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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20064: Manuscrito(s) (Luís Graça) (163): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte V - De 41 a 50 de 100 pictogramas)


India > Goa > Volta ao Mundo em 100 dias a bordo do mavio de cruzeiros "Costa Luminosa" > 19 de novembro de 2016 > Cemitério  > Lembrando o 10 de junho, "dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas"... Lembrando ainda os portugueses e seus descendentes que ficaram nos antigos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.  Aqui se dizia, antigamente: "Na Índia os mais vivem de esperança, e o comum morre sem paga"...


Foto: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Cemitério de Paredes de Viadores > 1 de novembro de 2017 > O mais sumptuoso jazigo, da família da "Casa da Igreja", em estilo revivalista, neogótico > Inscrição em latim: "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)....

Até na morte os homens tentam reproduzir as desigualdades sociais que existiam em vida: esta capela, dos "fildalgos" da Casa da Igreja é a única que existe, para além da de outra família, neste pequeno cemitério rural, cuja construção remonta a 1894... Logo nos finais do séc. XIX, os ricos e poderosos procuraram contornar a aplicação lei liberal do enterramentio público (que proibia o enterramento em espaço privado: palácios, conventos, igrejas, ermidas, capelas...) erigindo no espaço do cemitério público uma "jazigo capela", uma espécie de minicasa de Deus, reservada aos seus mortos queridos...

Há algo de patético neste encarniçamento em manter, na morte, a segregação socioespacial que existia em vida...  Mas, na relidade, s cemitérios públicos, que só surgem no séx. XIX, com o liberalismo, são (ou deviam ser) verdadeiros "campos da igualdade", já que metaforicamente falando, a gadanha da morte ceifa tudo e todos, ceifa rente a vida, e não poupa tanto a espiga de trigo como a erva do campo, o rico e o pobre, o herói e o cobarde, o novo e o velho, o são e o doente, o amigo e o inimigo... Afinal, "na morte ninguém finge nem é pobre"...


Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]
Texto (inédito):

© Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


(Continuação)

[...] 1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.[...](*)



41. Havia a assistente social que fazia o inquérito de saúde aos indigentes, porcionistas e pensionistas e só em caso de vida ou de morte é que um pobre de Cristo ia parar ao Real Hospital de São José, lá longe na capital do reino, a três horas de distância da camioneta do João Henriques. Parava na Rua da Palma, mesmo pertinho do hospital do rei. 


E em Lisboa, era para morrer: que em Lisboa nem sangria má, nem purga boa, abanava com a cabeça o enfermeiro do hospital da Misericórdia. 

42. Havia a escola, primária, do tal Conde de Ferreira, e não chegava para tantos bandos de crianças que precisavam de aprender a ler, escrever e contar, e mais tarde ajudar a dilatar a fé e o império e a cobrar o imposto de palhota ou remendar as malhas que o império tecia e rompia.

Havia uma ala para os meninos, e outra para as meninas, com um muro de Berlim ao meio, os sexos apartados desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, e onde não chegavam as carteiras para tanto petiz, de pé descalço e ranho no nariz, enfarinhados de pó de giz e de mãos sujas de tinta azul, as cabeças cobertas de piolhos que se matavam com água a ferver, pentes de osso e DDT 
[1]


43. Ah! a tua escola do senhor Conde de Ferreira, que saudades!, construída no tempo da Regeneração, com o remanescente da herança do maior benemérito do Liberalismo, deitada abaixo, mais tarde, pelo desgraçado do camartelo camarário. 


E em frente o carro de praça do ti’ Ad’lino, talvez um velho Ford preto (, lembras-te lá tu agora da cor e da marca!), que viera substituir o coche dos ricos, passando o cocheiro chofer, a chauffeur de praça. Assim, à francesa, chauffeur, como dizia o teu pai e era mais fino.



44. Saudades ?!... Como é que os pobres, com um rancho de filhos, e tantas bocas para dar de comer, tinham saudades da sua pobreza envergonhada?!

Havia a vida privada, por detrás dos muros dos quintais e das paredes dos casarões dos ricos, que os pobres, esses, não tinham vida, e muito menos privada.


45. Havia a alcova, exposta na via pública, o Poço Novo onde as mulheres iam lavar a roupa e os sete pecados mortais, o Poço Novo, grande melhoramento público do Estado Novo. 

Havia o confessor que tinha mau hálito, havia os segredos de confessionário, mal guardados a sete chaves, uma para cada pecado, coisas que se contavam do bom do ferreiro e segeiro da tua rua, que, coitado, tinha fama de fauno, de lobisomem e de beato, batendo a mão no peito, seco, negro do carvão de pedra, uma figura mística, arrancada às tábuas de El Greco [2]. 


46. Havia a guarda, muito pouco republicana e nacional, que estava em pé de guerra contra a comissão fabriqueira da igreja, por ocupar parte das instalações do antigo convento de santo António, velhas disputas que vinham do tempo do mata-frades 
[3]  e da república façanhuda, jacobina, maçónica e anticlerical. E tu, que mais tarde irás ajudar à missa, tomavas o partido de Deus contra o de César. Não podias deixar de tomar partido: não tinhas escolha.


47. Havia o drama dos soldados que partiam para as Índias, Goa, Damão e Diu (sem os enclaves de Dradrá e Nagar-Aveli que o "Pandita" Nehru já nos tinha usurpado em 1954!), os soldados de caqui e farda amarela e botas de polaina, capacete de aço e espingarda Mauser, e as mães da rua dos Valados, comprida, do cemitério ao largo das Aravessas, que, desgrenhadas, roucas, histéricas, rasgando véus, aventais e saias e arrancando cabelos, gritavam, imploravam, praguejavam e até invetivavam Deus e a santa da sua mãe, para que os dois (, juntos, sempre tinham mais força!),velassem por eles, os seus meninos, e os trouxessem de volta, sãos e salvos, no veleiro de torna-viagem.

E voltavam, os que voltavam, mas já não eram os mesmos. E as mães eram as primeiras a dar conta dessa mudança. E ainda não havia a guerra do ultramar, lá longe, em Angola, Guiné e Moçambique, nas terras dos pretinhos, mas hás de lá chegar quando passarem mais outonos e invernos, primaveras e verões, depois da feira de setembro. 

Havia o ditado, de mau agoiro e de negro presságio: À Índia mais vão do que tornam. Se calhar era lembrança dos tempos em que, à Índia, ir e vir demorava dois anos, de barco à vela.

