Mostrar mensagens com a etiqueta artilharia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta artilharia. Mostrar todas as mensagens

sábado, 1 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8843: Cancioneiro de Bedanda (2): O soneto do artilheiro do 17º PELART, que termina com um sábio e genial conselho contra a loquacidade nacional: Findo, p'ra não obusar...




O "soneto do artilheiro", da autoria dos Fur Mil Art Machado e Fereira



Fonte: "O Seis do Cantanhês",  nº 1, 1973 (?)... Jornal mensal (só saíram dois números)...


1. Não conheço ninguém do 17º Pel Art que deve ter estado em Bedanda por volta de 1972/73...  Descobri agora, num exemplar do jornal de caserna "O seis do Cantanhez", milagrosamente salvo pelo António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73),  este cantinho dedicado ao "dezassete"... (Leia-se: 17=3  secções + obus 14)

Pois, camaradas e amigos da Guiné, vejo que a malta do 17º PELART era rapaziada que tinha coragem para dar e vender. Não sei se a artilharia era a aristocracia do exército (não me meto - estou proibido - nessas polémicas intestinas). De qualquer modo, o coice da coisa, o clarão do obus, o silvo, o trovão... era qualquer coisa  que fazia acelerar as pulsações do infante... Senti-las passar e silvar por cima da cabeça é uma experiência inesquecível: a princípio, uma gajo sente-se acagaçado, mas no fim o coração é invadido por um estranha e inebriante tranquilidade quando elas [, as granadas de obus,]  fazem calar as armas do inimigo... Sobretudo no mato, quando um gajo não tem buraco para enfiar os cornos...

Em contrapartida, o que lhe sobrava em sentido de humor era capaz de lhes faltar em talento... literário. Não se pode ter tudo, ou não se pode ser bom em tudo: mesmo assim a dupla Machado & Ferreira (onde é que vocês param, rapazes ?) deixaram-nos um  soneto,  pouco canónico é certo, mas bem humorado, e seguramente digno de figurar na antologia do(s) nosso(s) cancioneiro(o). 

Devo dizer-vos que adorei o último verso, um conselho (prático e terapêutico) para muita gente que neste país usa e abusa, todos os dias, do seu "tempo de antena", e que tem um problema de "incontinência verbal"...

Pois aqui fica, contra o desvario da loquacidade nacional, a advertência do artilheiro de Bedanda:

- Findo, p'ra não 'obusar'...

E eu também me fico por aqui... Não quero 'obusar', mesmo que às vezes me dê uma enorme vontade de 'obusar'... Durmam bem, artilheiros de todo o mundo! (LG)

PS - Não se pode falar da nossa heróica artilharia no TO da Guiné, em geral, nem do 17º PELART que esteve em Bedanda, em particular, sem chamar à colação o nosso doutor Amaral Bernardo e a sua famosa foto do obus 14 a fazer horas extraordinárias... (ou a faturar, como queiram).


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite. 

Legenda: "Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei"... 

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados.

_________________

Nota do editor:

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7782: Lições de artilharia para os infantes (1): Como era feito o tiro de obus 14 (C. Martins, ex-Alf Mil, Pel Art, Gamadael)












Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2617, Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971...  Três fotos (em mau estado...) do Fur Mil Abílio Pimentel, de seu nome completo Abílio Alberto Pimentel Assunção, junto à peça de artilharia 11.4. (Fotos do acervo da AD - Acção para o Desenvolvimento).


Fotos : © Abílio Pimentel / AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados. (Editadas por L.G. Reprodução com a devida vénia...)




1. Do nosso leitor (e camarada, ex-Alf Mil, Pel Art, Gadamael) C. Martins (actualmente médico), em comentário ao poste P7768 (*):
 
Caro Luis Graça


Em primeiro lugar a fotografia que apresentas com dois camarigos junto a uma peça 11.4,  nenhum deles sou eu


Aproveito para mais uma lição de artilharia para os infantes.A diferença entre peça e obus tem a ver com a relação calibre/comprimento do tubo, isto quer dizer que a peça tem o tubo mais comprido.


A orgânica de uma bateria de campanha (=companhia de infantaria)  era constituída por PCT (posto de comando e transmissões), IOL(informação,observação e ligação) que no caso da Guiné era feito normalmente pelos infantes e pilavs,sim porque nós artilheiros não eramos burros, em caso de engano não levávamos com os supostórios na mona que para isso estavam os infantes, e CAMPANHA (obuses ou peças).


O tiro de obus 14 era feito da seguinte forma:  (i) introduzia-se a granada no tubo, claro que com a respectiva espoleta;  (ii) depois soquetava-se a granada com um soquete (pau comprido e mais grosso na ponta)..(eh!,  nada de segundas intensões... este também podia servir para outras funções.. que deixo a vossa imaginação),  de forma a que a granada ficasse bem acoplada ao tubo;  (iii) depois introduzia-se a carga ou cargas consoante o critério do "inteligente" que comandava, fechava-se a culatra principal, introduzia-se a escorva (cartucho) na culatra auxiliar que era fechada e, (iv)  à voz de fogo,  o servente à culatra puxava o famoso cordel que accionava um percutor na escorva que ao rebentar transmtia uma chama, através do cogumelo, à culatra principal onde estava a carga que explodia fazendo sair a granada do tubo. 


E pronto,  a partir daqui era ter fé que a granada impactasse onde se pretendia e que explodisse...


Oh infantes,  vocês depois de dispararem a G3 iam fazer coreccção da trajectória da bala ?!.. Ah... como o tubo era estriado,  imprimia um movimento de rotação à granada que servia para dar uma trajectória mais correcta e também armava a espoleta.


Perceberam ou querem que vos faça um desenho ?
Um alfa bravo


C.Martins


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
____________


Nota de L.G.:


Vd. postes do C. Martins (que não integra formalmente a nossa Tabanca Grande):






23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

(...) Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.

Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.

Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.

Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.

Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00. (...)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

1. Reunião de três comentários do nosso leitor e camarada C. Martins ao Poste P7632, com data de 19 do corrente.


(i) Não sei qual era o nº do Pel Art de Bedanda em 1972.

Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.

Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.

Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.

Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.

Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00.

Sempre disposto a dar lições de artilharia aos infantes...ah.ahh
Um artilheiro com "MANGA SABURIA NOS CABEÇA", segundo os meus soldados, tá claro.

C. Martins

(ii) Mais uma lição, tá bem, é à borla...

O maior perigo ao fazer fogo era o chamado rebentamento à boca… Estão a imaginar a granada explodir à saída do tubo… mas estão mesmo, mesmo, mas mesmo mesmo. Não tenho conhecimento que tal tenha acontecido na Guiné mas sei que aconteceu na EPA, em Vendas Novas.

O raio de acção da granada ao explodir era teoricamente de 400 metros. Em Vendas Novas vi pinheiros com o tronco com 40 cm de diâmetro completamente cortados. Na artilharia considera-se que um erro de 100 metros é um tiro no alvo.

Se quiserem posso continuar a dar algumas explicações...são gratuitas.

ATENÇÃO: é extremamente ofensivo para um artilheiro chamarem canhões aos obuses e peças assim como cano ao tubo. Na artilharia não há canhões nem canos, ouviram ?!

O pseudo-catedrático em artilharia
C. Martins

(iii) Bom, havia em toda a Guiné Pel Art independentes, de obus 14 ou 10,5 e peças de 11,4 destacados pelo GAC 7, que era constituídos por três bocas de fogo, tendo cada uma delas uma dotação de 10 serventes e eram comandadas por um furriel, tendo obviamente como comandante do Pel Art um alferes.

Os soldados, como todos sabem, eram do recrutamento local.

Admirados com o custo de cada tiro ? ...Oh meus desgraçados infantes, julgam que não gastavam dinheiro ?! Cada tiro que davam com a G3 eram 7$50.. ou pensavam que era à borla ? Gastou-se muito dinheiro em Bedanda e nos outros sítios, em contrapartida comiam farinha de arroz com "estilhaços" que era para aprenderem a não gastar tanto dinheiro com o material bélico

O Catedrático... ou mais

C. Martins

____________

Nota de L.G.:

Vd. poste de 16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7621: (Ex)citações (126): Irã cego, de Carla (ou Clara) Amante (José Brás)

Foto acima: O obus 14... Região de Tombali, Bedanda, 1972... Foto de Vasco Santos (ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 6, 1972/73)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7420: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (33): Tradutora pede ajuda ao nosso blogue para as expressões zone-call e clock-code, usadas em especial pela artilharia (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 23 de Novembro de 2010, para a qual pedimos a atenção dos camaradas:

Caros Camaradas e Amigos

A prova de que não somos só nós, os antigos combatentes, a visitar o nosso blogue, são os vários pedidos que recebo, sobre os mais variados assuntos.

