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domingo, 13 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16713: Inquérito 'on line' (83): Pelo menos mais de metade dos respondentes, até agora, dizem que "nunca comeram macaco-cão"... A proporção é mais elevada aqui, no blogue (63%), do que na página do Facebook (55%)... No blogue é que importa responder.... Até 5ª feira, às 7h32, faltam 26 para chegar às 100 respostas...



 Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Na foto nº 1 um chimanpanzé (que não é macaco, é símio, "dari", em crioulo),  em cativeiro, o que é ilegal; na foto, aparece também a Inés,  filha do Xico Allen... Na foto nº2, um babuíno, macaco-cão (sancu, em crioulo), segura a mão de outro elemento da comitiva [, talvez o Hugo Costa]... O dari, o sancu e a Inês pertencem à ordem dos Primatas... O dari é um símio e a Inês um(a)hominídeo(a), ambos têm 99%  do mesmo ADN... O dari é um Pan (género) Troglodytes (espécie). A Inês,  um exemplar da espécie Homo Sapiens Sapiens. Por sua vez, o macaco-cão (babuíno) é um antropóide cercopitecídeo do género Papio... Os três têm eomum um antepassado longínquo,  que remonta há 70 milhões, antes da extinção dos dinossauros... O  sanctu e o dari são espécies ameaçdas, o  dari é seguramente o que vai desaparecer primeiro...

De um modo geral, as populações da Guiné-Bissau, não muçulmanas, caçam e comem o sancu. Sobretudo depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão aumentou. Quanto ao dari, o chimpanzé da matas do Cantanhez e do Boé , há em princípio um maior respeito pelas suas semelhanças com o ser humano.  Mas os juvenis são objeto de tráfico...  O habitat do dari está condicionado pelas atividades humanas (além da caça, o risco de epidemias, a expansão das áreas de cultivo, e nomeadamente do caju, e a desmatação ilegal para extração de madeiras exóticas,  como  o pau de sangue, exportado para a China).

Fotos (e legendas) : © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ"  




Resposta no nosso blogue (até às 23h00 ontem, sábado, 12/11/2016) (n=74)
1. Nunca comi  > 47 (63,5%)

2. Comi e não gostei  > 6 (8,1%)

3. Comi e gostei  > 13 (17,6%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 8 (10,8%)


Total > 74 (100,0%)

Respostas na nossa página do Fabebook (até ontem) (n=98)

1. Nunca comi >  54 (55,1%) 

2. Comi e não gostei >  9 (9,2%)

3. Comi e gostei = 30 (30,6%) 

4. Não a certeza se comi = 5 (5,1%) 

Total > 98 (100,0%)

II. Alguns comentários selecionados (10) da nossa página no Facebook e do blogue:


(i) António Branco

Numa companhia africana como a CCAÇ 16 onde estive, não era dificil passar por experiências de gastronomia diferenciadas. Recordo-me de ter comido macaco pelo menos por duas vezes.
A primeira na companhia, embora com alguma relutância , acedi à experiência, confeccionada por furriéis africanos. Depois.  e numa das idas a Bissau, numa tasquinha da qual não me recordo o nome que fornecia bitoque de macaco com batata frita por um preço bastante acessível. [resposta 3] (...)


(ii) Mário Gualter Pinto

Não tenho a certeza se comi [ resposta 4]. Em Bissau falava-se na altura que vários restaurantes serviam bifes de macaco cão por vaca nos bitoques. Agora uma coisa é certa, por diversas vezes vi no mato, macacos esquartejados dos traseiros! Porquê? Não sei! (...)

(iii) Manuel Amaro

Eu penso que não, mas a D. Carlota de Nhacra dizia que alguns de nós já tinham comido.... Nunca me preocupei com isso [resposta 4].

(iv) Joaquim Pinto Ferreira

A maior parte da minha tropa foi passada em Aldeia Formosa. Passei aquele tempo onde os abastecimentos eram raros e os fumadores tiveram muita dificuldade em comprar tabaco. Comi gazela, comi porco bravo (javali), comi muitas galinhas roubadas na população. Mas macaco, nunca! [resposta 1].

(v) Manuel Mendes-Ponte

Vi matar muitos mas nunca comi [resposta 1]. em Farim,  na tasca do Pedro Turra,  diziam que comiam pensando que era gazela.

(vi) Candido Cunha

[Resposta 1] Quem, sabendo comeu, mesmo passados quarenta e cinco anos, não era, nem é boa rolha. Isso se se passou, envergonha-nos !

(vii) Luís Mourato Oliveira


Segundo a opinião do Cândido Cunha.  não sou boa rolha! Comi e gostei [resposta 3].

(viii) Ernesto Marques

Vi comer muitos e gatos também, eu nunca consegui, nem queria ver matá-los. [resposta 1].

(ix) Valdemar Queiroz

(...) Na nossa CART 11,  'Os Lacraus',  os nossos soldados eram todos fulas e nunca ouvi, que me lembre, alguém dizer ter comido carne de macaco [resposta 1]. A sua alimentação era,
essencialmente,  uma papa de farinha de milho painço, depois como eram desarranchados passaram a comer arroz que compravam na cantina, acompanhado com um preparado de umas 'ervas', ou com um 'guisado' de carne de 3ª. (muita tripa e pouca carne) de galinha ou vaca. (...)

(x) Cherno Baldé:

(...) Para vossa informação, os muçulmanos em geral estão interditos pela tradiço e sobretudo pela religão de comer macacos e pelo facto de um ou outro o fazer não invalida esta proibição que, como deverão saber, vem dos tempos hebraicos (Tora de Moisés) onde consta a listagem dos animais que seriam lícitos e ilícitos aos filhos de Israel e que por herança passa também para os seguidores do Profeta Mohamed. (...).

__________________

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16707: Inquérito 'on line' (82): Quem nunca comeu macaco-cão ? Em 35 respostas (provisórias), mais de metade (60%) diz que nunca comeu ... Só 4 dizem que comeram e gostaram... Outros tantos comeram e não gostaram... O prazo para responder termina em 17/11/2016, às 7h32. Cem respostas, no mínimo, precisa-se!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo).  Espécie, nome científico: Procolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação. (*)

Por esta altura, havia uma jovem bióloga portuguesa, a fazer o seu doutoramento em Inglaterra, com um estudo sobre os babuínos da Guiné-Bissau.Verificamos com muita satisfação, passados quase 8 anos (!),  que a Maria Joana Ferreira da Silva doutorou-se em 2012 e trabalha agora em Portugal, na CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos,  Universidade do Porto. Demos lhe em 2009 uma ajudinha para contactos e entrevistas (**),  a par  dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG à frente da qual estava o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014)... O nosso blogue cumpre, também  assim, a sua missão como "fonte de informação e conhecimento"...mas também de tomada de consciência dos problemas ecológicos, globais, regionais e locais,,,

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/73) > O "Pifas", mascote da companhia...

Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Em muitos aquartelamentos das NT, durante a guerra colonial, havia animais destes, em cativeiro... Macaco-cão, macaco-kom, uma espécie que nos era familiar...Nome científico: Papio hamadryas papio.

No mato, era,  para as populações e para os guerrilheiros do PAIGC,  uma das principais fontes de proteína animal. As populações sob o nosso controlo, ou que viviam perto dos nossos aquartelamentos e destacamentos, também os caçavam, mais ou menos furtivamente.  Mas era frequente, quando em operações,  avistarmos bandos de 100 ou mais babuínos em estado selvagem nas matas e florestas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, em finais  dos anos 60 / princípios dos anos 70...

A sua caça chegou a ser proibida pelas autoridades da Guiné-Bissau logo a seguir à independência... Mas foi sol de pouca dura... Nos últimos 30/40, a população guineense de babuínos tem vindo a decrescer dramaticamente, devido à combinação de diversos factores:

(i) mudanças no território devidas às plantações extensivas de caju,  que ocupavam já no início do séc. XXI mais de 2/3 de toda a terra arável da Guiné-Bissau; (ii) a desflorestação ilegal, devido à procura externa de madeira exótiocas (por ex., pau sangue); (iiii) caça intensiva praticada por grupos de militares como forma de compensação extra-salarial; (iv)  crescente procura da carne de macaco-cão e de outros primatas (macaco-fidalgo, etc.), como produto "gourmet",  pelos restaurantes de Bissau e periferia; (v) o uso da pele do babuíno pelos praticantes da medicina popular tradicional; e., por fim , (vi) o tráfico de juvenis para alimentar o mercado interno de animais de estimação.

Fonte: Adapt. de Maria J. Ferreira da Silva,  Catarina Casanova  & Raquel Godinho - On the western fringe of baboon distribution: mitochondrial D-loop diversity of Guinea Baboons (Papio papio Desmarest, 1820) (Primates: Cercopithecidae) in Coastal Guinea-Bissau, western Africa. "Journal of Threatened Taxa" | www.threatenedtaxa.org | 26 June 2013 | 5(10): 4441–4450

 [Consult em 10 de novembro de 2016]. Disponível em:  http://threatenedtaxa.org/ZooPrintJournal/2013/June/o321626vi134441-4450.pdf



I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ" (***)

Respostas (preliminares) (n=35), às 23h30 de ontem


1. Nunca comi >  21 (60,0%)

2. Comi e não gostei  > 4 (11,4%)

3. Comi e gostei  > 4 (11,4%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 6 (17,2%)

Total  > 35 (100,0%) 


O prazo para resposta ao inquérito termina no dia 17/11/2016, 5ª feira, às 7h32.  Esperamos até lá obter 100 ou mais respostas.



II. Seleção de comentários dos nossos leitores:


(i) Henrique Cerqueira (****)

Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado) que pelos vistos era vegetariano [ fatango, em crioulo, macaco fidalgo vermelho, vd. foto acima].

A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato. Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava. O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autêntica.

Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas (basucas) empurravam muito bem o repasto.

Outro dos petiscos muito apreciados  eram o porco espinho do mato e o papa formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência à venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes, mas para os meus soldados africanos [, da CCAÇ 13,] era um petisco de tal ordem que,.  mesmo que estivéssemos em missões,  eles quebravam todo o silêncio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.

Foram experiências interessantes e às vezes até de recurso.

(ii) José Nascimento (****)


Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão [, CART 2520, Xime e Quinhamel, 1969/70, ] que comeram, não sei em que condições. 

Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.

(iii) José Nunes (****) 


Aquando da montagem eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura, comia na Missão de Padres Italianos.

Um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça, patos,  galinhas do mato... Como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais, então surgiu uma travessa com carne,  uns "bifinhos" jeitosos, e o rapaz aviou-se... Ao dar a primeira dentada, pensei, estes "italianos" são mesmo malucos,  temperar a carne com açúcar....

Lá fui mordiscando, quando do topo da mesa o Padre Settimio me diz: "desculpa,  não sei se gosta de macaco ?!"... Já não consegui comer mais...

Depois da independência,  D. Settimio Ferrazzeta veio a ser o 1º  bispo da Guiné. Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné, as "pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas!


 (iv) Artur Conceição (*****)


(...) Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. 

O nome 'cabrito pé da rocha'  para mim é novidade (...).

(...) Eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim. (...) 

________________

Notas do editor:


(**) 13 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

(...) O meu projecto de doutoramento tem três principais objectivos: (i) Determinar o estatuto de conservação dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau. (...); (ii) Investigação de aspectos socio-ecológicos (...); (iii) Investigação da história demográfica passada (...)

(***) Último poste da série > 4 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16684: Inquérito 'on line' (81): a avaliar pelo total de respostas (n=91), só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (n=15) na sua unidade (companhia ou equivalente)... Menos de metade do que terá ocorrido na metróple (=34)... Impossível saber se há casos repetidos... A nossa estimativa, grosseira, é de 500 casos de deserção em toda a guerra: 2/3 na metrópole, 1/3 no TO da Guiné

(****) Vd. poste de 10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo, bom pão e melhor... macaco cão no forno com batatas!


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...



 Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Mato Cão  > Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijoes.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Preparando peixe do rio


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > O furriel João Santos, já em fim de comissão.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  A mascote, o "Pixas"...


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   "Pequenas diversões"...

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Fotos do álbum de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), subunidade que ele desmobilizou e onde terminou a sua comissão já depois do 25 de Abril... É  membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, concelho da Lourinhã, pelo lado materno.




1. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) > Experiências gastronómicas (Parte II)

Segunda parte do texto enviado em 7 do correntes com 4 histórias, duas passadas em Cufar, região de Tombali, no sul da Guiné (*),  e as restantes no Mato Cão, na zona leste, na região de Bafatá, setor L1 (Bambadinca). 


III – O Padeiro de Mato de Cão 


O pão é um alimento extraordinário que caso não tivesse sido criado há mais de 6.000 anos na Mesoptâmia, provavelmente a existência humana tivesse sido comprometida. Não conheço ninguém que não goste de pão nas suas múltiplas formas de fabrico e, em particular, nós,  portugueses, não o dispensamos para acompanhamento ou mesmo como elemento principal de uma refeição.

Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão]  embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.

Na cozinha,  dada a simplicidade e a repetição dos menus,  as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.

Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa,  e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras,  ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário,  levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.

Ma,  como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência: 
– Alfero, Jobo passa a fazer o pão para o pessoal! 
– Não sabes fazer pão, Jobo, não te metas nisto que arranjas problemas.
–  Jobo sabe fazer pão, alfero, deixa experimentar e vais ver.

Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa,  resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar,  e ele atacou de imediato a nova função. 

Não sei se por milagre ou se pelas aptidões inatas do Jobo, no dia seguinte quando este me chamou para ver o pão acabado de cozer,  tive das grandes alegrias gastronómicas da minha vida. O pão estava quente, tinha crescido por obra do fermento e da forma carinhosa com a massa tinha sido tratada, o som da batida no “lar” parecia um tambor a acusar uma boa cozedura e o abrir a crosta estaladiça evidenciava um miolo macio, fumegante e com um cheiro delicioso. Regalámo-nos de imediato com pão quente e manteiga e o Jobo ganhou o lugar!

O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira, [, Lourinhã,]  quando era dia de cozedura. 

No que dizia respeito ao pão, tínhamos atingido, graças ao Jobo Baldé, a felicidade. O Jobo também estava feliz, era casado com uma mulher,  bem mais velha,  que ele herdara do irmão entretanto falecido. Embora esta mulher fosse divertida e senhora de um grande sentido de humor,  já tinha perdido o fulgor e a beleza da juventude e o nosso amigo e saudoso Jobo Baldé, quando acabava de fazer o pão, tinha sempre visitas de exuberantes bajudas a quem ofertava uns pães a troco de inconfessáveis favores. 

Luís Mourato Oliveira: foto atual
A felicidade conquista-se com pequenos acordos e cedências. Estávamos todos satisfeitos…até as bajudas.

IV – Macaco em Mato de Cão

Sempre na pesquisa de petiscos e novos sabores para variar a nossa rotineira cozinha, um dia o soldado Tomango Baldé, o maior “pintoso” do pelotão, depois de alguns convites para comer o fígado de “bandido” quando apanhássemos um, veio sugerir que petiscássemos macaco cão.

A primeira ideia foi imediatamente recusada, embora ele defendesse que iríamos reforçar a nossa força com a do inimigo abatido e cozinhado, este prato estava longe de poder ser bem acolhido por nós, a não ser que o “bandido” fosse uma gazela tenrinha ou um javali bem gordinho, contudo a ideia do macaco cão não era totalmente de deitar fora. 

Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito, por isso aceitámos comer um quando a caça o permitisse. [vd. postes sobre macaco cão, também conhecido por "cabrito pé de rocha". ]

Um dia o Tomango apareceu com um macaco cão acabadinho de ser caçado e, como não podíamos voltar com a palavra atrás, o animal foi para a cozinha para ser preparado. O aspecto do bicho era devastador depois de esfolado,  pois tinha mais semelhanças com um humano recém-nascido do que com um cabrito, foi colocado a marinar em vinha de alhos e, depois para o forno, para aquecer os nossos estômagos no jantar do dia.

Havia poucos candidatos para a degustação, mas depois de cortado e arranjado no forno com as batatinhas assadas,  apresentava um aspecto comestível, até atractivo e a abrir o apetite. Os menos receptivos ao manjar foram alterando as suas posições, alguns após provar até repetiram e o tabuleiro ia ficando vazio. 

O grande companheiro e amigo Santos, o furriel mais antigo do 52, era dos menos entusiasmados com o manjar, mas perante o exemplo dos outros camaradas que já tinham esquecido o que estávamos a comer, lá pegou num bracinho do bicho que parecia estar bem passado, atirou-se a ele e ainda deu umas dentadas. De repente e quando já ninguém esperava, desata a correr para a parada e, pelos sons que chegavam à cobertura de chapa ondulada a que chamávamos refeitório, estaria a libertar o seu estômago sofredor não só do petisco acabado de deglutir, mas também de todas as refeições ingeridas nos últimos dias.

Passado algum tempo, já recuperado do esforço libertador daquela comida que o estômago se recusou a receber, perguntei-lhe:
 – Então, Santos, não gostaste do cozinhado? 

Ele ainda amarelo e enjoado respondeu que não foi pelo paladar, que nem estava mau, o que o enjoou foi a pilosidade do sovaco do bichinho que não tinha sido convenientemente depilado.

Luís Mourato Oliveira



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão [ou macaco-fidalgo ? (LG)].

Foto (e legenda) : © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Sugestão de leitura complementar (LG):

Poste de 11 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias deBissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe"  (Vitor Junqueira)

(...) Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres, casa de pasto, vinhos e petiscos.

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra ... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde,  minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem ...
– Cabrito? 
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão,  contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa ... Pedi uma laranjada. (...)
_______________

Nota do editor:

quinta-feira, 12 de março de 2009

Guine 63/74 - P4017: As abelhinhas, nossas amigas (2): Desbaratavam uma coluna, uma companhia, um batalhão... (Rui Silva)

1. Mensagem do Rui Silva (ex- ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67):

Caros Luís, Vinhal e Briote:

Muita saúde e bom humor nas Vossas pessoas é para já o meu primeiro e grande desejo.

Envio-vos um trabalho sobre as abelhas africanas e conto alguns estragos que elas fizeram na 816.

Julgo que sobre as abelhas na Guiné devem haver muitos camaradas nossos com histórias para contar. Não sei se este trabalho terá cabidela no Blogue. Se não tiver, passem adiante e tudo como dantes. Sempre amigos. Um abraço, Rui Silva


2.ABELHAS (*)
por Rui Silva

Caro Luís;

Abriu-se aqui há pouco um item no Blogue sobre o macaco-cão na Guiné e com histórias muito interessantes. E porque não abrir agora um item sobre as abelhas (as célebres abelhas africanas) que não queriam mesmo nada com os Tugas ?

Ai daquele que lhes tocasse ou fizesse ruído perto!

Deve haver por aí “menino” que terá muito que contar… É curioso que, em praticamente 2 anos, nunca foi picado por uma abelha que fosse, mas foi mordido por um macaco-cão!Este, propriedade de um militar da 643 (Olá, Águias Negras, da 643) estava preso junto à tasca da D.ª Maria e do Sr. Maximiano (julgo cabo-verdianos) aonde íamos comer, em Bissorã.

Metia-me sempre com ele puxando-lhe o pelo sobre a cabeça, mas, num certo dia, ao tentar recuar com mais rapidez do que ele investia, estava um colega atrás de mim que me atropelou…

ABELHAS!!!... era este o grito de alerta. Era este o grito que fazia o pessoal da Companhia, a correr a sete pés.

Assustava mais este grito, que o grito ”Aí estão eles!”, grito que acontecia no milésimo de segundo imediato a um tiro do inimigo.

Duas histórias para contar:

Certa vez, vinha a Companhia de regresso ao quartel de Olossato e, como sempre, extenuada, de uma operação muito perto da base de Morés.

Sei que naquela zona evitávamos sempre que possível os trilhos, pois sabíamos e alguns até, infelizmente, na pele, que naqueles trilhos era frequente aparecerem minas anti-pessoais.

A certa altura, já perto do aquartelamento do Olossato (aproximadamente 1 Km.), voltamos inevitavelmente a um trilho.

Vínhamos em fila indiana e, cada um, como já era usual, vinha com a atenção redobrada, o coração a rebater forte e a respiração sustida e vinha a ver aonde o da frente punha os pés para pôr os dele também, pois assim julgava livrar-se ele da causa directa do accionamento duma mina e das respectivas consequências. Lembro que o indivíduo que tinha a desdita de pisar uma mima A/P, normalmente ia a bota e o pé dentro pelos ares. Esta atenção obrigava a Companhia a deslocar-se com alguma lentidão e morosidade.

Chegou-se até fazer o levantamento de uma mina A/P.

De repente, um pouco atrás de onde eu ia na coluna, alguém grita: ABELHAS!!! Foi como o tiro de pistola num prova de 100m, nas Olimpíadas.

Toda a gente enceta uma correria (que me fez lembrar o filme “A Revolta dos Cossacos” onde neste filme vê-se uma frente alongada de soldados a fugir) em direcção ao quartel. Esqueceram-se as minas, deixou-se o trilho, acabaram os cuidados com emboscadas e… foi, mas, um “ver se te avias”.

Um nativo, ao arrancar num arbusto uma espécie de lianas ou coisa parecida, para fazer uma rodilha para pôr as granadas de morteiro à cabeça, não reparou que estava lá um enxame, daí…

Lembro-me que um pouco depois, já no quartel, vi o Flector irreconhecível. As pálpebras de tal modo inchadas e os lábios mais grossos do que os de um nativo, a cara e o pescoço todo inchado, se não me dissessem que era o Flector (o morteirista da minha secção) eu julgaria que estava ali um extra-terrestre. Houve um colega que chegou mesmo a perguntar-me se eu conhecia dalgum lado aquela figura. Confesso que estive longos segundos a ver se acertava.

Mas não passou do susto… e das pequenas, e logo contornadas, consequências para o Flector, que com mais injecção menos injecção ficou logo pouco tempo depois operacional. (Ai a força dos 20 anos!)

Mas não foi só o Flector o atingido. Houve muitos a queixarem-se

Houve mais alguns casos (isolados) com as abelhas, mas tudo passava passadas algumas horas e com tratamento na enfermaria.

Soube no entanto mais tarde, através de um oficial, hoje na reforma, que houve um caso numa outra Companhia, que um soldado foi vítima de tal ataque das abelhas, que praticamente o cobriram, e que ele num acto desesperado matou-se com a sua própria G3. Foi verdade? Vai pelo mesmo graveto. Se alguém sabe efectivamente deste caso, pode contar. Eu rendo desde já sentida consternação e o lamento pelo infortúnio desse infeliz camarada.

O meu camarada Martins (Furriel também da 816), também tem uma história para contar, quando foi picado por grande quantidade de abelhas, quando foi pôr abaixo, julgo com TNT, uma árvore de grande porte, junto ao aquartelamento de Olossato e que vinha servindo de abrigo ao inimigo sempre que este nos vinha “visitar”. Deu-se o estoiro e… estava lá um enxame… e elas escolheram-no a ele…

O Martins apareceu cheio de pintas vermelhas (parecia a rubéola) mas dizia ele que não lhe doía mas a quem olhava para ele até parecia que ficava mesmo com dores.


3. Algumas curiosidades sobre as Abelhas (reproduzido com a devida vénia...)

Abelhas (Apis mellifera) são insectos himenópteros (com 2 pares de asas membranosas) que polinizam as plantas, produzem mel… e também picadas mortais.

Há cerca de 20.000 espécies de abelhas no mundo. O seu tamanho varia de 2 mm a 4cms. Algumas são pretas ou cinzentas, mas há as de cor amarelo brilhante, vermelhas, verdes ou azul metálicas.

As abelhas africanas ou “abelhas assassinas”, são originárias do Leste da África e são mais produtivas e muito mais agressivas.

São menores e constroem alvéolos de operárias menores que as abelhas europeias. Sendo assim, suas operárias possuem um ciclo de desenvolvimento precoce (18,5 a 19 dias) em relação às europeias (21 dias), o que lhe confere vantagem na produção e na tolerância ao Ácaro do género Varroa.

Possuem visão mais aguçada, resposta mais rápida e eficaz ao feromônio de alarme. Os ataques são, geralmente, em massa, persistentes e sucessivos, podendo estimular a agressividade de operárias de colmeias vizinhas.

Ao contrário das europeias, que armazenam muito alimento, elas convertem o alimento rapidamente em cria, aumentando a população e libertando vários enxames reprodutivos.

Migram facilmente se a competição for alta ou se as condições ambientais não forem favoráveis.

Essas características têm uma variabilidade genética muito grande e são influenciadas por factores ambientais internos e externos.

O ferrão da abelha, que se situa na extremidade posterior do abdómen da abelha fêmea, é um sistema complexo, compreendendo uma parte glandular, na qual se produz o veneno, e uma estrutura quitinosa e muscular, que serve para ejecção do veneno e profusão e introdução do ferrão. Apresenta rebarbas na sua superfície que dificultam sua saída, de tal sorte que, após a ferroada, todo o sistema é destacado, permanecendo na vítima. E a abelha morre logo a seguir. Geralmente, a profundidade de inserção é de 2 a 3 milímetros. No local, movimentos reflexos de sua estrutura muscular fazem com que o ferrão se introduza cada vez mais.

Na rainha, as farpas do ferrão são menos desenvolvidas que nas operárias e a musculatura ligada ao ferrão é bem forte para que a rainha não o perca após utilizá-lo.



Um cacho de Abelhas algures (podia ser ....na Guiné.. Ai daquele que lhe tocasse ou fizesse barulho perto!!! ... Impressionante, eram milhares de abelhas)


P.S. - Foto e texto em itálico tirados do sítio Abelhas (com a devida vénia..)

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 10 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4008: As abelhinhas, nossas amigas (1): Com NEP ou sem NEP ... (Luís Graça / António Matos)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3883: Fauna & flora (18): Um macaquinho principiante na arte do furto (José Brás)

1. Mensagem de José Augusto Santos Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, com data de 8 de Fevereiro de 2009:

Caros amigos

Para o que for... porque vale o que vale!

Uma pequena contribuição para o tema “macaco cão”.

Na estrada Buba – Aldeia Formosa, quer pela via directa, quer por Nhala, macaco cão era o que mais havia.

A mim dava-me gosto ver-lhes o destemor, a provocação, a dignidade com que nos arreganhavam o dente, a quase sensação de um ataque iminente, não apenas aos espaçados “picadores” que adiantavam as “carroças” (unimogues e gmc’s) mas mesmo a estas.

Por vezes, em trechos já picados, instalavam-se na frente das viaturas, indiferentes, num passo próprio e descuidado, como se a coisa não fosse com eles.

Em 95 (ou lá perto) estive de férias na Guiné, fiz o caminho de Mansoa, Bambadinca, Quebo, Buba, Catió e volta. Um pouco abaixo do cruzamento de Buba encontrei-me com um enorme grupo desse babuínos, armei de herói, pedi que parassem a viatura, andei 100 metros de câmara na mão, tentando convencê-los da nossa amizade antiga. Não “peguei” um único, apenas um susto valente (que não ficou na foto) porque “senti” que as coisas poderiam dar para o torto.

Uma vez… emboscados numa zona abaixo da Chamarra, dormindo e acordando à vez, como vocês sabem, a tropa esperava apenas que clareasse para voltar à Aldeia Formosa com a missão cumprida, cantando por dentro, vivinhos da silva, mais uma sem problemas.

Eu dormia e acordava em intermitência, julgando que o Sol se esquecera de subir.

A dada altura, o escuro da noite dera já num lusco-fusco que anunciava o astro, deitado na orla, dei as costas à zona de morte a inspeccionar o espaço meio-aberto atrás de nós.

Um macaquinho parara muito perto dos primos, hesitante, apalpando o terreno a ver no que davam os avanços curtos, pouco a pouco se chegando aos humanos distraídos, apenas eu, acho, a tentar adivinhar-lhe os objectivos.

Escolheu o vulto do Sargento X que jazia sob o poncho camuflado, vencido pelo sono de uma noite de alerta.

No lugar onde estaria a cabeça do Sargento, parou de novo, olhou, remirou o vulto ali à mão, e à volta sobre os outros vultos.

Quieto, eu, e maravilhado, seguro de que aquele macaco, pela idade pouca, ainda não tinha sido recrutado pelo PAIGC, esperava.

De repente decidiu-se. Vi-lhe nos olhos (ou imaginei que vi) o exacto momento da decisão. Rápido com um corisco, deitou a mão à dobra do poncho, tentando roubá-lo ao Sargento.

Em vão.

Primeiro… porque o poncho era mais pesado do pensara(?);

Segundo, porque Sargento assustado não é para macacadas, saltou, berrou, alertou a mata em redor, quebrando a quietude e o silêncio do sítio e da conveniência, ali, a bem dizer nas barbas do corredor.

E eu ria. Ria baixinho, quase para dentro, apenas. Queria parar e não podia, incapaz de atar a boca e a tensão que se desatava ali, na guerra do macaco e do Sargento.

Entretanto, junto uma (má) fotografia de um gatinho que cresceu nas matas de Mejo e que o caçador da foto agarrou na armadilha e “amansou” no mesmo dia.

A título de informação, informo que poucos dias depois foi o caçador caçado, literalmente cravejado de estilhaços (até na gaita, parafraseando o último texto do Branquinho) numa das flagelações ao lugar.

Não morreu e pouco tempo depois estava de novo em Mejo.

Abraços para todos


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3807: Fauna & flora (17): O macaco das Transmissões do Xime (Sousa de Castro)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3793: Fauna & flora (16): Relações amistosas com o Macaco-cão na zona de Cufar (Mário Fitas)

Mensagem de Mário Fitas, de 12 de Janeiro de 2009


Fauna na região de Cufar em 1965/66

Quando a CCaç 763 tomou conta do sector de Cufar, existia uma enorme lagoa entre o Aquartelamento - antiga quinta do madeirense Sr. Camacho - e a tabanca de Iusse.
Era pois um ponto onde, para além do gado dos moradores daquela tabanca pastoreava e se sedentava, havia outros clientes que passo a referir: gazelas, cabras do mato, javalis, porcos-espinhos e alguns predadores, como uma espécie de gato bravo, mais parecido com o nosso furão.

Quanto a répteis desde as serpentes às mais variadas espécies de cobras, tudo por ali aparecia, até uma espécie de lagarto grande parecido com as iguanas e de que o meu amigo Alfa Nan Cabo se banqueteava.

Mas o verdadeiro espectáculo era dado pelas aves: eu, que depois da guerra fui ornitólogo, fartei-me de identificar variadíssimas espécies que frequentavam a lagoa: desde o grou coroado lá conhecido pela Ganga; pato da Berbéria cá conhecido como pato mudo. Havia diversas qualidades de patos e de todos os tamanhos, assim como rolas, onde conheci pela primeira vez a rola diamante (pequenina com os seus pontinhos nas asas) até às rolas gigantes incluindo pombos verdes.

Os massorongos (conhecidos por papagaios do Senegal) e periquitos verdes. O marabu, os jagudis (almeidas daquela terra) e protegidos por lei. Vinha depois a passarada miúda: desde os barulhentos tecelões que faziam das árvores colmeias de ninhos, até aos pequeninos bicos de lacre, degolados e sumptuosas viúvas do paraíso no seu lindo e ondulante esvoaçar.

Com tudo isto, a guerra foi acabando. Não foi só desastre humano, foi também ecológico.

Quanto aos nossos amigos Babuínos (macaco-cão), nunca houve conhecimento de matança, para comer ou por simples desporto.

Tirando os problemas das suas relações provocatórias com os nossos cães (por esse motivo tivemos de prescindir deles em determinadas operações). As relações eram amistosas e até por vezes nossos batedores, pois quando progredíamos por estrada, eles faziam a mesma coisa que nós, progredindo à nossa frente “em fila de pirilau” e houve pelo menos duas ocasiões se bem me lembro que nos foram úteis. Mas nessas alturas pareceu que fizeram mais barulho que o matraquear das armas.

Em termos que possam servir para estudo, e relativo ao tempo em que estivemos em Cufar, havia dois grupos bem definidos e localizados, e que seguramente se a memória não me falha, andariam pelos trinta e cinquenta exemplares entre todos, fêmeas, machos e é claro o manda chuva dominante, sempre no comando.

Um dos grupos, e o mais numeroso, costumava-nos acompanhar pela estrada (antiga) para Catió. Desde o começo da mata ao cimo da lala a seguir ao cruzamento de Camaiupa (Cabaceira) chegando até às proximidades de Priame.

O outro grupo aparecia na estrada Catió Cobumba, após Camaiupa já próximo da mata de Afiá.

Parece ser tudo, ficarei satisfeito, se este escrito servir para qualquer estudo.

Da esquerda para a direita: Soldado que não recordo o nome, de camuflado o Fur Mil Enf Juvenal, o Fernando que nos acompanhou desde Bissau, Mário Fitas Fur Mil Oper. Espec. e Olindo apontador de bazuca da minha secção. Foto de Mário Fitas.

Foto que me foi concedida pelo Manuel Brita condutor das Fox e que esteve em Cufar no tempo do António Graça de Abreu.
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Notas de vb:


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3780: Fauna & flora (16): Avistamento de macaco-cão na zona de Dulombi/Galomaro (Luís Dias)

1. Mensagem de Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 19 de Janeiro de 2009:

Caros Editores

Caso queiram remeter esta pequena informação à investigadora Maria Joana Ferreira da Silva, sobre o macaco-cão no Dulombi, disponham.


Macaco cão. Foto de Herlander Simões


Avistamento de Macaco-Cão na Zona de Dulombi/Galomaro

A CCAÇ 3491, a que eu pertenci, esteve instalada, entre Janeiro de 1972 e Março de 1973, no Dulombi. Entre Março de 1973 e Março de 1974, a maior parte da Companhia esteve instalada em Galomaro, embora permanecessem 13 elementos e 2 Pelotões de Milícias no Dulombi e continuássemos a efectuar acções dentro da sua área (detínhamos a maior zona territorial de intervenção, em termos de Companhia). A zona tinha mais a sul os aquartelamentos do Saltinho e mais a norte Cancolim e Canjadude, e situava-se no Leste da Guiné.

Na primeira Operação em conjunto com a Companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.

Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubal, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga-baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.

Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de Mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 metros. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice... uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!

Contava-se estórias de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não havia babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao Escriturário da Companhia, mas que foi fuzilado por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.

Um abraço
Luís Dias
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3769: Fauna & flora (15): Macaco cão à mesa de Ponte Maqué e o "Buba" na Orion...(Raul Albino/M. Lema Santos)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3768: Fauna & flora (14): Mascote, no prato e até para chapéu. Em Paiúnca, Guileje, Cumbijã...(J. Casimiro de Carvalho/Vasco da Gama)

Acerca do macaco cão

1. Mensagem do José Casimiro Carvalho





Aqui vai uma das minhas mascotes (macaca). Tive-a em Paúnca (Pirada).
Era normal em Guileje, quando andávamos em patrulha, vermos ao longe os macacos. Em grupos de cerca de 15 que, quando nos viam, paravam com ar desafiador e ladravam e depois seguiam.

Um nativo com o escalpe de um macaco cão na cabeça (era uso). Zona de Nhala.

Em Cumbijã matei um macaco cão com um tiro de G-3, tirei-lhe a cabeça e a pele e levei-o para o quartel de Colibuia. Nessa noite foi um petisco.
Coisas da idade. Hoje não o faria.
Espero ter ajudado.

J Carvalho
2. Mensagem de Vasco da Gama
Vi-os, aos macacos-cães, às dezenas entre Colibuia e o Cumbijã. À medida que a estrada ia avançando, eles começavam a escassear.
Nunca os observei com olhar científico, mas na zona acima referenciada, sobretudo numa extensa bolanha, quase todos os dias, a coluna que regressava ao Cumbijã, os avistava a atravessarem em bandos a estrada vindos de sul em direcção ao norte.
Recordo-me perfeitamente da forma ordeira como faziam a travessia da estrada em bicha de pirilau, e como os de maior porte se colocavam no meio da estrada para que os mais pequenos passassem em segurança! Isto eu testemunho.
Um camarada da minha companhia, o primeiro cabo cripto Melo enviou-me uma fotografia e um pequeno texto que eu te vou reencaminhar. No meu aquartelamento deram-me a provar macaco cão. Lembro-me perfeitamente de ter trincado um naco de carne que era só músculo e não fui capaz de engolir o que quer que fosse. Peço desculpa pelo modesto contributo, mas quem dá o que tem....
Vasco da Gama
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Notas de vb:
Último artigo da série em
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, com data de 13 do corrente:

Assunto - Macaco-cão

Caro Luís: Respondo-te só hoje, desculpa, à tua "provocação" sobre o macaco-cão (*).

Em primeiro lugar iria jurar que as duas fotografias foram tiradas na mesma altura e com o mesmo macaco, mas talvez não.

Uma coisa é certa, são as duas tiradas no Mato Cão, disso não tenho dúvidas.

Na segunda fotografia quem está comigo é o Tomango Baldé, que era um "tipo" um bocado arrevezado, mas bom combatente e muito valoroso.

A expressão "cabrito pé de rocha" nunca a tinha ouvido, portanto não era utilizada por aquelas paragens.

A "minha" gente deve ter comido aquele macaco, mas ao que me lembro era coisa muito esporádica.

Agora ratos, como conta o Jorge Cabral, isso sim! E era bem bom, pois tinha uns bocados que pareciam coxas de perdiz ou coisa parecida.

Comi uma ou duas vezes. Era, (pelo menos ali), cozinhado por alguns em óleo de palma/óleo de dendem, como o saborosíssimo chabéu, de que tenho grandes saudades de comer na varanda do Jamil Nasser, no Xitole.

Lembro-me também de ter morto um Facochero, e de me terem preparado um bife frito com banha da cobra, propriamente dita.

Quanto ao macaco cão, da zona do Mato Cão [, a noroeste de Bambadinca, na margem direita do Geba Estreito, frente a Nhabijões,] já andava um pouco arredado, daquilo que me lembro.

Mas tal como te contei, junto da Ponte dos Fulas [, destacamento no Rio Pulom, a norte do Xitole], e para a direita, para quem está voltado para Bambadinca, havia, depois de andar um pouco na mata, uma mata de cajueiros onde o macaco cão fazia poiso.

Lembro-me que era um grupo relativamente grande, mas quantos machos, fêmeas e crias, ó Luis, tem paciência mas não estava para aí voltado!!!

Recordo, sim, que os guias diziam que, se o macaco cão fazia muito barulho, era porque andavam perto o pessoal do PAIGC, e a explicação era que eles os comiam e era uma forma do grupo de macacos cães se avisarem uns aos outros.

Experimentei uma vez a carne, que ao que me lembro era adocicada, mas um dia vi numa tabanca, (da qual não me lembro o nome), a caminho do Saltinho, um macaco cão esfolado e pareceu-me um bébé recém nascido, pelo que pararam por aí as minhas degustações gastronómicas do referido animal.

Espero não chocar ninguém que leia os escritos da nossa Tabanca e não esteja habituado a estas coisas.

Se me lembrar de mais alguma coisa, logo te informarei.

Penso que o que aqui escrevo não serve para estudo nenhum, mas são sempre recordações.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf Mil Pel Caç Nat 52
Mato Cão, 1973
joquim.alves@gmail.com

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

domingo, 18 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3755: Fauna & flora (12): Respondendo às perguntas sobre o macaco-cão (Pedro Neves / Alberto Branquinho)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé, não de macaco-cão, mas de chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos... Foi um gesto bonito por parte dele, salvando de morte certa um animal que pertence à Ordem dos Primatas, como nós, e que é dos grandes símios o que partilha mais genes connosco (ou seja, o chimpanzé é nosso primo, o nosso primo mais próximo de acordo com a zoologia, a genética e a biologia evolutiva)...


Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Pedro Neves, com data de 11 de Janeiro:

Caro Luis Graça:

Em resposta ao pedido da Drª Maria Joana Silva (*),vou relatar alguns factos, que se passaram comigo, durante o tempo de comissão na Guiné e mais recentemente há cerca de 8 (oito) anos.

Quando cheguei à Guiné, no ano de 1973, integrado na CCaç 4745/73, formada nos Açores, fomos tirar o IAO (Instrução de Adaptação Operacional) no Cumuré e, em frente à porta de armas, havia um conjunto de casas e numa delas um restaurante, cujo prato típico e principal era o de carne de Macaco-Cão e que, se bem me lembro, era vendido meio à sucapa e por encomenda. Nunca comi,talvez por pensar que estaria a praticar um acto de canibalismo!!!

Quando estive em Polibaque,a fazer a protecção aos trabalhos da abertura da estrada entre Jugudul e Babadinca (mata do Changalana), havia um Macaco-Cão no nosso destacamento, preso junto à porta de armas, e que pertencia ao 1º pelotão. Quando algum guineense passava por perto, ele ficava furioso.Penso que a reação do macaco se devia ao facto de ter sido capturado por um natural e a côr da pele marcava o seu comportamento. Mais tarde foi libertado.

Assisti à captura, na mesma zona, de um Macaco-Cão, ainda juvenil, por naturais, que consistia no seguinte método:

Dentro de uma garrafa presa ao chão, colocavam uma banana e o juvenil, quando metia a mão, dentro da garrafa e agarrava a banana, nunca mais a largava, mesmo quando era capturado, porque a mão ficava mais larga que o bocal e ficava assim preso, mas não largou a banana. Bastava largá-la, tirar a mão e fugir, mas preferiu ser apanhado a largar a comida, apesar de estar a gritar e apavorado.

Depois de partida a garrafa, sem magoar o macaco, não largou a banana. Dei alguns pesos(moedas) ao caçador e ele libertou o juvenil. Deve ter pensado, que o tuga era doido!

Durante a protecção aos trabalhos, um Cão pertencente à nossa CCaç (não me lembro a que pelotão) foi atropelado por uma viatura pesada, da empresa civil, que estava a construir a estrada e morreu. Logo apareceu um capinador (eram às dezenas), apanhou o cão e, quando lhe perguntei se o ia enterrar, ele e os outros, que entretanto se juntaram, disseram que era para comer. Se comiam carne de cão, tambem comeriam carne de Macaco-Cão, pelo menos algumas etnias.

Numa das minhas idas à Guiné-Bissau, fui visitar um acampamento de caça perto de Bafatá,de seu nome Capé e, entre outros animais, tinham um Macaco-Cão, do sexo feminino, que penso se chamava Mizé e que adorava catar os pelos dos nossos braços e vêr-se ao espelho em tudo o que reflectisse a sua imagem. Vaidosa e era um encanto!

Com este modesto contributo, penso têr ajudado um pouco,na pesquisa da Drª Maria Joana Silva, sobre os locais e como era respeitado pelo Exército Português o Macaco-Cão.

Aproveito para desejar, uma vêz mais a todos os camaradas e amigos, um BOM ANO de 2009!

Pedro Neves
ex-Furriel Mil Op Esp
CCaç 4745

Águias de Binta
inverterac@gmail.com


2. Mensagem do Alberto Branquinho, com a mesma data:

Respondendo, alínea por alínea, às questões colocadas pela doutoranda Maria Joana Silva (*):


(i) Onde foram avistados os grupos de babuínos ?


Onde vegetação fosse mais ou menos densa, com árvores de médio e grande porte. Posso referir, como exemplo, no sul (Catió, Cufar, Bedanda...), no centro/norte (Banjara, Canjambari...).


(ii) Quantos animais existiriam num grupo social e quantos machos adultos ?

10/15/20. Machos adultos-3 a 5. Havia sempre um mais idoso que assumia a liderança do grupo, caminhando à frente; era mais corpulento e tinha o peito coberto de cabelos brancos. Para além de seguirem as colunas militares apeadas, saltando de árvore em árvore, por vezes imitando a coluna militar em fila (se fosse em picada ou estrada), seguindo-a também em fila, estando à frente o macho corpulento e com cabelos brancos no peito.

Este e os outros machos adultos, quando provocados com gestos, "ladravam" e arreganhavam os dentes em atitude ameaçadora, chegando a dar cambalhotas como atitude agressiva ou dissuassora. As crias seguiam agarradas ao ventre (mais ao ventre que às costas) das fêmeas.


(iii) Se os babuínos eram caçados pelos caçadores das tropas para os portugueses ...

Não, nunca vi.

(iv) Se as crias de babuínos eram levadas para os quartéis...


Havia alguns quartéis que tinham um babuíno/macaco-cão que era uma espécie de mascote da unidade militar (por vezes "herdado" da unidade que os antecedera) ou era "companhia" particular de um soldado, que o cosiderava como seu. Houve casos em que tentaram embarcar com eles no regresso a Lisboa. O mesmo acontecia com os periquitos e conheci o caso de um veado. Os babuínos, por vezes, não estavam acorrentados e pouco se afastavam da zona onde eram alimentados e estavam alojados.

Se eram apanhados enquanto crias, é possível e verosimil. Os que conheci eram já adultos ou jovens adultos.

(v) Se os bloguistas ouviram falar de medicinas tradicionais que usassem peles de mamíferos (nomeadamente babuínos)...

Não.



(vi) Onde se comeria "cabrito pé de rocha" na Guiné ?


Não sei o que é ou que tenha sido. (**)

(vii) Outras informações deste teor que considerem relavantes.

a) Tendo andado por várias zonas da Guiné, desde o Nordeste (Canquelifá, Piche...) onde não me lembro de ver babuínos, Centro/Norte (Canjambari, Sambaculo, Banjara ...), Centro (Bambadinca,Xime, Xitole, Enxalé...), Sul( peninsula de Empada,Catió, Cufar, Bedanda, Cabedu...), Sudeste (Buba, Aldeia Formosa, Gandembel...), o território onde vi maior quantidade de babuínos e famílias mais numerosas foi no Sul - Catió, Cufar, Bedanda.

b) Em accões (que na gíria militar eram chamadas de psico-social para contacto com as aldeias próximas dos quartéis (quando as havia), por vezes elementos a população pediam para matar um babuíno que estivesse próximo e que, com a sua curiosidade natural, observava o ajuntamento de pesoas. Diziam que era para comer.

c) Creio que saberá que a designação de "macaco-cão" se deve ao facto de, quando em atitude defensiva e desafiante, ladrava "quase-quase" como um cão. Assim, também, os soldados chamavam ao sagui "macaco-gato", porque emite um som semelhante ao miar de um gato jovem. Alías, o sagui era preferido ao "macaco-cão" para "mascote", talvez por ser de pequeno porte mesmo quando adulto.

Desejando-lhe um óptimo trabalho e esperando ter-lhe sido útil, sou

Alberto Branquinho

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Notas de L.G. :

(*) Vd. último poste da série Fauna & flora > 17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3751: Fauna & flora (11): O babuíno da Guiné ou... cabrito pé de rocha (Vitor Junqueira)


sábado, 17 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3751: Fauna & flora (11): O babuíno da Guiné ou... cabrito pé de rocha (Vitor Junqueira)

Guiné > Zona Leste > Sector L2 > Geba > CART 1690 > Destacamento de Banjara > 1968 > Quando a fome era negra, até cabrito pé de rocha se come... Só que em Bissau o periquito Vitor Junqueira estava longe de imaginar que o dito cabrito era... macaco-cão! (*)...

Nesta foto, um macaco fidalgo caiu numa armadilha dos militares da CART 1690, de trágica memória... (Recorde-se que esta companhia, a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada A. Marques Lopes, da Tabanca de Matosinhos, hoje Cor DFA Ref, sofreu 1 morto e 11 desaparecidos - levados para Conacri - num ataque do PAIGC, contra o destacamento de Cantacunda, na noite de 10 para 11 de Abril de 1968).

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


1. Do Vitor Junqueiro, que é médico, residente em Pombal (não é no Pmbal!), membro da nossa Tabanca Grande, organizador do nosso 2º Encontro Nacional, de saudosa memória (Pombal, 2007), pai e avô babado, portentoso contador de histórias (com H), ex-garboso oficial da nossa ex-gloriosa marinha mercante, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72)... Além disso, um belo amigo e um grande camarada, a quem agradecemos mais este contributo para o nosso blogue:

Caros editores,

A propósito do interesse académico que as nossas lembranças de ex-combatentes da Guiné possam apresentar para os estudiosos do macaco cão (**), aqui vai o meu contributo.

1 - A ZA da minha companhia, incluindo áreas limítrofes, pode definir-se grosso modo como uma faixa de território com cerca de dez quilómetros para cada lado do eixo Mansabá-Farim (região do Oio). Conheci bem a região por tê-la patrulhado inúmeras vezes.

2 - No princípio da década de 70 (70, 71 e 72), um babuíno conhecido pela tropa sob a designação de macaco-cão, proliferava neste território.

Julgávamos nós que o nome do animal teria a ver não apenas com a anatomia do focinho, a fazer lembrar o do cão, mas também pelas vocalizações dos adultos que muito se assemelhavam às dos caninos. Os machos mais corpulentos teriam à volta de 15 a 18 kg, as fêmeas pesariam entre os 10 e os 12 Kg.

3 - As famílias (bandos) eram numerosas constituídas por cerca de vinte a trinta elementos. Numa deslocação em coluna de Farim a Mansabá, podiam avistar-se quatro ou cinco grupos ao longo do percurso. Pareciam não temer os humanos nem tão pouco as viaturas militares, permitindo facilmente a nossa aproximação a menos de cinquenta metros.

4 - Cada família aparentava obedecer a um único macho adulto que, regra geral, "se empoleirava" num ponto conspícuo como por exemplo um baga-baga ou os ramos secos e desfolhados de uma árvore morta. Desse posto estratégico, controlavam a família enquanto esta se alimentava no solo ao mesmo tempo que vigiavam o que se passava em seu redor.

5 - Mais para o interior, grupos com idêntica constituição podiam ser encontrados na proximidade de antigas tabancas onde procuravam alimento com base em plantas de cultivo que cresciam espontaneamente, após o abandono destas áreas pelas respectivas populações. Aí encontravam também abundância de frutos como mangos e citrinos.

6 - O florescimento destas colónias pode atribuir-se ao facto de, o seu predador mais importante e praticamente único - o homem - ter sido desalojado de vastas áreas, quer por iniciativa própria para fugir à tragédia da guerra, quer devido à política de reagrupamento de tabancas. Deste modo, foram abandonados (destruídos) centenas destes aglomerados dispersos por todo o território. Não havendo habitantes não há caçadores e, assim, a pressão sobre o macaco-cão como fonte de alimento aliviou notavelmente.

7 - Para abater um destes animais, não basta ser caçador, tem que se ser um bom atirador! Se o animal não for atingido num ponto vital como a metade posterior da cabeça ou a coluna cervical, o bicho não cai. Atingido por vários projécteis noutra zona, pode até comportar-se como se não fosse nada com ele, acabando por ir morrer longe da vista do caçarreta para sua grande humilhação.

8 - Outro indicador da abundância destes babuínos pode encontrar-se na frequência com que caíam nas armadilhas montadas pela tropa. Quando se tratava de fêmeas com filhotes, estes podiam ficar por longos períodos (dias?), junto ao corpo das mães. Nestas circunstâncias e se encontradas a tempo, as crias eram geralmente adoptadas pelos militares que tinham para com elas cuidados e desvelos de verdadeiros pais!

9 - Confirmo que as manifestações de sofrimento dos bebés babuínos, sejam elas a dor física, a fome, o medo ou outras emoções que na nossa brutalidade estamos a anos luz de entender, são verdadeiramente pungentes.

10 - Pela minha parte, este é o fim da macacada a que me atirei, picado pelo Jorge Picado que no seu último poste me incita ao pronunciamento.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

(**) Vd. postes da série Fauna & Flora:

16 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3750: Fauna & flora (10): Um par de Macacos à solta em Nova Sintra. (Herlander Simões)

16 de Janeio de 2008 > Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3750: Fauna & flora (10): Um par de Macacos à solta em Nova Sintra. (Herlander Simões)

O Macaco cão da Guiné


Mensagem para a Maria Joana (não sei ainda se é assim que queres que eu te trate):

1. Aqui tens mais uma resposta às tuas perguntas.

2. Outra coisa: tens tido algum contacto com a ONG AD que tem projectos para Guileje e o Cantanhez ? Tens procurado o seu apoio ? Conheces alguém desta organização ? Estás, vais estar ou estiveste na Guiné-Bissau, recentemente?

3. Recebi os teus mails, com o resumo do teu projecto e a tua manifestação de interesse em "integrar" a Tabanca Grande...

Saudações bloguísticas.

LG

Mensagem de Herlander Simões (1), de 12 de Janeiro de 2008

Macaco cão. Foto de Herlander Simões.

Caro Luís Graça!


Na minha passagem pela Guiné tive algum contacto com os chamados macacos cão, com mais frequência na zona de Nova Sintra, onde andavam salvo erro, dois à solta no quartel.






Cheguei a fazer algumas caçadas naquela zona e era frequente vermos bandos desses macacos com os seus gritos que quase pareciam cães a ladrar. Era voz corrente entre a população que a carne desses animais era muito apreciada nalgumas zonas. Ainda hoje estou convencido que comi carne desse animal e o grande responsável foi o malandro do Furriel enfermeiro de Nova Sintra, do qual infelizmente já não recordo o nome.

Era frequente fazermos petiscos com o produto das caçadas que eu e o meu grupo fazíamos e onde o dito Furriel tinha lugar cativo. Certo dia fomos convidados pelo mesmo para um petisco feito por ele que, salvo erro, nos disse que ia fazer cabrito assado. No final do repasto toda a gente perguntava que carne tão saborosa era aquela pois era certo que cabrito não era. Ele nunca nos disse o que comemos, mas todos ficámos desconfiados que era macaco, pois o seu riso malandro assim nos fez crer. Se alguém dos "Duros" de Nova Sintra ler este texto e souber algo sobre este assunto, agradecia que me contactassem.

Junto, em anexo, algumas fotos que tirei com macacos cão, onde numa delas se vê um desses macacos a guerrear com um cão.

Espero que este meu pequeno contributo possa ajudar alguma coisa sobre o tema em questão.

Cumprimentos,

Herlander Simões

__________

Notas de vb:

1. Herlander Simões foi Furriel Miliciano na Guiné entre Maio de 72 e Janeiro de 74. Destinado à CCAÇ 16 (onde nunca cheguou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra.

2. Último artigos publicados em

Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > 2 de Março de 2008 > Os macacos-fidalgos vinham, de manhã, acordar-nos e dar-nos as boas vindas (*)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do José Nunes, com data de 11 do corrente:

Como descrevi no poste sobre a Missão Católica ou missão heróica (**),comi macaco-cão à mesa com os missionários italianos na Missão,não por mero prazer mas por necessidade. O caçador da Missão era um jovem de nome Cabi, os missionários entregavam-lhe uma espingarda de caça e ele saía à caça. Quando regressava tanto podia vir um macaco,como meia dúzia de patos farons,era o que aparecia.

A carne é muito adocicada,como se temperassemos a carne de vaca em vez de sal pormos açucar.
Nas tascas do Pilão e de Bandim era normal ver-se assarem macacos para petiscarem, desde que houvesse água de lisboa sabe!

Sempre me causou muita náusea ver o animal inchar por acção do fogo,muitas vezes era assados tal cpomo eram caçados,e quando espreitei para a panela de bianda que era cozinhada, a primeira coisa que vi foi a cabeça. Fez-me muita náusea,e desde então,nunca mais tive curiosidade de ver.

Para dar comida aos leprosos era necessário recorrer de engenho e tudo era comestível.

Por onde andei vi macacos na ilha de Bissau, ali para os lados de Prabis, na Ponta do Inglés [Xime], e em Bissum-Naga.

Mas parece que eram muito ariscos e não facilmente domesticáveis.

Cordiais Saudaçoes a toda a Tabanca.

José Silvério Nunes
1º Cabo Mec Elect de Centrais
Beng 447
Brá, Bissau, 1968/70

2. Mensagem de Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém, 1965/67 ):

Meus caros Luís graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote:

Este será o meu modesto contributo para uma causa tão nobre como é a defesa do nosso “primo” babuíno, em que está empenhada Maria Joana Ferreira da Silva, investigadora portuguesa, a fazer, no Reino Unido, a sua tese de doutoramento sobre o macaco-cão da Guiné,

Quando da minha passagem pela Guiné nos anos de 1965 a 1967, existiam muitos macacos, e de várias espécies.

Insisto: no meu tempo - e com isto quero ressalvar o facto de que a Guerra na Guiné não pode ser tomada como sempre igual, tudo evolui, para não se correr o risco de entrar em contradições inexistentes. A guerra durou 13 anos, e teve várias fases, que eu não me atrevo, por incapacidade, a definir, mas todos sabemos que os militares que passaram pela guerra na Guiné, essa guerra foi muito pior para alguns do que para outros, em função do período em que por lá passaram.

No início da guerra, a fauna era muito mais abundante do que no final da guerra, e não vale a pena inventar as razões, dado que são tão óbvias que todos percebem.
Em relação aos macacos, conheci três espécies diferentes, embora saiba que existem mais para além destas:

(i) O macaquinho sagui, pequenino, engraçado, e que era propriedade de algum militar que os tinha a seu cargo;

(ii) O macaco-cão, o tal babuíno que se procura e que quase todas as unidades militares possuíam como mascote. (Era pertença de todos, embora mais amistosos com alguns, que lhes dedicavam mais atenção);

(iii) E finalmente o macaco-fidalgo, que talvez por ser bastante mais ágil e muito mais barulhento, nunca o vi em cativeiro na Guiné.

Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. O nome cabrito pé da rocha para mim é novidade (***).

Para colocar alguma ordem, eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim.

Utilização de macacos para fins medicinais ou outros nunca me apercebi. Os nativos capturarem macacos para os comer também não me parece, pelo menos na zona dos Fulas onde estive 18 meses.

Macacos cão em grupo também nunca vi, mas macacos fidalgo era frequente aparecerem na estrada que liga Jumbembem a Canjambari, a Oeste de Farim, na região do Oio. Eram grupos constituídos por duas a três dezenas, de pelagem bastante mais escura que o macaco cão, muito ágeis e muito barulhentos, de cauda mais alongada e que pareciam voar de uma árvore para a outra.

A captura do macaco é muito fácil, uma vez que o macaco fecha a mão para apanhar o isco e nunca mais a abre, também há humanos assim…!! Se o orifício for pequeno, a mão não sai e o macaco fica preso.

Uma das grandes virtudes do macaco é ser o grande propagador da semente do cajueiro, uma vez que ele vai roubar as castanhas do cajú e foge, levando-as na boca. Quando tenta trincá-las, a castanha liberta um liquido amargo e ele deita-a fora, dando origem a um novo cajueiro naquele local.

Um abraço do tamanho do Cacheu porque o Cumbijã eu não conheci...

Artur António da Conceição
Damaia - Amadora

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)


10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(**) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

(***) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)