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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4871: Memória dos lugares (36): Bissau 1968 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)

1. O nosso Camarada José Nunes (José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo, BENG 447 (Brá, 1968/70) esteve na Guiné de 15JAN68 a 15JAN70, enviou-nos uma reportagem fotográfica sobre um “passeio” pela saudosa, acolhedora e belíssima Bissau, no ano de 1968, a que deu o título de:

Bissau, de encantos tamanhos

Camaradas,

Aqui vão fotos de Bissau. Fui um felizardo, passei grande parte da Comissão em Bissau e grandes momentos no mato com Camaradas de diversas unidades, onde sempre me trataram com grande Amizade.

Por isso, o meu mais profundo respeito pelos Camaradas operacionais.

Eu tive mais sorte.


Junto à porta do Museu

Em plena Avenida da República

Junto a uma estátua

Ponte do Cais do Ilhéu do Rei


Entrando no autocarro da linha Brá - Bissau

Ao Esforço da Raça

Junto à estátua a Teixeira Pinto

No exterior do Forte da Amura

Com o meu Camarada Baiona de Andrade

Junto à porta da Sé Catedral

Um Abraço de Amizade,
José Nunes 1º Cabo do BENG 447

Fotos: © José Nunes (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4867: Memória dos lugares (35): Porto Gole, Março/Abril de 1968, CART 1661 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)



Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Março / Abril de 1968 > CART 1661 >
Trabalhos de electrificação do aquartelamento a cargo de uma equipa do BENG 447, onde se integra o José Nunes, autor destas imagens...

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Vista geral da povoação e aquartelamento

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > O Sesimbra, o Biaia e o José Nunes, posando junto ao temível Morteiro 81

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Junto a um dos abrigos do aquartelamento

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 >O Biaia, que presumimos ser um 'protegido' da tropa, quiçá a mascote da companhia (CART 1661), que - como muitos outros miúdos guineenses - cresceram dentro do arame farpado, ao longo da guerra colonial...


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > O José Nunes posando para a posteridade com a inofensiva (para os humanos) mas sempre mítica jibóia...

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Todos à v0lta da jibóia - I


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 >Todos à volta da jiboia - II

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > 1968 > Todos à volta da jibóia - III

Fotos: José Nunes (2009). Direitos reservados



1. O José Nunes (, de seu nome completo, José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo, BENG 447 (Brá, 1968/70) esteve na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 Janeiro de 1970.


Fez assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga.

Esteve em Porto Gole em Março/Abril de 1968, altura em que se procedeu à electrificação do aquartelamento (foto à esquerda). Não tínhamos até agora fotos dele. Finalmente, e a nosso pedido, ele procedeu à digitalização de uma série de fotos, que iremos publicar. Hoje começamos com as suas memórias de Porto Gole.

"Nesse tempo o Comando ficava na Habitação existente, e servia de alojamento aos Oficiais e Sargentos. O restante pessoal ficava no celeiro e nos abrigos, construídos, e nos abarracamentos construídos junto da casa maior" (*).

A tabanca "estava alinhada, formando uma rua até ao cruzamento da estrada que ía pra Mansoa e para Enxalé. De frente para o Geba, junto ao monumento, a pista ficava do lado direito; no esquerdo, no pequeno vale com laranjeiras e uma horta, ficava o poço onde nos abasteciamos de água".

Na altura a CART 1661, a que pertencia o nosso camarada Abel Rei (**), "tinha pessoal em Bissá e em Enxalé"... Acrescenta o José Nunes:

"Sei que tinha um número considerável de baixas. Foi quando apareceram as primeiras minas incendiárias que fustigavam as colunas de reabastecimento a Bissá. Tenho algumas fotos lá tiradas com a malta, impecável. Em Porto Gole foi onde vi a maior jibóia na Guiné, morta quando se ía buscar lenha para fazer a comida.

"Foi aqui que tentaram envenenar toda a Companhia, deitando no poço toda o tipo de restos de vacas mortas, tripas, peles... O poço era tapado com tampo de madeira e na base do gargalo havia um buraco para enfiar a mangueira da bomba, foi por aí que introduziram tudo, nas barbas de um posto de sentinela, mas pela horta era fácil. As flagelações eram feitas do cruzamento, na altura foi construido aí um posto avançado [, um fortim], para evitar as flagelações. Durante a minha estada nunca fomos atacados". (***)

__________

Notas de L.G.

(*) Vd. postes de:

10 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4492: Memória dos lugares (30): Porto Gole, CART 1661 (1967/68) (José Nunes / Abel Rei)

22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2470: Diorama de Guileje (5): Geradores na Guiné (José Nunes)

22 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)


(**) Vd. postes de:

12 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4815: Notas de leitura (14): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte I) (Luís Graça)

14 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4820: Notas de leitura (15): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte II) (Luís Graça)

24 de Agosto de 2009 > Guiné 1963/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)

(***) Último poste da série Memória dos lugares:

14 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4682: Memória dos lugares (34): Guiné, Sol e Sangue, de Armor Pires Mota, CCAV 488, 1963/65 (José Marques Ferreira)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4492: Memória dos lugares (30): Porto Gole, CART 1661 (1967/68) (José Nunes / Abel Rei)







Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Aqui, no estuário do Rio Geba, em 1456, chegou o primeiro português (e europeu), , o navegador Diogo Gomes

(i) Monumento construído pela CART 1661, c. 1968 > Na altura ficava em plena parada (vd. p. 170 do livro do Abel Rei, Entre o Paraíso e o Inferno; de Fá a Bissá...). Inscrição na base: "Para ti, soldado, o testemunho do teu esforço"... O secular hábito dos portugueses de deixar, pelo mundo, um 'marco' da sua presença ou passagem...

Foto: © Abel Rei (2009). Direitos reservados

(ii) Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Em 2005, quando por lá passou o Jorge Rosmaninho, o mesmo monumento estava todo coberto de capim; são visíveis, na parte de cima do monumento, os efeitos da erosão do tempo (ou da acção depredatória dos homens ?...), vendo-se já os ferros, descarnados, da estrutura que era (é) em cimento...

De qualquer modo, há um certo entendimento, hoje, na Guiné-Bissau, de que estes vestígios da presença portuguesa devem ser conservados, tendo algum interesse historiográfico, cultural, socioantropológico e até turístico, num país onde o património edificado pelos portugueses (tirando algumas praças históricas como Cacheu e Bolama) é muito pobre...

(iii) Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Placa em bronze com o brazão da CART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68). Dizeres, inscritos na chapa: Coragem, Esperança.

Fotos (ii e iii) : © Jorge Rosmaninho, autor do blogue Africanidades (2009). Direitos reservados


1. Comentário de José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70:


Camarada, eu estive em Porto Gole em Março/Abril de 1968, nesse tempo o Comando ficava na Habitação existente, e servia de alojamento aos Oficiais e Sargentos. O restante pessoal ficava no celeiro e nos abrigos, construídos, e nos abarracamentos construídos junto da casa maior.

O monumento existente, evocativo da chegada dos Portugueses ao local , estava capinado e servia de referência a quem subia o Geba. Apopulação estava alinhada, formando uma rua até ao cruzamento da estrada que ía pra Mansoa e para Enxalé.

De frente para o Geba junto ao monumento, a pista ficava do lado direito; no esquerdo, no pequeno vale com laranjeiras e uma horta, ficava o poço onde nos abasteciamos de água.

Na altura a Companhia que lá estava tinha pessoal em Bissá e em Enxalé, salvo erro era uma Companhia de Artilharia. Já não recordo o seu número, mas sei que tinha um número considerável de baixas. Foi quando apareceram as primeiras minas incendiárias que fustigavam as colunas de reabastecimento a Bissá. Tnho algumas fotos lá tiradas com a malta, impecável.

Em Porto Gole foi onde vi a maior jibóia na Guiné, morta quando se ía buscar lenha pra fazer a comida. Foi aqui que tentaram envenenar toda a Companhia, deitando no poço toda o tipo de restos de vacas mortas, tripas, peles... O poço era tapado com tampo de madeira e na base do gargalo havia um buraco pra enfiar a mangueira da bomba, foi por aí que introduziram tudo, nas barbas de um posto de sentinela, mas pela horta era fácil.

As flagelações eram feitas do cruzamento, na altura foi construido aí um posto avançado,pra evitar as flagelações. Durante a minha estada nunca fomos atacados.

José Nunes
Beng 447
Brá, 68/70

2. Comentário de L.G.:

Zé Nunes, essa companhia era a CART 1661 (Fev 1967 / Nov 1968) que esteve em Fá Mandinga, Enxalé e Porto Gole... Segundo o diário do Abel Rei (que eu vou ter o prazer de conhecer pessoalmente no nosso próximo encontro, em 20 de Junho, na Ortigosa, Monte Real), em Março/Abril de 1968 ele estava em Porto Gole, embora parte do seu Grupo de Combate estivesse no Enxalé.

Em 8 de Abril de 1968, há o registo de um ataque a Porto Gole, durante 45 minutos, com armas ligeiras e pesadas, mas sem consequências, por um grupo IN estimado em 50 elementos (1 bigrupo). Já n~´ao devias estar lá, se não lembravas-te, de certeza... Nessa altura já havia gerador eléctrico e estava-se a construir um fortim, certamente a cargo do BENG 447... Também já havia pista de aviação... O destacamento de Bissá era frequentemente atacado. Zé: Não queres partilhar connosco essas fotos que tens de Porto Gole, um sítio mítico para todos nós, tugas ?

Tens razão, a CART 1661 teve manga de baixas: 17 mortos (12 por accionamento de minas) e 25 feridos, não se incluindo nestas nestas baixas as da Polícia Administrativa (6 mortos e 7 feridos) nem as do Pel Caç Nat 54 (5 mortos e feridos). (Fonte: Abel Rei, 2002).

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça


Vd. também 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > 2 de Março de 2008 > Os macacos-fidalgos vinham, de manhã, acordar-nos e dar-nos as boas vindas (*)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do José Nunes, com data de 11 do corrente:

Como descrevi no poste sobre a Missão Católica ou missão heróica (**),comi macaco-cão à mesa com os missionários italianos na Missão,não por mero prazer mas por necessidade. O caçador da Missão era um jovem de nome Cabi, os missionários entregavam-lhe uma espingarda de caça e ele saía à caça. Quando regressava tanto podia vir um macaco,como meia dúzia de patos farons,era o que aparecia.

A carne é muito adocicada,como se temperassemos a carne de vaca em vez de sal pormos açucar.
Nas tascas do Pilão e de Bandim era normal ver-se assarem macacos para petiscarem, desde que houvesse água de lisboa sabe!

Sempre me causou muita náusea ver o animal inchar por acção do fogo,muitas vezes era assados tal cpomo eram caçados,e quando espreitei para a panela de bianda que era cozinhada, a primeira coisa que vi foi a cabeça. Fez-me muita náusea,e desde então,nunca mais tive curiosidade de ver.

Para dar comida aos leprosos era necessário recorrer de engenho e tudo era comestível.

Por onde andei vi macacos na ilha de Bissau, ali para os lados de Prabis, na Ponta do Inglés [Xime], e em Bissum-Naga.

Mas parece que eram muito ariscos e não facilmente domesticáveis.

Cordiais Saudaçoes a toda a Tabanca.

José Silvério Nunes
1º Cabo Mec Elect de Centrais
Beng 447
Brá, Bissau, 1968/70

2. Mensagem de Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém, 1965/67 ):

Meus caros Luís graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote:

Este será o meu modesto contributo para uma causa tão nobre como é a defesa do nosso “primo” babuíno, em que está empenhada Maria Joana Ferreira da Silva, investigadora portuguesa, a fazer, no Reino Unido, a sua tese de doutoramento sobre o macaco-cão da Guiné,

Quando da minha passagem pela Guiné nos anos de 1965 a 1967, existiam muitos macacos, e de várias espécies.

Insisto: no meu tempo - e com isto quero ressalvar o facto de que a Guerra na Guiné não pode ser tomada como sempre igual, tudo evolui, para não se correr o risco de entrar em contradições inexistentes. A guerra durou 13 anos, e teve várias fases, que eu não me atrevo, por incapacidade, a definir, mas todos sabemos que os militares que passaram pela guerra na Guiné, essa guerra foi muito pior para alguns do que para outros, em função do período em que por lá passaram.

No início da guerra, a fauna era muito mais abundante do que no final da guerra, e não vale a pena inventar as razões, dado que são tão óbvias que todos percebem.
Em relação aos macacos, conheci três espécies diferentes, embora saiba que existem mais para além destas:

(i) O macaquinho sagui, pequenino, engraçado, e que era propriedade de algum militar que os tinha a seu cargo;

(ii) O macaco-cão, o tal babuíno que se procura e que quase todas as unidades militares possuíam como mascote. (Era pertença de todos, embora mais amistosos com alguns, que lhes dedicavam mais atenção);

(iii) E finalmente o macaco-fidalgo, que talvez por ser bastante mais ágil e muito mais barulhento, nunca o vi em cativeiro na Guiné.

Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. O nome cabrito pé da rocha para mim é novidade (***).

Para colocar alguma ordem, eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim.

Utilização de macacos para fins medicinais ou outros nunca me apercebi. Os nativos capturarem macacos para os comer também não me parece, pelo menos na zona dos Fulas onde estive 18 meses.

Macacos cão em grupo também nunca vi, mas macacos fidalgo era frequente aparecerem na estrada que liga Jumbembem a Canjambari, a Oeste de Farim, na região do Oio. Eram grupos constituídos por duas a três dezenas, de pelagem bastante mais escura que o macaco cão, muito ágeis e muito barulhentos, de cauda mais alongada e que pareciam voar de uma árvore para a outra.

A captura do macaco é muito fácil, uma vez que o macaco fecha a mão para apanhar o isco e nunca mais a abre, também há humanos assim…!! Se o orifício for pequeno, a mão não sai e o macaco fica preso.

Uma das grandes virtudes do macaco é ser o grande propagador da semente do cajueiro, uma vez que ele vai roubar as castanhas do cajú e foge, levando-as na boca. Quando tenta trincá-las, a castanha liberta um liquido amargo e ele deita-a fora, dando origem a um novo cajueiro naquele local.

Um abraço do tamanho do Cacheu porque o Cumbijã eu não conheci...

Artur António da Conceição
Damaia - Amadora

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)


10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(**) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

(***) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3533: (Ex)citações (7): A reciclagem das garrafas de cerveja na Ponta do Inglês (José Nunes / Manuel Moreira)

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Humor (negro): Um dari [chimpanzé do Cantanhez] , em cativeiro, numa aula prática sobre reciclagem do lixo...

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados

Quem disse que a fome e a sede, aos vinte anos, não eram boas conselheiras ? Na Ponta do Inglês, o melhor soldado do mundo (que era o nosso, pois claro!) reciclava tudo, a começar pela garrafa da cerveja, a bazuca mais desejada do mundo, e que vinha de lancha. E ainda não se falava, nesse tempo e nesse lugar, em crise energética, economia do lixo, ecologia, ecopontos, economia sustentável, e por aí fora... (Se calhar queriam uma estância balnear, não?!).

Na Ponta do Inglês (que nada tinha a ver com o Ultimato Inglês de 1890!), nada se perdia, tudo se transformava... Claro que eram todos voluntários e patriotas, os rapazes que heroicamente defendiam a Ponta do Inglês, na Foz do Corubal... Eram gajos com brio, porra! Tugas dum carago!



1. "Ponta do Inglês, local onde estive 2 a 3 horas, o tempo da maré... Na altura a iluminação do quartel era feita com garrafas de cerveja, cheias de petróleo, e o alarme era as ditas quase juntas para tilintarem e darem o alarme, só que os macacos davam p'ra se agarrar ao arame farpado e tilintar as garrafas... Pelo sim pelo não, o melhor era uma rajada"

José Nunes,
ex 1º Cabo Mec Electri Centrais
Beng 447
1968/70

Comentário de 27 de Novembro de 2008 ao poste do memso dia > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

2. Da Canção da Fome:

(...) Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.



Poste de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69




3. (...) "Se não queriam ir que não fossem, mas não venham, agora velhos, lamentarem-se e quase pedir desculpa por terem sido soldados... Tenham brio, porra!"

Jorge Fernandes


Extracto de poste de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3529: Controvérsias (13): Se não queriam ir que não fossem...(V. Briote)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

1. Mensagem, de 22 de Setembro do corrente, do José Nunes (*), ex-1.º Cabo Mec Elect de Centrais, do BENG 447 (1968/70).

Um dia tenho de me deslocar em serviço para Bissum-Naga, pelas 7 da manhã. Sou colocado na base do gabinete de transportes. Não estava pessoal nenhum. Passados uns momentos aproxima-se um indivíduo mestiço, com quase dois metros, pistola pelo joelho, tipo cowboy:

- Então, pessoal, vamos viajar, eu sou o Honório.

Na minha frente o mítico piloto que quase ninguém conhecia e todos suspiravam de alívio quando o motor do seu avião roncava nos céus da Guiné. Era norma entregar os carregadores da arma ao piloto e ele verificar se não havia munição na câmara. O Honório vira-se para e diz:

- Alguém me quer matar? Então vamos lá.

Dirigimo-nos para a DO:

- Engenheiro, tu vens prá frente.

A DO só tinha dois assentos à frente, a caixa de carga era onde a malta viajava. Levantamos, diz o piloto:

- Como temos aí amigos que andam pela primeira vez de avião, temos de fazer disto um passeio...

Voámos sempre por cima da estrada da base até João Landim. Todas as curvas da estrada foram feitas como se fôssemos de automóvel. Dirigia-se para Bula uma GMC carregada de pessoal, descia em direcção à jangada no rio, o amigo Honório ao ver a GMC dá uma gargalhada e diz:

- Ah!, vocês vão aí?!

Pica a DO direito à GMC e eu só vejo pessoal a saltar da viatura em andamento. O avião levantou e ele ria , ria...
Ao aproximar-nos de Bula numa bolanha lá andava pessoal a trabalhar e ele novamenta pica o avião direito ao pessoal, e eu cada vez mais mal disposto com as manobras bruscas do avião:

- Engenheiro, olha em frente, não o obstáculo, vê-se pelo canto do olho...

Antes de aterrarmos em Bula, demos duas voltas a indicar que íamos aterrar, o avião faz-se à pista de terra e fica um soldado de braços no ar petrificado a ver o avião aproximar-se. A aterragem teve de ser abortada, voltámos, nova volta e aterrámos. Ao aterrarmos, o Honório foi logo procurar o soldado e galhofar com o medo que apanhara.

Entretanto, aproxima-se um Tenente-Coronel:

- Honório, eu vou para Bissum.

- Não vai, não, o engenheiro têm prioridade, e os dois artilheiros fazem falta em Bissum... ou não ? - replicou o piloto.

- O senhor é que sabe! Vou na próxima semana - respondeu o oficial superior e e afastou-se.

Levantámos para Bissum, e assim que o avião aterra, o piloto desaparece.
Mais tarde vim a saber que o piloto gostava de ser mimado com uns bons petiscos. Rolas não faltavam naquelas bandas, e como ele gostava de passarinhos fritos, na semana seguinte dia de avião era sinónimo de frescos e pescada congelada...

Quando vinha, lá ia ele pró petisco. Quando volta, o avião está carregado, ele aproxima-se e diz:

- Senhor Tenente-Coronel, quantos quilos de carga temos ?

- Não sei.

- Então descarregue tudo e diga-me o peso! Se esta merda não levanta e bate nas palmeiras, lá dizem que o Honório é maluco, mas não é, sabe o que faz.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Um Dornier, DO 27, na pista, de terra batida, do aquartelamento. Foto do saudoso Cap Ref José Neto (1927-2006).

Viajei com o Honório mais uma vez, mas via-o no Hotel Portugal normalmente a jantar com um capitão operacional, sempre que este vinha a Bissau comer bife com ovo a cavalo e beber uma garrafa de Antiquary.
Quando conheci o Honório estava ele nos Transportes. Dizia-se que tinha ido deixar umas encomendas numa base aérea no Senegal, até houve bronca na ONU. Fez de tudo nos céus da Guiné, Fiat, T6, DO (**).

Faz bem recordar camaradas que com abnegação tudo deram sem nada pedir em troca. Ao ler o post sobre Honório (***), veio-me à memória as viagens que fiz com ele. Onde quer que estejas a minha singela homenagem.
___________

Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

(...) "Apresenta-se na Tabanca [Grande] o 1.º Cabo Mec Electricista de Centrais, do BENG 447, José Silvério Correia Nunes. Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 de Janeiro de 1970. Para regressar, paguei a passagem de avião na TAP, pois só em Março deveria haver barco de regresso. Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga" (...).

(**) Salvaguarda-se a afirmação do José Nunes que parece não corresponder à realidade, uma vez que o Honório não terá pilotado Fiat.

(***) Vd. postes de:

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

sábado, 13 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (5): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

1. Publicamos hoje uma estória enviada pelo nosso camarada José Nunes (1), ex-1.º Cabo Mec Elect de Centrais, do BENG 447, (1968/70), enviada no dia 7 de Setembro de 2008.

Missão Católica ou Missão Heróica?

Saía eu a Porta de Armas para ir à tabanca de Brá levar roupa à Fina Rosa, minha lavadeira, quando o sentinela me chama:

- Nosso Cabo, o frade anda a perguntar por um electricista.

Lá me dirigi ao Sto. António assim era o seu hábito, um jovem de vinte e poucos anos tal como eu, que precisava que um electricista fosse à Missão ver se era posssível fazer uma instalação eléctrica para pôr a Carpintaria Escola a funcionar.

Prontifiquei-me a ir e lá fomos, não sem antes comprar umas bazucas que o Frade me pediu, numa motorizada Peugeot, só com um assento, eu sentado e o frade de pé em cima dos pedais, picada fora, cai aqui, cai ali, lá fomos direitos a Prábis.

Chegados, fiquei boquiaberto ao ver tamanha beleza, uma pequena capela, mas a torre sineira deslumbrante entre duas altas palmeiras, lá estava a sineta com o seu campanário para chamar os fiéis.

Algumas construções de alvenaria e uma grande construção sem telhado. Lá fomos por meio de cajueiros, um pouco afastado da capela lá estava um pavilhão tosco, cheio de máquinas de carpintaria. O meu interlocutor lá ía esplanando as suas pretenções e eu anotava. Visitei a Missão, qual o meu espanto quando me leva para uma zona de Tabanca com muitas moranças e começo a ver gente com aspecto horrendo.

- São leprosos, disse-me.

Lá fui vendo aquela gente sofrida e verificando a falta de condições para assistir esta gente.

- Aquele edifício era para ser a enfermaria, mas não temos dinheiro para o telhado.

Senti uma revolta imensa, como era possivel?

Voltei ao quartel e falei com o meu chefe a quem fiz um relato do que tinha visto.
O Eng. Alf Mil José Alberto deu-me carta branca para dentro das disponibilidades dar todo o apoio possivel.

Lá fomos fazer a obra. Montámos a iluminação e a força motriz na carpintaria, com um camarada de São Pedro da Cova, cujo nome não me recordo. Almoçávamos na missão com os Frades.

Um dia ao almoço, após as orações, vem para a mesa uma travessa com aves, talvez pato e outra com uns bifinhos dos quais me servi. Começando a comer noto um sabor adocicado na carne e pensei:

- Estes italianos põem açucar na carne?

Quando o Padre no topo da mesa me diz num português meio italiano e crioulo:

- Desculpa, não sei se gosta de bife de macaco.

Mastiguei mais um pouco, mas desisti de comer alegando uma indesposição. Na missão comi a pasta mais gostosa da minha vida e receitas conventuais.

A minha admiração pela obra das missões em Africa, a forma desinteressada como estes homens se dedicam ao seu semelhante, sem meios, contra tudo, mas com uma Fé imensa e disponibilidade para ajudar.

Viviam sem luxo ou riqueza, do que a terra dava. O Cabi caçava para toda a comunidade, do cajú aproveitava a castanha para vender e do fruto faziam vinho. De Itália chegava muita coisa que eles distribuiam com a população.

Decerto o seu trabalho continua, será que em melhores condições? Oxalá pois o seu labor é sinónimo de cuidados de saúde para os leprosos da Guiné, que por lá devem continuar.

A minha admiração por estes frades, com quem tive o grato privilégio de privar e conhecer D. Sétimo Serrazeta, que teve um papel grandioso no conflito de 1999, na procura de soluções.

Este meu testemunho para dizer que apesar da guerra, havia outras lutas que era preciso vencer.

Se servir para publicar tudo bem, não quis deixar de vos relatar esta vivência em tempo de guerra.

Um abraço e saudações cordiais a todos os Camaradas.
José Nunes
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Nota de CV

Vd. poste de 22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2470: Diorama de Guileje (5): Geradores na Guiné (José Nunes)


Foto: Nuno Rubim (2007).


1. Em 13 de Janeiro de 2008, José Nunes (1) escreveu:

Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968, 15 Janeiro de 1970.

Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos, Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglés, Bolama, Bissum-Naga.

Acerca dos manuais que o Camarada Coronel precisa, deve ser difícil pois nunca os vi em 2 anos e um dia de Comissão, nem na escola Militar tivemos acesso a eles.

Os grupos geradores mais utilizados eram: 500/250KVA, 150, 50/47,5 KVA (2).

No QG, na Central nova, havia dois Dorman de 250 KVA, com 6 cilindros, refrigeração a água por radiador e, um grupo gerador de emergência Lister de 75 KVA.

Na Central velha, existia operacional um Deutz de 12 cilindros em V, refrigerado a ar e um Lister de 50 KVA.

Na Engenharia e no Hospital Militar estavam os grupos geradores maiores.

No mato, normalmente, encontravam-se geradores com potências de 50, 20 e 7,5 KVA.

As marcas Stanford e Frapil para pequenas potências até 20KVA.
As motorizações eram diversas: Dorman, Deutez, Lister e EFI produção nacional.

Em Porto Gole havia um Lister de 47,5/50 KVA, na Ponta do Inglês havia um Gerador de 20KVA que lá fui levar com um operador de Motores Fixos.

Ajudei a transferirr o grupo gerador, na lama, da LDP para cima do Unimog, a descarregar no local e a fazer ligações de potência.

Por azar, o meu camarada inverteu a polarização na excitação e o gerador ficou inoperacional.
Tive de me pirar porque fui lá desenfiado só para ajudar e para ver se o Operador vinha no mesmo dia para Bissau, mas ficaram sem iluminação e o Engenheiro ficou lá até ao próximo transporte, regressando eu a Porto Gole onde levei uma valente piçada.

Ponta do Inglês, iluminação? A bazucas cheias de petróleo penduradas no arame farpado.

A iluminação nos aquartelamentos era feito com cibes a fazer de postes, linhas de cobre nú de 2,5 mm2, circuito fechado em anel, lâmpadas Philips 150 Watts spot.
Os quadros eléctricos eram em baquelite, equipados com fusíveis ou disjuntores quando os havia.

Não havia uniformização nos geradores, tal como muita coisa era comprada ao sabor de quem dava melhor percentagem, mas a maioria dos aquartelamentos tinha geradores de 7,5 ou 20 KVA.

Até breve, com amizade.
Matenhas para toda a Tabanca.
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Notas dos editores:

(1) - Vd. post de 22 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

(2) - Vd. post de 11 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2432: Diorama de Guileje (1): Geradores: Grupos Diesel Lister ou Frapil: fotos ou manuais, precisa-se (Nuno Rubim / Victor Condeço)

Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

1. Mensagem do noso camarada José Nunes com data de 13 de Janeiro

Camarada,
Apresenta-se na Tabanca o 1.º Cabo Mec Electricista de Centrais, do BENG 447, José Silvério Correia Nunes.

Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 de Janeiro de 1970.

Para regressar, paguei a passagem de avião na TAP, pois só em Março deveria haver barco de regresso.

Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga.

Logo que disponha de um scaner vos enviarei algumas fotos, que rebusquei e que terei muito prazer em facultar para que dê valor a todos os camaradas que pereceram e que estarão sempre na minha memória.

Nunca ninguém aqui falou da Leprosaria que existia ali para os lados de Pefine, salvo erro, que estava entregue a uma Congregação de Frades Italianos.
Eu estive lá.

Havia uma enfermaria de alvenaria, mas não havia dinheiro pró telhado, porque a chapa de zinco era cara e todos os leprosos íam lá parar.

As minhas aventuras com um Jovem Frade Italiano nas picadas da lha de Bissau, numa motorizada Peugeot, o previlégio de ter conhecido aquele que viria a ser o Bispo de Bissau, D. Sétimo Serrazeta no pós indepedência e todos os Frades da Congregação, o trabalho relevante, deles, na saúde e na formação profissional dos guineenses, ficam para sempre na minha memória.

Montamos uma Carpintaria Escola para os frades ensinarem carpintaria aos meninos, filhos dos leprosos, e residentes na zona. Era impossível ficar indiferente e não colaborar.

Tenho tido alguma relutância em fazer uma aproximação ao Blogue, pois não sendo operacional, tendo feito parte da guerra na 5.ª Repartição, sinto alguma fragilidade em juntar-me a quem viveu as agruras da guerra, embora tenha sofrido ataques a aquartelamentos, nas miunhas deslocações ao mato.

Em Bissum Naga estivemos um mês a sopa de cebola com bianda e bianda com atum no segundo, isto ao almoço, porque ao jantar invertíamos a ordem dos pratos.

Aprendi a admirar os camaradas operacionais, embora detestasse as rivalidades bacocas, entre as tropas especiais, que de vez em quando, se guerreavam em Bissau, tendo vivindo no Hospital Militar muitos dramas e verificado coisas que se não as presenciasse não acreditaria.

Vou buscar no meu baú as velhas e amarelecidas fotos desse tempo de muita dor e saudade. De uma amizade temperada sob sol abrasador com fome, sangue, suor e muitas lágrimas de dor e revolta. De muita sede, de tudo.

Não me posso queixar, porque quis a sorte ou a vontade dos homens, que a minha guerra fosse diferente. Fiz viagens em barcos de cabotagem a subir o Geba até Porto Gole com outro camarada, a tripulação e os gentios, cheios de medo, novos, inexperientes.

Acho que tenho umas fotos da destruição das Camaratas no Quartel dos Comandos em Brá, por acidente.

Do avião capturado pelo camarada condutor que atravessou a mercedes na pista não o deixando levantar com gente grada o PAIGC.

Até breve, com amizade.
Matenhas para toda a Tabanca.
José Nunes

2. Comentário de CV

Caro Nunes:

Bem aparecido na nossa Tabanca Grande.

Não te esqueças das tuas fotos da praxe para a foto galeria.
Além da tua preciosa colaboração no tema dos Geradores de energia eléctrica instalados na Guiné, podes e deves contar as tuas estórias.

O facto de fazeres boa parte da tua guerra na esplanada mais célebre da Guiné, não quer dizer que não tenhas algo para nos contares.

Foste tantas vezes ao mato que deves ter vivido algumas situações menos boas e outas até caricatas. Quem esporadicamente ia ao mato tinha sensações diferentes daqueles que, por imperativo da sua especialidade, cumpriram a sua comissão de serviço entre o arame farpado.

Para ti vai um abraço de boas vindas dos teus novos amigos e camaradas da Tabanca Grande.

CV