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terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13066: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (6): Pretendem atrofiar-me a memória?

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.
1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, Pelundo e Bissau, 1965/67) enviou-nos mais uma Crónica Higiénica.

Desta feita para, com toda a legitimidade, deixar aqui a sua indignação face às afirmações reproduzidas no nosso blogue, pelo camarada Manuel Vitorino (jornalista e ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74) que no mínimo tiram do sério qualquer ex-combatente que viu morrer a seu lado um companheiro de armas.
Por vezes, também nós editores, falo por mim, discordamos daquilo que nos aparece para publicação, mas é nossa obrigação manter distância e reagir, se for o caso, em local apropriado.


CRÓNICAS HIGIÉNICAS

6 - PRETENDEM ATROFIAR-ME A MEMÓRIA? Esqueçam

Até se me saltou a tampa, senão vejam bem, que no post 12955 aqui no n/blogue se afirma:

- "A MINHA COMPETIÇÃO FOI OUTRA"
- "A GUERRA DA GUINÉ SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
- "...UMA COLUNA DE «TEMÍVEIS GUERRILHEIROS DO PAIGC ULTRAPASSOU O ARAME FARPADO E VEIO FRATERNALMENTE AO NOSSO ENCONTRO"

E EU? EU, que sei ler, comecei a ferver... a ferver... a ferver.

Mas muito calmamente, vamos lá ao contraditório:

- "COMPETIÇÃO" significa disputa.
E então o camarada estava a competir ou a lutar, cumprindo o seu dever enquanto militar integrado no Exército, que lhe ensinou e pagou, para defender a Pátria?

- "SÓ PODIA SER GANHA PELO PAIGC"
Não consigo chegar a tal conclusão, nem tão pouco a admito, embora a tenha ouvido já algumas vezes, e ouvido o contrário por muitas mais. Ou será que eu e os que pensamos que a guerra podia ser ganha por nós PORTUGUESES, somos heróis, e aqueles que pensam o contrário são cobardes?

Estou convencido que uns e outros coexistiram em quaisquer dos casos, mas só que os heróis, não renegam...
NÃO COMPETIAM MAS LUTARAM...
SOFRERAM...
VIRAM AMIGOS A DESAPARECER...
COMBATERAM POR SI E PELOS SEUS, PARA SE DEFENDEREM, que essa era a sua missão.

Mas aquela: "UMA COLUNA DE TEMÍVEIS GUERRILHEIROS, etc etc etc... fez-me rir e lastimar o autor destas opiniões que o sendo, mereceriam o meu desprezo mas que aqui postadas como afirmações sem nexo, apenas repudio com nojo.

Brincamos ou quê?

Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do FUR.MIL Higino Arrozeiro, da minha CCAÇ 1422, que foi morto ali na estrada que liga K3 a Mansabá, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros" como lhes chama e "com quem trocou a farda e os emblemas tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar do Cap Corte Real, CMDT da minha CCAÇ 1422, morto ali na estrada que liga o K3 a Farim, por mina colocada pelos "temíveis guerrilheiros", como lhes chama, e "com quem trocou a farda e os emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"
- Provavelmente o autor deste post 12955 nunca ouviu falar daqueles sete infelizes, incluindo três majores, bárbaramente assassinados e que pacificamente, desarmados, iam para um encontro pretensamente amigável com os "temíveis guerrilheiros" e que foram liquidados a sangue frio e à catanada pelos mesmos "temíveis guerrilheiros, como lhes chama e com quem trocou a farda e o emblema, tal e qual como acontece nos jogos de futebol"

É EM SITUAÇÕES DESTAS que lastimo ser educado e não saber escrever asneirame, pois que me apetece mesmo espetar aqui meia dúzia daquelas do mais ordinário que sei. 
Fiel aos meus princípios, não o farei mas... Espero que o autor deste post 12955, que esteve a beber cervejas talvez até com os causadores dos assassinatos que atrás menciono, e de tantos mais outros amigos e por quem choro cada dia, pois que o autor, repito, medite... e que a luz o ilumine. 

Chega de dor... chega de gozarem com a tropa... chega de provocações.

Veríssimo Ferreira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12844: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (5): Contrastes e coincidências

segunda-feira, 3 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12789: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (3): Esquecer? Nunca

Anúncio do sabão Lifebuoy, 1902.. Fonte:
Wikipedia. Imagem do domínio público.


1. Em mensagem do dia 24 de Fevereiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67) enviou-nos a segunda Crónica Higiénica para publicação.





CRÓNICAS HIGIÉNICAS

3 - ESQUECER? NUNCA

Post 12694 do nosso Blogue

Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansabá > Dia nº 12 da viagem > 16 de abril de 2006 > Mullher com 2 dentes de ouro...
Foto (e legenda): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.

Pois eu estou nos 82% dos que não voltaram à nossa Guiné e dos 83 que gostariam de voltar, mas calma que ainda não é tarde.
Deve ser uma emoção das grandes reviver os locais por onde andei bem como grande será a tristeza ao lembrar-me, dos amigos que deixaram de estar comigo, assassinados que foram por terroristas bárbaros e cruéis. Terroristas bárbaros e cruéis sim, e se dúvidas houvessem, basta que leiam o que se passou naquele conselho de guerra, como lhe chamaram os facínoras que o subscreveram e que tão bem está documentado no P12704 - O massacre do chão manjaco. (Transcrição do nosso camarada Jorge Picado, que em boa hora descobriu esta preciosidade) e espreitem também o P12732.

Afinal e infelizmente estávamos certos alguns de nós, quando denunciávamos o que seriam os amílcares do PAIGC e que tão bem foram recebidos em Portugal, com casa, água e lavadeira privadas, pagas pelo Estado, ou seja por nós os que nada recebemos, nem um pouco de consideração e até combatemos pelo País. E não me venha com as tretas costumadas... que não sabiam, etc., etc.
E para aqueles que ainda acreditavam na bondade dessa gente, vejam o horror que aconteceu com os nossos camaradas apunhalados e cortados com catanas... a sangue frio ali entre o Pelundo e Jolmete, para onde foram de boa fé e desarmados.
Este triste episódio demonstra àqueles que ainda tinham dúvidas, que cobardes combatemos. Guerra será sempre guerra de matas ou morres, mas isto premeditado que foi, é mais que selvajaria e bestialidade.

Continuo é sem perceber, mas lá chegarei, do porquê de termos dado asilo a monstros destes em vez de os termos aprisionado e colocado perante a justiça. Dos presentes naquela reunião, em Conacry, pelo menos um morreu da mesma forma como aplaudiu a dos nossos.
Ao que se diz e enquanto PR, usou do mesmo banho de sangue, até com os seus correligionários

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Tavira, Quartel da Atalaia > 2014 > Edifício onde esteve instalado o CISMI, até ser desactivado em 31/12/1975 
© Luís Graça (2014)

TAVIRA tem merecido (aqui no nosso Blogue) justas e merecidas homenagens, sejam escritas ou em fotos e também alguns comentários negativos contra a preparação militar de quem por ali passou e não gostou.
Para estes últimos sempre digo e não haveria necessidade de o fazer, que tudo fazia parte dum processo para preparar homens, como atiradores de Infantaria, que vieram a ser. Sem essas duríssimas etapas, física e mental, talvez não tivéssemos aguentado aquilo por que passámos lá na nossa Guiné. E sei do que falo, pois que também ajudei a treinar quatro pelotões, um de cada vez dado que só saí da Metrópole já com 21 meses e tudo o que havia de ser feito foi-o de maneira a não prejudicar ninguém mas "explorando" os limites humanamente exigíveis para que pudessem sobreviver às duras missões que se avizinhavam.

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Lamego
Foto: Pais&Filhos, com a devida vénia

E vai daí e pois tal como a Tavira, também Mafra, Lamego e Tancos, locais onde aprendi a arte da guerra, são por mim visitados regularmente e sempre com agrado, bem como Abrantes e Tomar, onde partilhei tal aprendizagem. Ontem mesmo almocei no Ti Chico, restaurante que serve o melhor peixe fresco e mantendo-me cá por baixo neste Reino dos Algarves, ali voltarei ainda esta semana, e com a conta não me preocupo que a despesa para mim e para uma das minhas "espósias" é sempre 17 euros, quer coma também pudim flin ou mousse ainda mornos, feitos diariamente... quer beba ou não aguardente de medronho (qu'o whikey "cá tem").

E se mais não for, passarei e espreitarei pela janela do quartel, onde do outro lado dormia.
E podem crer que saio revigorado desta visita da saudade.

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P12737 sobre as opiniões de altos membros das Forças Armadas.
Aqui não percebo a dúvida existente. Todos nós acompanhámos o que foi dito após o vinte e cinco do quatro por algumas personalidades (foram meia dúzia... mas foram) que em vez de respeitarem a Instituição Militar a que pertenciam, se atropelaram com verdades inverdades, esquecendo a ética... mas procurando subir, agradando à classe política dominante.
Tenho em meu poder uma gravação duma emissão de uma TV, onde estiveram reunidos alguns da esquerda e da direita. Está presente um senhor General, que perante um vídeo da própria TV, diz às tantas, mais ou menos isto: "Este que vai falando, se fosse no meu tempo e com a voz fininha" etc etc... dando a entender que nem tropa poderia ter sido.

E eu aplaudo-o. MAS QUE HÁ POR AÍ E CADA VEZ MAIS, MUITOS DE VOZ FININHA A PRECISAR DUM ENXERTO... Há.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12763: Crónicas higiénicas (Veríssimo Ferreira) (2): Os ursos, lobos, raposas e até os peçonhentos

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10484: Controvérsias (128): Contemos as nossas experiências e deixemos as especulações para quem não esteve lá... Parte II (Carlos Vinhal / Luís Graça)

1.  Na sequência da manutenção periódica ou ocasional que fazemos do nosso blogue (em geral, eu ou o Carlos Vinhal) podem ocorrer "erros técnicos": basta carregar na tecla errada... 

Foi o que me aconteceu hoje com o poste P6207, de 2 de maio de 2010 (!), da autoria do Carlos Vinhal (*)... Ao fazer a sua atualização (automática), ele ficou com a data de hoje, e não com data  original (2/5/2010)... 

Como continha "material  explosivo, logo polémico", e para mais incluído numa série que se chama "Controvérsias", o poste P6207 foi logo alvo de comentários de leitores madrugadores... 

De manhã dei conta do meu lapso, mas não reparei na existência de novos comentários... Voltei a editar o poste e arrumei-o, direitinho, no sítio a que ele pertence, 2 de maio de 2010, entre o poste P6206 e o poste P6207.... 

Há um bocado, antes da hora do almoço, estava eu para sair de casa, telefona-me o nosso AGA a perguntar pelo poste, pelo comentário que tinha inserido, enfim, intrigado com o seu desaparecimento de "cena"... Lá lhe dei amavelmente, como sempre, as explicações técnicas que lhe tinha a dar... E que ele aceitou plenamente. 

No regresso a casa, decidi fazer um poste, na mesma série,  com o material dos comentários datados de hoje, de modo a permitir que a discussão prossiga entre bons camaradas e melhores amigos que todos nós somos...  Com esta história, ainda não almocei, mas é bem feito: para a próxima, terei mais cuidado de modo a não tocar na tecla errada...

As minhas desculpas a todos, a começar pelo Carlos Vinhal. com quem ainda não consegui falar ao telefone (fixo), e que não sei se chegou a ter tido o privilégio de ver o seu poste de novo reeditado,  dois anos e meio depois... LG

2. O poste original (*)  começava assim: 

"Comentário de Carlos Vinhal*, ex-Fur Mil, CART 2732 (Madeirense), Mansabá, 1970/72, na qualidade de tertuliano:

"Alguns considerandos em relação ao poste 6292** de hoje, 2 de Maio de 2010
"Camaradas
"Este blogue está a deixar-me deprimido.

"Julgava eu que nós, os portugueses, somos um povo de brandos costumes, hospitaleiros, afáveis, amantes da paz, amigos dos vizinhos, etc., e afinal somos (ou fomos) um bando de assassinos na guerra colonial. Posso excluir-me? Muito obrigado". (.-..)

3. Comentários com data de hoje, 5 de outubro de 2012, (último) feriado do dia da República, por ordem cronológica:

(i) Antº Rosinha

Em geral todos os massacres (Wiriamu, Pijiquiti, baixa de Cassange...) abusos e quaisquer maus tratos a civis ou guerrilheiros foram ou estão relatados, esmiuçados e sobredimensionados, caso do Pijiquiti que ficou para a história como 50 mortos arredondados e desmultiplicados.

Mas,  juntando às gabarolices e fanfarronices, muitas vezes de militares que nem tiros deram, havia a desinformação, ou contra informação organizada por gente de "muitas cores" que se encarregava de enviar tudo bem cozinhado para Brazaville, Argélia, Rádio Praga, Rádio Moscovo, Rádio Tirana...e à volta do mundo.

Sem falar nos comícios justificativos do 25 de Abril nas diversas cidades lusas e tropicais, em que se ia buscar até a escravatura para o Brasil.

Sou retornado, imaginem o que ouvi, e retive quando passei cá o verão de 1974.

Nos muito falados massacres de Luanda (da reacção dos brancos) em que até se fala em valas comuns, nem o MPLA e o FNLA, já organizados,  os mencionavam; no entanto ficou principalmente pela boca de muitos que nem um tiro sabiam dar, como tendo sido grandes massacres.

Individualmente e em reacções inesperadas não terá havido talvez companhias e unidades em que não tenha havido abusos, a que eu próprio assisti, mas  o colectivo em geral reage contra o ou os abusadores.

Ninguém tenha dúvidas que o IN estava devidamente organizado para que se fizesse qualquer abuso em segredo.

Está tudo bem denunciado e em geral por excesso, nos vários campos de guerra.

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 12:42:00 a.m. 

(ii) jpscandeias 

Só quem lá não esteve é que não sabe as histórias normalmente, com um pequeno fundo de verdade, que davam azo a que se fizessem as mais mirabolantes fábulas que depois circulavam pela província, tinham, normalmente, origem em Bissau, placa giratória, depois seguiam para o mato e eram divulgadas de boca em boca.

Como é apanágio do nosso povo, cada um acrescentava um ponto. Se alguma vez, penso que nunca será feito, alguém de der ao trabalho de contabilizar os IN abatidos pelas nossas tropas, excluindo as tropas da província da Guiné, companhias de comandos africanos, companhia de caçadores africanos e milícias, devemos encontrar um número superior a população da Guiné da época. 

Por outro lado o número de baixas, em combate, ou para ser correto, em campanha, também não vai coincidir com os números oficiais e por uma diferença abismal. É com espanto e admiração quando por vezes, felizmente poucas, sou confrontado em conversas informais sobre as experiências de ex-combatentes da Guiné, o que conheço, e é a mais “mediática”, penso: ´Foram eles que lá não estiveram ou fui eu?'...

 Até os que cumpriram o serviço em Bissau no QG, a controlar os passaportes, tem histórias de guerra de uma violência atroz. Passados 38 anos do arrear da bandeira ainda não conseguimos descer à terra e, provavelmente, enquanto houver gente viva, dos que por lá passaram, iremos continuar a ouvir estórias. 

Aos historiadores cabe, com o distanciamento que só o tempo permite, repor a verdade. Como, todos ouvimos, enquanto por lá andamos, todos querem fazer “manga de ronco”, mas a verdade é que poucos o fizeram. Poucos estiveram debaixo de fogo na mata. Muitos foram flagelados nos aquartelamentos. Outros sofreram ataques aos quartéis mas só o souberam depois e por exclusão de partes. Mas devo dizer que Bissau, Bolama, Gabu ( Nova Lamego), Bafatá, ou mesmo Cabuca eram uma coisa. Xime, Guileje, Buruntuma, etc, etc, etc. era outra coisa. 

E, já agora, as companhias africanas, nos anos de 1970 a 1974, também era outra música, e por lá passaram poucos. Termino com uma máxima utilizada no exército português: 'O boato fere mais que uma lâmina'.
jc

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 1:12:00 a.m. 

(iii) António Graça de Abreu

Não tenho vontade de alinhar comentários, mas tem de ser. 

Ainda há dois dias chamaram-me "ultracolonialista, super herói e vencedor" e logo algumas almas boas do blogue assinaram por baixo e bateram palmas. Bofetadas bem dadas, de luva branca, segundo escreveu o Manuel Reis.

"Assassinos coloniais", lembrou e bem o Mexia Alves, foi uma das muitas frases com que nos insultavam logo depois do 25 de Abril. Qual Shelltox? Nós éramos uma espécie de malfeitores e facínoras de guerra. Eram as orelhas dos africanos em frascos de álcool, os massacres quotidianos de homens, mulheres e crianças,etc. Nós havíamos sido os agentes militares do regime colonial fascista, ainda por cima vergonhosamente "derrotados militarmente" na Guiné. Éramos ou não éramos as tropas capazes de todos as carnificinas ao serviço da política criminosa de Salazar e
Caetano?

O historiador francês Pélissier, o tal que tem tantos admiradores no blogue, afirmou em 2007 (e recordo outra vez porque isto anda tudo ligado):

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".

Todos nós, ex-combatentes em África somos agentes e fautores da história colonial portuguesa, na sua fase final. Segundo o ilustre francês fomos ou não fomos gente "negreira, arcaica, brutal e incapaz"? Qual a surpresa de nos chamarem criminosos e "assassinos coloniais"?

O Carlos Vinhal tem toda a razão. Vamos contar as nossas experiências e mandar as especulações de quem não esteve lá, como o Pélissier que nunca foi sequer à Guiné, para o caixote do lixo da História. E estou a ser brando, às vezes apetece escrever um palavrão.

Fico por aqui. Somos pessoas dignas, merecemos todo o respeito como ex-militares e como homens, o respeito das gerações mais novas, o respeito da História.

Abraço do "ultracolonialista, super herói e vencedor",

António Graça de Abreu
Sexta-feira, Outubro 05, 2012 3:11:00 a.m.

(iv) C. Martins

Mas que descriminaxão é esta.
Nos beirões ninguém fala.
Nós ca té xomos comó granito "bem rigios e morenos".
Donde é que era o xenhor Viriáto ? ...oh cambada.
Fiquem xabendo que não xomos nada inferiores a voxezes..a matar..claro.
Cais madeirenxes cais carapuxa.
Um beirão ofendidiximo.

C.Martins

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 5:29:00 a.m. 

(v) Jorge Cabral [ alma ]:

Humildade! Humildade! Humildade!

A nível individual, mas também e  talvez principalmente, a nível colectivo.

Distinguir o relato da ficção! Não olhar o ontem apenas com os olhos de hoje! Não transformar Alferes em Coronéis!

E ter a consciência que milhares e milhares de ex-combatentes nunca ouviram falar do Senhor Pélissier.. nem nunca pensaram se a Guerra foi ganha ou perdida..

Um Micro-Tabanqueiro, que foi uma espécie de Alfero-Básico.

JCabral

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 10:04:00 a.m. 

(vi) Cherno Baldé

Caros amigos,

Não queria comentar, mas tem que ser.

Depois da confusão que, para mim, representou o acordo ortográfico que, parafraseando J. Cabral, nos retirou os nossos "afectos" e já agora, os nossos factos com "c"; agora é o AGA que impõe, sem reservas e sem qualquer acordo, que "ultranacionalista" é, também, sinónimo de "ultracolonialista". Uma manobra de vitimização?

Eh. Eh... A gente está sempre a aprender..., mas atenção!, antigos combatentes, o Pélissier, no caso da Guiné, que eu saiba, não se debruçou sobre a guerra colonial. O seu livro estabelece claramente os marcos (1841-1936).

Vamos acompanhar a recensão do MBS para podermos fazer o nosso próprio juízo, nacionalismos à parte.

Um abraço amigo para todos e um especial ao C. Vinhal que tem todo o meu apoio.

Cherno Baldé

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 11:08:00 a.m. (***)


terça-feira, 5 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8513: Massacre do Chão Manjaco: Guiné, 20 de Abril de 1970 - Estrada do Pelundo a Jolmete - A morte dos Majores Pereira da Silva, Passos Ramos, Magalhães Osório e Alferes Joaquim Mosca (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2011:

Carlos Vinhal,
Estive a preparar este trabalho sobre o massacre dos três Majores ocorrido no dia de 20 de Abril de 1970, no entanto se acharem que não vale apena ser editado, porque já se falou muito disto, eu não levarei a mal.

Entendo que está aqui bem esclarecido esse massacre, pela CCAÇ 2686/BCAÇ 2884 que estava no Pelundo, a mesma que rendeu a CCaç 2367 do meu Batalhão, tal como a CCaç 2585 que rendeu a CCaç 2366 em Jolmete, no Dia 17 de Maio de 1969, também do meu Batalhão, e da qual eu participei na Escolta para a rendição 15 dias depois.

Recentemente, mais propriamente na última semana de Abril, estiveram no local do massacre elementos da CCAÇ 2366 (Periquito Atrevido) e CCAÇ 2368 (Feras) do meu Batalhão.

Na foto recente e junto de habitantes da zona, está o Dr. Moutinho dos Santos que era Alferes da 2366 em Jolmete, mais tarde transferido para outra Companhia com o posto de Capitão.

Sem mais assunto de momento deixo um abraço a toda a Tabanca Grande.
Albino Silva




Nota do Editor: Nesta foto, o Alferes identificado como Joaquim Mosca, é na realidade o Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves. (ver Poste 4653)














Imagens retiradas de "Os Anos da Guerra Colonial"
As devidas vénias a Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes

(Clicar nas imagens para ampliar e permitir a sua leitura)
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

Vd. postes de:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)
e
3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2325: Massacre do Chão Manjaco: Todos iguais na morte, mas nos relatórios uns mais iguais do que outros (João Tunes)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6922: Blogoterapia (157): Ai, Timor (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 24 de Agosto de 2010:

Caro Carlos e meus camarigos
A série já vai longa!

Junto agora outro escrito que elaborei nessa altura por causa de Timor. Julgo que foi quando do célebre massacre.
Claro que fica ao vosso critério publicá-lo ou não.

A série não sei se continua com o mesmo título ou não. Deixo a vós essa decisão dizendo-vos no entanto que a publicação daqueles escritos me levou a escrever outros dois agora, que em tempo vos enviarei e que dizem obviamente respeito à Guiné e ao tempo que por lá passámos.

Aqui vai então com um abraço camarigo de sempre
Joaquim


Ai, TIMOR...

Lá longe morre alguém
todos os dias…
Lá longe, mais longe
que o Sol,
e que a vista alcança…
Lá longe, mais longe
onde a memória
se chama esperança…
Lá longe,
mais longe, onde a minha Pátria
se cobre de vergonha…
Lá longe, tão longe
morre um povo,
feito no erro dos homens…
Lá longe, tão longe
onde a brisa do vento,
sussurra o esquecimento…
Lá longe, tão longe
onde toda a vida,
pode ser um só momento…
Lá longe, tão longe
onde a palavra aprendida,
se chama saudade…
Lá longe, tão longe
onde a palavra a aprender
se reclama liberdade…
Lá longe
e no entanto tão perto,
onde a vida de dor
se chama Timor…


J.M.A.
04.12.1991
__________

Notas de CV:

Vd. poste de 10 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6842: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (10): Os meus fantasmas

Vd. último poste de série de 27 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6904: Blogoterapia (156): Luís, guardo o teu número de telefone para um dia! (Renato Monteiro)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6598: Controvérsias (86): A violência inusitada e gratuita do PAIGC no caso dos Três Majores e do Fur Mil Costa, da CART 3567, morto à punhalada (António Costa)

 1. Mensagem, datada de 7 de junho de 2010, enviada pelo  António José Pereira da Costa:

Camarada
A propósito da polémica levantada pelo Poste P6538 e das respostas do Ansaly e do Pepito,  gostava de fazer algumas considerações. (*)

Como sabes,  os povos têm reacções estranhas, como sejam o apoio maciço aos ditadores (Salazar) e seus delegados (como é o caso) e às vezes nem se compreende bem porque o fizeram, se depois os amaldiçoam. (Hitler, Mussolini, para não dizer outros).

No caso vertente, como noutros, (por exemplo  nas cerimónias fúnebres do Salazar),  o povo parece ter sido acometido de uma hilaridade que não se compreende. Ou compreende? Sabemos bem como se organizavam "as espontâneas": com a força pública e não apenas o público "à força", mas também seduzido em jeito, e apenas os (poucos?) simpatizantes.

Além disso, como vemos pela decoração, quem detém o Poder até pode organizar melhor manifes com todo o rigor e exactidão.

O que é um facto é que eles lá estavam. Hoje se fores perguntar não encontras um que lá tenha estado.
Enfim coisas estranhas e não apenas malhas que o Império tece...

Sobre a "Morte dos Majores" deixo a minha visão.

Tratou-se de uma operação psicológica que falhou porque o inimigo a detectou e entrou no Jogo da Espionagem. Em todas as guerras há operações deste tipo - e muito mais na guerra subversiva - em que se pretende desequilibrar uma unidade inimiga (maior ou menor) com ou sem população anexa.

O passo seguinte é a exibição do resultado e, se possível, virar os combatentes seduzidos a combater contra os seus ex-camaradas. No final da guerra ajustam-se as contas e "aí dos vencidos!"

Creio que, pelo nosso lado, os envolvidos estariam convencidos(?) de que estavam a fazer a Paz, pelo menos num sector, o que não seria nada mau numa guerra sem fim à vista...

Pelo lado do IN a operação pode ter sido detectada (cedo ou mais tarde) e levada até onde se quis. Depois foi uma explosão de barbárie que nada justifica, nem mesmo a táctica ou a estratégia. Imagina o que seria termos de negociar o resgate de 4 oficiais (3 superiores e homens de mão do Com-Chefe) e três civis...
O governo do tempo não podia calar-se como fizera com o Lobato, piloto, no início da guerra. E se o fizesse quais seriam as consequências? Estou certo de que haveria consequências. Quais? Não sei. 

O PAIGC andou mal nos dois planos (humano e bélico) e hoje pretende passar a imagem de que os seus guerrilheiros eram integérrimos, seguríssimos dos seus ideais e agiram assim sobre os "criminosos colonialistas tugas" porque se sentiram ofendidos e ridicularizados.

E eu,  com esta idade e a saber o que sei, a acreditar... (Olha para a minha cara de crédulo!).

Também não colhe a desculpa de que era necessário abandonar o local e os prisioneiros "pesavam muito" e retardavam o movimento. Sabemos que até podiam ter usado as nossas viaturas, pelo menos em parte do movimento, e que a unidade que recolheu os corpos só chegou ao local quase dez horas depois dos assassínios.

Enfim,  selvajaria como há em todas as guerras.  Relembro entre outros o caso do Furriel Mil Costa,  da CArt 3567 [,  Mansabá, 1972/ 74], morto à punhalada...

Acho que estamos perante mais um caso de falta de modéstia de quem ganhou a guerra. Relembro o programa do Joaquim Furtado sobre o raide a Conacri em que se discutia se as lanchas da Guiné tinham sido ou não neutralizadas no porto. Luis Cabral diz que não,  por não terem sido destruídas,  o que dá a ideia da sua falta de modéstia. A neutralização impede o uso de um meio bélico durante um período mais ou menos longo. Até com um simples martelo se podiam neutralizar as lanchas (partindo o sonar e radar) mas por pouco tempo. Aliás,  se elas permitiram a saída dos barcos portugueses do porto,  é porque estavam "neutralizadas".

Enfim, começo a não ter paciência para operações psicológicas e muito menos destas, demasiado infantis.

Farás com este mail o que quiseres pois não quero atirar achas para a fogueira...
Podes mantê-lo em banco de dados e jogá-lo no momento oportuno...

Um Ab. do
António Costa

PS: Viste o programa do Joaquim Furtado sobre os GE e GEP de Moçambique? Tens contacto com ele? Parece-me que 84 Gr de GE e GEP num total de cerca de 5000 homens é muito grupo e homens a mais...
Parece-me que há um uso abusivo das estatísticas como no caso da Guiné onde 20% eram militares do recrutamento local... Vamos fazer as contas.


2. Resposta do Carlos Vinhal, com data de 8 do corrente:


Caro Pereira da Costa

Obrigado pela tua opinião baseada em conhecimentos que terás mais abalizados, mercê da tua formação profissional. Vou endereçá-la ao Luís para ele dizer se a vamos publicar.

Nunca compreendi porque teve aquele caso um fim tão trágico. Saberiam os nossos camaradas Majores o perigo que corriam? Fariam aquilo a contragosto ou por dever de ofício? Ou por temerem o Spínola? Ou por ingenuidade?

Do outro lado é ainda mais complicado especular. Dependia de até que nível ia o conhecimentos das conversações, quem manobrava quem e por que é que de repente (?) mudaram de ideias. Que aconteceu aos mediadores e a quem tinha conhecimento do que se passava, no lado do PAIGC? Porque vieram a abater o Amílcar?

Quanto aos relatórios das operações, descrição de objectivos, aprendizagens, mortos, feridos, material gasto ou danificado, etc, sabe-se que era tudo feito conforme o fim em vista. Impressionar o IN, enganar os superiores hierárquicos, justificar material desaparecido, promover amigos, etc, etc. Falo por experiência própria porque trabalhei na Secretaria da minha Companhia praticamente toda a comissão. Fui escrivão de montes de autos de, e para tudo e mais alguma coisa.

Diga-se que como funcionário público vivi experiências similares, porque estive num gabinete de estudos como preparador de trabalhos, mais tarde como chefe de secção, cerca de 33 anos, fiz parte em comissões de recepção de todo o tipo de equipamentos, fiscalização de obras, etc, etc.

Tentaram subornar-me, chamaram-me nomes bons e maus. O que possas imaginar.

Mas quando se fala de manobrar massas por parte dos políticos, aí a coisa é mais complicada. Estes tipos têm formação específica para aprenderem  como isso se faz e quando não querem sujar muito as mãos não falta quem faça isso por eles.

Julgo que já no tempo do Marcelo (ou ainda Salazar?) houve aquela enorme manifestação de apoio ao regime aí em Lisboa, e era ver carregar funcionários públicos de todo o país a caminho do Terreiro do Paço. Mas atenção, porque agora faz-se o mesmo, ou parecido, seja o Governo, ou alguém por ele mandatado, os partidos, os sindicatos e até os clubes de futebol. Ofereça-se um passeio à borla e almoço bem regado com tintol e aí aparecem os espontâneos.

Um abraço, companheiro.
Carlos

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
________________

Nota de L.G.:



terça-feira, 14 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4685: In Memoriam (27): Recordando o Major Raul Passos Ramos (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem de José Borrego (*), Ten Cor na Reserva, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), com data de 12 de Julho de 2009:

Caríssimo Carlos Vinhal,

Sem querer abusar da tua paciência e amizade envio-te para publicação, se assim o entenderes, mais este contributo antes das férias. Com os meus agradecimentos deixo a estética do trabalho ao teu altíssimo critério.

No Poste 4653 do camarada Álvaro Basto vi, pela primeira vez, os majores Pereira da Silva, Raul Passos Ramos, Osório e o alferes Mosca do Estado-Maior do CAOP1 em Teixeira Pinto, assassinados, na Guiné, na estrada que liga Pelunto a Jolmete (**).

Quando, em Julho de 1970, cheguei à Guiné não se falava de outra coisa!

As mortes tinham sido em Abril e ainda me lembra de ver o Senhor General Spínola de luto, fita preta, no braço (***).

Dizia-se em Bissau que tinha desaparecido, ingloriamente, a fina flor do Exército Português!

Estou muito grato ao blogue por publicar as fotografias e ao camarada Álvaro Basto por as ter arranjado, desfazendo equívocos, as quais me serviram de inspiração para escrever estas palavras sobre pessoas que foram brutalmente mortas numa missão muito arriscada… (receber a rendição de dois bigrupos na região de Canchungo ), como infelizmente se veio a verificar.

Segundo o irmão de Amílcar Cabral (Luís Cabral) que foi Presidente da Guiné-Bissau, o plano consistia em apanhar à mão o Governador (General Spínola) e os seus companheiros, mas este foi desencorajado pelo excelso e avisado Tenente-coronel Pedro Cardoso, que na altura era o Secretário-Geral da Guiné, que numa carta enviada ao Sr. General Spínola lhe terá dito que era perigoso envolver-se em contactos pessoais com os dirigentes sob controlo inimigo, propondo-lhe que, de futuro, os contactos se passassem a fazer em Bissau, no Palácio. Isto porque em data anterior (primeiros dias de Abril) o Comandante-chefe ter-se-á encontrado, secretamente, com André Pedro Gomes, chefe guerrilheiro da região Caboiana-Churo, para negociações de paz, na estrada entre Teixeira-Pinto/Cacheu.

As circunstâncias da morte dos militares em apreço, já foram relatadas por camaradas que viveram de perto a situação e publicadas no blogue.

Apenas falarei de algumas qualidades do major Raul Passos Ramos, porque conheço o seu irmão, general Fernando Passos Ramos, de quem sou amigo há muitos anos. Aliás, quando soube do falecimento do seu irmão Raul, voou do Leste de Angola para a Guiné para se inteirar da situação.

Nunca tive o privilégio de conhecer pessoalmente o major Passos Ramos, mas conheço testemunhas credíveis de camaradas do QP que serviram sob o seu comando, dos quais guardo na memória algumas qualidades humanas e militares do major Passos Ramos, relatadas por eles, e que passo a descrever:

Na década de 60, ainda capitão, o major Passos Ramos esteve a prestar serviço na Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas;

Era um oficial distintíssimo, muito respeitado pelo seu constante exemplo (era um exemplo a seguir);

Era de uma dedicação e competência inexcedíveis, surpreendendo os mais dedicados e competentes!

Como comandante de Bateria (equivalente a Companhia na Infantaria) preocupava-se com os seus soldados, principalmente com os mais necessitados; conhecia-os a todos pelo nome e não pelo número... conversava com eles e sabia das dificuldades por que passavam. Alguns eram casados com filhos e o Capitão Ramos para lhes minimizar o sofrimento mandava-os entrar de licença para poderem trabalhar e contribuir para o sustento das suas famílias;

Todos os militares, principalmente oficiais, o queriam imitar…;

Oferecia-se para missões em lugar de outros camaradas que estivessem em dificuldades;

Quando entrava de Oficial de Dia à Escola Prática de Artilharia a população de Vendas Novas comparecia em peso para assistir à cerimónia do Render da Parada num gesto de profunda homenagem e consideração ao capitão Passos Ramos!

Enfim, era um Homem bom que do meu ponto de vista, merece ser recordado com todo o respeito e admiração!

Ao major Passos Ramos e aos restantes militares que faleceram com ele no cumprimento de uma missão, rogo a Deus para que as suas almas descansem em paz.

Despeço-me, desejando a todos as camaradas da Tabanca Grande e respectivas famílias, umas boas férias.

Abraços do
JOSÉ BORREGO

Nota: - Na construção dos parágrafos cinco e seis, apoiei-me no livro do Tenente-coronel Infª Francisco Proença Garcia (Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Portucalense Infante Henrique)

Linda-a-Velha, 12 de Julho de 2009

Na foto: Majores Joaquim Pereira da Silva e Raul Passos Ramos, Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves e Major Magalhães Osório

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4628: Estórias avulsas (38): Histórias passadas na Guiné (José Borrego)

(**) Vd. poste de 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)

(***) Vd. postes de:

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1503: Dossiê: O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)

9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)

27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)

Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4645: In Memoriam (25): Maria da Glória Revez Allen Beja Santos (1976-2009): Missa do 7º dia, 4ª feira, 19h, Igreja do Campo Grande

terça-feira, 7 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4653: Dando a mão à palmatória (21): A verdadeira fotografia do Alf Mil Cav Mosca, assassinado no dia 21 de Abril de 1970 (Os Editores)


1. A propósito de um equívoco que se manteve durante largo tempo no nosso Blogue, relacionado com a identificação dos camaradas representados nas fotos alusivas ao Massacre do Chão Manjaco, com a devida autorização do nosso camarada e tertuliano Álvaro Basto (*), ex-Fur Mil Enf da CART 3492/BART 3873, reproduzimos o Poste 184, do Blogue da Tabanca Pequena de Matosinhos, por ele publicado.




2. Domingo, 7 de Junho de 2009
P184-desfazer as confusões


Um dos nossos mais queridos e assíduos companheiros de tertúlia na Tabanca de Matosinhos tem sido este simpático casal.

O Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e a D. Joaquina Silva, sua simpática esposa.

Praticamente não falham à quarta-feira e não raro, vêm acompanhados de gente ligada à Guiné, quer ex-combatentes quer naturais de lá.
Ele é médico e vai abrir em breve uma clínica em Bissau com a ajuda da esposa que corajosamente o irá acompanhar desde a primeira hora.
Gente simpática, afável e sobretudo dotada de grande humanismo, basta relembrar como têm vindo a acompanhar o processo de auxilio às crianças da Clínica Pediátrica de Bor.

Há dias olhando para a foto abaixo que vinha publicada num destacável que é publicado todas as quartas feiras pelo Correio da Manhã diz surpreso: - Olha... eu estou aqui com os majores.
Logo um coro se fez ouvir... - Oh Dr. tem a certeza? Olhe que esse é o Alferes Mosca que foi morto juntamente com os majores. Ele não desarma e reafirma: - Desculpem, este sou eu, tenho a certeza. O Mosca foi-me substituir uns meses mais tarde à data desta foto ter sido tirada; o Mosca nem na Guiné estava nesta altura. Era eu que fazia parte do CAOP e ele foi-me substituir por ter chegado ao fim a minha comissão.
Bom... foi a estupacção total... tem vindo a ser propalado que esta foto reunia os quatro massacrados, mas afinal não.
Só agora é que o Dr. Giesteira viu esta foto porque habitualmente não vai à inernet e muito menos ao Blogue do Luís. Doutra forma, já teria obviamente desfeito o equívoco há mais tempo.


Fica aqui desfeita a confusão pois já na altura da primeira publicação da foto no Blogue do Luís quem o fez não estaria seguro quanto à identidade do alferes que nela aparecia.
Assim se vai fazendo História meus caros.
Álvaro Basto
__________

3. Para desfazer definitivamente quaisquer dúvidas fica agora a foto com os verdadeiros mártires do Chão Manjaco


Já no Poste 1510 o nosso camarada Paulo Raposo punha a hipótese de na foto estar um seu camarada de Mafra de apelido Giesteira.

Ao Dr. Fernando Giesteira Gonçalves e à família do nosso malogrado camarada Alf Mil Cav Joaquim João Palmeiro Mosca, apresentamos as nossas desculpas pelo lapso que grassou durante todo este tempo.

Se este poste chegar ao conhecimento do Dr. Giesteira, fica desde já convidado a aderir à nossa Tabanca Grande. Será um prazer para nós contar com a sua colaboração, quer falando do passado, como combatente, quer do presente, como médico interventivo na saúde daquele pequeno e pobre país.

Embora tardiamente, fica reposta a verdade.
CV

OBS:- Nos postes onde constavam as duas fotos acima publicadas, já foram substituídas pela que se apresenta mais abaixo, já como verdadeiro mártir Alf Mil Mosca. (**)
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4310: Tabanca de Matosinhos (11): As crianças da Guiné-Bissau precisam da nossa ajuda (Álvaro Basto)

(**) Vd. postes de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1503: Dossiê: O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)

9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)

27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4223: Efemérides (20): Faz hoje 39 anos que foram mortos os 3 majores e o Alf Mosca no chão manjaco (Manuel Resende)

Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > Em primeiro plano, o Alf Mil Cav Op Esp Mosca na véspera de Natal de 1969 a preparar um petisco na cozinha (3 meses e meio antes de ele morrer, juntante com os 3 majores e o resto dos seus acompanhantes, guineenses).

Passam hoje 39 anos sobre sobre a tragédia do chão manjaco. Curvamo-nos à sua memória dos nossos camaradas (Maj CEM Raul Ernesto Mesquita Costa Passos Ramos, Maj Art Joaquim Pereira da Silva, de Inf Alberto Fernão Magalhães Osório, e Alf Mil Cav Joaquim João Palmeiro Mosca) e à memória dos guineenses que os acompanhavam (Mamadu Lamine Djuare, Patrão da Costa e Aliu Sissé).

Segundo a legenda (rectificativa) que nos mandou o Manuel Resende (que mora em São Domigos de Rana), "ao meio é 2º Sargento da Companhia, (não me lembro o nome); ao fundo é o Alf Marques Pereira". A crescenta ainda que a companhia dele, a CCaç 2585 partiu para a Guiné, no T/T Nassa, em 7 de Maio de 1969, portanto duas semanas antes da CCaç 2590, independente (futura CCaç 12) a que pertenci eu e o Humberto Reis, o cartógrafo-mor... (LG)



1. Mensagem do Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCaç 2585, BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto, chão manjaco (1969/71):

O Manuel Resende já se apresentou há tempos à nossa Tabanca Grande (**). Hoje envia-nos as fotos da praxe e um pequeno apontamento sobre a morte dos MAJORES no Chão Manjaco, faz hoje precisamente 39 anos.

Caro Luís:

Sou o Manuel Resende, ex-Alf da CCaç 2585 de Jolmete. Lá era o Alf Ferreira. Junto envio as duas fotos da praxe e um pequeno apontamento sobre a morte dos três MAJORES. É o meu contributo para um futuro esclarecimento total desta situação.

Alguém questionava, num dos artigos que li no Blogue sobre o local exacto onde os Majores foram assassinados. Pois o local exacto já foi devidamente explicado, até com fotos do Google Earth. Está correcto. Foi junto à segunda bolanha a contar de Jolmete-Pelundo (cerca de 5 Km de Jolmete).

Mas surge outro problema: porquê ali e não no local previamente combinado entre eles, junto à terceira bolanha (no mesmo sentido, ou primeira a contar do Pelundo-Jolmete também a cerca de 5 Km do Pelundo)?

Devido à demora nos resultados da reunião, ao anoitecer foi-nos dito pelo Comandante da Companhia o que se estava a passar, e que tinha sido decidido sair tropa de Jolmete em direcção ao Pelundo e do Pelundo em direcção a Jolmete, até se encontrarem. O resto já todos sabem.

Acrescento só que eu também ouvi alguns tiros, penso que três, longínquos, cerca das três ou quatro horas da tarde. Em tempo de defeso ouvir tiros no mato,... foi muito esquosito e comentado, mas como só o Capitão sabia o que se estava a passar, a coisa ficou assim.

Acredito mas não compreendo como os mártires foram esquartejados por rajadas de metralhadora, sem que nós tivéssemos ouvido. É mais fácil ouvir uma rajada do que um tiro avulso. A ideia com que fiquei na altura é que foram todos assassinados com um tiro na nuca. Por quem? ... Esse é outro problema.

Não quero contradizer ninguém, mas no Domingo, véspera do fatídico dia 20 de Abril de 1970, ao jantar, o Major Pereira da Silva recebeu um telefonema dizendo que um tal "Luís" iria estar presente na reunião. Segundo testenunhas o Major ficou petrificado, depois desse telefonema. Foi ele que não autorizou a ida do comandante do CAOP, Coronel Alcino, e outras pessoas que estavam previstas ir, pois parece que já adivinhava o que se ia passar. Daí também ele ter escrito a carta à esposa antes de sair. Estavam previstos três jipes e só saíram dois.

Caro Luís, em 1980 fui à Guiné em serviço da empresa onde trabalhava. Estive a falar com um Tenente do PAIGC, que me foi apresentado. Éramos vizinhos em Jolmete, pois ele lembrava-se bem da Companhia 2585. Depois de alguma conversa concluímos que estivemos várias vezes em confronto. Disse ele:
-Os Portugueses eram muito ingénuos, pensavam que nós nos íamos entregar ...

Nota: Podes corrigir ou cortar texto se for necessário para melhor enquadramento.
Eu tenho cerca de 200 fotos, muitas sem interesse, mas irei enviar algumas. Hoje vou mandar três, sendo uma com três Alferes da Companhia (eu estou no meio), outra com o Alf Mosca na véspera de Natal de 1969 a preparar um petisco na cozinha (3 meses e meio antes de ele morrer), e uma do Dandi, Cap de Milícia, para preparar o próximo apontamento.

No comentário anterior que fiz, ao dizer o nome dos Alf da Companhia, por lapso, não disse Raul antes de Manuel Charraz Godinho (*). Aqui fica a rectificação: Raul Manuel Charraz Godinho.

Um abraço e até outro dia.

Manuel Resende

Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > O Capitão de Milícia, Dandi.

Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > 3 alferes da companhia, o Manuel Resende, mais conhecido pelo último apelido, Alf Ferreira, é o do meio.

Fotos: Manuel Resende (2009). Direitos reservados
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Notas de L.G.:

(*) Vd. os últimos postes sobre o massacre do chão manjaco:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)

27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)

(**) Vd. poste de 26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4080: Tabanca Grande (127): Manuel Resende, ex-Alf Mil, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1969/71): como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3942: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (4): Camaradas, sei o que vos vai na alma (Virgínio Briote)

1. Mensagem de Virgínio Briote, nosso co-editor, ex-Alf Mil Comando, CCAV 489/BCAV 490, Cuntima, e CCmds, Brá, 1965/67, com data de 25 de Fevereiro de 2009:

Caros Luís, Carlos e Camaradas,

[Negrito, do editor, C.V]


Compreendo bem o que vos vai na alma. Quem deu o corpo e a alma por aquele Portugal de então, a troco de cigarros e cerveja (e uísque, para os mais favorecidos), sente-se ofendido, no seu mais íntimo, por tão apressada crónica.

E, no entanto, a opinião do Luís Almeida Martins, embora muito à tona (duas páginas também não davam para muito mais e, ainda por cima, com marcianos no filme), não me parece totalmente incorrecta. Massacres e acidentes de viação, são, na referida crónica, os aspectos mais discutíveis.

Massacres, é a palavra que mais nos dói e é injusta, felizmente, para a grande maioria de nós. Mas houve-os, comprovadamente. Para referir apenas dois: o assassinato dos "majores" e acompanhantes, no chão Manjaco, na Guiné, e o "Wiriamu", em Moçambique, ocorreram. Luís Cabral, Aristides Pereira e Pedro Pires referiram-se a esse facto com uma frase simples: era guerra, tratava-se de guerra.

O alferes de "Wiriamu", acidentalmente cmdt da CCmds e responsável pela operação, confessou-o para as câmaras. Pediu perdão às vítimas. Senti-me envergonhado quando o ouvi descrever como tudo se processou. Um jovem de 20 e poucos, com a mesma idade dos seus camaradas, com um historial de baixas na companhia... compreendi-o, mas confesso-vos que não fiquei orgulhoso.

Foram casos que não fazem exemplo, dirão muitos e eu também, mas existiram vítimas. Embora raros, casos desses fazem parte da guerra. E a guerra é um charco, quanto mais nos metemos nele, mais sujos ficamos.

Que as baixas eram mais devidas a minas fortuitas e a acidentes de viação... Não posso falar por Moçambique nem por Angola. O tipo de guerra era similar, diferentes eram o IN, as características do território e as populações. Da Guiné, temos, entre nós, infelizmente, gente mais habilitada para falar de como o IN se comportava no terreno. Apenas acrescento: é verdadeiramente invulgar que, sujeitos a uma guerra a sério, com testemunhas que, ainda hoje estão vivas e que trazem no corpo as marcas da luta, os INs de então sintam uns pelos outros uma compreensão e amizade tão grande.

Acima de tudo, da crónica do Almeida Martins, o que ressalta, para mim, é que reflecte a visão dos que têm, acima de tudo, privilegiado a chamada opinião politicamente correcta, a de que aqueles povos estavam submetidos a uma ocupação, que, embora histórica, lhes parece ilegítima.
Massacres só houve de um lado, pelo que depreendo da crónica. Não é novidade, é uma opinião recorrente, temo-la ouvido estes anos todos. E têm todo o direito, como qualquer um de nós, de expressar o seu ponto de vista. Diferente, para mim, é que, no seu afã de defenderem ou justificarem esse ponto de vista, deixam passar para último plano o que de melhor Portugal tem tido ao longo da sua História, os seus Soldados. Foi com eles que este pequeno País se fez e se tem mantido, há quase mil anos.

Mas este Portugal, da pena do articulista de que estamos a falar, é o que estamos a viver. Não sei é se há muita gente que gosta dele. Eu não.

Um abraço do
Briote
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3941: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (3): Mário Fitas, aliás, Mamadu (CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos

1. Mensagem do Vasco da Gama, que reside na Figueira da Foz, e foi Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74

BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - III

Sr. Jornalista (*)

Antes que se digne responder a alguém do nosso blogue e, se tiver postura moral para tal, faça-o em sentido, pois toda esta malta que ronda os sessenta anos, são os velhinhos da geração mais sacrificada de Portugal a quem portanto o sr. jornalista, os srs. governantes, os srs. banqueiros, os srs. políticos em geral, e os outros srs. que por aí pululam, devem o maior respeito!

Não sei o seu nome, não sei a sua idade, mas de uma coisa eu tenho a certeza: não pertence à minha geração. Vª. Exª., como eu detesto a palavra Vª.Exª., não sabe sequer o significado da palavra solidariedade, difícil de escrever, difícil de ler e ainda mais difícil de praticar, mas que é apanágio e privilégio da minha geração que combateu na Guiné!

Vª Exª não confunda regimes políticos nem cabos de guerra nem exageros pontuais, com os combatentes da Guiné, nem com a guerra que travámos.

Vª Exª não pode afirmar que a maior parte das baixas se deveram a desastres de viação ou ao rebentamento de minas.

Vª Exª não pode ignorar as centenas e centenas de mortos em combate.

Vª Exª. não pode ignorar as centenas de deficientes que a guerra colonial provocou.

Vª Exª não pode ignorar os lares desfeitos pela guerra.

Vª Exª não pode ignorar o sofrimento de muitos de nós, onde eu me incluo, que ainda hoje acorda pela madrugada dentro aos gritos, julgando estar no inferno da Guiné.

Exijo que Vª Exª se curve perante a memória dos mortos em combate da Companhia de Cavalaria 8351 que eu comandei na Guiné (**);

exijo que Vª. Exª. respeite os mortos da minha Companhia que, feridos em combate, vieram a falecer em Portugal;

exijo que Vª Exª. respeite os meus camaradas que não resistindo aos pesadelos do pós – guerra se vieram a suicidar;

exijo que Vª Exª respeite toda a minha geração de combatentes da Guiné: O vento sopra a nosso favor, pois sabemos para onde ir. Estive, como outros camaradas, para ignorar o seu escrito, mas ignorar os factos não os altera, por isso erguendo as mãos ao céu exclamo: Que Deus nos proteja dos medíocres!

Queria ainda dizer a Vª Exª que camaradas meus chegarão dentro de dois dias àquele país onde lutaram – A Guiné Bissau - , numa missão humanitária de auxílio às crianças do povo irmão! Que linda reportagem daria se jornalistas como Vª Exª. se interessassem por tais eventos… O vosso silêncio a este respeito ficará para outra altura…

Gostaria ainda de mostrar uma fotografia tirada em 12 de Maio de 1974!

Como podem verificar, soldados da CCav 8351, Os Tigres do Cumbijã, aguardam juntamente com elementos do grupo de milícias, o início de um terrível “massacre” a duas cabras do mato e a não sei quantas galinhas, na comemoração do nascimento da primeira alma no Cumbijã. O padrinho foi o Vasco e a menina chama-se Fatmata Gama. O Dotô Carvalho, de Mampatá [, que vai integrado na Missão Humanitária - Memórias e Gente, 2009, que deve chegar amanhã à Guiné-Bissau], foi portador de duas fotografias e desejo do fundo do coração que a consiga encontrar algures na Guiné.


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCav 8351 (1972/74), Os Tigres do Cumbijã > 12 de Maio de 1974 > Malta da companhia e da milícia local festejam o nascimento da Fatmata Gama, a primeira criança a nascer no Cumbijã, no Cantanhez. O padrinho foi o Vasco da Gama (aqui na foto, de óculos escuros, bigode, sentado, ao centro direita).

Foto: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados

Para todos os meus camaradas e amigos da Guiné, um pequeno poema [, de Pablo Neruda] :



Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda


Nós fomos, camaradas da Guiné!

Um abraço fraterno do

Vasco da Gama
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (II): O artigo da Visão e o meu direito à indignação

(**) Vd. último poste da série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3898: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (8): Maio de 1973 na vida da CCAV 8351 - (Parte I)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3935: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (II): O artigo da Visão e o meu direito à indignação

1. Mensagem do Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74:


Neste texto a seguir, o nosso camarada, figueirense exerce o seu direito à indignação...

PORRA! NÃO QUERO NEM PEÇO NENHUM RECONHECIMENTO, MAS NÃO ADMITO SER OFENDIDO.



BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO II > AINDA O POSTE 3925 (*)


[Bold, a cor, da responsabilidade do editor, L.G.]

Comandante Luís Graça,

Sempre preferi o silêncio dos bastidores à luz da ribalta e, para o meu gosto, estou a aparecer demasiadas vezes.

Obrigado pela publicação do meu pobre e singelo comentário (**), mas a singeleza é sinónimo de sinceridade, que tanto prezo e tento manter em tudo o que faço.

Quando hoje reli o comentário do nosso camarada Torcato, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, comentário esse que referi no texto que te enviei e que me ajudou a escrevinhá-lo na parte que diz respeito ao Gen Spínola, fiquei com a pulga atrás da orelha no que diz respeito a uma citação que ele retira da revista Visão. Como não tinha lido a Visão e a tinha procurado, sem êxito, por Buarcos, pedi a pessoa amiga que fizesse o favor de me enviar o referido texto. Vou completar a citação que o nosso camarada Torcato faz, dando à luz todo o parágrafo:

“ Raramente havia combates frontais, sendo as explosões de minas e os acidentes de viação as principais causas das baixas entre as tropas portuguesas, que recorriam à concentração das populações em aldeias estratégicas, ao uso de napalm e até mesmo aos massacres como armas ditadas pelo desespero.”

Caros camaradas: de que estamos à espera para reagir a um texto destes que diz preto no branco que, para além dos ralis que fazíamos e que pelos vistos provocavam imensas vítimas com os despistes dos nossos bólides, para além de umas minas que explodiam de quando em vez, fomos também assassinos que recorriam a massacres e ao napalm?


Como é possível ficarmos indiferentes a baboseiras destas, se nos lembrarmos de todos os mortos que tivemos em combate, dos camaradas que ficaram estropiados para toda a vida, da fome, do frio, dos paludismos, das condições desumanas em que vivemos, do sacrifício do abandono das nossas famílias, da interrupção dos estudos que poucos retomariam, de famílias desfeitas, de empregos perdidos…


Ataque-se o regime, ataquem-se os governantes de então, ataquem-se os grandes comandantes militares, mas não belisquem nem a honra nem a dignidade dos que eram obrigados a ir combater.

PORRA! NÃO QUERO NEM PEÇO NENHUM RECONHECIMENTO, MAS NÃO ADMITO SER OFENDIDO.

Por favor, camaradas, alguém com capacidade de escrita ensine a esta gente o quão importante foi a nossa geração.

Temos escritos magníficos no nosso blogue; há que juntá-los, há que os publicar, há que os divulgar para fora do nosso círculo, se não por nós, que seja feito em memória dos nossos camaradas mortos em combates frontais!

Um abraço, nervoso, do camarada e amigo

Vasco

2. Comentário de L.G., editor:

Os amigos e camaradas que queiram comentar o texto da Visão, assinado por Luis Almeida Martins (é sempre aconselhável lê-lo primeiro, na íntegra), e em especial o polémico parágrafo citado pelo Vasco da Gama (i), poderão fazê-lo, directamente, no nosso blogue, mas também poderão enviar uma mensagem para o Correio dos Leitores, daquele semanário.

A mensagem a enviar deverá conter até 60 palavras (no máximo), além do vosso nome, morada e tefefone. Deve ser enviada por mail. O endereço electrónico da Visão é: visao@edimpresa.pt

A revista sai às quintas-feiras.

(i) O parágrafo completo é o seguinte (pp. 50-51):

"Principiada em Angola em 1961, a guerra colonial na sua nova faceta menos tribal e politicamente mais organizada estendera-se à Guiné em 1963 e a Moçambique em 1964. Não de tratava de uma guerra de frentes, mas de uma intrincada sucessão de acções de guerrilha, difícil de travar e desafiadora de qualquer planificação eficaz. Raramente havia combates frontais, sendo as explosões de minas e os acidentes de viação as principais causas das baixas entre as tropas portuguesas, que recorriam à concentração das populações em aldeias estratégicas, ao uso de napalm e até mesmo aos massacres como armas ditadas pelo desespero."



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Que imagem vamos passar aos nossos filhos e netos ? Nós fomos combatentes, não fomos assassinos! - é a reacção generalizada dos veteranos da guerra da Guiné, a este excerto de um artigo ("Portugal e o passado"), de Luís Almeida Martins, evocativo dos 35 anos da publicação do livro de Spínola, Portugal e o Futuro , na edição da revista Visão, desta semana (nº 833, 19 a 25 de Fevereiro de 2009, pp. 50-51)...

Na mesma semana, por ironia, em que há algumas dezenas de homens e até de mulheres, ex-combatentes da guerra colonial (na sua maioria), que seguem, por terra, em caravana, do Porto, de Coimbra e de Portimão, a levar ajuda humanitária a (e a matar saudades de) um povo que eles consideram irmão...

Não vi a imprensa de Lisboa (rádio, televisão, jornais) dedicar 30 segundos ou um parágrafo sequer a este pequeno grande evento, que culmina meses e meses de trabalho, anónimo e voluntário, e que é bem revelador do sentido de nobreza, compaixão, generosidade, ecumenismo fraternidade e solidariedade de um povo... Não são as sobras dos ricos que eles levam em contentores que já seguiram por mar, mas sim artigos essenciais que fazem muita falta às crianças da Guiné-Bissau, na sua maioria material escolar, didáctico e sanitário... E até um parque infantil, o primeiro de Bissau, vai ser montado desta vez! (LG).







Visão nº 833, de 19 a 25 de Fevereiro de 2009 > Artigo de Luís Almeida Martins, "Portugal e o passado" (pp. 50-51). O nosso camarada Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CART 8351 (Cumbijã, 1972/74), não gostou do que o jornalista escreveu, a propósito do quotidiano da guerra colonial:

"Raramente havia combates frontais, sendo as explosões de minas e os acidentes de viação as principais causas das baixas entre as tropas portuguesas, que recorriam à concentração das populações em aldeias estratégicas, ao uso de napalm e até mesmo aos massacres como armas ditadas pelo desespero."...

 
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Notas de LG.:

(*) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3925: Efemérides (16): Portugal e o Futuro, de António Spínola, um best-seller há 35 anos

(**) Vd. poste anterior desta série de 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3929: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (I): Antes que me chamem spinolista...