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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9523: Memória dos lugares (177): Aldeia Formosa e os camaradas que nunca mais vi (Álvaro Vasconcelos)

Vista aérea de Aldeia Formosa


1. Mensagem do nosso camarada Álvaro Vasconcelos*, 1.º Cabo Transmissões do STM, Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72, com data de 20 de Fevereiro de 2012:

Boa noite camarigo Carlos Vinhal
É com muito gosto que dirijo esta mensagem.

Obrigado pela publicação do texto que remeti quando do aniversário do Luís Graça. Alongo as alusões a ele remetidas, como reconhecimento do trabalho que se propaga no Blogue, por graça de Deus e por providencial iniciativa de todos vós, editores (desde há seis anos, se não mais) das estórias duma juventude sofredora - nascida numa era de pós-guerra, vivendo um tormento de mais de 14 anos de luta intensamente retrógrada, e castradora, do mais elementar período da vida de quem é jovem - nos anos em que se sonha(va) com a constituição de família autónoma dos progenitores, e nos obrigaram a viver afastados do mundo.
Desgraçadamente hoje os jovens sofrem outro tormento: o desemprego!... Por isso, ajudemo-nos uns e outros!...

Anexo as fotografias que presumo servirão para "retocar" (ou complementar) o post.

Aproveito para dar alguns pormenores que não indiquei:

Eu fui 1.º Cabo Radiotelegrafista, 08025769;
Presentemente sou aposentado - trabalhei no ramo segurador até aos 58 anos.
Após a aposentação mudei-me para o interior e resido em Baião.
Como casei em Matosinhos, onde residi e nasceram os filhos, frequentemente passo alguns dias de cada mês em Leça da Palmeira, onde posso desfrutar do mar e do movimento das embarcações no Porto de Leixões. Enfim: é a PAIXÃO pelo "Horizonte" e pelo "Mar" desta região tão marcante na minha vida.

A primeira, foi conseguida à porta do Posto de Transmissões do aquartelamento: Lembro o Agostinho Barbosa (de pé à esquerda); o Furriel CMDT do Posto; o Tony: em baixo, o Costa e eu.

Na seguinte, aparecem, da esquerda para a direita; o Agostinho, o Fonseca (condutor do Pel Fox) e o Tony.

A outra, nos "matraquilhos", jogava o Carlos Alberto (em primeiro plano), também com o resto do pessoal da guarnição do Posto de Transmissões.

Esta malta não mais se encontrou.

Tenho mais umas quantas fotografias. Vou tentar remetê-las em outras mensagens, oportunamente.

Por agora, um abraço reconhecido.
Muita saúde, para ti e para a família.
Bem hajas!
Álvaro Vasconcelos
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9434: Tabanca Grande (320): Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, Transmissões STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9505: Memória dos lugares (176): Buruntuma, lá no "cu de Judas"...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9434: Tabanca Grande (320): Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, Transmissões STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)

1. Mensagem do nosso novo tertuliano, camarada Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, Transmissões do STM, Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72, com data de 29 de Janeiro de 2012:

Camarada Luis Graça, muitos parabéns.
Esperamos que a vida lhe sorria, com muita saúde e um incomensurável pacote de bem-aventuranças!

Sou um ex-combatente, Álvaro Simões Madureira Vasconcelos, nasci em 1948.
Fui incorporado em 6.5.69, RI-10 – Aveiro. Depois da recruta, colocaram-me no Regimento de Transmissões, no Porto, de onde sou natural.
Em Outubro, desse ano de 69, fui para Lisboa. Em Sapadores, no Batalhão de Transmissões, conclui um curso intensivo de STM.

Fui colocado na Foz do Douro, no Castelo, junto ao Law Ténis, a prestar serviço de transmissões junto com camaradas da Força Aérea e da Marinha. Durou pouco a boa vida.
Em Janeiro fecharam o Posto e passei para o QG/Porto.
Em 13.5.70 fui mobilizado para o CTIGuiné, conjuntamente com mais 10 camaradas da mesma "fornada".

Forte de S. João Batista - Foz do Douro
Com a devida vénia a Castelos de Portugal

Depois de três embarques falhados, lá me despacharam no “Carvalho Araújo”, em 10 de Julho. Cheguei a Bissau, Cais de Embarque, em 21 de Julho, depois de ter “encostado” em S. Vicente / Cabo Verde.

Oito dias depois de me terem “acrescentado”, como rendição individual, aos disponíveis no STM do CTIGuiné, fui despachado para “Quebo” (Aldeia Formosa). Lá cheguei em 28 de Julho, sendo colocado no posto de transmissões da unidade. Passei por alguns “embrulhanços”, ajudei a preparar a op.”Mar Verde” (Nov.70) e aguentei.me lá até Junho de 1971.

Vista aérea de Aldeia Formosa (1973)
Com a devida vénia a José da Mota Vieira da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4513

Depois, por obra do então Cap. Oliveira Pinto, na altura Comandante do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, passei para Bissau. Quando operei no "arame farpado" do aquartelamento de Aldeia Formosa, devo ter deixado algum legado que me "trampolizou" para o posto receptor do Centro de Mensagens, em Bissau. Recebia bem os sinais de "morse" e passei a co-responsável pela recepção dos SITREPS/CTIG e da "Press Lusitana".
Aqui cheguei em finais de Junho/71 e passei a guarnecer aquele servidor do Aquartelamento de Transmissões. Foi um período de algum trabalho, mas de muita felicidade, uma vez que os 10 meses (pouco mais) do Quebo foram duros. Não sendo o quartel muito flagelado, eram-no no entanto os camaradas dos Batalhões lá sediados, bem como os artilheiros que operavam nos três "Obus 14", nos "Morteiros" e, ainda, o Pelotão" FOX", cuja malta era de muita garra, desde o Alferes, aos Furriéis, Cabos, condutores das "White,s", artilheiros etc.. Rapaziada de um companheirismo, bravura e dedicação inesquecíveis. Quando saíam para as missões no mato, chegavam sempre com o sentimento de missão cumprida a preceito. Nas colunas para Buba - sempre de grande risco, devido as minas na estrada que constantemente era "picada" quase metro a metro (em trinta mil bem difíceis), o pessoal sofria muito e, no aquartelamento quem ficava também sofria por eles!

Depois, em Bissau, ainda passei por um pequeno susto, quando em Junho de 72 caíram uns "foguetes" de fabrico "Chinoca", quando menos se esperava, embora a "malta" percebesse que estava para acontecer algo arrojado por parte do PAIGC. Mas não passou de um episódio que serviu para o pessoal se prevenir mais e melhor, pois as coisas aqueciam, com frequência cada vez mais indicadora de algum descontrole. Preparava-se a malta da fornada de 69, os Milicianos (Sargentos e Oficiais) que mais tarde desceram do "Ralis" até à Ajuda!...

Camarigo Luís Graça, sou um seguidor do Blogue. Até hoje mantive uma postura de leitor. Hoje consegui quem me ajudasse a mexer na PC e escrever o que entendo ser obrigação: reconhecimento do extraordinário trabalho que o Luís, o Carlos Vinhal e todos os v(n)ossos camaradas editores desenvolvem: um OBRIGADO do tamanho do Tabanca Global (Mundo).

Mexo mal na informática, sou quase infodependente, sei utilizar o teclado, entrar na NET e pouco mais. Sou um tanto "cepo". Prometo ver se aprendo a digitar fotografias e/ou documentos. Tenho algumas fotos de Aldeia Formosa, dos camaradas com quem convivi (e que nada sei deles).

No Blogue não tenho conseguido encontrar referências ao (ou do) pessoal que embarcou no "Carvalho Araújo", em 11 de Julho de 1970, desembarcando onze dias depois (com poiso em S. Vicente ao oitavo dia).

Porque mal me desenrasco com o serviço informático, não entrei ainda na Tabanca Grande. Tenho medo de fazer asneira ("borrar a escrita")!

Hoje era imperativo saudá-lo. Espero ser bem sucedido,

FELICIDADES E MUITA SAÚDE.
Bem Haja, assim como todos os Camarigos!


2. Comentário de CV:

Caro camarada Vasconcelos, sê bem aparecido na Tabanca Grande, onde, a partir de hoje és membro efectivo e apresentado mesmo sem fotos. Atendendo à tua dificuldade de principiante nesta coisa "muito complicada" chamada informática, abrimos excepção.

Desculpa ser eu a responder-te e não o Luís a quem te dirigiste directamente, mas acontece que ele ainda tem actividade profissional, como professor universitário, e o seu tempo é muito limitado. Por outro lado sou eu que praticamente "abro" as portas invisíveis da Tabanca virtual aos novos tertulianos. O Luís agradece as tuas palavras a propósito do seu aniversário.

Podes navegar à vontade no nosso blogue porque não o danificas assim como o teu PC. A informática do utilizador é fácil, basta saber meia dúzia de comandos e o resto vem com a prática. Depois sempre se arranja um filho, neto, sobrinho, vizinho ou afim para dar uma ajuda em caso de dúvida.

