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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10755: (In)citações (46): O cadete Lima, do último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra, em 1964, a juventude do império... (Rui A. Ferreira)

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira,  autor de Rumo a Fulacunda, e que foi alf mil inf na CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67) e cap mil inf na CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)...

De acordo com a nota biográfica da sua editora, a Palimage, nasceu em Angola, em 1943, e em 1964 "integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império. 1965 - Rende, na Guiné-Bissau, um desaparecido em combate. 1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau. 1973 - Regressa a Angola em outra comissão. 1975 - Retorna a Portugal. 1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir. Rumo a Fulacunda é a sua primeira obra literária".


Data: 3 de Dezembro de 2012 01:40

Assunto: O cadete Lima

Aqui vai um abraço muito especial ao meu ilustre camarada de recruta e especialidade, meu companheiro e meu amigo, Adriano Miranda Lima [, foto à direita, em baixo], um dos nossos últimos Tertulianos, de quem tenho a grata recordação dum passado que, tendo decorrido num período muito especial da nossa vidas, num rumo comum que tendo tido por palco a Escola Prática de Infantaria, em Mafra, onde ambos, incluídos no Pelotão dos Ultramarina versão literária e a terminologia filosófica do homem aranha, perdão do  Capitão Aranha, nos vimos, isso sim, em palpos de aranha para aguentar toda aquela imensidão de grandes cabeças que tinham jurado a pés juntos cumprir a execrável missão de fazer daquela seita de mal jeitosos cadetes a fina flor  da oficialidade miliciana.os e naquela que passou à história como a companhia segunda do Curso de Oficiais Milicianos, segundo 

Pois, meu caro cadete Lima (, a ti e ao coronel com o mesmo nome e já que um coronel não é mais que um cadete que não morreu), os meus mais sinceros votos para que sejas muito bem vindo e que te dês entre nós muito bem, fazendo parte desta grande família que é a rapaziada do blogue do Luís Graça.

Com a muita amizade e a consideração do

Cadete Rui A. Ferreira
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10715: (In)citações (45): Carlos Guedes e Teco com livro sobre a CCAÇ 726, em preparação (Virgínio Briote)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7098: Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (J. L. Mendes Gomes) (1): No princípio, era o convento... de Mafra



(...) "Encontrou alguns dos seus colegas de seminário, desistidos anos antes e nunca mais vistos: O Vítor, um óptimo hoquista, de Espinho; o Luís Barros, o José Ramos Canito, de Vila do Conde. Outros mais haveriam de aparecer já nas quentes paradas do religioso convento, convertido em quartel e escola de guerra." (...) . Imagem: Origem desconhecida.




1. Texto do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins, (Como, Cachil, Catió, 1964/66)

Assunto: Futuro Palmeirim de Catió

Olá,  Luís!

Como não podia ser doutra maneira, continuo a sr um assíduo e interessado leitor do teu/nosso monumental blog. Duma riqueza incalculável. Se não fosse a tua feliz ideia, mais umas dezenas de anos volvidos, um valiosíssimo tesouro patriótico ficaria, para sempre, sepultado no desconhecido e na ignorância das gerações futuras. Aquela guerra que nós vivemos, com bons e maus momentos, palpita com uma surpreendente e autêntica vivacidade nos milhares de posts que já foram escritos e irão seguir-se.

Mais uma vez e sempre a minha admiração e reconhecimento pelo teu empenho e o dos nossos co-editores.

O texto que segue sai da autobiografia que fiz para os meus netos lerem, um dia...sobre os verdes anos do seu avô...Dela sairam as crónicas dos Palmeirins de Catió (*). Agora, penso de algum interesse partilhar a minha vida, nos tempos preliminares da guerra que nos foi imposta e que cumprimos sem discutir...( absolutamente impensável nos tempos que correm...).

Fica à tua/vossa disposição para serem lançadas no Blogue.

Um grande abraço

Joaquim Mendes Gomes


2. Futuro Palmeirim de Catió (1) > No Convento de Mafra
por J.L. Mendes Gomes

Num dos primeiros dias de Agosto de 1962, munido da guia de marcha militar, tomou a carreira mais madrugadora do Cabanelas, às 6 da manhã, em Pedra Maria,( Felgueiras) para ir apresentar-se, nesse dia, na longínqua vila de Mafra, sua conhecida, só das páginas escolares da história portuguesa.