A satisfação que sinto ao receber esses pedidos,  não é porque se me dirigem, mas porque reconhecem nos combatentes uma fonte de informação que é útil a outros que não passaram pela nossa experiência.

O caso presente é/foi iniciado com um mail que me foi dirigido, por uma senhora, tradutora de profissão, que me colocou umas questões técnicas, mas a que não sei responder, de que transcrevo:

“Antes de mais nada, o meu pedido de desculpas por 'invadir' assim a sua caixa de correio. Mas preciso de ajuda de alguém que perceba de transmissões militares e encontrei-o na Net.

“Passo a explicar: sou tradutora e estou a traduzir um romance que se passa em França, durante a Primeira Guerra. O herói é um observador e utiliza dois códigos na transmissão das observações.”

Pensando que esta nossa leitora pretendia conhecer alguns procedimentos de transmissões, falei-lhe como se processavam as mensagens quer entre “unidades em quadrícula” e entre estas e as forças em operação e como eram processadas as mesmas, utilizando não só a criptografia convencional, mas também aquela que “emanava” das nossas mentes, permitindo conversações cifradas utilizando, muitas vezes “linguagem clara e coerente”.

Mas não era estas explicações que se pretendiam:

“ E eu não faço a mínima ideia de como é que isto se diz em português. Será que pode ajudar-me? Estamos a falar de sinais 'zone-call' e 'clock-code'. Este último tem uma tabela (chart) que ele consulta para emitir as referências. Isto diz-lhe alguma coisa?

A designação zone-call, pela pesquisa que fiz na Net, pareceu-me tratar-se de coordenadas já que, iniciada em 1916, durante a I Grande Guerra, menciona a divisão de um mapa em áreas e, estas, em sub-áreas. Quanto à designação clock-code e recorrendo à mesma fonte, é um método de cálculo mental de divisão de um ângulo entre zero e sessenta graus, apresentando uma tabela, no texto consultado.

É assim, desta forma, que dirijo ao todos os camaradas, especialmente aos artilheiros, tertulianos ou não, um pedido de ajuda, já que se trata de “observação de tiro de artilharia” dado que, na altura em que decorre a história que o livro conta, pois trata-se de uma história passada na I Grande Guerra, ainda não havia aviões de combate.

Resumindo: a questão que nos é colocada é saber qual a tradução das expressões zone-call e clock-code, para português.

Agradeço antecipadamente A TODOS, A COLABORAÇÃO POSSÍVEL.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7331: Em busca de... (149): Pedido de informação sobre a naturalidade de Vitorino António Marques (José Sampaio/José Martins)

Vd. último poste da série de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7378: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (32): Estava no Cantanhez, no dia 1, e fiquei emocionado com o vosso poste de parabéns que só agora, em Bissau, posso agradecer (Pepito)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5352: Patronos e Padroeiros (José Martins) (2): Exército - Arma de Artilharia - Santa Bárbara





1. Segundo poste da série Patronos e Padroeiros das Armas do Exército Português, um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70).





PATRONOS E PADROEIROS - II

EXÉRCITO - ARMA DE ARTILHARIA – SANTA BÁRBARA



Barbara, nasceu nos finais do Século III, na cidade de Nicodémia, actual Izmit na Turquia, filha única de Dióscoro, um rico e nobre habitante do Império Romano.

Tendo necessidade de viajar e não querendo deixar a filha desprotegida no meio de uma sociedade corrupta, resolveu deixá-la fechada numa torre. É que além de ser bela tinha muitos pretendentes para com ela casar, mas que recusava sistematicamente.

Dióscoro, seu pai, receoso de que a atitude da filha se devia ao facto de ter estado muitos anos fechada na torre, permitiu que fosse conhecer a cidade. Durante a visita teve contacto com os cristãos que lhe transmitiram os ideais do catolicismo, a vida de Jesus e o mistério da Santíssima Trindade. Algum tempo depois, um padre vindo de Alexandria, baptizou-a.

Para melhorar as condições de habitabilidade da torre onde Bárbara passava a maior parte do tempo, mandou construir uma casa de banho com duas janelas. Pouco tempo depois, voltou a ausentar-se.

Durante esse tempo, Bárbara mandou rasgar uma terceira janela no quarto de banho da torre, além de mandar esculpir uma cruz sobre a fonte. Quando voltou, ao ver as alterações operadas, questionou a filha, tendo esta dito que aqueles eram os símbolos da sua nova fé.
Vendo que a sua filha recusava a fé dos Deuses do Olimpo, denunciou-a ao Prefeito Martiniano que a mandou torturar, mas sem qualquer resultado, pelo que acabou condenada à morte.

Barbara, com os seios cortados, foi levada para fora da cidade, onde o próprio pai a degolou.
Quando a sua cabeça tombou no chão, um forte trovão ribombou, fazendo tremer céus e terra, enquanto um relâmpago atingiu o corpo de Dióscoro, que tombou por terra sem vida. Isto passou-se em Nicodémia, no século IV.

A partir dessa altura, Santa Bárbara, venerada pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa, passou a ser a padroeira dos Artilheiros, mineiros e dos que lidam com o fogo, tendo a sua Festa litúrgica em 4 de Dezembro.

Santa Bárbara, foi proclamada Patrono da Arma de Artilharia pela Portaria de 6 de Maio de 1959 e Ordem do Exército (1.ª Série), de 30 de Maio seguinte.

José Marcelino Martins – 24 de Novembro de 2009
[Organizado a partir de imagens e textos da Wikipédia]

__________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 26 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5347: Patronos e Padroeiros (José Martins) (1): Exército - Arma de Infantaria - D. Nuno Álvares Pereira

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5329: (Ex)citações (53): Ex -1º Cabo Art Pes Armando Abasse Camará, Cacine (Magalhães Ribeiro)


1. O utilizador do You Tube, Branco 1950, escreveu o seguinte comentário sobre o vídeo

Ex -1º Cabo Art Pes Armando Abasse Camará, Cacine, 2/3/2008:

Fui o último comandante de pelotão do Armando.
Um HOMEM que me ajudou a crescer.
O abandono por Portugal dos homens que serviram a que consideravam a sua Pátria, é um episódio que envergonha Portugal.

O microvídeo, de 5' 27'', foi colocado pelo nosso editor Luís Graça, em 2 de Março de 2008. Foi produzido no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008. Tem a seguinte legenda:




"Visita ao sul. Cacine. Depoimento de um antigo militar das NT (1966/74), natural de (e residente em) Cacine. Com uma comissão em Angola. Elemento de contacto das NT com o PAIGC em 25 de Abril de 1974. Abandonado por nós. Uma história que nos envergonha".

Presume-se que Branco 1950 seja um antigo alferes miliciniano de artilharia que passou por Cacine. Deconhecemos a unidade.  Também não temos o seu endereço de email. Gostaríamos de o poder localizar. Se ele nos ler, aqui fica o convite para nos contactar.

Mais vídeos do nosso blogue estão disponíveis em You Tube > Nhabijoes

Abraço,
MR
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:



Vd. ainda:

29 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2994: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (17): Cacine, a voz dos abandonados (I)

(...) O ex -1º Cabo de Artilharia Pesada Armando Abasse Camará, natural e residente de Cacine... Esteve ao serviço das NT desde 1966. Pelo que percebi foi apontador de obus 14. Em Cufar, por exemplo. Tem uma comissão em Angola, em 1972. De regresso a Cacine, foi elemento de contacto das NT com o PAIGC em 25 de Abril de 1974, ao serviço do COP 5, na altura chefiada por um oficial superior da Marinha. (...).

domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais

, A Zona Histórica do Porto e a Ponte de D. Luís, vistas pela objectiva e pelos olhos do Portojo, um dos melhores poetas-fotógrafos do Porto (o nosso camarada Jorge Teixeira, mais conhecido por Portojo) > "Depois da Invernia, subi ao adro do Mosteiro da Serra do Pilar, para ver as cores da minha cidade" (Portojo)... Foi aqui, no antigo mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, no mítico RAP 2, que começou a aventura africana do Alferes Mil Capelão Arsénio Puim, em Novembro de 1969... (LG)


Foto: © Portojo (2009). Direitos reservados


1. Mensagens de Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/ BART 2917, e que esteve em Bambadinca entre Maio de 1970 e Maio de 1971 (A sua comissão terminou mais cedo, um ano depois de ter chegado a Bambadinca, por decisão do Com-Chefe, ao que se sabe). Vive actualmente em Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, Região Autónoma dos Açores (RAA). Está reformado como enfermeiro do Serviço Regional de Saúde da RAA (*).


