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sábado, 18 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal


Raúl Folques, com o posto de major foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974). Os dois aparecem aqui na foto, à esquerda, o Matos Gomes, e à direita o Folques.

Foto editada, extraída de Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p., 240 (com a devida vénia...)

Estes três oficiais, juntamente com o cap paraquedista António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos Africanos, e o Grupo do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal, em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes, 11 feridos graves e 23 ligeiros, entre as nossas força.




Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten gen 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O Amadu Jaló tem onze páginas (pp. 248-258), no seu livro "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010), de grande intensidade dramática, sobre a Op Ametista Real, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene, com o Raul Folques ferido e amparado pelos seus soldados.



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a  um ano, em 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ?  Não, ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas).

Nestes dia que correm de fim de primavera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA (2015) sobre estes acontecimentos (*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas >

 2. 2. Operação Ametista Real - 17 a 21Mai73


(...) A partir da segunda semana de Maio de 1973 a situação na área de Guidaje foi-se agravando, quer pelas flagelações inimigas ao aquartelamento, quer pelos ataques lN às colunas de reabastecimentos vindas de Farim.

Houve a notícia de movimentações de tropas do PAIGC junto à fronteiran com a República do Senegal e existiram dificuldades em evacuar os feridos em combate devido às limitações de emprego dos meios aéreos.

Estes factos levaram o Cmdt-Chefe a decidir avançar com uma operação de grande alcance para conter as forças do PAIGC que atacavam Guidaje e abrandar a tensão sobre este aquartelamento a fim de possibilitar o reabastecimento da guarnição militar e a evacuação dos feridos.

A missão de executar a operação foi atribuída ao Batalhão de Comandos da Guiné.

Transcreve-se o relatório da operação elaborado pelo Cmdt do BCmds em 25Mai73. Estão omitidos os Anexos A, B, C e D.

Relatório da Operação "Ametista Real"

Realizada de 17 a 21Mai73 na Região de Guidaje - Bigene - Binta. Referência: Folhas da Carta de Guiné: Guidaje - Bigene - Binta. Escala 1/50.000

1 - Situação

a. Forças Inimigas

- O mencionado na ordem de Operações "Ametista Real"

b. Forças Amigas

- COP 3 Bigene; Guidage. | COP 2 Binta | BA 12 6 aviões "G-91", alerta em Bissau.

2 -Missão

Aniquilar ou, no mínimo desarticular os elementos ln na região compreendida ntre Guidaje e Bigene.

3 - Forças Executadas

a. Comando: Cmdt/Oper - Maj Cav, "Comando" João de Almeida Bruno.

b. Composição e Articulação de Forças

- Agr Centauro (3ª CCmds a 6 Gr Cmds) | Comandante Cap Inf"Comando" Raul Folques.

- Agr Bombox (2ª CCmds a 6 Gr Cmds) | Comandante Cap Cav "Comando" Matos Gomes.

- Agr Romeu (1ª CCmds a 6 Gr Cmds + 1 Gr COE) | Comandante Cap Para António Ramos.

c. Meios:  13 CCmds; 2ª CCmds; 3ª CCmds; 1 Gr COE; 4 helis ALL III - TEVS; 2 helis ALL III - armados; 6 aviões G-91 - ATIP e ATAP (alerta em Bissau); 4 aviões DO-27 - DCON.

d. Alterações à Orgânica Regulamentar - Nada.

4 - Planos estabelecidos para a Acção

Foram estabelecidos contactos pessoais com a REPOPER, REPINFO, COAT/BA 12 CMDDEFMAR.

5 - Desenrolar da Acção

Dia 17Mai73:  18h00- Saída de Bissau para Bigene em LDG.

Dia 18Mai73: 23H50 - Saída de Bigene para a base de ataque.

Dia 19Mai73

06h20 - Chegada à base de ataque.

08h20 - Início do bombardeamento da FAP e exploração da zona de objectivos.

09h05 - Estabelecido o primeiro contacto com o lN.

14h10 - Estabelecido o último contacto com o lN. ln estimado em 500/600 elementos armados, com apoio de mort 82 mm, canhões s/recuo e foguetões.

14h30 - Início da progressão para a base de recolha.

18h20 - Chegada a Guidaje.

Dia 20Mai73

08h30 - Saída para Binta.

19h30 - Chegada a Binta.

Dia 21Mai73

07h30 - Saída de Binta para Bissau.

16h00- Chegada a Bissau.

6 - Resultados obtidos

(1) Obtidos pelas NT sobre o lN

a. Baixas causadas ao ln

- Mortos (confirmados) 67.

- A FAP deve ter provocado com os seus bombardeamentos elevadas baixas ao lN que se estimam, dado o facto de o último bigrupo lN referenciado ser de efectivo de cerca de 150 elementos, entre 100 a 150 elementos.

b. Material destruído e capturado:

Material destruído

- Depósito de Material 16

- Paiois (bombardeados pela FAP) 6

- Mort AA (bombardeados pela FAP) 2

- Munições de armas ligeiras 50 mil

- Esp aut Kalashnikov 300

- Pist metr PPSH 112

- Gra mão 560

-Minas A/C  505

- Minas A/P  400

- Metr Lig  Degtyarev 100

- Mort 82 mm 11

- Canhão s/r  14

- LGFog RPG-7 138

- LGFog RPG-2 450

- Gran Canhão s/r  1.100

- Gran mort 60 mm 225

- Gran mort 82 mm 406

- Gran LGFog  RPG-7 54

- Rampas de foguetões 122 mm 21

- Foguetões de 122 mm 53

Estes números são estimados, embora tenha havido o cuidado de, tanto quanto possível, contar o material destruído.

Os paióis destruídos pelos bombardeamentos da FAP devem triplicar o material destruído mas não é possível estimar nem o seu volume nem a sua natureza, embora se pense que seriam na sua grande maioria munições de morteiro e de canhão s/r, dados os violentos rebentamentos que provocaram.

c. Material capturado

- Anexo B

d. Documentos

- Nada

e. Objectivos lN destruídos

A FAP e as FT devem ter destruído quase na totalidade a organização militar lN sediada na Zona. No entanto julga-se que o lN ainda ficou com algumas instalações que não poderam ser
referenciados na altura.

(2) Baixas causadas às NT pelo lN

a. Pessoal

- Anexo C

b. Material

- Anexo A

(3) Baixas sofridas pelas NT por outras causas.

a. Pessoal

- Nada.

b. Material

- Anexo A

(4) Munições consumidas

- Anexo A

7 - Serviços

- Ração de reserva para 4 dias | Água para 4 dias.

8 - Apoios

O COATIBA 12 apoiou a Operação em ATAP e ATIP com aviões G-91

9 - Ensinamentos colhidos

a. Referentes ao lN

- Revelou-se muito forte e organizado, defendendo a todo o custo as suas posições.

- Além de enquadramento cubano (?), foram referenciados 4 elementos da Mauritânia (3 mortos e 1 ferido que veio a morrer posteriormente).

b. Referentes às NT

- Necessidade de armas de apoio (mort 81 mm e canh s/r  5,7 cm).

10 - Diversos

a. Citações

- Anexo D.

ANEXOS

A - Mat das NT extraviado, danificado e consumido.

B - Mat capturado ao lN.

C - Baixas sofridas pelas NT.

D - Citações [... ]"

Execução"

"As forças do batalhão de comandos saíram em 17 de Maio de Bissau numa LDG, apoiadas por duas LFG, e desembarcaram em Ganturé nessa tarde. 

Depois de briefing em Bigene, saíram pelas 23h50 para norte, pela seguinte ordem: agrupamentos Bombox, Centauro e Romeu.

Pelas 05h30 de 19 de Maio, a testa da coluna alcançou o itinerário que apoiava a base de Cumbamori, objectivo principal da operação. O agrupamento Bombox passou para norte da estrada, o agrupamento Centauro ocupou posições a sul e o agrupamento Romeu instalou-se à retaguarda, numa pequena povoação.

Às 08h20 iniciou-se o ataque aéreo com aviões Fiat G-91, que destruíram os paióis da base, tendo as munições explodido durante algum tempo.

Às 09h05, o Agrupamento Bombox executou o assalto inicial, provocando o primeiro contacto com as forças do PAIGC. Estes combates desenrolaram-se até às 14h10, quando o comandante da operação deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as suas forças e as do PAIGC.

Foi uma operação de grande dificuldade, porque os combatentes de um e de outro lado se encontravam muito próximos. O comandante do Agrupamento Centauro  [Raul Folques]
 ferido, mas conseguiu realizar essa separação [... ]. 

Às 14h30 o batalhão de comandos iniciou o movimento para a base de recolha e às 18h20 os seus primeiros elementos chegaram a Guidaje. 

Em 20 de Maio, o mesmo batalhão saiu de Guidaje para Binta, a pé, deixando ali os seus feridos e os militares que não se encontravam em condições de prosseguir a marcha. Em Binta, embarcou numa LDG de regresso a Bissau".

[Nota: Aniceto e Gomes, Carlos de Matos, "Guerra Colonial" ... pp. 506-507. ]

(Continua)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 313/319. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

______________

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Guiné 61/74 – P23357: (Ex)citações (409): Sobre a progressão da coluna no dia 29 de Maio, atentem no seguinte excerto do meu livro "Prece de um Combatente" (Manuel Luís R. Sousa, SAj GNR Ref, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72)

1. Comentário publicado, em 16 de Junho, no Poste Guiné 61/74 - P23353: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (4): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte III: Cerco e ataque IN (650/700 elementos) a Guidaje, de 8 de maio a 12 de junho de 1973 pelo nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74) e autor do livro "Prece de um Combatente - Nos trilhos e trincheiras da guerra colonial":

Sobre a progressão da coluna no dia 29 de Maio, atentem no seguinte excerto do meu livro PRECE DE UM COMBATENTE, que eu vou tentar distribuir e dois comentários consecutivos, para contornar o número de caracteres que me são autorizados.

"...A cerca de 4 ou 5 quilómetros, já próximo das viaturas destruídas a que acima me referi – nas proximidades de um local que hoje identifico no mapa da Guiné como Genicó – zona mais perigosa, os sapadores recusaram-se a picar, alegando cansaço físico.
É então recebida ordem para que o pelotão de Jumbembém, em que eu estava integrado, avançasse até à frente para picar, em substituição dos sapadores.
Nesse dia, na escala que tínhamos no pelotão, tocava-me a mim a picar.

Cheguei à cabeça da coluna e foi-me entregue uma pica (um pau com um ferro num extremo) pelo capitão que comandava a coluna, – ao que sei hoje, seria um tal capitão Rodrigues de Farim – ordenando-me que começasse a picar na rodeira do lado esquerdo.
Após ter começado a picar, ordenou-me para passar para a rodeira do lado direito, já que atrás de mim se encontrava outro picador, precisamente o mesmo soldado Lopes, vindo mais dois atrás, um de cada lado, seguidos do referido grupo de Comandos.

Entretanto, após ter começado a picar, um oficial, creio que um alferes, sugeriu ao referido capitão, para, a partir dali, as máquinas da engenharia, que também integravam a coluna, começarem a abrir nova picada paralela àquela, dada a forte probabilidade de estar minada.
Referiu que não, argumentando que ali o terreno era firme, pois só mais lá para a frente é que as máquinas abririam nova picada.

A morte do meu camarada Domingos Martins da Silva Lopes

Continuei então a picar, pelo lado direito, sob grande tensão, pairando um silêncio sepulcral por entre a mata densa que ladeava a picada, ouvindo-se apenas os motores das viaturas um pouco distantes à retaguarda.
Eram cerca das 10h30 e o calor já era intenso.
A cerca de 20 metros após ter começado a picar passei sob uma árvore de grande porte, cujas raízes estavam salientes e atravessavam a picada.
Eu era o primeiro homem lá à frente, sendo certo que pelos flancos, pela mata, como atrás referi, seguiam forças a proteger o itinerário de qualquer investida lateral do IN.
Ouvi o soldado Lopes, que me seguia, como disse na rodeira do lado esquerdo, a dizer-me em sussurro: “Sousa, vamos com cuidado”..."

"...No mês de Maio já as primeiras chuvas tinham caído e o terreno da picada estava tão uniforme que não dava para se vislumbrar quaisquer vestígios que me permitissem detectar visualmente a existência de minas. Depois de picar cerca de 50 metros, isto é, já picava para lá da referida árvore a cerca de 20/30 metros, ocorreu atrás de mim uma enorme explosão, o que me levou instintivamente a baixar-me para me proteger, ficando envolvido por fumo negro e terra que me caiu em cima em consequência da mesma explosão.

Momentaneamente o silêncio foi absoluto, interrompido entretanto pelo queixume de alguém atrás:
-“Ai minha mãezinha…ai minha mãezinha”.
Continuei então ali abaixado, até que, volvidos alguns instantes, me foi passada a palavra que o pessoal de Jumbembém regressaria a Binta.
Recuei pelas pegadas que tinha feito em sentido contrário, pelas que ainda eram visíveis depois da explosão da mina.
Apercebi-me, ao chegar novamente à referia árvore, que o meu colega, o soldado Domingos Martins da Silva Lopes, que me substituiu na rodeira do lado esquerdo, estava morto, cuja arma desapareceu em consequência da potência daquele engenho explosivo.
Contudo o seu corpo estava intacto, porém sujo com a terra e fumo da explosão, indiciando que a sua morte teria sido causada por esmagamento dos órgãos internos, dada a violenta deslocação do ar – que eu a cerca de trinta metros ainda senti – provocada pela deflagração da mina, que o projectou a alguns metros.

O militar que clamava “ai minha mãezinha” era um furriel dos Comandos que evidenciava esfacelamento do rosto.
Teria sido ele a sugerir ao soldado Lopes para picar precisamente sob as raízes da árvore que referi. (Sabe-se que este furriel ficou cego em consequência dos ferimentos).
Vi ainda mais um ferido ou outro, mas sem gravidade.

O regresso do meu pelotão a Binta

Regressou o meu pelotão a Binta em duas viaturas, transportando o corpo do soldado Lopes e os feridos..."
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 – P23356: (Ex)citações (408): Da parte operacional, pouco sei para além do que os meus amigos, quando vinham a Bissau, me contavam parte do que por lá passaram e também do meu serviço no Centro de Mensagens do QG (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/CTM/QG/CTIG)

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23353: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (4): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte III: Cerco e ataque IN (650/700 elementos) a Guidaje, de 8 de maio a 12 de junho de 1973



Guiné > Região do Cacheu > Carta da província da Guiné (1961) > Escala 1/ 500 mil > Detalhe: A fatídica picada Binta - Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)




1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, ou a "batalha dos 3 G" (ou batalhas ?),  já aqui tão acaloradamente discutida, analisada, comentada, ao ponto de alguns de nós termos perdido a serenidade e a contenção verbal que devem ser apanágio deste blogue de antigos combatentes...

Em 2023, os três G vão fazer meio centenário... Bolas, como estamos velhos como o c...!

Mas ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). (*)

Nestes dia que correm de fim de prinevera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil  poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA )2015) sobre estes acontecimentos(*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN a Guidaje, no Norte (de 8 de maio a 12 de junho de 1973)



(...) O inimigo desencadeou no mês de Maio uma operação que tinha por finalidade isolar Guidaje, tendo para o efeito flagelado esse aquartelamento e Bigene, quer para obrigar ao abandono e posterior destruição, quer ainda para impedir o auxílio da artilharia e das NT. 

Além disso deslocou elevado número de elementos para a estrada Binta-Guidaje com o fim de tentar neutralizar qualquer tentativa de reabastecimento.

No início de Maio, a guarnição militar de Guidaje (sob comando operacional do COP 3 com sede em Bigene), era constituída pela CCaç 19 e 24° Pel Art (10,5 cm), num total de um pouco menos de 200 militares.

Os efectivos do PAIGC, que se encontravam na região de Cumbamori 
[no interior do Senegal a escassos 7 km da fonteira] Senegal, julgam-se que eram os seguintes:
  • Corpo de Exército 199/B/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; 
  • Corpo de Exército 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; grupos de foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; 
  • três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bataria de artilharia do Corpo de Exército 199/A/70 deslocados de Sare Lali (Zona Leste) (efectivos estimados em 650 a 700 homens).
[Veja-se a cronologia dos acontecimentos: ]

(i) Em 8 de Maio, Guidaje esteve debaixo de fogo por cinco vezes num total de 2 horas; dia 9 sofreu 4 ataques; dia 10, três e até 29Mai todos os dias foi flagelada, num total de quarenta e três ataques principalmente com artilharia, foguetões e morteiros. Todos os edificios do aquartelamento ficaram danificados. A guarnição teve 7 mortos e 30 feridos militares e a população 15 feridos .

(ii) Em 8Mai pelas 16h00,numa acção de escolta a uma coluna de viaturas no itinerário Farim-Guidaje por forças de 1 GCom 1ª C/BCaç 4512/72 e 1 GComb/CCaç 14, accionaram uma mina anticarro que danificou uma viatura. A seguir as forças foram emboscadas durante 15 minutos por um grupo lN fazendo uso de armas automáticas, morteiros e LGFog 
RPG-2 e RPG-7. Pernoitando no local, no dia seguinte pelas 05h20, as
 forças foram atacadas durante 4 horas. Devido à falta de munições as forças foram compelidas a retirarem para Binta. O lN teve 13 mortos e vários feridos prováveis. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves e 10 ligeiros. Quatro viaturas foram incendiadas e destruídas.

(iii) Em 10Mai, uma força constituída por 2 GComb 1ª C/BCaç 4512/72, 2 GComb/ 2ª C/BCaç 4512/72,2 GComb/CCaç 14 e 1Bigrupo da 38ª CCmds, encarregada de escoltar uma coluna entre Farim e Guidaje, accionou 2 minas A/P , cujo rebentamento provocou 1 morto, 1 ferido grave e 1 ligeiro às NT.

No mesmo dia, 2 GComb/CCaç 19 saíram de Guidaje para executarem a picagem e abertura do itinerário até Cufeu, juntamente com 2 GComb/CCaç 3 (da guarnição de Bigene e que foram reforçar Guidaje) que realizavam a protecção à picagem e tinham por missão continuar a mesma até Genicó, onde se daria o encontro com a coluna saída de Binta.

A força da CCaç 19, accionou 1 mina A/P reforçada com 1 mina A/C , de que resultou 1 ferido grave e 1 ligeiro.

A força da CCaç 3: 

"Antes de entrar na região do Cufeu, foi por mim pedido fogo de artilharia para ambos os lados da estrada de modo a ser batida a bolanha.

Entretanto instalei o pessoal em linha do lado esquerdo da estrada no sentido Guidaje-Binta [... ]

"A Artilharia entretanto fez um dos tiros pedidos, do que resultou saírem do lado esquerdo da bolanha 22 elementos ln nos quais foram referenciados alguns de cor branca. No contacto resultante, o lN foi posto em fuga, seguindo para o lado direito da Bolanha.

"Em virtude do acontecido e visto os restantes tiros pedidos não terem ido executados, dei ordem para seguir para a tabanca do Cufeu. Ao entrar na referida tabanca o lN desencadeou forte emboscada, a partir de lado direito da estrada, com apoio de canhão sem recuo, morteiro 82 mm e armas pesadas. Tendo em vista a situação dei ordem para avançar, saindo assim da zona de morte do mort 82 mm, tendo pedido de novo apoio ao Pel Art de Guidaje e aos 2 GComb da CCaç 19 que faziam a picagem.

"Não tendo sido prestado esse apoio, [... ] dei ordem para retirar por secções, tendo como pontos de encontro Guidaje e Genicó. Com um grupo de 8 elementos tentei seguir para Genicó a fim de contactar com o Comandante da coluna saída de Binta; [... ] tal foi no entanto possível [... ], tendo então dado ordem aos elementos em melhor estado físico de seguir para Guidaje, onde exporiam a situação. Com os 4 elementos restantes prossegui a deslocação tendo pernoitado a noite na bolanha de Fajonquito, Rep Senegal, e atingido Guidaje em 11Mai73, pelas 7h30. [... ]

De acordo com as informações recebidas o lN sofreu 12 mortos confirmados e 9 feridos, as NT tiveram um ferido ligeiro. [... ]". 
 

[Nota: Relatório de acção de protecção à picagem no sentido Guidaje-Genicó realizada em 10Mai73 pelo Cmdt da coluna da CCaç 3. ]


(iv) Em 12Mai, uma coluna de reabastecimento, ida de Farim, escoltada pelos DFE nºs 3 e 4, conseguiu atingir Guidaje. Em 15, no regresso a Farim, as NT accionaram 2 minas, sofrendo 2 feridos graves; mais tarde foram emboscadas, sofrendo 5 feridos.


(v) Em 15Mai uma força constituída por 2 GComb/CCaç 3518, Pel Mil 322 e 1 GComb da CCaç Africana Eventual-Cuntima  [sic] , comandada pelo Cmdt da 2ª C/BCaç 4512/72, efectuou uma coluna de reabastecimento a Guidaje partindo de Farim. Tinha apoio para execução de picagem de 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 Grupo de Milícias de Farim e 2 GComb/ CCaç 3; 1 DFE emboscado no Cufeu e o apoio de artilharia do 24° Pel Art e 27° Pel Art. Chegou a Guidaje pelas 15h30 do mesmo dia, sem contacto com o lN.

O retorno da coluna a Farim, reforçada com 2 GComb/CCaç 3 e um agrupamento do DFE, faz-se pelas 10h00 do dia 19Mai.

Antes da coluna ter penetrado na tabanca do Cufeu, a equipa que seguia picando o itinerário accionou uma mina anticarro que originou um morto e um ferido grave às NF. Pouco depois, accionada outra mina anticarro por uma viatura Berliet, que ficou parcialmente danificada,
mas incapaz para prosseguir o deslocamento. De seguida um civil ficou ferido por ter accionado uma mina antipessoal. Pelas 12h20, na zona de tabanca do Cufeu, a coluna é emboscada, frontal à sua testa, por um grupo lN estimado em cerca de 100 elementos.

A força dos DFE nºs 1 e 4 reagiu à emboscada, tendo sido pedido apoio aéreo e fogo da Artilharia de Guidaje. Pelas 12h55 o lN activou dois mísseis terra-ar que partiram do lado sul da bolanha do Cufeu. Pelas 13h20 é dada ordem de regresso a Guidaje em virtude do esgotamento de munições; abandonou-se a viatura Berliet minada. 

No total as NT sofreram 5 feridos. A coluna permaneceu em Guidaje, de 20 a 29Mai, tendo sofrido 4 mortos num ataque lN a Guidaje em 26Mai, às 23h00. 

Em 30 a força, incorporada numa coluna organizada em Guidaje, com forças ali estacionadas e outras chegadas a 19Mai, regressou a Farim".

 [Nota: Extractos do Relatório da Operação "Reabastecimento a Guidaje realizado em 15Mai73" da 2ª C/ BCaç 4512/72 e dos Relatórios da "acção realizada em 19Mai73" dos Iº e 20º  GComb/CCaç 3.]


(vi) Em 23Mai, saiu de Binta, uma coluna de reabastecimento com destino a Guidaje. Era constituída pelas seguintes subunidades: CCP 121, DFE nºs 1 e 4, 1 GComb/CCaç 14 e 1 GComb/CCaç 3.

"Até Genicó a coluna correu sem dificuldades. Em Genicó o GComb/CCaç 3 começou a picagem, correndo também sem dificuldades até ao momento que 1 elemento accionou uma mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou morte imediata. Segundo um elemento do GComb/CCaç 3 que conhecia mais ou menos a zona, devia a coluna estar aproximadamente a 3 Km do Cufeu. Entrou-se logo em contacto com Águia (Cmdt COP 3 Avançado) o qual mandou prosseguir, apesar de haver já um morto. Ia a coluna a prosseguir, outro elemento do GComb/CCaç 3 accionou uma outra mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou também morte imediata e 1 ferido grave do mesmo grupo. [... ] Entrou-se logo em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado informando-o da situação actual da coluna.

"Foi-nos dada ordem do mesmo para prosseguirmos com a coluna a corta-mato. Estávamo-nos a preparar para progredirmos com as viaturas a corta-mato, quando um elemento dos DFE nºs 1 e 4 accionou uma mina antipessoal a uns 4 metros da picada, que lhe decepou uma perna e mais ferimentos. De novo entrámos em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado, informando-o da situação actual da coluna. Logo após termos accionado a 1ª mina, entrámos em contacto com o Grupo da CCaç 14 que tinha ficado em Genicó, para ir ao nosso encontro a fim de transportar os feridos e os mortos para Binta. Passados 3/4 de hora, apareceu um grupo junto de nós, mas não era da CCaç 14, mas sim 1 GComb da 2Ç CCaç/BCaç 4512/72 de Jumbembem. 

"Entretanto o Cmdt do COP 3 Avançado deu-nos ordem para regressarmos ao ponto inicial da partida. Do local onde nos encontrávamos até Binta, a coluna correu bem. Chegados a Binta, tratamos de evacuar os dois feridos e de arranjar urnas para os dois mortos. De Binta a Ganturé fomos transportados pelo NRP Hidra sem problemas. De Ganturé para Bigene também não houve problemas.?" 

 [Nota: Relatório da coluna Binta-Guidaje realizada em 23Mai73 pelo GComb/CCaç 3.]

Como já referido foi decidido que a coluna regressasse a Binta com excepção da CCP 121, que recebeu a missão de atingir Guidaje. Pelas 16h30, na região do Cufeu, a CCP 121 é emboscada por numeroso grupo inimigo, sofrendo 4 mortos e 2 feridos graves e provocando, com o apoio da Força Aérea, baixas não controladas ao lN. A CCP 121 atingiu Guidaje ao final do dia.

(vii) Em 29Mai, o COP 3 levou a efeito uma coluna de reabastecimento e abertura do itinerário entre Binta e Guidaje, articulando as suas forças em seis Agrupamentos:

A - 2 Bigrupos/38* CCmds e Pel Sapadores do BCaç 4512/72

B - 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 GComb/2ª C /BCaç 4512/72, GE Mil 342 e 2° GComb/CCav 3420

C - CCav 3420 (-)

D - CCaç 3414

E - CCP 121

F-DFE

A CCP 121 montou emboscada na região do Cufeu. O DFE montou emboscada na clareira de Ujeque. O 24º Pel Art, em Guidaje, apoiou o deslocamento a partir da antiga tabanca do Cufeu.

O Agrupamento B levou um D-6 do BEng 447.

"Pelas 05HOO o Agr A saiu de Binta seguido do Agr B. Iniciou-se a progressão até Genicó indo o Pel Sap e GE Mil 342 de Olossato, do Agr B, alternando-se na picagem da estrada. Seguidamente continuou-se a progredir ao longo da picada de molde a atingir-se o limite Sul de um suposto campo de minas ln, na zona das viaturas destruídas. Nesta zona um picador accionou uma mina A/C  ao picar, causando-lhe morte instantânea e ferimentos graves num Furriel desta CCmds e ferimentos ligeiros em vários militares. a morto e os feridos foram transportados para Genicó por um GComb/2ª C/lBCaç 4512/72. Imediatamente se começou a abrir uma nova picada para oeste utilizando o D-6.

"A abertura fez-se em bom andamento devido à arborização do terreno. Nesta altura, atendendo a que o Agrupamento B se encontrava desfalcado de um GComb que fez a evacuação para a retaguarda, fez--se a junção dos Agr A e B.

Pelas 11h30 do lado Nordeste elementos ln foram detectados pelo Soldado "Comando" NM - 15306371 Santos Silva que abriu fogo, tend o lN ripostado. Debaixo do combate aceso o Agrupamento A lançou-se ao assalto; entretanto o Alf Rocha do mesmo Agrupamento conseguiu colocar o mort 81 mm em posição batendo a zona do ln. Durante o assalto o ln redobrou o fogo dos morteiros 82 mm, RPG e armas ligeiras pelo que o Agrupamento A não conseguiu concretizar o assalto; noentanto em resposta o Agr A redobrou o fogo tendo calado o fogo lN.

"Passados 10 minutos numerosos elementos ln vindos de oeste o dispondo-se em linha começaram a avançar para a frente noroeste das NT; então o Agr A formou também uma linha para dar combate ao lN.

"As NT abriram fogo tendo o lN ripostado com fogo cerrado de armas ligeiras e pesadas nomeadamente canhão sem recuo e mort 82 mm.

"Salienta-se nesta altura o Soldado António Mendes que correu atrás trazendo o mort 81 mm para a frente noroeste ao pé de mim e montou-o com a ajuda da guarnição, fazendo de apontador, de pé, indiferente ao cerrado fogo do lN. [... ] a lN abandonou a posição acabando por retirar em direcção a Uália. [... ]

"Às 13h00 a coluna voltou a pôr-se em movimento com o mesmo dispositivo de segurança ( 2 GComb em linha à frente e segurança lateral), depois do Cmdt do cap 3 ter dado ordem para prosseguirmos até Guidaje. Atravessou-se a bolanha do Cufeu e entrou-se em contacto
com Agr E (Paras) e daí fez-se um desvio para a picada Cufeu- Ujeque. Mal se entrou na picada um Unimog 404 da CCaç 3414 accionou uma mina anticarro de que resultou a destruição do Unimog, a morte do condutor e ferimentos em vários militares. 

"Nesta altura um Soldado Milícia de GE Mil 342 accionou uma mina antipessoal que estava na berma e que lhe originou amputação duma perna. Em virtude destes acontecimentos, voltou-se a abrir nova picada paralela à antiga até Ujeque onde se encontravam emboscados os Fuzileiros (Agr F); a coluna voltou à picada antiga e a testa e uma viatura foram emboscadas a 3 Km de Guidaje, sem consequências, com armas pesadas (mort 82 mm), lgfog e armas automáticas.

"Às 18H30 todas as forças atingiram Guidaje. [... ]" 

 [ Nota: Transcrito do Relatório da "escolta entre Binta e Guidaje em 29Mai73" da 3S" CCmds, do Relatório da operação "reabastecimento a Guidaje em 29Mai73" do Agr B/COP 3 e do Relatório da operação de "abertura do itinerário Binta-Guidaje e reforço ao COP 3 que decorreu de 2SMai a 30Jun73" da CCav 3420.] 
 
O IN teve feridos prováveis e foi-lhe capturada 1 granada de RPG-2 e uma granada de mão F -1". As NT sofreram 2 mortos, 1 ferido grave e 11 feridos ligeiros .

(viii) Em 5Jun um GComb da guarnição de Binta efectuou a picagem do itinerário Binta-Farim e a segurança a uma coluna. Quando esta acabou de transpor a ponte do rio Caur,  um elemento do grupo accionou com a pica uma mina A/C tendo morte instantânea, tendo a mesma causado ferimentos ligeiros a outro elemento. Acorreu em auxílio, dada a hipótese de haver elementos lN na zona, 1 GComb/2ª C/BCaç 4514/72 e 1 GComb PMil 282, que transportaram o morto e o ferido para Farim.

(ix) Em 11Jun, às 05h00,  saiu uma coluna auto de Guidaje com destino a Binta, abrindo novo itinerário. A força era constituída por 1 GComb/lª C/BCaç 4512/72, Pel Sap do BCaç 4512/72, GMIL 342, 1 Sec AM Panhard do ERec 3432, Pel Caç Nativos 56 e 65.

Forças de 3 GComb/CCav 3420, 38ª CCmds e 3ª C/BCaç 4514/72 emboscaram na ponta nordeste da bolanha do Cufeu, entre 1000 metros nordeste da ponta nordeste do Cufeu e Alabato, todas estas forças balizando e definindo o itinerário de marcha. A coluna chegou a Binta pelas 15h00 sem contacto com o lN. Regressou a Guidaje pelas 16h30 com mais sete viaturas da 3ª C/BCaç 4514/72 carregadas com reabastecimentos percorrendo o itinerário aberto em sentido inverso, também sem contacto IN. 

  [
Nota: Relatório de acção realizado em 11Jun73 do Posto Comando Avançado do COP 3.]
 
(x)  Em 12Jun, constitui-se nova coluna que saiu de Guidaje pelas 09h00 com destino a Binta que à medida que percorria o itinerário, foi recolhendo os 3 GComb/CCav 3420 e 38ª Cmds. Depois da passagem da coluna a 3ª C/BCaç 4514/72 recolheu a Guidaje. O Tenente-Coronel de Cavalaria António V. Correia de Campos, que comandava o COP 3, veio também na coluna .

(xi) No mês de Junho de 1973 o Inimigo apenas flagelou por uma vez Guidaje o que indica que desistira das suas intenções sobre este aquartelamento.

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 306/313. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos,  pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série;


6 de junho de 2022  Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar


O emblema da CCAV 8350 (Guileje, 1972/73), "Piratas de Guileje", om o signo da morte por mote, concebido pelo J. Casimiro Carvalho, fur mil op esp.,   em 1972.  


Teor de uma carta enviada pelo J. Casimiro Carvalho aos pais, datada de Cacine, um dia depois da retirada de Guileje

Guileje está à mercê deles!

Cacine, 22/5/73:

Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.

Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…). (Fonte: Poste P1784, de 24 de maio de 2007).
  
(Cortesia de J. Casimiro Carvalho, 2007)



A "arma que mudou a guerra", o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973, na sequência da escalada da guerra

SA 7- Grail (designação NATO), míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968. 

(...) "A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)

(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...) . Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres. (...) (*)



1. A Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), mais conhecida pelo acrónimo CECA, fez um trabalho notável de recolha, análise e sistematização da informação sobre o dispositivo e a actividade operacional no TO da Guiné, por anos e por contendores (NT e PAIGC). O título genérico é Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (e abrange os diversos teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique).

Referimo-nos, em particular, ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar, merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, e em particular os antigos combatentes. 

Com um ano de antecedência estamos já recordar uma importante efeméride os 50 anosndos acontecimentos político-militares de 1973, e em particular de maio/junho de 1973, à volta de 3 aquartelamentos fronteiriços emblemáticos (Guidaje, Guileje e Gadamael). 

Foram meses e meses de brasa: o assassinato de Amílcar Cabral, em 20/1/1973, a utilização do míssil terra-ar Strela contra a nossa aviação, pela primeira vez, em 25/3/1973, o fim do mandato Spínola como com-chefe e governador geral em 6/8/1973, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24/9/1973, etc.. (**de )

O ano de 1973 será recordado como um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas. O PAIGC perdeu o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, formatado pela escola militar soviética.

Por seu turno, Spínola regressou a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos.

Aqui vai, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, a continuação da publicação um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.

É bom lembrar que, "do outro lado do combate" (usando uma expressão grafada pelo nosso coeditor Jorge Araujo), resta muito pouca informação documental, comparada com a que temos no Arquivo Histórico.Militar... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais, desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".(**)

Além disso, os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde foram  objecto de um notável e minucioso trabalho de recuperação e digitalização,  integrados no Arquivo Amílcar Cabral  

Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA. E, modéstia àparte, também a este blogue que fez, em 23 de abril de 2022, 18 anos de existência. Um blogue que pretende continuar a ser uma fonte de partilha de memórias, informação e conhecimento entre Portugal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde, e nomeadamente entre antigos combatentes que fizeram a guerra colonial (Guiné, 1961/74).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.2.
Actividade militar


O ano de 1973 constituiu marco importante também na vertente militar do inimigo, se bem que a morte de Amílcar Cabral tenha provocado alguma desorganização militar e logística iniciais e mesmo assinaláveis dissidências entre cabo-verdianos e guinéus, tendo-se verificado agressões, assassinatos e roubos.

No início do ano a actividade principal da iniciativa do inimigo caracterizou- se por ataques aos aquartelamentos das nossas tropas no norte e no leste e mais reduzidos no sul, na sequência dos procedimentos registados no ano anterior.

Paralelamente, a actividade operacional empenhou-se também em criar dificuldades às nossas tropas nos trabalhos de alcatroamento das estradas, particularmente nas estradas Jugudul - BambadincaNova Lamego - Piche -- BuruntumaBinta - Guidaje, e Cadique - Jemberém, onde foram montadas emboscadas e engenhos explosivos contra as nossas tropas.

Em Janeiro, o número de engenhos explosivos implantados aumentou 152% e a actividade inimiga, no seu conjunto, provocou às nossas tropas algumas baixas, mas em número inferior à média mensal de 7 mortos e 70 feridos registados no ano de 1972.

As alterações nos objectivos de ordem táctica e estratégica decididos pela nova cúpula do PAIGC e os novos meios militares de que o inimigo passou a dispor, alteraram profundamente a relação de forças no terreno, materializada nos seguintes aspectos essenciais:

(i) no inimigo passou a privilegiar o incremento da luta armada relativamente à actividade política externa;

(ii) a luta armada passou a concentrar elevados meios materiais e humanos contra algumas guarnições das NT previamente seleccionadas, em detrimento de acções de guerrilha dispersas;

(iii) o inimigo reforçou-se fortemente em efectivos e armamento e reviu a sua doutrina e a orgânica de modo a adaptar-se aos novos materiais de que passou a dispor: entre o armamento introduzido, destaca-se a nova arma antiaérea - o míssil SA-7 "Strela";

(iv) concentrou efectivos de vulto na região do Boé, a leste da Província, com o suposto propósito de ali defender a todo o custo a sua primeira "região libertada" e estabelecer a fisionomia do novo Estado.

A opção dos dirigentes do PAIGC em incrementar a luta armada, para além do empenho dos novos dirigentes nesse sentido, considera-se também um imperativo das circunstâncias, dada a maior influência que Sekou Touré passou a exercer no partido, após a morte de Amílcar Cabral.

Com o fim de rentabilizar as acções de fogo das suas armas pesadas e melhorar os resultados obtidos nos ataques aos aquartelamentos das NT, o inimigo nomeou especialistas para frequentar cursos no estrangeiro. 

URSS treinou guerrilheiros do PAIGC em Simferopol, Potche, Odessa e Moscovo, onde se formaram em várias especialidades. 

Os especialistas de artilharia e morteiros, regressados às suas unidades de combate, passaram a fazer cálculos de tiro com base em cartas topográficas e a determinar com precisão as distâncias das armas aos alvos e a forma de corrigir o tiro, assim aumentando significativamente a eficácia das acções de fogo das suas armas.

Mas a alteração nuclear ocorreu nas limitações que o inimigo passou a impor às actividades da nossa Força Aérea, quando empregou, com êxito, os mísseis terra-ar, afectando significativamente a actividade operacional, a logística e o moral das forças terrestres.

Do antecedente, as aeronaves da Força Aérea actuavam com total liberdade de acção e este facto, só por si, condicionava seriamente a duração, o efectivo e o efeito das acções de fogo, quer durante o dia quer à noite.

A partir de Março todo este quadro se modificou, depois de o inimigo abater em 28, um avião "Fiat G-91" com um míssil antiaéreo "Strela", de origem soviética, na região do Boé, junto à fronteira com a República da Guiné, e de outro "Fiat G-91 ", três dias antes, se ter despenhado na área de Guileje, atingido por outro míssil, tendo-se ejectado o piloto.

Esta arma afirmou-se como o factor principal da viragem da situação no terreno, na medida em que passou a permitir ao inimigo concentrar fortes efectivos, em pleno dia, em locais onde pretendia exercer esforço, particularmente nas zonas de fronteira e na zona sul, enquanto reduziu a capacidade de exposição ao risco por parte das nossas tropas, por limitar a segurança e a eficácia do apoio da Força Aérea, quer em operações em terra, quer na evacuação aérea de feridos e doentes.

No mês seguinte, em 6 de Abril, o inimigo abateu mais três aeronaves - um "T-6" e dois "DO-27" na região de Guidaje/Binta, a norte, e, a partir daí, as equipas de cinco combatentes que constituíam a guarnição do míssil antiaéreo "Strela", que inicialmente actuavam junto às fronteiras, passaram a actuar no interior da província, condicionando a actividade da Força Aérea na maior parte do território.

O enorme reforço de meios materiais e humanos de que o inimigo passou a dispor no interior do território, foi também um dos factores que fez pender para o seu lado a balança do potencial relativo de combate. 

Os ataques levados a efeito pelo inimigo aos aquartelamentos das NT passaram a ser feitos muito mais demorada e assiduamente que até então e em pleno dia, com relevo para os ataques a Guileje e Gadamael Porto, a sul, e a Guidaje, a norte, todos próximo das fronteiras. 

Em Maio, o número, a violência e a duração dos ataques inimigos ao aquartelamento das NT em Guileje, junto à fronteira sul com a República da Guiné, obrigaram as nossas tropas a retirar desta posição, situação que teve impacto negativo no moral e dá uma ideia da gravidade que a situação atingiu.

Os efectivos e os meios de que o inimigo dispunha no terreno, vinham sofrendo evolução desde Janeiro, quando alguns bigrupos apresentaram uma orgânica diferente do habitual e passaram a estar armados com material russo diferente e bastante melhor que o anterior.

Durante todo o ano, foram chegando, reforços da Rússia, China, Cuba e mesmo mercenários vindos do Mali e Mauritânia, conforme assinalou o
serviço de informações militares português.

O material chegado constava de vedetas rápidas, canhões de 130 milímetros, carros de combate, viaturas anfibias, rampas de lançamento de foguetões, etc..

No final do ano de 1973, o serviço de informações militares atribuiu ao inimigo um efectivo de:

  •  73 bigrupos;
  • 15 grupos;
  • 13 batarias de artilharia;
  • 9 grupos de foguetões:
  •  2 grupos de artilharia convencional;
  •  10 grupos de artilharia antiaérea (mísseis "Strela");
  •  17 grupos de sapadores;
  • 3 bigrupos de fuzileiros:
  •  2 viaturas blindadas;
  • 1 grupo de canhões sem recuo; e 
  • 7 grupos especiais de lança- granadas foguete.

Havia ainda informações de que o inimigo dispunha de um número não determinado de carros de combate e aguardava o fornecimento próximo de aviões "MiG" de fabrico russo, outros meios blindados e lança-torpedos a utilizar contra unidades navais. 

Logisticamente a URSS estava a apoiar o PAIGC desde 1970 com 4 equipas médicas que trabalhavam em hospitais de campanha e davam formação a pessoal auxiliar.

A situação geral foi-se progressivamente deteriorando. O inimigo aumentou os ataques às guarnições das NT e incrementou o uso de engenhos explosivos a partir de Março, com os quais aumentou o número de baixas provocadas às nossas tropas e às populações.

O arsenal de que o inimigo dispunha levava a admitir, como modalidade de acção possível, que após o reconhecimento do novo "Estado" por um número significativo de países, poderia tentar uma ofensiva geral em todas as frentes de luta, lançando mão do grande potencial de combate de que dispunha, eventualmente apoiado por países estrangeiros.

O quadro geral das acções de iniciativa inimiga e das baixas provocadas nas nossas tropas foi o seguinte:

Em Janeiro o inimigo desencadeou 77 acções ofensivas, entre os quais 48 ataques a destacamentos das NT, implantou 21 engenhos explosivos e provocou 4 mortos e 62 feridos às nossas tropas e 10 mortos, 33 feridos e 7 capturados às populações.

Em Fevereiro levou a efeito 52 acções ofensivas, entre as quais 33 ataques a destacamentos e implantou 45 engenhos explosivos, que provocaram 7 mortos e 50 feridos às NT e 6 mortos e 119 feridos às populações.

Em Março desencadeou 63 acções ofensivas, entre as quais 30 ataques a destacamentos, implantou 62 engenhos explosivos e provocou 10 mortos e 90 feridos às NT e 10 mortos e 69 feridos às populações.

Em Abril foram desencadeadas 84 acções, das quais 50 ataques a destacamentos e implantados 143 engenhos explosivos, que provocaram 12 mortos e 80 feridos às NT e 14 mortos e 63 feridos às populações.

Em Maio foram desencadeadas 243 acções ofensivas, das quais 166 ataques a destacamentos e implantados 66 engenhos explosivos, que provocaram 63 mortos e 269 feridos às NT e 16 mortos e 82 feridos às populações.

O inimigo atacou Bigene, a norte, 21 vezes e Guileje, a sul, 36 vezes, obrigando à retirada deste último destacamento das NT no final do mês, em virtude dos ataques inimigos serem realizados com armas de longo alcance posicionadas na República da Guiné e o tiro ser regulado por observadores avançados, garantindo grande eficácia. 

Havia clara intenção inimiga de isolar e reduzir as posições das NT. o destacamento de Guidaje, a norte, foi atacado 43 vezes e durante alguns dias ficou mesmo isolado. Nessa altura, as NT dispunham de informações que indicavam estar o inimigo prestes a ser dotado com meios blindados e aéreos, e que proclamaria para breve a independência.

Em Junho o inimigo desencadeou 145 acções, das quais 101 ataques a destacamentos, implantou 59 engenhos explosivos e provocou 31 mortos e 128 feridos às NT e 5 mortos e 35 feridos às populações.

Após as NT terem retirado de Guileje, o destacamento de Gadamael Porto foi atacado durante 20 dias, perfazendo um total de 70 ataques.

No entanto o inimigo não obteve resultados práticos significativos de tais iniciativas, apesar de ter disparado cerca de 1000 granadas de armas pesadas de artilharia (morteiros 120 mm, canhões sem recuo e canhões 130 mm), tendo situado na vizinha República da Guiné, a maior parte das vezes, as bases de fogos de tais ataques.

Para este conjunto de acções, o inimigo empregou, além das batarias de artilharia de Kandiafara e de peças de artilharia antiaérea, 2 bigrupos de Tombali, 2 bigrupos do Boé, 1 bigrupo do Cantanhez e 1 ou 2 bigrupos de fronteira.

O abaixamento da pressão sobre Gadamael Porto começou a verificar-se a partir de 17 de Junho, em resultado das baixas que sofreu por acção dos bombardeamentos da Força Aérea e das acções das forças terrestres em missões de segurança próxima.

Foram também referenciados vários combatentes inimigos de tez clara.

Na estrada Cadique - Jemberém, o inimigo implantou 10 minas "MAC TMD-46".

No 2.° semestre, a actividade do inimigo diminuiu, quer globalmente, quer relativamente ao período anterior, em virtude de se terem concentrado na República da Guiné os quadros e dirigentes dos aparelhos político, administrativo e militar do PAIGC que tomaram parte no 2°
Congresso e na Assembleia Nacional Popular.

No entanto e apesar disso o inimigo manteve a pressão sobre Gadamael  Porto, na zona sul, e o emprego de mísseis terra-ar em várias frentes do território.

O quadro geral das iniciativas do inimigo no 2° semestre, foi o seguinte:

Em Julho, a actividade perfez um total de 87 acções de sua iniciativa, entre as quais 49 ataques a destacamentos das NT, tendo ainda implantado 57 engenhos explosivos. Esta actividade provocou 15 mortos e 89 feridos às NT e 4 mortos e 7 feridos às populações.
o destacamento das NT em Gadamael Porto foi atacado 21 vezes, neste mês.

Em Agosto, a actividade inimiga totalizou 75 acções (das quais 44 ataques a destacamentos), implantou 71 engenhos explosivos e provocou 8 mortos e 99 feridos às NT e 6 mortos e 13 feridos às populações.

O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 28 vezes.

Em Setembro, a actividade inimiga perfez 45 acções (das quais 29 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 7 mortos e 74 feridos às NT e 11 mortos e 17 feridos às populações.

O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 4 vezes.

Em Outubro o inimigo totalizou 49 acções (das quais 26 ataques a destacamentos), implantou 28 engenhos explosivos e provocou 5 mortos e 37 feridos às NT e 10 mortos e 16 feridos às populações.

Em Novembro, a actividade inimiga perfez 44 acções (das quais 23 ataques a destacamentos), implantou 36 engenhos explosivos e provocou 2 mortos e 44 feridos às NT e 16 mortos e 55 feridos às populações.

Em Dezembro, a actividade inimiga totalizou 78 acções (41 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 17 mortos e 138 feridos às NT e 12 mortos e 45 feridos às populações.

(Continua) (CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 245-250.

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)

 (**) Último poste da série > 4 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23319: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (1): A pontaria dos artilheiros... (Morais da Silva / C. Martins)

Peça de artilharia 130 mm M-46, de fabrico soviético (ano de introdução: 1954). Este tipo de armamento foi usado pelo PAIGC contra Guileje em maio de 1973, a partir do território da Guiné-Conacri. O seu alcance (máximo, com cargas propulsoras suplementares) pode ir aos 27,5 km. Tem uma guarnição de 7 homens.

Fonte: Wikipedia (em finlandês) (2007) (com a devida vénia...)

1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, ou a "batalha dos 3 G", já aqui tão acaloradamente discutida, analisada, comentada, ao ponto de alguns de nós termos perdido a serenidade e a contenção verbal que devem ser apanágio deste blogue de antigos combatentes...  

Para o ano, os três G vão fazer meio centenário... Bolas, como estamos velhos!

Estamos em crer que ainda há muito coisa para dizer, e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que  não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas). (*)

Hoje, que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), parece-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias. Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar de cátedra sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá... Já do lado do PAIGC, é cada vez mais raro poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Referências não faltam no nosso blogue... Alguns dirão, "ad nauseam"... Citemos entre outras:

Dossiê Guileje / Gadamael (56)

Gadamael (384)

Guidaje (255)

Guileje (540)

Op Amílcar Cabral (6)

Curiosamente, não temos nenhum descritor "Batalha dos 3 G", consagrado pela historiografista pró-PAIGC...


2. C
omecemos pelo poste P20103, que é já um "clássico" (**). O cor art ref António Carlos Morais da Silva, membro da nossa Tabanca Grande [, foto atual à esquerda], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 (***), professor de tiro de artilharia na Escola Prática de Artilharia e da Academia Militar, é um homem frontal, nortenho, natural de Lamego, que gosta de chamar os bois pelos cornos

O cor art ref Morais da Silva tem autoridade para falar sobre as nossas (e as do PAIGC) "perícias artilheiras" porque é um especialista em tiro de artilharia e conheceu o terreno, passou por Gadamael, embora já não sendo contemporâneao da famigerada "batalha dos 3 G"...

(...)  A  narrativa artilheira deste senhor [o Osvaldo Lopes da Silva, ] é uma salgalhada sem ponta por onde pegar. (****)

"Calcula" coordenadas geográficas de que locais? Das posições? Para quê, se não as tem do objectivo pois procurou obter orientação azimutal via clarões das bocas de fogo de Guilege?! 

Ligou as posições com uma poligonal?! Como assim? Como define azimutes sem linha de vista? Como calcula distâncias? A passo, a corta-mato?! E como orienta a caminhada? 

Ou também calculou latitudes e longitudes? Apurou a posição relativa das bocas de fogo de Guilege! Para quê? Fazer de cada uma um objectivo?!

Enfim, basófia muita, ciência pouca e assistência benévola ou ignorante. 

O que certamente aconteceu foi ajustar fogos com observação avançada consentida pelo "recolhimento" das NT.  Assim aconteceu em Fevereiro de 71, em Gadamael, mas felizmente os intervenientes na observação e no cálculo eram analfabetos na direcção do tiro. Tomadas medidas de interdição,  nunca mais o conseguiram fazer,  passando a executar fogos escalonados em alcance (tiro rolante). 

Na Guiné, as artilharias das NT e do IN eram baratas tontas que actuavam por "intuição" a partir do som e do conhecimento do terreno (quem o conhecia a palmo). 

Muitas vezes pedi ao meu Cmdt-Chefe que me arranjasse um radar contra-morteiro e o problema da artilharia IN era assunto arrumado. Infelizmente nunca recebi o "presente".

Morais da Silva
Cor Art Ref
Professor de tiro de Artilharia 
na EPA [Escola Prática de Artilharia] e na Academia Militar  (...)


3.  E fiquemos por agora pelo comentário do C. Martins, beirão, hoje médico reformado, antigo comandante de um Pel Art que esteve em Gadamael (1973/74) (*) (. Nunca se increveu formalmente na Tabanca Grande, por razões pessoais e profissionais, mas é um leitor assíduo e ativo, com mais de 35 referências no blogue)

(...) Guerras, guerrinhas, obuses, peças, granadas, cargas e por aí vai....

Factos: por vezes flagelavam com morteiro 82, canhão s/r, grad [fogute 122 mm] e possivelmente com a peça, essa de longo alcance. [peça de artilharia 130 mm, M-46, do exxército da Guiné-Conacri].

Felizmente raramente acertavam.

Ninguém contava as granadas IN 
[muito menos de lápis e papel na mão]  .

Nós éramos bem treinados na EPA [Escola Prática de Artilharia, emVendas Novas] e nos cálculos de tiro. As cartas eram muito boas.

Alguns subvertiam o número de disparos para que a reposição fosse aumentando de forma a ter cada vez mais granadas.

As granadas do obus 14 eram de fabrico USA, apesar de o obus ser de fabrico inglês.

Após a desgraça de maio/junho de 1973, em Gadamael houve um reforço de material e humano, a saber; 3 companhias, 2 pelotões de milícias, 1 pelart de obus 14, 1 pelotão de canhão s/r, 1 pelotão de morteiro 81, o que dava em média cerca de 600 homens em permanência.

Raramente a contrabateria surtia efeito, a alternativa era fazer batimento de zona que tinha pelo menos bastante efeito psicológico no IN (soube à posteriori).

Tínhamos bons abrigos subterrâneos.

E assim se passavam os dias,  uns melhores outros piores mas sempre arruinando o orçamento de Estado.

Na atualidade as melhores peças de artilharia são as de fabrico sueco, como quase todo o material de guerra fabricado por eles. (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23317: A nossa guerra em números (17): chuva de granadas sobre Guileje (18-21 mai 1973) e Gadamael Porto (31 mai-11 jun 1973)

(**) Vd. poste de 28 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20103: Dossiê Guileje / Gadamael (33): "Basófia muita, ciência pouca e assistência benévola ou ignorante" (diz o cor art ref Morais da Silva, antigo professor de tiro de artilharia da EPA e da Academia Militar), a propósito da comunicação de Osvaldo Lopes da Silva, apresentada em Coimbra, em 23/5/2013`

(***) Vd. poste de 20 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16218: Dossiê Guileje / Gadamael (28): A situação de Gadamel, ao tempo da CCÇ 2796 (1970/72), que teve dois grandes comandantes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e Cap Art António Carlos Morais Silva (Vasco Pires, (ex-Alf Mil Art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(****) Vd. poste de 27 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20100: Dossiê Guileje / Gadamael (32): O texto, inédito, de Osvaldo Lopes da Silva, um dos principais cérebros da Op Amílcar Cabral; mesa-redonda em Coimbra, 23/5/2013: " O ataque a Gadamael, na sequência da queda de Guileje, não foi a melhor opção. Melhor seria um ataque a Quebo (Aldeia Formosa) com forte pressão sobre Tombali. Com a queda de Guileje, Gadamael tornara-se uma inutilidade que não incomodava a ninguém. A sua guarnição devia ser deixada entregue aos mosquitos e ao tédio."

Vd. também poste de 30 de agosto de 2019>  Guiné 61/74 - P20107: Lições de artilharia para os infantes (7): Tal como o Strela reduziu a liberdade do nosso movimento aéreo, o radar de localização de armas (vulgo contra-morteiro) teria congelado a artilharia do PAIGC... (Morais da Silva / António J. Pereira da Costa / Luís Graça / Manuel Luís Lomba)

terça-feira, 31 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23317: A nossa guerra em números (17): chuva de granadas sobre Guileje (18-21 mai 1973) e Gadamael Porto (31 mai-11 jun 1973)


English: Finnish Army 130 mm Gun M-46 during a direct fire mission in a live fire exercise 
[Peça de artilharia 130 mm, M-46. Exército finlandês, durante uma missão de fogo direto, em exercícios de fogos reais]

Suomi: 130 K 54 suora-ammunnassa

Date 6 March 2010 | 
Source Own work | Author Levvuori

Source: Wikimedia Commons | Public domain  (Com a devida vénia...)


1. Foi há 49 anos que a "fúria" do PAIGC, com o apoio dos seus aliados externos (Senegal, Guiné-Conacri, ex-URSS, Cuba...) se virou para os aquartelamentos de fronteira, a Norte (Guidaje, Bigene) e a Sul (Guileje, Gadamael Porto), com a intenção de os varrer do mapa, e aumentar a pressão político-militar para melhor se posicionar à mesa de eventuais futuras negociações,  e sobretudo a pressão diplomática,  tendo em vista a declaração unilateral da independência do território, o que viria a acontecer em 24 de setembro de 1973.

Citando o nosso vade-mécum (Pedro Marquês de Sousa - "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pp. 1974-175) (*):

(i) "Durante o ano de 1973, o mais simbólico na história da Guerra Colonial, o PAIGC realizou 640 ataques a aquartelamentos portugueses ", o que representa 61% do total das suas acções  ofensivas (1042), "especialmente junto às fronteiras Norte e Sul: Bigene, no Norte, foi atacada 21 vezes, Guileje, no Sul,foi atacada 36 vezes, Guidage (Norte), 43 vezes, e  Gadamael Porto (Sul) , 70 vezes" (pág, 194).

(ii) foram implantadas 750 minas (AP e A/C), das quais 416 (55,5%) no 1º semestre;

(iii) globalmente, as baixas provocadas à tropa portuguesa e à população civil foram significativas:  181 militares mortos e 1133 feridos; do lado da população civil, 120 mortos e 554 feridos;

(iv) as baixas (mortos e feridos)  no 1º semestre (1248)  representaram 62,8%  do total do ano de 1973 (1988).

Estes resultados poderiam ter sido mais gravosos se, no 2º semestre de 1973, o PAIGC não estivesse empenhado na preparação e  realização do Congresso e da Assembleia Nacional, em território da Guiné-Conacri,  que estiveram na origem da proclamação unilateral da indepêndência em 24 de setembro de 1972.

