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quinta-feira, 21 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19606: Memória dos lugares (388): Ponta Varela, na margem esquerda do Rio Geba, subsetor do Xime... Mas está por fazer a história das "pontas" (pequenas explorações agrícolas, junto a cursos de água: Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Ponta João da Silva, no Rio Corubal; Ponta Brandão, em Bambadinca; Ponta Geraldo Landim, no Rio Dingal / Mansoa; Ponta Salvador Barreto, no rio Cacheu, etc.)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Subsetor do Xime > A temível Ponta Varela:  restos do que parece ser um antigo cais acostável. Em 1963/65, ao tempo da CCAÇ 508 existia aqui uma tabanca e um destacamento onde morreram, em 3 de junho de 1965,  quatro dos seus homens, a começar pelo seu  comandante, o Capitão Francisco Meirelles, em consequência do rebentamento de uma mina. Relembre-se os seus nomes: (i) Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles; Capitão de Infantaria QP; natural de Castelões de Cepeda, Paredes; casado; (ii) José Maria dos Santos Corbacho; 1.º Cabo; natural de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, solteiro;  (iii) Domingos João de Oliveira Cardoso; Soldado Auto Rodas; natural de São Cosme, Gondomar; solteiro; e (iv) Braima Turé; Caçador Nativo (guia), natural do Xime, Bambadinca. (*)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Subsetor do Xime >  A LGD nº 105 a aproximar-se do porto fluvial do Xime, depois de passar pela Ponta Varela, vinda de Bissau,

Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão).

Fotos (e legendas): ©  José Carlos Lopes (2013). . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


Giné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Ponta Varela > 2010 >  Exactamente no local onde as forças do PAIGC atacavam as embarcações  civis e os navios da Marinha. É pena não se ficar com a ideia de como, também neste local, nascia o Geba estreito, o leito do rio afunilava, à esquerda, não muito longe daqui, passava o rio Corubal. Com o assoreamemnto do rio Geba, já as embarcações não chegam aqui, muito menos a Bambadinca.

Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.[Ediçºao e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (**)


Guiné > Zona Leste > Mapa do Xime (1955), 1/50000 > Detalhe: O Rio Geba, o Rio Corubal, à esquerda, Poindon, Ponta Varela, Madina Colhido, estrada Xime-Ponta do Inglês, Rio Geba Estreito, Xime, estrada Xime-Bambadinca, Enxalé (em frente, na margem direita do Rio Geba),  Tudo lugares míticos, carregados de emoções para os camaradas que viveram e lutaram no Sector L1 (Bambadinca) ou que desembarcaram, numa LDG, a caminho de outras terras da vasta zona leste da Guiné, via Bambadinca-Xitole ou Bambadinca-Bafatá...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1. Temos cerca de 3 dezenas de referências à mítica Ponta Varela, na margem esquerda do rio Geba,  antes do Xime... Milhares de camaradas, que andaram nas embarcações civis e nos navios da Marinha (lanchas de desembarque) passaram ao largo da Ponta Varela, ali onde o rio começava a estreitar... Lembremos, pois,  algumas das imagens da Ponta Varela das nossas histórias (***)

Recorde-se que na Guiné o vocábulo "ponta" quer dizer propriedade agrícola, exploração agrícola, horta, em geral junto a um curso de água,  na margem de um rio, e o nome estava muitas vezes associado ao seu proprietário, cabo-verdiano ou "tuga": por exemplo, Ponta do Inglês, Ponta João da Silva, Ponta Luís Dias, Ponta Nova, no Rio Corubal..


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Ponta  do Inglês > 2010 > Pouco resta da casa de Inglês Lopes, ao que parece era este o dono da Ponta... Entre 1964 e 1966, a qui esteve um pelotão destacado da companhia do Xime, mais um pelotão de milícias... Foi deativado em 1968. O destacamento vinha até junto à água, havia um pontão para receber as embarcações, tudo desapareceu. O antigo embaixador em Lisboa da República da Guiné-Bissau, Constantino Lopes, ex-Combatente da Liberdade da Pátria, que esteve preso no Tarrafal, de 1962 a 1969, é hoje o único herdeiro e proprietário da Ponta do Inglês, exploração agrícola, de 50 hectares; o seu pai, Luís Lopes, tinha por alcunha o Inglês; informação que foi dada ao nosso editor Lu+is Graça  pelo próprio Constantino Lopes em 12/11/2008, no Museu da Farmácia, no lançamento do livro do Beja Santos, "O Tigre Vadio".

Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.[Ediçºao e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19336: Historiografia da presença portuguesa em África (142): Meu Corubal, meu amor (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O relato que se segue é já da I República, o manuscrito foi datilografado em 1931. O Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, faz-nos um empolgante registo da região de Buba, de que foi administrador. Percorreu rios e braços de mar, é uma vivência e um saber feitos de comprovada experiência, como se poderá ver.
Depois do Geba, o Corubal é um rio da minha vida, pelo que fui ao Xitole, ao Xime, à Ponta do Inglês. E a experiência que tive, em novembro de 2010 quando percorri de mota a estrada Xime-Ponta do Inglês foi inesquecível, eu ia embevecido por aqueles campos frondosos em torno do Corubal, que atravessei em várias direções com a G3 nas mãos, quem aqui combateu conhece o significado da Ponta do Inglês, Ponta Varela, Poidom, Buruntoni.
Uma das tristezas que guardo dessa viagem é não ter ido a Ponta Luís Dias, Tabacuta, Mina e Galo-Corubal, vindo depois por Xitole, e regressando a Bambadinca por Moricanhe, Taibatá e Amedalai.
Prometi a mim mesmo que será itinerário obrigatório na próxima viagem, o Corubal é muitíssimo belo.

Um abraço do
Mário


Meu Corubal, meu amor (1)

Beja Santos

Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo Administrador do Concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação. Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.
E o que é compreensível começa exatamente com o rio Corubal, deste modo:
“O rio Corubal é muito profundo mas cheio de baixos; e maior profundidade apresenta na margem esquerda ou na margem do lado do Forreá. Não é navegável senão para barcas que não demandem mais de duas braças de água, e isto mesmo até Xitole, e dali até próximo à cachoeira de Cussilinta, perto de Gambessé, com bastante dificuldade e perícia, por parte do respectivo piloto do barco.
Impedem a navegação, além das diversas cachoeiras e o banco que forma logo à entrada defronte de Gampará e, que na baixa-mar, se vê que é, em uns quilómetros de extensão, os bancos de areia e lodo, que, segundo as estações e outras circunstâncias, e entre estas o macaréu, são arrastados pela caprichosa natureza, em diferentes sentidos, afirmando os pilotos práticos neste rio que um banco encontrado num mês nem sempre se encontra, passados dias, no mesmo local, pelo que a navegação, mesmo até ao Xitole, deve ser feita cuidadosamente. Na época pluviosa, acresce a este inconveniente de mudanças de baixos a vertiginosa corrente do rio que atrasa e dificulta bastante a navegação.
A dificuldade de não se ter ainda conseguido a navegação além das cachoeiras dá ocasião a que variados produtos, designadamente arroz, que em grande quantidade se planta e colhe no Alto Forreá (parte do Boé) sejam desviados para o território francês, onde fazem a permuta, principalmente na época das chuvas, durante essa época torna-se impossível conservar-se em estado de ser transitado um caminho que eu mandei abrir na cambança de Juda – Maganacho até Xitole”.

O relator apresenta-nos agora o rio Grande de Bulola ou de Buba, dizendo:
“É antes um braço do mar do que rio propriamente dito. Muitos anos se julgou que tinha comunicação com o rio Corubal, sendo talvez o motivo de o chamarem Rio Grande. Nas suas margens divisam-se extensas e graciosas colinas cheias de verdejantes matas e uma infinidade de cibes (palmeiras). Estas margens cortadas quase a pique, com bastante altura, oferecem assim dispostas um seguro abrigo aos navegantes contra os tornados (ciclones especiais da costa da Guiné, tendo por foco a Serra Leoa).
Bastante profundo e sem baixos, pode ser facilmente navegado por navios de longo curso até próximo do rio Regina, onde, pelo constante assoreamento, formou-se um baixo que uma sonda o encontra a duas braças de profundidade, porém, passado este baixo, pode continuar-se a navegar até próximo de Buba, em navios que não demandem mais de quatro braças, se bem que, com muita cautela se deve fazer, por causa do constante e progressivo assoreamento do rio desde o referido baixo do rio Regina até Buba.
De Buba até à sua confluência com o rio de Bolama, na Ponta Colónia, faz um percurso aproximado de 50 milhas, em constantes ziguezagues, formando pontas ou antigas e ricas feitorias que existiram em número superior a 60 e que aqui atraíram, outrora, pelo seu importante comércio e pela facilidade de navegação do Rio Grande, navios de longo curso. Em algumas pontas vêem-se ainda restos destas feitorias com as suas cisternas, armazéns, prisões, etc, feitorias, que, senão fora as lutas havidas lá pelos anos de 1882 a 1885-86, entre Fulas e Biafadas, ainda hoje existiriam, e o Rio Grande não teria perdido a sua importância e nem estaria na decadência em que hoje se encontra; se bem que, ainda se espera pelo constante repovoamento dessas pontas, que nos últimos dois anos se tem acelerado bastante, vem a aproximar-se, pelo menos, da sombra do que foi.
Tem este rio ou braço de mar um grande número de afluentes, alguns importantes pela sua profundidade e largura, principalmente no praia-mar, onde se encontra mais de 3 a 5 braças de profundidade, sendo pena que na baixa-mar fiquem por completo desaguados, conservando, apenas, em certos lugares, bacias que têm servido de ancoradouros a barcos à espera da praia-mar para dele saírem”.

O Capitão Castro Fernandes é minucioso, não se contentou em descrever o rio de Buba, dá-nos igualmente a relação dos afluentes que ele percorreu em lancha a vapor ou em escaler a remos: rio Regina, rio Banin ou de Mato-Grande, rio Buduco, rio Tinto, rio Cumbijan, rio Mansole, Rio Ocaz, Canal da Ilha Seca, rio Bissilão. Diz que o rio Regina é bastante largo, o rio Banin situa-se na margem direita, lado do Quínara, o Buduco é bastante largo, tem um braço do lado direito para o Posto Administrativo de Fulacunda.
Como é minucioso, deixa no seu relatório que julga importante:
“À entrada deste rio, encontra-se um grande baixo de pedra, deixando ver na baixa-mar um grande recife, pelo que se torna bastante perigoso, sendo por este motivo e ainda para se poder seguir a favor da corrente que se entra no rio depois de principiar a enchente e antes do recife ficar coberto; o rio Tinto fica na margem esquerda no Rio Grande; o rio Cumbijan é bastante largo e profundo, atravessa a circunscrição de Cacine".
E o nosso relator comenta:
“Não o conheço por mar, mas por várias vezes estive nas suas margens, no local de Cumbijan, onde existe um estabelecimento comercial. Na época pluviosa, dizem ser perigosa a navegação, devido a grandes troncos de árvores arrastadas pela corrente. Durante as chuvas constantes e torrenciais, transbordando as superfícies pantanosas, formam-se no Forreá vários regatos que junto com as nascentes existentes, correm para este rio Cumbijan; o Mansole é um afluente do rio de Bolama, bem como o rio Salanca ou de Nhala, este com largura de mais de 400 metros e extensão até à Ponta de João Preto; falando do rio Ocaz, diz que contornado a ponta de Nhala, fica do outro lado a povoação Balanta de Bissásema; regista que entre o Quínara e o Ilhéu do Rei, um pouco mais para cima, fica a Ilha Seca. Entre esta ilha e o Quínara é o canal da Ilha Seca".
E regista:
“Na entrada tem um baixo; contudo, um barco que não demande mais de duas braças o transpõe na praia-mar facilmente e sem perigo algum. Passado este baixo, o canal acusa, invariavelmente, cinco ou seis braças folgadas. Na saída para o rio Geba, perto de Jabadá, há um outro baixo nas mesmas condições do da entrada”.

(Continua)

Rápidos de Cusselinta, rio Corubal
Fotografia de José António Sousa publicada no site http://geoview.info/, com a devida vénia.

Che-Che, rio Corubal
Fotografia retirada da rede social Pinterest, com a devida vénia.

O Corubal visto da Ponta do Inglês
Tirei esta fotografia em novembro de 2010, acompanhou a viagem do Tangomau, pertence ao nosso blogue.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (140): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19235: Tabanca Grande (470): Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, cmtd da CART 2715 (Xime, 1970/72), senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 781, no dia em que se comemoram os 48 anos da Op Abencerrragem Candente, em que as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves na antiga picada da Ponta do Inglês


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > Vista aérea (parcial) da tabanca do Xime, onde estava sediada uma unidade de quadrícula... Entre maio de 1970 e março de 1972, era a CART 2715 / BART 2917, comandada até ao fim do ano de 1970 pelo cap art Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), que entra agora, a título póstumo, para a Tabanca Grande, sob o nº 781. Infelizmente não temos nenhuma foto dele.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por lamentável lapso, o nosso camarada Vítor Manuel Amaro dos Santos não entrou, na devida altura, em 2014, para  a Tabanca Grande, como era sua expressa vontade, em vida,  e nossa intenção publicamente manifestada após a sua morte, aos 69 anos. (*)

Recorde-se que o falecido cor art ref, DAF, Vítor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72),  tem 7 referências no nosso blogue. (**). 

Em 2012 falámos ao telefone diversas vezes (a primeira vez, em 13/1/2012) e ele mandou-me diversas mensagens de telemóvel que já transcrevi, em grande parte, no nosso blogue, em que ele me falava do pesadelo do "inferno do Xime" que ainda vivia e procurava defender não apenas o seu bom nome e honra, como militar, mas também a memória dos mortos e feridos da sua companhia (***).

Na altura escrevi em comentário ao poste P9335 (***):

(...) "O Amaro dos Santos como comandante operacional é um camarada nosso, e como tal acima de qualquer crítica (neste blogue)... Tem direito ao seu bom nome: razão porque não faz sentido o seu nome completo figurar, entre parênteses retos, no poste P6368... Foi já retirado, não vinha aliás no documento original (onde é referido apenas como o comandante da CART 2715)...

"Por outro lado, convidei-o para integrar a nossa Tabanca Grande; ficou surpreendido por ele lhe dizer... que "'eu também estava lá', na Op Abencerragem Candente... E que fui um dos homens da CCAÇ 12 que foi à frente da coluna - éramos mais de 250 homens em pleno mato, dois agrupamentos - resgatar os corpos dos nossos infelizes camaradas, o Cunha e mais cinco; um dos nossos homens que trouxe o cadáver do Cunha  às costas, o nosso "bom gigante" Abibo Jau, será fuzilado pelo PAIGC, logo a seguir à independência - creio que em 11 de Março de 1975, se não erro -, juntamente com o comandante da CCAÇ 21, o tenente 'comando' graduado Jamanca... (Correu o boato, entre os homens da CART 2715, que os 'pretos' da CCAÇ 12 se recusaram a socorrer os 'tugas' da CART 2715, o que é falso; eu fui um dos 'pretos' que estive na testa da coluna, logo que acabou o fogo, a socorrer os feridos e a transportar os mortos).

"Um abraço para o Cor Amaro dos Santos... que nunca mais vi desde esse fatídico dia 26/11/1970!" (...)


Em 26 de novembro de 2016, no dia em que se completavam 46 anos da trágica Op Abencerragem Candente (Xime, 25 e 26 de novembro de 1970),  eu escrevi o seguinte, a seu respeito:

(...) "Do Amaro dos Santos, só posso dizer que em combate teve um comportamento heróico. Em contrapartida, como camarada que 'da lei da morte já se libertou', só posso desejar lhe que descanse finalmente em paz. Creio que ele era crente e encontrou na fé algum conforto em vida. Por fim, a sua memória é honrada, por todos nós, aos olhos de todos nós, incluindo a sua família, filhos e netos, e os seus antigos camaradas da CART 2715 e do BART 2917, com a sua integração, a título póstumo, na lista dos membros da Tabanca Grande. (*)

Há tempos deu-me conta que o seu nome não contava, como eu pensava,  da lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, publicada na coluna do lado esquerdo do blogue.  Hoje, quando passam 48 anos sobre os trágicos acontecimentos do Xime, e 4 anos e meio sobre a morte do cmdt da CART 2715, eu venho reparar essa lamentável anomalia. Para este camarada não fique na vala comum do esquievimento.

O Vítor Manuel Amaro dos Santos, que esteve na Academia Militar, com outros camaradas nossos, grã-tabanqueiros, como o António J. Pereira da Costa, também da arma de artilharia, passa a figurar na nossa lista, infelizmente a título póstumo, com o nº 781 (****).

Não temos, lamentavelmente, até agora, nenhuma foto de jeito da sua pessoa, quer como civil quer como militar, a não ser uma de grupo. 

Fazemos aqui um apelo, aos camaradas do BART 2917, em geral, e aos da CART 2715, em especial, para que nos façam chegar uma foto, individual, ou em grupo, do nosso Vitor Manuel Amaro ds Santos, que tinha família na Lousã (onde nasceu) e em Coimbra (onde viveu e morreu).  (LG).

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Notas do editor:




(**) Mais postes com referência ao nosso camarada Vitor Manuel Amaro dos Santos e à Op Abencerragem Candente:

28 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16768: (De)Caras (62): O Amaro dos Santos [1944-2014] que eu conheci (António J. Pereira da Costa, cor art ref)


11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13871: In Memoriam (205): José Fernando de Andrade Rodrigues (Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, 1947- Rio de Mouro, Sintra, 2014)... O único açoriano do BART 2917, além do 2º srgt Saúl Ernesto Jesus Silva, e de mim próprio (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)




(****) Último poste da série >  11 de novembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19183: Tabanca Grande (469): Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880 (Angola, 1972 / 74); nosso grã-tabanqueiro, nº 780.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19021: Os nossos capelães (8): Adelino Apolinário da Silva Gouveia, do BCAÇ 506: "Os filhos da p... matam-me!"... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)


Lista dos capelães militares que serviram no CTIG, de 1961 a 1974: excerto, os primeiros vinte nomes da lista (de 1961 a 1966), de um total de 102 (Exército) (a Força Aérea e a Armada tiveram 7 e 4, capelões militares, no CTIG, respetivamente) (*)


1. Texto de Alcídio Marinho, inserido como comentário ao poste P16636:

[Foto à esquerda: Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65): vive no Porto; é membro da nossa Tabanca Gande; tem cerca de 20 referências no nosso blogue; foto atual, à direita]



Na lista [, dos capelães militares que serviram no CTIG, de 1961 a 1974], está o Padre Adelino Apolinário da Silva Gouveia, que eu conheci: pertenceu ao BCAÇ 506.

Acompanhou o pessoal da CCAÇ 412 em muitas operações e deslocava-se aos vários destacamentos no mato, para rezar missa e dar apoio religioso e psicológico a todo  o pessoal. Era como um irmão nosso. Tive algumas conversas com ele.

Era madeirense. Mais tarde, saiu de padre e casou, morava em Lisboa. [Foi assesssor da Estação Agronómica Nacional.] O episódio mais caricato a que assisti, passado com ele, foi o seguinte:

A 27 de fevereiro de 1964, foi lançada a "Operação Marte" à Ponta de Inglês [, subsetor do Xime], onde a nossa companhia sofreu três emboscadas. Na primeira ficou ferido um soldado da minha secção, com um tiro de pistola, pelas costas. Ele que seguia pelo interior do mato, deu a correr para a estrada [Xime-Ponta do Inglês], apesar de lhe ter recomendado que,  em caso de ataque, enfrentasse o mesmo que eu iria socorrê-lo. Quando olho para o lado, está ele deitado, dizendo:
– Marinho, estou ferido.

Verifiquei onde estava ferido e sosseguei-o, dizendo:
– Ó pá,  isso não é nada, tem calma, eu vou chamar o enfermeiro.

Tinha levado um tiro de pistola. Só se via nas costa do seu lado esquerdo, na direcção do baço, uma pequena roseta, por onde tinha entrado o projéctil e veio alojar-se na frente, onde se via uma pequena mancha escura. Nunca foi retirada e ainda, actualmente, se apalpa o projéctil, na sua barriga.

Na segunda emboscada eles atacaram mesmo junto á estrada, e um dos turras viu o capelão Apolinário meter-se atrás da roda traseira dum Unimogue e toca de fazer fogo com uma PPSH (costureirinha).

Então só se ouvia uma voz que gritava:
–  Filhos da pu...ta, mer...da, cara..lho! Quem me acode? Os filhos da puta... matam-me!

Começamos a atacar o local donde vinha o fogo, afastando o perigo do Unimogue. Eis, quando vimos sair,  debaixo do Unimogue, o Padre Apolinário, branco como a cal, com a pistola Walther na mão, tremendo todo como varas verdes. Começamo-nos todos a rir.

Diz ele:
– Se alguém disser o que ouviu e viu, eu juro, a pés juntos, que é tudo calúnias e participo do engraçadinho.

A malta ainda mais se riu. ontinuamos a marcha, e sofremos a terceira emboscada. Fomos atacados por enxames de abelhas.

Naquele pedaço de estrada, nas árvores das bermas, tinham colocado, lá no alto, uma espécie de cortiços, pareciam melões, feitos de barro, onde estavam as abelhas. Quando começou a emboscada, atacaram-nos e, ao mesmo tempo, atiraram aos cortiços, que caíram e partiram, destruindo o habitat das abelhas.

Estas, furiosas, atacavam tudo e todos. Um motorista, o Cândido, caiu e as abelhas atacaram-no e. coitado, acabou por falecer. Tinha em cima dele mais de um palmo de abelhas.

Tirei do meu bornal um volume de tabaco , que distribui pelo pessoal, indicando que metessem nos lábios três ou quatro cigarros e os acendem-se e soprassem para fora, fazendo fumo. Também cortamos capim e toca a fazer archotes para fazer fumo e afastar as abelhas, pois elas eram aos milhares.

Fui picado por uma abelha, na orelha direita que,  passado pouco tempo, ficou dura como uma tábua e do tamanho duma mão.

Entretanto, na refrega da emboscada, ouvimos e vimos o capitão Braga, descalço, tinha tirado as botas e tentava despir-se, parecia um louco e berrava muito.

Os pés já estavam todos queimados, eram duas horas e meia da tarde, o sol queimava e as areias da estrada torravam, de quentes que estavam (52º,  ao sol).

O furriel enfermeiro Silva teve que sedar o capitão. Aí acabou a operação. Toca a voltar para Xime e Bambadinca. (**)

Abraços

Alcídio Marinho
CCaç 412

[Revisão / fixação de texto: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série >  15 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19018: Os nossos capelães (7): o 1º curso de formação de capelães militares foi em 1967, na Academia Militar

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16962: (Ex)citações (323): em 1963 já havia um jornal "Nô Pintcha", a stencil... Apanhámos vários exemplares, na Ponta do Inglês, em 28 de janeiro de 1964, com um título de caixa alta: "Os colonialistas também têm mercenários"... Numa foto, via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha... Esse indivíduo era eu (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)


Guiné-Bissau > Bissau > 1975 > Cabeçalho do jornal trissemanário "Nô Pintcha",  ano I, nº 18,  6 de maio de 1975. É apresentado como "órgão do subcomissariado de Estado de Informação e Turismo" e, em princípio, com este formato, foi criado em 1975.  Em 27 de março de 2015 celebrou 40 anos, e é agora bissemanário.

(Imagem: Cortesia de Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivos > Arquivo de Mário Pinto de Andrade).




1. Comentário do camarada, veteraníssimo, Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), ao poste P16943 (*)


No meu tempo, quando o 3º pelotão da CCAÇ 412 esteve no Xitole de junho a fim de agosto de 1963, um dia na região de Mina, numa tabanca encontrei umas folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha [, leia-se: Avante, em crioulo].

Nesses panfletos davam noticias sobre a chamada luta de libertação. Mais tarde, depois de estarmos no Enxalé 28 de outubro de 1963 até 25 de janeiro de 1964, fizemos  a nível de Companhia uma operação à Ponta do Inglês, em 28 de janeiro (operação Ponta do Inglês), em que levámos 13 longas horas para chegar ao acampamento inimigo, sendo este depois destruído. 

Aí apareceram diversos desses jornais, onde me foi chamada a atenção por um camarada que a minha fotografia aparecia na 1ª página. O titulo era o seguinte: " Os colonialistas também têm mercenários "Via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha. O individuo da fotografia era eu. O cabelo  andava comprimido, porque eu tinha tido um problema no couro cabeludo e por indicação do nosso médico, dr. Jacinto Botas, e devido ao tratamento, não podia cortar o cabelo.

A minha camisa era azul com folhas e flores amarelas, comprada em Bissau. Os calções eram azuis e tinham sido feitos pelo cabo (alfaiate) Eurico Valpaços Alves.  A foto era, na época, a preto e branco, e foi tirada na zona do Enxalé. (**)

Alguns exemplares foram entregues no Batalhão [de Çaçadores] 506 que os fez chegar a Bissau, onde oficialmente se ficou a conhecer a minha actividade. Um militar sem curso de Minas e Armadilhas, fazia mais estragos que muitas unidades.

Portanto já em 1963 havia um jornal chamado Nô Pintcha

Alcidio Marinho
CCAÇ 412 (1963/65)

________________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 11 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16943: Recortes de imprensa (84): Na morte de Fidel Castro, o apoio de Cuba ao PAIGC é relembrado por Fernando Delfim Silva e Oscar Oramas ("Nô Pintcha", Bissau, 1 de dezembro de 2016) - Parte II

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15553: In Memoriam (243): António [Gabriel Rodrigues] Vaz (1936-2015), ex-cap mil art, cmdt CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69); nosso saudoso grã-tabanqueiro nº 544, desde 2012






António Gabriel Rodrigues Vaz (1939-2015),
ex-cap mil art, CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)


1. Dois comentários poste P15552, de ontem (*):


(i) Com respeito ao fazer a prova de vida, há poucos dias ao falar pelo telefoe com um colega da CART 1746, de seu nome Pereira,  ele me disse que o Cap Vaz faleceu há poucos dias.

Paz à sua alma. só  me resta dizer que era um bom amigo.

Ex fur mil Luis Fagundes,  CART 1746 [Bissorã e Xime, 1967/69]


(ii) Camaradas, tive um estranhíssimo pressentimento de que algo estava a acontecer, de muito mau, ao nosso amigo e camarada António Vaz, o cap mil da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)... Telefonei-lhe, sem querer, na hora da sua morte, na véspera de Natal!... Que macabra coincidência, que trágica premonição!...

Insisti, mas do outro lado ninguém me respondeu... Telefonei mais e outra vez, em vão!... 

Sabia que ele estava doente, tinha tido um AVC, e a seguir, se não erro, uma neoplasia, há dois anos e tal ... Ìamo-nos falando ao telefone, e ele pedia-me que lhe ligasse, sempre que pudesse... Queria agarrar-se à vida e às memórias da Guiné... Tinha um especial carinho e admriração pelo blogue dos camaradas da Guiné...

Hoje, liguei ao Torcato Mendonça, que era seu amigo, veio com ele duas vezes de férias á metrópole, e com ele fez várias operações nos subsetores do Xime, Mansambo e Xitole... Aquilo que eu suspeitava aconteceu, infelizmente: o António Vaz morreu na véspera de Natal, julgo que de 23 para 24, não posso garantir a data... Foi um antigo alferes da companhia que informou o Torcato, talvez o João Mata, se bem percebi,  ou foi o Torcato que apanhou uma mensagem por aí na Net...

Estou chocado!... Vou fazer um poste In Memoriam do nosso capitão... 

Paz à sua alma! Saibamos honrar a sua memória... Era nosso grã-tabanqueiro nº 544, salvo erro... Um homem afável, que comandou uma valente companhia!...

Luís Graça, editor [ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]

2. O António Vaz nasceu em Lisboa, em 29 de maio de 1936... Teria hoje portanto 79 anos. 

 No seu último aniversário, 29/5/2015, escrevi o seguinte comentário: 

"Não tenho telefonado ao António Vaz. Espero que ele ande mais animado e que a saúde vá melhor. Em dia de aniversário, faço votos para que assim seja. Força!, António". O Torcato Mendonça telefonei-lhe e comentou: "Foi bom ouvir a voz do Capitão Vaz do Xime, O meu abração de Parabéns.Abraço, Capitão, do Torcato"....

No ano anterior tinha-lhe dedicado um poste de aniversário, na minha série Manuscrito(s)

(...) "Antóno Vaz, valoroso capitão de Bissorã e do Xime, comandante da CART 1746... Hoje fazes anos, de acordo com o nosso poste da série "Parabéns a você"... Mas eu tenho estranhado o teu silêncio... Os médicos dizem que o silêncio dos órgãos é sinal de saúde... Na realidade, é mau sinal quando eles começam a "falar"... Mas eu refiro-me ao silêncio... das nossas comunicações bloguísticas. Há mais de um ano que não mandas um ALFBRAVO à gente...  Pergunto; o que é que se passa contigo, comandante ? A última vez que te vi, na Praça do Comércio, tinhas ido à faca...Mas senti-te em boa forma!

"Hoje é dia de festa, de aniversário... Eu e o resto da malta estamos contigo para te cantar os 'parabéns a você' debaixo do poilão da Tabanca Grande!... Lembras-te dos poilões do Xime, a última tabanca de que foste o 'régulo'! ? Levaram morteirada e canhoada em cima, mas ainda lá estão, dizem... Pois é isso que a gente te deseja: aguenta, capitão, força, António!(...)

E o Torcato escreveu em comentário, nesse dia 29/5/2014: 

(...)" Estive hoje a falar com o meu amigo Cap Mil do Xime. Está um pouco adoentado, recupera de uma intervenção cirúrgica e de pequenas maleitas, coisas próprias de um rapaz com mais dez anos do que eu, mas sempre igual e quero tanto continuar a senti-lo assim. O melhor para ele é o que desejo.Vai dar certo meu 'velho' amigo, Cap Vaz.

"Foi com ele e com a CART 1746 que aprendemos a estar naquela 'provincia ultramarina', depois, algum tempo depois veio o Poindon, Belel e Sinchã Camisa...muito mais, muito mais pelos anos 68 adiante" (...)

3. Os problemas de saúde do António Vaz remontavam já a 2013, como ele aqui recordava em poste de 12/4/2013

(...) Meus caros Camaradas da Guiné: estive afastado da vida normal dois meses e meio e, sem grandes e escusados pormenores, direi que, tendo saído de casa às 04.00 do dia 17 de Janeiro, INEM passei pelos Hospitais de S. José, Santa Marta e Clínica S. João de Ávila (para recuperação) e só voltei a casa no dia 4 deste mês (faz hoje 6 dias). Tive AVC (cerebelo), enfarte e aguardo cirurgia cardíaca nos próximos meses. Durante estes dois meses e meio não gozei a sombra do Grande Poilão, não tive acesso ao computador e, do Blogue, "nicles". (...)



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> O ex-alf mil João Mata (à esquerda) e o ex-cap mil António Vaz, à direita, ambos da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69). 

O João Guerra da Mata foi o último comandante do destacamento da Ponta do Inglês, um dos míticos topónimos da guerra da Guiné...(**)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


4. Tinha entrado para a nossa Tabanca Grande um ano antes, em 31/3/2012 (***), mas já acompanhava o nosso blogue desde 2011 (****):

(...) "A Tabanca Grande é um fenómeno que eu , que não sou bloguista, me deixa abismado e de certo modo surpreendido, porque que eu saiba não tem paralelo com outras formas de depoimento escrito sobre outros teatros de operações nem outras actividades. Para todos que erigiram e alimentaram com contribuições várias este blog presto aqui as minhas merecidas homenagens. (...)

Tem um série, com três postes, assinada por si, "Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)"... Em 2012, esteve presente, com o João Mata, no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real.

É um perda pesada para a nossa Tabanca Grande onde relativamente poucos comandantes operacionais (capitães milicianos ou do quadro) dão a cara... Ele honrou-nos com a sua presença, amizade e camaradagem. Façamos um minuto de silêncio em sua homenagem antes das 12 babaladas para a meia noite do fim de ano. (*****)

Lembremo-nos também dos outros dois camaradas da Tabanca Grande que nos deixarem este ano, e de cuja morte tivemos conhecimento: Amadu Bailo Jaló (1940-2015) e Manuel Moreira de Castro (1946-2015).

As nossas sentidas condolências para a família, esposa, filha e netos (Sabemos que tinha, pelo menos, uma filha e netos). Bem como para a "família alargada" da CART 1746, e para todos os amigos e camaradas que tiveram o privilégio de o conhecer.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15552: (In)citações (80): Amigo/a, camarada, faz a tua prova de vida: Manda-nos um simples "OK! Tudo bom! Vou indo" ! ... E os editores aproveitam para te desejar o melhor ano possível em 2016, apesar das dificuldades, enfermidades, mazelas, contrariedades, problemas, sacanices, minas e armadilhas que enfrentamos, cada vez mais, à medida que o tempo... pula e avança

(**) Vd. poste de  7 de junho de  2012 > Guiné 63/74 - P10009: Memória dos lugares (185): Saiba V. Excia que está na Ponta do Inglês!, disse o Alf Mil João Mata para o Brig Spínola (António Vaz, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

(**) Vd. poste de 31 de março de  2012 > Guiné 63/74 – P9684: Tabanca Grande (326): António Vaz, ex-cap mil CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69


(...) O meu nome é Antonio Gabriel Rodrigues Vaz, lisboeta, de 75 anos e andei pela Guiné de Julho de 1967 a Julho de 1969 como comandante (cap mil) da Cart 1746. Até Janeiro de 1968 em Bissorã e no Xime até ao fim da comissão ou seja até 14 horas antes de embarcar no Niassa de regresso a Lisboa onde cheguei na véspera do Santo António de 1969.

A Cart 1746 cruzou-se com com algumas unidades de que fazem parte camaradas que frequentam a Tabanca Grande e que estiveram num e noutro sector embora o L1 [, Bambadinca,] seja mais "concorrido" o que se compreende.

Confissão: As minhas recordações da Guiné não têm uma intensidade uniforme. Dizendo melhor, vêm e vão por marés durante estes 45 anos embora nestes últimos tempos tenham vindo como um macaréu que não baixa. Ficam sempre em maré cheia, talvez por culpa da Tabanca Grande.  A idade é também um facto importante e parece que, ao chegar ao fim do caminho (e isto sem dramatismos) aqueles anos tomaram uma relevância que aqui há 20 ou 30 anos não tinham. Andei entretanto por outras "guerras" mas é aquela que vem sempre à tona talvez por ser uma coisa que nada ter tido a ver com a vida profissional, social e civil em que me movimentava.

As circunstâncias excepcionais em que decorreu (nem toda a gente esteve envolvida num conflito armado sem ser militar de carreira) é hoje o motivo que escrevo estas palavras e porque presentemente percorro com frequência a Tabanca Grande da primeira à ultima morança.

A Tabanca Grande é um fenómeno que eu , que não sou bloguista, me deixa abismado e de certo modo surpreendido, porque que eu saiba não tem paralelo com outras formas de depoimento escrito sobre outros teatros de operações nem outras actividades. Para todos que erigiram e alimentaram com contribuições várias este blog presto aqui as minhas merecidas homenagens.

Eu e a malta da Cart 1746 partilhámos convosco, na Guiné, toda a sorte de provações, vivendo em más e precárias instalações, com faltas de toda a ordem, atascámo-nos nas mesmas bolanhas, cortámo-nos no mesmo capim verde e fugimos do seco, das abelhas, tivemos a mesma sede, sofremos emboscadas e gramámos ataques ao estacionamento, encharcámo-nos com as mesmas chuvas e tivemos insolações, isto tudo para além dos inevitáveis mortos e feridos que lamentamos e lamentaremos sempre profundamente e que não esquecemos.

É por tudo isto que nos irmanamos no blog Tabanca Grande

Um abraço para todos do António Vaz. (...)


(****) Vd. postes de:

20 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11429: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (1): os meus picadores e guias, Seco Camará e Mancaman Biai

(*****)  Último poste da série > 28 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15547: In Memoriam (242): Senhora D. Georgina de Almeida Alves Araújo [1928-2015], Mãe do nosso camarada Jorge Araújo. Estará em Câmara Ardente a partir das 18 horas de hoje, 2.ª feira, na Igreja de Almada, realizando-se o seu funeral na próxima 3.ª feira, às 13h30, para o Cemitério do Feijó - Almada

sábado, 15 de novembro de 2014

Guiiné 63/74 - P13898: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVI: maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT


Foto nº 1 > "Algumas centenas de metros mais abaixo o Corubal enfia-se no Geba (...). A vista é extasiante, o que mais perturba o Tangomau é imaginar que se viveu naquele inferno e com aquele panorama edénico, pelo menos o que se avista em direcção a Quinara, a escassos quilómetros. "


Foto nº 2 > "A vista é extasiante, o que mais perturba o Tangomau é imaginar que se viveu naquele inferno e com aquele panorama edénico, pelo menos o que se avista em direcção a Quinara, a escassos quilómetros. " (...)

Foto nº 3 >  "Pouco resta da casa de Inglês Lopes, ao que parece era este o dono da Ponta (... ) Entre 1964 e 1966, a qui esteve um pelotão destacado da companhia do Xime, mais um pelotão de milícias. (...) O destacamento vinha até junto à água, havia um pontão para receber as embarcações, tudo desapareceu".

[Nota de LG:   antigo embaixador em Lisboa da República da Guiné-Bissau, Constantino Lopes, ex-Combatente da Liberdade da Pátria, que esteve preso no Tarrafal, de 1962 a 1969, é hoje o único herdeiro e proprietário da Ponta do Inglês, exploração agrícola, de 50 hectares; o seu pai, Luís Lopes, tinha por alcunha o Inglês; informação que me foi dada pelo próprio Constantino Lopes em 12/11/2008, no Museu da Farmácia, no lançamento do livro do Beja Santos, "O Tigre Vadio"].


Foto nº 4 > "Gã Garneis [ou Gã Garnes, Ponta do Inglês], fixa-se a legenda, estamos no centro de um antigo quartel, apresentam-se pessoas, o Tangomau conversa com Jubalo Jau, que fora prisioneiro na luta, capturado numa operação entre o Buruntoni e a Ponta do Inglês" (...



Foto nº 5 > "É nisto que se faz a aproximação e se vêem as marcas das balas, sabe-se lá se de rajadas ou de tiro-a-tiro. O que interessa é que ficaram lá, entre esculturas. É impressionante, os próprios guias dizem que a população aqui vem regularmente relembrar o que faz uma guerra, ver as marcas que a natureza não pode absorver, as árvores não gritam, tornam-se esculturas vivas, memoriais de sofrimentos ignorados. Se os habitantes de cá respeitam estes pavores da guerra, o que é que nos falta para iludirmos que devemos alguma homenagem a quem tanto aqui penou, mesmo por escassos anos? " (...)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Gã Garnes [ou Ponta do Inglês] > Novembro de 2010 >  Viagem de Mário Beja Santos (Op Tangomau) (*)



Fotos: © Beja Santos (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação da História do 
António Duarte
BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, 
no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir
de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (**)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974;  foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso temos indicado); economista, bancário reformado, formador; foto atual à direita].

O único destaque do mês de maio de 1973, vai para: (i)  a  fraca atividade do IN no início do tempo das chuvas; e a (ii)  a informação de que está a "recrutar coercivamente" mancebos nas populações sob o seu controlo (Ponta Varela, Poindom, Ponta do Inglês. Ponta Luís Dias) (pp. 55/57) (LG).

Dez anos depois do início da guerra, o PAIGC continua a manter,  sob o seu controlo,  um importante núcleo populacional, espalhado pelo sector L1 (subsetores do Xime, Mansambo e Xitole: Cancodea Befada, Cancodea Balanta, Mina, Ponta João da Silva, Ponta Luís Dias, Satecuta. Mangai) e estimado em 4100 pessoas, em 1970, pelo comando do BART 2917, a que se deverá juntar mais 1900, a norte do Rio Geba, nas regiões de Madina e Banir). Contas feitas, no setor L1, o IN teria uma população de 6 mil sob o seu controlo. Em contrapartida, a populção sob controlo das autoridades portuguesas andaria à volta das 20 mil, também segundo a mesma fonte.

Ainda de acordo com a história do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72),  "na área do sector do Bart [2917]  existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do Enxalé, Nhabijões e Finete, ou estão abandonadas (Samba Silate, São Belchior, Saliquinhé, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do Rio Corubal e margens do Rio Malafo)."  (LG).

Maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT













_________________

Notas do editor:

(*) Vd- poste de 11 de janeiro de  2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês


(...) Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês

1. Toda a região do Xime exerceu e exerce fascínio no Tangomau. (...)

Foi ali, de 1962 para 1963, que se abriu a segunda frente, Domingos Ramos vivia em Tubacutà, dentro da mata do Fiofioli; chegaram ao arrojo de colocar em Gundaguê Beafada um dístico “Aqui começa o território livre da República da Guiné, isto em 1963. 

A despeito do que era propalado pela propaganda, o controlo do Xime e Bissari, até ao Corubal, era exercido pelas forças comandadas por Domingos Ramos e pelos líderes que lhe sucederam. O Xime era um eixo estratégico e daí a tentativa, que se prolongou por alguns anos, de ter aberta a via até à Ponta do Inglês, na desembocadura do Corubal, em frente a Quinara.

 Esta estrada irá ser um calvário, entre minas e emboscadas, ali se verteu sangue e o destacamento da Ponta do Inglês tornou-se um inferno. O que o Tangomau conhecia era a região de Ponta Varela, o Poindom, até à Ponta do Inglês e respectivos acessos. A população cultivava as bolanhas, fundamentais para o aprovisionamento, era terras úberes; a navegação no Corubal fora tornada impraticável, de modo que qualquer saída do Xime e qualquer detecção significava confronto a prazo. (...)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13699: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XIII: fevereiro de 1973: (i) a população sob nosso controlo não gostava da "psícola"; corruptela de "ação psicológica"; (ii) operação de envergadura na península da Ponta do Inglês, com 5 mortos confirmados do IN e 7 feridos da CCAÇ 12, todos da secção do fur mil Duarte


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... É uma imagem que se repetia  ao longo dos anos, sempre ou quase sempre que havia  operações à península da Ponta do Inglês. Desde a sua formação, em julho de 1969 e até à sua extinção, em agosto de 1974,.  a CCAÇ 12, subunidade de intervenção, esteve  às ordens de pelo menos 3 batalhões sediados em Bambadiinca: BCAÇ 2852 (1968/70), BART 2917 (1970/72) e BART 3873 (1973/74)... Depois de dar e  levar muita "porrada", a CCAÇ 12 foi guarnecer o aquartelamento do  Xime como subunidade de quadrícula, em meados de 1973, quando a CART 3494  foi colocada em Mansambo, subsetor que aparentemente se tornou-se, nesta altura (1972/74)  mais calmo do que no meu tempo (1969/71) e no tempo do Torcato Mendonça e do Carlos Marques dos Santos (CART 2339, 1968/69).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Continuação da publicação da história do BART 3873(Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
O grande destaque do mês de fevereiro de 1973, a seguir à  morte de Amíolcar Cabarl (1924-1973)   vai para:
(i) É a a época das queimadas, feitas em grandes extensões tanto pelas NT como pelo IN;

(ii) A população sob nosso controlo não gosta da expressão "psicola"; corruptela de "ação psucológica";

(iii) Na Op Bate Duro (de 25, às 5h30, a 27 de fevereiro de 1973, às 15h00), no susetoro do Xime (Ponta Varela / Ponta do Inglês / Ponta João Silva / Poidom), envolvendo forças da CCAÇ 12 (3 gr Comb), CART 3494 (3 Gr Comb) e ainda os GEMIL 309 e 310 (Enxalé),  o IN soferu 5 mortos confirmados; foi, semdúvia, um  dos palcos, a península da Ponta do Inglês, um dos palcos  mais sangrentos da história da guerra colonial (ou da guerra de libertação) no TO da Guiné;

(iv) Nesta operação de patrulhamento ofensivo,  emboscadas e montagem de armadilhas, a CCAÇ 12 teve 7 feridos, todos da secção do António Duarte  (que era a da bazuca); o Duarte não participou nesta operação  por estar de férias em Bissau, mas deixou esta nota, a vermelho, na cópia do exemplar  hsitória da unidade que nos mandou,

Fevereiro de 1973: operação de envergadura na região da Ponta do Inglês / Poindom, com 5 mortos confirmados do IN e 7 feridos da CCAÇ 12.





















(Continua)



Guiné > Zona Leste > Croquis do Setor L1 (Bambadinca), que coincidia em parte com a antiga Zona 7 do PAIGC (margem direita do Rio Corubal) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas). 

[Veja-se a localização do Ximer, Ponta Varela, Poidom  e Ponta Lu+is, topónimos acima referidos. No Arquivo Amílcar Caberal, Ponta do Inglês e  Ponta Luís Dias são sempre referiidas como Gã Dias e Gã Carnês ou Garnes.Grande parte da população (balanta) que vivia na Ponta do Inglês e  na Ponta Luís Dias tinha fugido de Samba Silate, perto de Nahbijões,  no início da guerra] (LG)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13015: 10º aniversário do nosso blogue (15): Manuscrito(s) (Luís Graça): O país que via passar os comboios (Ilustração de Joana Graça)

O país que via passar os comboios

por Luís Graça


14:13h. Coimbra B.
Estação da CP.
Deprimente.
Como todas as estações B do mundo.
Como todas as estações da CP.
B, de 2ª classe.
B, segunda letra do alfabeto.
Como todas as estações da CP 

urbanas, suburbanas e rurais.
Deprimentes.
Todas as estações de caminho de ferro do mundo 

são deprimentes.
Abro talvez uma exceção para os apeadeiros.
São bonitos, os apeadeiros.
Ou eram bonitos os apeadeiros da CP,
quando havia o cavador, 

o burro, 
o boi, 
a charrua,
o camponês, 

o zé povinho, camponês e burro,
besta de carga, carrejão.
A horta, a saída direta para os campos.
As hortas.
Ah!, e os azulejos azuis e amarelos Viúva Lamego
nas quatro estações do ano!
O termo apeadeiro enternece-me,
faz-me lembrar os tempos em que se ia às hortas.
Eu já não sou desse tempo.
Mas os alfacinhas iam às hortas dos saloios:
Benfica, Porcalhota, Pontinha, Sintra, Caneças, Colares ...
Faziam piqueniques,
cantavam o fado da desgraçadinha

e no fundo eram felizes.
Gosto do termo apeadeiro.
E da ideia de ir passear às hortas.
Em família, aos domingos, de comboio.
Ronceiro, o comboio.
Ronceira, a vida da gente.
Li isso algures numa história qualquer sobre os comboios
que unificaram o país de norte a sul.
Há uma dívida de gratidão 

que é devida aos comboios.
E aos homens dos comboios.
E aos engenheiros das estradas e pontes.
E aos operários que as construíram.
Ao zé povinho da cidade e dos campos.
Ao engenho e à obra.
Ao Fontes.
Ao Pereira.
Ao Melo.
Ao fontismo.
Ao positivismo.
Ao génio organizativo.
Mesmo que a minha professora
de Sociologia Histórica das Classes Laboriosas,
discípula do E.P. Thompson,
só gostasse dos corticeiros.
Que eram anarcossindicalistas.
Sempre suspeitei que ela não gostasse dos cavadores.
Nem de comboios.
Nem de hortas.
Nem do Fontes.
Nem dos ferroviários,
Nem dos camponeses e dos burros e dos bois.
Naquele tempo parava-se em todas estações e apeadeiros.
E havia tempo, 

não havia pressa.
Não havia stresse naquele tempo.
Colhiam-se papoilas vermelhas no meio do trigo.
Não havia tempo para se ter stresse.
Morria-se cedo.
Ou nascia-se tarde,
sem tempo de ver crescer filhos e netos.
O stresse é uma construção social do meu tempo.
E não havia bombas nos comboios.
Ao alcance de um qualquer toque de telemóvel,
da Nokia, da Samsung ou da Siemens, tanto faz,
que as novas tecnologias quando nascem 

(não) são para todos!
Ou talvez houvesse stresse
mas chamavam-lhe outra coisa.
Afinal, essa coisa é tão velha como a vida.
E morria-se cedo naquele tempo.
A esperança média de vida é um artefacto estatístico.
E há sessenta e tal anos, na França ocupada,
os ferroviários também punham bombas.
Nas linhas de caminhos de ferro.
Matavam os seus postos de trabalho
em nome da liberdade.
Punham bombas para fazer descarrilar os comboios.
Sabotagem. 

Resistência ao ocupante nazi.
Hoje seriam caçados como terroristas internacionais.
Não sou ferroviário 

nem resistente 
nem terrorista.
Nem sequer anarcossindicalista.
Estou numa estação deprimente.
Coimbra B.
Coimbra merecia, pelo menos, uma estação A.
Este país, bom aluno da Europa, 

devia merecer uma letra A.
Nem que fosse Coimbra A.
Ouço uma voz gritante.
Alfarelos. 

Com paragem não sei onde.
Nunca soube, ao certo, onde fica Alfarelos.
É algures no meu país profundo.
Assim como Freixo de Espada à Cinta 
que ninguém conhece.
Não, vim de boleia.
Muito obrigado.
De Viseu.
Aguardo o Alfa Pendular para Lisboa.
Aliás, Lisboa SA.
Deve chegar às 15:16h.

── Lisboa, Santa Apolónia ?
── Não, Lisboa, Sociedade Anónima! 
──
corrijo o portuga por detrás do guiché.
── Não, não quero Santa Apolónia.
Quero a Estação de Lisboa Oriente.
E depois... o que diria o Zé (Cardoso Pires)!
── Lisboa, SA!
Pergunta o portuga, caixa de óculos,
por detrás do bunker envidraçado,
que fala em nome da CP de todos nós.
── Conforto ou turística ? ──
olhando para mim, 
como se quisesse me tirar as medidas.
Ou adivinhar a minha secreta conta bancária.
── 2ª classe, se faz favor!
── Turística.... 2ª classe, por defeito.
Para quem não ostenta sinais exteriores de riqueza.
Classe B.
E eu a pensar ingenuamente que já não havia 2ª classe.
Comboios de 2ª classe.
Gente de 2ª classe.
País de 2ª classe no desconcerto das nações.
(Ah!, meu velho José Rodrigues Miguéis,
e a tua, nossa, gente de 3ª classe
nos porões nauseabundos dos cargueiros
que rumavam às Américas da Liberdade!).
Devo ter percebido mal.
Os comboios e a CP também se democratizaram.
Agora só há conforto e turística,
no Alfa Pendular de todas as emoções e condições.
O Portugal SA já não é mais classista.
Para ter classe basta ter dinheiro no multibanco,
minha querida professora.
Mas, mais seguro, é no cofre forte da Suiça 
ou num off shore qualquer.
É o que se chama mobilidade social total.
Fugir à condição de besta de carga.
── Vê-se mesmo que o senhor 
é um utente acidental da CP,
já não há 2ª classe.
── Sou um mau utilizador do comboio, 
peço desculpa ──
Comprei um bilhete de 2ª classe.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.

Apeteceu-me dizer-lhe:
── O senhor, desculpe, 
mas eu sou fã dos comboios.
Tenho uma dívida histórica 
para com os comboios,
que unificaram o meu país.
Pode não ser seu, mas é meu.
Tenho orgulho nele, o meu país.
E tinha que lhe dizer isto.
Vou para Lisboa, SA, 

capital do reino que já foi império,
desço na Gare do Oriente...

Tenho tempo.
Ou penso que tenho tempo.
Nada como esperar um comboio
numa estação de tipo B, Coimbra B
para saber o que é isso de ter tempo.
É bom ter tempo.
Uma hora de avanço.
Nada de stresse.
Não penses na morte.
Que o stresse mata, 
como uma bala de Kalash.
Peço uma sandes manhosa no bar da esquina.
Bebo uma topázio que é uma cerveja local.
Compro o Zé Cardoso Pires no quiosque.
A república dos corvos.
Um livro de contos.
Jornal Público.
Colecção Mil Folhas, ao preço de hipermercado.
Redescubro o meu velho Dinossauro Excelentíssimo,
que li na revista Almanaque, se bem me lembro.
Deambulo no cais de embarque
como o prisioneiro no pátio da prisão.
E leio a única coisa interessante
que está afixada numa das paredes da estação de Coimbra B.
Alguém ali mandou afixar,
creio que em bronze (sou mau em metais),
o seguinte:
"Neste cais da estação de Coimbra, embarcou,
no dia 15 de Maio de 1982, Sua Santidade,
o Papa João Paulo II".

O artista não quis desqualificar a estação nem a cidade.
Coimbra B ?,
O que diria a corte papal! 
Os grandes deste mundo!
E os turistas que visitam a cidade dos doutores!
E os vindouros!

Que mais vale um ano de tarimba
do que dez de Cloimbra ?!
Nem pensar.
Por isso lá fica a tabuleta. 
Para a história.
Para o viajante distraído, apressado ou deprimido como eu.
Ou se calhar para ninguém.
Só para a História.
Afinal, quem lê neste país placas de bronze
afixadas em estações B da CP ?
Aliás, quem lê neste país, 
perguntaria a minha querida professora ?
Histórias aos quadradinhos
mas não a História com H grande.
Um dia um arqueólogo, um historiador ou um antiquário
desaparafusa a placa 

e leva-a para casa,
para o museu 

ou para a loja de antiguidades.
Não, nada acontece em Coimbra B.
Mas por aqui passou um peregrino.
João Paulo II. 
Um dia, em 1982.
Por aqui passou Jesus Cristo,
na pessoa do seu representante na terra.
Sou mau em metais e em teologia,
mas esta é a minha leitura.
Que me desculpem os escribas mais doutos do que eu.
Que me desculpem os lentes de Coimbra.
Chega o Alfa, just in time, à tabela,
como na linha de montagem automóvel pós-taylorista 

da Auto Europa.
Entro no Alfa e sinto-me quase europeu
na ponta mais acidental da Europa ocidental.
Com o lusitano Mondego aqui ao lado.
Admiro a eficiência das sociedades pós-tayloristas e cosmopolitas.
A nossa nunca chegou a conhecer o sr. Taylor
nem os seus principles of scientific management.
Nem a ética protestante nem o alemã Max Weber.
Provinciana e ronceira, a tua terra,
lá diriam o Eça e a minha professora,
que é queirosiana e estrangeirada.
Acelera o Alfa

E bate o meu coração.
Tenho um secreta vertigem suicidária pela alta velocidade.
Dou por bem empregues os meus 17 euros,
IVA incluído à taxa de 5%.
Isto faz bem à minha autoestima.
Sobretudo depois da sandocha manhosa e da topázio morna
que engoli, de pé, 

ao balcão do bar manhoso
da estação deprimente de Coimbra B.
── Quanto vai dar ?
── Chega aos 200 ou mais! ──
diz-me um puto de brinco na orelha...
Não apostei. 
Nem gosto de apostas mútuas.
Deixei de ser solidário, 
que me desculpe a Santa Casa da Misericórdia.
── Umas cartas para passar o tempo ?
── Não, obrigado, não jogo, não aposto, não fumo.
Tenho livros para ler. 
──
Abranda o Alfa,
lá para os lados da Albergaria dos Doze.
Regresso à idade média da minha memória coletiva.
O caminho de Santiago. 
As albergarias.
Já em terra dos mouros.
La folie meutrière de la réligion.
A tua, a minha.
Deus é grande e tem muitos profetas.
São bons hortelãos, os mouros e os moçárabes.
── Chega à tabela. 
Dezassete e seis na Estação do Oriente ──
diz-me o pica, orgulhoso.
── Até que enfim que os comboios partem 
e chegam à tabela,
na nossa terra.
Fico sempre com inveja 
quando vou a Amesterdão e a Leiden.
Quando ia à Holanda, que agora já não vou.
Quero dizer, ao estrangeiro de fora.
── Já não te calha na rifa, ó Ramalho!,
agora são vinte e cinco cães a um osso, 
ó Ortigão!
── Vai desejar tomar alguma coisa ? ──
pergunta no futuro próximo o homem-do-chá-café-laranjada...
── Um Prozac, por favor.
── Lamento, mas já não temos. Esgotou-se.
── Sim ?
── Esgotou-se na última viagem que fizemos ao inferno.
11 de Março último. Estação de Atocha.

── Atocha ?
── Sim, Atocha, Madrid...Não lê os jornais ?
── Não, acabo de chegar doutro planeta.
── En Madrid existen dos estaciones principales de tren:
Chamartín y Atocha.
Ambas son estaciones de trenes 
de largo recorrido y de cercanías...
── Muchas gracias!, não sabia.
Não vou a Madrid há anos. 
Estou de costas viradas para a Europa.
── Atocha está situada en la zona sur de la ciudad,
muy cercana al centro.
Desde ella salen todos los trenes de largo recorrido
que van a levante y al sur de España.
También algunos trenes de los que pasan por la estación
se dirigen luego a Chamartín
y luego a destinos en la mitad norte de la península.
Dentro de la estación hay otra estación,
llamada Puerta de Atocha
desde donde sale el tren de alta velocidad (AVE)
que va a Andalucía.
..
── Muchas gracias! Vejo que é um homem lido e viajado.
── Só faço a península ibérica.
── Ah!, a jangada de pedra...
── Perdão ?!... 

Sabe, nasci no Entroncamento,
Filho e neto de ferroviários.
Os comboios estão-me na massa do sangue...
Mas a Espanha para mim é pura emoção.
Uma tragédia horrível, aquela..
.
── E não tem medo do futuro dos comboios ?
── Não... Sabe, com os aviões passou-se o mesmo.
Enfim, um homem tem que ganhar a vida. 
De qualquer jeito.
── Deixe, a vida continua... 
As bombas explodem...
As guerras passam.
Olhe, já agora dê-me um compal de maçã.

Fico sempre deprimido quando tomo o comboio.
Ou quando parto.
Ou penso em bombas nas casas de banho
das carruagens dos comboios.
Ou quando bebo compal de maçã.
Não sei por que pedi o raio do compal.
Reflexo condicionado. 
Empatia. 
Compaixão.
Que é coisa rara, tomar o comboio.
E pensar em bombas.
E ter empatia.
E beber compal.
Houve um tempo em que pensava em minas.
Anticarro. 
Antipessoais.
Minas. 
Bailarinas. 
O ballet da morte.
Nasci numa terra onde não passavam comboios.
É um estranho sentimento, esse,
que me acompanha desde pequeno.
Mas o compal de maçã até é bom.
É português, é nosso.
E dizem que vale mais do que uma chávena de café.
Para te tirar o sono.
Antes de partires às 3 da manhã,
para a Ponta do Inglês.
── Ponta do Inglês ?!... 

Já sei, saíste cedo da casa de teus pais,
Ainda menino e moço!
── É a voz do sangue,
o meu lado de marinheiro que nunca fui.
Em boa verdade, detesto os entroncamentos.
Rodo ou ferroviários.
As picadas. 
Os trilhos.
Detesto o Entroncamento.
Da primeira vez que lá passei.
Meia de dúzia de casas mal caiadas,
uma feixe de linhas,
cheiro a óleo, a mijo e a sucata.
Mas tenho a nostalgia dos cais de embarque.
A nostalgia do mar e da maresia.
Uma palavra que mexe comigo.
Cais. 
Cais de embarque.
Cais de partida.
Niassa. 
Rocha Conde de Óbidos.
Num comboio que veio da noite, silencioso e triste.
Do Campo Militar de Santa Margarida.
Destino: Lisboa.
Com carga para outro destino: Bissau.
Mercadoria=carne para canhão,
alguém escreveu, a spray,
um grafito na última carruagem.
na primavera de 1969.
Numa outra primavera que não chegou a haver.
── Política, meu estúpido!,
a primavera política do Marcelo Caetano.

── Sim, eras jovem.
E não vias a luz ao fundo do túnel.
Nem muito menos as luzes da cidade-luz.
Paris. 
Perdeste o último comboio para Paris.
Com o teu amigo que queria ser pintor,
Fernando Nobis.
Com paragem, talvez em Atocha,
para visitar o Greco, o Velasquez, o Goya,
os grandes de Espanha que estão no Prado...
── Paris, es doido, ou quê ?! 
Com a pide à perna,
mais os carabineiros da guardia civil!



Fazia sol e frio em Viseu.
O país profundo. 
O país que mexe, dizem-te.
Gosto sempre de ler os jornais da terra
quando estou no hotel.
Duas estrelas, o hotel. 
Novo, a cheirar a tinta.
Bom serviço. 
Comida caseira. 
Faces rosadas.
E duas mamocas que cabem na palma da mão.
Mas faz frio à noite.
── Voyeurismo! ── pensa ela,
a rapariguinha do bar. 
Oito páginas,
Entre notícias locais 
e os pequenos anúncios desclassificados.
Duas páginas de anúncios pessoais.
"A brasileira do bumbum"...
"A universitária que faz oral"...
"A mulatchinha dengosa"...

Linguagem de código.
A semiótica da solidão. 
Do sexo triste e solitário.
── Meu bem, ligue para o meu telemóvel,
que a crise bate a todas as portas,
sem distinção de género, 

etnia, 
cor, 
condição 
ou religião.
── A crise também chegou ao teu país profundo, baby.
── Ah!, mas Viseu, como cresceu, meu Deus!
── Não sei se cresceu bem... 
Não sou de cá.
O Politécnico. 
O túnel de Viriato.
Os colóquios. 
Os debates.
As ideias. 
Os intelectuais e artistas que vêm de fora.
O génio do Grão Vasco.
O comércio. 
O fórum, que há-de vir.
A Grande Área Metropolitana de Viseu.
Quase 400 mil.
O orgulho de se ser do Kavaquistão.
O que é feito do RI 14 ?
Não sei, a guerra acabou.
Foi bom para cidade,
A tropa, a guerra, o regimento.
── Ruas, estás de granito! ── 
diz o grafito.
(Ruas é o chefe da tribo, presumo.
Nada como um bom grafito na terra do Grão Vasco).
── Apreciem o lado empreendedor dos beirões.
── Só falta a Universidade,
que mais de 10 mil estudantes do politécnico já cá temos.
── Tiraram-nos a Faculdade de Medicina,
os sacanas da Covilhã.
──
(Outro lóbi beirão, o da Covilhã).
Registo o orgulho dos miúdos e miúdas
da Associação de Estudantes
da Escola Superior de Enfermagem de Viseu
que realizam anualmente as suas jornadas.
O país mexe. 
Viseu mexe.
O país profundo mexe. 
O Kavaquistão.
Os jovens deste país mexem.
Mesmo com capa e batina,
vestidos de preto,

como o corvo do Zé (Cardoso Pires).

16:30h. 
Passei o corpo pelas brasas.
Perdi um pedaço de mundo.
Revisitei outros infernos.
── O Alfa vai a 140, ó puto.
──
Temperatura: 19º interior. 20º exterior,
leio no tableau de bord.
── Mas agora abranda. 129, 101, 74, 52...
Está parado.
── Porquê ?
Uma placa com um S, outra com um M.
Não percebo nada da sinalética dos comboios.
Obras. 
Modernização da linha.
Tenho um pensamento piedoso e nobre
para com os trabalhadores anónimos
que constroem as novas linhas 
dos caminhos de ferro do futuro.
Ucranianos ? 
Africanos ?
Guineenses ? 
Ex-camaradas teus ?
Imigras ? 
Clandestinos ?
── Não lhes vejo nem a cara nem o passaporte.
── Podiam estar a trabalhar na estufas de Almeria,
O inferno na terra. 
Mas aí são magrebinos.
── O novo proletariado do Século XXI...
── Desço na Oriente.
Mandem alguém da empresa buscar-me.
── Dá o Benfica na esporte tê vê.
── 
E de novo o Alfa em marcha...
A paisagem muda.
A paisagem industrial da bacia do Tejo.
A ocupação selvagem da lezíria.
Mataram os campinos e o gado bravo.
E os flamingos. 
E as ostras,
Les petites portugaises,
acompanhadas com Champagne.
Em Paris.
Comment ils sont toujours gais, les portugais!
O branqueamento de dinheiro
que vai por essa nova Lisboa 
do Próximo Oriente.
A luxuriante estação do Oriente,
desenhada pelo Calatrava.
A ostentação dos ricos.
Just in time
17:06h. 
Cheguei.
Balanço do cliente:
── Pensei que já fosse o TGV. 
O TGV é que é.
── Não é o TGV, 
mas por mim não desgostei.
De viajar no Alfa Pendular. 
Turística, claro.
Que é como quem diz, 2ª classe.
De Coimbra B a Lisboa SA.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
Mais 10% de desconto nos Hotéis Tal &Tal.
Tive tempo para (des)arrumar algumas ideias.
── Ah!,o  país que via passar os comboios!...
E o puto tinha razão:
── Na ponta final, o Alfa Pendular dá mesmo os 210.

Um dia ainda vou ter orgulho na CP.
E na terra onde nasci, ao pé do mar.
E onde nunca vi sequer passar os comboios.
Os comboios não passam na minha terra.
onde só há moinhos de vento
com búzios do mar
que falam de mouras encantadas.
Nem os comboios chegam a Viseu.
Um abraço aos Viriatos.
Até para o ano.
Voltarei, se me convidarem,
de Expresso, por esses ipês acima.

Com regresso de comboio,
se não sabotarem o comboio 
que pára em Coimbra B.
E prometo ao barman 
que não me esquecerei de Atocha.
Sobretudo não esquecerei Atocha,
quando voltar a Coimbra B,
outra vez.
Não esquecerei as bombas de Atocha,
nem as minas e armadilhas 
da Ponta do Inglês.

Coimbra-Lisboa, Alfa Pendular, 25/3/2004. 
Revisto, Alfragide, 21 de abril de 2014

© Luís Graça  (2004). Todos os direitos reservados



Joana Graça (2014) - S/ título. Técnica mista 100 cm X 80 cm

Cortesia de © Joana Graça (2014). Todos os direitos reservados


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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13014: 10º aniversário do nosso blogue (14): Manhã de Páscoa, ao som da Sonata Moonligth, de Beethoven (J. L. Mendes Gomes)