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sexta-feira, 1 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20927: (De)Caras (158): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte VII: mais uma achega do Carlos Geraldes: o caso do ataque (anunciado) a Pirada em 28/5/1965 e o linchamento do gila confundido com um espião,


Comunicado do PAIGC referindo um ataque a Pirada,  o dia 28 [, sem mês nem ano],,, Cruzando informação disponível no blogue, esse ataque só pode ser o dia 28 de maio de 1965, ao tempo da CCART

Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 07065.068.053
Título: Comunicado [Frente Leste]
Assunto: Comunicado sobre o ataque da Secção do Exército Popular ao quartel de Pirada.
Data: s.d. 
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Página(s): 1

Citação:
(s.d.), "Comunicado [Frente Leste]", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40762 (2020-4-29)




Mário Soares > Pirada >
14/2/1974.
Foto: António Rodrigues 
(2015)
1. Continuamos à(s) volta(s) dessa figura algo misteriosa que foi o comerciante português Mário Soares, ou Mário Rodrigues Soares, mas também identificado com António Mário Soares (*). Dizem, justa ou injustamente, que serviu dois senhores, as NT e o PAIGC. Foi acusado de ter sido informador da PIDE/DGS tanto quanto "espião" do PAIGC. Em suma, "um "hábil agente duplo (...) durante muito tempo", condição que "acaba sempre por ter um preço amargo de pagar" (, segundo o seu amigo Carlo Geraldes). No fim da guerra, terá sido escorraçado por uns e por outros.

Esteve estabelecido em Pirada, no leste da Guiné, na fronteira com o Senegal, e diversos camaradas nossos (, nomeadamente, alferes milicianos)  conviveram com ele ao longo da guerra colonial, pelo menos desde 1963 a 1974.

Tende, por vezes, a ser confundido com o  seu homónimo,  esse, sim,  inconfundível figura pública Mário [ Alberto 
Nobre  Lopes] Soares (1924-2017), presidente da República Portuguesa (1986-1996), duas vezes primeiro ministro, fundador 
e secretário geral do Partido Socialista, opositor do regime de 
Salazar-Caetano,  etc.

A ignorância pode ser tanta que até a jovem cabo-verdiana, nascida em 1991, Kathleen Rocheteau Gomes Coutinho, troca os dois nomes, os homónimos,  num trabalho académico, defendido em provas públicas numa universidade brasileira (**).

Sabemos, por testemunhos anteriores (*), que o Mário Soares: (i) era natural de Lisboa; (ii) terá vindo para a Guiné por "dificuldades financeiras); (iii) estabeleceu-se como comerciante em Pirada; (iv) era casado (com Luísa  e tinha 3 filhos (um rapaz. José, a estudar em Lisboa,  e duas raparigas, Rosa e Eva Lúcia, esta a mais nova,  nascida em 1958); (v) deverá ter nascido na década d 1920, pelo que nos anos de1964/65 já teria mais de 40 anos; (vi) era "o branco mais africano que comheci" (, segundo a opinião de José Pratas, antigo alf mil médico, CCS/BCAV 3864, Pirada, 1971/73).

Sabemos ainda que: (vii) em Pirada havia mais 4 comerciantes brancos, em 1964/65; (vii) em 1971/73,  havia um agente da PIDE na vizinhança, "bom para seviciar e intimidar", o Carvalho [, Gumersindo Fernandes Carvalho, agente de 2ª, nascido em Castanheira de Pera, 1946 ?], substituído pelo Pereira [, Manuel Rodrigues Pereira, agente de 2ª, nascido em 1945, em S. Pedro do Sul ?,]  que "tinha farroncas mas com as flagelações tremia como varas verdes" (José Pratas).

Portanto, o Mário Soares não era o gente da PIDE/DGS de Pirada, nem nunca pertenceu ao quadro de pessoal da PIDE/DGS... o que não o impedia de colaborar com a política política, aproveitando-se das "relações especiais" que tinha com as autoridades fronteiriças do Senegal. O que também não quer dizer que não fosse "informador" da PIDE/DGS...e não pudesse também ser útil ao PAIGC. Dáí que, desde muito cedo, corresse a fama de ser um "agente duplo".


Guiné - Bissau > Região de Gabu > Pirada > 2018 > Antiga delegação local da PIDE/DGS, e hoje esquadra local da polícia de segurança pública. Entre 1971 e 1973, ao tempo do alf mil médico José Pratas (CCS/BCAV 3864, Pirada, 1971/74),  terão passado por aqui dois agentes:  o Carvalho [, Gumersindo Fernandes Carvalho, agente de 2ª, nascido em Castanheira de Pera, 1946 ?], substituído pelo senhor Pereira [, Manuel Rodrigues Pereira, agente de 2ª, nascido em 1945, em S. Pedro do Sul ?,]  (José Pratas). 


Guiné > Região de Gabu > Pirada > 2018 > Antiga casa do comerciante Mário Soares. Ficava,  à esquerda,  na Rua principal que levava à fronteira do Senegal, 

Fotos (e legendas): cortesia da página do Facebook Pirada Guiné-Bissau (2018). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]

No livro de Maria José Tíscar ("A PIDE no Xadrez Africano: Conversas com o Inspector Fragoso Allas", Lisboa, Edições Coilibri, 2017), o "patrão" da polícia política na Guiné, homem  da confiança pessoal de Spínola, o Fragoso Allas, dá a entender, abusivamente, que  o comerciante Mário Soares era "mais" agente que o "seu"agente, o Carvalho, e depois, o Pereira:  que estes, ou um deles,  viveriam na casa do comerciante, que ele é que atenderia, em 90% dos casos o rádio da DGS, e que era aceite por ele, Fragoso Allas, como "agente duplo"... Porque lhe convinha... No fundo, é menorizado o papel do Mário Soares, conforme se pode deduzir das longa conversa com a historiadora,em que ele terá aberto o seu "livro": 

(...) "Era habilidoso [, o Mário Soares], tinha boas relações com as autoridades portuguesas e tinha bons contactos, também, com as do Senegal. Teve atuações muito importantes para nós. 

(...) " Era útil como agente de contrainformação. Quando queríamos enviar informações falsas ao PAIGC dizíamos-lhe que era muito secreto e então ele ia logo transmiti-las.

/...) "As informações que ele fornecia sobre o PAIGC quase não serviam, porque nós sabíamos que ele também trabalhava para eles.


(...) "Quando cheguei à Guiné, o General Spínola estava muito zangado com ele e queria mesmo expulsá-lo da província, mas isso não seria conveniente porque o posto da PIDE estava dentro da sua casa, pelo que me interessei para que ele continuasse na sua atividade”. (...)


2. Quem mais escreveu sobre o comerciante Mário Soares,  aqui no blogue,  foi  ex-alf mil Carlos Geraldes, da CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paunca, 1964/66), infelizmente já falecido em 2012. 

A sua foi a primeira companhia a ficar aquartelada em Pirada (, a partir de 15 de outubro de 1964). Até então Pirada era um destacamento guarnecido por um pelotão: em 1963, por exemplo, o nosso camarada e grã.tabanqueiro Jorge Ferreira disse-me, em conversa ao telefone, que esteve lá em Pirada, dois dias, e almoçou na casa do Mário Soares, ele, e outros militares, incluindo  o comandante do destacamento, o então alf inf Artur Pita Alves, hoje cor ref, que faria mais tarde uma outra comissão na Guiné, como capitão (CAÇ 1423, Bolama. Empada e Cachil, 1965/67).

O destacamento possivelmente pertencia ao BCAÇ 512 (Mansoa e Nova Lamego, 1963/65) ou então ao BCAÇ 506 (Bafatá, 1963/65), pormenor que o Jorge Ferreira já não pode precisar, mas seria o batalhão de Mansoa,

O Mário Soares recebeu, de resto,  em sua casa vários camaradas nossos, a começar pelos veteranos, o alf mil António [de Figueiredo] Pinto (BCAÇ 506 e 512, 1963/1965), o alf mil médico Luiz Goes (BCAÇ 506, Bafatá, 1963/65), e o Carlos Geraldes (CART 674, 1964/66), os dois últimos já falecidos. (Ao António Pinto, que  vive em Vila do Conde, mandamos um especial abraço.)

O Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ,  Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63),  autor do livro de etnofotografia, "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016), estava nessa altura destacado em Buruntuma. Portanto, em 1963, ele também confirma que o Mário Soares já estava estabelecido em Pirada.

No Arquivo Amílcar Cabral, disponível no portal Casa Comum, criado pela Fundação Mário Soares, há pelo menos 11 referências a Pirada, mas nenhuma referência ao nome ou à pessoa do comerciante Mário Soares...

Sabe-se que em 1963 o PAIGC tinha muitas dificuldades de implantação na região, devido à hostilidade dos fulas e à fraca lealdade dos seus simpatizantes e militantes,  de maioria mandinga,  bem como à concorrência da FLING. Por outro lado, o Senegal, de Leopoldo Senghor, impunha, na época,  sérias limitações à liberdade de movimentos do PAIGC.

Se o Mário Soares fosse militante ou simpatizante do PAIGC seria, na época, um recurso precioso: os homens do PAIGC queixavam-se, então,  de que passavam fome, não dispunham de cuidados médicos, não tinham  armamento em condições nem muitos menos explosivos para a destruição de pontes, eram combatidos pelos fulas... Em suma, o moral era baixo ou estava em baixo.



Excerto de carta (manuscrita) remetida por Areolino Cruz a Pedro Pires, data de Pirada, 17/7/1963. É referido um ataque a "quartel de Pirada", no dia 15, tendo sido incendia a casa de um "tipo da PIDE".  Resultados: (i) "morreu um soldado europeu"; (ii) " soldados europeus têm agora medo de sair à noite, e mesmo depois das 6 da tarde"... O PAIGG não teria na época um bigrupo, o Areolino Cruz diz que "fomamos de agora em diante um só grupo comandado por Chico Tê, aproximadamente 22 homens"... (Não temos noticia de que nessa data, 15/71963, tenha morrido algum militar português no TO da Guiné.)

(Fonte: Arquivo Amílcar Cabral... Com a devida vénia; Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Citação:
(1963), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_36881 (2020-4-30)


3. O primeiro verdadeiro ataque a Pirada só acontece em 28 de maio de 1965, ao tempo da CART 676. (Talvez não por acaso, o PAIGC desencadeou mais do que um ataque ao longo da guerra, nessa efeméride, evocativa do 28 de maio de 1926,  data histórica em que triunfou, em Portugal, o golpe de Estado que deu origem à Ditadur Militar e ao Estado Novo; estou-me a lembrar, por exemplo, do ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969.) 

Estava então o Carlos Geraldes de licença de férias na Metrópole... [Há um interregno da sua correspondência para a Metrópole entre 18/4/1965 e 13/6/1965, correspondente ao período - mês de maio - em que não apenas gozou a sua licença de férias como celebrou  o seu primeiro casamento.]

A posteriori, logo a seguir, quando regressa a Pirada e a Paunca (onde o seu pelotão está destacado), reconstitui esse ataque e os acontecimentos que se lhe seguiram, o linchamento de um pobre gila (comerciante ambulante), confundido com um espião,  por ter sido encontrado transportando alguns sacos de invólucros na sua bicicleta depois do ataque do PAIGC...

Não tendo sido "testemunha ocular" nem do ataque do PAIGC  nem do linchamento do gila,  Carlos Geraldes, por uma questão de honestidade intelectual, começa a narrativa com a segyinte reserva: "Não sei se o deva contar"...Mas depois conta, e o que escreveu está  publicado no blogue, na sua série "Gavetas da Memória".

Voltamos a reproduzir essa crónica, com título e subtítulos nossos. Pode ser que, entretanto, mais algum camarada possa confirmar ou infirmar  (ou acrescentar algo mais sobre) o que aconteceu nesse dia 28 de maio de 1965, em Pirada.


O caso do  ataque (anunciado)  a Pirada em 28/5/1965 e o o linchamento do gila, confundido com um espião (**)


(i) O Primeiro Ataque a Pirada

Não sei se o deva contar, porque nem sequer fui testemunha ocular. Nesse dia, 28 de Maio de 1965, estava de férias na Metrópole junto com a família. Um mês inteiro longe da guerra, na total ignorância de como as coisas se iam passando por lá,  a milhares de quilómetros. Só quando regressei de avião a Bissau é que me contaram a novidade.

Pirada tinha sido atacada!

Ao princípio custou-me a acreditar, até porque quem mo contou também não sabia bem os pormenores. Mal pude conter a impaciência nos dias que se seguiram à espera de boleia num Dakota (o velhinho, mas muito útil DC-6) para Nova Lamego onde depois teria um jeep da Companhia para me ir buscar. O sempre sorridente alferes Pinheiro lá estava pontualíssimo para me servir de condutor de regresso a casa.

E então lá me contou como tudo se tinha passado, enquanto eu o ouvia,  embasbacado, ainda pouco crente que me estivesse a falar verdade.

O M[ário] Soares, como sempre, fora informado que um numeroso grupo de guerrilheiros se estava a juntar do outro lado da fronteira, no Senegal. Estava bem armado e tinha intenção de fazer qualquer coisa ao quartel da tropa em Pirada. E até se sabia o dia e a hora em que isso iria acontecer. 

O nosso Capitão fez aquilo que a prudência mandava, entrincheirou-se o melhor que pôde e aguardou. Aliás, tomou até uma medida que sempre me pareceu um pouco ousada e timorata. Quis contra-atacar. Planeou então uma manobra para emboscar o inimigo que supostamente viria atacar o aquartelamento do lado ocidental a coberto da povoação nativa, a cintura de palhotas que envolvia Pirada. Para isso mandou que o alferes Pinheiro e o seu Grupo de Combate se fossem colocar, muito discretamente, do lado de fora da tabanca, numa zona baixa, já perto da bolanha, onde aí, montariam uma emboscada e contra-atacariam os assaltantes encurralando-os contra o quartel. Só que as coisas nem sempre correm tão bem como se planeiam no papel. A noite estava escuríssima, conforme me ia contando o Pinheiro:

"Eu mal consegui dar com o sítio que o capitão me tinha dito onde eu e os meus homens nos deveríamos ocultar para depois apanhar os gajos. E depois quando a festa começou deu-me a impressão que afinal estávamos mais afastados do que era previsto. E pelo arraial que faziam deviam de ser mais de duzentos. Olha, eu, pelo sim pelo não, para não estar para ali a fazer fogo sem mais nem menos, resolvi que o melhor seria esperar muito caladinho e ver como as coisas se iriam passar. Se revelássemos a nossa posição até talvez ficássemos numa situação muito perigosa. Aliás poderia acabar por fazer fogo contra os nossos, não achas? Por isso, ficámos ali muito quietinhos à espera que tudo passasse. No quartel estavam mais bem protegidos pelos abrigos, eu ali não tinha protecção nenhuma!"

Sim, o alferes Pinheiro tinha razão, era insensato atacar às cegas um inimigo que não se sabia bem onde estava nem de onde vinha, muito superior em número e armamento. Tomou uma decisão que à primeira vista poderá ser tomada como um acto de cobardia, mas que na verdade, tratou-se apenas de evitar um mero suicídio colectivo totalmente gratuito e ineficaz.

Assim o ataque desenrolou-se durante grande parte da noite, com a população nativa aterrorizada, escondida o mais que podia para escapar às balas perdidas que voavam em todas as direcções, varando de lado a lado as palhotas e as vedações dos quintais, enquanto do quartel atiravam morteiradas em todas as direcções e abriam fogo de metralhadora à vontade numa ânsia de aniquilar um inimigo que nem conseguiam descortinar.


(ii) O enigmático Mário Soares


Segundo depois me contou o M[ário] Soares, elementos do PAIGC passearam-se mesmo pelo centro do povoado, donde, até debaixo do alpendre da sua casa, fizeram fogo na direcção do quartel. Mas a ele e à família nem num cabelo tocaram. 

Admirável cavalheirismo romântico, que não seria fácil encontrar ali no mais remoto interior da Guiné. Gesto que, no entanto, lhe acarretaria futuros problemas com as desconfianças que a tropa foi alimentando a seu respeito, esquecendo que paralelamente M. Soares sempre lhes fornecera amplas e atempadas informações das andanças dos grupos inimigos que transitavam regularmente pelo Senegal, vindos da Guiné-Conacri em direcção à região do Morés, no triângulo Mansabá-Mansoa-Bissorã.

Na verdade a imunidade de M. Soares devia-se muito à sua condição de hábil agente duplo que soube manter durante muito tempo e isso acaba sempre por ter um preço amargo de pagar.

Com o raiar do dia [, 28 de maio de 1965], já depois de as armas se terem silenciado,  é que, aos poucos e poucos se foram verificando os estragos. Felizmente do nosso lado não houve mortos nem feridos, apenas danos materiais. As instalações ficaram com as paredes crivadas de balas, e duas viaturas foram atingidas mas nada de grande monta. [No comunicado do PAIGC, acima reproduzido, fala-se em 3 viaturas incendiadas: 1 jipe, 1 Unimog, 1 Mercedes Benz; mais: diz-se que "incendiámos toda a Pirada"...]

Na tabanca é que tinha sido pior, tinham ardido umas dezenas de casas, devido talvez ao nosso fogo de morteiro. Quatro mortos a lamentar e bastantes feridos sem grande gravidade, pois grande parte da população tinha fugido para longe. O posto médico depressa se encheu e o pessoal de saúde não teve mãos a medir, enquanto patrulhas percorriam toda a zona de onde o inimigo teria estado a fazer o fogo, agora facilmente identificável pelo elevado número de cápsulas vazias de vários calibres 
espalhas pelo chão. 

Os rastos deixados pelo grupo dos atacantes indicavam também que deveriam ter sofrido algumas baixas pelos vestígios de sangue deixados nos percursos de fuga em direcção do Senegal [, pelo menos dois mortos, conforme comunicado do PAIGC acima reproduzido].


(iii) O linchamento do gila


Mal recuperados do susto que tinham apanhado, tanto oficiais como sargentos e praças nem tinham vontade de falar no assunto.

Mas envergonhados também pelas reacções primárias a que se entregaram, quando ainda naquela manhã, prenderam um atónito gila que, inocentemente, tinha carregado na sua bicicleta vários sacos de cartuchos vazios que fora apanhando pelo caminho que percorrera despreocupadamente (?). 

Logo ali o acusaram de espião e resolveram fazer justiça pelas próprias mãos. Enquanto o capitão e o resto dos oficiais e sargentos se fecharam na caserna, a turba,  uivando cada vez mais enfurecida, arrastou o pobre desgraçado para o meio da parada e,  no meio de insultos e pancadaria, acabou de matar o pobre do gila, regando-o em seguida com gasolina e chegando-lhe fogo.

E até me mostraram fotografias, que acabaram por depois fazer desaparecer, cientes da barbaridade cometida.

Ainda cheguei a tentar falar com o capitão sobre o acontecimento. Mas apenas me respondeu com um silencioso encolher de ombros, revelador de uma total incapacidade de impedir o linchamento. E se calhar até de algum tácito consentimento para serenar os ânimos.

Mas só na antiga Roma é que os cruéis imperadores proporcionavam ao povo espectáculos de morte, para o poder controlar a seu bel-prazer! Teria acontecido aqui o mesmo?

Porém, com o passar do tempo,  tudo foi esmorecendo e caiu no esquecimento.Mas, o gila teria deixado família? Mulher,  filhos, outros parentes? Qual teria sido a raiva e a dor deles? Como teriam encarado o futuro?

A guerra não foi só recheada de heroísmos, ou uma alegre perseguição das bajudas lavadeiras apanhadas desprevenidas no regresso da bolanha, ou uma imprevidente saída para o mato na escuridão de uma noite tenebrosa.

A guerra foi também um longo rosário de pesadelos que nos marcou profundamente, mas que teimamos em não valorizar também.

Recolhi a Paunca [, destacamento da CART 676], logo que pude, para tentar esquecer.

(iv) A guarda republicana senegalesa corre com todos os grupos armados que podem ameaçar os postos fronteiriços portugueses (****)


(...) Voltando à vaca fria, nesta guerra, como se pode ver mais uma vez, tive sorte. Pois foram logo escolher o dia do ataque para quando estava de férias. Parece que eles ainda pensaram em voltar, mas viemos a saber depois que tinham resolvido ir atacar outra zona que, se calhar, lhes seria mais favorável. Entretanto a população regressou e tudo voltou à normalidade.

O Presidente do Senegal (Senghor) enviou para esta região membros da guarda republicana senegalesa para correr com todos os grupos armados que circulam por aqui e que já o estavam a inquietar, de maneira que hoje de manhã [, 15 de junho de 1965,]tivemos a inevitável confraternização, mesmo sobre a linha de fronteira.

Confraternização essa que levámos a efeito em regime estritamente confidencial, pois mais ninguém deveria saber, para não se armarem as habituais confusões junto do poder central. De um lado, eu, o Capitão, o alferes Carvalho [, pseudónimo do Pinheiro], e o alferes médico representando a tropa. O M. Santos representando os civis. Do outro lado, três guardas senegaleses.

O ambiente foi bastante cordial e prometeram-nos nunca mais autorizar a permanência, nesta zona, de grupos de guerrilheiros armados que, pelos vistos, também já os estariam a preocupar e incomodar. (...)

[Seleção, revisão e fixação de texto, incluindo negritos, itálicos e realces a amarelo: editor LG]
_______________


(**) Katheleen Rocheteau Gomes Coutinho - A Política Externa de Cabo Verde (1975 a 1990): uma análise da configuração e atuação da política externa de Cabo Verde durante a guerra fria. Monografia apresentada ao Instituto de Relações Internacionais como requisito parcial à obtenção do Bacharel em Relações Internacionais. Brasília, Unibversiade de Brasília, Faculdade de Relações Internacionais, Instituto de Relações Internacionais, 2015. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/16366/1/2015_KathleenRochteauCoutinho_tcc.pdf

(...) Estes dois fatores [, a vitória da luta de Libertação Nacional levada a cabo pelo PAIGC,  e a Revolução dos Cravos ou Revolução de 25 de abril de 1974,] foram importantes e estiveram na origem do Acordo para a independência de Cabo Verde, assinado em 19 de dezembro de 1974, pelas delegações do governo de Portugal e o PAIGC, nomeadamente entre Mário Soares (representando Portugal) e Pedro Pires (representando o PAIGC). (...)

Em nota de rodapé, diz-se que o seguinte: 

(...) Mário Rodrigues Soares- Português, 1922. Comerciante na região de Pirada onde acabou por funcionar como “agente” ou “espião”, nos contatos entre as autoridades portuguesas, senegaleses e o PAIGC. (Lopes, 2012).(...) [LOPES, José Vicente. “Aristides Pereira, Minha Vida, Nossa História”. Spleen edições, Cabo Verde, Cidade da Praia, 2012.]

(...) Pedro Pires, Cabo-verdiano 1934. Oficial miliciano na Força Aérea Portuguesa. Membro do PAIGC. Formação militar em Cuba e URSS. Comandante da Região Militar do PAIGC. Lidera a delegação do PAIGC na assinatura (...)

(****) Excerto da carta datada de  Pirada, 13 de junho de 1965, reproduzida aqui;

7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4916: Cartas (Carlos Geraldes) (6): 2.ª Fase - Abril a Junho de 1965

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20495: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (17): Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), fotógrafo amador


Lisboa > Natal de 2019 > Iluminações da Baixa, Praça de Camões / Chiado, Avenida da Liberdade, Marquês de Pombal. Cortesia do fotógrafo Jorge Ferreira.

Fotos (e legenda): © Jorge Ferreira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), membro da nossa Tabanca Grande, fotógrafo amador com mais de meio século de experiência, tem um página pessoal no Facebook, além de um sítio de fotografia, Jorge da Silva Ferreirapublicou um livro de etnofotografia, "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016):


Para todos os meus Amigos que fui granjeando ao "longo da Vida": Bairro, Liceu, Institutos... Para os  Camaradas da Guiné a quem me encontro muito "ligado", para as tertúlias dos meus convívios frequentes, um grande  abraço com votos de Feliz Natal e de um Novo Ano,  pleno de Alegrias e Saúde!!! 

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Nota do editor:

Último poste da série 24 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes

Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes



1. Mandaram-nos boas festas, por email ou telemóvel, por estes dias, mais os seguintes camaradas e/ou amigos/as, aproveitando também para fazer "prova de vida":

António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina),  João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes,  João Sacôto, José Colaço e Lucinda Aranha Antunes.



2. Mensagem do Augusto Mota

[ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG/CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016; tem 7 referências no nosso blogue] 


Amigos!

Muito tempo se passou desde que contatei vocês. Infelizmente as vicicitudes do dia a dia não têm permitido mais atenção para acompanhar vossa causa. Enfim...


Ainda não é hoje que lhes vou dar notícias mais concretas, mas pelo menos quero desejar-vos UM BOM NATAL e MELHOR ANO NOVO!!!!
Tudo de bom para vocês.





3. Mensagem do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes:

O Núcleo  de Ponte de Lima da Liga  dos  Combatentes, aproveita esta quadra natalícia, para desejar um SANTO NATAL e que NOVO ANO traga saúde e Bem Estar.


A Direcção

Manuel Oliveira Pereira
António Mário Lopes Leitão
Leonardo Costa Gonçalves
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20493: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (15): António Marques Lopes, Cor Art DFA Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208; José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585; Luís Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 e Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20394: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (66): O nome do atual régulo de Canquelifá / Buruntuma (Jorge Ferreira / Cherno Baldé / Patrício Ribeiro)


Capa do do livro de fotografia "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016).] (*): o fotógrafo, em 1961, ao lado do então régulo Sene Sané, que era tenente de 2ª linha. junto ao marco fronteiriço ("República Portuguesa: Província da Guiné"), na fronteira com a República da Guiné. Cortesia do autor.

O autor, Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), é membro da nossa Tabanca Grande, é um fotógrafo amador com mais de meio século de experiência, tem um página pessoal no Facebook, além de  um sítio de fotografia, Jorge da Silva Ferreira; as suas fotos de Buruntuma inserem-se na categoria da etnofotografia.


1. No passado dia 26 de novembro, mandei aos nossos amigos, em Bissau, Cherno Baldé e Patrício Ribeiro, duas mensagens, em separado, com o seguinte pedido de informação:

Cherno: lembrei-me de ti, que conheces bem o leste do teu país, o chão fula, a região de Bafatá e também a região de Gabu. (...)

Patrício: lembrei-me de ti, que andaste a "espalhar a luz" pelo leste, e em especial na Região do Gabu. (...)

(...) Temos um camarada, o Jorge Ferreira, que publicou um livro, notável, de fotografia sobre as gentes de Buruntuma, à data de 1961, quando ele lá esteve, como alferes miliciano da 3ª Companhia de Caçadores, sediada em Nova Lamego. "

Em Buruntuma tornou-se amigo inclusive do régulo Sene Sané, do regulado de Canquelifá, que abrangia o triângulo Buruntuma, Bajocunda e Piche, área de intervenção das forças comandadas pelo alferes Jorge Ferreira.

Acontece que o Jorge vai mandar, pela mala diplomática da embaixada portuguesa, dois exemplares do seu livro, autografados, um para o Centro Cultural Português, em Bissau, e outro para o régulo de Canquelifá / Buruntuma, que é (ou pensa ele que é) filho do Sene Sané... Ele precisa de saber o nome dele, para lhe fazer uma dedicatória. As fotografias têm um grande significado para aquelas populações, conforme o Jorge Ferreira já pôde comprovar.

(...) Tu, Cherno,precioso colaborador permanente do nosso blogue, deves por certo poder ajudar-nos... Vê então se consegues saber o me do atual régulo de Canquelifá / Buruntuma.

(...) Tu, Patrício, que conheces a Guiné como ninguém, poderás ajudar-nos... Vê então se consegues saber po nome do atual régulo de Canquelifá / Buruntuma.

2. No dia seguinte, com pouca diferença de tempo, recebemos, para felicidade do Jorge Ferreira, a informação pretendida: o nome do atual régulo de Canquelifá / Buruntuma (**)



(i) Cherno Baldé, 27/11/2019, 10h43:

Caro Luis Graça,

Falei há instantes com um colega de escola nos anos 70/80 e que depois se formou em Portugal nos anos 70/80, de nome Bacar Djanté, natural de Buruntuma, que me informou que o actual régulo de Paquessi ou Pakessi que abrange as aréas de Canquelifa, Camajaba e Buruntuma, é o Bacar Sané, um dos filhos do velho régulo dos anos 60.

Com um abraço amigo, Cherno Baldé


(ii) Patrício Ribeiro, 27/11/2019, 18h12

Boa tarde, desde os 34 graus de Bissau.

Fizemos alguns contactos para o Leste (sim, essa é uma das das nossas muitas zonas de trabalhos) , com pessoas nossas conhecidas.  Falamos com filho mais velho, do antigo régulo Sene Sané, José Bacar Sané, telemóvel nº  00254...119, morador em Canquelifa, é o actual régulo de Canquelifa e Buruntuma, já com alguma idade. (Foi antigo militar português do grupo de Marcelino do Mata).

Nomeou o seu irmão mais novo, Mama Sané ( telemovel nº 00 245...330), residente em Buruntuma, seu representante do seu regulado em Buruntuma.

O Regulado de Piche é desempenhado pelo marido de Djana Embaló, residente em Dara.

Em Piche, não há nenhum régulo.

Abraço, Patrício Ribeiro
Impar Lda - Energia, Bissau

(iii) Comentário do Jorge Ferreira [, foto de 1961, ao lado]: 

Obrigado, amigos e camaradas. Bem  hajam!

É caso para dizer: "O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!".
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Notas do editor:

 (*) Vd. postes de :

5 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19071: Vídeos de guerra (17): "Buruntuma, algum dia serás grande", de Jorge Ferreira, no You Tube, com música de Mamadu Baio

(**) Último poste da série > 14 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19071: Vídeos de guerra (17): "Buruntuma, algum dia serás grande", de Jorge Ferreira, no You Tube, com música de Mamadu Baio


Vídeo (11' 03'') alojado em You Tube > Jorge Ferreira (Corytesia do autor, membro da Tabanca Grande)

Vídeo: © Jorge Ferreira (2018). Todos os direitos reservados. 


Jorge Ferreira, foto da sua página do Facebook
1. Está disponível, desde 10 de junho último, no YouTube, na conta de Jorge Ferreira, um vídeo (*) com uma seleção das suas belas fotos do livro "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016)(**).

O vídeo merece uma "visita" por uma dupla razão: 

(i) o Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ, Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), é membro da nossa Tabanca Grande,  é um fotógrafo amador com mais de meio século de experiência, tem um página pessoal no Facebook, além de um "site" de fotografia, Jorge da Silva Ferreira; as suas fotos de Buruntuma inserem-se na categoria da etnofotografia;

Mamadu Baio: foto de Luís Graça (2014)

(ii) o vídeo tem a excecional colaboração de um outro grã-tabanqueiro (nº 642), talentoso músico guineense,  lider do grupo musical Super Camarimba,  Mamadu Baio, originário da tabanca de Tabató (, região de Bafatá, Guiné-Bissau), e hoje cidadão português; a musiquinha que ele disponibilizou  é do primeiro CD dos Super Camarimba ("Sila Djanhará", c. 2010), gravado no Mali.

O nosso editor, Luís Graça, pôs o Jorge Ferreira erm contacto com o Mamadu Baio e lá chegaram os dois a um acordo sobre a utilização de uma das faixas de música, com menção dos direitos de autor, na ficha técnica, no final.O vídeo, disponível numa rede social de impacto gobal como o You Tube, não tem qualquer propósito comercial, é uma homenagem ao povo de Burintuma (que em mandinga quer dizer justamente "Algum dia serás grande").


2. O Jorge Ferreira foi convidado do programa de Luiz Carvalho, Fotobox, o n.º 88, há 5 meses atrás. O vídeo pode ser visto aqui, no Vímeo > Fotobox. Luiz Carvalho, arquiteto de formação, é um conceituado fotógrafo, fotojornalista, professor de fotografia,  realizador.

O Fotobox é um programa de televisão da RTP3 sobre Fotografia, do autor e realizado  Luiz Carvalho. Sinopse: entrevistas a fotógrafos; fotografias com Histórias; as escolhas de Luiz carvalho da semana.

Sabemos, através do Jorge Ferreira, que o Luiz Carvalho está interessado em conhecer e eventualmente divulgar, no Fotobox,  alguns dos nossos melhores álbuns fotográficos sobre a Guiné e a guerra colonial (1961/74).
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5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)

14 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17139: Agenda cultural (546): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte II) - Fotos de tocadores de korá e atuação do mestre Braima Galissá

6 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17110: Agenda cultural (545): Apresentação do livro de fotografia, "Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte I) - As primeiras fotos

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18612: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (22): bem hajam, camaradas e amigos/as, que não puderam vir, e tiveram a gentileza de nos mandar uma mensagem de saudações ou uma simples palavrinha de explicação...


Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > Aspeto parcial do grupo de cerca de 130 que este ano marcou presença...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Vários camaradas e amigos que não puderam estar presentes (, uma boa parte por razões de saúde, outros por compromissos de agenda, outros ainda por imprevistos de última hora) telefonaram ou mandaram mensagens a desejar um bom encontro em Monte Real, uns no próprio dia, outros na véspera, ou até uns largos dias antes. 

Correndo o risco de não me lembrar de todos, foi o caso do Joaquim da Silva Jorge e Esmeralda (Ferrel / Peniche), Sousa de Castro e Conceição (Viana do Castelo), C. Caria (Penamacor),  António Fernando Marques e Gina (Cascais), João Crisóstomo (Nova Iorque), Rui Chamusco (Timor), Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã), Diana Andringa (Lisboa), João Martins (Lisboa), João Sacôto (Lisboa), Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Tucha) (Carcavelos / Cascais),  Alcides Silva (Oliveira de Azeméis), Humberto Reis (Alfragide / Amadora), António Estácio (Sintra), Raúl Albino (Setúbal), José Cancela (Penafiel), Carlos Mota Ribeiro (Maia), António Rosinha (Alverca e Torres Vedras), Jorge Ferreira (Paço de Arcos / Oeiras), Virgílio Teixeira (Vila do Conde)...

Destaco estes três últimos:

(i) António Rosinha (Alverca):

Luís, almoços prolongados já não combinam com indicações médicas há uns anitos para cá, uma das razões de não comparecer em Monte Real.

Habito temporariamente entre Alverca hoje, Torres Vedras amanhã, 50/50.

Um abraço, Antº Rosinha

(ii) Jorge Ferreira (Oeiras);

Luís, tabanqueiro mor, votos de que o nosso Encontro esteja a decorrer como desejavas. Eu também estou aí em espírito,

Não te esqueças de apelar a todos os que têm fotos da sua passagem pela Guiné para que as disponibilizem para que as possamos divulhgra através do FOTOBOX, o programa de fotografia do Luís Carvalho, na RTP 3.

Aquele abraço para todos os nossos camaradas. JF

(iii) Virgílio Teixeira (Vila do Conde):

Caro amigo Luís:

Obrigado pela tua mensagem de ontem [, 4 de maio], não prometo que para o ano aí estou, em Monte Real, onde espero e desejo que passem um bom sábado,  de confraternização e camaradagem, com os nossos camaradas da Guiné, que tudo merecem.

Com certeza será mais certo eu ir ao encontro da Tabanca da Linha, pois resolvo o meu problema de transportes. Temos o Alfa, vou com a minha mulher calmamente no dia anterior, fico num hotel até o dia seguinte, posso comer e beber à vontade, e depois vou ficar no hotel até ao dia seguinte, e faço no Alfa a viagem de regresso, sem stress, sem problemas do condução, que já não aguento tantos quilómetros e com os problemas de dormir.

Está na hora da vossa convivência, por isso se receberes esta mensagem, manda aí um Alfa Bravo para todos, incluindo o Antº Rosinha se estiver também em Monte Real, (parece-me que ele não alinha muito com os meus postes, está sempre a lançar piadas, pois, tal como eu, também não é politicamente correcto, por isso o aceito tal como ele escreve, além disso merece o meu respeito pela sua mais longa idade, mas não é caso de estar sempre a lançar piadas sobre 'a minha guerra', os meus postes de Bissau, é preciso colocar mais uns, de São Domingos, Nova Lamego, Susana, Cacheu e outros sítios, tipo guerreiro, para merecer mais consideração, afinal todos andamos por lá, não tenho culpa de me darem uma função no Comando do Batalhão, que não era para todos, como é óbvio, eu sei).

Um bom regresso, e até a próxima,

Abraço do
Virgílio
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Nota do editor:

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17601: Convívios (818): A lista final dos 50 'magníficos' inscritos para o 32º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Carcavelos, dia 20, 5ª feira (Manuel Resende)


27.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > 22 de setembro de 2016 > Quatro dos 'magníficos':  da esquerda para a direita,  Juvenal Amado, Jorge Rosales, Armando Pires e  Mário Fitas.

Foto:  © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A lista final dos 50 "magníficos" inscritos para o 32º encontro da Tabanca da Linha.  



Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. O régulo, o "magnífico-mor", o histórico n º 1,  o "founding father", é o veterano Jorge Rosales (Cascais), tendo como adjunto (oficial de operações, secretário, "public relations",  tesoureiro, fotojornalista...) o Manuel Resende (o histórico nº 4, que mora em São Domingos de Rana, Cascais)... 

Outros séniores vão estar presentes como é o caso do Manuel Joaquim (Agualva-Cacém, Sintra, nº 2), o Armando Pires (Miraflores, Oeiras, nº 3), o Zé Carioca (Cascais, nº 5),  o Mário Fitas (Estoril, Cascais, nº 6). E até o editor do nosso blogue, Luís Graça (a quem, por deferência, atribuiram o nº 9)... Já não aparecia há muitas luas...

De modo algum "desalinhados", mas oriundos da "margem esquerda" do Tejo,  saudamos a presença do Augusto Silva Santos (Almada, nº 25) e o Hélder Sousa (Setúbal, nº 16)... De qualquer modo, tanto Almada como Setúbal fazem parte da Área Metropolitana de Lisboa.

O resto da malta é da Grande Lisboa, propriamenmte dita ou seja,, de alguns dos seguintes concelhos de:

Amadora
Cascais
Lisboa
Loures
Mafra
Odivelas
Oeiras
Sintra
Vila Franca de Xira.

O destaque vai para os camaradas que moram na "linha de Cascais" [, expressão que designa a ligação ferroviária entre Cais do Sodré (Lisboa) e Cascais, com uma extensão de 25, 450 km: interliga 3 concelhos: Lisboa, Oeiras e Cascais] ... Mas não esquecer também a " forte representação" do concelho de Sintra (13, quantos os de Cascais, que jogam em casa)... Por "equipas" ganha a da Linha de Cascais (Oeiras e Cascais) à da linha de Sintra (Amadora e Sintra) por 22-16...Neste caso, os de Lisboa (3) não jogam, porque tanto podem pertencer a uma ou a outra.

O Juvenal Amado. que também montou definitivamente o bivaque na Reboleira, Amadora, é já um assíduo da Tabanca da Linha, com o nº 32, mas morava até há coisa de um ano, em Fátima, concelho de Ourém... Fora da Grande Lisboa e da Área Metropolitana de Lisboa, vem o António Alves Alves, que é do Carregado (concelho de Alenquer).

O último membro da Tabanca da Linha passa a ser o veteraníssimo Jorge Ferreira (Caxias, Oeiras, nº 167).

Quanto à origem da Magnífica Tabanca da Linha, ela remonta a meados 2009 quando o Jorge Rosales o e José Manuel Matos Dinis se reencontraram, ao fim de 40 anosm na Quinta do Paul, Ortigosa, mais exatamente em 20 de junho de 2009, por ocasião do IV Encontro Nacional da Tabanca Grande. (**)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de julho de 2017 >  Guiné 61/74 - P17578: Convívios (817): Almoço dos ex-militares da CART 564, dia 15 de Julho de 2017 em Oliveira do Hospital (Júlio Santos, ex-1.º Cabo Escriturário)


(**) Vd. poste de 7 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16060: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (9): De quantas tabancas é feita a Tabanca Grande ?... Relembrando o feliz acaso do reencontro, 40 anos depois, do Zé Manel Matos Dinis com "o senhor Rosales", na Quinta do Paul, Ortigosa, em 20 de junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, e que esteve na origem da criação da Magnífica Tabanca da Linha...

(...) Foi talvez nesse dia, já longínquo, de 20 de junho de 2009, num sábado, tórrido, que terá nascido a Tabanca da Linha... Pois que fique, para memória futura, e como documento para a nossa "pequeno história",  este naco de prosa do Zé Dinis... Fomos recuperar este texto, servindo ao mesmo tempo para abrilhantar os festejos dos 12 anos da Tabanca Grande (...) , que é a mãe de todas as tabancas... Curiosamente temos dificuldade em encontrar uma foto com eles dois juntos, o régulo da Tabanca da Linha, o 'comandante' Jorge Rosales e o seu 'adjunto' ou 'secretário' Zé Manel Matos Dinis... Pode ser que o fotógrafo oficioso da Tabanca da Linha, o Manuel Resende, descubra uma, nos seus arquivos...

Recorde-se que o José Manuel Matos Dinis foi fur mil at inf, CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71). E que o Jorge Rosales Jorge Rosales, membro da nossa Tabanca Grande, desde junho de 2009, foi alf mil da 1ª CCaç Indígena (Porto Gole1964/66). (...)

terça-feira, 4 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17543: Facebook...ando (47): Seleção de fotos e textos de "Buruntuma: 'algum dia serás grande'..." (Jorge Ferreira, fotógrafo, ex-alf mil, 3ª CCAÇ, Bolama, Nova Lamego, Buruntuma, 1961/63) - Parte I: Jovens fulas: enfeites


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 > Bajudas fulas:  enfeites. 

Fotos: © Jorge Ferreira (2016). Todos os direitos reservados.


1. Da página do Facebook do nosso camarada Jorge Ferreira (que hoje está de parabéns por ter feito mais um aninho de vida!), com a devida vénia:


Capa do livro,"Buruntuma: 'algum dia serás grande',
 Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de  autor,
 Oeiras, 2016)
E N F E I T E S

Às jovens Fulas, desde a mais tenra idade, são-lhes perfurados os lóbulos das orelhas para pendurarem argolas de ouro, prata, cobre ou alumínio, conforme as posses da família. 

Aos cabelos prendem-lhes anilhas, discos, medalhas de ouro ou prata, moedas, contas e missangas, enfeites que revelam uma verdadeira arte feminina de sedução e forte personalidade. Também as fitas garridas, pentes e travessas, contas, missangas e conchinhas são enfeites para o cabelo.

Desde a mais tenra idade até à velhice, o penteado constitui o principal adorno das mulheres Futa-fulas, consumindo-lhes a maior parte do seu tempo de ócio.

O mesmo se constatava entre os Fulas-forros e Fulas–pretos, embora de forma não tão aprimorada.

[Mensagem de 8/3/2017]
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Guiné 61/74 - P17541: Parabéns a você (1283): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Guiné, 1961/63)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17535: Parabéns a você (1282): António Nobre, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2464 (Guiné, 1979/71)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Num futuro não muito longínquo, os investigadores e todos aqueles que pretendam fazer a historiografia da nossa guerra, terão de se implicar no visionamento destas imagens e nas que se seguiram. Nas que primorosamente Jorge Ferreira organizou temos uma Buruntuma que antevê a guerra, que se fortifica, que vigia as fronteiras. São imagens de encontro, de descoberta, não há ali uma só ruga ou vinco de hostilidade, naquele ponto ermo onde em breve vai troar a artilharia e instalar-se o desassossego permanente. E temos que ter orgulho sabendo de antemão que esses historiadores terão no nosso blogue um fonte documental e imagística ímpar, sem rival. Sim, temos que ter muito orgulho no peso desta memória e no permanente cuidado em dar-lhe acrescento, luminosidade e compreensão.

Um abraço do
Mário


Buruntuma e uma leve reflexão sobre as imagens na História

Beja Santos

Ando há largos meses para ir entregar no Arquivo Histórico-Militar uma resma de fotografias de uma Companhia que andou pela Guiné entre 1959 e 1961, as fotos já estão reproduzidas no nosso blogue, registam a amenidade de uma vida militar que surpreende usos e costumes, com soldados a pescar na bolanha, até se mostra uma ponte em Teixeira Pinto que ficou inacabada, sabe-se lá porquê. Têm estas imagens importância para o estudo da História? Indubitavelmente. Era aquela a paz que havia, uma placidez que se traduzia em percorrer todos os percursos sem os bofes de fora ou o coração contrito, não se anteviam perigos, nem explosões, nem intimidações. Vejamos agora o álbum Burutuma, publicado pelo nosso confrade, com data de Dezembro de 2016, e aqui já referido. São a recuperação de memórias de alguém que viveu na região do Gabu e foi colocado em Buruntuma em 1961, integrado na 3.ª Companhia de Caçadores a comandar 20 militares metropolitanos pertencentes ao Esquadrão de Cavalaria n.º 252 e 20 soldados nativos a quem tinha dado instrução em Bolama. Vamos conhecer a Buruntuma de uma Guiné que dá sinais de efervescência, os Manjacos do Movimento de Libertação da Guiné, procurando antecipar-se ao PAIGC, flagelam S. Domingos e vandalizam Susana e Varela, em meados do ano. Afluem mais contingentes que são disseminados pela província.

As memórias de Jorge Ferreira não estão associadas a nenhuma tragédia, em Buruntuma e arredores vive-se numa relativa acalmia. Jorge Ferreira percorre Pirada, Sonaco, Bajocunda, Piche, Cabuca e outros lugares, envolve-se em ações de vigilância e abastecimento. E parte para Buruntuma, junto da fronteira com a República da Guiné. Regista o património imobiliário existente: casa do régulo, armazém de mancarra, casas comerciais, escola primária, instalações da PIDE. Só existe uma cerca de arame farpado e uns bidões cheios de areia que protegiam a única estrada, saída do armazém de mancarra que lhes servia de aquartelamento. Concebeu-se uma solução que consistiu na abertura de um “poço” no centro do aquartelamento por onde os militares acediam a um túnel que desembocava num sistema de trincheiras que circundava todo o perímetro de defesa, nos cantos puseram-se as armas pesadas. Fizeram-se postos de observação, cavalos de frisa, construiu-se refeitório e cozinha. Com uma pitada de humor fala de um problema insanável, a localização de Buruntuma. “Com efeito, estando a povoação contígua à fronteira, em caso de ataque que não pudesse ser rechaçado, a retirada estava fora de questão. Com efeito, a única que a permitiria, a estrada Buruntuma-Piche corria paralela à fronteira natural – um afluente do rio Corubal, e portanto essa retirada seria facilmente anulada através de emboscadas de guerrilheiros acantonados na margem do rio”. Dito de outro modo, Buruntuma estava entregue à sua sorte.

As ações de nomadização abrangiam o triângulo Buruntuma-Canquelifá-Bajocunda. Contava-se com a inequívoca fidelidade dos Fulas, neste caso com a colaboração do régulo de Canquelifá, instalado em Buruntuma, Sene Sane. O contingente militar fora bem acolhido, integrava vários Fulas. Buruntuma mudou de forma, ganhou outra natureza, não se descuraram as populações locais, deu-se professor à escola, melhorou-se a enfermaria, apareceu médico. Jorge Ferreira concluiu a sua comissão em Junho de 1963, altura em que a guerrilha ganhara alento no Sul, consolidara posições no Corubal e no Morés. O PAIGC terá sérios revezes junto das populações nesta primeira fase, tudo se alterará em 1969 com a retirada de Madina do Boé, de Beli e de Chéche, começarão então a exercer-se pressões sobre o Cossé, e entretanto Buruntuma passará a ser seriamente fustigada a partir da República da Guiné. Como escreve Jorge Ferreira logo em 1964 em vez do seu escasso efetivo vão aparecer 250 homens. Naquele fim de mundo deixava de haver paz.

A paz e os preparativos para a guerra dominam este álbum que tão carinhosamente Jorge Ferreira organizou: a majestade do régulo Sene Sane, a Buruntuma tal como foi encontrada à chegada, a construção das trincheiras, os marcos da fronteira, as ações de nomadização, a preparação de refeições, as viaturas atascadas, os jogos de futebol, os batuques, o fascínio das bajudas, os veneráveis homens grandes, as crianças de sorriso aberto, tecelões, djilas, tocadores de Korá, caçadores, dançarinos, rapazes Papéis, lavadeiras, bajudas Balantas com saia Bijagó.

Não há uma só crispação nestas imagens, a guerra é uma possibilidade mas ainda não se experimentou, daí a expressão de leveza em todos os rostos metropolitanos, à cautela, Jorge Ferreira leu uma obra estimulante “Os Fulas do Gabu”, de Mendes Moreira, ainda hoje uma referência obrigatória para o estudo dos Fulas, anota que há um islamismo impregnado de práticas animistas e feiticistas, descreve a sua habitação, vestuário, enfeites, atividades produtivas. É um lugar ermo, uma fronteira recente, porosa, se bem que exista aquela fronteira natural, um afluente do Corubal que Jorge Ferreira captou em dia de bruma. Estamos perante uma Buruntuma que ainda não viu o ferro e fogo, um punhado de homens, brancos e pretos, ali vivem amistosamente e deixaram o seu largo sorriso para uma posteridade em que os contemplamos com o mesmo agradecimento que endereçamos a Jorge Ferreira que lega este álbum aos seus entes queridos, aos seus camaradas da Guiné, lembrando a todos que naquele terrunho se moldou o seu caráter e se fez homem.

Também enternecidos, agradecemos-lhe a ampla riqueza que é o tesouro destas imagens.


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17301: Notas de leitura (952): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (3) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17311: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (15): Nem só de pão vive o homem... mas também de livros


Foto nº 1 > Fernando de Jesus Sousa (DFA), (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, autor do livro de memórias "Quatro Rios e um Destino" (Chiado Editora, Lisboa,  2014) e do livro de poemas "Sussurros Meus" (Chiado Editora, Lisboa, 2016).


Foto nº 2 > O Fernando Sousa autografando seu livro de poemas "Sussurros Meus" 


Foto nº 3 > O Jorge Ferreira escrevendo uma dedicatória para o Francisco Silva, no seu livro de fotografia "Buruntuma: algum dia serás grande!... Guiné. Gabu, 1961-63" (ed. autor, Oeiras, 2016).


Foto nº 4 >  O Jorge Ferreira é o primeiro da direita, ladeado por José Henriques Ribeiro, Luís Graça e Hélder Sousa.  O Jorge Ferreira foi alf mil da 3.ª CCAÇ, Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), autor do livro


Foto nº 5 > O José Ferreira da Silva autografando o seu livro "Memórias boas da minha guerra" (Chiado Editora, Lisboa, 2016) para o Vasco Ferreira (1)


Foto nº 6  > O José Ferreira da Silva autografando o seu livro  "Memórias boas da minha guerra" (Chiado Editora, Lisboa, 2016) para o Vasco Ferreira (2)... O Vasco Ferreira foi alf mil da CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra) 1972/74).


Foto nº 7 > "Bolama, a saudosa", de António Júlio [Emerenciano] Estácio. Edição de autor, 2016.


Foto nº 8 > O escritor António Estácio, que hoje faz anos, com o Manuel Joaquim. O Estácio (i) é lusoguineense, nado e criado no chão de Papel, em Bissau, em 1947;  (ii) formou-se como engenheiro técnico agrário (Coimbra, 1964-1967, Escola de Regentes Agrícolas, onde foi condiscípulo do Paulo Santiago): (iii) fez a tropa (e a guerra) em Angola, como alferes miliciano (1970/72); (iv) trabalhou depois em Macau (de 1972 a 1998); (v) vive há quase duas décadas em Portugal, no concelho de Sintra; (vi) é membro da nossa Tabanca Grande desde maio de 2010; (viii) tem-se dedicado à escrita, dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "Mulheres Grandes" da Guiné, a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959).

Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017

Fotos (de 1 a 8, exceto 4): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Foto 4: © José Fernando Delgado  Mendonça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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