Aconselho-te a que guardes nos favoritos o endereço do nosso blogue para ser mais fácil, para ti, aceder a ele sempre que queiras. O nosso endereço é http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com

Ficas na "obrigação" de, logo que te seja possível, enviar-nos as tuas fotos da praxe, uma do tempo de tropa e outra actual, para te conhecermos quando nos cruzarmos na rua. Já agora diz-nos qual o teu antigo posto e a Especialidade correcta não venha eu a ser gozado pelos camaradas da área das Transmissões.

Quanto à tua tropa, até nem tiveste um percurso muito mau. Tropa ao pé da porta e tudo, a ver as meninas a jogar ténis e apanhar o bonito sol da Foz do Douro. Até dava para ir almoçar a casa e fechar a porta da guerra às 17 horas. Mesmo na Guiné, tirando Aldeia Formosa, ainda tiveste um tempinho para gozar aquela bela cidade(zinha) de Bissau.

Apesar da parte menos perigosa, terás também as tuas histórias que terão todo o cabimento neste blogue, pois nem só os operacionais fizeram a guerra. Não te acanhes e começa a escrever.

Antes das despedidas até ao teu próximo contacto, resta-ma enviar-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores deste blogue, e os desejos de que tenhas uma colaboração assídua. Continua a treinar no PC com a certeza de que muito dificilmente estragarás alguma coisa. Quando tiveres dúvidas a coisa mais aconselhável é desligar o equipamento e voltar a ligar. Evita a tecla "Delete" e utiliza mais a "Esc". Fala quem "sabe".

Recebe um abraço do editor de serviço
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9409: Tabanca Grande (319): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9273: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (6): Notícias da Guiné de 9 de Fevereiro de 1969

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Como tinha prometido, aqui vai mais um trabalho sobre Bissau, mais concretamente sobre o jornal "Noticias da Guiné".
Em anexo vão as 10 páginas deste número que tu trabalharás informaticamente como tu bem sabes.

Um abraço e votos de bom Natal para toda a Tabanca.
Que o 2012 venha a ser menos mau do que nos vão dizendo.
Um abração
Carlos Pinheiro


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (6)

Pedaços de História da Guiné

“NOTÍCIAS DA GUINÉ”

Domingo, 9 de Fevereiro de 1969

Na minha qualidade de “privilegiado” por ter passado a minha comissão de 25 meses, 10 dias e não sei quantas horas na cidade de Bissau, tenho-me vindo a aproveitar desse “privilégio” para dar a conhecer, especialmente aos camaradas do mato, nomeadamente aos do meu tempo, algumas das realidades de Bissau que lhes passaram certamente ao lado.

Depois de recentemente ter relatado a “história” da “Presse Lusitânia”, dando à estampa alguns dos seus exemplares, que era trabalhada na “minha guerra”, o STM, quero hoje partilhar com todos os camarigos um exemplar completo do “NOTICIAS DA GUINÉ”, que, como diz o cabeçalho, era o Boletim do Centro de Informação e Turismo da Guiné, o SNI lá do sítio, em tamanho reduzido, como devem compreender.

São notícias daquela época, que têm que ser lidas dentro do contexto que se vivia naqueles tempos, mas que de algum modo merecem ser conhecidas e recordadas para que a memória não esqueça, como agora se diz, para memória futura, mas também porque as mesmas já fazem parte da história.

De entre todo o noticiário desta edição, permito-me salientar algumas notícias por razões óbvias, a saber:

- O 5º aniversário do Programa das Forças Armadas;

- As Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné;

- Exposição de material capturado ao inimigo,

- A Noticia do Governo da Província da Guiné onde se relata a tragédia da jangada na passagem do Rio Corubal que provocou a morte de 47 militares, com a indicação dos seus nomes que eu sublinho por motivos óbvios e ainda,

- A publicação do Boletim Informativo das Forças Armadas, Boletim periódico, onde informavam somente o que queriam, para não se dizer que não informavam nada. Era a realidade daquela altura…

Mas passando página a página, logo na 1ª, para além de outras notícias, encontramos a evocação, um ano depois, da visita do Chefe do Estado à Província, as Comemorações do 5º Aniversário do Programa das Forças Armadas, o P.F.A. como se popularizou, notícia que continua depois na página 2 mais desenvolvida, permitindo-me ainda destacar a notícia acerca das “Visitas do Governador e Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné”, ao interior da Província, com seguimento também na página 2, onde se relatam visitas a Madina do Boé, Aldeia Formosa, estrada Buba - Aldeia Formosa, Piche, Ponte Caium, Camajabá, Bunane, Copá, Bajocunda, Sinchã Sambel, Canjufa, e Sinchã Sama.

Na 2ª página encontramos então a continuação das notícias da capa como anteriormente referi.

Na 3ª página temos “A cidade - pessoas e factos”, como sejam a Peregrinação a Meca, Mocidade Portuguesa, Numeração de Prédios, Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo, Missa por alma de António Ferreira da Silva, Fomento Industrial, Arquitecto Licínio da Cruz, Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné sendo a última a anunciar a chegada de 200 Toneladas de Arroz Novo a Bissau que “começou a ser descascado nos complexos industriais da cidade”. Completa esta página o relato de uma exposição de Jota Álamo no Centro de Informação e Turismo e ainda a publicidade dirigida às Exmas. Classes Médica e Farmacêutica a anunciar a chegada das “modernas escovas de dentes JORDAN” fabricadas na Noruega e distribuídas pela PROQUIL – Bissau.

Na página 4 temos mais publicidade desde o “Grande Hotel” até ao “Dum-Dum” (Spray) distribuído em exclusivo pela PROQUIL, passando pelo “Baygon” em spray e em pó, à venda na Farmácia Higiene – Bissau, Restaurador para o cabelo “DOMINACÔR”, distribuído pela Soc. Com. De Representações, Lda.,Venda de uma máquina de costura e de um “Peugeot 404” em estado novo e Explicações de Inglês, sendo a mesma completada com uma certidão do Notariado Português - Comarca da Guiné onde consta a constituição da Sociedade Por Quotas, “Escola de Condução Gomes & Gomes, Limitada”, com sede na Vila de Farim cujo capital social é de cento e cinquenta mil escudos, totalmente realizado.

A página 5 é totalmente dedicada ao Desporto, Campeonato da Guiné cujos clubes eram a UDIB, o Benfica, a Sacor, a S.C.U., Nuno Tristão, Tennis, e o Sporting, Efemérides, Noticias Em Duas Linhas onde se refere que o Vitória de Setúbal ia jogar em Alvalade com o Newcastle porque o Estádio do Bonfim ainda não tinha luz artificial e ainda que Costa Pereira ia jogar numa selecção internacional com Torres, Eusébio e Coluna, a Taça das Feiras e a final em dois jogos, a chave do TOTOBOLA com os jogos União de Tomar - V. Setúbal, Braga - Sanjoanense, Belenenses - Leixões, Académica - Sporting, CUF – Guimarães, Boavista – Famalicão, A. Viseu – Mar, Covilhã - Salgueiros, Espinho – Penafiel, Valecambrense - Gouveia, Leões – Barreirense, Seixal – Torriense e Luso - Sesimbra, Passatempos desportivos e ainda uma pequena noticia acerca do novo Presidente do Município de Vagos, como podem ver.

Agora na página 6, para além de “Noticias do Estrangeiro” e “Várias Noticias”, de entre as quais vem a “Notícia do Governo da Província da Guiné” acerca da tragédia que foi o desastre da jangada no rio Corubal que transportava parte da CCAÇ 1790 e onde morreram 47 militares por afogamento, com a indicação completa dos seus nomes e ainda uma pequena noticia acerca de uma Exposição de material capturado ao inimigo levada a afeito de 9 a 16 de Fevereiro daquele ano na Fortaleza de S. José de Bissau (Amura) e outra do Conselho Administrativo do Fundo de Construção de Casas para Funcionários onde é anunciado que uma moradia tinha ficado vaga pelo que todos os funcionários civis da Província se podiam habilitar à mesma.

Na página seguinte temos NOTICIAS DA METRÓPOLE, noticias estas de Lisboa, de Fafe, de Valpaços, de Coimbra, de Castelo Branco, de Braga e de Santo Aleixo da Restauração (Moura) falando cada uma delas acerca de motivos do que por cá se passava naquela altura.

Passando à página 8, Anúncios e mais anúncios, do Médico Pediatra Heliodoro Guitana, Instalações eléctricas da S.T.E.I.A., Super VITABRIL creme para o penteado, Anúncios da Câmara Municipal de Bissau a anunciar a venda de terrenos a $40 (quarenta centavos, um cruzado, quatro tostões) o m2, HALAZON spray-oral, Brilhantina Africana, TOTOBOLA - entregue o seu boletim na Confeitaria Império, pedido de emprego, oferta para tratar de assuntos na Metrópole, Farmácia Higiene de Bissau, Secretaria Notarial da Póvoa de Varzim, Venda de Mobílias, de Sinca 1000 GI, Fiat 600, Aparelhagem de Laboratório, Prédio novo, Frigorifico eléctrico Kelvinator 170, Austin 1100, Taunus 12M Super, Aluguer de quarto a casal, de Moradia, de outro quarto, de Cervejaria-Bar, mais uma moradia, outra moradia, ainda outra moradia, Precisa-se de quarto, Compra-se frigorifico a petróleo, a Óptica Barros anuncia ter recebido grande remessa de napas, Sorteio de um Vauxall Velox, Ciclo Preparatório, pedido de emprego, Farmácias de Serviço e Padaria Transmontana no Bairro da Ajuda a anunciar o seu bom, pão, folar transmontano e arrufadas.