12 de Junho de 2009

Luís Graça

Como te havia dito no email anterior, começo a minha participação no Blogue, em forma de pequenos registos com alguma ordem cronológica e temática, se achares que tem interesse.

Um abraço amigo - Arsénio Puim



1 de Junho de 2009

Luis Graça

Chegado já há alguns dias a Vila Franca do Campo, devo dizer que o prazer que tive de encontrar velhos companheiros da Guiné em Viana e em Lisboa compensou, só por si, a minha deslocação a terras do continente português. E quero agradecer-te todas as atenções e referências que me dedicaste durante a minha estadia em Lisboa.

Como havia dito, tenho em mente participar no documental blogue de Luis Graça, talvez com o registo de alguns factos, à maneira de pequenas crónicas, que eu possa relembrar e que constituam mais uma achega para a nossa história comum na Guiné. Fá-lo-ei, porém, lentamente - sou mesmo muito lento naquilo que faço - e numa fase um pouco mais tardia, em que espero ter maior disponibilidade de tempo.
Recomenda-me com a tua esposa. Um abraço amigo - Arsénio Puim


2. RECORDANDO... I - NO RAP 2, EM VILA NOVA DE GAIA

por Arsénio Puim

Este é o primeiro duma série de pequenos relatos, para este histórico blogue de Luís Graça, respeitantes à minha vivência como alferes capelão do Batalhão 2917, que acompanhei desde a Serra do Pilar até Bambadinca, no centro da Guiné, entre Dezembro de 1969 e Maio de 1970.

É meu propósito essencial rememorar e partilhar com os antigos companheiros do Batalhão, por quem tenho muito apreço, alguns factos e acontecimentos que nos são comuns, sem nunca pretender atacar quem quer que seja.

Depois duma curta preparação na Academia Militar, em Lisboa, - tema a que gostaria de voltar mais tarde – vim parar, em finais de Novembro de 1969, ao RAP 2, na Serra do Pilar, em Gaia, para me juntar ao Batalhão [de Artilharia] 2917, que ali estava a ser mobilizado, com destino à Guiné, e me tinha sido atribuído por sorteio, realizado no final do referido curso de capelães militares.

À distância de 40 anos, e recolhido aqui em terras dos Açores, guardo ainda hoje algumas recordações desta estadia, durante três meses, naquele Regimento de Artilharia Pesada.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > Um das famosas imagens da guerra da Guiné, a saída do obus 14, de noite, tirada com a máquina rente ao chão, pelo então Alf Mil Médico Amaral Bernardo (hoje médico do Hospital de Santo António, Porto, e membro da nossa Tabanca Grande)... A padroeira dos arilheiros era(é) a Santa Bárbara... O dia da Arma de Artilharia festeja-se a 4 de Dezembro (LG)

Foto: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.


A minha primeira participação em eventos mais assinaláveis desta comunidade militar do Norte foi a Festa de Santa Bárbara, padroeira das Unidades Militares de Artilharia, realizada no dia 4 de Dezembro com considerável aparato. Uma coisa que me intrigou na altura, e que ainda hoje não sei decifrar, foi esta relação de Santa Bárbara com a Artilharia: será por esta santa, algo mítica, ser invocada como protectora nas trovoadas, e o ribombar dos trovões ter alguma semelhança com o estrondo causado pelas armas pesadas?

Depois veio o Natal. Todo o mundo partira, nessa noite, para as suas terras, e o Quartel, ali sobranceiro ao Douro adormecido e olhando para o Porto entregue aos seus convívios familiares, ficara quase deserto. O pequeno grupo que restava – oficial e sargento do dia, capelão e uns poucos soldados – celebrou também a sua consoada, no bar dos oficiais, onde não faltava apetitosa comida, bom vinho e muita saudade.

Botei a palavra. Neste contexto natalício e de ausência familiar, para mais com a perspectiva da partida próxima para a Guiné e já alguns eflúvios vínicos a actuar (os quais são sempre propícios a gerar inocentes climas de comoção), vivemos alguns momentos de grande sentimentalidade, com algumas lágrimazinhas mesmo a aparecerem ao canto do olho. Lembro com simpatia esta noite, embora não recorde já os convivas.

Foi no final de Fevereiro de 1970 que teve lugar a Comunhão Pascal da Guarnição, presidida pelo «bispo brigadeiro» de Portugal, responsável pelo Vicariato Castrense e a assistência religiosa aos militares do País.

Os Comandantes do Regimento e eu esperámo-lo junto do Mosteiro do Pilar. Saindo dum carro grande do Estado, conduzido por um soldado, D. António percorreu, admirou, reclamou mais dinheiro para aquelas velharias do Mosteiro. Um pouco atrás seguia eu, quando se chegou junto do meu ouvido o capitão-capelão-chefe do Porto, que me segredou:
- Arranje uma batina (sotaina) e apareça com ela amanhã. O D. António ficou danado(Eu tinha estado, no dia anterior, na Comunhão Pascal da Reclusão do Porto, vestido, apenas, com o fato e o cabeção eclesiásticos).

Certamente uma questão bem fútil no contexto da problemática, já então acesa, dos capelães militares e da guerra colonial.

Era o RAP 2, em Gaia, que recebia os soldados de toda a região norte mortos no Ultramar. Várias dezenas de caixões empilhavam-se uns sobre os outros numa grande sacristia, mal iluminada, da igreja do Pilar, que eu atravessava – um pouco de corrida, confesso – quando ia celebrar missa. Não raro, alguns caixões abriam espontaneamente um pequeno orifício por onde vertia um líquido fétido de cor esverdeada, até que os soldadores fossem chamados para obturar a brecha.

Cabia ao capelão do Regimento fazer os funerais, de acordo com uma escala elaborada pelos serviços competentes, acompanhando a urna até à terra natal de cada soldado, que o pároco e a população em peso aguardavam, com grande consternação e incontido choro geral, num sítio próximo da igreja.

Foram mais de 60 funerais que fiz nestes três meses - 2 ou 3 deles apenas as caixas dos ossos - nas mais diversas e recônditas aldeias do norte de Portugal. Um sacrifício dramático da nossa juventude, merecedor de muito respeito e dignidade, mas que não podia deixar de fazer pensar qualquer pessoa.

Arsénio Puim

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores, rekacionados com o Arsénio Puim:

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4416: Memória dos lugares (26): Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72 (Arsénio Puim, ex-capelão)

25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )

23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3986: O Nosso Livro de Visitas (57): Tony Grilo, Canadá: Artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cabedu > Restos (arqueológicos...) do antigo destacamento de Cabedu... Por aqui passaram, em 1963/56, os valorosos e esforçados militares portgueses da CCAÇ 555, comandados pelo Cap Inf António Ritto e de que fazia parte o Fur Mil At Inf Norberto Gomes da Costa, hoje mestre em história, e que passa a integrar a nossa Tabanca Grande.

Foto: © José Teixeira(2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de Tony Grilo com data de 26 de Fevereiro de 2009 dirigida ao nosso Blogue

Amigo Graça:

Desculpa o meu começo Pois eu sigo os teus conselhos. Na tabanca todos nos tratamos por tu, e aí vai.

Caro amigo Graça, primeiro que tudo quero felicitar-te pela tua obra.

Agora se me dás licença, vou-me apresentar: O meu nome é Tony Grilo, cumpri o serviço militar, um ano e meio, em Portugal, e em 1966 fui mobilizado para a Guiné.

Saímos, no dia 31 de Maio de 1966, do cais de Alcântara no navio Alfredo da Silva. A viagem demorou 6 dias, percorremos 3666 milhas marítimas e chegámos no dia 6 de Junho de 1966.

O navio ficou ao largo, à espera do capitão de porto para o rebocar para o cais. E ali também vinham 6 pessoas.

Isto é apenas uma pequena história que sucedeu.

Agora vou contar-te algo mais sobre a minha pessoa!

Estive 24 meses na Guiné, era Apontador do obus 8,8 e a nossa Bateria, estava situada no QG em Bissau.

Estive ali só 2 semanas, pois fui enviado logo para o mato, Cabedu, ao Sul da Guiné, na célebre mata do Cantanhez.

Estive lá longos 18 meses, onde a vida era difícil, muita fome aí passávamos.

