempre são justas, mas hoje temos um problema mais grave no nosso país: Não valorizamos os nossos guerreiros. Penso que não devemos fechar este debate, nunca esqueci os lamentos e raiva de alguns deles, "se fosse hoje aquilo nunca tinha acontecido". Como é evidente, referiam-se à Operação do Choquemone.

(Seguem os documentos citados)
Circular Nº1703/NP e anexo de 28/5/74
Circular Nº2736/AP/74 de 22/7/74
Comunicado às Delegações do MFA em Bissau de 16 de Julho de 1974

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf



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(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22800: Documentos (33): Acção Militar na Guiné (1963/1964) - Docs. respeitantes à acção militar na Guiné, pelo General Fernando Louro de Sousa, Junho de 1965 (Vírgínio Briote)

sábado, 11 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22800: Documentos (33): Acção Militar na Guiné (1963/1964) - Docs. respeitantes à acção militar na Guiné, pelo General Fernando Louro de Sousa, Junho de 1965 (Vírgínio Briote)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489/BCAV 490 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 10 de Dezembro de 2021, trazendo em anexo o Relatório do então Brigadeiro Louro de Sousa, CMDT Militar da Guiné nos anos 1963 e 1964, que abaixo se publica:

Caro Carlos,
Não sei se alguma vez foi publicada no Blogue este relatório do Brigadeiro Louro de Sousa, Cmdt Militar da Guiné nos anos 1963 e 1964.

Como é do conhecimento dos Camaradas que têm seguido de perto o nosso Blogue e se interessam pelos assuntos da Guerra na Guiné, a figura do Brigadeiro Louro de Sousa tem sido alvo de críticas e, alguns historiadores consideram-no responsável pela rápida implantação do PAIGC, em especial na região Sul.

Este relatório foi elaborado pelo Brigadeiro e entregue à CECA (Comissão para o estudo das campanhas de África) é o resumo do que foi feito durante o seu Comando.
Vê se tem interesse em publicar.

Desejo-vos um Natal com Saúde.
Até um dia destes, Carlos.
Abraço.
V. Briote


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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22326: Documentos (32): Ordem de Serviço n.º 40 do Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné com o discurso de despedida do General Spínola, dirigido aos Militares de Terra, Ar e Mar e Mílicias em serviço na Guiné (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

terça-feira, 29 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22326: Documentos (32): Ordem de Serviço n.º 40 do Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné com o discurso de despedida do General Spínola, dirigido aos Militares de Terra, Ar e Mar e Mílicias em serviço na Guiné (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 25 de Junho de 2021, trazendo em anexo a transcrição da OS N.º 40, de 13 de Setembro de 1973, do Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné, com a mensagem de despedida do General Spínola após terminar as suas funções de Governador da Província e Comandante-Chefe da Forças Armadas da Guiné:


ORDEM DE SERVIÇO N.º 49

BISSAU, 13 DE SETEMBRO DE 1973

SUA EXCELÊNCIA O COMODORO COMANDANTE-CHEFE INTERINO DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ DETERMINA E MANDA PUBLICAR:

Art.º 1.º - MENSAGEM DE DESPEDIDA DE SUA EXCELÊNCIA O GENERAL COMANDANTE-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ

Militares de Terra, Ar e Mar
Milícias

Após mais de cinco anos no Governo da Província e no Comando das suas Forças Armadas, chegou o momento do render da guarda. E ao cessar as funções de Comandante-Chefe, é sob a mais viva emoção que vos dirijo esta mensagem de despedida, em testemunho do meu muito apreço pelo gigantesco esforço que vindes desenvolvendo na defesa desse sagrado rincão da Pátria e do ideal que preside à construção da nova sociedade que aí se ergue. E embora as minhas palavras sejam para todos, sem distinção de origem ou hierarquia, elas destinam-se, em especial, aos Soldados e Marinheiros, Europeus e Africanos.

Para os Europeus, que obedecendo ao imperativo do Dever se arrancaram ao seio das suas famílias para darem à causa da Pátria o melhor de si próprios, vai toda a expressão de um vivo sentimento repassado de verdadeira admiração. Cumprindo com sublime nobreza e inexcedível generosidade a vossa comissão de serviço, sois o espelho de um Povo que ao longo de oito séculos de História jamais regateou o suor e o sangue ao serviço de ideais em que acredita; povo que em vós bem merece ser venerado e amado, no profundo respeito pela obra eminentemente humana que aí estais edificando com a arma numa das mãos e na outra a ferramenta do progresso através do qual vindes a operar a mais nobre das conquistas: a do coração dos nossos Irmãos Africanos. A esta cruzada eminentemente nacional vos devotaste em dádiva de total generosidade, não olhando a sacrifícios e desprezando perigos. Magnífica lição de verdadeiro patriotismo, esta que vindes dando àqueles que teimam em ignorar que a Pátria é, acima de tudo, uma ideia viva alimentada pelo esforço de quantos por ela são capazes de dar a vida. Destes-me, dessa Pátria, uma imagem sublime que jamais colhi senão junto dos soldados que comandei nos matos de Angola e Guiné. Por isso me orgulho de vos ter comandado e agradeço a lição que, de vós, recebi.