Na página 9 temos o Boletim Informativo das Forças Armadas – período de 27 de Janeiro a 2 de Fevereiro e outras notícias continuadas de páginas anteriores onde se inclui o Aniversário do PFA, Uma entrevista com o Dr. Luiz G. Barros e mais um anúncio da Farmácia Higiene de Bissau acerca do 2º DEBUT.

Na última página, a contracapa, temos várias notícias de informação geral como sejam “A viagem de três Toureiros portugueses através do Continente Africano”, “Animal angolano possuidor de dentes com virtude medicinais”, e mais duas notícias de Lisboa, “Condenado por ter atropelado mortalmente dois sexagenários”, e “Duas mulheres e dois homens condenados a prisão maior” e uma notícia de Luanda “Morto vivo causa pânico num Muceque Luandense”. A página termina com uma pequena “caxa” onde se informa, acerca do Dr. Oliveira Salazar, que na quarta-feira, pelas 15 horas locais, foi o eminente estadista transportado para a sua casa em S. Bento. O seu estado é satisfatório.

Por incrível que possa parecer nos dias de hoje, o jornal não indicava a sua ficha técnica e nem sequer o nome do seu Director.

Mesmo admitindo que todo este repositório de lembranças da Guiné e especialmente de Bissau daquele tempo, pouco ou nada possam interessar a muitos camarigos, no entanto quero admitir que os interessados pela História duma época e duma região, poderão encontrar algum interesse nestas recordatórias.

Mas como cada um pode e deve contar o que passou, eu não posso contar nada de tiros, até porque só tive uma arma distribuída por um período de 12 horas, mas entendo que posso e devo contar as peripécias do dia-a-dia duma comissão em que grande parte do tempo nem me apercebia de quando era noite ou era dia uma vez que trabalhava 12 horas e descansava 24.

De qualquer forma, penso que a publicação deste jornal poderá ter algum interesse especial para os sobreviventes da CCAÇ 1790 e para os historiadores o que ali é relatado, de forma muito reduzida, é certo, acerca da tragédia que foi o desastre do Corubal.

A quem tiver tido a paciência de ler este escrito, muito maior do que o habitual, os meus agradecimentos e desde já fico a aguardar os comentários.

Um abração do
Carlos Pinheiro
19.12.11


Nota: - Clicar nas imagens para as ampliar
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8999: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (5): Efeitos colaterais da crise académica de 1969

sábado, 5 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8999: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (5): Efeitos colaterais da crise académica de 1969

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Talvez porque este tempo de Inverno ajude a recordar memórias adormecidas.
Em anexo vai mais um texto, mais um "Estória", real e verdadeira das muitas passadas na Guiné.

Se entenderes por bem publicá-lo, estás sempre à vontade como é hábito.

Um abraço
Carlos Pinheiro


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (5)

Efeitos colaterais da crise académica de 1969

Estávamos na Primavera de 1969. Era Abril. Já tinha passado 6 meses da Comissão na Guiné que se prolongaria por 25 longos meses.

Recentemente tinha partido o braço esquerdo num acidente sem história. Andava de “baixa” e frequentemente, depois do almoço, durante o chamado período da “sesta” desenfiava-me de Santa Luzia, do Q.G., até à cidade para conviver com a malta que também estava desenfiada em Bissau, à espera de transporte para o mato ou para a Metrópole.

Os sítios onde nos encontrávamos eram os habituais. O Café do Bento a que carinhosamente chamávamos a 5ª Rep., o ponto de encontro por excelência da malta do mato.

E eu tinha amigos no mato em todo o lado. Em Buba, em Tite, em Jabadá, Nova Sintra, em Catió, em Aldeia Formosa, em Bafatá, em Mansoa, em Farim, em Piche, em Bigene, em Bula, em Nova Lamego, no Cacheu, em Susana, em Varela, e depois até vim a fazer amigos quando a CCaç 1790 abandonou Madina do Boé, com a tragédia conhecida, uma vez que foram colocados na “minha guerra” dois dos sobreviventes.

Era rapaziada que tinha andado a estudar comigo na Escola Industrial de Torres Novas, era a malta da minha terra, Alcanena, era pessoal de Pernes e de Mira de Aire que frequentava de vez em quando nos bailaricos da época, eram colegas dos Serviços Médico Sociais para onde eu tinha entrado em 1964, era a rapaziada que tinha estado comigo na Escola Prática de Cavalaria em Santarém e que comigo tinha chumbado no Curso de Sargentos Milicianos e que também tinha sido “recompensada” como um comissão na Guiné, era malta que tinha estado comigo na Especialidade no Regimento de Transmissões no Porto, na Arca d’Agua, era malta que tinha ido comigo no UIGE em rendição individual, enfim era um conjunto alargado de companheiros e amigos embarcados no mesmo barco da Guerra da Guiné.

Mas também nos encontrávamos no Portugal ou no Internacional na Praça Honório Barreto, no Zé da Amura, nas Palmeiras em Brá, no Santos em Santa Luzia, na Solmar lá do sítio, no Café Pastelaria Império na Praça do Império, perto do Palácio do Governador, ou no Solar do Dez. Tudo isto de dia. De noite os encontros eram mais na Meta, no Chez Toi, na UDIB, no Sporting e até no Benfica a caminho da Sacor.

O caso que vou relembrar passou-se no Solar do Dez, talvez o melhor Restaurante de Bissau daquela altura. Mas como já tínhamos almoçado no quartel, porque o pré não dava para luxos, estávamos num mesa grande, a tomar café na esplanada e cada um ia contando as suas histórias, com muitas anedotas pelo meio.

Parece eu que estou a ver o Marques, que também tinha chumbado no CSM em Santarém. Na altura já era Regente Agrícola. Mas tinha chumbado. Era o Delegado em Bissau da sua Companhia. Namorava uma moça que estava em Medicina ou em Direito, já não me lembro bem. Volto a dizer. Parece eu que estou a ver o Marques, a ler em voz alta uma carta da namorada. E ela contava-lhe, e ele partilhava connosco, a invasão da Faculdade pela Policia e pela Pide com muita pancadaria e algumas prisões à mistura. Era a Crise Académica no seu auge, mas nós, que estávamos longe de tudo, desconhecíamos por completo. A Emissora Oficial só dava boas notícias, jornais não havia com regularidade, televisão nem vê-la, telefones nem sonhá-los e telemóveis nunca se tinha ouvido falar. Aquilo desta vez parecia uma sessão solene. O orador lia a carta pausadamente e nós caladinhos para não perdermos nada da noticia.

Ao lado, noutra mesa, estava um Major, o Comandante das Transmissões da Guiné, meu Comandante uma vez que o Destacamento do STM onde estava integrado, em última análise também dependia deste senhor, acompanhado de sua esposa, que apesar da sua posição importante e da nossa pequenês, nunca abriu a boca.

O pior foi à tarde. Eu como estava “de baixa”, passava o resto da tarde, até ao jantar, no meu quarto particular com mais de duzentas camas. Ouvia-se rádio, jogava-se à sueca e alguns descansavam porque iam entrar de turno à noite. Aparece o Sargento Caldas, entretanto infelizmente já libertado da lei da vida, bom homem e bom amigo. Era o meu Chefe directo. Vinha com mau aspecto. E de chofre perguntou-me onde é que eu tinha andado que o Major queria falar comigo e estava muito bravo. Contei-lhe tudo por onde tinha andado mas esqueci-me da leitura da tal carta, coisa que poucos de nós valorizámos, porque desconhecíamos os antecedentes da Universidade de Coimbra e a ebulição estudantil que havia naquela altura.

E lá fui eu, mas o Major já não estava. Ficou para o outro dia. Nessa noite nem dormi. O que é que o Major teria para estar tão bravo como tinha dito o Caldas. De manhã, bem cedinho lá estava eu, com o braço ao peito, mas de resto devidamente uniformizado e até com as botas bem engraxadas. Já eram mais de 10 horas quando ele chegou. Nem se sentou. Logo ali à entrada da porta dispara, perguntando-me o que é que estava ali a fazer ontem naquele “comício”? Fiquei perplexo. O que é que aquilo queria dizer? O que é que eu teria feito de mal? Fiquei sem resposta. Mas lá terei dito alguma coisa, atabalhoadamente, a tentar relatar o acaso do encontro. Levei uma rabecada das antigas. E ameaças quanto ao futuro foram as suficientes. O mato, nas piores condições e nos piores locais, tinha sempre vagas e estava sempre à espera.

Mais tarde, começou a constar, na caserna, que o senhor teria algumas ligações à Policia que tinha aquartelamento no Largo do Colégio Militar, junto à Avenida Arnaldo Shulz, em Bissau, a Policia Internacional e de Defesa do Estado, a tenebrosa Pide de má memória para o Povo Português mas também neste caso para o Povo da Guiné-Bissau. Nunca cheguei a saber se era verdadeira essa dupla função, mas lá que andei atrapalhado isso foi mesmo verdade.

Tudo se passou sem mais agruras. Mas andei mal durante muito tempo e com atenções redobradas. É que eu passava naquela Avenida de vez em quando e, às vezes, os tratamentos ouviam-se cá fora.

A guerra também tinha destas coisas. E é bom recordá-las para que a memória não esqueça.
Carlos Pinheiro
25.10 10
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8748: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (4): As notícias em Bissau - A Presse Lusitânia

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8748: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (4): As notícias em Bissau - A Presse Lusitânia

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de interregno, volto às lides e às recordações do meu tempo de Bissau.

Recordo hoje aqui o trabalho diário da difusão da PRESSE LUSITÂNIA, passados que são mais de 42 anos.

A reprodução dos documentos não é a melhor mas a possível. Os documentos estão manchados pelo tempo e eu também não sou grande técnico nas artes de utilizar o scanner. Mas a rapaziada compreenderá, até porque o que conta é a intenção e essa é a melhor.

Se entenderes que este trabalho merece ser publicado, estás à vontade.

Um abração
Carlos Pinheiro


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (4)

Recordar nunca é demais, para que a memória não esqueça.

As notícias em Bissau – A PRESSE LUSITÂNIA

Naqueles tempos longínquos, quando ninguém sabia o que eram telemóveis e a Rádio não era nada do que hoje é, algumas notícias ouviam-se em Onda Curta, mas sempre com má qualidade e normalmente a horas impróprias. Por tudo isto, as notícias chegavam todos os dias a Bissau, expedidas de Lisboa, para todo o mundo, em Morse.

Era o Destacamento do STM do CTIG que organizava a sua recepção, a sua interpretação, a sua impressão e a sua posterior divulgação pelas Unidades Militares de Bissau.
Tínhamos ali uma equipa pluridisciplinar digna de todo o registo e digna de ser recordada ao fim de todos estes anos.
Tudo funcionava sob o comando e orientação do Comandante do Destacamento, o então Capitão João Afonso Bento Soares, hoje distinto General na reforma.

O 1º Sargento Liberal Silva, coordenava a equipa que muitas vezes já funcionava automaticamente como se estivesse em auto-gestão.

O 2º Sargento Caldas da Silva tratava da Expedição já que era o CMsgs, que ele chefiava, que tinha as viaturas e os estafetas.

Para estes dois últimos amigos que já nos deixaram há muito, vai um abraço de saudade e de uma forma especial para o Sargento Caldas, grande amigo, que naquelas terras passou grande parte da sua vida.

O Radiotelegrafista IRINEU era um especialista altamente qualificado para cumprir esta missão, por isso encarregado diariamente desse serviço. Tinha de facto uma capacidade de recepção muito acima da média e era um companheiro amigo do seu amigo que, mesmo depois do seu trabalho, muitas vezes ajudava a interpretar muitas das letras que escrevia apressadamente. Gostava de saber o seu contacto. Penso que era do Norte, mas não tenho mais referências.

Depois era eu, este modesto escriba, que se encarregava então da interpretação de todos aqueles rabiscos, que passava à máquina todo o trabalho naquelas folhas de stencil e depois era só colocá-las, uma a uma, uma de cada vez, no duplicador Gestetner, meter tinta suficiente, colocar o papel e dar à manivela para que o trabalho saísse.

De vez em quando acontecia um ou outro contratempo. Era o stencil que se rompia e tudo tinha que começar de novo. Era a tinta que borrava o trabalho e tudo também voltava ao principio, mas a noite era nossa e tudo acabava sempre em bem.

No outro dia de manhã, quando o serviço o permitia, eram dirigidos vários exemplares a cada Unidade de Bissau e esse trabalho acabava sempre perto da hora da 2ª refeição. Ia um motorista, normalmente do Recrutamento da Província, e um estafeta do Centro de Mensagens que fazia as entregas mediante Protocolo para que não haver lugar a reclamações.

Por mera curiosidade, para matar saudades e também para a rapaziada do mato que só vinha a Bissau de passagem, vão aqui dois exemplares, sendo o primeiro do dia 13 de Julho de 1969. Nesta primeira página fala-se da visita Presidencial ao Brasil, o Professor Marcello Caetano, da viagem no avião a jacto da TAP, da sua chegada e da recepção.


Nesta segunda página, como poderão verificar, fala-se de futebol, de atletismo, da digressão do Vitória de Setúbal a Angola e a Moçambique e dava-se conhecimento da Chave do TOTOBOLA daquela semana, onde só pontificavam equipas secundárias, possivelmente devido a alguma interrupção do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, quem sabe se motivada por algum jogo da Selecção Nacional.
Mas esta da Chave do Totobola, não deixa de ser interessante recordar.


Agora é a Presse do dia 31 de Julho de 1969.
Nesta página, para além das notícias da política da altura, regista-se a chegada a Lisboa do Paquete “Vera Cruz” com tropas de regresso do Ultramar, mas também se dá nota da VIDA DESPORTIVA que inclui ciclismo – VIII Grande Prémio Robbialac – dum acidente dentro desse Grande Prémio onde esteve envolvido o grande Joaquim Agostinho e termina a página com uma referência ao Campeonato Nacional de Juniores de Andebol de Onze.


Nesta página é dada nota de alguma dificuldade de ligação do grande Eusébio ao Benfica.
A página completa-se com notícias da chamada Vida Internacional.
Era assim que a tropa, neste caso o Destacamento do STM, colaborava na difusão das notícias do mundo junto das outras Unidades Militares.

É mesmo bom recordar, para que a memória não esqueça.
Carlos Pinheiro, no dia 4 de Setembro de 2011, passados 42 anos dos factos.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8412: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (3): Dia de Santo António de 1969

sábado, 14 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8275: Tabanca Grande (282): Joaquim Rodero, ex-Fur Mil TRMS (STM/QG, 1970/72)

1. Mensagem deixada no Facebook pelo nosso camarada Joaquim Rodero no dia 4 de Maio de 2011:

Boa tarde amigos,
Gostava de ser integrado no blogue da Tabanca Grande. Já fiz o envio de foto, e através do Hélder Sousa também já manifestei o meu desejo, mas não obtive qualquer resposta.

Digam-me por favor, o que e que não estará correcto no meu pedido, se estive na Guiné entre 1970/72 no QG de Bissau e pertenci ao destacamento do STM.

Recebam um abraço do
J.R.


2. Utilizando a mesma rede social, no dia 5 de Maio foi enviada resposta ao camarada Rodero:

Caro camarada Joaquim Rodero
A maneira mais expedita de contactar o Blogue é através do endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Eu estou contactável em carlos.vinhal@gmail.com
Nunca falha.

Um abraço
Carlos Vinhal
(Co-editor)


3. No dia 10 de Maio recebemos então no nosso endereço esta mensagem de Joaquim Rodero:

Boa tarde amigo Carlos Vinhal,
Venho por este meio disponibilizar duas fotos que são necessárias para a inscrição no blogue. Uma é actual e a outra foi tirada na messe de sargentos do QG em Sta. Luzia, no Natal de 1971, onde eu estou de camisa preta com o Fur Mil António Manuel Serrano Aresta de Santo Isidro de Pegões, ao meu lado direito, e dois Sargentos da CCS do QG, de quem já não recordo os nomes.


Esta foto também foi publicada no blogue Tabanca do Montijo, do meu amigo João M.F. Dias em Julho passado.

Numa breve resenha, tenho a acrescentar que fiz a minha comissão na Guiné, entre 6 Fevereiro de 1970 e 27 de Março de 1972, e que cumpri mais tempo por ser de rendição individual, não por castigo.

Pertenci sempre a Companhia de Transmissões e estava no Destacamento do STM a fazer serviço na Central TT, onde era o responsável pela reparação e manutenção dos teleimpressores, contando com a colaboração de um soldado da dita especialidade de MMTT.

Já me estava a esquecer de acrescentar a data de incorporação que foi em 9 de Janeiro de 1969.

Caso queiram saber, mais alguns dados, eu estou a ordem para responder e acrescentar ao que entenderem por bem.

Recebe um abraço do
Joaquim Rodero


4. Comentário de CV:

Caro camarada Rodero
Já és nosso tertuliano de pleno direito o que implica alguma responsabilidade em termos de colaboração.

É nosso desejo que os camaradas que se propõem pertencer à Tabanca Grande participem com uns textos e umas fotos, elementos que contribuam para aumentar o registo das nossas memórias nestas páginas.

Apesar de a tua Especialidade te proporcionar uma principesca estadia numa das capitais do Império, neste caso Bissau, sempre terás algo para nos contar.

Por uma questão de registo, quando nos voltares a escrever, confirma o teu posto que presumo ter sido Furriel Miliciano. Já agora, se arranjares uma foto do tempo de Bissau, com melhor qualidade, manda para mim, já que a enviada está em muito mau estado e não dá para fazer uma tipo passe. Desculpa lá, mas eu sou muito exigente nestas coisas. Feitios, como dizia o nosso Solnado.

Se bem reparaste, não utilizei a foto actual que me mandaste, porque roubei esta no facebook, que para o meu gosto tem melhor apresentação. Estás a ver? Não tenho solução.

Não te esqueças que deves enviar a tua correspondência sempre para o endereço luísgracaecamaradasdaguie@gmail.com e para um dos editores, para teres a certeza de que alguém te vai ler.

Caro Joaquim, antes de terminar a apresentação, quero deixar-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores, estes mais de 490 amigos que tens a partir de hoje.

Um abraço
Carlos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8252: Tabanca Grande (281): Hilário Peixoto, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851 (Guiné 1968/70)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2011:


Camarigo Carlos Vinhal
Aqui vai mais um texto para o nosso blogue se entenderes que o mesmo merece ser publicado.

Um abraço
Carlos Pinheiro


A Cidade de Bissau em 68/70

A esta distância no tempo, recordar a cidade de Bissau onde passei mais de 25 meses da minha vida, obrigatoriamente e sem alternativa de escolha, mesmo assim é bom recordar Bissau, para que a memória não esqueça e para que outros possam também recordar e testemunhar.

Bissau era uma cidade simpática onde havia um pouco de tudo e acima de tudo muita tropa, muitos militares em movimento, a chegar, a partir e a estar. Não era uma grande metrópole mas tinha infra-estruturas que uma cidade de província, na Metrópole de então, não tinha, não podia ter e nem tinha que ter. Tinha por exemplo um Aeroporto, na Bissalanca, que é certo se confundia de algum modo com a BA 12, já que as pistas eram as mesmas e, aliás, o Boeing da TAP só lá ia uma ou duas vezes por semana, levar de regresso combatentes que tinham vindo de férias, buscar outros em sentido contrário e acima de tudo levar e trazer correio tão indispensável para o apoio moral das tropas e especialmente dos seus familiares cá na santa terrinha. 

Na maior parte do tempo eram os FIAT G91, os T6 e os DO27, para além de outros meios aéreos, os únicos a utilizar as pistas quando eram lançadas Operações onde o apoio aéreo tinha uma preponderância mais que evidente. E, claro, também era dali que saíam os helicópteros, os Alouette III, para as Operações, mas acima de tudo para fazer as evacuações dos doentes e dos feridos.


Tinha também um porto de mar, que por acaso era no rio Geba onde, por vezes, os barcos maiores, o UIGE ou o NIASSA, não atracavam.

Mas barcos como o Rita Maria, o Ana Mafalda, o Alfredo da Silva, o Manuel Alfredo, todos da Sociedade Geral, da CUF, esses porque eram mais pequenos, atracavam. Também o Carvalho Araújo, penso que dos Carregadores Açorianos, nos seus últimos tempos de vida, também ali atracava. Mas era um porto com poucas condições. Este último barco, porque tinha pouca autonomia, tinha que ir, na viagem de ida, a S. Vicente, Cabo Verde, meter água e nafta e no regresso, era no Funchal que atestava.
Tinha ainda outro porto, este mais de pesca, o Pidjiguiti, tristemente célebre pelos massacres que precederam a guerra da independência.


Mas tinha o Palácio do Governador, tinha a Associação Comercial, tinha algumas casas apalaçadas de arquitectura tipicamente colonial, tinha um cinema, a UDIB (1), tinha dois campos de futebol, o campo da UDIB e o “estádio dos cajueiros” à Ajuda, tinha um comércio florescente, especialmente dominado pelos libaneses, onde tudo se vendia desde o alfinete ao camião, tudo importado, principalmente do Japão, mas também dos States, da Inglaterra, da Escócia, da Itália, da Holanda, da Checoslováquia, da França, etc., e naturalmente da Metrópole.

E Bissau tinha algumas casas que toda a malta conhecia pois era lá que convivia, que matava saudades e acima de tudo matava a fome e a sede. Logo à saída do QG havia o Santos, a que simplesmente, mas com muito carinho, chamávamos o “farta brutos”, onde se comia, talvez a maior febra de Bissau. Parecia que tinha as orelhas de fora do prato, tal era a sua dimensão. Mas as batatas fritas a acompanhar também mereciam respeito. Quanto à cerveja, ela era igual em todo o lado, desde que estivesse bem fresca e isso às vezes conseguia-se e muita até era da Manutenção Militar.

Mas lá em baixo, na cidade, tínhamos outras casas emblemáticas. Tínhamos a Solmar, que não tinha nada a ver com a outra de Lisboa, mas que já era um bom restaurante que também vendia muita cerveja para acompanhar as ostras e o camarão.  

Tínhamos o Solar do 10, casa mais pequena mas mais requintada, onde por vezes à noite se cantava o fado depois de uma jantarada ou ceia.

Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados.

Tínhamos, na Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal e o Chave de Ouro, tudo cafés/cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia.
Mas na Avenida principal, do porto ao Palácio do Governo, também havia o “Bento”, café e esplanada característica da cidade a que vulgarmente nós, os militares, chamávamos de “5ª Rep.” já que o Quartel-general só tinha 4 Rep’s, 4 Repartições.


Para a malta, ali era portanto a 5ª repartição onde quem chegava do mato se encontrava com os residentes, onde se trocavam informações e onde, se dizia, que essas informações vadiavam ali dum lado para o outro do conflito. Ao lado do “Bento” mais para o interior, era a Bolola, onde esteve o Serviço de Material, depois transferido para Brá, e onde era o Cemitério que ainda guarda os restos mortais de muitos camaradas nossos.

Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo a “Casa Gouveia”, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra (2), o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província, o Cinema UDIB e ao lado uma boa gelataria, mais acima a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e Associação Comercial.

Também era nessa Avenida que estava a Sé Catedral, templo de linhas tão simples quanto austeras.



A caminho de Brá e da “SACOR”, havia um local chamado “Benfica” onde havia um café com o mesmo nome e onde se apanhavam os transportes para os vários quartéis daquela zona como eram o Hospital Militar 241, o Batalhão de Engenharia 447, os Comandos, os Adidos e mais à frente a BA 12 e o BCP 12.

Mas havia outros estabelecimentos dignos de recordação. A casa de fados “Nazareno”, mais tarde rebaptizada de “Chez Toi, a “Meta” com as suas pistas de automóveis eléctricos, e como novidade também apareceu naquela altura “O Pelicano”, café-restaurante construído pelo Governo e explorado por privados, com uma belíssima vista sobre o Geba e avenida marginal.


Na Avenida Arnaldo Shulz, que ligava a Estrada de Santa Luzia à tal SACOR, a caminho de Brá, sempre ao lado do Cupelão [ou Pilão], estava o Comando Chefe das Forças Armadas à esquerda de quem subia, um pouco mais abaixo, os Bombeiros Voluntários de Bissau num grande quartel nessa altura muito bem equipado, a Cruz Vermelha, estes do lado direito e até a Sede local da PIDE, que nessa altura já se chamava DGS, também do lado direito mas já junto ao Largo do Colégio Militar.

Era uma avenida nova, como se fosse uma circular urbana onde as boas vivendas também começaram a aparecer.

No princípio da Avenida que ia para Santa Luzia, antes de se chegar ao Hospital Civil, estava o Grande Hotel, nome pomposo do melhor estabelecimento hoteleiro da cidade. O resto era pensões, algumas de quinta escolha.

Mas o comércio de Bissau não era constituído só por cafés, restaurantes e tascas. Havia de tudo. E há nomes que não se esquecem. Para além da Casa Gouveia, o maior empório daquele então Província Ultramarina, como então se dizia, a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Costa Pinheiro, e muitas outras vendiam de tudo, são nomes que ficaram para sempre na memória. 

Havia, claro, várias casas de fotografia, como por exemplo a AGFA perto da Amura, que ganhavam muito dinheiro na medida em que era raro o militar que não tivesse comprado a sua FUJICA, PENTAX, NICON, etc., a que davam muito uso. Muitas casas vendiam roupa barata, nessa altura já confeccionada em Macau, especialmente aquelas camisas de meia manga, calças de ganga e sapatos leves.
Era assim Bissau naquela época.


(1) UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau
(2) Mancarra - Amendoim

Carlos Pinheiro
16.04.11

Texto e fotos de Carlos Pinheiro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8099: Convívios (226): Reencontro ao fim de 41 anos (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8045: Memória dos lugares (151): Bedanda 1972/73 - O Seis do Cantanhez (António Teixeira)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8099: Convívios (311): Reencontro ao fim de 41 anos (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Tenho acompanhado o blogue com todo o interesse, mas a pachorra para escrever tem faltado.

Porém, recentemente tive oportunidade de reencontrar o meu Comandante da Guiné, o Comandante do Destacamento do STM, o então Capitão Bento Soares, hoje General na Reforma, ao fim destes anos todos.

Foi um reencontro muito sentido por todos, como aliás descrevo no artigo que anexo.

Se entenderes oportuno a sua publicação, estás perfeitamente à vontade como sempre.

Quanto à fotografia incluída no texto, se a conseguires reduzir, talvez fique melhor. Mas dessas técnicas sabes tu.

Aproveito para perguntar se ainda há vagas para Monte Real, porque também lá queria ir este ano, para começar.

Um abraço
Carlos Pinheiro


O reencontro ao fim de 41 anos

Se há períodos da vida que nunca esquecemos, nós os que estivemos na guerra de África, por muito que o tempo vá passando, mesmo assim nunca se esquecem esses tempos, as nossas missões, os nossos camaradas e quem nos comandou.

Já passaram quarenta e um anos desde que em Novembro de 1968 me apresentei, voluntariamente, no Destacamento do STM no CTIG em Bissau. Andava por ali à sorte. Tinha ido em rendição individual e o meu Batalhão, o BCAÇ 1911, tinha vindo no mesmo barco em que eu tinha ido, o UIGE. Enfim, estava “desempregado” logo à chegada.

Como já tinha alguma experiência do STM, tinha estado alguns meses no QG/II RM em Tomar, apresentei-me no STM oferecendo-me para trabalhar naquilo que eu já sabia.

Era Comandante do Destacamento o então jovem Capitão Bento Soares que, depois da minha apresentação, deu ordem para fosse chamado, dos Adidos, para o seu Serviço.

Os tempos passaram, cada um foi à sua vida e agora, passados os tais quarenta e um anos, conseguimos voltar à fala, neste caso à escrita, através da Internet e lá nos encontrámos ao fim destes anos todos.

Foi no dia 22 de Março. O local foi o Retiro da Águia, no Falagueiro, freguesia da Asseiceira, concelho de Tomar, onde previamente tínhamos marcado uma lampreia devidamente confeccionada e condimentada e que por aquele lados é pescada no Nabão.


Para além do agora General, na Reforma, João Afonso Bento Soares e de mim próprio, ex-1.º Cabo, serviram de testemunha deste reencontro o Ten Cor Pára-quedista, Albano Figueiredo e o ex-Fur Mil Eduardo Galamba, todos expedicionários naquele tempo, naquelas terras da Guiné.

O pitéu estava muito bem elaborado, aliás como é hábito e tradição daquela casa. O vinho que serviu de acompanhamento, verde tinto da Adega de Amarante, correspondeu também às expectativas.

Depois foi o desenrolar de recordações através da memória de todos, mas também com a visualização dos vários álbuns fotográficos que todos, mais ou menos religiosamente, guardam e que nestes momentos nos fazem recordar momentos, locais e acima de tudo as pessoas, os nossos camaradas, que ali passaram mais de dois anos nas então chamadas comissões de serviço.

Como foi bom recordar tempos passados, trabalhos conseguidos, e convívios vividos. Mas através das tais fotografias também recordámos, com muita saudade, os camaradas que já nos deixaram. No nosso caso, foram ali recordados com muito respeito pelas suas memórias, o Pereira de Fafe e o Sá da Arrifana, este último que já nos deixou neste ano de 2011, com quem trabalhámos dias e noites sem fim.

Mas porque já não temos tempo para deixarmos passar outros quarenta e um anos sem nos voltarmos a ver, ficou logo ali marcado outro convívio gastronómico, ainda sem data marcada, à base de enguias grelhadas, fritas ou de ensopado, e mais uma febra para o Galamba que continua arredado de qualquer tipo de peixe, mas certamente antes do Verão, cujo combate decorrerá, em princípio, na terra do General Sem Medo, o Boquilobo, freguesia da Brogueira, concelho de Torres Novas, onde certamente também teremos oportunidade de visitar a Casa Memorial de Humberto Delgado, que ali está patente ao público.

De facto é salutar e gratificante, ao fim de tantos anos, camaradas de armas, com posições completamente distintas, mas todos empenhados no mesmo fim, voltarem a encontrar-se, recordando histórias já com muitas barbas bem compridas, que no final de contas marcaram, e de que maneira, as nossas vidas.

Só quem passou por elas é que pode avaliar como estes momentos são únicos e indescritíveis.
Que venha o próximo encontro em breve.
Carlos Pinheiro
13.04.11
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7467: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (8): Noite de Natal de 1969 em Bissau (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8097: Convívios (225): 11º Encontro da Tabanca do Centro, dia 27 de Abril de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, com data de 23 de Outubro de 2010:

Camarada Luís Graça
Faz hoje 42 anos que embarquei para a Guiné.

Deu-me para recordar a data de embarque, relatando alguns pormenores desse mesmo dia.
Se entender por bem publicar o escrito que remeto em anexo, fico-lhe grato e se me quiser avisar da sua publicação, se assim o entender, ainda mais grato lhe fico.

As fotografias que vão anexas ao escrito são de Bissau daquele ano de 1968.

Nota - Chamo-me Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, sou natural de Alcanena e resido em Torres Novas. Assentei praça na EPC em Santarém em 10 de Outubro de 1967, chumbei no CSM, como muitos outros naquele Curso, tirei a Especialidade no RTM no Porto, vim para o BT em Lisboa, fui colocado no QG da 2.ª RM em Tomar e depois acabei por ser mobilizado pelo RI 15 de Tomar.

Embarquei em rendição individual destinado ao BCAÇ 1911 que afinal veio no mesmo barco em que fui. Passei a minha comissão no Centro de Mensagens do STM no Quartel General de Bissau.

Fui o 1.º Cabo Op. Msg. 03015366

Fui funcionário dos Serviços Médico Sociais em Torres Novas, Alcanena e Santarém onde estive desde 1964 a 1972, ano em que entrei para a Banca, Crédito Predial Português, tendo passado à reforma em 31.12.01.

Sobre mim acho que disse o essencial.

Já para aí tenho escrito, mas gostava mesmo de pertencer a essa Grande Família.
Diga-me por favor o que devo fazer.

Um abraço
Carlos Pinheiro


Já lá vão 42 anos

É verdade. Parece que foi ontem e já lá vão quarenta e dois anos desde o dia do embarque para a Guiné.

Depois de uma noite muito mal dormida nos Adidos, na Calçada da Ajuda, logo de manhã lá estava ataviado a preceito para embarcar para a guerra.

Carlos Pinheiro junto à estátua de Honório Barreto

Dois dias antes, ainda no RI 15 em Tomar, a minha Unidade mobilizadora para o BCaç 1911 que nunca vi que veio no barco onde fui, apanhei uma boleia com um senhor da minha terra que lá foi buscar o filho, para também embarcar para a guerra, salvo erro era para Angola. Lá fomos os três no Volkswagen 1300 do senhor, a caminho dos Adidos em Lisboa. Almoçámos, já não me lembro onde, e lá chegámos.
 
Entrámos os dois pela porta de armas, cada um foi para o seu sítio, mas no dia seguinte deixei de o ver. Afinal ficou cá. Não chegou a embarcar. Tinha as suas mazelas certamente. Eu também tinha as minhas, mas embarquei e ele ficou por cá.

No dia do embarque, no dia 23 de Outubro de 1968, como disse, logo de manhã lá estava fardado como deve ser, de saco às costas com os meus pertences. Foi só esperar que as camionetas começassem a chegar para levar toda aquela malta de rendição individual para o cais de Alcântara. Éramos cerca de sessenta.

Quando chegamos ao Cais, o grosso dos expedicionários já estava devidamente formado; era o Batalhão de Caçadores 2856 constituído por quatro Companhias, mais um Pelotão de Polícia Militar que ia para Cabo Verde e ainda outras Unidade mais pequenas, género Pelotões de Canhão Sem Recuo, Pelotões de Apoio Directo, etc.

Nós ficámos livres da formatura e, certamente por isso, fomos dos primeiros a embarcar. Ao cima das escadas lá estavam as senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino a darem um maço de cigarros "Porto", um isqueiro e uns aerogramas. Também por lá se viam uns senhores de chapéu e de sobretudo que alguns mais vividos diziam ser da Pide.

Carlos Pinheiro junto ao monumento do V Centenário da morte do Infante D. Henrique

O UÍGE atracado à espera, com a tropa formada, depois de um General ter passado revista às forças ao som de uma Banda Militar, depois dos discursos da ordem, lá começaram a embarcar, sempre com a Banda a tocar marchas militares.

Os nossos familiares estavam do outro lado das barreiras e muitos nas varandas da Gare.

Os lenços brancos a acenar eram mais do que muitos. Da minha parte lá estavam os meus pais e os meus tios que moravam em Lisboa. Sabia mais ou menos onde eles estavam posicionados porque tínhamos combinado antecipadamente. A amurada do barco do lado do Cais estava repleta de militares o que provocava um relativo adornar do navio.

Entretanto, cerca do meio-dia, as máquinas do navio começam a fazer mais barulho e a silvar. Vêem-se já os rebocadores que o hão-de ajudar a largar e a ganhar o rumo da Barra do Tejo. Foram momentos difíceis de descrever. Adivinhávamos facilmente que os familiares no Cais choravam. Alguns até gritavam. Ouvia-se.

