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domingo, 26 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (11): Interrogatórios

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 22 de Julho de 2009:

Caro Carlos:

Mais uma vez estou sem computador, daí o atraso. Em anexo aí vai a XI estória
para a série "A Guerra Vista de Bafatá".

Um abraço.
Fernando Gouveia




A GUERRA VISTA DE BAFATÁ



Bafatá. 1969. Grande parte da tabanca da Rocha com a mesquita.


11 – Interrogatórios.

Já anteriormente referi que a minha principal função, como Oficial de Informações do Comando de Agrupamento, era tratar as notícias que iam chegando, quer respeitante ao IN, quer às NT. No entanto, também tinha sido instruído para fazer interrogatórios.

Na minha comissão de dois anos só tive que fazer dois interrogatórios, pois a grande maioria era feita nos Comandos de Batalhão ou de Companhia onde havia (caso dos Batalhões) um Capitão com essas funções específicas.

Abrindo aqui um parênteses referirei que, em combate e debaixo de fogo, de tudo seria capaz para salvar os meus camaradas e a minha própria pele, no entanto a frio e à sombra de um quartel seria de todo incapaz de torturar, física ou psicologicamente, qualquer elemento IN, como aliás aconteceu em vários casos que tive conhecimento. Recordo até que um dia, em Bambadinca, quando se estava a proceder a um interrogatório com alguma violência à mistura, vem ter comigo um alferes vangloriando-se de lá ter ido molhar a sopa. Episódio triste, tanto mais que esse alferes nada tinha a ver com o interrogatório.

Dos dois interrogatórios que fiz, um não deu em nada, dando até a impressão que o homem nunca pertencera ao IN e o que queria era ficar com as NT, onde tinha comida e dormida. Recordo que me pediu para lhe arranjar tabaco e eu próprio lhe comprei no mercado, às minhas custas, umas folhas de tabaco.

O outro foi a um elemento da população afecta ao IN, capturado numa operação. Idoso e com lepra em estado não conseguiu fugir. O interrogatório foi feito com o sujeito deitado numa maca e com a ajuda de um intérprete.

Com o mapa da zona à minha frente e com as sucessivas respostas que o homem foi dando, cheguei à localização, para mim exacta, do tal refúgio IN.

A informação que assim obtive destinava-se a concretizar uma operação, logo ao amanhecer do dia seguinte, primeiro um bombardeamento pelos Fiats ao local por mim assinalado e, em seguida, um golpe de mão pelos Páras, que nessa altura estavam em Bafatá.

Como na manhã do dia D o tecto (núvens) estava baixo, os Fiats não puderam actuar tendo-se feito a operação só com os Páras, helitransportados.

Mais uma vez, na guerra de retaguarda, não fui directamente responsável por mortes na Guiné pois se os Fiats tivessem actuado, tinham acertado em cheio: A cruz que tinha desenhado no mapa veio a verificar-se ser o local exacto do acampamento IN.

O resultado da operação resumiu -se à recolha de inúmero material, mais civil que militar: panos, amuletos, medicamentos (muitos pacotinhos de aspirina), apetrechos de limpeza de armas e muitos livros escolares. O pessoal IN conseguiu fugir todo.

O Ten Pára-quedista Gomes (meu antigo colega do liceu) que comandou a operação, acabou por me dar muito desse material, algum do qual ainda hoje conservo, como uma cartucheira que utilizo na caça.


Capa de um dos livros apreendidos

Uma página do livro anteriormente referido

Página de um outro livro com toda a certeza de origem nórdica (repare-se nas figuras). Tal como os nossos livros pretendiam ensinar aos guineenses as serras e os rios da metrópole, também estes referiam vivências, como patinagem, possivelmente no gelo, etc.

Última página de outro livro, já muito usado.

Duas páginas de outro livro, este para aprendizagem de algo relacionado com o árabe ou o Alcorão

Amuletos respectivamente para a cinta e para o pescoço (um feito com um chifre de cabra), também capturados. No seu interior eram introduzidos pequenos papeis com as preces pretendidas escritas em árabe.

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.


Na próxima estória irei mostrar por dentro e por fora o Mercado de Bafatá, que na altura era o ex-libris da cidade.

Até para a semana camaradas.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4618: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Cansamba, subsector de Galomaro, 1 de Agosto de 1969

Guiné > Zona leste > Galomaro > 2º Gr Comb da CART 2339 (Julho/Agosto de 1969) > Fotos Falantes I (10, 11, 12) > Aspectos da vida do 2º Gr Comb, destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo a tabanca em autodefesa de Cansamba.


Fotos: © Torcato Mendonça (2009). Direitos reservados.




Estórias de Mansambo II > CANSAMBA I - O 1º de AGOSTO
por Torcato Mendonça (*)


Fotos Falantes I (10, 11, 12)


No dia 1 de Agosto de 69, fomos destacados para a Tabanca em autodefesa, de Cansamba [ subsector de Galomaro]. Mas como e porquê?

Façamos uma breve introdução.

A meio de Julho, dia 13, saímos de Candamã e Afia (**), tabancas em autodefesa, depois de uma estadia de um mês, e regressámos a Mansambo. Pouco descansámos, pois, dia 16 partimos em diligência para Galomaro em reforço da CCaç 2405 e do COP7.

Ficámos então dependentes da 2405, cerca de vinte e cinco militares do 2º Grupo e três ou quatro picadores. Trinta militares ou trinta e dois no total [vd. fotos].

Logo, no dia seguinte ou no outro, assistimos a uma operação, helitransportada, dos pára-quedistas. Efectivamente, era outra tropa. O treino, os meios, a autoconfiança. Isso e muito mais faziam a diferença.

Cerca de meia hora depois, da primeira saída dos helis com tropas já, no regresso, traziam material apreendido. Até uma gazela que o IN estava a esfolar veio... Assim valia a pena. Tinham, em comum connosco o sermos feitos da mesma massa. Óptimos militares a merecerem o meu respeito. Pena nós não termos mais meios. Mesmo com o pouco íamos cumprindo. Curiosamente cumprimos e detesto o termo – tropa macaca – porque não nos sentíamos diferentes dos que eram apelidados de bons… E gostávamos de certas operações. Vidas!

O IN estava muito activo na zona, quer a Sul/Sudeste de Galomaro quer, mais longe, para oeste, à volta de Mansambo. Atacou várias vezes Mansambo, Candamã e Afiá e, naquela zona, atacou Cansamba, onde estava um Grupo, creio que de uma Companhia de periquitos e Madina Xaquili.

Tínhamos acompanhado a Companhia que para lá foi, em 22 de Julho [de 1969], para trazer as viaturas para Galomaro. Não gostámos daquela Tabanca… já tínhamos mais de dois terços de comissão e o cheiro da mata era sentido de forma mais forte. Creio que antes do regresso, o dissemos a um alferes ou furriel, T-shirt de Operações Especiais, a memória pode falhar. Certo é que o IN foi lá experimentar… hoje, tanto tempo depois, parece-me ter sido a CCaç 12.

O IN, com os corredores abertos, mostrava-se com certo à vontade. Na margem esquerda do Corubal (zona leste) onde não haviam aquartelamentos nossos. Na margem direita, vendo a Carta da Guiné, sabendo as nossas posições, é fácil compreender a progressão das forças do PAIGC, aproveitando a época das chuvas. E não só, não só…

No primeiro dia de Agosto, fomos mandados para Cansamba a substituir o Grupo que lá estava. Saíram de lá felizes, os piras.

Antes trocámos breves palavras, recebemos algum material e eles foram-se. A partir daí era connosco. Vimos que era forçoso haver mudanças rápidas. Era uma Tabanca enorme. A cerca de quinhentos metros estava uma outra pequena. A razão era que esta era habitada por futa-fulas. A grande tinha uma mesquita, simples ou humilde, e uma escola (madrassa). Era uma povoação com alguma importância, resultado da junção de várias tabancas.

Assim, demos início ao trabalho.

Os Furriéis (só dois, o Rei e o Sérgio) deram uma volta, falaram com a população, viram as defesas e o que observaram não os agradou. Eu via o material que tínhamos, esperava pelo regresso dos africanos que iam connosco, a passear pela tabanca na obtenção de informações e ia tomando apontamentos.

Depois todos juntos, estudámos rapidamente os elementos que dispúnhamos e estabelecemos uma estratégia. Para o imediato tínhamos que falar com o Chefe de Tabanca, ver o armamento que estava distribuído à população, organizar minimamente a defesa. Na segunda fase, para os dias seguintes, teriam que ser abertas mais valas, colocado mais arame farpado, organizada a defesa e tentar modificar aquilo. Assim, como estava, era um perigo. Num ataque forte entravam por ali adentro com facilidade.

Mandámos chamar o Chefe. Estranhámos a sua ausência e mais estranhámos a sua demora. Estávamos na zona das suas moranças e ele devia já ter aparecido. Demorou. Demorou tempo demais. Quando chegou vimos estar em presença de um homem que nos ia dar problemas. Talvez por isso a alegria da saída do Grupo de periquitos.

Para grandes males grandes remédios. Tivemos que lhe dizer que, a partir daquele momento quem mandava éramos nós. Compreendeu à segunda. Como? Bem… certamente porque não era parvo. Viria a ser, no futuro, um óptimo colaborador. Após ter compreendido porque estávamos ali, respondeu ao nosso primeiro pedido e rapidamente reuniu todos os homens com armas distribuídas. Era uma loucura ver tanta gente com Mausers, G3, dilagramas e muitas munições. Um bando. Nós, à volta de trinta…

Falamos àquele exército, o chefe traduzia e os picadores (milícias) confirmavam com sinais, olhares... nós percebíamos. A linguagem gestual ou por olhares é óptima…

A noite aproximava-se. Mandámos toda a gente em paz e já não fomos à tabanca dos futa-fulas.

Achámos melhor dividirmo-nos em três grupos, separados a uma distância prudente, com possibilidades de entreajuda. Tínhamos bolsa de enfermeiro mas não tínhamos enfermeiro. Tínhamos operador de rádio mas sem aparelho. Claro que estávamos desfalcados, os meios eram os possíveis. Assim se fazia a nossa guerra. A falta de meios, a normalidade.

O Chefe ficava a dormir na sua morança (escolha dele, claro…) mas eu dormia lá também. Cá fora, no telheiro, dois homens, a revezarem-se. As sentinelas eram feitas pelos três grupos, aos pares. De preferência um picador e um soldado. Claro que os turnos cabiam a todos.

Comemos, arrumámos o material, montámos uma precária defesa e preparámos o descanso. De repente uma saída e começou o ataque. Vinham dar as boas vindas. As ordens eram responder o mais forte possível. Alguém já tinha montado a nossa pesada. Ou seja, um bidão aberto totalmente num lado e só metade no outro. Lá dentro uma simples G3 em rajadas curtas, mas a fazer um barulho dos diabos. Estava lá um 82, do IN, que funcionava com as nossas munições e as deles. Nessa noite foi a triplicar.

Mas o pior não foi o inimigo. O pior foi a população. Vinham á porta das moranças e disparavam as Mauser ou as G3. Gritávamos para virem para as valas, mas nada. Pedíamos ao Chefe, que estava ao nosso lado, entre dois militares, para mandar parar o fogo da população. Nada. Nós, no meio, à frente os inimigos, logo atrás os amigos, posição óptima.

Dois ou três militares levantaram o Chefe acima da vala e então, como estivesse a ser capado, berrou e bem. Calaram-se os amigos e pouco depois os inimigos, talvez a esperar melhor ocasião, fizeram o mesmo. Estavam dadas as boas vindas ou feito o teste aos recém-chegados. Por isso, logo no dia da chegada fomos recebidos assim. O nosso 1º de Agosto.

Um morto da população e um ferido. Disparar dilagramas com bala real era terrível. No outro dia começou a instrução, para a não repetição de situações daquelas e melhorar o uso e conservação do armamento. Além disso começámos a estudar onde e como abrir valas e abrigos. Antes visitámos a Tabanca dos Futa-Fulas. Tinham falta de munições e de outras coisas. Parece que tinham estado em Madina do Boé e vindo para a zona após a evacuação do aquartelamento. Gente habituada aos tiros. Se necessário podia contar com eles na protecção de um flanco. Assunto a ser tratado posteriormente.

Recebemos a meio da manhã a visita do Comandante do COP 7, creio que um Major Pára-quedista, porque em Galomaro ouviram o ataque. Não tinhamos rádio. Pusemo-lo ao corrente da situação e fizemos os pedidos de material.

Estivemos até ao dia quinze em Cansamba. Foram quinze dias óptimos. O apoio da 2405 foi excelente. Em Cansamba tivemos ocasião de contactar com a população, falar com Homem grande que ensinava árabe e o Corão aos miúdos. Era homem de grande sabedoria, talvez um marabú. Tive oportunidade e tempo, de falar com ele e assim aprender a compreender melhor aquele Povo e a sua religião. Eu tinha (tenho) o meu nome tatuado, em árabe, no braço esquerdo e sabia fazer as saudações ou cumprimentos. Isso fez com que a aproximação fosse mais fácil. Interrompida, infelizmente, porque estive dois ou três dias fora, em Galomaro, a curar o meu quinto ou sexto ataque de paludismo. Regressei e notei as benfeitorias.

Reforçou-se a auto defesa, a população teve melhor instrução militar, impedimos que a Administração, através de um Cipaio que por lá apareceu (em Galomaro estava um Chefe de Posto), interferisse com a população… perceberam… e foram-se. Certamente causava-lhes prejuízo a população não pagar o imposto!

Quase nos considerávamos em férias. Recebemos nova ordem: apresentar em Bambadinca no Batalhão. Assim foi. Reunião e saída para Candamã.

Missão: procurar onde era o acampamento do Bi-Grupo, reforçado com artilharia que tinha feito tantos ataques na zona em tão pouco tempo. O Comandante, Mamadu Indjai. Descobrimos a acampamento, os Paras destruíram-no e militares da 2339 (3º Grupo) emboscaram-nos fazendo dois ou três mortos e vários feridos, entre eles o Mamadu Indjai.

O Coronel Hélio Felgas não teve razão com a ameaça – só saiem de lá depois de os encontrar… Enganou-se. Pena foi ter-se acabado Galomaro e o sossego de Cansamba. Um mês bem passado, metade em Galomaro, a outra em Camsamba.

Até ao fim da comissão foi sempre a andar…

[Continua]

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

29 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4435: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (7): Bissau, a caminho de Fá

4 de Junho de 2009 Guiné 63/74 - P4459: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (8): Mussá Ieró, tabanca fula em autodefesa, destruída em 24/11/68

(**) Vd. poste de 11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1167: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (4): Candamã, uma tabanca em autodefesa

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4338: Tabanca Grande (140): Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Especialista da FAP, BA 12, 1967/69

1. Mensagem de Vítor Oliveira, 1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69:

Amigo Luís
Aqui está o meu pedido de adesão.
1.º Cabo Especialista Melec - 1.ª de 1966
Estive na BA2 e Escola Militar Electromecânica entre 20 de Janeiro de 1966 e 19 de Abril de 1967.
No AB1 entre 20 de Abril e 8 de Outubro de 1967.
Na BA12 entre 9 de Outubro de 1967 e 31 de Maio de 1969.
Na BA4 entre 31 de Maio de 1969 e 12 de Janeiro de 1970.

Era conhecido na terra do branco pelo Canéças e na Guiné pelo Pichas.
Moro actualmente em Canéças. Estou reformado.
Um pormenor Benfiquista a sério.
Luís um abraço.


2. Honório e eu num abrigo em Madina de Boé. A nossa sorte

Estávamos em Nova Lamego a fazer proteção à coluna para Madina, quando um dia, pela manhã, carregam um caixão forrado a pano preto na DO para Madina. Aparece o Honório e diz-me:
- Pichas vamos a Madina.

Eu disse-lhe a gente lá nem tempo tinha para beber um copo. Quando íamos a Madina nem parávamos o motor.

No meio desta conversa apareceu um cabo do exército que pediu ao Honório se o levava, porque nunca tinha andado de avião. Ainda lhe perguntei se sabia onde se ia meter.

Bom, lá descolámos os três e eis que quando passávamos o rio, vinha uma coluna na direção do Cheche. O Honório quando a vê, toca de fazer as suas habilidades e o nosso cabo começa de gritar ao gregório, que não se podia estar dentro da DO.

Quando aterrámos, disse ao cabo para ir buscar água para lavar o avião.
Veio um alferes e um cabo num unimog que nos convidaram para irmos beber um copo. De repente ouvem-se uns tiros. Ao alferes e aos cabos nunca mais os vi. Eu e o Honório deitámo-nos debaixo da DO. O pessoal do quartel começou a chamar-nos. Levantámo-nos e lá vêm mais uns tiros. Ficámos debaixo do unimog e só à segunda tentativa conseguimos entrar no abrigo.

Abrigo esse em forma de L. Entrámos lá para dentro, para o fundo. Puxei dum cigarro, tremia como varas verdes, e o Honório a gozar comigo. Passada talvez meia hora e depois do pessoal do quartel ter mandado umas morteiradas lá para os montes, diz o Honório:
- Pichas vamos embora.

Perguntei pelo cabo, foram à sua procura e vi-o sair do abrigo em frente, havia salvo erro duas ou três tabancas. De novo se ouvem uns tiros e então ele entra a correr pelo abrigo dentro, dizendo-me que ali é que se estava bem.

Ao fim de mais uma hora, lá desatámos a correr para a DO. Foi chegar, pô-la a trabalhar e descolar, a rapar, direito ao monte.

Posso dizer que os nervos eram tantos que consegui fechar a porta da DO com o cinto de fora, meti a mão na janela, mas parti o acrilico da porta. Isto porque o inimigo tinha lá um artista a quem chamavam Osvald (que matou o Kennedy) e que punha o quartel em alvoroço.

Fui lá algumas vezes levar munições nas DO. Devemos ter sido os únicos da FA a conhecer aqueles abrigos.

Felizmente a sorte esteve do nosso lado.

Já agora gostava que me explicassem como é que aparece em livros editados fotografias de um T6G em reparação em Madina, uma vez que a pista mal dava para as DO e ficava no meio dos montes.

Um abraço
Vitor Oliveira

Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina

Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel.esta operação foi feita com a proteçção dos paraquedistas

Já não me lembro deste pessoal a não ser do sarg.ajudante Manuel Matacão

Este é o avião que o brigadeiro Hélio viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti

A carcaça ficou lá depois de incendiada


3. Comentário de CV:

Caro Vitor Oliveira, finalmente entraste nesta Tabanca de tropa, dita, macaca, onde se pode encontrar elementos da tropa especial, de que tu és um bom exemplo.

Muito obrigado por te juntares a nós e aos teus camaradas da FA que já colaboram neste Blogue.

Como sabes, além de Especialistas, temos Caçadores Pára-quedistas, Pilotos-aviadore e até uma Enfermeira Pára-quedista. Uma panóplia completa. Estás em família, portanto.

Temos cá umas fotos tuas que iremos publicar brevemente, logo mantém-te atento e poderás, mais tarde, enviares mais umas coisas para publicação.