48. Havia ainda a cadeia da c
omarca no largo do convento: tresandava a merda e a mijo, a vomitado e a maresia, a sangue e a suor, e, por detrás das grossas grades de ferro carcomidas pela maresia, uma mulher corajosa, com um filho nos braços, que matara o homem violento, e noutra cela um facínora das Cesaredas, terra danada, diziam, onde as mulheres eram homens e os homens lobisomens, o papão com que te metiam medo, à noite, ao deitar, debaixo dos lençóis, a faca nos dentes, a sangrar, o papão, o lobo mau, o inferno, a danação eterna, o troar dos canhões das trovoadas, dantescas, que faziam estremecer os vidros das janelas, e as missas que tinhas de ouvir por mor da salvação da tua alma, e as orações que tinhas de rezar para alcançares o céu, direitinho que nem um fuso, logo que a alma se desprendesse do frágil e miserável invólucro do teu corpo, na hora da tua morte, ámen! 



49. Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris, lembra-te, meu menino, que és pó e que em pó te hás de tornar!, ameaçava-te o padre pregador franciscano nos sermões da Quaresma,e esse latinório bastava para ficares a entender, aterrorizado, o conceito da tua reles insignificância na periferia do universo que Deus criara, com pompa e circunstância e orquestra.


50. Ah!, e as feiras da tua infância!, não te esqueças de mencionar as feiras, havia as feiras e os mercados, no Rossio, junto ao rio Grande, a merda dos bois e das vacas no terreiro (, caca, que a tua mãezinha nunca te deixaria dizer merda, e de castigo punha-te pimenta na língua!)

E os pobres dos ciganos sem eira nem beira, escorraçados ao fim de três dias, e de quem tinhas medo que te pelavas, quando por lá passavas, nos acampamentos do Rossio, a caminho da Quinta do Bolardo!

Tinham fama, os desgraçados, de desenterrar os animais, mortos por doença, que a fome era negra, e eram tantas as bocas no acampamento.

(Continua)

_________


[1] DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano) é o primeiro pesticida moderno, tendo sido largamente usado durante e após a Segunda Guerra Mundial.

[2] Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido por El Greco (1541-1614): artista plástico genial, desenvolveu a maior parte da sua carreira em Toledo, Espanha.

[3] Alcunha de Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 1792 – Barreiro, 1882 [,autor da lei de 30 de maio de 1834 (extinção das ordens religiosa refgulares, e nacionalziação dos seus bens)].

___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >

11 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

13 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20056: Manuscrito(s) (Luís Graça) (160): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte II - De 11 a 20 de 100 pictogramas)

14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20058: Manuscrito(s) (Luís Graça) (161): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte III - De 21 a 30 de 100 pictogramas)

15 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (162): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte IV - De 31 a 40 de 100 pictogramas)

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19749: Jorge Araújo: as causas da morte de Fernando Teixeira Soiema, sold coz (CART 496, Cacine e Cameconde, 1963/65), natural de Valpaços, inumado no cemitério de Bissau, campa nº 1481... Respondendo ao camarada Fernando Chapouto, mais de uma década depois.



Valpaços > Cemitério da freguesia de Algeriz > Placa invocativa da memória do Soldado Cozinheiro Fernando Teixeira Soeima (1941-1965), que se pode ver no Jazigo de sua família. Reza assim: "À Memória de Fernando Teixeira Soeima, n. 20.10.1941, f.18.3.1965: teu corpo ficou longe mas a mãe traz-te sempre no coração. Lembrança dos teus irmãos Jacinta e Nelson." (*)

Foto (e legenda) : © Fernando Chapouto (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > Setembro de 2008 > Campa n.º 1410. "CART 496. Soldado n.º 575/63, Fernando Teixeira Soeima. Morto em 18/3/65, pela Pátria. (**)

Foto (e legenda) : © Nuno Rubim  / Tino Moisés  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de Vasco Luís Curado«Declarações de Guerra - Histórias em carne viva da guerra colonial" (Lisboa; Editora Guerra & Paz, fevereiro de 2019, 200 pp.)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



EM BUSCA DE…
CAUSAS DA MORTE DE FERNANDO TEIXEIRA SOEIMA
- CART 496 (CACINE E CAMECONDE, 1963/1965) -
P3158 - DE 01SET2008


1. INTRODUÇÃO

No decorrer das últimas investigações, visando a elaboração das narrativas relacionadas com a «CCAÇ 508 (1963-1965) e a morte do seu Cmdt Cap Inf Francisco Meirelles, em 03Jun1965, na Ponta Varela (Xime)» e o «Ensaio sobre as mortes por afogamento de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974)», "cruzei-me" com o P3158, editado em 01Set2008 (*), onde o camarada Fernando Chapouto fazia um apelo ao colectivo da Tabanca do seguinte teor:

"Agradecia a todos os ex-combatentes que me ajudassem a esclarecer a morte do Soldado Cozinheiro 375/63, Fernando Teixeira Soeima".

Dava mais as seguintes pistas:

(i) – Unidade Mobilizadora - RAL 1 / CART 496, com destino à Guiné.

(ii) – Faleceu em 18 de Março de 1965, ficando sepultado em Bissau, na campa 1481.

(iii) – Como até hoje ainda ninguém esclareceu a causa da sua morte, diziam na aldeia que foi numa armadilha colocada pela Companhia, que saiu do aquartelamento para ir às laranjas, outros dizem que foi em combate.

(iv) – Este ex-combatente é primo da minha esposa. Quando fui à aldeia de Argeriz, Concelho de Valpaços, despedir-me, para ir para a Guiné, estive com a minha tia, mãe do falecido, que me disse que tinha muita pena em ter o mesmo destino do filho [Guiné].

Porque a situação descrita era-me familiar - já a tinha lido algures – fui no seu encalce e parece-me que valeu a pena, pois o conteúdo da narrativa extraída da obra consultada deve corresponder aos factos que acima se referem, e que estão na origem da morte do camarada Fernando Teixeira Soeima.

Assim, dez anos e meio após divulgada aquela mensagem, eis o que consegui apurar:

2. FONTES CONSULTADAS

Como suporte documental, reproduzem-se, abaixo, as fontes consultadas:

Fonte Oficial

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); p 116.




Uma vez que a CART 496 [chegou a Bissau a 22Jul1963 – embarcou a 24Ago1965] não tem História da Unidade [CECA - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume, Tomo II, 1.ª Edição, Lisboa (2002), p 438], a informação aqui citada foi seleccionada do livro de Vasco Luís Curado, «Declarações de Guerra» (Lisboa; Editora Guerra & Paz; Fev/2019. pp 29-33).

Ainda que o texto não refira o nome do seu autor, mas sim o posto – Soldado condutor – a análise do seu conteúdo permite-nos concluir que estamos perante um "informante privilegiado" do contingente da CART 496. Assim, daremos conta de algumas passagens desse depoimento, com particular destaque para as circunstâncias em que se verificou a morte do Fernando Teixeira Soeima, e de mais dois militares, um do BEng 447 e outro de recrutamento local.



[…]

[p 32] Construímos um aquartelamento em Cameconde [na sequência da «Operação Fecho», em 10Dez1964], onde iria estabelecer-se um destacamento da companhia, para avançarmos a nossa posição militar, protegermos o quartel e aproximarmo-nos da fronteira. Tínhamos de marcar presença, mostrar que quem mandava ali éramos nós. Muitas vezes, fui ao cais com Unimog, para carregar chapas e testos de bidões e levá-los para o destacamento. Dormi em abrigos subterrâneos, com um telhado feito de troncos de palmeira e chapas de zinco dos bidões. […]


[p 33] – Referência às circunstâncias em que ocorreram as mortes:




Os outros dois militares que morreram no acidente foram:



E Saliú Mané Jaló, Caçador Nativo, natural de Madina de Camissorã, Cacine.

Caro camarada "Ranger" Fernando Chapouto, espero ter dado as notícias que há tanto tempo aguardavas.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

25Abr2019.

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3158: Em busca de... (36): Causas da morte de Fernando Teixeira Soeima, CART 496, Cacine e Cameconde, 1963/65 (Fernando Chapouto)

(**) Vd.poste de 16 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3323: In Memoriam (7): Fernando Teixeira Soeima (1941-1965), campa n.º 1410, Cemitério Militar de Bissau (Nuno Rubim)

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19645: Estórias avulsas (100): Resgate de restos mortais do 2º srgt trms Justino Teixeira da Mota, CCAÇ Esp 266 / BCAÇ 262, morto, por acidente de viação, em Angola em 18 de outubro de 1962, e inumado no cemitério de Maquela do Zombo, Angola (João Afonso Bento Soares, maj gen na reforma)

ç

Angola > Maquela do Zombo > 2º srgt trms Justino Teixeira Mota, falecido em 18 de Outubro de 1962, na sequência de acidente de viação,  e enterrado no cemitério local. Pertencia à à Companhia de Caçadores Especiais 266 / BCAÇ  262)



Angola > Maquela do Zombo >   O CEM da UNAVEM (Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola),  Coronel João Afonso Bento Soares, junto à campa de Justino Teixeira da Mota, acompanhado de autoridades civis e militares de Maquela do Zombo. 

Fotos (e legendas): © António Teixeira Mota (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João Afonso Bento Soares,. Quinta do Cubo,
Elvas, Natal de 2006
1. Mensagem do nosso leitor e camarada João Afonso Bento Soares, com data de 19 de março de 2019

Caríssimo Amigo e Prof Luís Graça:

Recebi o habitual mail do seu blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, que estiou a seguir,  e encontro logo à entrada o apontamento/post de José Saúde (ex-furriel) que li com todo o interesse e que fala de Restos Mortais abandonados na GU [, Guerra do Ultramar]..(*)

Ocorreu-me então a lembrança de uma saga homérica havida comigo enquanto Coronel, Chefe do Estado Maior da UNAVEM (Missão de Paz das Nações Unidas em Angola) em 1995/96 , em que o Cor Ramiro Correia de Oliveira (que fora professor comigo  no IAEM - Instituto de Altos Estudos Miliatres) me veio pedir, aquando da minha partida, para diligenciar a recuperação dos Restos Mortais de um sargento que a sua companhia (CCE 266) tinha deixado, em 1962, no cemitério de Maquela do Zombo - Norte de Angola.

Como pode imaginar, pensei logo que seria uma missão impossível (para um homem só!)...Mas de facto, encarei o assunto e consegui satisfazer o pedido do Coronel amigo.

Conto em anexo um resumo dessa história. História, da qual um filho do militar de cujos Restos Mortais consegui a remoção, veio e escrever um livro com o título "Luta Incessante".

Carlos Pinheiro
Lembrei-me então de o contactar o Carlos Pinheiro, na sua qualidade de "tabanqueiro", pois foi um excelente Operador de Mensagens no Destacamento do Serviço de Telecomunicações Militares que eu comandei na Guiné como Capitão na minha 1ª comissão, em 1968/70.

Foi ele que me facultou o seu mail e por isso ponho à sua consideração se o Apontamento em anexo terá interesse para publicação no seu blog. É claro que o assunto não diz directamente respeito à Guiné pois passou-se em Angola, mas eu apenas pretenderia dar uma achega modesta à justa preocupação enunciada por José Saúde.

Como não nos conhecemos pessoalmente, tomo também a liberdade de anexar uma Nota Biográfica.

Um forte e sempre amigo abraço

João Afonso Bento Soares
Major General


2. Nota biográfica:

(i) o eng.º João Afonso Bento Soares é Major General do Exército e nasceu na freguesia de Meimoa, concelho de Penamacor, Beira Baixa, em 2 de Janeiro de 1941;

(ii) fez o liceu em Coimbra e ingressou na Academia Militar em Outubro de 1959 onde frequentou o Curso de Engenharia-Transmissões;

(iii) concluiu no Instituto Superior Técnico a Licenciatura em Engenharia Electrotécnica no ano académico de 1965 / 66;

(iv) na sequência da sua promoção a Capitão em Fevereiro de 1967,  foi nomeado como primeiro Director da Estação Portuguesa de Comunicações por Satélite integrada no Sistema SATCOM NATO; durante o desempenho destas funções (1970/74) foi promovido a Major em Dezembro de 1973;

(v) como Tenente-Coronel (promovido em Novembro de 1974) foi Director do Depósito Geral de Material de Transmissões (1976 / 79) e Professor do Instituto de Altos Estudos Militares (1979 / 86); nesta qualidade frequentou nos EUA o “Command and General Staff Course“ (1982 / 83) e seguindo simultaneamente o curso de pós – graduação, “Master of Military Art and Science“, adquiriu o respectivo grau académico (Universidade de Kansas);

(vi) de regresso ao Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM), foi posteriormente promovido a Coronel em Setembro de 1984;

(vii) foi seguidamente colocado no EMGFA (1986 / 88) na Divisão de Comunicações e Electrónica e Grupo de Projectos Operacionais onde elaborou o Documento Conceptual do SICOM – Sistema Integrado de Comunicações Militares;

(viii) foi nomeado em 1 de Janeiro de 1989 como primeiro Subdirector do Serviço de Informática do Exército no período em que esta área esteve integrada na Arma de Transmissões;

(ix) concluiu no ano lectivo de 1989/90 o Curso do Instituto Britânico em Portugal onde adquiriu o diploma “Certificate of Proficiency in English” (University of Cambridge);

(x) em 1990 / 91 frequentou, no IAEM, o Curso Superior de Comando e Direcção e sequentemente, como Coronel Tirocinado, foi colocado nos Açores onde desempenhou as funções de 2º. Comandante da ZMA – Zona Militar dos Açores (1992 /93) – e Chefe do Estado Maior do COA - Comando Operacional dos Açores (1993 / 94);

(xi) terminada esta comissão de serviço foi responsável pelo Centro de Operações Conjunto do EMGFA durante cerca de 9 meses;

(xii) por despacho ministerial foi nomeado para Chefe do Estado-Maior Internacional da Missão de Paz da ONU em Angola – UNAVEM III (Março de 1995 a Março de 1996);

(xiii) de regresso a Portugal e ao Exército,  foi colocado como Subdirector dos Serviços de Transmissões, funções que desempenhou de Maio de 1996 a Outubro de 1997;

(xiv) com a sua promoção a Oficial General em 25 de Setembro de 1997, foi nomeado Director do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, funções que desempenhou desde 3 de Novembro de 1997 a 11 de Fevereiro de 2000, tendo entretanto passado à situação de reserva em 2 de Janeiro de 2000;

(xv)  no decorrer deste período foi Presidente da Comissão Organizadora da III CIDMT (Conferência Internacional de Doutrina Militar Terrestre) realizada em Portugal de 5 a 8 de Maio de 1998 reunindo 26 países representados por oficiais superiores e oficiais generais incluindo os Chefes do Estado Maior do Exército de Angola, Grécia, Guiné, Itália e Portugal;

(xvi) ao longo da sua carreira Militar, de 41 anos de serviço no activo, cumpriu duas comissões de serviço no Ultramar: na Guiné (1968 / 70) como Capitão e em Angola (1975) como Tenente-coronel;

(xvii) foi responsável pela elaboração de várias publicações técnicas na área de Transmissões e Guerra Electrónica e é autor das obras:

"The Iberian Peninsula in the Atlantic Community – Problems and Prospects” (1983);
“A Mulher e as Forças Armadas: Igualdade de Oportunidades na Profissão Castrense” (1991);
 “As Transmissões no Exército Português – Resenha Histórica – ” (1999);

(xviii)  tem também Obra Poética publicada: “Chamamentos” (2004); “Dizeres Sentidos…Rimas Perdidas” (2005-07); e é co-autor da “Poiesis” – Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea -Volume XVI (2007) e de “Paradigmas” – Colectânea de Poesia e Texto Poético da Lusofonia (2016).

(xix) é condecorado com as Medalhas Militares das Campanhas de África, de Comportamento Exemplar, de Mérito Militar, de Serviços Distintos e com a Medalha das Nações Unidas; é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, condecoração com que foi agraciado pela Presidência da República (1996) por proposta do Embaixador de Portugal em Angola;

(xx) é membro efectivo da Sociedade de Geografia (2003);

(xxi) é  casado com Dª. Maria Delfina F. C. Bento Soares, licenciada em Filologia Germânica e tem três filhos: Maria Cristina (licenciada em Psicologia), João Francisco (licenciado em Informática de Gestão) e Jorge Afonso (Técnico Administrativo). Tem três netos: Maria Carolina, e os gémeos Joana e João Ricardo.


3. Resgate de restos mortais de um antigo combatente [, o Sargento Justino Teixeira da Mota, caído em Angola e enterrado em Maquela do Zombo, em 1962]


Revendo o álbum de memórias dos mais de quarenta anos ao serviço das Forças Armadas no desempenho das mais variadas missões, encontro páginas que sabe bem reviver.

Uma delas é, seguramente, a autêntica saga constituída pelos muitos trabalhos, diligências e canseiras que me viriam a permitir resgatar em 1995/96 os restos mortais do Srgt Justino T. Mota caído em Angola na Guerra do Ultramar e enterrado em Maquela do Zombo em 1962.

Insere-se este episódio na segunda passagem por Angola aquando da minha nomeação, no posto de Coronel, para Chefe do Estado-Maior da Missão de Paz da ONU em apoio daquele país (UNAVEM – United Nations Angola Verification Mission).

Estávamos em fins de Janeiro de 95, e nessa altura participei, com civis e oficiais superiores de vários países, num curso sobre Missões de Paz que decorreu na Dinamarca sob a égide da ONU. Durante esse encontro, o Coronel representante da Bulgária, tendo-me identificado através da “Lista de Participantes/Funções” como próximo responsável pela Chefia do Estado-Maior da Missão de Paz em Angola (UNAVEM), veio confidenciar-me que, ele próprio, se havia candidatado ao cargo de Observador Militar naquela Missão, mas que o pedido de cooperação aberto à Bulgária não incluía o posto de Coronel. 

Referiu-me, inclusivamente, ter-se disponibilizado para aceitar um “down-grading” da sua patente por um ano, mas o Governo do seu país não aceitara a sugestão e nomeara efectivamente um Major. Era para esse oficial seu conhecido, que reputou de excelente militar, que o Coronel búlgaro vinha pedir a minha “protecção”. Não obstante a natureza circunstancial do pedido, solicitei-lhe uma nota identificativa do recomendado. De pronto me entregou um cartão-de-visita, por ele previamente preparado, que guardei.

No final do curso, a organização providenciou transportes diversificados para o aeroporto a grupos de oficiais de acordo com os seus voos. Deu-se novamente a coincidência, de me ter deslocado na viatura onde ia também e apenas o referido Coronel búlgaro. Lá retomámos a conversa sobre o seu “protegido” – Major Alexander Alexandrov, de sua graça.

De regresso a Lisboa, pouco antes do embarque e já embrenhado nos últimos preparativos, a dois ou três dias da partida, recebo um telefonema do meu querido amigo Coronel Ramiro Correia de Oliveira. Dizia precisar de um grande favor da minha parte. Resumidamente, tratava-se de tentar diligenciar em Angola a trasladação dos restos mortais de um militar então pertencente à Companhia de Caçadores Especiais nº 266 sob seu comando em Maquela do Zombo, que ficara sepultado no cemitério daquela localidade em 1961!

Embora apercebendo-me da dificuldade, ou mesmo impossibilidade, do teor de um tal pedido, senti uma forte emoção interior. É que uma outra missão similar, também do foro sagrado, me tinha cometido a mim próprio: localizar e trazer um punhado de terra da campa do Tenente Francisco Pires Bento, meu avô materno, caído no Norte de Angola ao serviço da Pátria “combatendo o gentio rebelde” a 4 de Julho de 1918, na plenitude da vida, com apenas 43 anos de idade. Comandava, na altura, o Posto Militar do Cauale pertencente à Capitania-Mor do Pombo. 

Esse distinto e valoroso oficial tinha já perdido a jovem esposa e deixara na aldeia natal - Meimôa -, ao cuidado de uma avó, duas crianças de tenra idade: minha mãe Alda e seu irmão Mário, os quais ficando tão prematuramente órfãos de pai e mãe viriam a estudar, com pensão de sangue, no Instituto de Odivelas e no Instituto dos Pupilos do Exército, respectivamente.

O telefonema do meu Amigo tinha assim para mim, neste contexto, uma ressonância muito profunda, mas simultaneamente vislumbrava no meu espírito dificuldades, quiçá insuperáveis, de qualquer das missões.

Mas voltando ao tema inicial que aqui nos traz, uma coisa, porém, era certa: haveria de esgotar todos os meios ao meu alcance para atender o Coronel Correia de Oliveira, por quem já então nutria verdadeira estima e enorme consideração.

Sem o tempo mínimo para juntos analisarmos o problema, pedi-lhe que me fizesse chegar às mãos toda a documentação útil sobre o assunto. Ele assim fez. Em 17 de Março de 1995 chego à cidade de S. Paulo da Assunção de Luanda e tomo posse do espinhoso cargo que me aguardava. As múltiplas tarefas da minha responsabilidade exigiram-me um trabalho diário de 16 a 18 horas ao longo de todo o ano que a comissão durou.

Só decorrido mais de um mês sobre a posse, consegui um mínimo de disponibilidade para me debruçar sobre a referida documentação. Analisei pormenorizadamente todos os elementos. Pareceu-me que a tarefa iria, eventualmente, além das minhas capacidades, mas deitei mãos à obra.

Gizei o plano com base numa seriação de tarefas que viriam a traduzir-se naquilo que denominei “Operação Maquela do Zombo”.

Do dispositivo operacional a meu cargo fazia parte, além das unidades dos vários países, um conjunto de Destacamentos de Observação (ditos “Team Sites”) a implantar por todo o território angolano e a implementar progressivamente de acordo com as prioridades operacionais.

Para Maquela do Zombo estava prevista a instalação de um desses Destacamentos dentro de cerca de duas semanas, decorrendo nesse preciso momento o processo de nomeação da sua guarnição, a constituir com 4 ou 5 Observadores Militares (estes iam chegando à Missão vindos dos vários países e de acordo com os planeamentos recebidos da ONU em Nova Yorque).

Alterando pontualmente o procedimento de rotina, chamei o oficial do meu Estado-Maior responsável pela área de pessoal (um simpático tenente Coronel romeno) e disse-lhe para, entre os Observadores a nomear para o Destacamento de Maquela, incluir um português ou um brasileiro.

Isto facilitaria futuras conversações com as autoridades administrativas locais, além de que este tipo de nomeações não obedecia a normas rígidas. Quando o Chefe do Pessoal veio a despacho no dia seguinte, informou-me não ter conseguido nenhum Observador nomeável para Maquela que falasse a Língua Portuguesa. Como o que não tem remédio, remediado está, ordenei que procedesse com urgência à nomeação da guarnição de Maquela e, feito isso, mandasse apresentar no meu gabinete o respectivo Comandante.

A “Operação Maquela do Zombo” era trabalhada no meu quarto e, logo nessa noite, perante a contrariedade do idioma, refiz várias peças do plano, passando-as para Inglês.

Na manhã do dia seguinte, apresenta-se para falar comigo o indigitado Comandante de Maquela, a quem, para além das habituais recomendações sobre o cumprimento da sua missão, iria pedir a execução de algumas diligências que importava explicar com o necessário detalhe.

Neste primeiro contacto com o oficial, eu diria (para utilizar uma gíria castrense) que logo me pareceu de “excelente aspecto militar”. À data, ainda não me era possível identificar todas as fardas, já que a Missão integrava várias dezenas de países dos cinco continentes. Por isso indaguei, antes de mais, a sua nacionalidade:

–Sou da Bulgária – disse prontamente…

Era, curiosamente, o Major Alexander Alexandrov, o meu “protegido”. Extraordinária coincidência!

Após inúmeras diligências e com a sua ajuda e das autoridades locais da UNITA, foi-me autorizada a exumação dos restos mortais que posteriormente,  com o apoio do Senhor Embaixador em Angola, se conseguiu transporte para Portugal na mala diplomática.

Não escondo a enorme satisfação que me deu ver cumprida a obrigação que assumira com um Amigo e ver realizado o desígnio sagrado de uma família a que se juntava também a dívida não saldada do meu país (com efeito os restos mortais não haviam sido oportunamente reclamados pela família devido a dificuldades financeiras). (**)

Na sequência do complicado processo vim a conhecer o filho do Srgt Mota, o Eng.º. António Teixeira Mota que,  enquanto filho de antigo combatente, fora aluno no Instituto Militar Pupilos do Exército (IMPE), ou seja, um ilustre “Pilão”, o 21 do seu ano! Ora quis o destino que, com a minha promoção a Oficial General, ali fosse colocado como Director em 1997. Tive então oportunidade de convidar o Eng.º. Mota a visitar a sua antiga Casa na companhia do Cor Ramiro de Oliveira, antigo comandante de seu pai na fatídica comissão em Angola. (***)

O mais importante é, no entanto, que a família Mota já não está agora privada da consolação humana de poder chorar o seu ente querido junto à campa, na sua terra natal. É essa consolação humana que refulgirá perenemente na memória da família.

No fim de todo este longo processo, e dentro das minhas fracas qualidades poéticas, escrevi os seguintes dizeres em memória de um combatente caído na GU em Angola, o Sargento Justino Teixeira da Mota.


ÚLTIMO ADEUS A MAQUELA DO ZOMBO

(Homenagem ao camarada, Sarg. Justino Teixeira Mota,
falecido em 18 de Outubro de 1962, pertencendo à
Companhia de Caçadores Especiais 266 / Batalhão 262)


Foste um soldado e grande companheiro,
Que em Maquela cumpriu sua missão.
Tanto a ela te deste por inteiro,
Que te apagaste nesse ex-luso chão.

Trinta e quatro anos são volvidos,
E os entes queridos te reclamam...
Quanta saudade e dor em ais sentidos
Guarda a memória dos que por ti chamam.

Fui buscar tuas cinzas com respeito,
Para honrar a mensagem recebida
Dos teus e do Ramiro, Capitão.

E se à história presto humilde preito
Por te levar à última guarida...
Justino, eu te saúdo como irmão.

(S. Paulo da Assunção de Luanda, 9 de Março de 1996)

João Afonso Bento Soares
Major General

4. Comentário do editor Luís Graça

João Afonso: obrigado pela história, com final feliz, que nos fez chegar, com a preciosa ajuda do Carlos Pinheiro, nosso grã-tabanqueiro de longa data. O tema é nos caro, o do resgate dos restos mortais dos nossos camaradas mortos nas campanhas de África, entre 1961 e 1975, e inumados em cemitérios locais (de cuja localização, em não poucos casos, se perdeu o registo).

O caso que relata não me era estranho. Acabei por encontrar um poste, do nosso coeditor Carlos Vinhal, em que nos fala do livro que escreveu o filho do 2º srgt trms Justino Teixeira Mota, o engº António Teixeira Mota, e em que se dá conta da sua "luta incessante" para resgatar os restos mortais do seu pai. Ora nesse poste, há uma fotografia com o então coronel João Afonso Bento Soares, que republicamos acima, em Maquela do Zombo, em 1996, junto à campa do 2º srgt Justino Teixeira Mota.

É uma história tocante, de amor filial, de compaixão e de solidariedade entre camaradas de armas. As duas versões completam-se e eu fico feliz por juntar, aqui e agora, as duas peças, para melhor apreciação dos nossos leitores (***).

O poste já vai longo, mas eu não posso deixar de lhe fazer um convite para, formalmente, integrar a nossa Tabanca Grande, na sua qualidade de antigo camarada da Guiné, onde foi comandante operacional, em 1968/70, sendo ambos em parte contemporâneos (eu, na CCAÇ 12, Bambadinca, julho de 1969/ março de 1971).  A sua presença  muito nos honraria a todos, a começar pelo Carlos Pinheiro, que foi então seu subordinado.

Se aceitar o meu convite, tem aqui um lugar à sombra do nosso poilão, sob o nº 785, ao lado de um outro seu camarada da Academia Militar, o cor art ref Morais da Silva (membro da Tabanca Grande, nº 784). Como vê, já somos mais do que um batalhão, os amigos e camaradas da Guiné. Para completar o processo, faltar-nos-ia apenas uma foto do seu tempo como capitão na Guiné... (que não encontrei numa visita rápida que fiz à sua página do Facebook)

Por fim, e não menos importante, sendo eu também poeta, deixe-me dar-lhe os parabéns pelo soneto que, em 1996, dedicou ao nosso camarada 2º srgt trms Justino Teixeira Mota. Não só está tecnicamente perfeito, como é também um belíssimo hino à camaradagem e fraternidade entre militares portugueses!...
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19594: Memórias de Gabú (José Saúde) (79): Resquícios de uma guerra que nos fora cruel. Abandonados. (José Saúde)

(**) Último poste da série > 4 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vôvô-Zé - As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

(***) Vd. poste de 16 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2651: História de vida (10): A Luta Incessante de António Teixeira Mota (Carlos Vinhal)

domingo, 4 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19167: Efemérides (295): Dia de Finados - Romagem aos Talhões Militares da Liga dos Combatentes nos cemitérios de Leça da Palmeira e Matosinhos

Como vem sendo tradição, o Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes e a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira promoveram no passado dia 2 de Novembro, Dia de Finados, mais uma romagem aos Talhões Militares da Liga existentes nos cemitérios das duas localidades.

Cerimónia singela, ameaçada por chuva que felizmente poupou os participantes.

Com a presença de antigos combatentes, a cerimónia teve início às 10 horas da manhã em Leça da Palmeira onde foi depositada um coroa de flores, seguindo-se o toque de silêncio e a oração aos mortos.
Por fim foi lida uma mensagem do Presidente da Liga, Ten-General Chito Rodrigues, a propósito da data que ora se comemora, o Centenário da assinatura do Armistício, que conduziu ao fim da I Grande Guerra (1914-1918), cujo tratado de paz foi assinado em 28 de Junho de 1919.

Cerimónia idêntica se promoveu pelas 11 horas no Talhão do Cemitério de Sendim em Matosinhos.

Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - O Combatente José Trindade, com o Estandarte do Núcleo de Matosinhos da LC

Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Momento da deposição da coro de flores pelo representante da União das Freguesias Matosinhos e Leça da Palmeira, senhor Fernando Monteiro, e pelo Combatente Ribeiro Agostinho, em representação do Núcleo.

Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Antigos Combatentes sempre presentes

Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Oração dos Defuntos pelo Diácono Raul Almeida, também ele um antigo Combatente
 
Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - O SAj Joaquim Oliveira do Núcleo de Matosinhos da LC lê a mensagem do Presidente da Direcção Central, Ten-General Chito Rodrigues

Talhão do Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - O representante da União de Freguesias quando se dirigia aos presentes.
 
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Talhão do Cemitério de Sendim em Matosinhos

Talhão do Cemitério de Sendim em Matosinhos - Momento da deposição de uma coroa de flores por Ribeiro Agostinho, Mesa da Assembleia Geral, e Francisco Oliveira, Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC

Talhão do Cemitério de Sendim em Matosinhos - Momento da deposição de uma coroa de flores pelo senhor Fernando Monteiro, em representação da União de Freguesias

Talhão do Cemitério de Sendim em Matosinhos - Os toques de homenagem aos mortos estiverem mais uma vez a cargo do Bombeiro, senhor Francisco Silva, dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça

Fotos: José Trindade
Edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19139: Efemérides (294): Há 49 anos, neste dia 24 de Outubro, no RAP 2, soube que estava mobilizado para a Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18079: (In)citações (113): Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!... Seis heróis limianos ainda continuam sepultados em terras de África: 1 no cemitério de Bissau, e os restantes em cemitérios de Moçambique (Mueda, Vila Cabral, Nova Freixo)


Capa do livro "História do Dia do Combatente Limiano", 
da autoria de Mário Leitão, edição de 2017.



Ponte de Lima > Singelo mas comovente monumento de Homenagem aos combatentes limianos. inaugurado em 24 de agosto de 2013

Fotos (e legendas: © Mário Leitão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de [António] Mário Leitão [ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; membro da nossa Tabanca Grande; autor do livro "História do Dia do Combatente Limiano"

Data - 9/12/2017
Assunto - Soldados limianos sepultados em África

Caro Luís Graça, querido amigo e camarada! Um grande abraço!
Acabei há poucos minutos de ler este pequeno texto na Rádio Ondas do Lima, numa rubrica semanal chamada ALMA LIMIANA.

Ele também se refere ao Soldado José Peeira Durães, sepultado em Bissau em campa bem referenciada.

Julgo que a sua divulgação no nosso blogue será da maior importância.
Obrigado pelo excepcional trabalho da tua equipa!
Outro abraço!
Mário Leitão
(Grão-Tabanqueiro 741, infiltrado)


PS - As referências numéricas referem-se aos meus aquivos, conforme serão publicadas no próximo livro HERÓIS LIMIANOS DA GUERRA COLONIAL. Até já, Professor!


2. Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!

As televisões e os jornais noticiaram anteontem o regresso dos restos mortais de um militar português que morreu em combate em Angola, em 19 de Setembro de 1962, e que por lá ficou sepultado durante 54 anos. Trata-se do Soldado Paraquedista António Silva, natural de Lobão da Beira, no concelho de Tondela, que pertencia ao Regimento de Caçadores Paraquedistas de Tancos e que morreu em Úcua, tendo sido enterrado em Luanda.

Com o regresso deste soldado, os Paraquedistas portugueses cumpriram finalmente o seu lema NINGUÉM FICA PARA TRÁS, tão apregoado pelas Forças Armadas Portuguesas, mas atraiçoado sucessivamente ao longo de mais de meio-século pelos altos comandos militares e pelos sucessivos governos de Portugal. De facto, agora já não há nenhum paraquedista fora do território nacional, porque este foi o último corpo a ser resgatado. No entanto, jazem em África, ao que se diz, mais de dois mil corpos de soldados de Portugal! São mais de dois mil lutos por fazer! São mais de dois mil gritos de dor permanente que esmagam dia a dia as suas famílias!

Trago aqui hoje esta questão, porque o tema encaixa perfeitamente no alcance desta crónica chamada ALMA LIMIANA, como facilmente poderia explicar. Mas também porque ele faz parte de uma das maiores preocupações da minha vida actual: o registo histórico da participação limiana na Guerra Colonial,

Naturalmente, os caros ouvintes não sabem que há 6 rapazes de Ponte de Lima que ficaram sepultados em África. Vou REPETIR: Naturalmente, os nossos ouvintes desconhecem que existem 6 corpos de soldados limianos que ficaram abandonados em África!

São 6 Heróis Limianos que deram a vida ao serviço de Portugal, mas que ficaram abandonados por aqueles que gritavam a torto e a direito que NINGUÉM FICAVA PARA TRÁS! Este assunto deveria estar na ordem de trabalhos dos nossos políticos eleitos, quer a nível autárquico quer a nível nacional, mas infelizmente não faz parte das suas preocupações.

Grande parte dos políticos portugueses tem uma deficiente carga cultural, quer sob o ponto de vista da qualidade quer no que respeita à quantidade. Temos provas disso todos os dias, a começar por presidentes de junta e a terminar em ministros, e por isso não lhes passa pela cabeça que é um dever da Pátria resgatar os corpos dos seus filhos que por ela morreram. Mas os chefes militares também têm culpa, porque têm poder suficiente para exigir aos governantes que corrijam essa injustiça.

O Professor Dr. Luís Graça, da Escola Nacional de Saúde Pública, já em Abril/2008, a seguir a uma Grande Reportagem da SIC/Visão intitulada NINGUÉM FICA PARA TRÁS, dava notícia dos esforços desenvolvidos pela Liga dos Combatentes para resgatar os restos mortais de muitos soldados mortos na Guerra do Ultramar. Através do seu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, o País vai sendo sensibilizado pouco a pouco para essa colossal tarefa de resgate, que deveria ser um ponto de honra para qualquer governo.

Ora, a este propósito , lanço novamente o meu apelo através da Rádio Ondas do Lima para que o nosso Concelho se mobilize para resgatar os restos mortais dos seus soldados que jazem em solo africano, cujos nomes são os seguintes (conforme constam no livro publicado em 10 de Junho deste ano, intitulado História do Dia do Combatente Limiano):


José de Araújo Sendão, 
natural de Santa Cruz,
 morto em Combate aos 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


Manuel Fiúza Parente das Bouças, 

natural de Moreira, 
falecido em combate aos 22 anos de idade, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Narciso Vieira Rodrigues, 
natural de Anais, 
morto em combate com 22 anos, 
sepultado em Mueda, Moçambique;


Domingos da Sila Araújo, 
da Vacariça, Refoios, 
morto em combate em Nova Freixo, norte de Moçambique, 
onde está sepultado;


José Pereira Cerqueira, 
do lugar do Paço, Vitorino das Donas, 
morto em combate com 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Pereira Durães, 
natural de Abelheiras, 
Vitorino de Piães, 
falecido com 22 anos em Mansoa, Guiné, 
e sepultado no cemitério de Bissau.

Portanto, faço daqui um apelo aos presidentes das Juntas das Freguesias de Santa Cruz, Moreira, Anais, Refoios, Vitorino das Donas e Vitorino dos Piães para que honrem o cargo para que foram eleitos e iniciem rapidamente o processo para resgatarem estes seus conterrâneos do esquecimento. 

Esses Heróis têm o direto de regressar à terra natal, de modo a permitirem a conclusão do luto que foi adiado durante tantos anos! E essas freguesias têm o direito de se sentirem honradas e confortadas com o regresso dos seus filhos martirizados pela Guerra do Ultramar. O bem-estar social não é apenas o saneamento básico, os caminhos alcatroados e a cozinha farta! A felicidade das populações alicerça-se, sobretudo, no conforto do dever cumprido! Cumpramos, pois, o nosso dever!

Pela minha parte, podem contar com todo o meu apoio e com a ajuda de muitas instituições e de gente que vive angustiada com este problema.

Não deixemos estes Heróis Limianos abandonados em África!

Obrigado e muito bom dia para todos os ouvintes.
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Nota do editor:

Último postes da série > 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18011: (In)citações (112): A Tabanca Grande, a Guerra “de libertação”, que tarda em acabar para os bissau-guineenses e a marca dela nos ex-combatentes do continente (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Guiné 61//74 - P17925: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (4): Homenagem, por iniciativa da Embaixada de Portugal, aos nossos mortos, no cemitério de Bissau, ontem, dia 1 de novembro







Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério > Talhão da Liga dos Combatenets > 1 de novembro de 2017 > 

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2017) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de ontem, do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um antigo "filho da Escola" [leia-se: fuzileiro da Marinha Portuguesa], radicado na Guiné-Bissau há 4 décadas, fundador e diretor da empresa Impar Lda,  


Bom dia, desde Bissau (*)

Junto algumas fotos que tirei hoje no cemitério de Bissau.

Conforme convite da nossa Embaixada (ver em baixo)

As campas estavam pintadas e arranjadas.  Foram benzidas por um padre.

Estavam os nossos militares da cooperação militar, adido militar e funcionários da nossa Embaixada , o representante da Liga dos Antigos Combatentes, assim como alguns empresários portugueses que cá exercem a sua actividade.

Abraço
Patricio Ribeiro
impar_bissau@hotmail.com


2. Convite da embaixada de Portugal na Guiné-Bissau, para cerimónia na capela da Liga dos Combatentes em 1/11/2017

Transmito a seguinte mensagem que me foi transmitida pelo

Sr. Adido da Defesa Sr. Coronel José Morgado

CONVITE PARA CERIMÓNIA NA CAPELA DA LIGA DOS COMBATENTES

Caríssimos,

No dia 1 de Novembro (4ª feira), pelas 09H30, na Capela da Liga dos Combatentes (cemitério de Bissau), terá lugar uma cerimónia simples mas significativa, em honra dos nossos combatentes que pereceram na República da Guiné-Bissau.

A cerimónia terá uma pequena missa, seguida pelo ato simbólico de deposição de uma coroa de flores no monumento erigido em honra dos nossos combatentes.

Após a deposição da coroa far-se-á um minuto de silêncio em honra dos nossos combatentes.

Assim, fica aqui o convite para quem tiver a disponibilidade e pretenda participar neste evento.

Se tiverem conhecimento de alguém que gostaria de participar, mas não está na lista de destinatários, agradeço que divulguem.

Com os melhores cumprimentos,
Tiago Bastos
Delegado
Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
Conselheiro Económico e Comercial
Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau e Embaixada de Portugal no Senegal (não residente)


Embaixada de Portugal em Guiné-Bissau
Av. Cidade de Lisboa, C. Postal 276, 1021 Bissau Codex
M. EMB.: +245 966 990 029 M: +245 966 495 613
tiago.bastos@portugalglobal.pt

www.portugalglobal.pt
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Nota do editor:

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16670: Blogpoesia (478): Neste Dia de Finados - "Campo Santo", da autoria de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546

Cemitério de Omaha, Costa da Normandia


1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 31 de Outubro de 2016, trazendo até nós um poema alusivo ao Dia de Finados que hoje se celebra:

Prezado Luis graça.
Tomo a liberdade de enviar mais um pequeno poema, que poderá ser publicado.

Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves


CAMPO SANTO

I


Da vida resta amorfo pó.
Terra
Barro
Nada.

As flores na tumba são engano.
Ilusão de ser.
Mágoa
Dó.

Cemitério...
Pó humano
Verdade feita espada
Fim de tudo
Humilhação
Passagem.

Ai! Vida! Tu és só
Calor de uma ilusão,
Folha caída,
Nuvem de pó
Miragem


II

É lá que a aldeia
Adormece
No sono eterno
De cada filho
Seu.

É lá que a aldeia descansa
Da labuta e da dor
De cada vida que passa.

Cemitério...
Terra humilde
De barro humano
Em tantos anos feita.

Cemitério...
Último refúgio
Da vida
Que aguarda serena,
Simulando ser pó,
O som das trombetas.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16659: Blogpoesia (477): "Um banho de cor..."; "Pedras ao lago..." e "Eclipse quase total...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 23 de julho de 2016

Guine 63/74 - P16326: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte I: BIssau: o cemitério dos nossos bravos





Foto nº 1 > Bissau, o talão da Liga dos Combatentes... Vê-se que o talhão está agora cuidado e que há flores nalgumas campas.


Foto nº 2 > Bissau, outro aspeto do cemitério onde repousam uma parte dos nossos bravos



Foto nº 3 > Bissau > Cemitério > Placa: "Homenagem aos mortos pela Pátria. Visita de Sua Excelência o Presidente da República Contra-Almirante Américo Deus Rodrigues Tomaz à Porvíncia da Guiné. Bissau, 3 de fevereiro de 1968"



Foto nº nº 4 >  Bissau > Bissau Velho > Hotel (e casino)  Kalliste,,, Fica na praça 'Che' Guevara



Foto nº 5  > Bissau > Bissau Velho > A catedral católica, uma construção estadonovista (1945), projeto (reformulação) do arq João Simões


Guiné-Bissau > Bissau > 4 de novembro de 2015 >

Fotos (e legenda): © Adelaide Barata Carrêlo  (2016). Todos os direitos reservados.



1. A nossa grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente SGE Barata, da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), esteve com a família (pai, mãe, irmã gémea e e irmão mais velho) em Nova Lamego na altura da segunda parte da comissão de serviço do pai (1970/71),entretanto falecido, em 1979, com o posto de capitão  (*).


 [Foto à esquerda:  na inauguração de uma nova escola em Nova Lamego, na qual a Adelaide foi  a menina branca a pegar na fita,  segura do outro lado por uma menina preta, que se vê perto de dela, para o gen António Spínola cortar]


Conheceu então a violência da guerra mas também bebeu, aos 7 anos, a água do Geba,,, Guardou, numa caixinha especial da memória, as boas coisas desse tempo, dessa Guiné e das suas gentes ... Quarenta e tal anos depois, em novembro de 2015, voltou lá... Diz que foi a "viagem da sua vida".

(...) "Em 1970 aterrámos em Bissau onde o meu pai nos esperava ansiosamente, seguimos alguns dias depois para Nova Lamego onde ele estava colocado. Eu tinha 7 anos, sou gémea com uma irmã e tenho um irmão mais velho 1 ano. Somos a família Barata.

Quando chegou a hora dos meus pais decidirem juntar-se naquela terra, não conseguiram convencer-nos de que poderíamos separar-nos, não, fomos também. E até hoje agradeço por ter conhecido gente tão bonita, tão pura.

As primeiras letras da cartilha, foram-me desenhadas pelo Prof. José Gomes, na Escola que hoje se chama Caetano Semedo.

Aquele cheiro, a natureza comandada pelo calor húmido que sufoca e a chuva que cai como uma cascata sobre a pele e o cabelo que teima em não se infiltrar...cheguei a pedir à minha mãe para me deixar correr como aqueles meninos que se ensaboavam no meio da rua e com um chuveiro gigante que deitava tanta água de pingos grossos e doces.

Também me lembro de quem lá ficou para sempre, não éramos muitos. Tantas lembranças que me acompanharam toda a minha vida e eis que em 2015 o meu filho, foi trabalhar para a Tese em Bafatá, uma ONGD (energias renováveis) e eu voltei lá, agora com a possibilidade de visitar tudo, foi a viagem da minha vida.

O reencontro com gente que parece ter ficado à nossa espera este tempo todo. (...)

 Aqui vão as primeiras fotos: Bissau, quarenta e tal anos depois, em 4/11/2015...
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