A bordo também havia lágrimas em muitos olhos. O barco ganha rumo, a ponte "Salazar", era assim que se chamava a que hoje se chama "25 de Abril", começa a ficar cada vez mais perto até que passámos por baixo dela. Dali até à Barra e depois ao mar alto parece que foi um momento.

Mal ou bem lá fomos encaminhados para os nossos aposentos, para largarmos o nosso saco e para tomarmos conhecimento dos nossos beliches. A esmagadora maioria, onde eu estava incluído, viajámos nos porões que noutras viagens transportavam tudo e mais alguma coisa. O cheiro era horroroso. As camas eram mesmo tipo beliche, mas em madeira de pinho, com colchões de palha e uma manta da tropa em cima. A estrutura das mesmas, porque em madeira, estava já cheia de dedicatórias de toda a ordem que se possa imaginar, fruto de outras viagens de idas e de regressos.

Edifício do STM em Bissau

Já no mar alto fomos para a primeira refeição, o almoço, numa sala grande, a sala de jantar do barco, e a comida era aquela que nos quiseram dar, porque os orçamentos naquela altura já eram apertados.

Depois foram cinco dias a ver-se só mar e céu, tudo azul, e de vez em quando uns peixes voadores a acompanhar o UÍGE e por vezes até golfinhos como que a desejarem-nos boa viagem. Raras vezes avistámos outros barcos, mas sempre ao longe. Passámos relativamente perto das Canárias. Disseram-nos que, como aquilo era um Transporte de Tropas, estávamos a ser a ser acompanhados por um submarino. Já era a psico a funcionar.

No convés havia uma espécie de um bar onde se vendia cerveja e Coca-Cola, sendo esta uma novidade autêntica uma vez que na Metrópole a mesma ainda era proibida. A cerveja era holandesa. Eram garrafas de meio litro, verdes, que nós nunca tínhamos visto. Claro que com estes estimulantes a viagem parece que custava menos.

Nos porões, logo no primeiro dia, foram montadas bancas para a batota, neste caso a lerpa, e os profissionais dessa jogatina lá assentaram arraiais e foram depenando os mais desprevenidos, que eram muitos.

E assim chegámos a Bissau no dia 28, ao final do dia, tendo o barco ficado ao largo e o pessoal desembarcado para barcaças que de imediato tinham rodeado o navio.

A todos os que vão sobrevivendo e que há 42 anos a esta hora viajavam comigo no UÍGE, um grande abraço e votos de muita saúde.

Carlos Pinheiro
23 de Outubro de 2010


2. Comentário de CV:

Caro Carlos Pinheiro, bem-vindo à nossa Tabanca virtual, onde os camaradas mais ou menos operacionais, mais ou menos graduados e mais ou menos doutores na universidade ou na vida, têm lugar sem distinção.

Lá "fora" ficam as mordomices e tratamo-nos por tu, porque todos os ex-combatentes da Guiné são verdadeiros camaradas, pisaram o mesmo chão avermelhado, sentiram o mesmo calor húmido insuportável, passaram a mesma sede, e a maioria pensou muitas vezes se o dia seguinte seria ser o último da sua vida.

Descreves os momentos finais da tua partida, em Lisboa, comuns à esmagadora maioria de nós. Quanta dor e incerteza no porvir. Quantas mães, esposas, irmãs e namoradas se despediram dos seus entes queridos, pela última vez, sem o suspeitarem.

Tempos difíceis, Carlos, documentados no nosso Blogue, mas que nunca é demais relembrar para que nunca mais voltem a acontecer. Ressalvam-se os tempos actuais, mas isso são contas de outro rosário. Nós sim, fomos os verdadeiros expedicionários, o resto é tempo de antena nas TVs.

Carlos, a partir de hoje assumes a responsabilidade nos contares as tuas vivências, mesmo em Bissau aconteciam coisas, que nós homens do mato, gostamos de saber. Estás apresentado à tertúlia, portanto começa a trabalhar.

Pessoalmente, quero dar-te os parabéns por vires engrossar o já numeroso grupo dos Carlos, todos boas pessoas como tiveste ocasião de me escrever, mas convenhamos que temos na tertúlia um numeroso grupo de homens de excepção, independentemente de se chamarem Carlos ou não. Lembremos também as "nossas" senhoras, operacionais ou amigas, que dão ao nosso Blogue aquele toque de beleza, inteligência  e sensibilidade, tão próprias delas.

Ao terminar deixo-te o indispensável abraço em nome da tertúlia e dos editores que terão muito gosto em publicar as tuas memórias.

Saudações do novo camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5565: O meu Natal no mato (30): Também lá estive... (Carlos Pinheiro, 1º Cabo Op Msgs, STM/QG Bissau, 1968/70)

1. Mensagem de Carlos Pinheiro, com data de hoje:
Luis Graça:

Também lá estive é o titulo, por acaso. Mas o que eu queria dizer é que já tenho feito alguns comentários aqui para a Tabanca e ultimamente têm sido publicados.

Porém, salvo erro no dia de Natal, também resolvi contar as peripécias de uma noite de Natal, a de 69, mas creio não ter sido publicada.

Se calhar não cumpri as regras da casa. E era isso que eu precisava saber. Raro é o dia em que não espreito o site e de vez em quando lá aparece um ou outro do meu tempo.

Quando for possivel agradeço mesmo que me forneçam as instruções, isto é as regras, para me passar a sentir também um tabanqueiro, porque ami cá sibe.

Um abraço

Carlos Pinheiro

Ex-1º Cabo Op Mensagens, mobilizado para o BCAÇ 1911 que nunca conheci (Veio no mesmo UIGE em que eu fui) e que passei os 25 meses (Out 68 a Nov 70) no Dest ST/QG/Bissau.

2. Também lá estive...
por Carlos Pinheiro

Companheiros, camaradas e amigos!

Como ex-combatente na Guiné, Outubro/68 a Novembro/70, e como leitor assíduo do, permitam-me, nosso blogue, nesta época natalicia há recordações que nos vêm mais à memória e o melhor, antes que seja tarde,  é passá-las para o papel.

Era véspera de Natal de 1969 e se bem que a guerra por vezes abrandasse, nunca parava. E havia sítios e posições que nunca podiam ser descuradas. Por exemplo, na minha guerra, no STM do QG de Bissau, que comunicava com o mato, com todos os COPs, todos os Agrupamentos, todos os Batalhões, todas as Companhias e até muitas outras subunidades, através das quatro redes de rádio (grafia) existentes, que comunicava com a metrópole, em grafia e em fonia e às vezes até por tele-impressor, com o BT na Graça que depois encaminhava as mensagens para os destinos, que comunicava com a Marinha e com a Força Aérea através de tele-impressor quando funcionava, a nossa guerra nunca podia parar. E as antenas colocadas ali bem perto, na Antula, eram o suporte e a garantia de que as mensagens chegavam aos seus destinos.

Nessa noite de Natal, depois de um jantar mais que atribulado que chegou a meter uma marcha até à messe de oficiais e ao "palácio das confusões" (messe de sargentos) onde os senhores estavam numa grande janta e o pessoal de serviço sem direito a nada, (a CCS/QG, vá-se lá saber porquê, tinha-se esquecido de nós),  depois deste pequeno incidente se ter resolvido,e sem que a nossa guerra tivesse alguma vez parado, nessa noite que devia ser de paz, recebemos uma mensagem zulu (relâmpago) duma unidade de que já não me recordo, e que tinha estado a ser flagelada, a pedir simente, vejam bem, um FRAPIL, porque no ataque tinham ficado sem gerador e dentro em pouco ficariam sem comunicações.

Já era tarde, talvez mais de meia-noite, quando isto aconteceu. Foi só chamar-se o motorista, ainda me lembro, o Mamadu Djaló que mais tarde foi motorista de táxi na cidade, que estava encostado no Unimog e pormo-nos a caminho do Batalhão do Serviço de Material, ali à Bolola, e entregar a mensagem ao oficial de dia para providenciar no sentido do solicitado chegar ao seu destino logo de manhã cedo. E assim foi. Lá foi um Allouette, bem cedinho, cumprir esta missão importante de que nós tivemos logo o reporte quando o FRAPIL foi instalado e começou a cumprir a sua missão.

Nessa noite os rádios nunca pararam, mas este caso foi de facto o mais relevante que aqui recordo com nostalgia.

Carlos Pinheiro
1º cabo Op Msgs
26/12/2009

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Carlos: A gente (os editores do blogue) estão como tu e os demais camaradas do STM do QG de Bissau: não temos mãos a medir e não conseguimos publicar tudo o que chega à nossa caixa de correio... just in time.  Naturalmente que tu não és discriminado pelo simples facto de ainda não seres, formalmente, membro da nossa Tabanca Grande. Teremos, entretanto,  muito gosto em acolher-te na nosso grupo: afinal, tu também estiveste lá, és por direito próprio um camarada da Guiné... Manda-nos as duas fotos da praxe e promete respeitar as nossas dez regras de convívio  (disponíveis na coluna do lado esquerdo do nosso blogue)... E não te esqueças: uma vez camarada da Guiné, camarada da Guiné para sempre... Entre nós, pode haver amuos mas não há divórcios... Separações pode havê-las, sim, mas temporárias... E as nossas memórias são escritas  com humor, humanidade,  às vezes ainda com sangue, suor e lágrimas... Não são delitáveis (do inglês: to delete)... Até à próxima, camarada... Já agora, diz-nos donde és e/ou onde vives. Bom Ano. Luís Graça
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Nota de L.G.:

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5332: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (1): Em dia de anos do Tony Levezinho, lembrando o nosso Novembro negro (CCAÇ 12, 1969/71)


 Bambadinca >  Zona Leste > Sector L1   Meados de 1970 >  Furriéis Milicianos das CCAÇ 12, unidade africana de intervenção adida à CCS do BART 2917 (1970/72) >  "Sr. Jaquim, Sr. Humberto, Sr. Tê Roda, Sr. Tony,  reconhecem estes putos com vinte e poucos anos?", pergunta o Humberto Reis... O Joaquim Fernandes é o primeiro a contar da direita, seguido do Humberto Reis, do T. Roda (que já nos deu sinais de vida mas que ainda não pertence ao nosso blogue, com muita pena minha...) e, por fim, o Tony Levezinho (que por sinal faz hoje 62 aninhos)...

Foto: © Vitor Raposeiro (2009). Direitos reservados.




Lisboa > Centro Comercial  Colombo > FNAC > 28 de Junho de 20009 > O Tony e a Alice  à conversa, no dia do lançamento do disco dos Melech Mechaya... Ele está a perguntar à Alice quando é que a gente (eu e ela) os vão visitar a eles (Tony e Isabel) a Sagres, onde são os faroleiros da lua... A Alice deve-lhe ter respondido: - Isso, eu bem queria... mas só quando ele se reformar do blogue...





Lisboa > Centro Comercial  Colombo > FNAC > 28 de Junho de 20009  > O Tony, e em segundo plano a Isabel  à conversa com uma amiga nossa, a Ana, de Alfragide. Retirados do buliço de Lisboa, o Tony e a Isabel vêm cá só por causa dos filhos, do neto e dos amigos... De tempos a tempos.



Lisboa > Centro Comercial  Colombo > FNAC > 28 de Junho de 20009  > O Tony e a Isabel estavam entre os nossos amigos que quiseram assistir à exibição promocional do disco dos Melech Mechaya onde toca João Graça (violino)
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados.


Nunca esqueço esta data, o 24 de Novembro [de 1970], antes de mais por razões de amizade que ficaram para o resto da vida, e depois por razões circunstanciais:

(i) a 22 de Novembro de 1970, é o início da Op Mar Verde, os nossos vizinhos de Fá Mandinga, a 1ª CCmds Africanos, comandada por João Bacar Jaló, integra a força sob o comando de Alpoím Calvão que invade a Guiné-Conacri; todo o T0 da Guiné está em alerta;

(ii) a 24 o Tony fazia anos (23), e além disso era just married, um homem acabadinho de casar - nas férias - com a Isabel, menina prendada que fazia ballet e ginástica, 17 aninhos, um encanto, ams que ele teve o bom senso de não trazer para a Guiné, e muito menos para a buliçosa Bambadinca; o acontecimento é celebrado pelos amigos com libações de caixão à cova;

(iii) a 25 de Novembro, mandam-nos a toque de caixa, apanhar o ar fresco do Geba e da Foz do Corubal, lá para os lados da Ponta do Inglês, sempore de má memória;

(iv) no dia seguinte, 26, de manhã cedo, apanhámos a mais violenta das emboscadas de que havia memória no Sector L1: 6 mortos, à roquetada, 9 feridos graves...

(v) foi o nosso Novembro negro, com 18 meses de Guiné (*)... Mas isso foi há muito, faz parte hoje dos "nossos pesadelos climatizados"... Ao Tony, que é um discretíssimo membro do nosso blogue, mas o mais afável dos amigos, e à Isabel, sempre querida, aí vão os votos de que passem um belo dia, em Lisboa, na companhia da família mais próxima... Tony, mais logo telefono-te... de Bambadinca! (LG)



 Guiné > Zona  Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime >  Cais do Xime, na margem esquerda  Rio Gebam  >  Meados de 1970 > Reconhecem-no ? O nosso Alfero, quando ele quis passar-se para a Marinha... (Em segundo plano, uma LDM). Já agora, rcorde-se que ele também faz aninhos em Novembro, este ano longe, bem longe das bajudas de Fá Mandinga e de Bissaque (**)

Foto: © Vitor Raposeiro (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem de Vitor Raposeiro, com data de 15 de Novembro:

Caro companheiro:


Por mero acaso encontrei o vosso blogue acerca da história do pessoal da tropa que passou por Bambadinca em 1970/71.Ora acontece que eu estive em Bambadinca como fur mil. radiotelegrafista do STM [ - Serviço de Telecomunicações Militares] durante esse período e sou possuidor de um vasto arquivo fotográfico desse período e de quem aí viveu (Fur Mil  Levezinho e companhia)!

O meu problema é a memória que me falta para me lembrar dos nomes, de quem conheci, pois eu num processo de autodefesa varri completamente da memória esse período que eu considero que foi muito triste para muita gente.

Posto isto, lembrei-me que talvez lhe enviando as fotografias que eu encontrar, alguém se reconheça nelas o que seria interessante para a história daquele período da nossa vida comum. Aqui fica a minha ideia esperando que seja do vosso agrado.

saudações

Ex-Fur Mil STM Vitor Raposeiro



Bambadinca >  Zona Leste > Sector L1 >  Bambadinca > CCS do BART 29171 (1970/72)  > Em primeiro plano, de máquina na mão, o Vitor Raposeiro, cara que recordo mas que seria incapaz de associar ao seu nome...



Rio Geba, abaixo a caminho de Bissau > c. 1970/71 >  O Vitor Raposeiro, em primeiro plano, e por detrás dele parece-me ser o 1º Cabo At Inf José Marques Alves, de alcunha o Afredo (pertencia ao 2º Gr Comb, da CCAÇ 12, o mesmo do Tony Levezinho e do Humberto Reis; o Alves mora em Gondomar)...


2. Comentário de Luís Graça (ex-Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf, CCAÇ 12, Bambadinca, Julho de 1969/Março de 1971):

Meu caro Vitor:

Como eu costumo dizer, sem qualquer ponta de exagero nem de vaidade, o mundo é pequeno e o nosso blogue é... grande. É para isso que, de resto,  cá estamos: para reconhecer e sermos reconhecidos, para procurar e ajudar a encontrar velhos camaradas ... Ainda bem que nos topaste, por que vai ser o início de um belo reencontro... Mas, para isso, tens que me dizer onde vives, mandar-me o teu nº de telefone (para a gente tirar dúvidas e matar saudades),  contar o que estavas a fazer exactamente em Bambadinca (ao serviço da CCS do BART 2917 ? por conta e risco ? O que é que faziam, afinal, os homens do STM, que paravam uns meses por aqui e por acolá ?)... E, já agora, quando chegaste e quando partiste...

Convivemos ainda uns bons meses, lembro-me da tua cara, espero não me enganar...Há muita malta que passou por lá, no teu/nosso tempo, e que vais gostar de recordar, uns mais velhos (como a malta da companhia africana, a CCAÇ 12, a que pertenci eu - o Henriques -, o Humberto Reis, o Levezinho, o Roda, o Joaquim Fernandes, o Piça, o 1º Cabo Cripto Gabriel Gonçalves ...

Para já, convido-te a ingressar na nossa Tabanca Grande: o regulamento do hotel está afixado aí na coluna do lado esquerdo do nosso blogue.  As regras são simples. Podes fazer tudo o que te der na real gana. De preferência, partilha connosco as memórias (mesmo fragmetadas) desse tempo. Se tiveres segredos de Estado a revelar, melhor ainda...

Além de uma foto tua, tipo passe, antiga,  e outra actual, tens de contar a história do bandido, isto, é uma história do teu tempo de Bambadinca, quinze, vinte linhas...É a jóia de entrada no nosso clube... Quanto às fotos que enviaste através do Humberto Reis, vou continuar a publicá-las, tendo criado um álbum só para ti... (O que não é para todos, como podes verificar!).... Vê se me mandas também as datas (pelo menos o mês e o ano), em que foram obtidas as imagens...

Hoje faz anos o Levezinho, o Tony Levezinho, dele pelo que vejo estás bem recordado: era um dos nossos queridos amigos de Bambadinca... Vivia comigo e o  Humberto Reis no mesmo quarto...

Até à próxima, um Alfa Bravo. Luís

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1315: Fazer anos no mato: os azares do meu amigo Tony Levezinho (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 6 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5221: Parabéns a você (38): O nosso Alfero, Jorge Cabral (Cabral só há um, o de Fá e mais nenhum)(Editores)