Em nome da tertúlia e especialmente dos teu camaradas da FA, deixo-te um abraço.
CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4329: Tabanca Grande (139): Francisco Santos, ex-militar da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá - 1963/65)

domingo, 19 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4216: (Ex)citações (23): Homenagem à memória do Capitão Pára-quedista João Costa Cordeiro (João Seabra)

1. Comentário de João Seabra (1), ex-Alf Mil da CCAV 8350, Piratas de Guileje (Guileje, 1972/73) deixou um comentário no P4184 (2) :

Caro Miguel Pessoa,
Deixa-me aproveitar a boleia, para homenagear a memória de um dos Comandantes da CCP 123 que conheci em Gadamael, o Capitão Pára João Costa Cordeiro, valoroso combatente e ser humano de eleição, estupidamente falecido num acidente.

Foi a ele que, pela primeira vez, ouvi o comentário "fez-se o que foi preciso" (que não me recordo de ver aqui mencionado, mas a que faço alusão num texto que, por ser muito pesado, talvez tenha circulado fora do blogue, entre os interessados).

Poderia multiplicar-me em adjectivos sobre o meu homenageado. Bastará, todavia, referir o seguinte:

- A minha Companhia (CCAV 8350) e a CCAÇ 4743, saíram de Gadamael em 25JUN73, sendo substituídos pela 3ª Companhia do BCAÇ 4612, pela CCAV 8452 e pela CART 6252;
- Com a situação em Gadamael já perfeitamente controlada, mas ainda perigosa, estas Companhias passaram a beneficiar de treino operacional que lhes foi ministrado pelas Unidades do BCP 12, proporcionando-lhes conhecimento da Zona e a confiança que se pode imaginar;
- A CCP 121 e a CCP 122 terão regressado a Bissau em 7JUL73;
- Ao que julgo saber, a CCP 123, por iniciativa do seu Comandante,voluntariou-se para ficar em Gadamael durante mais dez dias, para completar o trabalho de treino operacional das ditas Companhias.

Era assim o Capitão Cordeiro. Para ele, entre o que "era preciso fazer", porque entendia ser também esse o dever de uma unidade de elite da Força Aérea, incluía-se, se houvesse oportunidade, ministrar à chamada "tropa macaca", um aperfeiçoamento operacional que o Exército já não estava em condições de ministrar.
Sobre este exemplo de genuína camaradagem, o Jorge Canhão é das pessoas mais indicadas para falar.
Lastimei bastante, algumas generalizações depreciativas em que alguns dos nossos amigos, levados pela indignação, se deixaram cair, relativamente aos Quadros Permanentes das FA.
Bons e maus profissionais há em todas as carreiras. E a arrogância é muito comum na espécie humana.
Quando penso nos nossos camaradas "do Quadro", prefiro lembrar-me - em representação de muitos outros - do Capitão Cordeiro e do Tenente-Coronel Brito, que não conheci mas que não deixou de voar em nosso apoio, ameaçado por armas cujas características não eram conhecidas e sem que as necessárias contra-medidas tivessem sido estabelecidas.

Desculpa o abuso.
Abraço
João Seabra
__________

Notas de CV:

(1) Vd. poste de 1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

(2) Vd. poste de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4164: Comentários que merecem ser postes (3): O Gen A. Bruno gostava de fardas e do elas representavam em tempo de paz(Santos Oliveira)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4184: FAP (22): Entrega do meu pára-quedas ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola de Tancos (Miguel Pessoa)

1. Mensagem de Miguel Pessoa (*), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Reformado, dirigida a Luís Graça, com data de 5 de Abril de 2009:


O PESSOAL DA 123

Caro Luís
Embora sabendo-te num período sabático de reflexão, não quero deixar de te enviar algumas palavras. Primeiro, porque me lembrei de ti ao passar hoje (5 de Abril) por um local que te diz muito, a Lourinhã; mas foi uma passagem rápida que nem permitiu ver sequer um dinossauro (sem ser aquele que ia a guiar o meu carro - vislumbrei-o de relance no retrovisor...); em segundo lugar, mais importante, porque tinha regressado de uma festa de anos de um bom amigo da CCP123 (de Bissalanca, Guiné), o João Pedro (Pedro é o apelido), que mora em A-dos-Francos.