Na sequência da Operação Amílcar Cabral, planeada já antes mas desencaeada depois da morte do líder (20 de janeiro de 1973), o PAIGC, nas flagelações e ataques a aquartelamentos portugueses, privilegiou o uso de armas pesadas da guerra clássica, com destaque para:
  • morteiros 82 mm e 120 mm;
  • canhão sem recuo 82 B-10;
  • foguetes 122 mm;
  • peças de artilharia 130 mm M-46, de grande alcance (cerca de 27 km).
A artilharia 130 mm foi usada pela primeira vez contra Guileje em maio de 1973 (**). E com crescente precisão. De origem soviética, com quase  todo o  armamento do PAIGC, operava a partir do território da Guiné-Conacri e tinha sido cedida pelo regime de Sékou Touré.

Entre 18 e 21 de maio de 1973 por exemplo, foram lançadas sobre Guileje cerca de sete centenas de granadas, de vários tipos (incluindo RPG 7).  Média diária (4 dias): 171,25 granadas.

Entre 31 de maio e 11 de junho, Gadamael Porto  foi flagelada com 1468  granadas: média diária (em 12 dias), 122,3 granadas;  máximo 620 granadas (em 1 de junho), mínimo 4 granadas (em 10 de junho) (op cit., pág. 175).
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(**) Vd. poste de 18 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1672: Guileje: a artilharia do PAIGC (Nuno Rubim)

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22548: (Ex)citações (392): Vamos lá pôr os pontos nos iii... “Exageros de Marcelino da Mata?“ (Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879)

1. Comentário do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71), publicado no Poste P22539 em 14 de Setembro de 2021:

Amigos e camaradas:

Vamos lá pôr os pontos nos iii...

“Exageros de Marcelino da Mata?“

No livro agora recenseado pelo nosso camarada Mário Beja Santos,[*] é referido a páginas 71/72 que os “Roncos de Farim” foram chamados de urgência para tentarem resgatar a CCaç 1546/BCaç 1887, que fora apanhada à mão pelos guerrilheiros quando efectuava um reconhecimento em força na fronteira, mencionando:

"Em Agosto de 1967 …
[Pediram-me que os trouxesse de volta à Guiné Portuguesa. Sabia-se que tinham sido levados para um aquartelamento onde estavam foças do PAIGC e um batalhão de paraquedistas senegaleses. E nós lá fomos, 19 homens para resgatar 150!

Os do meu grupo iam todos fortemente armados, mas eu não. Levava apenas uma tanga igual à que os senegaleses usam naquela zona. Foi assim que consegui chegar perto do arame farpado. Os presos portugueses estavam todos sentados na parada, descalços e em cuecas. Um deles reconheceu-me e avisou o capitão.

Depois passaram palavra entre eles e esperaram pela acção“



“Atirei uma granada ofensiva para o meio da parada e no meio de grande tiroteio gerou-se confusão. Os “páras” senegaleses desataram a fugir e aproveitamos para tirar dali os nossos.

Foi assim que fugiram - descalços. Fizeram 40 quilómetros até à fronteira escoltados por nove homens do meu grupo, enquanto outros 10 ficaram para trás a aguentar os tipos do PAIGC.

Quando finalmente chegaram à Guiné Portuguesa, voltámos para trás para dar porrada aos guerrilheiros. Foi uma operação em que ganhei a Torre Espada, recorda Marcelino .” ]


O Autor não refere a fonte de onde extraiu este episódio, que nos faz lembrar os filmes de cowboys.

A
CCaç 1546 pertencente ao BCaç 1887 comandado por um grande combatente Ten Cor Agostinho Ferreira, seguiu em 13Maio66 para Piche, a fim de efectuar a instrução de adaptação operacional, sob orientação do BCaç 1856, até 02Jun66.

Seguidamente foi colocada em Nova Lamego, como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe e orientada para actuação na Zona Leste, onde foi atribuída ao Agr 24. Inicialmente, foi utilizada em operações realizadas nas regiões de Bucurés/Camajabá, Madina do Boé, Ché-Ché e Beli, entre outras, em reforço do BCaç 1856.

De 20 a 22Set66, foi utilizada numa operação realizada na região de Madina-Enxalé, em reforço do BCaç 1888.

Em 20Out66, transferiu a sua sede para Fá Mandinga, mantendo-se em reforço do BCaç 1888, tendo realizado várias operações nas regiões de Xitole, entre outras.

Em 16Dez66, foi substituída em Fá Mandinga pela CCAÇ 1589 e recolheu seguidamente a Bissau, onde se manteve até 27Dez66, após o que seguiu para Binta. Em 28Dez66, rendendo a CCaç 1550, assumiu a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, BCaç 1887.

Em 13Jan68, foi rendida pela CArt 1648 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

[In, Estado-Maior do Exército – Comissão para o Estudo das Campanhas de África ( 1961-1974 ), 7.º Volume – Fichas das Unidades - Tomo II – Guiné – 1.ª Edição – Lisboa 2002]

Ora, face à experiência de combate desta Unidade CCaç 1546, como decorre do seu pequeno historial, qual é o Combatente de boa fé que acredita nesta história que nos faz lembrar os filmes de cowboys?

Não vi, não ouvi e nem li e nem acredito que algum dos gloriosos Combatentes desta UNIDADE pertencente ao glorioso BCaç 1887, comandado por um Comandante de gabarito, Ten Cor Agostinho Ferreira, que alguma vez tenham omitido uma tamanha humilhação resultante do episódio descrito no mencionado livro intitulado "No mato ninguém morre em versão John Wayne, Guiné o Vietname português", págs 71/72 da autoria . da autoria de Jorge Monteiro Alves.

O nosso camarada bloguista Domingos Gonçalves, ex-Alferes da CCaç 1546[**], que esteve sediada em Binta com um Pelotão destacado em Guidage, e que por duas vezes esteve a comandar o pelotão destacado em Guidage, não faz qualquer alusão no seu diário composto por 3 volumes a um episódio de semelhante natureza.

Eu também nunca ouvi da boca de vários elementos dos “Roncos de Farim“, inclusive do próprio Marcelino da Mata, tamanha façanha, caso contrário teria mencionado no meu livro “Os Roncos de Farim“, na medida em que tratava-se de uma intervenção do grupo e por certo teria de ser comandado pelo Alf Filipe Ribeiro, à altura comandante deste grupo aguerrido, que não era e nunca foi comandado por Marcelino da Mata.

Vamos lá desfazer as mentiras, nem oito, nem oitenta.

Carlos Silva

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Notas do editor

[*] - Vd. poste de 13 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22539: Notas de leitura (1381): "No mato ninguém morre em versão John Wayne, Guiné o Vietname português", por Jorge Monteiro Alves; LX Vinte e Oito, 2021 (Mário Beja Santos)

[**] - Vd. poste de 20 DE DEZEMBRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P14057: (Ex)citações (255): O Marcelino da Mata, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género (Domingos Gonçalves)

3. Esclarecimento do camarada Domingo Gonçalves.

Prezado Manuel Luís Lomba:
Respondendo ao teu pedido de esclarecimento tenho a referir o seguinte:
Quando se realizou a operação em causa eu estava a comandar o destacamento de Guidage pelo que acompanhei muito de perto a operação Chibata.
Os Comandos de Farim - os Roncos -, como eram conhecidos, participaram na operação, comandados pelo Marcelino da Mata, que teve, uma intervenção importante no desenrolar dos acontecimentos.
Participei, aliás, em várias ações levadas a cabo pela CCAÇ 1546, reforçada pelo citado grupo. O Marcelino era um combatente arrojado. Teve influência decisiva em várias ações de combate. Ele e o grupo, claro.
Contudo, sobre o episódio da libertação de prisioneiros, pertencentes à minha Companhia, apenas posso referir, que é mentira. Quer a minha Companhia, quer as outras duas, a 1547 e a 1548, que integravam o BCAÇ 1887, fizeram, ao longo da sua permanência na Guiné, prisioneiros, mas não sofreram prisioneiros.
Vi, também, na Net, a descrição do episódio que referes. Uma libertação, aliás, de prisioneiros, de forma bastante simplória. Como disse, é pura mentira.
O Marcelino, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género.


Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22538: (Ex)citações (391): Ainda não sabemos a proveniência da foto de capa do livro do TCor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021), escolhida pela editora (António Bastos / Carlos Vinhal)