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sábado, 27 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22044: Memória dos lugares (420): Ainda a bonita e hospitaleira vila de Sonaco do meu tempo (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, Contuboel e Sonaco, 1972/74)

1. Mensagem do Manuel Oliveira Pereira [ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), é membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora; é hoje jurista  e vive em Ponte de Lima]

Data - 26 mar 2021 17h03
Assunto - Legendas das fotos relativas a Sonaco


Caro Luís,

As minhas saudações.

Em resposta ao tey pedido de identificação das fotos, relativamente ao poste P22003 (*), já o fiz, mas talvez, erradamente. Fi-lo na página do "facebook"  da Tabanca Grande Luís Graça , isto porque não vi a minha resposta. 

Nesse sentido, aqui segue em anexo um texto com o solicitado.
Com abraço,

Manuel Oliveira Pereira
 

2. Memória dos lugares > Ainda Sonaco

Para melhor identificação das fotografias, supra publicadas, e porque sou o autor (*), à excepção dos mapas (Google): todas se reportam à bonita e hospitaleira (pelo menos à época) vila de Sonaco, localidade com Destacamento, cuja guarnição era constituída por um Grupo de combate,e um outro de Milícia, pertencente à quadricula (jurisdição) da Companhia sediada em Contuboel.

Assim temos:


Foto n.º 1 > Da esquerda para direita, em "T" invertido, vê-se a estrada que vinha de Jabicunda (leste) para Contuboel (oeste), e na esquina desta o Mercado. Também à esquerda, com telhado claro, o antigo Aquartelamento, agora Mesquita (, assinalada com rectângulo a vermelho).

Já na Rua Principal, a meio, e assinalado com seta a vermelho o estabelecimento do Sr. Orlando, e quase no fim, um Largo, ladeado pela Igreja (telhado claro e traseiras com arvoredo) e do lado contrário a Casa do Chefe de Posto Administrativo (a sede de circunscrição ou concelho era Bafatá, já elevada então a cidade).

O Sr. Orlando era um comerciante com estabelecimento de café e mercearia e ainda com outros negócios, nomeadamente o  gado bovino. A sua loja, situava-se, pois, a meio da "avenida", no sentido do antigo Aquartelamento  (hoje Mesquita) para casa do Chefe de posto.


Foto n.º 2 >  Estrada Jabicunda/Contuboel, e na esquina desta o Mercado, com arvoredo na frente, e ao lado direito o Aquartelamento (hoje Mesquita,  assinalada com rectângulo vermelho)


Foto n.º 3 >  De forma mais visível, a estrada de Jabicunda/Contuboel. Na parte inferior o Aquartelamento (, hoje Mesquita, assinalada com rectângulo vermelho). À direita fazendo esquina o Mercado. 

Na parte superior.  e onde Rua Principal, após passar o Largo à esquerda e a sombra de uma "árvore" parece cortar a estrada, vemos em forma de "Y", à direita, situava-se a Pista de Aviação (aeródromo) e o Equipamento de Meteorologia  (vd. sinal de localização, a vermelho)


Foto n.º 4 >  O mesmo que a anterior, mas ampliada e com sinal de localização a vermelho na Pista de Aviação.

Infografias (fotos de 1 a 4): Manuel Oliveira Pereira (2021) (com a devida vénia ao Google Earth]


Foto n.º 5 > Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco >   Natal de 1973 > O Comandante  da companhia (Cap mil inf Carlos Rabaçal Martins) no café do Sr. Orlando;


Foto n.º 6 > Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco > Natal de 1973 > Eu e a “minha guarnição” no interior do Aquartelamento.


Foto n.º 7 >  
Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco > Natal de 1973 > O meu Grupo (parte) à entrada do Aquartelamento.

Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Nota: As fotografias n.ºs 5, 6 e 7 foram tiradas na Noite de Natal  de 1973. Por ser um dia especial, fazíamos 18 meses de comissão, autorizei, que para a “Ceia”, todos, à excepção da Milícia, se vestissem à civil. 

Estivemos assim, cerca de hora e meia. Obviamente que tive a anuência do Capitão, que optou por fazer o mesmo, já que nos fez companhia nessa noite. 

Durante alguns dias que antecederam a “Ceia”, ninguém dormiu com lençóis. Assim, permitiu que os mesmos fossem várias vezes lavados, desinfetados e viessem, como vieram, a ser usados como “toalhas” na mesa natalícia. Para dar maior ar festivo, a “Porta de Armas” e o interior do Aquartelamento, foram ornamentados com ramos de “cibos”. (**)

2. Nota do editor LG:

A CCaç 3547 partiu para o TO da Guiné em 25 de março de 1972 e regressou a 25 de junho de 1974. Pertenceu ao BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74).As outras unidades de quadrícula eram a CCAÇ 3548 (Geba) e CCAÇ 3549 (Fajonquito).

Após treino operacional e sobreposição com a CArt 2741, assumiu, em 28Mai72, a responsabilidade do subsector de Contuboel, tendo tido um pelotão destacado em Bafatá e em Sonaco. Manteve também dois pelotões em reforço do BCaç 4518/73, em Galomaro, de 10Abr74 a 10Jun74.

Em 15Jun74, foi rendida pela 1ª Comp/BCaç 4514/72 e recolheu a Bissau, e, fim de comissão.
___________

(**) Último poste da série > 25 de março de  2021 > Guiné 61/74 - P22034: Memória dos lugares (419): Ilha do Sal, ao tempo da CART 566 (17/10/1963 - 25/7/1964) (José Augusto Ribeiro, 1939-2020)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)


Foto 1 > Ponta Coli (1972) > situada na estrada Xime-Bambadinca > local de muitas memórias do colectivo da CART 3494, tais como: (i) Local do "baptismo de fogo" dos elementos do 4.º Gr Comb, em 22 de Abril de 1972, em acção dirigida pelo Cmdt Mário Mendes (1943-1972); (ii) local da primeira baixa (a única em combate), em 22 de Abril de 1972, a do fur mil art Manuel da Rocha Bento (1950-1972): (iii) Local da segunda emboscada sofrida por elementos do 4.º Gr Comb, em 01 de Dezembro de 1972, devido a acção dirigida pelos Cmdts Mamadu Turé e Pana Djata. (iv) Local da recolha de cadáveres de dois guerrilheiros participantes na emboscada acima, incluídos no grupo de assaltantes (ou de assalto), e das suas respectiva armas: uma Kalashnikov (AK47) e um RPG. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bambadinca.

 

O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem cerca de 270 referências no nosso blogue.

BOAS FESTAS

em tempo de pandemia "COVID-19"

RECORDAR É… TORNAR PRESENTE!

OS TRÊS NATAIS DA MISSÃO ULTRAMARINA NO CTIG


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3878 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira.


 

Foto 2 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


1.º NATAL (1971) a BORDO DO «NIASSA»

Ao terceiro dia de uma viagem de seis, mas que era só de ida pois o regresso não tinha data marcada, teve lugar a consoada de 1971, realizada em pleno Alto Mar, talvez na linha imaginária de Santa Cruz de Tenerife, no Oceano Atlântico Norte.

 



Foto 3 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 2. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

2.º NATAL (1972) NO XIME

Decorrido um ano da sua missão ultramarina no CTIG que, pode aceitar-se, coincidiu com a comemoração da primeira festa natalícia fora do contexto familiar do colectivo da CART 3494, esta a bordo do «Niassa», este voltou a sentir o ambiente simbólico dessa secular celebração religiosa anual, nomeadamente os membros da família cristã.


Esta segunda reunião natalícia, que por tradição cultural sempre foi considerada de relevante significado espiritual, incluindo o meio militar, foi organizada no Aquartelamento do Xime, espaço físico onde ficou instalada durante catorze meses a partir do qual operacionalizava as diversas acções diárias que lhe haviam sido confiadas.


Esta cerimónia, ainda que não tenha sido possível reunir todo o contingente da Unidade, pois 2.º Gr Comb estava destacado no Enxalé, sempre ajudou a elevar um pouco mais o ânimo individual, reforçando a solidariedade e o companheirismo entre os seus pares, valores importantes num contexto geográfico considerado de excepcional importância estratégia para a mobilidade da logística militar, e de civis, entre Bissau e a restante Região Leste, o primeiro por via marítima (rio Geba) e depois por meio rodoviário (e vice-versa) e, por isso mesmo, de grande exigência e rigor, logo de elevada inquietação e labor nos múltiplos desempenhos.

 


Foto 4 > Xime > Natal/1972. Alguns dos militares participantes no almoço/convívio, distribuídos por mesas colocadas na Messe de Oficiais.

 


Foto 5 > Xime > Natal/1972. Em primeiro plano; de pé, António Costa [1.º C]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [Furriéis].

 


Foto 6 > Xime > Natal/1972. Da esquerda para a direita: 1.º Sarg Orlando Bagorro [, morreu em 2018]; 1.º Sarg Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [morreu em 2014; metade do rosto]; Alferes José Araújo [-2012]; Alferes Maurício Viegas [20.º Pel Art]; D. Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins; esposa do Cmdt BART [1923-2011]; TCor António Tiago Martins [1919-1992; Cmdt BART 3873]; Cap Mil Luciano Costa [3.º Cmdt da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].


3.º NATAL (1973) EM MANSAMBO


Já com vinte e quatro meses de comissão, mas agora em Mansambo, para onde seguimos em Março do mesmo ano, por troca com a CART 3493, realizou-se a 3.ª reunião natalícia, num tempo que ainda não era possível prever ou "adivinhar" o regresso ao Continente (à Metrópole), o qual só se veio a concretizar nos primeiros dias do mês de Abril de 1974, ou seja, a três semanas do «25 de Abril».

 


Foto 7 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º C]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º Cmdt da 3494]; Lobo da Costa [Alferes]; João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel].

 


Foto 8 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Carola Figueira [1950-2017; Furriel]; António Costa, de pé [1.º C]; Orlando Bagorro [-2018; 1.º Sarg]; Serradas Pereira [Alferes]; Luciano Costa [Cap Mil 3.º Cmdt da 3494]; Jorge Araújo, de pé [Furriel]; Lobo da Costa [Alferes] e João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873].

 


Foto 9 > Mansambo > Natal/1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.

Termino esta pequena resenha histórica natalícia enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» nos imponha algumas restrições. Nós, os ex-combatentes, sabemos bem, por experiência própria, o que significa o conceito de "confinamento".

BOM NATAL E UM MELHOR 2021

Muitas Felicidades.

 

Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

20DEZ2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21675: O meu Natal no mato (46): Depois do ataque a Missirá, na noite de 22 de dezembro de 1966, pouco havia para consoar... O meu caçador nativo Ananias Pereira Fernandes foi à caça, e fez um arroz com óleo de chabéu que estava divinal... O pior foi quando, no fim, mostrou a cabeça do macaco-cão... (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé, Missirá e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 2 A - O furriel mil Viegas, do Pel Caç Nat 54


Foto nº 1A - O alferes mil Freitas, da CCAÇ 1439, natural do Funchal


Foto nº 1 > Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da CCAÇ 1439


Foto nº 3 > Sítio do Unimog


Foto nº 4 > Depósito de géneros


Foto nº 1 > A nossa segunda residência


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966


Fotos (e legendas): © José António Viegas (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada José António Viegas [ fur mil do Pel Caç Nat 54, passou por vários "resorts" turisticos em 1966/68 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e, o mais exótico de todos, a Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem mais de 40 referências no nosso blogue]:


Data - segunda, 21/12, 23:58

Assunto . Missirá, 22 de Dezembro de 1966



22 de Dezembro 1966. 22h30 da noite estavam os 3 Furriéis conversando á espera do sono, eis que atravessa a palhota uma saraivada de balas incendiárias, tracejantes,  explosivas, um pouco acima dos mosquiteiros.

Fui pegar na G3,  meio vestido, a caminho do abrigo.  A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício. 

Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .
,
O ataque já ia avançado e as nossas munições escasseando, o único Unimog que tínhamos estava debaixo de um embondeiro [, "cabaceira", em crioulo] e caia morteiradas junto, com as palhotas na maioria a arder.

Parecia Roma vista de Babandica , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre,  a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou.  Este soldado condutor foi condecorado com medalha de guerra de 4ª classe. 

Tendo ido montar emboscada em Mato Cão,  já calculando que a CCAÇ 1439, sediada em Enxalé,  viria em nosso socorro,  o que aconteceu,  e como tal caíram debaixo de fogo, não havendo feridos do nosso lado. Houve um tiro caricato no Furriel Monteirinho,  do Pel Caç Nat 52,  do Alf Matos [, o açoriano Henrique José de Matos Francisco] , que lhe passou no meio das nádegas deixando somente queimaduras. 

Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.

Aproximava-se a véspera de Natal, e para o  rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou,  arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu,  a cabeça do macaco cão,  houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.

E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54.

Foto 1 - Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da 1439
Foto 2 - A nossa segunda residência
Foto 3 - Sítio do Unimog
Foto 4 - Depósito de géneros

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18137: O meu Natal no mato (45): Um Natal antecipado: 23 de dezembro de 1967 em Gadamael Porto (Mário Gaspar), ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21672: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (19): lembrando o meu primeiro Natal no mato, em 1969, emboscado, no corredor de Sitató, na fronteira com o Senegal... (Eduardo Estrela, ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)



Eduardo Estrela: vive em Cacela Velha, (en)cantatada por Sophia, 
e que pertence a Vila Real de Santo António

1. Mensagem de Eduardo Estrela [ ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

[O nosso editor LG pertenceu, juntamente com ele, ao 3º turno do CSM,  em Tavira, ele era da 3ª companhia, e eu da 4ª Companhia; partimos no mesmo dia, 24/5/1969, para o CTIG, no T/T Niassa, ele integrando a CCAÇ 2592, eu a CCAÇ 2590, futuras CCAÇ 14, de tropas mandingas, e eu a CCAÇ 12, de tropas fulas, respetivamente; ele seguiu para o CIM de Bolama, eu para o CIM de Contuboel: disse uma coisa interessante: a CCAÇ 14 não era etnicamente homogénea: tinha dois pelotões de mandingas, um de manjacos e outro de felupes, acabando depois por fazer trocas com as companhias africanas: os manjacos devem ter ido, por exemplo, para a CCAÇ 16: a lógica era pôr as tropas locais a defender o seu "chão"... Estivemos um bom bocado ao telefone a recordar estas peripécias da vida; tem 3 filhas, vai passar o Natal sozinho com a esposa, porque a saúde é quem mais ordena...]

Data: quinta, 17/12/2020 à(s) 22:45

Assunto: Boas Festas

Boa noite, Luís!

Do Sul, mando um fraterno abraço a todos os tabanqueiros, desejando um bom Natal e melhor Ano Novo, na companhia das famílias e amigos. Cuidemo-nos, façamos dos "abrigos " das máscaras, da higienização das mãos e da distância física, a nossa e dos outros defesa. O vírus anda á solta e compete-nos como operacionais que fomos e somos, emboscá-lo e destruí-lo.

Natal de 1969. Manhã de 24 de Dezembro. Três grupos de combate, dois da CCAÇ 2549 e um da CCAÇ 14, saem para o mato para interditaram os carreiros de infiltração do corredor de Sitató. O grupo da 14 é o meu. Habitualmente saem dois grupos de combate por períodos de 48 horas, permanentemente, mas porque é Natal e há informação de movimentos do PAIGC na zona, saímos mais reforçados.

Executamos os procedimentos habituais montando emboscadas nos terceiro e segundo carreiros de infiltração utilizados pelas forças dos guerrilheiros, não há contacto, passa-se o dia e a noite de 24 e no dia 25 por volta das 9,30 da noite, quando estávamos instalados para descansar um bocado, rebenta um brutal bombardeamento ao aquartelamento de Cuntima.

O PAIGC tinha instalado as armas pesadas no Senegal, junto á linha de fronteira e cá vai disto. A noite estava escura e a luminosidade dos rebentamentos era impressionante. Felizmente foi mais o barulho e a imagem das granadas a estoirar do que os danos físicos e materiais provocados.

Esse foi o meu/nosso primeiro Natal passado na Guiné. O confinamento vai obrigar-nos a ter cuidados redobrados e a não termos toda a família connosco, mas hão-de vir melhores dias e vamos poder usufruir outra vez em pleno, das coisas boas da vida que nos rodeia. 

Guiné 61/74 - P21671: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (18): recordando o meu Natal no mato, em Piche, 1970 (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72) > Jantar de Natal de 1970 > Em primeiro plano, uma travessa de leitão... A cerveja era Cristal... Dos comensais, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa) , eu e, à minha esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749)-



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72)  >  Jantar de Natal de 1970 > Um brinde!...  (com Martini ?)...Em primeiro plano, do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) (, infelizmente já falecido, em 2013) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto. os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa), eu e, à esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749).


Fotos (e legendas): © Hélder Sousa(2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Hélder Sousa, (ex-fur mil trms, TSF, Piche e Bissau, 1970/72):

Foto atual à esquerda: 

(i) é membro da nossa Tabanca Grande desde  10 de abril de 2007; 

(ii) nosso colaborador permanentem, tem cerc de 170 referências no nosso blogue;

(iii) foi Furriel Miliciano de Transmissões, do STM, cumprindo a comissão de serviço na Guiné entre 9 de Novembro de 1970 e 10 de Novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche (ao tempo do BCAV 2922, 1970/72 e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné;

(iv) natural de Vila Franca de Xira, mora em Setúbal, é engenheiro ténico;

(v) tem página no Facebook.


Data:20/12/2020, 18h02
Assunto: Texto para o Natal, no Blogue.

Caros amigos

A propósito do Natal e das nossas memórias sobre estas efemérides e para enquadramento nesta "campanha" de "Natal em rede", aqui envio um texto que na sua maioria foi publicado na "Tabanca do Centro" e de que obtive o consentimento para esta republicação "corrigida e melhorada".
O texto vai acompanhado das fotos referidas e de uma foto minha mais recente,

Aproveito também a ocasião para endereçar os meus votos de "Boas Festas" e a esperança de que o "Novo Ano" possa ser um "Ano Novo", com o retomar dos nossos "encontros".

Abraços
Hélder Sousa


OS MEUS NATAIS NA GUINÉ 

por Hélder Sousa

É normal e natural que encontremos memórias das coisas que se passaram quando as respetivas datas nos “batem à porta”. Por isso, muito recentemente, encontramos aqui no Blogue as memórias das “partidas” ou das “chegadas” que muitos camaradas nos relataram, tendo em conta a data do Natal e que agora é mesmo, também, objecto das recordações de como essa época, essas festividades foram passadas ou vividas durante a nossa permanência em terras da Guiné.

Deste modo, e tendo em conta dar o meu contributo para o conhecimento de como os meus Natais, principalmente o que fará agora 50 anos, ocorrido em 1970, foram vividos, fui repescar um texto que escrevi a propósito disso para a “Tabanca do Centro”, com a devida vénia e autorização de “pessoa amiga”, que aqui utilizo com os acrescentos que, entretanto, introduzo.

Ora, tendo chegado à Guiné em Novembro de 1970 e regressado em Novembro de 1972, é certo que os Natais de 1970 e de 1971 foram passados durante esse período e como por essas épocas não estive de férias, é então certo que foram passados lá.

O problema é que tenho pouca memória desses eventos. O Natal de 1970 foi passado “no mato”, em Piche, onde estive agregado ao BCAV 2922 desde o início de Dezembro desse ano até quase ao fim da Maio do ano seguinte.

Desse Natal de 1970 muito pouco relembro. Procurei apoio de memória em dois camaradas que estiveram comigo no CSM em Santarém e que integravam o referido Batalhão, os então Furriéis Fernando Boto e Herlander Almeida mas nada consegui que me pudesse ajudar.

O Boto disse-me que, após a Guiné, “apagou” todas essas memórias e que não me poderia valer. O Herlander foi no mesmo sentido, que não se lembra praticamente de nada, mas que agradece tudo o que eu tenho feito (escrito) e que, em certa medida, também o ajuda.

Quem poderia ser mais contributivo era o Luís Borrega, também membro da “Tabanca Grande” mas, entretanto, já falecido. Quando vivo, foi um dos impulsionadores de encontros e convívios entre o pessoal das várias Companhias desse Batalhão e mesmo de encontros parcelares. Portanto, por aí, também nada consegui.

Contudo, tenho umas fotos que o Borrega em tempos me facultou e que julgo terem sido desse Natal de 1970 e de aqui junto duas delas.

Na que diz “Jantar Natal 1970” em que se vê uma travessa com leitão, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni, eu e o Ferreira (Trms da CCav 2749) à esquerda.

Na foto que diz “Brinde”, que se passa na mesma mesa, tem agora em primeiro plano do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto.

Não me recordo de pormenores mas tenho a ideia que foi uma noite passada com alegria, nesse jantar, com a protecção adequada no exterior. Depois, no recato, em solidão, os pensamentos voaram para longe, para junto dos familiares tentando visualizar como estariam de saúde e como estariam celebrando essa ocasião.

Já o Natal de 1971 foi passado em Bissau.

Estava de serviço no meu turno na “Escuta” que, recordo bem, era das 19:00 de 24 às 01:00 já do dia 25 de Dezembro.

Por tal motivo não participei no jantar coletivo que ocorreu na Messe de Sargentos do QG em Santa Luzia, que contemplava o “velho” bacalhau, pois comi mais cedo e tive direito a um reforço alimentar, composto por duas sandes de queijo e fiambre e uma lata de leite com chocolate, holandês. Dadas as circunstâncias não tenho nenhuma foto ilustrativa.

Recordo apenas que durante a solidão do turno tive tempo, muito tempo, para me interrogar sobre o que fazia ali, sobre o que e como seria o futuro após o fim da comissão, sobre o que e como poderia fazer para contribuir para que aquela guerra não se prolongasse indefinidamente.

Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
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Guiné 61/74 - P21669: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (17): Natal, tempo de nos reencontrarmos connosco próprios e com todos os que nos falam à alma (José Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)


Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: um jantar como devia ser, a que não faltou o bacalhau com batatas, o vinho, a cerveja e a música. 

O José Teixeira, à direita, de óculos esfumados: recordando esse Natal de 69,  escreveu (*):


(...) Contrariamente ao Natal vivido em 1968 em Mampatá Forrea, o Natal do Silêncio (...), o Natal de 1969 foi uma festa, em que o perigo foi desafiado mas valeu a pena: (i) já cheirava à peluda, éramos velhinhos com 18 meses de guerra, estavamos totalmente apanhados pelo clima; (ii) Empada estava mais ou menos calma, apesar de no último ataque uns dias antes termos sofrido um morto de forma algo bizarra (...);  (iii) foram criadas algumas condições anímicas para que fosse realmente uma festa; (iv) o capitão [Eduardo] Moutinho Santos [, membro da nossa Tabanca Grande], desafiou a esposa a vir passar o Natal connosco e esta aceitou: uma mulher branca no nosso meio, mesmo sendo a do esposa do capitão, foi manga de ronco.

A festa da recepção foi de arromba (...), Depois veio o jantar a rigor, com bacalhau com batatas, vinho e cerveja q.b. e muita música. Foi até cair. Uma bela noite para recordar em que faltou a animação do costume, felizmente. (...)



Foto (e legenda): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Teixeira, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70; régulo da Tabanca de Matosinhos; membro sénior da Tabanca Grande, das bias e más horas: tem mais de 350 referências no nosso blogue:

Data: sábado, 19/12/2020 à(s) 23:22

Assunto: Natal, tempo de nos reencontrarmos connosco próprios e com todos os que nos falam à alma. (**=
 

NATAL. 

Tempo de sorrisos e abraços, 
Onde a paz e a concórdia criam laços, 
Ténues laços de bem-estar 
Que o tempo se encarrega de apagar. 

Tempo que traz à memória tempos novos 
Por mais antigos que sejam, 
No regressar a um passado 
Que todos ambicionam projetar 
Num futuro promissor. 

Tempo de olhar os mais frágeis com outro olhar 
E até permite que se abuse do verdadeiro amor, 
Distribuindo sorrisos e umas migalhas 
Porque é Natal,
Como se o tempo não devesse ser todo ele, sempre igual.

Zé Teixeira 

A todos os camaradas combatentes 

Um Natal bem passado 
com todo o cuidado 
para que o malvado 
não se faça convidado 
e deixei cada um de nós 
continuar a vida 
descansado 
e bem abonado
com bacalhau bem demolhado 
e perú ou capão assado 
...e uma pinga de estalo 


Para cairmos no regalo 
de estar em família 
num doce e carinhoso embalo 
sem o perigo de embarcar para o outro lado. 


José Teixeira 
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Notas do editor:


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21652: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (11): Homenageando a memória do Raul Albino (1945-2020): Os Natais de 1968, em Có, e 1969, no Olossato, da CCAÇ 2402 (João Bonifácio, ex-fur mil SAM, hoje a viver no Canadá)






Fotos (e legendas): © João Bonifácio (2008. Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa da brochura "Memórias da CCAÇ 2402 (Guiné 1968/1970), Volume II", mimeog", 2008, páginas inumeradas,il. (Coordenação: Raul Albino).


1. As fotos de cima (e as legendas) são do João G. Bonifácio, ex-fur mil SAM, da CCAÇ 2402 (, Mansabá e Olossato, 1968/70), a viver no Canadá. 

Ele foi um dos colaboradores deste II Volume, juntmente com o ex-cap inf Vargas Cardoso e de outros camaradas como o Carlos Sacramemto, Carlos Santiago, Carlos Costa, Joaquim Ramalho, Maurício Esparteiro, António Maria Veríssimo, António Fangueiro da Silva, e o próprio Raul Albino. O João Bonifácio é membro da nossa Tabanca Grande desde 1 de dezembro de 2006 (*)

Em homenagem ao Raul Albino, ex-alf mil da CCAL CC$02, que nos deixou há pouco tempo (, aliás foi o próprio João Bonifácio que nos deu a triste notícia) (**), vamos aqror reproduzir dois aponatmentos sobre o Natal de 1968 e de 1969 (***), da autoria do João, incluidos naquela brochura.

Aproveitamos para desejar a ele e à sua sua família, bem como à família do Raul Albino, mas também aos demais camaradas da CCAÇ 2402,os nossos votos de um Natal e Ano Novo, tão bom quanto possível, dentro dos contrangimentos a que todos estamos sujeitosnos  nossos países, devido à pandemia de Covid-19.(****).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1331: Blogoterapia (9): Quando a Pátria não é Mátria para ti (João Bonifácio, Canadá, exvagomestre da CCAÇ 2402)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21643: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (7): É Natal, é Natal, apesar dos confinamentos (António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74), membro n.º 822 da Tabanca Grande


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1972 > Igreja local (*)  > Natal > O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores


Guiné > Bissau > 1973 > 
Uma montra na baixa de Bissau, com decoração natalícia... e provavelmente com animação, a avaliar pelo número de crianças especadas no passeio...

Fotos (e legendas): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74) , membro nº 822 da Tabanca Grande (**):

Data - 12/12/2020, 17:58
Assunto - Mensagem de Natal


 
Amigos:

Hoje recebi esta mensagem natalícia do Carlos Pereira um camarada e amigo dos tempos de Bigene que acho apropriado partilhar com vocês. Oxalá possam abrir este link:
 
Linda Mensagem De Natal, de Audete de Fazio

Entretanto, num álbum encontrei estas duas fotos :

(i) O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores...Igreja de Buruntuma,  1972;

(ii)  Uma montra em Bissau numa ida à cidade (em 73, quando estava em  Bigene?), de avioneta, em serviço, talvez levantar o dinheiro para pagar a tropa em Bigene...

Lembro-me, nessa ocasião, de visitar um amigo que tinha namorada com família abastada... Lembro-me  do excesso de presentes que as crianças, que ali estavam,  nem apreciaram...

Ah!, como a memória vai ficando enevoada mas de repente uma imagem toma realidade!


É Natal, É Natal ...apesar dos confinamentos! (***)
Felicidade e cuidem-se

António Marreiros
Victoria, Canada
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16049: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (8): A bonita e original capelinha de Buruntuma, de estética modernista (José Mota Tavares, ex-alferes mil capelão, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67)

(**) Vd. poste de 9 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21637: Casos: a verdade sobre... (17): A alegada "insubordinação" da CCAÇ 12, em março de 1973, recusando-se a render no Xime a CART 3494 [João Candeias Silva, ex-fur mil at inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama, 1973/74]


Capa, desenhada pelo Tony Levezinho, fur mil at inf, 2.º Gr Comb, para a capa da História da Unidade: CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/1971), elaborada pelo fur mil armas pes inf Luís M. Graça Henriques, mimeog, Bambadinca, fevereiro de 1971. (Há cópia no Arquivo Histórico-Ultramarino).


1. Comentário do João Candeias Silva, ex-fur mil at inf, de rendição individual,  CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74),  ao poste P21614 (*)

Bolama. Natal de 1973. 

Fui transferido da CCaç 12 para Bolama como, deduzo eu, consequência de uma recusa da 12 avançar para o Xime para substituir a companhia que lá estava  [CART 3494 / BART 3873[, e com a qual fizemos algumas operações conjuntas de que destaco duas em Fevereiro desse ano onde tivemos dois contactos com o IN [, ao tempo do  cap mil inf José António de Campos Simão].

Foi um Natal excelente, o de Bolama, porque era para mim o prenúncio do fim da missão. Curiosamente será pelo mesmo motivo que não falamos nas parvoíces fruto da idade, que não falamos em casos como o da Ccaç 12 que fez frente ao comandante da CAOP 3 [, lapso, deve ser CAOP 2, anteriormente designado por CAOP Leste até 22 de agosto de 197o],  sediada em Bambadinca [lapso, deve ser Bafatá]. 

Nunca li uma linha, uma referência a situações como a ocorrida em meados de Março [de 1973] na CCAÇ 12 em Bambadinca. 

Julgo que era o prenúncio do cansaço da guerra e um sinal de que a capitulação dos capitães, com a cobertura do topo da hierarquia,  estava próxima. Por coincidência ou não, pouco tempo depois, cerca de um ano, aconteceu [o 25 de Abril]. 

Situações como a que vivi, nunca vi serem referenciadas nem em blogues nem na "mídia". Será o caso da CCAÇ 12 único? Para se ter um pouco a ideia da situação,  a recusa [em render a CART 3494 no Xime] fez,  2 ou 3 dias depois,  o General Spinola deslocar-se a Bambadinca,  acompanhado de vários quadros africanos. E o assunto foi ultrapassado. 

E com o 25 de Abril saímos o mais depressa possível. No meu caso pessoal,  paguei a viagem na TAP e no fim de Maio [de 1974,] regressei. Tinham-se passado 25 meses. 

Fui em rendição individual em Abril de 72, passei pela CCav 3404, em Cabuca, em seguida, em Janeiro, vou para Bambadinca para a CCAÇ 12, e, por fim, para o CIM [, Centro de Instrução Militar,] em Bolama. 

Talvez noutras companhias também tenham surgido sinais de insubordinação. Talvez seja a altura de partilhar essa parte da guerra porque passámos. 

João Candeias Silva,  furriel mil at inf


2. Comentário LG (*)

João, a história da CCAÇ 12, no papel, fui eu que a escrevi. Até Fevereiro 1971. E está disponível no blogue.

Depois de fevereiro de 71 não há mais nada, de história escrita, até à extinção da CCAÇ 12 em 18 de agosto de 1974. Pelo menos no Arquivo Histórico Militar... Como sabes, para lá do primeiro comandante, o único que conheci, o 
Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito, a CCAÇ 12 teve, até ao final, mais quatro [Vd. ficha da unidade, no ponto 3, a seguir].

Eu e os demais graduados e especialistas, metropolitanos, a chamada 1.ª geração, éramos todos de rendição individual, pertencíamos à CCAÇ 2590, éramos apenas umas 6 dezenas de militares... Fomos dar a instrução de especialidade e a IAO, no CIM de Contuboel, às 100 praças guineenses, oriundas dos regulados de Badora e Cossé... 

A partir de 18 de junho de 1970 passámos a ser, oficialmente, a CCAÇ 12, por alteração da anterior designação de CCaç 2590.

A prineira geração de graduados e especialistas regressou a casa, na sua quase totalidade, a 17 de março e 1971, no T/T Uíge.

O que tu nos contas, ou o que deixas dar a entender, é relevante. E concordo contigo: deve ser partilhada por todos nós, aqueles que temos alguma informação sobre o que terá passado  (**). "Insubordinação"? Recusa em ir para o Xime, rendendo a CART 3494? Se sim, terá sido a segunda "insubordinação" na história da CCAÇ 12...

Teria, de facto,  havido já outra, anteriormente, ao tempo do BART 2917, e do tenente-coronel Polidoro Monteiro, e sendo comandante da CCAÇ 12 o
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa... Algo que está mal documentado, mas é referido na história do BART 2917... Terá ocorrido em março de 1971, se não erro, aliás tenho que  averiguar melhor.

Os graduados eram já os da segunda geração....Todos "piras"....Tu e o António Duarte que são da terceira, podem e devem esclarecer o que se passou nessa operação para os lados do Poindom / Ponta do Inglês...

Dessa vez não foi o Spínola, mas o Polidoro Monteiro que, metendo-se a caminho pelo mato fora, terá ido ao encontro dos grupos de combate da CCAÇ 12 que estariam "acampados" no mato, aparentemente recusando-se a cumprir a missão que lhes fora destinada...

O assunto é muito melindroso, ignoro as razões da alegada insubordinação, mas terá havido consequências disciplinares....Enfim, falta-me informação dos protagonistas e de fontes independentes (, se é que as há).

O nosso coeditor  Jorge Araújo também deve saber algo mais sobre o que se passou em março de 1973... De qualquer modo, em finais de março de 1973, a CART 3494 foi para Mansambo e a CCAÇ 12, contrariada ou não, foi para o Xime, 
assumindo a responsabilidade do respetivo subsetor, e ficando  integrada no  dispositivo e manobra do BART 3873 e depois do BCAÇ 4616/73. É desativada a 18/8/1974.

Abraço. Festas boas e quentes. Luís

PS - Tenho pena, João, que não queiras sentar-te aqui connosco à sombra do nosso poilão, apesar dos meus reiterados convites, meus e do António Duarte. Podíamos ao menos falar pelo telefone... Aliás, não precisas de convite. O blogue é teu/nosso. Vejo que estiveste na CCAÇ 12 entre janeiro e julho de 1973.  Portanto, estiveste em Bambadinca e ainda no Xime, já com a estrada alcatroada de Bambadinca até ao cais do Xime... Tens fotos e outros documentos desse tempo? Gostava de os ver e publicar... mesmo que não queiras dar a cara...


 [Vi uma entrevista tua, no You Toube, sobre a mortalidade do sobreiro no concelho de Santiago do Cacém, onde és proprietário: vd. aqui Biosfera - João Candeias, You Tube / Nuno Candeias, 13/5/2012, vídeo 7' 53''. E gostei de te conhecer e ouvir... Também adoro o nosso montado de sobro, tal maltratado nas últimas décadas; também há alguns sobreiros na Quinta de Candoz, junto ao Douro...]

3. Fichas de unidade: CCAÇ 12

Cmdt: 
Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Mil Inf José António de Campos Simão
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus

Início: 18Jun70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2590)
Extinção: 18Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando os quadros e praças especialistas metropolitanos, que constituíam anteriormente a CCaç 2590, e pessoal natural da Guiné, da etnia Fula.

Continuou instalada em Bambadinca, como subunidade de intervenção e reserva do CAOP 2, sendo particularmente orientada para a realização de patrulhamentos, escoltas a colunas de reabastecimento e segurança, protecção dos trabalhos de construção da estrada Bambadinca-Xime e acções sobre grupos e bases inimigas, estas efectuadas nas regiões de Enxalé, Ponta do Inglês, Ponta Varela, Satecuta e Madina-Belel, em reforço do sector de Bambadinca. 

Destacou ainda pelotões para aldeamentos da zona por períodos variáveis, nomeadamente
para Missirá, ponte do rio Undunduma e Nhabijões entre outras, com vista a garantir a segurança e protecção das populações.

Em finais de Mar73, rendendo a CArt 3494, assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, onde se instalou, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 3873 e depois do BCaç 4616/73.

Em 18Ag074, foi desactivada e extinta.

Observações
Tem História da Unidade até Fev71 - CCaç 2590/CCaç 12 (Caixa n.º 124 - 2ª
Div/4ª Sec, do AHM).

Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de Unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág.  632.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21614: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (13): O Elias Parafuso e o bolo de chantili

(**) Último poste da série > 13 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21539: Casos: a verdade sobre... (16): Onde foi o "berço da nacionalidade" ? Terá sido em Feto Lugajole, uma colina à cota de 200 mt, frente à atual tabanca de Lugajole ? Fica a 5 km da fronteira, a 40 km de Madina do Boé... E ainda hojé é intransitável de carro, em setembro... (Patrício Ribeiro, Bissau)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21633: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (14): Gampará, Natal de 1973: o bolo-rei da Confeitaria Nélia, Esposende, e a fava azarenta

1. Mais uma pequena história do 
Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, defurriel mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974;

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem 17 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado.


O bolo-rei de Natal e a fava azarenta…

por Carlos Barros (*)


Em novembro de 1973 , o furriel Barros, instalado em Gampará, com a 2ª Cart, 3º grupo de combate, escreveu uma carta à sua mãe, Jandira Lima, em Esposende, para que lhe fosse enviad, para a Guiné, um bolo-rei da Nélia [, confeitaria que ainda existe: R. 1.º de Dezembro, nº 24, 4740-226 Esposende, telef: 253 961 119] ou mesmo da Primorosa.

Numa comunicação breve aos soldados do seu  3º grupo, o Barros tinha informado que a malta iria ter um bolo-rei, no período do Natal, o que criou uma certa euforia entre os soldados..

Os soldados vibraram de contentamento e um bolo-rei na Guiné era “ouro sobre o azul” num ambiente de sobressaltos, sofrimentos, ansiedades,  de tragédias e de dramas que envolvia  toda a actividade da guerra.

Passados quinze dias, o bolinho, numa longa viagem, chegou ao aquartelamento, depois de uma longa demora, nos serviços do SPM de Bissau.

O Barros parecia um “empresário de pastelaria” e, sempre com o seu elevado sentido de partilha, reuniu, no dia 23 de dezembro [de 1973], os soldados em  círculo,  e dividiu o bolo-rei em 27 bocadinhos, bem cortadinhos e apresentou uma proposta sentenciosa a todos os presentes:

A quem saísse a fava,  teria de pagar, um próximo bolo-rei que seria comprado em Bissau, de qualidade muito inferior, como é natural, ao  da Nélia, uma pastelaria de excelência a nível local,  mesmo, em todo o  Norte do País.

 As fatias “magricelas”  foram divididas por todos os soldados que começaram a mastigar o bolo, cada um olhando e inspeccionando as bocas com a expectativa de saída da “abominável” fava …

 O Barros, muito atento, num ápice, sentiu  na boca ressequida a maldita  fava e pensou logo que estava “desgraçado”,  pois iria ser gozado por todos e não estava em questão pagar outro bolo, apenas receava ser colectivamente gozado, o que era a “praxe” no meio do grupo.

O Barros pensou de imediato, em sair daquela incómoda situação e sabem o que fez ele?

 Engoliu a fava que foi directamente para o estômago e, mais tarde,  expelida pelos intestinos, e o ânus está como testemunha,

O Cruz, soldado natural de Barcelos, gritou:

 Furriel, o bolo não tinha fava e você disse que vinha sempre com uma fava!...

O Venâncio, o Pedralva, o Domingos e o Araújo estavam muito desconfiados mas nada disseram, limitando-se a saborear o ressequido bolo-rei que estava a ser digerido muito lentamente, quase que “ruminando”, para que o sabor demorasse mais um pouco porque guloseimas, no aquartelamento, praticamente não existiam.

 − Olha, Cruz, o pasteleiro esqueceu-se de colocar a fava e não sei o que se passou  desculpou-se o Barros, com um ar de comprometido!...    Sabem, o Geninho,  pasteleiro da Nélia,  o melhor pasteleiro da região, não se lembrou de colocar a fava e com tantos bolos-rei que faz, este escapou. 

E acrescentou, com o ar muito natural:

 Sabem que  o Geninho, faz uns torrões de amendoim que são “os melhores do mundo”, e podem crer que, quando for de férias a Esposende, vou-vos trazer torrões da Nélia −  prometeu o Barros tentando atenuar a expectativa que os soldados tiveram  da famosa “fava invisível”.

Uma coisa é certa, o Barros só contou a história passados uns meses aos seus companheiros  da caserna que acharam muita graça à atitude do furriel que se tinha “safado” de um gozo geral.

No final, todos se levantaram, com a cadela Sintra a comer umas míseras migalhas que tinham sobrevivido, e estava-se na hora do jantar com os cozinheiros Eduardo, o Rochinha e o Bichas, este na Messe, já com a missão cumprida, junto aos panelões para se distribuir  a comida.

Gampará, 23 de dezembro de 1973.                                  

Carlos Barros

Esposende 10 de Junho de 2020

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