Ao fim desse tempo regressei a Bissau.

Como era bom rapaz e o capitão engraçou comigo, disse logo ao Primeiro para me marcar viagem para o mato. O motivo foi por me desenfiar do quartel. Não havendo sítio melhor, fui logo para Cacine e Cameconde, também ao Sul, na área do Cantanhez.

Graça, isto é só um pequeno apontamento, pois agora que tenho o vosso E-Mail, já é mais fácil contar as minhas histórias da passagem pela Guiné.

Actualmente vivo no Canadá, já há 38 anos, estou reformado e estou a pensar regressar ao nosso lindo Portugal em fins de Maio deste ano.

Graça, em breve vou-te enviar as minhas fotos.

Queria pedir-te um especial favor: gostaria de saber como contactar com camaradas da [CCAÇ] 1427, [CART] 1614 e da BAC que estiveram nos anos 1966 a 1968.

Um grande abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande.

Para o Graça um forte abraço, deste teu camarada que terá muito gosto em conhecer-te pessoalmente.

Talvez em breve aquando do meu regresso a Portugal!

Até breve, caro AMIGO!

Tony Grilo

2. Mensagem de Luís Graça para Tony Grilo, com data de 27 de Fevereiro de 2009:

Tony:

Sê bem-vindo. Vou publicar (eu ou o Carlos Vinhal) a tua mensagem. Presumo que queiras figurar no nosso blogue (e na nossa Tabanca Grande) com as fotos da praxe (pelo menos uma antiga, do teu tempo de artilheiro) e outra actual.

Então vives no Canadá... Em que sítio? Toronto? E já agora, em que terra nasceste ou aonde costumas vir, de férias?

Olha, tenho ideia que me mandaste mais dois mails, a seguir a este. Pode ter acontecido eu tê-los eliminado sem querer, pensando tratar-se de Spam... Podes fazer o favor de os reencaminhar de novo para mim ?

Um bom fim de semana, camarada e amigo Tony. Vai gozando a tua reforma com saúde.
Recebe um abração do Luís


3. Comentário de CV

Caro Tony, esperamos as tuas notícias e as fotos da praxe.

Suponho que foste em rendição individual para seres colocado na Artlharia (BAC]em Bissau.

Hás-de contar-nos mais pormenores das tuas aventuras durante a tua estadia no mato, disparando aquelas velhas, mas eficazes peças.

Como diz o Luís Graça, gostaríamos de saber mais de ti, como por exemplo, o teu antigo posto militar, onde é a tua terra natal e outras coisas mais que nos possas contar.

Recebe um abraço em nome da tertúlia.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3792: O Nosso Livro de Visitas (56): Paulo Botelho procura fotos da CCAÇ 2789, Guiné, 1970/72

domingo, 13 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral


"Dispositivo do Sector Sul em Abril de 1973, pouco antes do ataque do PAIGC a Guileje. O COP 5 tinha sido activado em 22 de Janeiro de 1973, comandando as unidades instaladas em Guileje, Gadamael e Cacine. A vermelho, as zonas de intervenção do Com-Chefe " (NR).


Imagens : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.


1. Fim da apresentação dos slides referentes à comunicação do Cor Art na situação de reforma, Nuno Rubim > Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 5 de Março ded 2008 > Painel 3 > O pós-Guiledje: efeitos, consequências e implicações político-militares do assalto ao aquartelamento. Moderador: Mamadú Djau (Director do INEP) > Comunicação de Nuno Rubim, português, Cor Art Ref > 17h30 – 18h00 > "A batalha de Guiledje: uma tentativa de reconstituição histórica em dioramas" (*)



Documento secreto, directiva nº20/73, de 27 de Maio de 1973:

"3. Procedimentos de voo de carácter geral: São estabelecidos os seguintes procedimentos de voo, aplicáveis a todas as aeronaves e em todos os tipos de missões:

"a. Altitudes de voo - acima dos 6 mil pés [cerca de 2000 metros] e abaixo de 200 pés.

"b. Entre aquelas altitudes, todas as aeronaves manobram constantemente (mudanças bruscas de rumo e de altitude).

"c. Todas as subidas e descidas sobre as pistas do interior do TO são executadas em espiral, cpm in versões ferquentes de sentido.

"d. As rotas são variadas de a que as areonaves, sempre que possível, nã sobrevoem sempre os mesmos pontos, pelo menos dentro de períodos curtos de tempo.

"e. Todas as areonaves actuam, no mínimo, em parelha".

"O Míssil anti-aéreo SA-7 Strela. Um dos factores mais decisivos na guerra da Guiné" (NR).


"A reunião de Comandos em 15 de Maio de 1973 ( oito dias antes do início do ataque a Guileje). Se não existissem mais evidências, esta reunião deixou perfeitamente claro que os altos comandos na Guiné já não acreditavam numa solução militar e os pedidos de reforços colocados, irrealistas e absurdos no contexto internacional de então, constituíram um “recado” claro ao governo português"(NR).









As exigências da Marinha...





As reivindicações da Força Aérea...

Comentário de L.G.: A hierarquia militar portuguesa tem perfeita consciência da inferioridade das NT (Exército, Marinha e Força Aérea) , em termos de material bélico. Esta estimativa do equipamento em falta é sintomática... Ou tratava-se de fazer chantagem contra o poder político, sediado lá longe, em Lisboa ?





"Cópia e resumo dos originais autógrafos de Amílcar Cabral do planeamento do ataque a Guileje, operação “Maimuna-A”. Arquivo Amílcar Cabral/ Fundação Mário Soares"(NR)







"Ataque a Guileje, a partir de 22 de Mai 73. O dispositivo do PAIGC ... Só para ti, Luís, julgo eu... Este dispositivo constituíu a única parte da minha intervenção que sofreu uma confirmação já na Guiné. Como deves saber eu fui para lá em 8 de Fevereiro. No interim tive oportunidade de conversar, na AD, com o hoje Maj Gen Watna Na Lai, um dos Cmdts da Art do PAIGC no ataque a Guileje ( conjuntamente com o Gen Veríssimo Seabra, que foi CEMFA, assassinado em Out de 2004 ). Ora quando lhe mostrei a minha 'teoria' sobre a implantação das posições da Artilharia do PAIGC durante o ataque ele ficou surpreendido e disse-me que tinha sido tal e qual !!!

"O que eu fiz foi simplesmente, sabendo do alcance máximo dos materiais utilizados, marcar na nossa carta 1:50000 esses alcances com círculos e depois ver onde eles interceptavam as possíveis vias de comunicação ( caminhos ) que vinham da Guiné-Conacri, por onde o material forçosamente teria de ser deslocado com alguma facilidade. Aí seriam as prováveis bases de fogos ! A nossa carta era de facto extraordinária !

“Bingo” … eram mesmo ! …, segundo ele confirmou! ( vê no CD o esquema que eu tinha idealizado): “Artilharia do PAIGC- Ataque a Guileje”) (NR) .

O PAIGC toma posse do aquartelamento de Guileje, em 25 de Maio de 1973, três depois da retirada das NT. Foto do Arquivo Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares.

Raio de acção do armamento do PAIGC, que cercava Guileje: Morteiro 120 (4 km); Grad (6 km); peça de 130 mm (12 km)... Reconstituição de Nuno Rubim.





Comentário de L.G.: Agradeço ao Nuno Rubim as notas que me cedeu e que acompanharam os seus slides, enviados em CD-Rom. A sua comunicação, em Bissau, foi oral.

______

Nota de L.G.:

(*) Vd.postes anteriores:

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3054: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (1): Como dar a volta aos Strella ?

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3055: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (2): Slides (1 a 4): O sector sul

13 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3056: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (3): Slides (de 5 a 9): Comparando os armamentos

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2773: Álbum das Glórias (44): A viatura AEC Matador 4x4 e outras peças do museu da artilharia (Nuno Rubim / Torcato Mendonça)

Évora > Regimento de Arilharia Ligeira (RAL) 1 (que passou depois a 3) > Finais dos anos 30 ou princípio dos anos 40 > Cavaleiros e artilheiros... "O meu pai serviu no RAL 1... Ele deve ter entrado em 1936/37, saiu, veio a guerra, o entra sai e só em 43 se livrou daquilo.Por isso eu sou um jovem de 44" (TM)...

Évora > RAL 3 > Finais dos anos 30 ou princípio dos anos 40 > Os garbosos artilheiros que nos precederam...


Évora > Parada do RAL 3 > Princípio dos anos 40 ou finais de 30 > E se Portugal tivesse sido invadido e ocupado pelos alemães ?

Évora, RAL 3 (?) > Legenda, precisa-se... O Torcato mandou mensagem lacónica: "Gostava de saber que raio de Peças e Obuses são estes. O Coronel Nuno Rubim sabe. Dizem-me algo as fotos. Questões afectivas"....

Évora, RAL3 (?)> Finais dos anos 30 ou princípio dos anos 40 > Legenda, precisa-se... Mas, isto já não é artilharia ligeira, pois não ? Onde é que acaba uma, a ligeira, e começa outra, a pesada ?

Évora, RAL 3 (?) > Finais dos anos 30 ou princípio dos anos 40 > Legenda, precisa-se...

Fotos: © Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Esclarecimento do meu/nosso assessor científico para as questões de artilharia e história da artilharia, o Cor Art Ref Nuno Rubim:

Caro Luís:

A viatura AEC Matador 4x4 foi adquirida, aquando do negócio para aquisição da Peça de 11, 4cm e do Obús 14cm, como tractor destes dois materiais.

Ainda trabalhei com elas ... Há muito que foram abatidas ao serviço.

Segundo uma informação que tenho, foi (uma ou mais ?) enviada(s) para Cacine para o(s) rebocar(em) para Guileje e Gadamael, em datas ainda não determinadas. Existe uma foto, de reduzida qualidade, em Guileje, enviada pelo nosso camarad Amaro Samúdio.

Há ainda uma estória, que seria muito interessante confirmar, de que um dos obuses de 14cm ( destinados a Guileje, para substituir o 11,4, de que já não existiam munições), teria "ido pela borda fora" (sic) em Cacine, pouco antes do ataque do PAIGC. Só lá chegaram dois..., um sem aparelho de pontaria e ambos sem tábuas de tiro !...

Um abraço

Nuno Rubim

2. Comentário de L.G.:

Nuno:

Obrigado pelo teu oportuno e sempre esclarecedor apontamento. Espero que não me leves a mal pelo facto, de à tua revelia, sem aviso prévia, à boa maneira da tropa, eu te ter promovido a assessor científico do blogue.

Já não era sem tempo: é apenas um formal reconhecimento dos teus múltiplos talentos, competências, saberes, interesses... E sobretudo a expressão do meu/nosso agradecimento pelos teus valiosos contributos (incluindo ideias, sugestões, comentários, críticas e.. conselhos) para este repositório de memória(s) e de conhecimento, que é obra de um colectivo, mas também de individualidades como tu.

Sei que, por educação, formação, idiossincrasia e personalidade, não gostas de estar sob as luzes da ribalta. Mas, olha, paciência. É por uma boa causa. Sei que, no fundo, tens uma boa alma de escuteiro. E, generoso e voluntarista como és, queres agora levantar das cinzas do esquecimento outra praça forte do nosso saudoso Império: Gadamael... Não me esquecerei do teu pedido à malta da tertúlia, para te/nos mandar fotos, estórias, apontamentos, cartas, aerogramas, croquis, enfim, impressões de Gadamael. Para que Gadamael, a gesta de Gadamael, o lugar de Gadamael na nossa memória e na memória dos guineenses não se perca...

Já agora, dá um jeito ao Torcato Mendonça que me mandou as velhas fotos do tempo da tropa do pai dele... Évora, RAL 3, diz-te alguma coisa ? E estas peças de museu, que publicamos acima ? Constam dos teus catálogos ? Com um pai artilheiro como o teu, também deves ter crescido com estes brinquedos... Desculpa lá o mau jeito, a verdade é que os amigos são os gajos mais oportunistas que eu conheço... E se é verdade, aproveito para te pedir que me esclareças se o nosso obus 14 ou a peça 11,4 podem já ser classificados como artilharia pesada...

Um Alfa Bravo deste teu amigo e camarada, Luís Graça.

3. Nota do Torcato Mendonça:

Muito rápido. Talvez o nome Matador viesse da dificuldade em conduzir tal viatura – trava, acelera…ou outra troca de pedal e lá vai a malta para o Maneta (com M porque era General de Napoleão e em terras de Portugal degolava tudo, fod…). Quando estive em Évora ainda lá estavam.

Esta foto pertence a outras enviadas – 26 de Março – para o Cor Nuno Rubim decifrar aquela artilharia…

Se ainda mandaram aquilo para a Guiné… porra, vão gozar com o caneco. Estava a GUERRA PERDIDA?! (2) Bom… com aquelas peças de artilharia das fotos até o Nino dava á sola…Não deu, então qualquer dia está em Bruxelas…

Abraços
Torcato Mendonça
Fundão

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2769: Álbum das Glórias (43): Viaturas automóveis: O Matador (César Dias, CCS/ BCAÇ 2885, Mansoa e Mansabá, 1969/71)

(2) Vd. poste de 17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

domingo, 6 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2724: Dando a mão à palmatóría (7): O obus 11.4, da Primeira Guerra Mundial, mais conhecido pelo Bonifácio (Luís Graça / Nuno Rubim)

1. Comentário do editor, L.G.:

Erradamente legendámos esta imagem, nestes termos (1): Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > Uma das fotografias-ícones da batalha de Guileje: a expressão de preocupação estampada no rosto do Major Coutinho e Lima, por detrás de uma viatura blindada ou de uma peça de artilharia... O comandante do COP5 terá, de motu proprio, decidido abandonar Guileje para salvar 600 vidas. Decisão que os seus superiores hierárquicos nunca lhe terão perdoado. Recorde-se que ele esteve preso preventivamente em Bissau, de 22 de Maio de 1973 até 12 de Maio de 1974. O auto de corpo de delito que lhe foi levantado, por despacho do General António de Spínola, de 22 de Maio de 1973, tinha a seguinte justificação: (i) Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guileje para Gadamael, sem que para tal estivesse autorizado; (ii) Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições; (iii) não cumpriu a missão que lhe foi atribuída.

Além disso, havia também um erro na atribuição de autoria da fotografia:

Estas fotos, originalmente publicadas no 'Público', devem ser da autoria do Fur Mil Carlos Santos, da CCAV 8350 (1972/74), segundo informação do seu e nosso camarada e amigo José Casimiro Carvalho, também ele da mesma unidade (Os Piaratas de Guileje) mas que nesse dia estava em Cacine . Gostaríamos de confirmar esta informação junto do próprio Carlos Santos, cujo paradeiro desconhecemos. Talvez o Casimiro Carvalho nos possa ajudar nesta diligência.

Do convívio com o Cor Art Res Coutinho e Lima, na Guiné-Bissau, de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008, por ocasião da nossa participação no Simpósio Internacional de Guileje, passei a conhecê-lo melhor e cheguei à conclusão que a supracitada foto foi tirada, não em Guileje, mas sim na Academia Militar, na Amadora, junto a um velha peça de artilharia... A fotografia é possivelmente de 2004, sendo o autor o fotógrafo do Público (2), e não o Fur Mil Carlos Santos, da última unidade de quadrícula de Guileje, a CCAV 8350, como eu supunha, erradamente, a partir de um palpite do J. Casimiro Carvalho.

Em nota que me enviou, e que reproduzo a seguir, o Nuno Rubim (que é o nosso assessor-mor para as questões de artilharia e de história de artilharia, uma grande honra e privilégio, para mim e para o nosso blogue) vem dizer-me que a peça, acima reproduzida, é afinal uma peça de museu... Este homem tem cá um olho clínico, não deixa passar nada!...

As minhas desculpas a todo o mundo. Aqui fica a correcção. Como noutras situações, o nosso blogue (ou melhor, o editor e a sua equipa) dá a mão à palmatória (3). O meu Oscar Bravo (Obrigado) ao Nuno... LG


Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia > Museu > s/d > Obus 11,4 cm TR m/917, mais conhecido como o Bonifácio...

Foto: © Nuno Rubim, (2008)


2. Mensagem do Nuno Rubim:

Caro Luís

O material que surge na fotografia do Cor Coutinho e Lima é o Obus 11.4cm T.R. m/ 917, mais conhecido na gíria dos antigos artilheiros pelo Bonifácio. Trata-se de um tipo de b.f. cedido pelos ingleses aquando da 1ª Guerra Mundial, tendo servido na Flandres, nunca tendo sido distribuído, ao meu conhecimento, às unidades de artilharia de África. Foi justamente substituído pela parelha 11,4/14 cm no início da 2ª Guerra Mundial.

A foto que te envio é de um exemplar pertencente ao Museu da EPA [- Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas].

Um abraço

Nuno Rubim


_________


Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 3 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

(2) Título do Público: "Coronel Coutinho e Lima: Salvou 600 vidas mas foi castigado por Spínola", PÚBLICO, Domingo, 16 de Maio de 2004, por Eduardo Dâmaso.
Artigo reproduzido, com correcções, no poste de 27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

(3) Vd. último poste desta série: 17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2658: Dando a mão à palmatória (6): Desabafo do Mário Dias (José Teixeira)

terça-feira, 18 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2662: Fórum Guileje (8): O nosso património histórico comum (Leopoldo Amado)



Guiné-Bissau > Bissau > Palace Hotel > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > 4 de Março de 2008 > Painel 1 (Guiledje e a Guerra Colonial / Guerra de Libertação) > Comunicação do Leopoldo Amado (Génese e evolução do sentido estratégico-militar do corredor de Guiledje no contexto da guerra de libertação nacional). Ladeado à esquerda pelo moderador do painel, João José Monteiro, Reitor da Universidade Colinas do Boé; e, à direita, por Maneul Santos (Manecas), guineense, ex-comandante militar do PAIGC.

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo Leopoldo Amado, lusoguineense, doutorado em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa (2007), especialista da história da guerra colonial / luta de libertação na Guiné-Bissau:

Caro Luís Graça,

Para efeitos de publicação, junto envio um texto para a nossa Tabanca Grande. Logo verás se tem ou não interesse ou se é ou não pertinente para o momento vertente, pelo que deixo à tua consideração a possibilidade de o publicar ou não,

Mantenhas di ermondadi,

Leopoldo Amado (****)


2. Fórum Guileje (*) > A ENCRUZILHADA DE GUILEDJE OU O CLIC PARA UMA NOVA DIMENSÃO DE HUMANISMO...
por Leopoldo Amado

Revisão de texto e subtítulos: L.G.

O papel da Tabanca Grande é simplesmente extraordinário. Tão extraordinário é a ponto de, muito provavelmente, apenas disso virmos colectivamente a dar conta, pelo menos na sua verdadeira dimensão e impacto, após muitos anos passados.

Acresce a essa importância o facto de nela não haver, nem processos de intenção e muito menos processos inquisitórios, o que permite que a tertúlia continue a registar opiniões concordantes, mas igualmente dissonantes e até contraditórias (exercício esse louvável, e, por isso, verdadeiramente magnânime e democrático), e que, certamente, adensando-se cumulativamente, à medida que o tempo passa, proporcionará num futuro próximo uma impar visão de conjunto, aliás, tendência essa que já se esboça na Tabanca Grande relativamente à História da guerra colonial e a da guerra de libertação – sintomaticamente, o maior desafio às duas historiografias que, não obstante possuírem de comum o mesmo palco de guerra (o mesmo TO, se se quiser) e, grosso modo, o mesmo objecto de estudo – não privilegiam por vezes as mesmas temáticas e nem as mesmas conclusões (e isso não tem que acontecer forçosamente), pese embora a aliciante perspectiva comparativa que oferece a confrontação da factologia das duas abordagens da mesma guerra.

(i) As limitações da(s) nossa(s) historiografia(s)

Infelizmente, quer dum lado como doutro, a historiografia ainda não está imune às tentações de interpretações exageradas ou às influências dos lugares-comuns cuja permissividade é de alguma maneira facilitada pela inexistência ou a ausência de uma visão de conjunto, situação essa que, quer queiramos, quer não, irá por muito tempo ainda continuar a potenciar situações do género.

Ainda há dias, em pleno Simpósio Internacional de Guiledje, Fernando Delfim da Silva, meu compatriota e amigo e, incontornavelmente, um ilustre intelectual guineense, garantia que tinham sido os mísseis Strella que fizeram desequilibrar definitivamente a correlação de forças em favor do PAIGC, quando, na verdade, desde o começo da guerra foi sempre visível, até para os comandos-chefes portugueses, que o desequilíbrio de forças foi sempre favorável ao PAIGC, mercê da sua permanente melhoria estratégico-táctica e, também, da perfeita combinação de acções de guerrilha com as da guerra convencional, para além de uma manifesta superioridade do PAIGC em termos de arsenal bélico, sem ainda contar com o conhecimento do meio e uma elevada moral combativa que os seus efectivos demonstravam.

(ii) Não foram os Strella, mas o génio político-militar de Amílcar Cabral que levou ao desequilíbrio de forças, a favor do PAIGC

Efectivamente, não foram os mísseis Strella, nem os temíveis morteiros [de 82 ou 120 mm] e nem os foguetões de 122 mm [, o Graad ou jacto do Povo,] ou ainda peça de artilharia 130 mm [, M-46, de origem soviética] (arma de longo alcance capaz de atingir 30 quilómetros e que, com base de fogo a partir da Guiné-Conakry, foi posto à disposição do PAIGC pelas autoridades militares daquele país e utilizada aquando do assalto ao aquartelamento Guiledje, em Maio de 1973) (1), foram decisivos no sentido de configurarem uma alteração marcadamente significativa em termos estratégico-tácticos.

Esse desequilíbrio a favor do PAIGC era já uma realidade e ela evoluiu no tempo de forma quase inalterável porque Amílcar foi capaz, desde o início da luta armada, de adequar a estratégia militar e a consequente táctica às estruturas logísticas e ao próprio dispositivo, colmatando, aqui acolá as situaçõesque se impunham e fazendo face aos desafios próprios de crescimento que requeriam o confronto das estratégias dos exércitos em presença, aliás, processo esse que foi impondo as FARP uma gradativa subida de patamar em termos organizacionais e uma constante adequação dos desígnios militares aos estritamente políticos, donde a necessidade de, no caso concreto do PAIGC, de se proceder sempre a uma interpretação tripartida e, sempre que possível, fundada a mesma nas vertentes conjugadas dos aspectos militar, diplomático e político, sob pena de não se compreender, no essencial, os objectivos que perseguiam Amílcar Cabral e o PAIGC.

Em todo este xadrez político-militar, a aviação portuguesa era de facto muito importante para o Exército português, mas em nenhum momento a sua superioridade aérea ou a naval foram de molde a aniquilar ou a impedir que a correlação de forças continuasse a desequilibrar favoravelmente ao PAIGC. Da mesma forma, os mísseis Strella não provocaram propriamente uma derrota militar ao Exército português na Guiné e nem sequer o colocaram em situação de cheque mate, tanto é que, apesar da FAP (Força Aérea Portuguesa) ter sido apanhada de surpresa com o surgimento dos Strella, quase imediatamente o Governo português, não obstante o embargo de vendas de armas que lhe era imposto internacionalmente, mesmo junto dos seus tradicionais aliados, tentou, ainda assim, utilizar os privilegiados canais diplomáticos com Espanha para procurar garantir a compra de novas armas que pudesses anular ou minimizar os efeitos dos Strella, os quais, na realidade, restringiam consideravelmente a acção da aviação portuguesa, seja em missões ofensivas, de reconhecimento ou de evacuação dos feridos.

Todavia, durante todo o período que se estende até 1971, a correlação de forças no teatro das operações que pendia favoravelmente às FARP, permitiu ao PAIGC estender o seu controlo por quase toda a região Sul, o que por sua vez criou as condições ideais para o alastramento do conflito para a região Centro-Oeste, apesar das contra-ofensivas de Cantanhez e Quitafine desencadeadas quase em simultâneo pelo Exército português, mas que não conseguiram debelar o ascendente militar do PAIGC que, ainda assim, consegue abrir novos corredores de infiltração e abastecimentos a partir da fronteira Norte, dos quis se destacam os de Sitató, Jumbenbem, Sambuiá e Canja, obrigando por isso o Exército português a uma nova e profunda remodelação do seu dispositivo táctico.


(iii) A aposta (ganha por Amílcar Cabral e pelo PAIGC) da internacionalização do conflito

Entretanto, chega-se a 1971 com a política da Guiné Melhor de Spínola a lograr atingir, pela primeira vez, uma situação de equilíbrio e impasse militares, mercê sobretudo da introdução de um novo conceito operacional, baseado na crescente africanização do conflito, com a formação de unidades de recrutamento local, de espírito marcadamente ofensivo, de pendor atacante e de procura de supremacia, mesmo que transitória, em todas as zonas em disputa, denotando tal alteração estratégica uma profunda percepção por parte de Spínola dos aspectos doutrinários da guerra anti-subversiva, a qual, doravante, era direccionada no sentido da conquista das populações por meio de acções socioeconómicas, a ponto de lograr espalhar, momentaneamente embora, o desanimo nas hostes combatentes do PAIGC.