Dirijo-me aos Africanos, que encontraram, finalmente, na justiça, na valorização e dignificação humana o caminho da verdadeira independência, e que por ele optaram, empunhando as armas. E, dentre Vós, a primeira palavra é para os “Comandos Africanos” que se cobriram de glória em defesa do chão português da Guiné e das suas martirizadas Gentes. Formulo votos para que o vosso ânimo não esmoreça na luta para a construção de uma fraterna comunidade Luso-Guineense, em cujo seio os Guinéus se sintam conscientes da sua dignidade de homens e orgulhosos da sua qualidade de cidadãos livres.

Desejo ainda deixar uma palavra de despedida ao Corpo de Milícias. A mais bela e inequívoca expressão de livre vontade de um Povo que defende, lado a lado com as Forças Armadas, a terra onde nasceu e o seu ideal de afirmação humana.

De todos vós, militares de Terra, Ar e Mar e Milícias, me despeço emocionado e agradecido pelo esforço que vindes desenvolvendo na construção do Portugal do Futuro; esforço que não podemos deixar trair, pois não só assim o querem todos os que aí lutam e trabalham, como também o exigem o sangue dos nossos mutilados e a memória dos nossos mortos.

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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21312: Documentos (31): Envio de Declaração de comprometimento de voltar a Jolmete em alternativa a uma ida "d'assalto" para Paris (Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2366)



1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada), com data de 31 de Agosto de 2020:

Carlos Vinhal
Um abraço.

No "baú dos despejos" encontrei esta declaração que terei assinado para vir de férias, e que me terá sido devolvida porque não fui "d'assalto" até Paris...

Fazia parte das regras militares assinar este tipo de declaração.

Partilha o documento com a Tabanca.

Novo abraço
Porto, 30/8/2020
Eduardo Moutinho Santos
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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18619: Documentos (30): Directiva n.º 5/71 do General Spínola para disciplinar a atribuição de Condecorações no TO da Guiné, perante a discrepância entre os 3 Ramos das Forças Armadas (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 19 de Abril de 2018, trazendo em anexo a Directiva n.º 5/71 do General António de Spínola onde chama a atenção para a discrepância entre os três Ramos das Forças Armadas na atribuição de Medalhas Militares.

Boa tarde, Carlos!
Em arrumações, dei com uma pasta com documentos sobre a guerra na Guiné que tem alguns elementos que podem ter interesse, não só para os nossos Camaradas como para os curiosos da Guerra na Guiné.
Por hoje envio-te um documento, sem comentários porque o acho esclarecedor, sobre a premente Questão das Medalhas.
Espero que o apreciem.
Tenho, pelos vistos, mais alguns com interesse, especialmente dos tempos do Gen. Spínola.

Um abraço até Monte Real.
V Briote


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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15731: Documentos (29): Ata da reunião do CEMGFA, Costa Gomes, com os comandos do CTIG, Bissau, 8/6/1973 (José Matos, historiador independente)





Cópia de documento de 4 páginas, do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), de 15/6/1973, com o relato de uma reunião com os comandos militares do CTIG em 8 de junho de 1973.   Francisco da Costa Gomes (1914-2001) foi CEMGFA de 5/9/1972 a 13/3/1974.   Visitou o CTIG,  de 6 a 9 de junho de 1973.



1. Mensagem, com data de ontem, do José Matos, 

[ O nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ), é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.

Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74).]

Olá, Luís

Mando-te um documento [, de 4 pp.]  interessante sobre a reunião que Costa Gomes teve na Guiné, quando foi lá em Junho de 1973, de 6 a 9.

Ab, Zé

2. Comentário do editor:

Obrigado,  Zé. Os antigos combatentes da Guiné, e não apenas os investigadores, têm direito a conhecer estes "documentos para a história"...

 O documento que reproduzimos, com data de 15/6/1973, ontem "muito secreto, hoje "desclassificado", à guarda do Arquivo de Defea Nacional, para consulta dos estudiosos e historiadores,  fala por si, mas tu tens aqui no blogue vários postes teus  que ajudam o nosso leitor  a compreendê-lo melhor, a partir da sua  contextualização histórica, geoestratégica, política e militar.

Julgo que pode este documento pode (e deve) ser visto como complemento à série Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, aqui publicada há menos de 4 anos (*), da autoria do Luís Gonçalves Vaz [, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74, e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo]. (*)

Na realidade, em 8/6/1973, o que o CEMGFA fez, foi um "briefing" com os todos os comandos militares do CTIG. Recorde-se,  citando o poste P9639, do Luís Gonçalves Vaz (*), que três semanas antes,  “em 15 de Maio de 1973, pelas 10h30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos",  respectivamente:

(i) Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné;

(ii) Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné;

(iii) Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional;

(iv) e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.

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Nota do editor: