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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21909: Notas de leitura (1341): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte I - O direito, o dever, o prazer... e a dor da memória (Luís Graça)


FERREIRA, José Pardete - O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971. Lisboa : Prefácio, D.L. 2004. 169 p., [12] p. il. : il. ; 24 cm. (História militar. Memórias de guerra). ISBN 972-8816-27-8.

1. O ex-alf mil médico , José Pardete Ferreira 1941-2021), membro da nossa Tabanca Grande,  que, infelizmente,  nos deixou há um mês (*), escreveu, por volta dos seus 60 anos de idade, um livro que eu acho notável (**), e que se pode classificar como um misto de narrativa histórica e de autobiografia, uma e outra, ficcionadas. 

O autor chama-lhe "romance", mas no subtítulo aparece a expressão "novas crónicas da Guiné, 1969/71". O arco temporal da acção   é maior, abarcando, no essencial, a década de sessenta e de setenta (até ao 25 de Abril), com dois acontecimentos marcantes de que o autor foi, ele próprio, protagonista, a crise académica de 1962 e a mobilização, em fevereiro de 1969, para o teatro de operações da Guiné, como médico militar (ia fazer  28 anos em 15 de fevereiro de 1969, e no dia 6 tinha acontecido o desastre de Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé).

O "making of" do livro terá durado cerca de 2 anos e foi partilhado pelo poeta, livreiro, amigo e  vizinho de Setúbal, de origem açoriana, Manuel Pereira Medeiros (1936-2013), que também assina o prefácio,  sob o pseudónimo literário de Resendes Ventura. 

Do livro diz o prefaciador que é "um confessado momento de divertimento" (...): "quem conhece Pardete Ferreira,  reconhece-o bem neste seu livro" (p. 7).

Ao rever, também com o autor, os anos sessenta, ele evoca  "o direito, o dever e o prazer da memória, mas acrescenta-lhe a "dor". De facto, "não era para a dor que estávamos preparados" (p. 8), Nós, a geração nascida com ou após a II Guerra Mundial, e que irá fazer a guerra colonial.

E se não tivesse havido a "guerra colonial", pergunta Resendes Ventura ? O que teria feito de e por Portugal a geração de sessenta ?

É uma pergunta meramente teórica, "bizantina", daquelas "tipo sexo dos anjos", que não tem resposta. Na História não há "ses"... Mas  esta geração, a da guerra colonial,  isso sim, tem de "exercer o direito  e o dever de memória" (p. 8).

Uma questão que no virar do milénio parecia fazer ainda mais sentido, face à dificuldade em se " saber o futuro".

Por seu turno,  na introdução ao seu livro, o autor diz que tentou "descrever analiticamente ou analisar descriticamente o que foi o conjunto dos anos sessenta e setenta" (p. 11).

E começa por exigir que se respeite a geração de combatentes, a sua (e nossa) geração que mal ou bem fez a guerra colonial. E respeitar não é erigir memoriais (em ferro, em pedra, em bronze...) como sobretudo o "conceder  aos combatentes do Ultramar o estatuto de cidadão a tempo inteiro" (p. 12).

Não foi isso que aconteceu, no pós-25 de Abril, acrescentando o autor, de forma sarcástica, a seguinte explicação: 

"A Nação exigiu a esta geração o dever do pagamento do Imposto chamado serviço militar obrigatório", para logo a seguir atirá-lo à cara, "com uma escarradela de reprovação e desprezo" (p. 12).

Mas vamos às personagens que animam os 24 capítulos da obra, tantos quantos "o número médio de meses de uma comissão de serviço militar, por imposição" (p. 16).

No essencial são duas as personagens principais cujos destinos se vão cruzar na Guiné,  em 1969/71, nesta narrativa cuja classificação não cabe nos clássicos géneros literários. São eles o Paparratos e o João Pekoff, o primeiro,  um  soldado comando da 105ª CCmds [leia-se, 16ª CCmds, 1968/70],  o segundo, um  "estudante activista de 1962" e depois médico no CAOP (de fevereiro a junho de 1969) e no HM 241 (até ao princípio de 1971).

Sobre o primeiro, falaremos com mais detalhe numa próxima nota de leitura. Mas aqui  fica uma primeira apresentação sumária (pp. 18/19);

(...) “O Gabriel ou Paparratos era um rapaz simples das nossas aldeias, filho de um casal de trabalhadores rurais, que partilhava o seu tempo na escola, nas brincadeiras com os seus inúmeros irmãos e companheiros, no ajudar dos pais e na serventia ao sacristão. Sabia ler e escrever, desconhecendo-se ao certo qual o nível real de instrução que conhecia.

" O contacto com a rude dureza da vida ensinara-lhe a humildade e, provavelmente mais a generosidade do que a valentia. Esta, já a mostrava nas rixas no povoado ou nos campos, em dias de festa da aldeia ou no turbilhão domingueiro que quebrava a monotonia repetitiva do labor quotidiano”.  (...) 

"O ir às sortes foi uma festa (...).  "Uns meses mais tarde, chamado à vida militar, não se fez rogado (...) .

(...) Ofereceu-se  para servir nos Comandos (...). No final do treino foi um dos contemplados com a boina e com o crachá que o faziam distinguir como comando. (...) Pela primeira vez, na sua ainda breve vida o Gabriel se sentiu gente. (...)


BI Militar do alf mil méd José Pardete Ferreira, 
de que o João Pekoff é um "alter egi"

No livro do J. Pardete Ferreira, é notória a parecença  de determinadas situações narradas com "factos e feitos" ocorridos  no TO da Guiné neste periodo: por exemplo, a retirada de Madina do Boé (estava o autor a caminho do CTIG); a  morte dos 3 majores no "chão manjaco" em abril de 1970; a invasão de Conacri (Op Mar Verde), em 22 de novembro de 1969; ou a captura, o evacuação e o tratamento no HM 241 do capitão cubano Peralta (Op Jove).

Daí que não repugnasse  ao autor a ideia de  que este livro fosse  um misto de "romance" com uma vertente "histórica" e outra "autobiográfica" (p. 16).

O Paparratos é, no entanto, uma figura mas ficcionada e "estereotipada" do que o João Pekoff, afinal, um "alter ego" do autor. Mas no final, e para os devidos efeitos (incluindo legais), J. Pardete Ferreira adverte que qualquer semelhanca com a realidade (nomes, figuras, locais, factos, datas, etc., descritos) é "pura coincidência"... Enfim, um velho truque de defesa de qualquer escritor de ficção...

Talvez tenha interesse para o leitor, e nomeadamente o leitor do nosso blogue, saber o seguinte, em traços largos, sobre o autor José Pardete (e o seu "alter ego"  ou heterónimo, João Pekoff);

(i) é lisboeta, nascido em 1941, em plena II Guerra Mundial; 

(ii) vai morrer na véspera de completar os 80 anos, vítima da pandemia de Covid-19;

(iii) filho único, mora, com os pais, no Bairro das Colónias;

(iv) frequenta, desde cedo, o Café Colonial,  que ainda hoje existe, na Av Almirante Reis, aos Anjos (naugurado em 1934 foi tertúlia e café de estudantes, transformado em pastelaria em 1978, hoje Café Pastelaria Colonial); 

(v) passa pela Mocidade Portuguesa e a JEC, enquanto estudante de liceu, e depois  pela Acção Católica, a  JUC e a Pax Romana - Movimento Internacional de Estudantes Católicos, enquanto estudante de medicina;

(vi) pratica desporto de alta competição na CDUL e no Sporting  (onde é, nomeadamente,  guarda-redes nas equipas de andebol)...

(vii) além de cirurgião, especializa-se mais tarde em medicina desportiva...


2. A preocupação maior,  na época, era "o medo de não terminar os estuds e seguir para África" como comandante operacional, de G3 na mão. ou seja, como alferes miliciano atirador de infantaria... (p. 48). E, naturalmente, o cenário mais temido era o da Guiné.

Concluído o curso de medicina, fará em 1968 o COM em Mafra, "com um frio de rachar" (p. 48). E a IAO, no Minho, integrado num batalhão, que admitimos possa ter sido o BCAÇ 2861, mobilizado pelo BC 10, Chaves, que desembarcou em Bissau em 11/2/1969. Deve ter passado,  antes,  seis semanas (!) no Hospital Militar Principal, um curto estágio de preparação para a sua difícil missão na TO da Guiné.

Chegado a Bissau, "saí logo do meu Batalhão e segui para o CAOP" [, que ainda não era o CAOP1], em Teixeira Pinto,  juntando-se ao Fernando Maymone Martins. [No  livro "O Paparratos", trata-se do  alferes milicano médico Moisés Mendes, que exerce também as funções de autoridade de saúde no "chão manjaco" (pp. 31/32)].

"O João Pekoff não tinha grande formação política" (p. 47), apesar de ser um dos "atores"da crise académica de 1962  (e sobretudo  sua testemunha privilegiada e, ao mesmo tempo,  um crítico da liderança estudantil em Lisboa)... 

Delicioso é o retrato que ele faz faz de alguns dos históricos dirigentes  do movimento estudantil dessa época, e de que falaremos em nota posterior: não é difícil descobrir por detrás do pseudónimo Ernesto Figueira, estudante de medicina,  figura o futuro psiquiatra Eurico Figueiredo, ou do  João Santos, estudante de direito, o futuro presidente da República Jorge Sampaio. Ambos frequentavam, tal como o João Pekoff, o Café Roma, junto à Praça de Londres, na Av de Roma (pp.  23 e ss). 

Aliás, interessante também é  "a ronda dos cafés" (pp. 81 e ss.), uma reconstituição do roteiro histórico dos cafés de estudantes e tertúlias da Lisboa dos anos 50, 60 e 70 (até ao 25 de Abril). Haveremos de cá voltar.`(***)

(Continua)


Guiné > Região do Cacheu > Chão Manjaco > 1970 > CAOP > A caminho de uma acção psico-social

Foto (e legenda): © José Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Legendagem do José Pardete Ferreira, completadas por notas nossas, entre parênteses retos, em mensagem com data de 26 de junho de 2011 ("Desfazendo suposições") (***)

(...) Há já alguns anos esta fotografia foi publicada no nosso blogue. Com a força que a minha presença na foto atesta, posso descrever:

De esquerda para a direita:

(i) Major Pereira da Silva (Sherlock Holmes dos bigodes) [, no livro "O Parratos"..., é o major Peres Sousa, de alcunha o Sherlock Holmes,  pp. 41 e ss.];

(ii) [Por detrás do Major, um ] Capitão Miliciano, cujo nome não me lembro, vindo do Pelundo ou de Có, substituir o Capitão Barbeitos [, cmdt da CCAÇ 2366, que esteve em Teixeira Pinto até 27 de maio de 1969, sendo então substituída pela CCAÇ 2585, que teve dois comdts: Cap Inf António Tomaz da Costa e Cap Mil Grad Inf António Camilo Almendra];

(iii) Marinheiro, manobrador do Zebro, [, a navegar no Rio Mansoa, ] com os dois motores Mercury de 40 CV cada, uma bomba para a época;

(iv) Tenente Coronel Pinheiro, 1º Comandante do BCaç [2845, Teixeira Pinto, 1968/70] que dava a logística ao CAOP [, no "romance", é 

(v) Capitão Comando Jorge Duarte de Almeida (abatido no quartel do Batalhão de Infantaria da GNR por um cabo "pirado da mona" - diz-se - mas... uns anos mais tarde; possuidor de linda voz (...) [, era o comante da 16ª CCmds, 1968/70, a que pertencia o "Paparratos", no romance, a "105ª CCmds", pp. 41 e ss, sendo o seu comandante  o capitão Dias Anjos]; 

(vi) [E, por fim, em primeiro plano, à direita,] este vosso camarigo, qual Ícaro renascido das cinzas, visto que num dos postes me confundiram com o Alferes [Mil Cav Op Esp, Joaquim João Palmeiro Mosca], que foi morto com os Majores;

(vii) [Fotógrafo, que obviamente não aparece na fotografia, o] 2º Comandante do BCaç da Logística [, BCaç 2845,], Major Guilhermino Nogueira da Rocha [, no "romance", o major Neves Rico, p. 106].

__________




(...) O Paparratos é uma divertimento sério, supera as situações caricatas e cómicas, na senda da literatura de humor, que se perde na noite dos tempos, comprova que muitas vezes o que se diz a rir é para reter em todo o horizonte da amargura, a sisudez pode ser troça e não é difícil provar que há muito Paparratos que serve de carne para canhão.

É o prazer da memória e, insiste-se, não se conhece um fresco tão vigoroso sobre o meio estudantil universitário daqueles longínquos anos 60. (...)



domingo, 14 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21901: A Nossa Marinha (3): a LFG Orion, "o melhor restaurante de Bissau", às quintas-feiras, em 1969/71, sem esquecer a tertúlia que, depois do jantar, se reunia na casa do célebre metereologista Anthímio de Azevedo [José Pardete Ferreira (1940-2021), autor de "O Paparratos"]



Guiné > Bissau > c. 1973/74 > "Dos poucos momentos que passei em Bissau... Junto às LFG Orion, Lira e Argos (da esquerda para a direita)"

Foto (e legenda): © J. Casimiro Carvalho (2017). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No seu romance "O Paparratos" (a história do soldado 'comando' Gabriel, de alcunha Paparratos, e do alferes miliciano médico João Peckoff, aliás, um "alter ego" do autor), o nosso camarada e membro da Tabanca Grande, José Pardete Ferreira,  que nos deixou, há um mês, faz uma referência implícita ao NRP LFG [Lancha de Fiscalização Grande] Orion, como um dos pontos "obrigatórios" do roteiro gastronómico de Bissau no seu tempo.

Recorde-se que, depois do CAOP, em Teixeira Pinto, de que foi o médico entre fevereiro e junho de 1969 (cinco meses), foi colocado no serviço de cirurgia do HM [Hospital Militar] 241, em Bissau (1969/71).

No final do seu serviço no Hospital, João Peckoff [leia-se: José Pardete], procurava ter em Bissau "uma vida de sociedade tão normal quanto possível" (p. 49). Como fazia amizades com  facilidade, tormou-se "presença assíduia nos habituais jantares das quintas-feiras, que tinham lugar na Base Naval [ao lado do cais do Pingjguiti],  que eram destinados aos oficiais de Marinha e seus familiares, sediados  em Bissau ou de visita, e a militares de outras Armas e mesmo a civis,  com o estatuto de convidados" (p. 50).

E aqui o autor faz uma homenagem à hospitalidade da LFG [Orión} e do seu comandante (no romance, Freitas de Sousa, leia-se Faria dos Santos], "um gentleman" (sic) , e evoca  poeticamente os "tons vermelhos vivos de sangue, atenuados  com fins de tarde cálidos e embalados de cinzento numa LFG acostada ao Cais do Pidjiguiti, durante o jantar a bordo, com mais dois ou três amigos" (p. 50).

2. Sabemos que se trata(va) da Oríon (**), de acordo com uma mensagem que o José Pardete Ferreira nos mandou, em 2011, juntamente com uma letra de fado, a do "Fado da Oríon" , que ele dedicou aos  camaradas da Marinha, e em especial à malta da LFG Orion, e que nós já reproduzimos em dois postes  (*).

(...) Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante [Alberto Augusto] Faria dos Santos [, entretanto falecido em 1986, ex-1º ten, comandou o NRP Orion, 1968/70].

A LFG {Orion] passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida, foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970], sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados. (...)

 
Fado da 'Orion' (excerto)

Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.

Refrão

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar. (...)


[Nota do autor: 1ª parte e refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970; 2ª parte,  escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).


3. Voltando ao romance "O Paparratos" e à figura do nosso doutor, João Pekoff:

(...) "O senhor comandante, entre outras qualidades, tinha a de receber bem, fazendo jus à fama da Marinha de Guerra Portuguesa" (p. 50).

 Por outro lado, "gostava imensamente de poesia e a tertúlia que entretanto se fundara em casa do António Almeida [, leia-se Anthímio de Azevedo  (Ponta Delgada, 1926- Lisboa, 2014). o famoso metereologista da Rádio Televisão Portuguesa, na altura, diretor do Serviço de Metereologia da Guiné, entre 1967 e 1971,] (...) tornou.se uma alternativa ao doce balançar no navio e à vista  do Ilhéu de Rei" (p. 50).

A casa de Anthímio de Azevedo era "local de reunião quase obrigatório após o jantar" [no navio], transformando-se num espaço de liberdade onde se dizia poesia, se falava da guerra e das últimas operações no mato, bem como da crueza da vida e da morte no Hospital,  reviam-se comissões de serviço anteriores, partilhava-se  projectos para o futuro, etc.

4. Quando o nosso doutor sentia necessidade de sair do ambiente da tropa, tinha em Bissau outras, poucas, alternativas:

"Um balaio de ostras com um molho feito com sumo de limão e piri-piri, acompanahado com umas cervejitas, aqui ou ali, ou ocasionalmente um jantar num dos poucos  restaurantes que havia, como por exemplo o Solar dos 10, satisfaziam-lhe os apetites, espirituais e físicos" (p. 50).  

Este restaurante seria pertença a um setubalense, que se tornou também comandante dos bombeiros de Bissau. Opinião do autor: "Durante muito tempo foi o Tavares Rico de Bissau" (p. 51). E terá sido no Solar dos 10 que o José Pardete Ferreira, o criador literário do Paparratos e do João Pekoff,  apresentou um dia, "numa noite de festa da malta do Hospital", na despedida de um colega, o Fado da Orion (*).

No roteiro gastronómico de Bissau, aponta-se ainda "a sala de jantar da Pensão Portugal, ou casas de pessoas tornadas suas conhecidas" (p. 51).

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

Vd. também o poste de 2 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21881: Fichas de Unidades (15): CAOP, CAOP Oeste, CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1968/74)


Guiné > Região do Cacheu > Chão Manjaco > 1970 >  CAOP > A caminho de uma acção psico-social

Foto (e legenda): © José Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Legendagem do José Pardete Ferreira, em mensagem com data de 26 de junho de 2011 ("Desfazendo suposições") (*)

(..:) Há já alguns anos esta fotografia foi publicada no nosso blogue (**). Com a força que a minha presença na foto atesta, posso descrever:

De esquerda para a direita:

(i) Major Pereira da Silva (Sherlock Holmes dos bigodes);

(ii) [Por detrás do Major, um ] Capitão Miliciano, cujo nome não me lembro, vindo do Pelundo ou de Có, substituir o Capitão Barbeitos [, cmdt da CCAÇ 2366, que esteve em Teixeira Pinto até 27 de maio de 1969, sendo então substituída pela CCAÇ 2585, que teve dois comdts: Cap Inf António Tomaz da Costa e Cap Mil Grad Inf António Camilo Almendra];

(iii) Marinheiro, manobrador do Zebro, [, a navegar no Rio Mansoa, ] com os dois motores Mercury de 40 CV cada, uma bomba para a época;

(iv) Tenente Coronel Pinheiro, 1º Comandante do BCaç [2845, Teixeira Pinto, 1968/70] que dava a logística ao CAOP;

(v) Capitão Comando Jorge Duarte de Almeida (abatido no quartel do Batalhão de Infantaria da GNR por um cabo "pirado da mona" - diz-se - mas... uns anos mais tarde; possuidor de linda voz; esta de um gajo andar na guerra e não lhe ter acontecido nada de grave e vir a morrer dum tiro  na metrópole,  é do caraças!);

(vi) [E, por fim, em primeiro plano, à direita,] este vosso camarigo, qual Ícaro renascido das cinzas, visto que num dos postes me confundiram com o Alferes [Mil Cav Op Esp, Joaquim João Palmeiro Mosca], que foi morto com os Majores;

(vii) [Fotógrafo, que obviamente não aparece na fotografia, o] 2º Comandante do BCaç da Logística [, BCaç 2845,], Major Guilhermino Nogueira da Rocha.


Última  legenda (errada, errada como a anterior): Da esquerda para a direita,  major Pereira da Silva, major Passos Ramos, fuzileiro, ten cor Aristides Pinheiro (cmdt do BCAÇ  2845),  major Osório e alf mil  presumivelmente Palmeiro Mosca, também assassinado em 20 de Abril de 1970.  (**). 

Foto: Cortesia de Afonso M. F.  Sousa (2007)

Recorde-se que o BCAÇ 2845 foi mobilizado pelo GACA 2. Partiu para a Guiné em 1/5/1968 e regressou a 3/4/1970. Esteve em Teixeira Pinto e teve três comandantes: Ten Cor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves; Ten Cor Inf Aristides Américo de Araújo Pinheiro [, que aparece aqui na foto]; e Ten Cor Inf Armando Duarte de Azevedo.  Unidades de quadrícula: CCAÇ 2366, 2367 e 2368.

 
1 O nosso camarada, recentemente falecido, José Pardete Ferreira, não esteve no CAOP1 (***). O António Graça de Abreu é que esteve,  de 1972 a 1974, primeiro em Teixeira Pinto (hoje, Canchungo), na região do Cacheu, depois em Mansoa, região do Oio, e depois em Cufar, na região de Tombali. 

Na altura em que o J. Pardete Ferreira esteve em Teixeira Pinto, no 1º semestre de 1969, ainda não havia o CAOP1, mas apenas o CAOP. Vejamos a história do CAOP (que passou a designar-se CAOP1, quando foi criado, em Nova Lamego, região de Gabu, o CAOP2).

Comando de Agrupamento Operacional
Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional n.º 1

Identificação CAOP |  CAOP Oeste | CAOP 1

Cmdt: 

Cor Para Alcínio Pereira da Fonseca Ribeiro
Cor Art Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Cor Para Rafael Ferreira Durão
TCor Inf Pedro Henriques
Cor Para João José Curado Leitão

CEM: 

Maj CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Maj CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Maj Art João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Maj Inf Carlos Diamantino Bacelar Pires
Maj Art João Augusto Fernandes Bastos

Divisa: 
Início: 08Jan68 | Extinção: 1Jul74


Síntese da Actividade Operacional

Início: 8 de janeiro de 1968

O agrupamento foi organizado e constituído com carácter permanente e com pessoal de nomeação individual, sendo inicialmente orientado para intensificar o esforço de aniquilamento sistemático dos grupos inimigos que exerciam pressão directa sobre o "Chão Manjaco", na região de Pecau-Churo-Caboiana-Pelundo-Jol.

Para o efeito foram-lhe atribuídas todas as forças localizadas na zona de acção, nos sectores de Teixeira Pinto e Bula e outras forças de intervenção, fuzileiros especiais, pára-quedistas, comandos e um batalhão de cavalaria.

A partir de 27Jan69, o CAOP instalou-se em Teixeira Pinto 

Inicia a sua actividade em 6Fev69 com a série de operações "Aquiles" e desenvolvendo intensa actividade operacional de patrulhamento, emboscadas, batidas e acções apeadas e helitransportadas, de que destacam as operações "Jovem Zagal", "Lobo Bravo", "Gibóia Verde", "Com Raça", "Grande VeIa", "Joeirada", "Gavião Satélite" e "Bafo Quente", entre outras.

A partir de 12Mar69, a sua zona de acção foi alargada ao subsector de Có e em 5Set69 ao subsector de Cacheu; em lJu169, após reformulação dos limites dos sectores, foi ainda criado o Sector 07, em Pelundo.

De 4Jun69 a 28Jun69, o CAOP estabeleceu um comando avançado em Buba e planeou, comandou e coordenou a operação "Grande Salto", com vista à prossecução dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa e ao aniquilamento
dos grupos inimigos da região Nafo-Unal.

De 16Mar70 a 30Mai70, a sua responsabilidade foi alargada ao sector de Bissorã e de 20Mai71 a 29Jun71, cedeu os sectores de Bula e Bissorã ao Comando de Agrupamento Temporário (CAT), entretanto criado nesse período, para actuar naquela zona.

Em 1Ag070, com a criação de um segundo CAOP, tomou a designação de CAOP Oeste e, em 22Ag070, de CAOP1.

Em 21Abr71, na sequência de tentativa para conversações de paz no "Chão Manjaco", foram assassinados na região Pelundo-Jolmete três majores   [, Passos 
Ramos, Magalhães Osório e Pereira da Silva] e outro
pessoal do CAOP1 (, o alf mil Mosca, mais dois intérpretes]

Em 28Jan71, assumiu o comando directo dos subsectores de Cacheu e Bachile, então retirados à responsabilidade do BCaç 2905.

Em 1Fev73, foi transferido para Mansoa

Assume a responsabilidade de comando operacional dos sectores de Bissorã (01), Mansoa (04), Bula (Ol-A) e Nhacra (COP 8), este só até 21Mar73, orientando o esforço de contenção da guerrilha para as regiões de Óio, Changalana e Sara, planeando e comandando várias operações, de que se destacam as operações "Empresa Titânica", "Gente Valorosa" e "Jogada", entre outras.

Colocado em Cufar em 2 de junho de 1973

Em 21Mai73, destacou vários elementos para organização do CAOP 3, até que, rendido em Mansoa pelo COT 9, foi colocado em Cufar em 2Jun73, assumindo a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S3), Cadique (S4) e Gadamael (COP 5) e orientando o seu esforço para a contenção da luta armada na zona Sul e para os trabalhos de construção e asfaltagem de itinerários naquela região.

Em 1Ju174, já na fase de retracção do dispositivo, foi extinto e recolheu a Bissau.

Observações: Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 591/592.
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(...) Comentário de Luís Graça: 

Tive esta tarde a agradável surpresa de um telefonema do Pardete Ferreira... que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, apesar de eu me movimentar na área da saúde há muitos anos.

Creio não estar a cometer nenhuma inconfidência, ao partilhar com os nossos leitores o que me ele transmitiu sobre o major Pereira da Silva... Como médico, ele terá sido uma das últimas pessoas que viu o major Pereira da Silva no caixão (possivelmente já em Bissau; não sei quando o Pardete deixou Teixeira Pinto e foi para o HM 241) [esteve apenas no 1º semestre, em Teixeira Pinto].

A corajosa viúva quis que os filhos vissem o pai pela última vez... É um gesto de rara nobreza e que honra esta mulher (que, como sabem, estava em Bissau quando o marido foi cruelmente assassinado, juntamente com o resto dos seus camaradas)... 

Dos três majores, era a única urna que não vinha selada... O rosto, embora inchado, estava intacto... Apraz-nos saber saber isto, apesar da tragédia que nos atingiu a todos nós, que estávamos na Guiné nessa altura (Abril de 1970), ignorando as manobras de bastidores no "chão manjaco"... (Sei que por esses dias, andávamos de armas caladas, por toda a Guiné, incluindo o meu sector, o L1, Zona Leste)...



(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8474: Tabanca Grande (292): José Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)

(**) Vd. poste de 30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

Guiné 61/74 - P21878: Os nossos médicos (91): recordando o sentido do humor do nosso saudoso J. Pardete Ferreira (1941-2021), ex-alf mil médico (CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1969/71)


Ministério do Exército > CTIG > HM 241 > Bissau, 24 de junho de 1962 >
BI Militar do alf mil médico José António Pardete da Costa Ferreira, assinado pelo então 
Director do HM 241, Major Médico Filino de Almeida (falecido em janeiro de 2011)



1. O nosso camarada, ex-alf mil médico J. Pardete Ferreira, que nos deixou em 13/1/2021, na véspera de completar os 80 anos (, nasceu em Lisboa a15 de fevereiro de 1941), era um homem que tinha e cultivava o sentido do humor... e que amava a vida e o convívio (*).

Entrou para a nossa Tabanca Grande em 27 de junho de 2011, já depois dos 70 e aposentado do SNS. O seu filho, Jean-Jacques Pardete,  teve acortesia e o cuidado de me participar a sua morte. Ao seu filho e à sua filha já apresentei as nossas condolências em nome da Tabanca Grande.

Infelizmente, não privei com ele, em vida,  falámos ao telefone uma vez ou outra  e trocámos mails, ao longo destes últimos anos. 

Aconselho, de resto, os nossos leitores a ler ou reler o  seu livro “ O Paparratos – Novas Crónicas da Guiné – 1969/1971" (romance). Lisboa: Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda, ISBN: 972-8816-27-8". Irei em breve fazer uma detalhada recensão bibliográfica desta obra. (Jà há uma, feita pelo Mário Beja Santos.)

O talentoso criador literário de Paparratos,  soldado 'comando', bem  do médico miliciano João Peckoff, era um arguto observador da "fauna humana" e tem deliciosos apontamentos sobre a vida estudantil em Lisboa, em 1962 e o "movimento católico juvenil" dos anos 60, bem como sobre a tropa e a guerra... Antes de ser mobilizado para o CTIG, foi médico na EPA, a Escola Prática de Artilharia, por onde também passou o nosso "alfero Cabral"...

Fui respecar dois pequenos apontamentos, honrando a sua memória como nosso camarada (***):


(i) Comentário do José Pardete Ferreira  ao poste P12222 (*)

A história [do Jorge Cabral] está gira. Fui Médico na EPA [, Escola Prática de Artilharia,m em Vendas Novas], de Fevereiro a Outubro de 1968. 

Onde nós íamos era à tasca / "restaurante" do Zé do Calção, junto à estrada, à direita de Sul para Norte, já a Chegar a Bombel(i).  Tinha umas febras de porco notáveis. A Casa das Bifanas já trabalhava mas era muito diferente. Os mais abonados iam ao Manel das Bombas (que se licenciou em Direito depois de "enviuvar") ou então a Montemor(i). 

Havia um Capitão, que regressara da Guiné, e que, depois do jantar, fazia o trajecto Montemor-Vendas Novas, pela faixa esquerda da estrada para... treinar os reflexos.

Já não me lembro bem mas tenho a impressão que era o Cap. Reis,  não tenho a certeza. Os anos passam... Abraço.



(ii) Mensagem que J. Pardete Ferreira me enviou no dia seguinte:


Date: quinta, 31/10/2013 à(s) 12:07
Subject: Vendas Novas

Caro Luís Graça,

Na minha última intervenção  sobre uma história hilariante de Vendas Novas (**), escrevi que havia um Capitão, que regressara da Guiné, que,   quando ia jantar a Montemor, voltava pela esquerda para treinar os reflexos.

E, embora não me soasse muito bem, chamei-lhe Cap Reis. Esta noite, às quatro da manhã, acordei: "Rei"! 

Com efeito, tratava-se  do Cap Rei, que regressava fora de mão com o seu Carocha e que só 
regressava à sua faixa quando via as luzes.

Abraço, Pardete
 
___________

Notas do editor:


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 : P21809: In Memoriam (385): José Pardete Ferreira (1941 - 2021), ex-alf mil médico, CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1971; cirurgião, médico especialista em medicina desportiva, foi diretor clínico do Hospital de São Bernardo, e presidentedo Rotary Club de Setúbal, poeta e escritor (Hélder Sousa / Luís Graça)


José Pardete Ferreira, médico, natural de Lisboa, 
residente em Setúbal (1941-2021)


Ministério do Exército > CTIG > HM 241 > Bissau, 24 de junho de 1962 >
 BI Militar do alf mil médico José António Pardete da Costa Ferreira



1. Mensagem do Hélder Sousa, nosso colaborador permanente, residente em Setúbal:
 
Date: terça, 26/01/2021 à(s) 01:11
Subject: Falecimento do nosso "camarada da Guiné" Dr. José Pardete Ferreira 

Caros amigos

Como seria de prever, as notícias de falecimentos de camaradas do "nosso tempo" tendem a aumentar e a aumentar rapidamente. Seja pelo avançar inexorável da idade, seja pelas maleitas que nos vão apoquentando, seja por alguma doença "tradicional", seja até por consequência da "doença da moda", a Covid-19,

De facto o nosso "camarada da Guiné", médico, José A. Pardete Ferreira, faleceu, embora não se encontrem muitas notícias sobre isso, nem de que ocorreu o infausto acontecimento.

Procurei junto do nosso tabanqueiro Vitor Raposeiro [ex-Fur Mil, Radiotelegrafista, STM, Aldeia Formosa, Bambadinca e Bula, 1970/72] que ainda tem parentesco com ele e, ironia do destino, fui eu que acabei por lhe dar conhecimento. Nem ele nem a prima ainda sabiam.

Portanto, à falta de mais e melhor informação, adianto que a morte terá ocorrido no passado dia 13 já que encontrei num post do TAS (Teatro Animação de Setúbal) datado de 14 às 07:57 a dar conta do seu falecimento e a lembrar a colaboração que ele tivera com o TAS, nomeadamente com a tradução duma peça levada à cena em 2008.

O jornal regional "Semais" recebeu uma "Nota de pesar" por parte da Liga dos Amigos do Hospital de São Bernardo (Hospital de Setúbal) que a seguir reproduzo.

Nota de Pesar - Dr. Pardete Ferreira,

Partiu um amigo e companheiro - conhecido Médico Cirurgião que conta no seu percurso clínico também o exercício da medicina desportiva. Foi Diretor Clínico do Hospital de São Bernardo - no mandato do Dr. David Martins como Diretor do Hospital.

Com ele, fiz parte da Direção da Casa do Pessoal do HSB. Mais tarde, veio também a integrar os Órgãos Sociais da LIGA - como Presidente do Conselho Fiscal da Liga de Amigos do Hospital São Bernardo/LAHSB-CHS.

Teve relevante intervenção cívica, associativa, filantrópica, cultural e desportiva. Foi Escritor, Membro Rotary e jogador de andebol no Sporting Clube de Portugal.

Os Órgãos Sociais da LAHSB-CHS, associam-se ao pesar sentido pelos seus associados que partilharam e vivenciaram com o Dr. Pardete Ferreira momentos muito felizes e profícuos.

Há a indicação de que a Câmara Municipal de Setúbal em sessão pública ocorrida, salvo erro, no passado dia 21 relembrou e aprovou votos de pesar a três personalidades de Setúbal recentemente falecidas, o Capitão Quaresma Rosa, antigo Comandante dos Sapadores Bombeiros, a 16, e os médicos Machado Luciano, vítima de doença súbita a 11 e Pardete Ferreira a 13, destacando as suas atuações no desempenho de funções no Hospital de São Bernardo.

Por sua vez também obtive do Rotary Club de Setúbal [, cuja página no Facebook está está parada desfe 6/12/2020], a nota que republico:


Participação de Falecimento: O RCS está de luto


"É com profundo pesar que comunicamos o falecimento do nosso sócio representativo José António Pardete Ferreira.

O companheiro Pardete Ferreira entrou para o Rotary Club de Setúbal em 1984 com a classificação "Medicina-Cirurgia", tendo sido 3 vezes seu Presidente (1990-91; 2002-03 e 2009-10) e passado por todas as suas comissões, sendo considerado a referência de "sapiência" rotária do nosso clube.

Adepto do Rotary no seu aspecto mais "puro", defendia intransigentemente o protocolo e a praxis rotária original.

Profissional de excelência, era dono de um intelecto brilhante e professava a sua profunda fé e conhecimento eclesiástico em várias colaborações com a Igreja Católica, escrevendo regularmente para algumas das suas publicações. 

Exerceu várias missões ao serviço de Rotary a nível Distrital, sendo de destacar ter sido Team Leader do IGE em Distrito do Rio Grande do Sul, Brasil.

Era um companheiro muito querido e estimado do nosso clube e a sua perda é impossível de reparar!

O Rotary em particular e Setúbal em geral, ficam mais pobres.Que descanse em Paz!

Cordiais saudações rotárias"

O Presidente Rotary Club de Setúbal

Alberto Vale Rêgo


Caros camaradas, cuidemo-nos! A "ceifa" anda por aí.

Hélder Sousa


2. Comentário do nosso editor Luís Graça:


Hélder, obrigado por nos teres dado, em conversa telefónica,  a infausta notícia. Alguém, desgraçadamente, nos tempos que correm, tem de fazer este indesejável papel de "mensageiro da morte".

Já tinha, entretanto, confirmado, o desaparecimento do teu vizinho de Setúbal e membro da nossa Tabanca Grande, o dr. José Pardete Ferreira, O último poste, dele, na sua página do Facebook é de 12 de janeiro...

Deve ter sido morte súblita. Nasceu em 1941. Ia complementar em 15 de fevereiro próximo os 80 anos. Infelizmente não temos qualquer contacto com a família. Diz-nos que era casado com uma senhora francesa, e primo da mulher da do Vitor Raposeiro, nosso camarada e meu contemporâneo de Bambadinca.

O J. Pardete Ferreira foi alf mil médico [CAOP, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1969/71]. Tem 32 referências no blogue;

Deu-nos preciosas informações sobre os colegas médicos que com ele trabalharam, sobretudo no HM 241, e de outros que conheceu, bem como sobre a organização e o funcionamento dos serviços de saúde militares, no CTIG.

Entrou para a Tabanca Grande em 27/6/2011.  Um resumo do seu "curriculum vitae" está disponível aqui;

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/06/guine-6374-p8474-tabanca-grande-292.html

Nascido em Lisboa a 15 de fevereiro de  1941, foi  cirurgião – médico, especialista em medicina desportiva. Entre outras funções,  desempenhou os cargos de:

  • Director Clínico do Hospital de São Bernardo (Setúbal);
  • Director do Centro de Medicina Desportiva de Setúbal;
  • Director do Serviço de Cirurgia II do Hospital de são Bernardo (Setúbal);
  • Médico da Selecção Nacional de Andebol;
  • Presidente do Rotary Club de Setúbal.

Poeta e escritor, publicou, nomeadamente, “ O Paparratos – Novas Crónicas da Guiné – 1969/1971" (romance); Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda – ISBN: 972-8816-27-8 (DL nº 213619/04). Ver aqui nota de leitura do Beja Santos.

(...) Paparratos é a candura, a simplicidade e a força da natureza daqueles soldados portugueses que se adaptavam como podiam ao meio estranho (...)

 O Paparratos é uma divertimento sério, supera as situações caricatas e cómicas, na senda da literatura de humor, que se perde na noite dos tempos, comprova que muitas vezes o que se diz a rir é para reter em todo o horizonte da amargura, a sisudez pode ser troça e não é difícil provar que há muito Paparratos que servem de carne para canhão.

É o prazer da memória e, insiste-se, não se conhece um fresco tão vigoroso sobre o meio estudantil universitário daqueles longínquos anos 60. (...)

 

Mandou-nos também em tempo uma letra de fado, da sua autoria, o Fado da 'Orion', e que voltamos a reproduzir em sua homenagem e aos nossos camaradas da Marinha, e em especial à malta da LFG Orion:

 
Fado da 'Orion'

Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão 

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...


(Nota do autor: 1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).


Infelizmente, não tivemos, em vida, ocasião para  nos conhecermos pessoalmente. Trocámos diversas mensagens por email. E a sua colaboração no nosso blogue foi extremamente valiosa. Era um homem crente. Continuará, connosco, em espírito, sob o nosso sagrado e fraterno poilão, no lugar que lhe coube, o nº 505. 

À família enlutada (e muito em particular ao seu filho Jean-Jacques Pardete, que tem página no Facebook), a Tabanca Grande envia a sua solidariedade na dor.(**)


 ____________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 30 de outubro de  2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(...) Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante [Alberto Augusto]  Faria dos Santos [, entretanto falecido em 1986; como 1º ten, comandou o NRP Orion, 1968/70]. 

A LFG {Orion]G passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida, foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde,  22 de novembro de 1970], sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados. (...)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Guiné 63/745 - P13019: Os nossos médicos (77): Capitão médico QP António Vieira Alves, estomatologista e subdiretor do HM 241, Bissau, 1967/69 (Paulo Alves / J. Pardete Ferreira)



Guiné > Bissau > s/d > O antigo Pavilhão de Tisiologia, desenhado pelos arquitectos Lucínio Cruz e Mário Oliveira, do Gabinete de Urbanização do Ultramar, Projeto de 1951/53. Passará a Hospital Militar, o HM 241, com o início da guerra, em 1963.

Foto: © Mário Beja Santos (2013). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor Paulo Alves: 

Data: 9 de Abril de 2014 às 09:13

Assunto: Capitão médico miliciano António vieira alves

Bom dia, sou o filho do Dr Antnio [Alves Vieira] e gostava de saber se teriam fotografias do hospital de Bissau desta altura (1967/69) [, o HM 241]. Houve uma cirurgia na altura em que foi removida a granada de morteiro do corpo de uma mulher. granada essa que foi destruída depois no campo de futebol (?). Veio no Diario de Noticias e na Revista do Exercito. 

O meu pai era estomatologista e, acho, subdirector do Hospital.

Podem ajudar-me?

Paulo Alves

2. Mensagem do J. Pardete Ferreira [ex-Alf Mil Médico, Teixeira Pinto e Bissau, HM 241, 1969/71], com data de ontem, em resposta a um pedido dos editores para comentar:

Já mandei notícias ao filho, mas vou repetir, ou melhor "tripetir", pois, um erro de manipulação apagou o meu escrito anterior. 

Embora o Alves Vieira fosse mais velho do que eu, conheci-o ainda no Hospital de Santa Maria. Na Guiné, ele era Capitão Médico do QP, Estomatologista. e, durante uns tempos, Sub-Director do HM 241. 

Fazia um duo com o Malícia, antigo futebolista da Académica, e partilhavam um pequeno Toyota Coupé Sport, vermelho e preto, que acabpu por trazer para a metrópole, tendo-me várias vezes cruzado com ele na Autoestrada do Sul, pois ele ia fazer umas consultas ao Barreiro. 

Andava quase sempre de calções e, embora "um gajo porreiro", não se ensaiava nada de resolver as coisas "à bruta", quando lhe faltavam ao respeito. Fomos amigos e cheguei a almoçar várias vezes com ele no Restaurante "O Chagão", na Rua Pinheiro Chagas, que era quase o seu "QG", pois tinha o comsultório ali perto. 

Consegui que ele viesse uma ou duas vezes aos almoços do 1º domingo de Junho dos "Canetas e Seringas" do HM 241 (que este ano terá lugar em Cascais). 

Tenho uma fotografia de grupo onde ele está presente mas tenho as minhas fotos em parte incerta, pois, ao fazer arrumações, não descubro onde as meti... Hão-de aparecer...

Alfa Bravo.
José Pardete Ferreira
_____________

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)


1. Com data de 15 de junho último, aqui vai uma mensagem do J. Pardete Ferreira, em complemento de uma outra já  aqui publicada,  na véspera (*):

Obrigado,  caro Luís Graça,

Provavelmente o erro foi meu mas a instrução no HMP era de 6 semanas e não de 6 meses [, como por lapso informei,], englobando ainda algumas idas ao HMDIC (Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas), perto da Ajuda.

Ao que eu informei,  devo acrescentar sobre os "reinspeccionados", médicos que estavam isentos de Serviço Militar ou que já tinham uma certa idade: a sua  recruta era mais "soft" e era feita na EPC [, Escola Prática de Cavalaria,] em Santarém;  iam preferencialmente para os Hospitais, havendo, igualmente, quem integrasse os Batalhões.
Respondo agora ao teu questionário:

1 - Já me pronunciei e hoje mandei um Post-Scriptum.

2 - a) No meu Batalhão, três médicos. No barco (2 Batalhões) 6 médicos + dois de rendição individual, para o HM 241.

b) Eu saí logo do meu Batalhão e segui para o CAOP1, outro foi para Aldeia Formosa e mais tarde para o HM 241 e foi substituído por outro colega.

c) No meu Batalhão, Madureira, Morais Sarmento e Pardete Ferreira. O substituto foi o Bigote e eu fui substituir o Bessa, juntando-me ao Fernando Maymone Martins. Quem me substitui no CAOP1 foi o Gouveia.

d) Eu precisei de Consultas de ORL, por causa do meu Clesteatoma, de Medicina Interna e de Fisioterapia, porque me "lembrei" de fazer uma neuropraxia do radial direito. Estando em Bissau e não podendo operar, andei a prestar assistência às Unidades do exército sediadas em Bissau.

e) Nunca estive internado, mas na sede do CAOP1  havia enfermaria.

f) Respondida em e).

g) Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, um Militar e uma civil atropelada por um Jeep Militar e um avião Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, vindo de Moçambique, que já tinha tido duas ou três avarias. As camas e os lugares eram de lona, e eram quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de "fósforo". Duas Enfermeiras Pára-quedistas vieram também: a Maria Arminda, que já vinha de Moçambique, e a Aura Teles que entrou em Bissau.

Acrescento que em Cacheu, detectei uma cardiopatia num Cabo Maqueiro que evacuei para Bissau e depois foi evacuado pela Metrópole e que a Junta considerou inapto para o Serviço Militar... e os colegas dele diziam que não podia estar doente porque era o mais "operacional" de todos...

f) Em Teixeira Pinto havia um Hospital Civil e uma Maternidade à nossa guarda. No Cacheu os civis eram vistos pelo  médico militar mas num Posto separado. Em Csió, no Bachile e em Jeta e em plena picada na desmatação, era tudo junto. Era o médico militar quem tratava de praticamente toda a População Civil.

Sempre pronto a recordar embora já com 42 a 44 anos passados sobre os acontecimentos.... envio-te um grande abraço, extensivo a todos os Combatentes e, particularmente aos Tabanqueiros (*).

Pardete Ferreira

PS - A 1 de Julho, tivemos, aqui em Setúbal o 16º emncontro da Malta do HM 241 (63 presentes, alguns acompanhados de familiares. A 30 de Julho estarei nas Comemorações do 26º Aniversário da Associação de Pára-quedistas de Setúbal, que vai ser Condecorada pela Câmara Municipal. E já que estamos a falar em Condecorações, a semana passada a minha mulher foi Condecorada pelo Governo Francês com o grau de "Chevalier de l'Ordre des Palmes Académiques".

2. Outra mensagem do J. OPardete Ferreira, com data de 18 de junho último:

É natural que no início da Guerra houvesse um Médico por Companhia mas os recursos em médicos foram-se esgotando. Assim, no meu tempo, iam três por Batalhão e já se recorria aos "reinspeccionados". 

Os médicos chegaram a ser mobilizados com 53 anos de idade, como o Falecido Dr. Rui de Brito, Cardiologista no Porto e o Dr. Botelho e Melo, Oftalmologista em Ponta Delgada. 

É verdade, igualmente, que, não existindo especialistas em número suficiente, fossem chamados para o desempenho destas, médicos com grau mais avançado na carreira médica ou até por conhecimento ou prémio no final da comissão. Naturalmente estes factos implicavam rotação e distribuição pois havia a pretensão de não existirem zonas muito desprotegidas. O Antero da Palma Nunes, Oftalmologista em Faro, por exemplo, foi Médico de Batalhão, foi Médico da equipa itinerante de Estomatologia e Oftalmologista do HM 241.

Alfa Bravo
José Pardete Ferreira
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)


(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11731: Os nossos médicos (51): O BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) teve pelo menos 4 médicos e prestava assistência à população civil (Benjamim Durães)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) >  Mercado local de Bambadinca... Ao fundo vê-se o fontanário construído em 1948 (salvo erro). Foto tirada, de costas para o quartel que ficava numa elevação que dominava a grande bolanha (a sul) e o rio Geba Estreito (a norte). Segundo estimativas do comando do BART 2917, no setor viviam c. de 20 mil pessoas,  estando 75% sob o controlo das NT. O batalhão fazia também a cobertura sanitária da população civil do setor. Todos os dias havia dezenas e dezenas de crianças, adultos e velhos à porta do posto sanitário, atendidos pelos fur mil enfermeiros João Martins (CCAÇ 12, 1969/71) e José Coelho (CSS/BART 2917, 1970/72) e pelo alf mil médico Mário Ferreira (CSS/BART 2917, maio de 1970/janeiro de 1971) . Em Bambadinca, posto administrativo do concelho de Bafatá,  havia fulas, mandingas e batalantas, entre outros. Parte da população tinha sido deslocada com a guerra.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.


1. Mais um contributo para o dossiê sobre "os nossos médicos"... Vem de um bambadinquense, grã-tabanqueiro, o ex fur mil op esp. Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Benjamim Durães (que vive em Palmela, e é um dos habituais organizadores dos convívios da CCS/BART 2917]:



(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco?

Seguiram no navio “Carvalho de Araújo” três médicos.

Alferes Milicianos Médicos:

Dr. Artur Manuel Ferreira Vilela Dionísio:

Foi colocado na CCAÇ 6 em Bedanda. Em 17 de Agosto de 1970,  foi colocado no HM 241, não tendo regressado ao BART 2917.

Dr. Mário Gonçalves Ferreira:

Foi colocado na Sede do Batalhão [, em Bambadinca]; e, por fim,

Dr. Jorge Pedro Ferreira Nunes Matos:

Foi colocado na CCAV 2539,  em São Domingos.


(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo?


O BART 2917 teve quatro médicos:

Dr. Mário Gonçalves Ferreira: na sede do Batalhão em Bambadinca, de 27 de Maio de 1970 a 25 de Janeiro de 1971,  data em que foi transferido para o HM 241,  em Bissau;

Dr. António Rodrigues Marques Vilar:  na sede do Batalhão em Bambadinca, ds 9 de Março de 1971,  vindo da CCAV 2721,  sedeada em Olossato, a Janeiro de 1971,  data em foi transferido para a CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883,  em Piche;

[Foto à esquerda,  em Coruche, 27 de março de 2010, no IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); a seu lado, a esposa; o casal vive em Aveiro; o Dr. Vilar é um psiquiatra reformado, que já voltou à Guiné pelo menos duas vezes, em 2010, e em 2001. Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados]


Dr. Jorge Pedro Ferreira Nunes Matos:  de 22 de Outubro de 1970, data em que veio transferido da CCAV 2539,  em São Domingos,  para a CART 2716 / BART 2917,  no Xitole;

Dr. João Horta Vale, na CART 2716 / BART 2917,  no Xitole, em substituição do Dr. Nunes de Matos.

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns? Idades? Especialidades?

Dr. Vilela Dionísio, nascido em 1944, ortopedista com consultório em Lisboa;

Dr. Mário [Gonçalves] Ferreira, nascido em 1937, cardiologista com consultório em Lisboa; [é também escritor, com pelo menos dois títulos em 2009 e um terceiro no prelo:  Tempestade em Bissau no ano 1970 (Pallium Editora) e Dona Ermelinda zangou-se com o mar (Europress)];
Dr. António Marques Vilar, nascido em 1942, psiquiatra com consultório em Aveiro;

Dr. Jorge Nunes Matos, nascido em 1939, imagiologia e radiologia com consultório no Porto; e,

Dr. João Horta Vale, estomatologista com consultório em Matosinhos.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermaria do aquartelamento (se é que existia)?

Sim, estive internado na enfermaria do aquartelamento [, em Bambadinca,] , e depois fui transferido para a camarata dos Sargentos até 18 de Agosto de 1970,  data em que fui evacuado para o HM 241

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?


Fui internado no HM 241 por diversas vezes.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP?

Fui evacuado para o HMP em 2 de Setembro de 1971.

(viii) Tiveram algum problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

Sim, após troca de algumas palavras e passado algum tempo, foi pedida pelo Comando do Batalhão a minha evacuação para Bissau, e no HM 241 estava de serviço o Dr. Pardete da Costa Ferreira, que  me deu baixa hospitalar.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local?
Sim, atendia a população local e o Furriel Mil Enfermeiro José Coelho e algumas praças visitavam por vezes as tabancas que se encontravam sobre o controlo do BART 2917.

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa?


Provavelmente mais que a maioria dos Centros de Saúde actualmente em Portugal e não era cobrada qualquer taxa moderadora

Benjamim Durães
Furriel Miliciano
CCS/BART 2917 
(1970/72)

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Benjamim, pela informação detalhada que nos mandas...  O Mário Ferreira é do meu/nosso tempo, lembro-me bem dele (maio de 1970 / janeiro de 1971). Fui pelo menos a uma consulta dele, em 27 de novembro de 1970 (, se não me engano). Tenho uma dívida para com ele. Já aqui disse, algures, que gostava de o reencontrar. Sei que tem (ou teve) consultório para os lados da Estrela, em Lisboa. Um Alfa Bravo para ele (se nos estiver a ele, bem como para o Marques Vilar, que conheci em Coruche). Outro para ti, grande conpanheiro de Bambadinca.
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11724: Os nossos médicos (50): Os batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos, de 1 a 4... Quanto ao HM 241, era só... o melhor da África Ocidental (Carlos Silva, 1969/71)