Apercebendo-se ambos de que havia que tirar partido da situação de equilíbrio e impasse militares, quer Amílcar Cabral, quer António de Spínola, quiseram potenciar positivamente para o seu lado as oportunidades que para tal surgiam, optando claramente o primeiro por uma estratégia global assente na internacionalização do conflito, para cujo fortalecimento era sumamente importante a componente militar, enquanto que o segundo apostava seriamente num trabalho de sapa que visava minar a credibilidade da direcção do PAIGC, visando igualmente forjar uma solução politicamente negociada para o conflito, uma vez que era um dado adquirido que o conflito só podia resolvido pela via política e não pela militar, pelo que através da acção concertada da PIDE-DGS e da APSIC, as autoridades coloniais começaram paralelamente a desenvolver, com um notável sucesso, todo um meticuloso e paciente trabalho de sapa e de infiltração às estruturas intermédias e, em certa medida, a própria cúpula do PAIGC.

Guiné-Bissau > Bissau > Palace Hotel > Seminário Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > Painel nº 11 da muito visitada e apreciada exposição sobre a Memória da Luta de Libertação Nacional. Concepção e execução: Fundação Mário Soares / Arquivo Amílcar Cabral.

Aproveito para dar aqui os meus parabéns pelo entusiasmo, paixão, rigor e profissionalismo que mostrou a equipa do Arquivo e Biblioteca da FSM e que partilhou, com os restantes portugueses e demais participantes do Simpósio, uma semana memorável: são eles o Alfredo Caldeira (na foto, à esquerda), a Catarina Santos (na foto, de costas) e o Vitor Ramos (na foto, à direita; ao centro, em segundo plano, vê-se a nossa amiga Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande, e co-autora, com Flora Gomes, do filme documentário As Duas Faces da Guerra, que será exibido no penúltimo dia do Simpósio, na presença do Chefe de Estado da República da Guiné-Bissau, e demais participantes do Simpósio).

Reproduzimos aqui, com a devida vénia, o painel nº 11. O resto dos painéis (bem como um desdobrável) podem ser vistos em: Fundação Mário Soares > Guiledje, Simpósio Internacional, Bissau, Guiné-Bissau, 1 a 7 de Março de 2008 > Exposição (LG).


Perante tal estado de coisas, Amílcar Cabral responde com uma nova modificação nos aspectos gerais da manobra global do PAIGC, que passa doravante a preocupar-se em manter no teatro das operações, com grande economia de meios e de materiais, um estado de guerra que servisse a sua propaganda interior e exterior, visando especialmente sucessos sobre as tropas portuguesas e a conquista da adesão das populações, tanto é que, em 1971, como já referimos, a acção psicossocial de Spínola e não a situação militar em si, tinha logrado conferir um equilíbrio militar no teatro de operações, portanto, diferentemente do período anterior em que, na verdade, a situação era genericamente favorável ao PAIGC, pelo menos desde de 1965.

Do confronto de duas convicções estratégicas muito claras, resulta, do lado português, a introdução de forte componente política na sua actuação, tanto junto das populações como na procura de uma solução negociada, ao que Amílcar Cabral responde com a uma inusitada acção psicossocial do PAIGC, amplamente realizada pelo PAIGC com o apoio da Suécia e, articulada a mesma, no plano das operações militares, com acções coordenadas, quer atacando as guarnições com possibilidades de apoio simultâneo de artilharia e tirarando o máximo rendimento da sua actividade, quer ameaçando zonas urbanas e os chamados reordenamentos populacionais, organizados pelo Exército português em autodefesa, quer provocando intervenções junto da tropa portuguesa e montando de seguida emboscadas nos itinerários de acesso directo das forças de socorro.


(iv) Op Maimuna: A queda de Guiledje e o seu esperado efeito de dominó...


O Exército português caiu assim numa fase desconcertante e o PAIGC, que já havia adquirido novas e potentes armas, aproveita e coloca os aquartelamentos situados ao longo da fronteira sob permanente fogo de artilharia. Assim, a 22 de Maio de 1973, conseguiu apoderar-se de Guiledje, onde as forças portuguesas deixaram armas, entre as quais três peças de artilharia e outros importantes materiais. Gadamael foi seguidamente atacada, contando a guarnição, entre os dias 13 a 27 de Maio, 38 mortos e 55 feridos.





Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008) > Pormenor do excelente folheto da exposição, organizada pela Fundação Mário Soares / Arquivo Amílcar Cabral, Memória da Luta de Libertação Nacional.


Na imagem, reproduz-se dois documentos originais, que constam do folheto, um mapa desenhado da Frente Sul, com as posições das NT, nomeadamente de Ponte Balana, Guileje e Gadamael, bem como a primeira página do manuscrito de Amílcar Cabral com o minucioso planeamento da Op Maimuna. O Simpósio e a Exposição contribuiram, em muito, para aumentar a sensibilidade dos antigos combatentes do PAIGC e das autoridades guineenses e as instituições, públicas e privadas, responsáveis pela educação, a ciência e a cultura, para a importância que têm os arquivos documentais bem como a memória dos actores que participaram na guerra colonial / luta de libertação.


O folheto distribuído pode ser visto, na íntegra, em: Fundação Mário Soares > Guiledje, Simpósio Internacional, Bissau, Guiné-Bissau, 1 a 7 de Março de 2008 > Exposição (LG).


Na contra-ofensiva Nô Pintcha, no Norte, o quartel de Guidadje, Bigene e Binta foram violentamente atacados e cercados durante dias, e ali morreram mais de 20 soldados portugueses. Os elementos do Exército português apeados que tentaram acudir aos elementos sitiados, caíram em emboscadas ou foram apanhados pelas minas que os guerrilheiros utilizaram para vedar o acesso nas estradas que ligavam estas localidades às povoações vizinhas. Obedecendo ao ciclo normal da guerra da Guiné, a contra-ofensiva do PAIGC só parou com a chegada da época das chuvas, o que teria poupado o Exército português de mais estragos materiais e humanos.

Todavia, já o dissemos, o PAIGC perseguia objectivos políticos e nunca agendou a possibilidade de derrotar militarmente o Exército português, obedecendo sempre as diferentes estratégias militares e as correspondentes tácticas aos objectivos políticos. Compreende-se assim que, não obstante importantes, os Strella apenas representaram para o PAIGC uma subida de patamar na defesa contra a FAP, ou seja, a única e talvez a mais eficaz das armas contra a qual, até então, o PAIGC se via impossibilitado de ripostar convenientemente.

Nesse sentido, o surgimento dos Strella traduziu-se, isso sim, no reforço da tendência de isolar ainda mais as unidades de quadrícula do Exército português e assim retirar-lhes a mobilidade e a iniciativa combativas, não tanto com a pretensão de apenas lhe subtrair a superioridade aérea que de facto detinha, mas com o objectivo claro de forçar nas instâncias políticas e internacionais uma solução para o conflito, de resto, possibilidade essa que Amílcar Cabral vinha ponderando desde pelo menos 1965, mas que não conseguia pôr em marcha nos anos imediatamente subsequentes, justamente porque, no teatro de operações, era crucial elevar o nível organizacional das FARP e dota-lo gradativamente de um nível de eficiência e eficácia susceptíveis de chamar à atenção da opinião pública mundial e assim colocar o PAIGC na agenda internacional.

No entanto, apesar da introdução dos Strella terem contribuído significativamente para novamente desequilibrar a correlação de forças a favor do PAIGC, os factores decisivos, isto é, aqueles que na realidade geraram uma decisiva viragem no evoluir da guerra foram, por um lado, a substancial melhoria das FARP em termos de organização militar, mormente os aspectos estratégicos e tácticos (sem as quais, os mísseis Strella, por si sós, pouco significariam) e, por outro, a ampla e bem sucedida acção psicossocial que Amílcar Cabral e o PAIGC lograram realizar, com apoio sobretudo da Suécia, e que foi capaz de contrabalançar a inteligente acção psicossocial de Spínola.

(v) A propaganda [do PAIGC] da possível e até iminente derrota militar do Exército Português

A associar a estes dois aspectos, Amílcar Cabral introduz um terceiro, a todos os títulos demolidor, que é a de alimentar permanentemente nos areópagos internacionais a ideia de uma possível e até iminente derrota militar do Exército português, não apenas com o objectivo de assegurar que as questões relativas à justeza da luta do PAIGC se mantivessem em permanência na agenda internacional, mas sobretudo com a finalidade de criar um ambiente internacional favorável à sua intenção de proclamar o Estado da Guiné-Bissau e assim assestar um golpe diplomático fatal ao colonialismo português, pois para ele era ponto assente que o Estado da Guiné-Bissau existia de facto, através de toda uma organização social, política e económica criada nas zonas libertadas, apenas precisando, por isso, de ser formalizada de jure, com a proclamação da independência e a adopção de uma Constituição que criasse os seus órgãos de governo, transformando assim a presença do Exército português na Guiné, à luz do Direito Internacional, como se uma a força invasora se tratasse.

Dentro desta nova concepção militar do PAIGC, Guiledje, ou melhor, o Corredor de Guiledje, voltou novamente a ganhar significativa importância estratégica, aliás, importância essa inequivocamente expressa na Operação Maimuna, uma ordem de batalha não datada, que presumimos ter sido elaborada em 1971, pois enquadra-se perfeitamente no novo conceito global da guerra quo PAIGC adopta a partir dessa altura, tanto é que previa, entre outras acções, um assalto generalizado ao aquartelamento de Guiledje como o mais fortificado aquartelamento do Exército português no Sul, justamente porque Amílcar Cabral estava convencido de que com a queda de Guiledje, cairiam igualmente uma série de outros aquartelamentos portugueses situados ao longo da linha da fronteira Sul.

Assim, reconhecemos a importância de Guiledje não apenas porque para muitos dos soldados portugueses foi um palco de dramáticos e violentos combates, roçando, nalguns casos, é certo, situações de extrema desumanidade a que muitos soldados portugueses souberam heroicamente sobrepor-se (vide à propósito os pungentes relatos de Idálio Reis na Tabanca Grande sobre Gandembel-Balana) (**).

Reconhecemos ainda a sua importância não porque quisemos com uma espécie de triunfalismo pacóvio evocar o seu infortúnio (o mesmo, aliás, aconteceu aos combatentes do PAIGC em muitas ocasiões, nomeadamente aquando das operações de reocupação de Cantanhez em Cadique e Cafine). Reconhecemos Guiledje, isso sim, porque praticamente, desde o início da guerra, o Corredor de Guiledje representou, intermitentemente embora, uma área fulcral de intervenção na estratégia global e evolutiva do PAIGC, apesar de reconhecermos que isso só podia tornar-se sustentável se se tiver em consideração a historicidade própria de outros Guiledjes que, à sua semelhança, aliás, não se explicam por si sós, pelo menos autonomamente, senão adentro da concepção global das estratégias dos contendores que se confrontaram numa perspectiva dinâmica e evolutiva e que, como tal, elas próprias se apresentam com processos internos entrecortados de roturas e continuidades, condicionados estes, nas suas diversas fases de evolução, por uma série de factores que de alguma forma o Simpósio Internacional de Guiledje quis trazer à luz do dia, em prol de uma maior e mais profícua interpretação dos meandros da guerra colonial e/ou guerra de libertação, e não apenas de Guiledje como à priori parece.


(vi) Simpósio Internacional de Guiledje: para além do sucesso extraordinário da iniciativa, há um património histórico comum...

Neste sentido, caro Lema Santos, corroboro com a indignação com que se insurge contra as abordagens históricas que tendem a subvalorizar o importante papel desempenhado pela marinha portuguesa na guerra colonial da Guiné, mas há-de igualmente convir que não é menos lamentável a forma como a emergente historiografia da guerra colonial da Guiné e, paradoxalmente, a da luta de libertação (incipiente, por isso compreensível), vêm remetendo para um plano secundário o imprescindível estudo evolutivo da organização militar do PAIGC (como se de um apêndice se tratasse), bem como das estratégias e tácticas que evolutivamente as condicionaram, no qual sobressai, sem margem para dúvidas, a gigantesca e complexa rede logística (sem dúvida, a maior do PAIGC) que, estendendo-se desde Conakry e perpassando por outras cidades da República da Guiné como Boké, Kandiafara, Simbel e Tarsaia, prolongava-se depois pela então Guiné Portuguesa adentro pelo Corredor de Guiledje, a partir do qual, sintomaticamente, se despachavam o maior volume (dir-se-ia mesmo a esmagadora maioria) do armamento e munições e ainda os víveres imprescindíveis ao esforço de guerra do PAIGC.

Para concluir este já longo texto, concorde-se com Lema Santos de que, para a elaboração histórica da guerra colonial da Guiné urge ter em consideração “uma perspectiva global integrada dos três ramos das Forças Armadas portuguesas”, mas eu acrescentaria que essa mesma perspectiva integrada pode e deve ser alargada à produção historiográfica contemporânea que, na Guiné-Bissau, vem sendo esboçada, embora ainda de forma embrionária, pois, ainda assim, ela é igualmente enriquecedora para a nossa História comum, assim como para a História da Guerra colonial de Portugal na Guiné, para além, obviamente, de se afigurar igualmente importante para o incremento do estado actual de conhecimento da História Contemporânea universal e o processo em curso de apropriação pelos guineense da sua própria História.

Não creio não estar longe da verdade se afirmar que o Simpósio Internacional de Guiledje foi um extraordinário sucesso e que simbolizou e simboliza a amizade, o reencontro, para além da redescoberta, por todos, de uma nova dimensão do humanismo, até mesmo por parte dos que, desavindos outrora, tiveram com armas nas mãos em lados opostos da barricada e que, obviamente, eivados de um profundo sentido de partilha da História de uma guerra que todos experimentaram (a de toda a Guiné e não apenas de Guiledje), a qual, afinal, é (foi e certamente será), por maioria de razão, um património da nossa História comum.

Leopoldo Amado

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

12 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

12 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)

13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

14 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2638: Fórum Guileje (4): Minas aquáticas em Bedanda (Ayala Botto)

15 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2642: Fórum Guileje (5): Que sentido dar a esta vaga de fundo ? Da guinefobia à guinefilia (Hélder de Sousa / Luís Graça)

15 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)

16 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)

(**) Vd. poste de 18 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1672: Guileje: a artilharia do PAIGC (Nuno Rubim) Guiné 63/74 - P2640: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (5): Um momento de grande emoção em Gandembel

(****) Historiador, orador no
Simpósio Internacional de Guiledje



(i) Nota curricular:

Nasceu no Sul da Guiné-Bissau e licenciou-se desde 1985 em História pela Universidade de Lisboa. Doutorou-se recentemente pela mesma Universidade em História Contemporânea, com uma tese sobre a guerra de libertação da Guiné-Bissau. É autor de inúmeras publicações de natureza científica e literária.

Desempenhou no país várias funções directivas em instituições de ensino e em projectos de investigação histórica e, igualmente, como funcionário e consultor junto de inúmeras instituições da sociedade civil, designadamente, nos de desenvolvimento, dos Direitos Humanos e dos Direitos das Crianças, para além de experiências como consultor de várias organizações e organismos internacionais na Guiné-Bissau, a saber: Plan International, Radda-Barnen, Unicef, Fnuap e Pnud.

No exterior (Cabo Verde, Portugal e França), trabalhou em diversos projectos de investigação e foi consultor da Unesco, Amnistia Internacional, Editora Nathan e CPLP, desempenhando actualmente as funções de Secretário da Guineáspora (Portugal), investigador associado do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Guiné-Bissau), investigador auxiliar do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (Portugal) e Professor convidado da Faculdade de Jornalismo da Universidade do Porto (Portugal).

(ii) Título da comunicação: Génese e evolução do sentido estratégico-militar do corredor de Guiledje no contexto da guerra de libertação nacional

(iii) Sinopse da comunicação:

Do ponto de vista militar e por razões diversas e até diferenciadas – entre as quais sobressaem as de ordem política, estratégica e táctica – o Sul da Guiné-Bissau afigurou-se para os contendores, tanto o Exército português como o Exército Popular, como área fulcral de intervenção.

A esta ambivalência dicotómica, que decorre da substantiva diferenciação do sentido táctico-estratégica de cada um dos contendores, sobrepuseram-se também, no decorrer da guerra, diferenciadas percepções e opções estratégicas, em cujo confronto e justaposição, procurar-se-á dissecar os contornos que alavancaram a sua perspectiva evolutiva e, tanto quanto possível, estabelecer parâmetros teóricos e conceituais susceptíveis de melhorar o estado actual do conhecimento com relação às circunstâncias e condicionamentos vários que, ao longo do conflito, determinaram as opções estratégicas por que se pautou a intervenção militar do PAIGC e, na qual, indubitavelmente, o chamado corredor de Guiledje assume particular significação histórica.