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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9692: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (1): Analfabetismo, um outro combate

1. Mensagem de Manuel Joaquim* (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 28 de Março de 2012:

Meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Durante a minha vida militar na Guiné, tirando os quatro meses iniciais, sempre dei aulas, melhor dizendo, fiz alfabetização. Guardei sempre uma parte do meu tempo livre para proporcionar a muitos soldados a obtenção da quarta classe e, nos últimos quatro meses, trabalhei a tempo inteiro com soldados e com crianças. A minha "guerra" foi sublimada com este meu trabalho de que me orgulho e ao qual me dediquei. Talvez ingenuamente foi a procura dessa sublimação o que sempre me conduziu na minha atividade como combatente. Precisei desse objetivo mesmo sem saber ou pouco me importar qual o resultado final.

Titulei este trabalho com "Um professor na guerra". Professor e combatente fui de certeza. O título está para o"frouxo". Arranjam-me um melhor para este relato? Vai dividido em quatro partes. Se acharem por bem publicar é possível que prefiram uma outra divisão. Fica ao vosso critério.

Manuel Joaquim


UM PROFESSOR NA GUERRA

I - Analfabetismo, um outro combate 

Por Manuel Joaquim

É um facto que, inicialmente, por atitude dos comandos militares locais e mais tarde por ordem governamental para a generalidade do território, os militares portugueses muito fizeram para combater o analfabetismo reinante na então chamada província da Guiné. Analfabetismo este que era quase geral quando se refere a população local e era muito grande, vergonhosamente grande, no seio dos nossos soldados.

A minha maior surpresa política quando cheguei à Guiné foi constatar que a língua portuguesa era uma coisa residual, praticamente ninguém a falava fora dos círculos da chamada elite social. “Os 500 anos de Portugal no território da Guiné, parte inalienável da pátria portuguesa” (como se dizia na altura) nem sequer tinham conseguido implantar a língua portuguesa como veículo de comunicação global!

Cheguei à Guiné no início de agosto de 1965, tinha 24 anos de vida e 18 meses de “tropa”. Pode-se dizer que, naquelas circunstâncias, era um veterano perante a idade (civil e militar) da quase totalidade dos meus camaradas da companhia. Apesar de ser ideologicamente contra a guerra, assumi até ao “miolo” a situação de combatente, sem subterfúgios, sem resistências, sem manigâncias (havia por lá tantas!) para me escapar à atividade operacional.

No início do ano de 1966, o meu comandante de companhia vem pedir-me que tomasse conta da alfabetização de alguns soldados. O meu “sim” foi imediato e feliz:

Bissorã, 24FEV66 (... ... ...) Há uns tempos para cá tenho a meu inteiro cargo a instrução primária de 44 soldados, o que me ocupa todas as tardes e princípios de noites, precisamente o tempo mais propício ao descanso. Mas eu trabalho com gosto. Até porque é o meu único trabalho oficial válido. E os alunos compreendem e acarinham-me. O que é certo é que o tempo livre voou quase todo.(... ... ...)

E assim, durante mais de um ano, tive mais esta ocupação que me manteve psicologicamente bem à tona. Nos intervalos da minha atividade militar dei aulas a mais de três dezenas de soldados, alguns deles analfabetos, tentando preparar a maior parte deles para o exame da 4ª classe. Profissionalmente, estava na minha “quinta” pois era professor do quadro do ensino primário. Levei esta missão muito a sério, com devoção mesmo. Também os alunos o fizeram e o resultado foi terem completado o ensino primário, aprovados em exame oficial realizado nos termos legais, por um júri presidido pelo diretor provincial do ensino. Aprovados sem qualquer favor especial, bastou terem cumprido os objetivos mínimos (os mesmos que, em Portugal, estavam estabelecidos para o ensino de adultos). Foi um ponto de honra que assumi com os alunos.

Os poucos, à volta da dezena, que o não conseguiram, aprenderam os rudimentos do português escrito e da matemática, permitindo-lhes terem um certificado da 3ª classe que, pelo menos, lhes retirou o estigma de analfabetos. Aqui, confesso, houve alguma condescendência. Foi um dos momentos altos da minha vida pessoal e profissional. Resultado de um trabalho muito gratificante que proporcionou a mais de três dezenas de soldados um diploma escolar muito importante, diploma este que era essencial para um retomar da sua vida civil em condições muitíssimo mais favoráveis. Ter este diploma nas mãos foi para eles também uma grande vitória, deveu-se ao seu esforço e dedicação, à sua coragem para resistirem às tentações dos tempos livres. Senti-me feliz ao ver reconhecido o meu esforço e dedicação:

Mansabá, 10ABRIL67 (... ... ...) Reconheceram-no e ontem à noite organizaram uma festinha muito simples e comovente em minha honra. Senti-me confundido com a sua atitude, o seu reconhecimento por tudo o que fiz por eles, que sem dúvida foi alguma coisa sem outro intuito qualquer que não fosse o de instruí-los. A festinha terminou com razoáveis bebedeiras e eu, por pouco, não apanhei também a “perua”. Senti-me feliz, deveras satisfeito.(... ... ...) 

Sei que outros militares combatentes, como eu, dedicaram muito do seu tempo livre a alfabetizar muitos dos seus camaradas soldados, a combater o miserável analfabetismo que grassava neste país “farol da civilização”(!) como diziam as pancartas do regime político da época. Um país que, no início da 2ª metade do século XX, tinha um exército constituído por mais de um terço de analfabetos e uma outra parte dos soldados desse exército pouco mais sabia que soletrar e escrever o nome e fazer “de cabeça” umas simples continhas!

Quero aqui prestar homenagem aos que, acumulando com as atividades militares para que tinham sido mobilizados, se entregaram ao ensino de alguns seus camaradas e de muitas crianças das povoações onde estavam inseridos. Sem retorno económico ou de descanso, foram “missionários” da civilização, do bem comum. O meu caso não se compara, o trabalho foi mais fácil, exerci a minha profissão, “sabia da poda”. As minhas homenagens a quem o merece!

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9554: Reflexões sobre a Guerra Colonial / Guiné-Bissau (Manuel Joaquim)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Guiné 63/74 – P8104: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (12): Gente jovem e a memória da guerra dos seus avós…

1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 - Binta -, 1964/66, com data de 12 de Abril.


Camaradas,


Depois de longa ausência, eis-me a dar provas de vida... Remeto um texto alusivo a uma "conversa" que tive recentemente com 120 alunos de uma Escola de Alcobaça.

Felizmente que os velhotes ex-combatentes já vão sendo convidados pelas direcções de algumas escolas. Aconteceu comigo e não desperdicei a oportunidade de transmitir à gente jovem algo da história recente de Portugal, que teve a ver alguns dos familiares mais velhos... No que me diz respeito foi uma experiência gratificante que gostaria de partilhar com a "Tabanca Grande".


GENTE JOVEM E A MEMÓRIA DA GUERRA DOS SEUS AVÓS…



O Prof. Luís Tavares apresentou-me. «O José Eduardo esteve na Guerra Colonial, já escreveu um “Diário” e um livro sobre os seus tempos da Guiné e aceitou o convite da nossa Escola para falar sobre o assunto," dentro do programa de actividades do “Acontece D. Pedro I”.  Vai, em jeito de conversa, falar uns minutos e depois responderá às vossas perguntas. Ponham os vossos telemóveis em silêncio e… vamos ouvir».

O auditório estava cheio. Olhei para o relógio. Eram 10h05. Comecei a falar para 120 alunos dos 9ºs. A, B, C, D e E, com idades compreendidas entre os 14 e 18.
Ensaiei um “quadrado” entre os jovens que se sentavam na parte central do auditório. Houve risota e alguma confusão mas aceitaram bem a minha proposta.
Disse-lhes que mais tarde iriam perceber o porquê daquela “cena”. Tinha decidido centrar a minha “palestra” em dois temas e em dois tempos baseados na minha experiência de dois anos de Guiné.  Os temas escolhidos: o “baptismo de fogo” e a recuperação de populações. Os dois tempos: o da guerra e o da paz. Mostrei-lhes a capa do meu livro de memórias.
“Golpes de mão’s.”- Uma mão suja de sangue – do tempo da guerra – e uma mão suja de terra - do tempo da paz -. Evocando o trabalho na terra, o regresso das populações e as sementeiras da paz.

Seguiu-se a projecção de um “power point” com especial incidência na primeira operação militar –a do “baptismo de fogo” – que incluiu a “cena” do “quadrado” para perceberam como nos deslocávamos no mato e como poderíamos ripostar ao fogo do inimigo... sem nos matarmos uns aos outros.

E depois o tempo de perguntas e respostas. As habituais deste escalão etário. O medo, a morte, as armas, que língua falávamos com as gentes da Guiné, o correio, as madrinhas de guerra, a saudade, os meninos, o que aconteceu depois da guerra…
Mesmo a acabar a pergunta inesperada:
- Se pudesse voltar atrás iria de novo para a guerra?
Com a sua carga de ingenuidade a pergunta surpreendeu-me. Foi feita por uma jovem de 16 anos.
Para ganhar tempo fui-lhe dizendo que era uma pergunta pouco habitual. Que nunca me tinha sido colocada.
Estava de pé no palco do auditório frente a uma plateia que esgotava os 120 lugares.  Repeti diversas vezes a questão em voz alta e,  olhando para a miúda aproximei-me dela, apetecendo dizer-lhe:
- Que raio de pergunta?
Mas não o fiz.
Ia arrumando as ideias e finalmente respondi-lhe:
- Não se pode voltar atrás no tempo mas... se me tivesse sido possível, não teria ido. Mas se não tivesse ido,  não estaria aqui a partilhar estas memórias.  Nem teria conhecido os meus irmãos da “CCaç.675”…
E pela cabeça iam-me passando imagens e nomes. Em catadupas. Como rajadas de metralhadora. Da “675” revia o Capitão Tomé Pinto, o Tavares, o Santos, o médico, o Moreira, o Mesquita, o Cravino, o Figueiredo, o” Rato”, o “Campo de Ourique” ,o “Caldas”, o “Almeirim”… E da “Tabanca Grande”, o Luís Graça, o Vasco da Gama, o Mexia Alves, o José Belo, o Miguel Pessoa e a Giselda, o Jorge Cabral, o Carlos Vinhal, o M.R., o J.D. e tantos outros.
- Portanto…,  jovem,  a resposta à tua pergunta é que… à distância no tempo tenho mais coisas boas do que más. Tendo em atenção um rápido balanço das memórias que me passaram pela cabeça, vou-te responder que sim.  Valeu a pena ter ido à guerra… porque tive a sorte de voltar. Mas sou um homem de paz. E o que mais me marcou foi o que de bom fizemos depois do regresso das populações. Que nesses tempos longínquos teriam tido mais… do que têm hoje.
Olhei para o relógio. Marcava 11.25. Fiquei espantado. Como o tempo tinha passado depressa!
Ia jurar que tinha começado a falar há 10 minutos! Alguns miúdos vieram ao palco despedir-se de mim. Antes a “malta” tinha aplaudido. Foram simpáticos. Teriam saído dali a saber alguma coisa da”guerra colonial”, como tinha dito o Prof. Luís Tavares, ou da “guerra do ultramar”,  como tinha dito o velhote da barba branca!?
Alguma coisa lhes deve ter ficado. Digo eu. Que sou um optimista e acredito nos jovens. Assim também eles encontram na vida laços, inquebráveis, solidários, mesmo que nascidos de vivências e fadários. Porque esses nos unem… p’ra toda a vida.

Um grande abraço abraço de Alcobaça,

JERO
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5346: Não-estórias de guerra (3): A minha Escola (Manuel Amaro)

1. Mensagem de Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71), com data de 23 de Novembro de 2009: Caros Editores, Junto envio mais uma Não-estória de guerra, desta vez sobre a Escola. Um Abraço, Manuel Amaro 


  Não-estórias de guerra:A Escola 


 Hoje venho falar sobre sobre a Escola, a minha Escola. Que escrito assim, até pode parecer que é apenas uma. Mas, não. São duas Escolas. Uma em Aldeia Formosa. A outra em Nhala. Nem imaginam como eu gostaria de vos falar de outras Escolas. Do Colégio do Bom Sucesso. Ou do Externato da Princesa Santa Joana. Mas não. A minha Escola, a nossa Escola, é Aldeia Formosa e Nhala, nos anos lectivos de 1969/70 e 1970/71. 

 Eu cumpri estes dois anos lectivos, com um prazer enorme. O primeiro foi incompleto, porque o PAIGC atacou e era preciso travar o inimigo. Claro que o Comandante tinha uma “arma secreta”, para resolver a questão. E lá avançou o professor, mesmo em prejuízo da escola. Em Nhala fiz o ano completo. É certo que, em qualquer terra, por todo o globo, ser o Professor, é ter um estatuto social diferente, para melhor, em relação à maioria da população local. Frequentemente recebia doses de bananas, ananases, mangas, até galinhas e frangos… que o maqueiro da CCS transformava em “grambrinescos” petiscos. Mesmo em tempo de guerra, em Aldeia Formosa e Nhala. 

 No início não foi fácil. O edifício destinado à Escola ainda estava em construção. As aulas começaram numa tenda, com bancos de madeira e os alunos escreviam com o caderno apoiado nas pernas. No primeiro dia de aulas compareceram todos os alunos matriculados. Bem vestidos, lavados, alguns de sandálias, um dos mais crescidos apresentou-se mesmo com sapatos e meias, mas a maior parte “calçados” à moda de Aldeia Formosa. No entanto fiquei bem impressionado. Era quase uma Escola a sério. Passados uns dias comecei a notar algum desleixo na higiene, mas o que mais me impressionava, além da ausência de sapatos, eram os narizes sujos, tão sujos… O meu primeiro impulso foi dizer, ou gritar… não aguento… Mas depois, lembrei-me que na civilizada Metrópole também havia gente assim. Alguns, com honras de figurar em excelentes obras da literatura portuguesa. Vitorino Nemésio escreveu (e falou na RTP), sobre um seu colega de carteira na Escola Primária, na Ilha do Faial, que andava sempre ranhoso e de vez em quando limpava o nariz à manga da camisa, que utilizava meses a fio, sem ser lavada. “O Marcos”, de Miguel Torga, é apresentado de “…penugem arrebitada e com duas torcidas de ranho no nariz”. Ao ser-lhe dito para se assoar, fê-lo, de imediato, à manga do casaco. 

 Mas aquela turma, a minha turma, cheia de ranho, nem sequer tinha mangas, nem de camisa, nem de casaco. No máximo tinham fraldas de camisa. Sim, isso eles tinham. Então adoptei o sistema de, sempre que necessário, fazia o gesto na direcção do nariz, o aluno saía da aula e voltava com o nariz limpo, ou pelo menos sem ranho. Não sei como faziam e jamais tive essa curiosidade. A surpresa agradável é que aquelas crianças eram muito inteligentes. E apesar de terem entre sete e 12 anos, tinham uma boa capacidade de aprendizagem e de raciocínio. Todos? Não, mas a maioria deles, sim. 

 Um dia contei-lhes a história do aluno madeirense (que me desculpem todos os madeirenses), que, perante a imagem do tubérculo, soletrava b+a=ba… t+a=ta… t+a=ta… e depois dizia… Semelha. Perceberam perfeitamente. Riram e prometeram que não iriam cometer esse tipo de erros. Para o ensino da aritmética, comecei por requisitar, no depósito de géneros, um saco de grão de bico, de forma a que todas as operações enunciadas no quadro fossem representadas fisicamente por grãos. Aos grãos de bico, umas vezes chamávamos soldados, outras vezes ananases, outras vezes pães… 

 E apesar das condições precárias nunca deixei de completar o programa com aulas de educação física, música/canto e jogos infantis. Passados mais de 38 anos, ainda tenho saudades da minha Escola. As fotos anexas constituem prova. Nunca foram destruídas. Jamais serão arquivadas. 

  Em tempo: Porque falamos de memórias não quero deixar de referir que, enquanto Professor, eu dependia de uma hierarquia constituída por Pedro Pezzarat Correia, (major), no BCAÇ 2892 e Otelo Saraiva de Carvalho (capitão) e António Ramalho Eanes (major), ambos na REP ACAP, em Bissau. 

 Manuel Amaro


 
Posto Escolar Militar de Aldeia Formosa, Dez 1969

Aldeia Formosa, 1970 - Recreio (visita de um furriel da CArt 2521)
Nhala, 1971 - Educação Física no Campo de Futebol
Nhala, 1971 - Os melhores em acção Fotos e legendas: © Manuel Amaro (2009). Direitos reservados

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Nota de CV: 

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4816: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (12): E se o Algássimo tivesse razão ?

1. Continuação da publicação das memórias do Cherno Baldé, menino e moço em Fajonquito (1970/75), hoje quadro superior da administração pública da República da Guiné-Bissau (*):


Ambientes e ambiguidades > Algássimo, o visionário


Quando finalmente saía do quartel, a noite, encontrava o Algássimo Djaló à minha espera, ele gostava da sopa (entenda-se comida do quartel) que trazia metida em latas de conservas de tomate. Não podia entrar dentro do quartel, por ordens do seu pai, de princípios rígidos e ortodoxos como todos os seus conterraneos de Futa-Djalon que em tudo se comportavam como perpétuos emigrantes e nunca se integravam nas comunidades locais consideradas de nível inferior, religiosamente falando.

O Algássimo queria viver como uma criança normal da sua idade mas vivia quase numa clausura. Nao podia frequentar nem a escola, nem o quartel, nem os locais de festa, de baile, de futebol, nada, nada. Ele podia, sim, procurar lenha seca nos arredores da aldeia para a fogueira da noite onde passavam, ele e mais outros rapazes da mesma comunidade, horas a fio, a repetir alguns sons escritos em árabe arcaico numa tábua de madeira cujos significados nem o próprio mestre sabia. Era esta a faceta da religião que alguns religiosos, sobretudo Futa-fulas, nos queriam ensinar. Tempo perdido (**).

Mais tarde o Algássimo, por iniciativa própria, acabaria por entrar no quartel e também frequentar a escola mas com meios próprios pois o pai, na impossibilidade de o impedir, tinha sido peromptório:
- Queres ir para a escola dos brancos, então, vai!..Mas nãoe peças nada e nãso me contes nada porque não te dou nada e não quero saber de nada pois o seitan será o teu companheiro no inferno.

O Algássimo foi e ficou, do satanás não viu nem os rastos. O pai, este, acabaria mais tarde, por falecer, doidinho da Silva.

Pela idade, experiência e ansiedade que ele tinha acumulado, rapidamente galgou os escalões do ensino e por pouco não me ultrapassava de classe. Foi nessa altura que, também eu, animal livre, resolvi encarar com alguma seriedade a escola, e consegui, finalmente, aguentar-me na sala, sentado, aquelas duas horas que me pareciam uma eternidade.

Mais tarde ele tirava conclusões interessantes das suas observações sobre aquela época, em Fajonquito, a sua entrada no quartel, os soldados portugueses, o ambiente do refeitório geral e a escola onde curiosamente o professor era um Sanhá que queria dizer mandinga ou um beafada islamizado. Disse-me uma vez:
- O melhor e o pior que aprendi com estes brancos, durante a minha permanência entre eles, e que depois continuou em diferentes lugares e circunstâncias, foi o espírito sempre presente da irreverência e da insubmissão, o sentido da busca, da insatisfação permanente, do questionamento sobre o que parece evidente, da insaciável curiosidade e coragem de ultrapassar limites, da revolta, da reviravolta... Com eles nenhuma situação é imutável e a mudança é uma constante. Enquanto continuarem a liderar, o mundo nao terá sossego.

Este espírito irreverente e mutante, este paradigma filosófico de mudança em permanência, se quiserem, é, na opinião do Algássimo, "a maior força e quiçá, também, a maior fraqueza do Homem branco, europeu, que está constantemente a pôr em questão as suas próprias verdades ainda agora conquistadas e reconhecidas mas insuficientemente amadurecidas".

Continuando ainda sobre o mesmo assunto, dizia que, na sua opinião, "o tumulto materialista e a incongruência lógica do mundo em que vivemos hoje nasceram desse posicionamento ambíguo do homem europeu que prolonga a vida mas também a sua agonia nas incertezas que engendra sobre o amanhã que está por vir mas cujo porvir já está hipotecado nas bolsas de valor de Londres e Nova Iorque".

O meu amigo Algássimo, temeroso ou grande visiánario, não conseguiu aguentar o período após independência, nãoo, ainda aguentou uns seis anos, até 1980, altura em que, tendo emigrado para Portugal, com o falecimento do pai, voltou e decidiu mudar-se para o Senegal.

Antes de partir, estando eu nessa altura em Bissau a terminar o liceu, disse-me claramente que não podia continuar na Guiné-Bissau porque, segundo ele, esta seria, durante muito tempo, a terra dos outros. Perguntou-me ele:
- Você não ouviu as cantigas deles ?...

Ele referia-se a uma cantiga em crioulo que dizia assim: Kim ki tem terra? Anós ki tem terra. kim ki na labráá...? kim ki na furtáá...? etc. E a sonoridade da música nao colocava quaisquer margens de duvidas sobre as suas origens étnicas.

Na sua opinião, a Guiné-Bissau tinha poucas probabilidades de sucesso porque em vez do bom pastor o gado tinha sido entreque aos lobos, vestidos com pele de ovelhas. Em vez de pessoas instruídas e com experiência na administração do Estado eram pessoas iletradas, quase analfabetas, que dirigiam e controlavam a vida económica e política do pais.
- Assim não vamos a sítio nenhum - arrematava.

Verdade ou mentira a opinião é dele e no que me concerne, sem capacidade de visionar o futuro, e tendo acreditado e abraçado firmemente a visão e os ideais de Amilcar Cabral sobre a necessidade da luta pela afirmação do homem africano, do terceiro mundo, de um mundo mais justo, de progresso, paz e fraternidade, voltei alegremente dos estudos e estou ainda aqui na esperança de ver se aparece a luz ao fundo do túnel.

Mas a questão é, de algum tempo para cá, recorrente e.... inevitável:
- E se o Algássimo tinha razão?...

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 10 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4806: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (11): Filho da p... de barrote queimado...... Ou as sobras do rancho

(**) Vd. poste de 23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)



As famosas tabuínhas (frente e verso) onde os meninos da Guiné, das etnias islamizadas (fulas, mandingas, beafadas...), aprendiam (e continuam a aprender) a ler (?) ou, pelo menos, a recitar versículos do Corão... Tenho dúvidas sobre a autenticidade da escrita, em árabe...

À força de serem reproduzidas, há erros sistemáticos que passam, de mão em mão, de artesão em artesão... O Beja Santos lembra-se de as ver à venda em Finete, tabanca a norte do Rio Geba, na região do Cuor, tabanca por onde se passava obrigatoriamente quando se queria ir de Bambadinca a Missirá.

Fotos: © António Santops (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada António Santos que, célere, respondeu a um pedido muito recente e urgente do nosso editor Luís Graça (1).

Recorde-se que o António foi Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74. É membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006. Mora em Caneças, mas é (ou era...) um puto reguila, alfacinha... (2).

Votos de muita saúde para todos.

Claro que estou sempre atento ao blogue, não me escapa nada, 99% dos dias que tem o ano, abro o blogue 2 vezes, só que nem tudo interessa como é natural mas temos meia dúzia de camaradas que é um prazer lê-los, coisa que não perco.

Tudo isto para responder ao camarada Luís Graça que apôs uma nota no post 3081 (1), que fala dos miúdos à volta da fogueira e das tabuínhas.

Anexo 2 fotos em jpg com as ditas, (frente e verso). Fico atento ao resultado da tradução.

Um alfa bravo.
A. Santos
4574/72
SPM 2558



2. Comentário de L.G.:

António, amigalhão, grande camarada e melhor tertuliano, dedicado, fidelíssimo. Não preciso de fazer mais testes. Vejo que não dormes no teu posto, e que estás atento o que se publica no blogue. São qualidades que se conservam, seguramente, pela vida fora e que vêm do teu tempo de operador de transmissões.

Infelizmente ainda não te arranjei tradutor para as famigeradas tabuínhas. O meu amigo, médico, argelino, ded que te falei, foi à vida. Acabou o curso de medicinado trabalho, anda por aí. Pode ser entretanto que apareça algum especialista em estudos corânicos... Também eu estou, como tu, com curiosidade em saber o que é que os putos recitavam/recitam com tanta (?) devoção, nas escolas corânicas do interior da Guiné... Agradeço-te a 2ª via do documento. Imagino que tenhas obtido estas imagens em Nova Lamego.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...

(...) "Há tempos o António Santos (ex-soldado de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), mandou-me imagens dessas famosas tabuínhas... Não as localizo, de momento.

"Recordo-me de lhe ter prometido que ia pedir a alguém (um aluno meu, médico, muçulmano, de origem argelina) para as traduzir, o que nunca consegui... Se ele, António, me estiver a ler, que me mande essas imagens em 2ª via" (...).

(2) Vd. postes do A. Santos, publicados no nosso blogue:

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)

23 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)

12 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

22 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1097: Imagens chocantes do cemitério de Bambadinca (A. Santos)

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P934: Da Casa da Mariquinhas do Gabu à Senhora Malária que me atacou seis vezes (A. Santos, Pel Mort 4574)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2825: Nós, as Escolas,a história, a guerra colonial, o Hino de Gandembel... (Virgínio Briote)

O nosso blogue tem vindo a ser contactado por escolas e professores, pedindo autorização de materiais nossos, para efeitos didácticos. Citamos hoje dois casos, recentes

1.1. Mensagem de António Anacleto, Professor de História na Escola Básica e Secundária de Santa Maria, Açores:

Ao Sr. Luís Graça,

Eu sou um professor de Matemática com um largo interesse na História da Guerra Colonial, atento seguidor do seu blogue que muito me tem permitido conhecer mais sobre a mesma. Como tal, junto com os professores de História da minha escola (Escola Básica e Secundária de Santa Maria, Açores) decidimos participar no concurso Como se vivia em Portugal no tempo da Guerra Colonial, promovido pela Associação 25 de Abril e a Associação de Professores de História, com a realização de um vídeo com entrevistas a ex-combatentes da guerra.

Vinha por este meio pedir-lhe autorização para utilizar o áudio do Hino de Gandembel (1) nos créditos finais do nosso trabalho, música que pela sua letra valorizará ainda mais este trabalho.

Em jeito de rodapé antes de terminar, o vosso blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné é citado nos créditos finais uma vez que foi uma das várias fontes consultadas.

Tenho a informar também que o antigo Alferes Capelão Arsénio Puim (2) foi contactado por nós no sentido de dar o seu contributo como ex-combatente Mariense, mas recusou o mesmo (com muita pena nossa) evocando que primeiro deve contar os factos ocorridos nos dias seguintes a 1/1/1971 aos seus antigos camaradas, um dever que ele entende ser justo, antes de contar a terceiros. Contudo, ficou agendado um encontro com ele aqui em Santa Maria no próximo mês de Junho, pode ser que mude de ideias até lá.

Para terminar gostaria de um dia poder pôr o meu sogro em contacto com o vosso blogue, porque esteve na CCaç 2619/BCaç 2893 (Nova Lamego, 1969/71) e acho que ele também tem excelentes estórias cabralianas para contar.

Sem mais, um abraço

António Anacleto

2. Resposta do nosso editor, Luís Graça

Caro António:

Fico sensibilizado com o seu pedido. Tem, desde já, o meu acordo formal para utilizar os nossos materiais, citando sempre o autor (texto, fotografia ou vídeo) e o nosso blogue. Parabéns pela vossa iniciativa. Se mo permitir, vou dar conta dela nas páginas do nosso blogue. Já temos, de resto, colaborado, com outros professores de outras escolas.

Por outro lado, peço-lhe que ponha o seu sogro em contacto connosco. Quanto ao Puim, é um camarada nosso que eu conheci pessoalmente em Bambadinca e que muito estimava, como de resto pode depreender do que sobre ele já aqui escrevemos. Aguardo com ansiedade o dia em que ele decidir entrar pela nossa Tabanca Grande adentro…e contar-nos, em primeira mão, as suas alegrias e tristezas desse tempo…

Disponha do nosso espaço para dar a conhecer o bom trabalho que a sua escola está fazer para divulgar, aos nossos filhos e netos, acontecimentos marcantes da nossa história do Séc. XX.

Seria interessante também conhecer melhor o sacrifício que as populações das então ilhas adjacentes (Madeira e Açores) fizeram, com a participação dos seus filhos na guerra colonial. Como sabe, havia companhias "açorianas" e "madeirenses"... Os madeirenses e os açorianos eram considerados bons combatentes, aguerridos, corajosos…Não sei se não terão mais sido mais discriminados do que os outros… Sei que também pagaram um tributo elevado, em vidas, em sangue… Pode procurar no blogue: temos, entre as nossas palavras-chave, Madeira, Açores, açorianos, madeirenses…

2.1. Comentário de VB: Na conta do António Anacleto, no You Tube, podem ser visionados os 13 vídeos do Documentário sobre a Guerra Colonial, variando a duracção entre os 4 a 5 minutos e os 8 a 9 minutos. O trabalho é apresentado nestes termos: "Documentário realizado pela Escola Básica e Secundária de Santa Maria (Açores), para o concurso Como se vivia em Portugal no tempo da Guerra Colonial, organizado pela Associação 25 de Abril e pela Associação de Professores de História".

3. Mensagem de um outro professor, Vasco Vaz:

Exmo Sr:

Sou professor de história de uma escola oficial portuguesa e gostaria de saber se posso usar uma imagem do vosso blogue no meu próximo teste. O teste é para alunos do 6º ano e será reproduzido em 40 exemplares. A ser autorizada eu citaria o vosso blogue como fonte e o unico propósito da foto será o de ilustrar a seguinte questão:

"A partir dos documentos 3 e 4 refere quais foram as consequências da Guerra Colonial."

Antecipadamente Grato

Vasco Vaz

4. Resposta do nosso editor:


Meu caro professor: Sentimo-nos honrados e úteis com o seu pedido.... Esteja à vontade. Já agora, e se possível, diga-me depois qual a imagem que escolheu (já temos o enunciado da pergunta)...

É um bom exemplo, a ser seguido por outras escolas e por outros professores. Os meus parabéns. Se nos autorizar, e não vir inconveniente, apresentaremos este caso com um bom exemplo não só pedagógico como cívico... Nenhum povo pode viver acéfalo, e sem memória. Acredito que não seja fácil falar da dolorosa guerra que travámos em África durante 13 anos... É importante que os nossos filhos e netos tenham orgulho em nós.

Como sabe, no nosso blogue, damos muita importància à pluralidade de vozes, vivências, experiências e versões... Somos contra a versão redutora da história. A guerra colonial ou do ultramar tem múltiplas faces. Hoje, na Guiné-Bissau, a "luta de libertação" não chegou às escolas e, quando chega, é através da versão oficiosa, redutora, ideológica... Começa só agora a fazer-se investigação historiográfica... No entanto, estive lá há dias e o que mais me impressionou é que não há resquícios sequer de ressentimento ou de ódio contra nós... Vale a pena reflectir sobre isto... Boa saúde, bom trabalho.

Luís Graça.

5. Resposta do Vasco Vaz:

Caro Sr. Luís:

Eu é que me sinto bastante honrado por poder usar o testemunho de todos aqueles que estiveram no Ultramar ou que lutaram pela libertação das colónias.

É muito triste que esta parte da nossa história seja tão ignorada, como se tivessemos vergonha ou medo de relembrar o nosso passado.

Por curiosidade, tenho 40 anos e , portanto, não tenho experiência directa da Guerra Colonial.

Eu sou professor do ensino secundário e lecciono este conteúdo programático no 9º ano; presentemente estou com duas turmas do 6º ano onde também se faz referência à Guerra Colonial.

O nível etário dos alunos não permite que o tema seja muito aprofundado , no entanto só o facto de eles terem a noção de que a geração dos avós lutou em África já é muito importante.

Eu pensei em utilizar a vossa foto inicial de abertura:(bissau_halott_katona_1970.jpg) mas estou aberto a outras sugestões.

Relativamente ao uso do meu teste como "exemplo civico", embora seja um exagero por apenas ser um simples teste, não vejo inconveniente que seja citado.

Agradecia, no entanto, que se lhe referisse sem especificar qual a escola em concreto.

Pode citar o meu nome, o nível de ensino e a própria questão que serviu de base ao uso da vossa foto.

A minha preocupação neste campo é apenas a de que, infelizmente, nós, professores, vivemos momentos em que, na minha opinião, temos de ter todo o cuidado com o que dizemos sob pena de sermos julgados pelos meios de comunicação sensacionalista ou mesmo por existir uma certa falta de liberdade de expressão.

Devo dizer lhe que, ao leccionar temas como o da Guerra Colonial , se nota que este ainda continua a ser um tema que pode criar desconforto.

No próximo ano lectivo espero estar a leccionar os 9 anos e então fazer uma actividade em grande, mobilizando a comunidade escolar e convidando antigos combatentes para virem falar com os alunos. Nessa altura se houver interesse da vossa parte e disponibilidade seria muito agradavél contar convosco.

Finalmente, obrigado pela rapidez da vossa resposta.

Antecipadamente grato

Vasco Vaz

6. Nova resposta do editor:

Vasco:

A imagem que escolheu nem sequer é nossa... É de um fotógrafo húngaro, embebed - como se diria hoje - nas forças do PAIGC... Tenho algumas dúvidas sobre o seu comportamemto ético... Não creio que fosse um verdadeiro fotojornalista... Ele próprio deixou-se fotografar, empunhando uma Kalashikov... Não sei em que circunstâncias esteve nas "regiões libertadas" da Guiné, nos anos 1969/70... Hoje tem uma casa comercial de fotografia em Budapeste... Pode consultar o seu sítio e a sua fotogaleria (embora eu não saiba húngaro, parece-me que as fotos são do domínio público... Há tempos mandámos-lhe uma mail, em francês, a dar conhecimento e a pedir autorização, mas não respondeu)... Estas fotos circulam pela Net...

http://www.fotobara.hu/galeria/bissau_halott_katona_1970.jpg

Esta em especial é um bocado crua, para os seus alunos...Tenho dúvidas sobre a sua autenticidade, pela posição da arma (Kalash, russa) e do cadáver... Há belíssimas fotos noutro sítio, sueco, de um grande fotógrafio norueguês, tiradas na mesma época (1970), sítio esse que autoriza a sua utilização pública, exigindo apenas conhecimento ao webmaster... Veja o nosso poste de 15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC: Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes).

Eu tenho a competente autorização para usar essas imagens, no nosso blogue. No seu caso, e como se trata de uma utilização para efeitos de ensino/aprendizagem, pode utilizar à vontade os nossos materiais, tendo a gentileza de divulgar o nome do autor e o endereço do blogue (mas temos também inúmeras páginas estáticas com cartas militares e fotos/memórias dos lugares... Vd. coluna do lado direito do blogue...). Nas duas versões do blogue (1ª e 2ª) há já milhares de fotografias disponíveis... A dificuldade é escolher.

Obrigado pelo seu interesse e apreço.

Luís Graça

__________

Fixação do texto: VB.

(1) Sobre o Hino de Gandembel, já publicámos diversos postes:

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

(2) Sobre o ex-Alf Mil Capelão Arsénio Puim, da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), ver os seguintes artigos:


16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2433: Em busca de ... (16): Pessoal da CCAÇ 4946/73, madeirense + Arsénio Puim, ex-capelão, açoriano, BART 2917 (Luís Candeias)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeia, amigo do Arsénio Puim)

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)