Naquela manhã, uma vez mais, acompanhado pelas badaladas da torre de Pedra Maria, agora, em jeito de adeus, um dos seus filhos partia para a tenebrosa e imposta aventura militar. O cortejo dos que tinham a mesma sorte foi engrossando, ao longo do caminho, longo, primeiro, na tão familiar estação de São Bento, no Porto. Depois, sempre no ronceiro comboio correio que parava em tudo quanto era sítio, até às paragens verdejantes da linha do Oeste, a partir da simpática estação de Alfarelos, com bela azuleijaria azul a revestir-lhe as paredes com cenas de vindimas e pomares da região.

O nervosismo que toldava todos os mancebos ficava mascarado pela irrequietude e pelas irreverentes gargalhadas que se desprendiam, permissivas e sem controle, dominando as carruagens do comboio, como se já fossem as, ainda só, imaginadas casernas que os esperavam.

Encontrou alguns dos seus colegas de seminário, desistidos anos antes e nunca mais vistos: O Vítor, um óptimo hoquista, de Espinho; o Luís Barros, o José Ramos Canito, de Vila do Conde. Outros mais haveriam de aparecer já nas quentes paradas do religioso convento, convertido em quartel e escola de guerra.

O famigerado Simão, por exemplo, lá apareceu, em fatídica surpresa, qual sombra sinistra e teimosa, escondido na larga farda cinzenta, onde lhe sobrava muita fazenda. Só a comprida pála do barrete lhe acompanhava, até à ponta, em sintonia perfeita, o seu característico nariz rubicundo. Tão furtivamente como apareceu, assim desandou, ao cabo de umas breves semanas da recruta, dura de roer…

Soube, através de outro ex-seminarista, o pachorrento, mas d`olho vivo, Bernardino Teixeira de Carvalho, que ele tinha dado baixa ao hospital e que, por artes mágicas, se livrou, definitivamente, da tropa, escassas semanas depois…Que inveja!…Era sobrinho dum abade influente. …Bênçãos que caem e sempre hão-de cair, apenas, sobre certos telhados, sabe-se lá porquê… Talvez o diabo saiba…

Pode dizer-se que uma grossa turma de ex- seminaristas portucalenses lá estava transferida, agora, espalhada e bem tresmalhada, pelas muitas companhias do regimento, de velha "mauser" ao ombro, e fato zuarte, em vez do terço e da cândida sobrepeliz branca…

A pouco e pouco, já de noite, a longa fila dos noviços soldados-cadetes desfilava por um dos muitos infindáveis corredores do convento colossal, para ir desnudar-se, pela derradeira vez, à vista de todos os olhos surpresos, só para que dúvidas não restassem sobre a masculinidade genital, perante os clínicos anfitriões…

Era a primeira cena, simiesca, das muitas que haveriam de suceder, durante os anos seguintes, perante a máxima e confortante hilariedade, em que todos eram participantes. Olhos surpresos? Sim. Se é certo que quem vê caras não vê corações, também se confirmou, ali e doravante, que quem vê grandes e másculas corpulências não pode garantir-lhes correspondentes intumescências…

Dir-se-ia até que a lei da natureza, sobre masculinidade, se rege pela razão inversa dos tamanhos…numa linha de equilibradas compensações. Ali se patenteava, aos olhos de todos, com toda a verdade, pelo menos, naqueles tempos, as grandes surpresas e os desencantos de tantas noites de núpcias…

O Sampaio, um castiço tripeiro, de cabelo alourado e espetado, numa cara sardenta e afilada, com olhos pequeninos e fundos, um inexcedível palrador e barraqueiro, desde a estação de S. Bento, bêbado de cerveja, que nem um cacho, ali estava a tentar pele 4ª ou 5ª vez, enfiar, perna a perna, nas largas calças da farda acabada de receber, com algumas idas ao chão, pelo meio, sem esboçar um sorriso.

Por acaso, foi parar ao mesmo pelotão da 2ª Companhia de Infantaria, comandada pelo mais garboso e convencido capitão, Óscar Gomes da Silva, de bivaque de altas proas na cabeça e de elegantes polainas pretas de couro preto, sempre a luzir, e à mesma caserna monacal.

Tal como o Mendonça, a quem a longa escola da boémia de Coimbra rapara todo os temores que nos enlaçam sempre, nestes primeiros contactos, em novos ambientes.

Totalmente ambientado, desde logo, se manifestou pronto a enfrentar e derreter, em gozo geral, os frequentes assomos da maluqueira militarice profissional.Parecia que estava ali para se divertir, à grande, com a requintada habilidade de um bobo na côrte.

Também quis a sorte que ele fosse parar ao mesmo pelotão, companhia e caserna. A prová-lo, relembra um dos muitos episódios, que teve a sorte de presenciar. Seguia o Mendonça, a seu lado, magricelas, dentro do fato zuarte cinzento, esbordante no tamanho, por um dos muitos corredores que percorrem o interior do convento-quartel, do tamanho de altas e largas avenidas, com o braço engessado ao peito. Uns metros após terem passado por aquele superior hierárquico, imediato, o zelozo capitão, comandante de companhia, parou, estacado e dirigiu-se ao subordinado rastejante:
- O nosso cadete não cumpriu o dever de saudação ao seu comandante!…

A resposta brotou, pronta, do Mendonça, já em sentido:
- Saiba Vossa Senhoria, que não foi feita a bem merecida continência, por impossibilidade física, (só os olhos baixaram para o braço desditoso) mas volvi, respeitosamente, ao flanco…

Desarmado e sem palavras, o comandante retomou, impertigado, a sua caminhada bem timbrada sobre o lajedo de mármore gasto pelo uso secular das multidões profanas que o convento continuava a albergar.

Só quando o vulto esguio do satisfeito superior se desvaneceu à distância, por entre outros militares, transeuntes, estoiraram, sem réplica, as gargalhadas, a muito custo retidas por ambos.

O seio hermético do mundo militar começava a revelar-se em catadupa, nas duras semanas que se seguiram, infindáveis. Era um autêntico internato, movido a sonoros toques de cornetim. Cada um tinha o seu significado e, aos recém-soldados cadetes era-lhes vedado alegar desconhecimento.

Às seis da manhã, de verão e de inverno, o toque da alvorada obrigava-os a descerem lestres dos beliches de três, para o escutarem, em sentido, junto aos ferros das camas, ainda em traje de dormir.

As luzes acendiam-se, à 1ª nota do cornetim, e dentro de 20 minutos toda a caserna deveria estar arrumada, camas feitas, com a higiene pessoal e as sagradas botas pretas a reluzir, para que na 1ª inspecção do formar da companhia, o olhar de lince do capitão Óscar, não desfechasse um doloroso corte de dispensa, no final do dia.

Hoje, é inimaginável como tudo se conseguia.

O castiço Mendonça era sempre o último a chegar à parada, com os três pelotões e respectivos comandantes instrutores, à frente, alferes de carreira, de cada uma das três companhias, já bem perfiladas, de capacete e espingarda ao ombro, em posição de descanso.

Vinham depois os três imponentes capitães postar-se à frente da sua companhia, recebendo a devida, continência, à voz de " Ombro, arma!", erguida por cada um dos alferes.

Logo a seguir, era a vez de os capitães renderem continência da sua unidade ao comandante, ainda mais imponente, do Batalhão que o toque de cornetim, anunciava uns instantes antes.

Fazia-se a chamada por companhia; o comandante de batalhão fazia as advertências patriótico-militares, da ordem, e toda a mística estudada nos anais das ciências militares ia sendo transmitida aos futuros comandantes de pelotão nos teatros de guerra colonial que os aguardavam.

Vinha a seguir o pequeno almoço, nos amplos refeitórios do convento, depois da ordem de dispersar.

O próximo toque obrigava à formatura das companhias, perante os seus comandantes e, a partir daí, era a partida em marcha cadenciada pelo alferes, para a mata de castanheiros frondosos, a uns dois km. dali, no seio da vastidão da cerca mítica do convento de Mafra.

Ensarilhadas as armas, segundo a norma tradicional, começavam, em cada manhã, os exercícios de ginástica, desenvolvida numa corrida em círculo. Ali, surgiu a 1ª experiência do esforço físico exigido, sem limites, pela imaginação e comando supremo do alferes do pelotão. As suas ordens eram indiscutíveis, até à exaustão. O cansaço das primeiras semanas fez ver quão doces eram uns escassos minutos de intervalo, entre cada sessão. Nunca as folhas caídas dos castanheiros, à mistura com ouriços espinhosos, foram tão apetecidos colchões, secos ou molhados pela chuva, para um saboroso restauro de forças.

Quando chegava a hora do almoço, era o regresso, até aos imensos refeitórios, de mesas de mármore branco, em salas imponentes. O feijão, o macarrão ou o arroz, acompanhado de gordurentos pedaços de carne de cabra, nunca foram tão saborosos…regados com um pequeno púcaro de vinho tinto carrascão, a granel, ou da água da caneca.

Ordem unida, instrução militar, e o esventrar das mil peças que formam a expedita e obsoleta espingarda Mauser, da bazooca e do morteiro, era o temas da 5 horas de aulas que preenchiam as tardes, sempre, algures, debaixo dos frondosos castanheiros, na mata de Mafra.

A religiosa manutenção da sua Mauser, os crosses semanais, de comprimento crescente, ao longo da estrada da Ericeira, até aos oito km, mais umas sessões de acção psico-pedagógica militar, ocupavam todo o período de recruta daqueles soldados-cadetes. Tratados abaixo de cão, pelas cadeias da hierarquia cinzentona, desde os simples cabos, sargentos ao distante e sisudo comandante do regimento, jamais seriam capazes de imaginar-se, volvidas umas breves semanas, como futuros oficiais milicianos.

O certo, porém, é que terminada a recruta, intensa na preparação física e mentalização militar, com uma semana de campo, nos montes escalvados das cercanias da Malveira, veio a chamada especialidade de atirarador de infantaria, que iria ser exercitada no fantasma da guerra de África. A preparação infindável, terminou nos rigorosos frios de inverno ventoso e chuvento de Mafra lamacenta. Quem por lá passou, bem o pode testemunhar. Mafra, nunca mais. Vê-la, nem de longe.

As guias de marcha para as férias de Natal, na casa de cada um, foram distribuidas em folgosa e frenética algazarra de caserna, companhia a companhia, depois da meticulosa entrega do material distribuido no início.

Nunca se roubou tanto, como nesses dias finais. Capacetes, bivaques, bornais, cinturões, tudo corria perigo ameaçador, numa desconfiança sem excepções, a começar no colega mais próximo. Com recurso a lojas especializadas, abastecidas sabe-se lá como, que prosperavam nas ruelas de Mafra, tudo acabava por dar certo, na hora final

J.L. Mendes Gomes

[Continua]

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.]
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Nota de L.G.;

(*) Vd. postes de:

24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5006: O segredo de... (8): Joaquim Luís Mendes Gomes: Podia ter-me saído caro aquele pontapé no...

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia  

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
 
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
 
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
 
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
 
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6734: Controvérisas (96): No período de 1972/75, a proporção de capitães milicianos, comandantes de companhias combatenntes em África, era de 83 em cada 100 (Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Op Esp, 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)



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Nota de L.G.:



Sobre este tema, vd. ainda os últimos postes da série Controvérsias:

14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6730: Controvérsias (95): Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos (José Manuel M. Dinis)

13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6728: Controvérsias (94): Puros e Espúrios (Mário Gualter Rodrigues Pinto)

7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6687: Controvérsias (93): Nunca entendi a querela QP-Milicianos... O fim do serviço militar obrigatório foi um desastre nacional (Morais da Silva, Cor Art Ref)

20 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6621: Controvérsias (88): A ruptura do stock de capitães do QP e a milicianização da guerra (A. Teixeira / J. Manuel Matos Dinis / Mário Pinto / Manuel Rebocho)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)


Manuel Sobreiro, Alf Mil de Minas e Armadilhas, CART 1612 (1967/69), foi morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968...





Guiné > Zona Leste > Pirada > O Alf Mil Martinho Gramunha Marques, à direita... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento...

Foto: © 
António Pinto (2007). Direitos reservados .





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Abril de 2006> O monumento, em forma de pirâmide, construído em 1973 pelo pessoal da CCAV 8350, Os Piratas de Guileje. O trabalho de restauro e preservação é da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense, fundada e dirigida pelo nosso amigo Pepito, no âmbito do Projecto Guiledje. Numa das faces da pirâmide,  é evocado o nome do  Alf Mil Lourenço, morto por acidente, um das nove baixas mortais da CCAV 8350.

Foto: © 
A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3492 (1972/74) > 1972 > O Alf Mil Armandino, ao fundo da mesa, num almoço com outros camaradas, incluindo o Mexia Alves, na casa do comerciante libanês Jamil Nasser. Em primeiro plano, o Cap Godinho, comandante da CART 3492.  Uma foto de homenagem do J. Mexia Alves, ao camarada morto da brutal emboscada do Quirafo, em 17/4/72.

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo e camarada  Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf, CART 730, Bissorã, Farim, Jumbembem, 1965/67)

Data: 25 de Junho de 2010 19:06
Assunto: Alferes mortos na Guiné

Caros, Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro:

Antes de mais quero desejar-vos um fim de semana bem divertido[, em Monte Real]

Achei interessante a publicação da lista de Capitães mortos na Guiné (*). Aproveitei para fazer duas correcções na minha lista.

Em continuidade aproveito para enviar a lista dos Alferes. Quem sabe não irei fazer mais algumas correcções….!

Um abraço

Artur António da Conceição
Amadora
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Nome (de A a Z ) / Data / Causa


1. Abílio Rodrigues Ferreira >  22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte >  23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão >  5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses  > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio >  21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes  > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado >  22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló >  16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel Sousa  Linhares de  Almeida  > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias 6/10/66 > C

28. Delfim Anjos Borges  > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá >  20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro  > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida >  14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto >  6/10/70 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo >  15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno Costa Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço >  5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). 

Causas de morte: 

A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); 
C=Combate; 
D=Doença.  

Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate (C). Os restantes morreram devido a acidente (A)  (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (D) (1,3%).

[ Revisão / fixação de texto / título / observações: L.G.]
________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  24 de Junho de 2010  > Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro)

(**) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6593: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (V Parte)



Luís Marcelino, um dos poucos ex-capitães milicianos que, até á data, fazem parte da nossa comunidade virtual e nos dão a honra da sua participação (activa) no blogue. Acredito que, para a grande maioria dos oficiais (quer do QP quer milicianos), não seja fácil dar a cara e o nome. Mas, como gostamos de lembrar com frequência, a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas, cavalos de frisa, valas, arame farpado, fossas, minas e armadilhas... Este blogue está aberto a todos os combatentes da Guiné, qualquer que tenha sido o seu posto na época, ou até o lado em que combateram, desde que estejam dispostos a partilhar histórias e memórias, e aceitar as nossas regras do jogo...

O Luís Marcelino foi o Comandante da CART 6250, Mampatá, 1972/74.  Espero poder dar-lhe um abraço no nosso V Encontro Nacional, no próximo dia 26, em Monte Real. Eis como ele próprio fez a sua apresentação, aquando da sua entrada para a nossa Tabanca Grande, em 6 de Junho de 2009:

(...) "Sou Luís Marcelino, a viver em Leiria. Fiz o meu serviço militar, entre Janeiro de 1971 e Agosto de 1974. No primeiro Trimestre de 1972, em Vila Nova de Gaia, foi formada a CART 6250 que comandei,  ali fazendo a preparação para a comissão na Guiné. Em Junho desse ano, partimos para a grande aventura, que terminou em Agosto de 1974.

"Fizemos o treino Operacional em Bolama, durante cerca de um mês, findo o qual partimos para Mampatá, em rendição de uma Companhia de Infantaria. A nossa Companhia era independente e estava adida ao Batalhão sediado em Aldeia Formosa, a cerca de 7 Kms de Mampatá.

"Após o regresso da Guiné entrei para a GNR, onde prestei serviço em Leiria, Évora, Santarém e Lisboa. Estou actualmente aposentado" (...).

Foto: © Luís Marcelino (2009). Direitos reservados.

































































Publicação da 5ª (e penúltima) parte do estudo do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, professor do ensino superior universitário, antigo docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa. O autor é especialista em Investigação Operacional. Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP.

O Morais da Silva teve a gentileza de facultar ao nosso blogue, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 33 pp., sobre a "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (2ª versão Maio de 2010). A 1ª versão (Março de 2010), de 30 pp., circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails. A 2ª versão, aumentada e actualizada, também irá ser distribuída por email.

Este estudo chega agora  a um público mais vasto, através do nosso blogue (*).

A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório , sob a forma de imagens, por partes. Esta é a V  parte, correspondente às pp. 22-29.

Por sua vez, o nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74, foto à esquerda) encarregou-se da morosa tarefa da digitalização do relatório, folha a folha. Aqui fica a expressão do nosso agradecimento público, pelo empenho e pela competência com que levou a cabo a digitalização do documento.

________________

Nota  de L.G.: 

(*) Vd. postes anteriores:


6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6541: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (II Parte)

8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6560: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (III Parte)


domingo, 15 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

1. Texto do António Graça de Abreu (na foto, à esquerda, na apresentação, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Memórias Literárias da Guerra Colonial, 2 de Outubro de 2008, do seu Diário a Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, Guerra e Paz Editores, 2007) (*)

O coronel Vasco Lourenço em caso polémico, quer reacção do Exército
por António Graça de Abreu


“Com as descolonizações, os povos criaram uma memória nacional por oposição aos colonizadores. Criou-se a ideia de que a expansão fora algo infamante, exigindo-se mesmo assunções de culpa. Ora, em meu entender, isso é tão disparatado como a glorificação desses colonizadores.”

Vitorino Magalhães Godinho, em Jornal de Letras nº 984, de 18 de Junho de 2008, pag. 13

A notícia vem no Diário de Notícias, há já mais de um ano, a 21 de Junho de 2008, pág. 16, da autoria do jornalista Manuel Carlos Freire. Agora, Novembro de 2009, quando o nosso Manuel Godinho Rebocho edita a sua tese em livro (**), talvez valha a pena recordá-la.

O coronel Vasco Lourenço (***), por quem não tenho especial simpatia, critica a ofensa feita aos oficiais do quadro permanente de “fugir à guerra colonial (1961-1974)”, sobretudo nas terras da Guiné, que surge aparentemente fundamentada na tese de doutoramento, “aprovada com distinção”, defendida pelo sargento-mor pára-quedista Manuel Godinho Rebocho, na Universidade de Évora e agora, Novembro de 2009, publicada em livro.

O Manuel Rebocho é um dos nossos, ainda há uns bons tempos atrás o tivemos no blogue a explicar que os restos mortais, as ossadas dos três pára-quedistas mortos e enterrados em Guidage, provavelmente ficariam na Guiné e jamais regressariam a Portugal, à Pátria, boa ou má, onde nasceram. Felizmente tal não veio a acontecer. O Manuel Rebocho também explicou, creio que muito bem, que o tenente-coronel pára-quedista Araújo e Sá era “um grande comandante” de homens, um militar que honrou as tropas pára-quedistas.

No nosso blogue, temos tido alguns defensores da tese da derrota militar na Guiné, da incapacidade das nossas tropas, não só os oficiais do QP, mas também os oficiais milicianos, sargentos e soldados, “sem meios”, vítimas do “colapso militar”,
“irremediavelmente batidos”, incapazes de responder à “supremacia militar” dos guerrilheiros do PAIGC.

Ora, segundo a tese de Manuel Rebocho, se os oficiais do exército do QP “fugiam à guerra colonial (1961-1974)”, imagine-se o que sucedeu na Guiné nos anos 1973/74, com os oficiais do QP a “fugir” e “os oficiais milicianos e os sargentos do QP a aguentar”. Em tão estranha situação, que não conheci, era inevitável a derrota militar.

Ou será que, como diz o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e antigo combatente na Guiné, o sargento Manuel Rebocho “deturpa (de forma malévola) o que então se passou na Guiné”? São palavras do Vasco Lourenço.

Vamos ao texto publicado a 21 de Junho de 2008 no Diário de Notícias.

“A tese de doutoramento aprovada com distinção (2005) na Universidade de Évora, acusando a generalidade dos oficias do quadro permanente (QP) do Exército de fugir à guerra colonial (1961-1974), está a gerar uma onda de indignação em diversos círculos castrenses. Dois factos ocorridos este mês tiraram a tese da penumbra: no passado dia 4, o tribunal de Évora absolveu o presidente da Associação 25 de Abril (Vasco Lourenço) num processo movido pelo autor da tese Manuel Godinho Rebocho (sargento-mor pára-quedista na reforma) por causa de críticas feitas pelo coronel Vasco Lourenço. A 10 de Junho, o coronel Morais da Silva terminou a análise da tese, concluindo que, pelos “erros e conclusões sem fundamento bastante, não dignifica a Universidade de Évora.”

Na origem da polémica está a tese de doutoramento sobre a “A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975”. O autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente.[1]

Entre outras afirmações polémicas, diz: “Porque os oficiais dos anos 60 fugiram da guerra, não reuniram as características das elites. (…) Em função disso, o Exército desmoronou-se; a cadeia de comando partiu-se; o Exército venceu-se a si próprio, a Academia Militar falhou na selecção e na formação psicológica das futuras elites militares, as quais não desempenharam as suas funções aos valores próprios e exigíveis a um Exército.” (pág 488).

Vasco Lourenço, referido directamente na tese, insurgiu-se quando Manuel Rebocho o convida para a defesa da tese (19 de Setembro de 2005):

“Não me ouviu, deturpa o que então se passou na Guiné, e convida-me?”, contou ontem ao Diário de Notícias o presidente da Associação 25 de Abril. Além de escrever ao autor, Vasco Lourenço transmitiu também o seu protesto à Universidade de Évora e ao júri[2], observando que “talvez não tivesse sido ouvido previamente por o doutorando (Manuel Godinho Rebocho) ter noção da malévola deturpação do que se passou na Guiné.”

Manuel Rebocho que o DN não conseguiu contactar, considerou-se ofendido e apresentou queixa em tribunal contra Vasco Lourenço, que foi absolvido, O presidente da Associação 25 de Abril vai agora pedir ao Exército e à Academia Militar que condena “por uma tese destas, sem suporte científico, seja aprovada.”

Este ponto surge como pilar central da crítica do coronel Morais da Silva cujo passado militar o fez sentir-se “enlameado” com a tese, que leu para “desmontar” os argumentos do autor. “Caracterizar um universo de centenas de capitães do QP (…) a partir do desempenho de dois elementos desse universo, mostra que o autor nada conhece da teoria da amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica”, escreveu aquele oficial.


Este o artigo do Diário Notícias. O jornalista conclui lembrando que “Vasco Lourenço foi o comandante das forças que anularam a sublevação do 25 de Novembro, iniciada pelas tropas pára-quedistas e em que Manuel Rebocho participou”.

Repito, o que é que isto tem hoje a ver connosco, estarei a misturar alhos com bugalhos?

Vamos apenas para recordar que Vitorino Magalhães Godinho que cito no início deste texto, o coronel Vasco Lourenço, e já agora eu próprio, não são gente da direita nostálgica de qualquer passado colonialista.

No que a mim diz respeito, - e porque de direitista a esquerdista, já me colaram éne rótulos -, está tudo no meu Diário da Guiné, 1972/74, inclusive a referência ao meu processo na PIDE/DGS, com a cota dos documentos sobre mim elaborados pela PIDE, a partir de 1967. Quem quiser pode ir à Torre do Tombo consultá-los.

O que é que me tem levado a alinhar tantas páginas, às vezes um tanto magoadas, no blogue?

(i) O gosto pela verdade histórica;

(ii) O respeito imenso pelos meus camaradas de armas, meus irmãos na Guiné, agora também pelos oficiais do quadro permanente que conheci em Teixeira Pinto, em Mansoa, em Cufar, não propriamente no ar condicionado de Bissau, com quem convivi muito de perto durante 22 meses;

(iii) O respeito também pelo “inimigo”, os guerrilheiros do PAIGC.


Aprendi a respeitar o rigor da informação e a seriedade na análise histórica. Cometo naturalmente alguns erros, já escrevi, e não estou a ser original ao afirmar que cada homem é um mundo. Mas procuro olhar e entender a História (e estamos a falar da História Contemporânea de Portugal e da História da Guiné–Bissau), a nossa História, a partir de “uma investigação séria e rigorosa, como uma construção científica capaz de nos ajudar a compreender quem fomos e quem somos”. Estou outra vez a citar Vitorino Magalhães Godinho

Um abraço a todos os tertulianos, a todos os camaradas e amigos.

António Graça de Abreu

11 de Novembro de 2009

Ano do Búfalo

António


2. Comentário de L.G.:

"Sério, sereno, justo mas não justiceiro, tomando partido pela busca da verdade e do rigor historiográfico, sem deixar de ser caloroso e fraterno" - é um elogio que eu gostaria de poder fazer a todos os que escrevem no nosso blogue. Eu sei que há divergências de leitura, análise e interpretação, entre nós, no que diz respeito à guerra colonial e ao seu contexto histórico - nos planos estratégico, político, militar, social, económico e cultural... Não quero nem posso escamotear essas diferenças... Nem sempre é fácil sermos "calorosos e fraternos" quando não concordamos... Mas podemos ser "sérios, serenos e justos" na crítica...

Este contributo do António (que, tal como eu, ainda não leu o livro) é também um convite para olharmos, de vez, para o nosso passado, sem falsos saudosismos nem miserabilismos, mas também com frontalidade, verdade, orgulho... E sobretudo continuarmos a 'fazer pontes' com os outros povos (às vezes, parece que continuamos a 'fazer a guerra'... Ora o PAIGC foi, objectivamente, o 'nosso IN', no passado; mas war is over, a guerra acabou)...

No própximo dia 17, na ADFA, em Lisboa, o nosso camarada Manuel Rebocho vai apresentar o seu livro e nós vamos lá estar para o ouvir, a ele e aos seus convidados, com a mesma abertura de espírito com que estamos, estivemos e estaremos em eventos semelhantes (por exemplo, na apresentação do livro do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje em 22 de Maio de 1973). São dois camaradas nossos, membros da nossa Tabanca Grande, que divergem na apreciação de muitas coisas, directa ou indirectamente relacionadas com a guerra colonial da Guiné.

O Manuel Rebocho é hoje doutorado em sociologia dos conflitos, por uma universidade pública portuguesa, a Universidade de Évora, e a sua tese, agora em livro, deve ser conhecida e lida, antes de alguém vir para a praça pública utilizá-la como se fora uma G3.

Não ignoro que o tema (as elites militares e a guerra colonial) é, em si, polémico, como o são, aliás, todos os temas de história contemporânea: não temos ainda a distância efectiva e afectiva para julgar o "nosso tempo"...

Eu ainda não conheço a tese (não está acessível, 'on line') nem ainda comprei nem li o livro. Não tenho por hábito e formação usar a G3 para impôr os meus pontos de vista. Na nossa Tabanca Grande a G3 é hoje, de resto, uma peça de museu. Quem a trouxer, se há quem ainda ande com ela, deve deixá-la lá fora. (Obviamente, isto é uma metáfora).

Todos os pontos de vista, devidamente fundamentados, sobre o livro do Manuel Rebocho - incluindo os aspectos mais académicos, teórico-metodológicos, de investigação científica - serão bem vindos e terão lugar no nosso espaço, que é livre, plural e aberto. Mas, desde já devo dizê-lo, não aceito que se diabolize ninguém. Controvérsias, sim, duscussão livre, franca e aberta, sim. Se possível, serena, calorosa e até fraterna, melhor ainda. Mas transformar o nosso blogue numa tribuna panfletária, não. Decididamente não.

[Revisão / fixação do texto / bold a cores / título: L.G:]

________________

Notas do A.G.A.:

[1] Será que Manuel Godinho Rebocho se esqueceu dos furriéis milicianos e dos nossos cabos e soldados?

[2] O júri era constituído pelo prof. Adriano Moreira, Joaquim Serrão (será o prof. Joaquim Veríssimo Serrão, antigo presidente da Academia Portuguesa da História. Se é, não posso acreditar!), Maria José Stock, antiga presidente do Instituto Camões, e que vai apresentar agora o livro do Manuel Rebocho, Maria Colaço Baltazar e o professor da Academia Militar coronel Nuno Mira Vaz, autor de um interessante livro Guiné 1968 a 1973, soldados uma vez, soldados sempre, Lisboa, Tribuna da História, 2003.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3276: Memórias literárias da guerra colonial (3): O poder na ponta das espingardas, segundo A. Graça de Abreu (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5243: Controvérsias (52): Elites militares, estratégia e... tropas especiais (L. Graça / A. Mendes / M. Rebocho / S. Nogueira)

29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa


Sobre o Manuel Rebocho, vd. postes dele ou sobre ele:

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)


(***) Sobre Vasco Lourenço:

Vasco Lourenço (à esquerda, em foto da capa do livro Vasco Lourenço do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Lisboa, Âncora, 2009):

" Nasceu em Castelo Branco em 1942. Ingressou na Academia Militar em 1960. Pertenceu à Arma de Infantaria. Combateu na Guerra Colonial, tendo cumprido uma comissão militar na Guiné de 1969 a 71. No dia 25 de Abril de 1974 era capitão nos Açores. Membro activo do Movimento dos Capitães, pertenceu à Comissão política do MFA. Nesta condição foi nomeado para o Conselho de Estado (24 de Julho de 74), passando mais tarde a integrar a estrutura informal do Conselho dos Vinte e a partir de 14 de Março de 75 tornou-se membro do Conselho da Revolução, funções que manteve até à extinção (1982). Passou à Reserva no posto de tenente-coronel a 20 de Abril de 88. Pertence desde a sua fundação aos corpos gerentes da Associação 25 de Abril" (Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra).