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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22831: Fotos à procura de...uma legenda (159): Cais de Alcântara ou Cais da Rocha Conde de Óbidos ? (Lucinda Aranha, escritora)

Lisboa > Agosto de 1960 > O Sene Sané, o meu pai, Manuel Joaquim Prazeres, na ponta direita e aminha mãe, ao maio. Vieram, com outras senhoras, depedir-se do Elísio (o segundo a contar da esquerda) que ia partir para Cabo Verde, por via marítima...

Foto (e legenda): © Lucinda Aranha (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Três mensagens da Lucinda Aranha, com datas de 15 e 16 do corrente;

Lucinda Aranha, foto à esquerda: (i) escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, (ii) professora de história, nio ensino secundário, reformada; (iii( autora de uma biografia ficcionada do pai, a que chamou "romance": "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.; (iv) autora também dos livros "Melhor do que Cão é ser Cavaleiro" (Colibri, 2009) e "No Reino das Orelhas de Burro" (Colilibri, 2012), este último recheado de histórias e memórias dos tempos em que o seu pai viveu, em Cabo Verde e na Guiné, desde os anos 30 até 1972; (v) tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue; (vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde 15/4/2014; (vii) tem página no Facebook, Lucinda Aranha - Andanças na Escrita; e (viii) vive em Santa Cruz, Torres Vedras.


(i) Segue foto do régulo Sene Sané com os meus pais e umas senhoras. Tu verás se vale a pena pô-la. São pessoas da Guiné, mas como te disse não sei quem são e só sei que a foto foi tirada em Lisboa durante as Comemorações Henriquinas.

(ii) O meu amigo cabo-verdiano que me ajudou a datar as fotografias é o rapaz que está na foto. Não o estva a reconhecer- Enviei-lhe a foto e espero qu ele tenha alguma ideia do que se passa. O Aranha diz que a foto foi tirada na Praça do Império ao pe da Doca do Bom Sucesso. Vamos a ver o que o Elísio Branco Vicente diz.

(iii) Afinal, Luís, mais uma vez me precipitei. Creio que que a fotografia não interessa. Além do Sene Sané, dos meus pais, da Maria Rosa, irmã do Elísio, que está ao lado da minha mãe, as outras semhoras são cabo-verdianas, e foram todas despedir-se ao Cais de Alcântara, do Elísio, que partia nesse dia para Cabo Verde. De certeza o Sene Sané foi levado em passeio pelos meus pais até porque conheceu o Elísio em nossa casa.

2. Comentário de Luís Graça:

Lucinda, adoro fotos antigas e das pequenas histórias da gente da nossa geração e da geração dos nossos pais. Não vai mal ao mundo se publicarmos a foto, até porque eu tenho outra pista para precisar o local em que foi tirada. Para mim, não se trata da Praça do Império, e Doca do Bom Sucesso, em Belém, nem sequer do Cais de Alcântara... Mas sim do Cais da Rocha Conde de Óbidos...

De facto, era de lá, do Cais da Rocha Conde de Óbidos, que partiam os navios da marinha mercante para as ilhas adjacentes, e para os territórios ultramarinos, incluindo Cabo Verde e Guiné... E os navios de transporte de tropas para a guerra do ultramar (Angola., Guiné, Moçambique)
...

A prova (insofismável) é o edício do palácio das Janelas Verdes (Museu Nacional de Arte Antiga que se vê em parte, ao fundo, do lado esquerdo (corpo principal), seguido do jardim (interior) e da fachada sul do palácio...O primeiro está está sinalizado com uma cercadura a amarelo, enquanto a fachada sul e o jardim estão sinalizados com cercadura a verde (Foto acima).

O Museu Nacional de Arte Antiga fica sobranceiro ao Cais da Rocha Conde de Óbidos. Do lado poente (entrada primcipal), há um jardim adjcente conhecido como o Jardim 9 de Abril, o Jardim das Albertas ou o Jardim da Rocha do Conde de Óbidos). Logo a seguir, a esse jardim, também do lado poente encontra-se o Palácio dos Condes de Óbidos onde está instalada a sede nacional da Cruz Vermelha. Mas esta parte na aparece na foto em questão...

Mas cabe aos nossos leitores decidir, sobretudo aos lisboetas, que conhecem bem a cidade... Veja-se isto como um simples passatempo natalício (**)...



Lisboa > Gare Marítima de Alcântara (arq. Pardal Monteiro), inaugurada em 1943 > 10 de maio de 2015 > O cais e a gare, vistos do navio-escola "Sagres".



Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos > Arquiteto Pardal Monteiro, foi inaugurada em 1948... Foi daqui que partimos, muitos de nós, para a Guiné... Muitos confundem com o Cais de Alcântara, Nos últimos anos da guerra, a partir de 1972, o transporte já se fazia por via aérea, através dos TAM - Transportes Aéreos Militares. (LG)

Foto do domínio público. Cortesia de Wikipedia.

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22821: Fotos à procura de... uma legenda (158): Tão meninos que nós éramos!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

domingo, 19 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22821: Fotos à procura de... uma legenda (158): Tão meninos que nós éramos!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)




Espinho > Silvade > Fevereiro de 1969 > Jantar de despedida antes da partida, a 18, para o TO da Guiné... Um grupo de sargentos e furriéis milicianos da CART 2479, futura CART 11

À  esquerda, sentaados: Canatário (armas pesadas), e Cunha;  em pé Silva (transm.), Abílio Duarte e Pinto, atrás Macias e Pechincha (operações  especiais); ao alto Sousa, ao centro 1º. Sarg  Ferreira Jr., Renato Monteiro, Ferreira (vagomestre), Edmond (enfermeiro), Pais (mecânico) e eu, sentado, à direita,  Valdemar Queiroz (armado em finório).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz 2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70); e não se esqueçam de lhe mandar um alfabravo, por msn, neste Natal: telem 965 290 110; ele precisa e vai gostar; até ao dia 22, porque depois já tinha a companhia do Menino Jesus e do Pai Natal, que vêm da Holanda, ou Países Baixos, como se diz agora 
]

Data -  14 dez 2021 15:23

Assunto - Foto à procura de uma legenda

Luís,

Esta fotografia foi tirada em Espinho num jantar de despedida (???)  na semana anterior (05-02-1969) ao embarque, não para a colónia de férias, para a guerra na colónia da Guiné, também chamada de jure Guiné Portuguesa e por cá Província da Guiné. Chamem o que quiserem: fomos para a guerra na Guiné
.
Vemos na foto, excepção feita ao 1º. Sargento, uma  rapaziada de Furriéis milicianos de 20/21 anos de idade. 

Para completar a classe de Sargentos da CART 2479 (futura CART 11) falta o 2º. Sarg. Almeida (o velho Lacrau), o Fur mil Vera Cruz e o Fur mil Aurélio Duarte que já tinha partido à frente para tratar dos "hotéis e aluguer de carros de passeio".

Na legenda da fotografia vão todos identificados, e destes, infelizmente, já faleceram o 1º. Sarg Ferreira Jr, o meu amigo Renato Monteiro (*) e o outro meu amigo Aurélio Duarte  (**) que não está na fotografia.(***)

Temos na fotografia à ess sentados Canatário (armas pesadas) e Cunha, em pé Silva (transm.), Abílio Duarte e Pinto, atrás Macias e Pechincha (op. especiais), ao alto Sousa, ao centro 1º. Sarg. Ferreira Jor., Renato Monteiro, Ferreira (vagomestre), Edmond (enfermeiro), Pais (mecânico) e sentado Valdemar Queiroz (armado em finório) (****).

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

___________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 20 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17684: In Memoriam (302): Morreu o Aurélio Duarte, mais um dos nossos, da nossa seita, da nossa guerra... Nunca mais ouvirei o teu grito de guerra coimbrão, Eferreá!... Eferreá!... Mas para ti vai tudo, amigo e camarada!... Ficas à sombra do nosso poilão, no lugar nº 750!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

(***) Vd. poste de 1 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19935: (De)Caras (131): Um ninho de "lacraus", em Espinho, Silvalde, fevereiro de 1969, na véspera de partida para o CTIG (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte, CART 2479 / CART 11, 1969/70)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22808: Fotos à procura de... uma legenda (157): Os quatro membros da comitiva guineense (a saber Sene Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alagé Baldé, amigos do meu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres,) às Comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique, agosto de 1960 (Lucinda Aranha, escritora) - II ( e última) Parte


Foto nº 8 > Guiné > Região de Gabu > Canquelifá > O poderoso régulo Sene Sané, tenente de 2ª linha, aliado dos portugueses, inimigo mortal do PAIGC...Vogal do Conselho Legislativo da província. Morreu em 1969.



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Canquelifá >  s/d > O régulo Sene Sané, tenente de 2ª linha,  com um das filhas, e um militar português.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Canquelifá >  s/d > Um dos cavalos brancos do régulo Sene Sané, tenente de 2ª linha, e o seu tratador.



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Canquelifá >  s/d > Verso da foto nº 10, em português corretísismo, ecom uma boa caligrafia: "Oferta para (as) meninas: Esta fotografia é do meu cavalo e o seu tratador. Tem prsentemente 7 anos e custou 11.000$00. É uma oferta aliada ao interesse que os metropoliatanos tem ao gado 'cavalar' africano. Do amigo Sene Sané, régulo e tenente."


Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da mensagem anterior de Lucinda Aranha (*)



Lucinda Aranha, foto à esquerda: (i) escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, (ii) professora de história, nio ensino secundário, reformada; (iii( autora de uma biografia ficcionada do pai, a que chamou "romance": "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.; (iv) autora também dos livros "Melhor do que Cão é ser Cavaleiro" (Colibri, 2009) e "No Reino das Orelhas de Burro" (Colilibri, 2012), este último recheado de histórias e memórias dos tempos em que o seu pai viveu, em Cabo Verde e na Guiné, desde os anos 30 até 1972; (v) tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue; (vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde 15/4/2014; (vii) tem página no Facebook, Lucinda Aranha - Andanças na Escrita; e (viii) vive em Santa Cruz, Torres Vedras.


(...) Devo dizer que foi com imenso espanto e agrado que, tardiamente, vim a saber que com as minhas irmãs fui coproprietária de um cavalo oferecido por Sené Sané. 

Foi-me confirmado por Helena Sané que o sogro só possuía cavalos brancos e que a oferta foi genuína, apesar de o meu pai nunca nos ter falado no assunto. Como traria ele o cavalo e o que faríamos nós com o dito? Está bem de ver...

Quanto aos outros três membros da comitiva guineense cujos nomes já referi (*), sei apenas que eram de Piche, pequena cidade da região do Gabú, onde o meu pai dava cinema a caminho de Kankelefá. Lembro-me de um deles ter dito que era padre e das abluções antes dos almoços. Segundo me explicaram, e penso que correctamente, usavam cinto de alferes e um deles uma "medalha" que o identica como religioso.

Nota final - Quero agradecer a Vital Sauane, amigo da família de Sané, as informações que me prestou, além de me ter posto em contacto com Helena Sané e família . Agradeço também a Carlos Freitas


2. Comentário do editor LG, em mensagem de 8/12/2021, 21:18 


Lucinda, fico muito sensibilizado com o teu gesto, ao quereres partilhar com a Tabanca Grande estas "recordações de família"... Já sabíamos, mas esta "história" vem confirmar quanto o teu pai era estimado, acarinhado e amado pelas gentes da Guiné. Claro, ele era também um homem generoso e um "africanista" de coração... Estas fotos (e legendas) vão enriquecer o nosso património memorialístico...  

Já agora ficas a saber que o cavalinho branco, oferecido às meninas (adquirido em 1953 por 11 contos) valeria, a preços de hoje, mais de 5300 euros (segundo o conversor do INE, Atualização de Valores com Base no IPC - Índice de Preços ao Consumidor, entre anos: 1953-2020)...

(...) Passei há dias por Santa Cruz, lembrei-me de vocês, mas ia com amigos do Norte...

Vamos partindo mantenhas natalícias... Um chicoração, Luís 

3. Nova mensagem da Lucinda Aranha, 11/12/201, 10h55

Bom dia Luís. Recordei-me de um facto "anedótico " mas que podes aproveitar se o entenderes. Além de comovente , mostra bem como as memórias são relativas,  dependendo muitas vezes de um acaso.

Enviei à Helena Sané as fotografias do genro. Numa delas ele está junto a uma cadeirinha com uma menina a falar com um militar (Foto nº 9). Essa menina era uma das suas filhas. A Helena enviou-a a uma sobrinha que desconhecia esta fotografia da mãe entretanto falecida. Ficou extremamente comovida ao ver a mãe ainda bebé.

Agora é de vez, Lucinda

PS- Vou-me encontrar com o Tony Tcheka que me disse ter novidades. Há um lote de fotos completamente diferente que penso será muito interessante se conseguir contextualizá-las. Logo se verá.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22806: Fotos à procura de... uma legenda (156): Os quatro membros da comitiva guineense (a saber Sene Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alagé Baldé, amigos do meu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres,) às Comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique, agosto de 1960 (Lucinda Aranha, escritora) - Parte I


Foto nº 1  > Sane Sané, régulo de Canquelifá, tenente de 2ª linha, descendente do último rei do império do Gabu (morto na batalha de Cansalá, em 1867), em traje cerimonioso. (Vd. foto dele com o nosso camarada Jorge Ferreira, em 1961, junto ao marco fronteiriço em Buruntuma).

Segundo o nosso calaborador permanente, Cherno Baldé, em mensagem de 27/11/2019, "o actual régulo de Paquessi ou Pakessi que abrange as aréas de Canquelifa, Camajaba e Buruntuma, é o Bacar Sané, um dos filhos do velho régulo dos anos 60."

Por sua vez, o Patrício Ribeiro informou-nos, na mesma data, que o José Bacar Sané, telemóvel nº 00254...119, morador em Canquelifa, é o actual régulo de Canquelifa e Buruntuma, já com alguma idade. (Foi antigo militar português do grupo de Marcelino do Mata)."

 
Foto nº 2 > Lisboa > Agosto de 1960 > Os quatro membros da comitiva guineense, a saber Sene Sané (, aqui trajado à europeia), Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alage Baldé ( este último,  padre muçulmano), à varanda da casa do Manuel Joaquim dos Prazeres (que foi o fotógrafo). O religioso  é o segundo a contar da esquerda, portador de um amuleto. O último, com cinto de 
fivela, seria um alferes de 2ª linha,  um dos Embaló. Segundo imformação do Patrício Ribeiro com data de 27/11/2019, atualmente "o Regulado de Piche é desempenhado pelo marido de Djana Embaló, residente em Dara. Em Piche, não há nenhum régulo."

A grafia correta do reliogos deve ser Alage (El-Hadj) Baldé ou Embaló. (Recorde-se que Alage ou El Hadj é um título honorífico reservado ao crente muçulmano que, em vida, consegue ter a felicidade de fazer, com sucesso, pelo menos uma peregrinação anual, Hajj, a Meca).

 
Foto nº 3 > Agosto de 1960 > Os nosos convidados à porta da casa... O dignitário religioso, é o primeiro da esquerda; o Sene Sané é o terceiro.


Foto nº 4 >Agosto de 1960 > Almoço dos quatro guineenses em casa do Manuel Joaquim dos Prazeres. Eram seus convidados, mas o pai da Lucinda Aranha não os acompanhou nas cerimónias. 



Foto nº 5 > Os quatro membros da comitiva guineense, com dois brancos que não sabemos identificar (podiam ser acompanhantes) junto às instalações da antiga Exposição do Mundo Português de 1940, que entretanto foram demolidas. As Comemorações do V Centenário da Morte do Infante Dom Henrique realizaram-se em Lagos e em Sagres, em 6, 7 e 8 de agosto de 1960, com desfile naval e a  presença dos chefes de Estado de Portugal e do Brasil. Mas realizaram-se outras cerimónias noutros pontos do país.  A Lucianda Aranha que já era aluna do liceu, em 1960, não se lembra se os convidados do seu pai deslocaram-se a Sagres e a Lagos.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Piche > 1969 > Os outros três membros da comitiva guineense em "trajes tradicionais", Sampulo Embaló, Alage Baldé e Duarte Embaló e  (, não sei se por esta ordem). 

Eram de Piche, pequena cidade da região do Gabú, onde o meu pai dava cinema a caminho de Canquelifá. Lembro-me de um deles ter dito que era padre e das abluções antes dos almoços. Segundo me explicaram, e penso que correctamente, usavam cinto de alferes  (Foto nº 5) e um deles uma "medalha" que o identica como religioso.



Foto nº 7 > Guiné > Região de Gabu > Piche > 1969 > Legenda no verso da foto nº 6: "Meu caro amigo Manoel Joaquim Prazeres, mando-te esta foto, a fim de lhe cervir (sic) como recordação. Sou eu, Sampulo Embaló e o Alage Baldé e Duarte Embaló. Piche, 11-12-969"


Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Lucinda Aranha, 7 de setembro de 2021:

Lucinda Aranha, foto à esquerda: (i) escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, (ii) autora de uma biografia ficcionada do pai, a que chamou "romance": "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.; (iii) autora também dos livros "Melhor que Cão é ser Cavaleiro" (Colibri, 2009) e "No Reino das Orelhas de Burro" ( Colilibri, 2012), este último recheado de histórias e memórias dos tempos em que o seu pai viveu, em Cabo Verde e na Guiné, desde os anos 30 até 1972; (iv) tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue; (v) é membro da nossa Tabanca Grande desde 15/4/2014;  (vi)  tem página no Facebook, Lucinda Aranha - Andanças na Escrita.

Bom dia, Luís e Carlos.

Espero que tudo esteja bem convosco e família. Aproveito ter de escrever para cumprimentar também o Carlos de quem há muito não tenho notícias.

Luís, infelizmente gravei mal o número de telemóvel da Lena
 [Carvalho], minha amiga de infância que vive nas Caldas, e perdi ainda o cartão dela. 

Acontece que com a morte da minha irmã Ju encontrei uma série de fotografias que estavam perdidas. A Lena está em várias delas e gostava de falar com ela a propósito. 

Encontrei também fotografias de África que me parecem muito interessantes, penso que algumas dizem respeito a sessões cinematográficas e outras de uns certos Sené Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alagé Embaló, algumas com uma "carta" no verso.

Enfim, acho um material interessante, vou pesquisar junto de amigos e conto com vocês os dois para me ajudarem porque penso que não ficariam mal no nosso Blogue.

Desculpem estar sempre a aborrecê-los. Beijos e saudades. Lucinda

2. Nova mensagem de Lucinda  Aranha

Data - Quarta, 8/12/2021, 19:22 
Assunto - Comemorações do quinto centenário da morte do infante D. Henrique

Boa tarde, Luís. Espero que estejas melhor dos teus achaques ósseos.

Como já te disse, encontrei umas fotos que penso podem interessar ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Envio-te só uma parte; há outras que penso serem de uma sessão de cinema mas ainda tenho muitas dúvidas. Se vires que não interessam tudo bem.


Comemorações henriquinas de 1960

Em Agosto de 1960, o Estado Novo comemorou os cinco séculos passados sobre a morte do Infante D. Henrique que a política nacionalista da ditadura guindou a figura primeira dos Descobrimentos portugueses. 

Esta tese é muito contestada por diversos historiadores, nomeadamente por Vitorino Magalhães Godinho que viu o infante como o émulo da expansão pela força das armas ao serviço dos interesses da nobreza.

1960 marca o início da ascendência dos países africanos recém-descolonizados na ONU. Um ano mais tarde, o Conselho de Segurança vota favoravelmente uma resolução condenando a política colonial portuguesa. Portugal enfrentava também ameaças na Índia e em Angola, que rapidamente se estendem a Moçambique e à Guiné-Bissau, onde crescem os movimentos autonomistas.

De nada valeu a Salazar o expediente de 1951, quando extinguiu o conceito de Império dando às Colónias o estatuto de Províncias Ultramarinas, integrando-as no território nacional. Nada fez parar o desejo de emancipação dos povos das Províncias Ultramarinas; a guerra pela independência a que a ditadura chamava guerra terrorista era imparável.

Também de nada lhe valeram outras comemorações que visavam criar a unidade, aproveitando-se datas com heróis insensados pelo regime.

Este pequeno texto procura contextualizar de forma sucinta as fotografias que se seguem pertencentes ao arquivo do meu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres, de cuja existência tinha conhecimento, mas cujo paradeiro era desconhecido.

Por um acaso, fiquei de posse destas fontes históricas que retratam acontecimentos do quotidiano relacionadas com as comemorações em causa.

Durante estas comemorações, recebemos, em visita social, em nossa casa, por diversas ocasiões, quatro membros da comitiva guineense, a saber Sene Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alage Baldé (Fotos nºs 1,2,3,,4,5,6 e 7)

Dos quatro, o de maior hierarquia era Sene Sané (Foto nº 1), régulo de Canquelifá, mandinga, descendente de Mana Djanque Vali, rei do Império do Gabú, que englobava uma parte do Senegal e a Gâmbia até ao nordeste da Guiné-Bissau. Morreu na batalha de Cansalá, 1867, vencido pelos Fulas de Gabu e do Futa Djalon vindos da Guiné Conacri. Assim acabou o reinado dos Mandingas que foram islamizados.

Quanto aos outros três membros da comitiva guineense cujos nomes já referi (Fotos nºs 2, 3 e 6), sei apenas que eram de Piche, pequena cidade da região do Gabú, onde o meu pai dava cinema a caminho de Canquelifá. Lembro-me de um deles ter dito que era padre e das abluções antes dos almoços. Segundo me explicaram, e penso que correctamente, usavam cinto de alferes e um deles uma "medalha" que o identica como religioso (Foto nº 2) 

A importância do Sene Sané  fica clara no título de Régulo, Tenente de 2ª linha, tendo inclusive sido eleito, em 1963, pelas autoridades das regedorias como um dos três vogais representantes das várias etnias ao Conselho Legislativo a funcionar na Província Ultramarina da Guiné, criado pela Portaria n.º 19921, D.G. n.º 150/1963, série I.
 [Os outros dois foram o régulo de Badora, Mamadu Bonco Sanhã, e o régulo de Cachungo, Joaquim Baticã Ferreira, fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência. LG ]

O dito Conselho reuniu pela primeira vez, em 1964, já sob a presidência de Arnaldo Schulz. Uma outra medida destinada a manter a integridade de todo o império, o que fica muito claro num artigo de O Arauto ( Ano XXII, nº 5338, 14 de junho de 1964, pp 62/63) intitulado "A política da não-discriminação...." Seguem-se alguns excertos do artigo:






Fonte:  Guiné, Bissau, "O Arauto", Ano XXII, nº 5338, 14 de junho de 1964,  pp 62/63 (Excertos)



Sobre o Sene Sané,  é de referir que morreu em 1969, um ano após o final do seu mandato no Conselho Legislativo.

Quero salientar, de entre os restantos vogais,   António Augusto Esteves e James Pinto Bull por terem sido amigos de família e com as respectivas famílias habitués de nossa casa. O primeiro foi padrinho de casamento de três das minhas irmãs; a mulher e os filhos do segundo viveram, por diversas vezes, quando vinham à metrópole na nossa casa ,em Lisboa, tendo também as nossas famílias convivido numa vivenda da Parede, em férias de verão.







Fotos (com legendas): Extraídas de O Arauto, 14 de junho de 1964

(Continua) 
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Nota do editor:

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22488: Fotos à procura de... uma legenda (155): Boinas... há muitas: a propósito das "boinas vermelhas" do grupo de comandos "Diabólicos", Brá, setembro de 1965 (Virgínio Briote / Carlos Vinhal / Fernando de Sousa Ribeiro / Luís Graça)


Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos > "Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas... Da esquerda para a direita: Marcelino da Mata, Azevedo, Virgínio Briote , Black e Valente"...



Guiné > Bissau > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo, em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1ª fila, o 6º a contar da esquera, o comandante do grupo, alf mil 'comando' Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil 'comando' Mário Valente. Na 2ª fila, de pé, na extrema direita, o 1º cabo 'comando' Marcelino da Mata.


Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Comentários à primeira foto de cima (*):

(i) Fernando Ribeiro:

1. No mato ninguém morre em versão John Wayne, porque o John Wayne nunca morria nos filmes. Ele era sempre o "herói" da fita e um "herói" nunca morre.

Quanto à fotografia em que se veem cinco militares, pode ler-se na legenda, a dada altura: «Foto de finais de Set 65, tirada em Brá, quando começaram os "ensaios" com as boinas vermelhas...» 

Aqui permito-me discordar. Boinas vermelhas nos Comandos, já em 1965?! Eu julgava que elas só tivessem sido usadas depois do 25 de Abril... As boinas parecem vermelhas porque a imagem está toda ela avermelhada! Os pigmentos azuis e verdes da fotografia original desapareceram com o passar dos anos, e quase só ficaram os pigmentos vermelhos. 

As boinas deles deviam ser castanhas, como as de toda a gente, e os uniformes deviam ser de caqui, e não amarelos fosforescentes como parecem ser. As cores da imagem não correspondem às cores originais, nem pouco mais ou menos. Estão completamente alteradas. O tempo não perdoa.

25 de agosto de 2021 às 18:13


(ii) Carlos Vinhal:

Quero subscrever as palavras escritas pelo camarada de armas Fernando Ribeiro. As boinas vermelhas dos Comandos começaram a ser utilizadas só em 1974 e as verdes dos Operações Especiais em 1982. O resto é fantasia.

Dá-me a ideia que as boinas da foto foram coloridas à posteriori.

Boina militar em Portugal:

A primeira unidade militar a usar boina em Portugal foram as tropas paraquedistas da Força Aérea em 1955.

O Exército só adotou a boina (para as suas unidades de Caçadores Especiais) em 1960. São ou foram usadas as seguintes boinas:

  • Boina verde escuro (verde caçador-paraquedista) - Tropas Paraquedistas
  • Boina azul - Polícia Aérea;
  • Boina castanha - inicialmente apenas Caçadores Especiais, depois boina genérica do Exército Português;
  • Boina negra - tropas da Arma de Cavalaria (com excepção dos militares qualificados como Paraquedistas ou Comandos), incluindo a Polícia do Exército;
  • Boina vermelho vivo - Comandos a partir de 1974;
  • Boina verde-claro (verde musgo) - Operações Especiais a partir de 1982;
  • Boina azul ferrete - Fuzileiros Navais
  • Boina negra com uma faixa verde - Regimento de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
  • Boina verde escuro - Comandos Territoriais de Infantaria da Guarda Nacional Republicana
  • Boina bege - Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana
  • Boina camuflada (fora de uso) - 3ª Companhia de Comandos (Guiné) e Força de Flechas da PIDE/DGS,
  • Boina amarela (fora de uso) - Grupos Especiais de Moçambique
  • Boina vermelho grená (fora de uso) - Grupos Especiais Paraquedistas de Moçambique
  • Boina branca (fora de uso) - Formações Aéreas Voluntárias

25 de agosto de 2021 às 20:29 

(iii) Gil [Virgínio Briote]:

Caros Camaradas:

Esta foto de Setembro de 1965 foi tirada em Brá. A farda era caqui amarela clara e a boina que usámos, exclusivamente para a foto, era de cor vermelha. Julgo que algum Camarada terá encomendado essas boinas em Lisboa. Tenho a foto original, em papel.

Estávamos no início da formação dos Cmds da Guiné, na que, mais tarde, veio a ser chamada a "fase de grupos". Estes gozavam de grande independência, quase sempre actuaram isolados, com apoio e recolha de Grs Comb das zonas de actuação. Só muito raramente, talvez duas ou três vezes os Grs actuaram em conjunto. Esta filosofia veio a alterar-se com a chegada das CCmds formadas em Lamego.

A boina vermelha, que ouvi dizer cá que não é vermelha mas magenta, só foi autorizada muito mais tarde.

Em 1964/65 estava-se na fase da formação de identidade, que incluia a cor da boina, mas não só.

Um abraço e obrigado pelo vosso interesse.

V Briote
ex-alf mil da CCav 489/ BCav 490 (Jan/Mai) e CCmds do CTIG (Jun 1965 /Set 1966)

25 de agosto de 2021 às 22:04

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Fernando: Intuitiva e apropriada a tua observação. De facto, nas lendas e narrativas do Faroeste da nossa infância e adolescência, os heróis eram todos brancos e nunca podiam morrer. Hollywood alimentou (e matou) o nosso imaginário. O mundo está dividido entre fortes e fracos, heróis e vilões, índios e cobóis... E o melhor índio só podia dia ser... o morto.

Ainda cheguei, já no tempo do Spínola, a ouvir essa, em Contuboel e em Bambadinca, da parte dos meus soldados fulas: "Um balanta a menos era um turra a menos"... Como se sabe, o racismo nem tem cor nem bandeira, nomeadamente nas "guerras civis" (como também o eram as "guerras coloniais" em que, por "azar do destino",  nos calhou, sem termos feito mal a ninguém...).

26 de agosto de 2021 às 08:36

(v) Tabanca Grande Luís Graça:

Afinal, boinas há (ou havia) muitos... Como havia bonés, chapéus e barretes, de todos os feitios, grandes e pequenos...

Eu aceito plenamente a explicação do Gil (, leia-se: Vb, ou Virgínio Briote). Ele é a honestidade intelectual em pessoa e, como nosso autor e nosso coeditor jubilado, o blogue deve-lhe muito).

Não tenho dúvidas, pois, que as boinas da foto fossem vermelhas, mesmo que a foto tenha sido "retocada" para efeitos de melhoria da sua resolução... Nessa altura, na decadência do Estado Novo, já se podia dizer "vermelho". Mas no auge do regime de Salazar, nos anos 30/40, a palavra era proibida. Oficialmente, o "vermelho" não fazia parte do espectro das cores do arco íris... Até a tinta, nas repartições públicas, era azul ou "carmezim".

26 de agosto de 2021 às 10:24 
__________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 19 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (147): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês da Silva, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (154): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

 
Pormenor da imagem, reduzida a preto e branco, da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.). (Com a devida vénia ao autor e editora...).


1. Comentários aos poste P22463 (*)

 
(i) Valdemar Queiroz:

Que me desculpe Pedro Marquês de Sousa, ilustre autor deste livro.

A imagem da capa do livro parece ser em instrução, "prá fotografia", ou não sendo, a escolha da fotografia para capa é de escolha propositada para demonstrar o que nunca se deveria fazer e evitar mortos entre os próprios militares (?).

Naquela estrada de campo aberto e plano, a coluna só podia ter sido atacada de um dos lados, por isso a NT só deveria estar do lado do ataque e não dos dois lados da estrada. Nem o IN e muito menos a NT queria ser atingida pelo seu próprio fogo. (**)

17 de agosto de 2021 às 23:32

(ii)  Tabanca Grande Luís Graça:

O Valdemar "não brinca em serviço", esta sempre no seu "posto de observação" e tem um "olho clínico" como poucos... Esta sempre atento ao pequeno erro ou lapso que escapa ao comum dos leitores.

Não sei de quem é a responsabilidade da escolha da capa. Muitas vezes é tarefa que o autor declina à editora...

O autor, que eu saúdo, não tem felizmente idade para ter andado nas "guerras de África"... Esta imagem não passa de uma encenação... O fotógrafo está em cima de um veículo... O que se vê ao fundo é uma autometralhadora ligeira Fox, com dois militares, o condutor e o apontador,  "de peito feito as balas"... Os "infantes" (tropa metropolitana e africana) "fingem" tomar posição na berma da picada, de um lado e do outro... Parece ser uma foto de Angola, tirada "na reinação" para o pessoal mandar às namoradas...

É a minha primeira leitura, feita às 5 da manhã, no "escritório" do WC...

18 de agosto de 2021 às 05:11

 (iii) Valdemar Queiroz: 

Luís, o mais certo é ser uma "reinação".

Mas, o tema do "Os Números da Guerra de África" é um assunto muito sério e quem ver a capa e não tenha sido periquito ao papagaio sabichão fica alarmado com um 'coitados, assim caiam que nem tordos'. Calhando até foi esta a ideia da capa.

A propósito daquele capim, numa operação com dois pelotões da minha CART 11, tivemos de caminhar em fila pelo meio do capim por um carreiro, que os nossos soldados fulas conseguiram descobrir só possível em tempo de seca. Não me lembro porquê, deixe de ver o pessoal que vinha atrás de mim e fiquei uns segundos à espera, depois nem os de trás apareciam nem conseguia ver os da frente. Fiquei perdido meia dúzia de segundos, meia dúzia de aflitivos segundos.

18 de agosto de 2021 às 13:09


 Capa do livro do tenente-coronel Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp. Disponível nas livrarias a partir de 24 do corrente. (*)
____________

Notas do editor:

(**) Último poste da série > 24 de julho de 2021  > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (146): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

sábado, 24 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (153): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)


Guiné > Região de Tombali > Cameconde > CART 6552/72 (1973/74) > O Manuel Ribeiro com um pequeno "jacaré", apanhado na bolanha de Cassomo (, em rigor, trata-se de outro réptil já que não há jacarés na Guiné, nem em toda a África, apenas no Novo Mundo e na China). (*)

Foto (e legenda): © Manuel Domingos Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P22393 (*):

Caros amigos,

O animal (réptil) que o Manuel Ribeiro mostra numa das fotos, não é Jacaré, mas também não é um Crocodilo. Eu explico:

Na Guiné e países vizinhos da região, existem algumas espécies menos conhecidas de répteis da familia dos crocodilos / Jacarés, mas que são muito mais pequenos que estes e que nunca ultrapassam 1,5 mts de comprimento. 

Alguns são anfíbios, com uma coloração muito parecida dos Jacarés, meio esverdeada no dorso e nas patas e amarelado na parte de baixo e que tem como habitat as bolanhas. Estes répteis da bolanha são mais leves e ágeis, e podem ser encontradas em cima de ramos de árvores na orla das bolanhas. Na lingua fula são designados por Heleldi (plural), Heleldu (singular).

Em contrapartida, os Crocodilos, normalmente, vivem nos rios ou braços de mar e raramente se aventuram em bolanhas, salvo em épocas de grandes cheias que podem assim juntar as águas dos rios e das bolanhas.

E ainda, há outros (seus primos) que vivem um pouco mais afastados das bolanhas, podendo ser encontradas mesmo na floresta, com uma cor única, sujos de lama e, em regra, adquirem a cor da terra onde habitam, podendo ser de cor preta, cinzenta ou avermelhada, conforme o local, pois vivem em buracos que escavam no solo (toma a designaçao de Kurôh, em fula).

Antes da islamização, estes répteis eram caçados e faziam parte da dieta alimentar das diferentes etnias da região, mas com o advento das religiões monoteistas, passaram a ser consideradas impuros e, em consequência, ilícitos para o consumo dos crentes. Não obstante, o hábito antigo de consumo das suas carnes ainda se mantém entre os mais novos que frequentam as bolanhas e campos de trabalho em plantações de caju e outros cereais no mato, não estando sujeitos, nessas ocasiões, ao escrutinio dos mais velhos.

Cordialmente,

Cherno Baldé

2. Comentário do Valdemar Queiroz ao poste P22393 (*):

(...) Quanto ao réptil, faz-me lembrar um lagartão que aparecia nos regos feitos pela corrente das águas da chuva e me pregou um grande susto...e complicado : imagina estar a largar o preso para o rego e de repente aparecer dum restolho um lagartão e eu desatar a fugir com as calças a dificultar e qual preso pra que vos quero.(...)

3. Resposta do Cherno Baldé ao comentário anterior:

Caro Valdemar,

Esse "Lagartão" que tu viste, deve ser um dos tais répteis a que me referia no meu comentário. Este deve ser o do interior e que costuma surpreender, dissimulado nos arbustos, com uma saída abrupta e com passos pesados.

Quando éramos crianças, tentávamos apanhá-los com os nossos cães, mas conseguiam defender-se abanando suas caudas. (...)




Fonte: Mercado livre  Selos da Guiné-Bissau, com a devida vénia


4. Comentário de LG:

De todos os répteis recenseados na Guiné-Bissau (cerca de 8 dezenas), , conseguimos identificar, através de pesquisa da Internet, e no nosso blogue, da família Crocodylidae pelo menos 3 espécies de crocodilos:

  • Crocodilo do Nilo (Crocodylus niloticus) (conhecido naGB como "lagarto"; é "animnal protegido");
  • Crocodilo de focinho delgado (Crocodylus catraphactus)
  • Crocodilo-anão (Osteolaemus testrapis) (também conhecido pro lagarto preto, na GB; é "animal protegido"),

Os crocodilos pertencem à à classe Reptilia, ordem Crocodylia, família Crocodylidae (Cuvier, 1807). Outra família são os Alligatoridae: aligatores ou jacarés (que não existem na Guiné-Bissau...). E ainda a família Gavialidae (os gaviais).

No total existem 24 espécies vivas da ordem Crocodylia, a mais numerosa são a dos crocodilos propriamente ditos, Crocodylidae: 14 espécies. O crocodilo do Nilo é o que pode representar maior perigo para o ser humano, medindo, os machos, entre 3,5 e 5 metros de comprinento (e pesando, em média, entre 250 e 500 kg.).

Os jacarés só existem no Novo Mundo e na China. Distinguem-se dos crocodilos por terem: (i) uma cabeça mais curta e mais larga; e (ii) focinhos mais avantajados. Os crocodilos vivem no Novo e no Velho Mundo (exceto da Europa).E os gaviais só existem na Índia e no Nepal e estão em perigo crítico.
 
Ver também base de dados do répteis (The reptile database).

Mas há mais répteis na Guiné-Bissau (vd. selos da Guiné-Bissau)... Por exemplo:

  • Varano do Nilo  (Varanus niloticus) (também conhecido por largato do Nilo, podendo atingir 1,5 / 2 m de comprimento; na GB é conhecido pot linguana-de.água)
  • Linguana-de-mato (Varanus exanthematicus) (vive nas savanas);
  • Agama comum (Agama agama) (, pequeno lagarto, que pode medir até 30 cm., que encontrávamos na Guiné, geralmente em grupo, quer nossos nos aquartelamentos quer a atravessr as picadas)
Gostava de saber o nome científico dos répteis acima referidos pelo Cherno Baldé e pelo Valdemar Queiroz... mas não sei. É capaz de haver mais lagartos, entre este mais pequeno, o Agama comum e o Varano do Nilo (que não me lembro ter visto...). Bambadinca, em mandinga, queria dizer justamente "a cova do lagarto" (ou seeja, do crocodilo)... Há  uma equipa de futebol a disputar o campeonato nacional, os Lagartos Futebol Clube de Bambadincam criada em 2002...

O Cherno Baldé rovavelmente estava a referir-se aos varanos ou linguanas... Em fula, no plural, Heleldi (linguanas-de- água) e Kurôh (linguanas-do-mat0). 



Fonte: Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Biodiversidade, Projecto GBS/97/G31/1G/9, Programa de Nações Unidas para Ministério de Desenvolvimento Rural e Agricultura Desenvolvimento e Ministério dos Recursos Naturais e Ambiente, República da Guiné-Bissau, 161 pp.(Disponível aqui, em, formato pdf: http://extwprlegs1.fao.org/docs/pdf/gbs157123.pdf)
 

´

Guiné > Região de Tombali > Catió > Ganjola > c. 1967/69 > Um crocodilo apanhado por militares no rio de Ganjola. O zebro parece ser dos fuzileiros. Amigos e camaradas, não confundam crocodilo e jacaré. Na Guiné não há, nem havia no nosso tempo, jacararés... (**)

Foto: © Alcides Silva (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366 (Susana, 1971/73) > Na tabanca de Susana, o Armando Costa, segurando... um crocodilo do Rio Cacheu (***)


Foto (e legenda): © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados .[Edição e legendagem complementar  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné- Bissau > Biombo > 1968 > O crocodilo da Praia do Biombo (****)


Foto: © Patrício Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Regiºoa de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Novembro de 1971 > O ten cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o alf  mil Médico Vilar e o alf mil Paulo Santiago, 'vendo a dentadura do crocodilo'...  Foto tirada possivelmente "em inícios de Dezembro de 1971 no Mato Cão", após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento (com a missão de proteger a navegação no Geba Estreito). As condições eram péssimas, diz o Paulo. "Atrás do Comandante, nota-se um mosquiteiro. Não havia valas, unicamente uns buracos individuais,com a dimensão dos colchões". (*****)...

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã > Nhenque > 2020 > "Pequeno crocodilo",  capturado na bolanha (******).

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Região do Cacheu > São Domingos > Novembro de 2015 > Um de  dois crocodilos "assassinos" capturados no rio Cacheu.Depois destes 2 meninos, um com 3,50 e o outro 5 metros, terem comido 3 pessoas na última época das chuvas, no rio de S. Domingos, não é... que também os comeram... nas últimas duas semanas ?! (*******)



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > São Domingos > Novembro de 2015 > Um de  dois crocodilos "assassinos" capturados no rio Cacheu.Depois destes 2 meninos, um com 3,50 e o outro 5 metros, terem comido 3 pessoas na última época das chuvas, no rio de S. Domingos, não é... que também os comeram... nas últimas duas semanas ?! (*******)

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


5. Desafio aos nossos leitores:

Não somos especialistas em zoologia, muito menos em herpetologia (a parte da zoologia que estuda os répteis e os anfíbios).... mas aqui fica mais um pequeno contributo para um melhor conhecimento da fauna da Guiné-Bissau... Têm a palavra os nossos leitores, sobretudo os mais entendidos (********).

Uma coisa sabemos: não havia (nem há hoje) jacarés na Guiné-Bissau...

Sabemos que o crocodilo (e  em especial o Crocodylus niloticus) era abundante no nosso tempo... Mas raramente visível.  Nós não nos dávamos conta dele, a não ser quando algum desgraçado caía ao rio... Sabemos que o PAIGC exportava pele de cocrodilo, para "endireitar" as contas...  E ainda hoje causa alarme o seu aparecimento próximo de zonas habitadas (incluindo Bissau). Teoricamente, são espécies protegidas...

De qualquer modo, o nosso obrigado aos autores dos comentários e fotos acima reproduzidos: Manuel Domingos Ribeiro, Cherno Baldé, Valdemar Queiroz, Alcides Silva, Armando Costa, Paulo Santiago, Carlos Fortunato, Patrício Ribeiro.



(***) Vd. poste 20 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15771: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (34): É crocodilo ou jacaré ? Caros leitores, corrijam as legendas, se for caso disso...

(****) Vd. poste 6 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

(*****) Vd. poste de 26 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P914: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (1): Bissau


(*******) Vd. poste de 30 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15424: (In)citações (79): Comer crocodilo que comeu homem, é canibalismo? Felupes de São Domingos dizem que 'crocobife' é bom... (Patrício Ribeiro, Bissau)

(********) Último poste da série > 7 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22346: Fotos à procura de...uma legenda (145): Que estrada seria esta? Brá-Safim-Landim-Bula ou Brá-Safim-Nhacra-Mansoa? (João Rodrigue Lobo / Virgílio Teixeira / José Carvalho / Valdemar Queiroz)