Para além de outras datas sagradas em que muito do pessoal da CCP 123 se reúne - O 23 de Maio, dia da Base Escola em Tancos, o jantar de Natal, o 10 de Junho em Belém) - o aniversário do Pedro é um dos momentos de convívio em que tenho tido a sorte de poder integrar-me - eu e a Giselda, claro, como antiga pára-quedista e amiga pessoal. Por isso faço todos os possíveis por estar presente.

Como habitualmente (luxo de quem está reformado) costumo aproveitar estas minhas deslocações para pernoitar na zona onde decorre a confraternização. Mais do que fazer turismo, pretendo com isso prolongar um pouco mais esses convívios e, já agora, recuperar um pouco mais do cansaço destas deslocações (que os vinte anos já se foram há uns tempos).

É habitual juntar-se neste convívio anual em A-dos-Francos um bom grupo de amigos da CCP 123 que, para além de homenagear o aniversariante, aproveitam - como é habitual nestas confraternizações - para relembrar acontecimentos do passado; muitos deles já são do conhecimento de quase todos os presentes, claro, mas surgem por vezes novos pormenores que ajudam a esclarecer os que assistem a estes diálogos ou a relembrar os mais esquecidos (ou distraídos).

É claro que no caso particular destas conversas acresce o facto de alguns destes pormenores se referirem à minha recuperação por pessoal da CCP 123, pois vários dos intervenientes costumam estar ali presentes.

Embora tenha sido parte muito pouca activa no processo (afinal limitei-me a ficar lá no mato, à espera que me fossem buscar - uma espécie de morto no jogo de bridge...) o pessoal que revejo nestas reuniões recebe-me sempre com grande cordialidade, o que me parece natural - afinal nós gostamos sempre de mostrar aos amigos um trabalho em que estivemos envolvidos e que saiu bem feito. E, neste caso particular, nada como rever o sujeito em cuja recuperação muitos tomaram parte e que ainda anda por cá a gozar esta segunda oportunidade de se manter neste mundo...

Tive a oportunidade de lembrar a alguns deles o interesse em avançarem com a descoberta deste nosso blog e de participarem nele, contando as histórias interessantes a que tenho tido acesso nestes convívios. Mas, já foi referido aqui, é difícil tirar-se deste pessoal muita informação para além da que debitam nestes convívios em família; Fez-se o que se tinha que fazer, e está tudo dito.
E é pena que isto suceda, pois tenho ouvido descrições de grande interesse para serem publicadas, juntamente com outras que provavelmente seria difícil publicar no blog, dada a crueza dos factos descritos. Embora façam parte da História.

À conta destas conversas, relembrei um episódio ocorrido durante a recuperação, relativo à recolha do meu capacete e do meu pára-quedas, abandonados no local e recuperados por elementos da CCP 123. Posteriormente o meu amigo e camarada, o então Ten Pára Norberto Bernardes - hoje General - que comandava esse grupo, tendo recolhido essas duas peças, deu-me a escolher com qual queria ficar. É claro que, tendo eu a hipótese de voltar a usar novos capacetes (e aquele até estava partido) optei por escolher o pára-quedas, ficando ele com o capacete.

Quando guardamos uma recordação, temos sempre o gosto de a partilhar com os outros. E naturalmente foi o que sucedeu com o meu amigo Norberto, que achou por bem oferecer o capacete ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola em Tancos. E, passados uns anos, o meu pára-quedas seguiu o mesmo destino pois, embrulhado num saco, na minha casa, não servia para nada, sendo muito mais interessante ficar ao lado do capacete - seu companheiro de aventuras na mesma história - e à vista de todos os visitantes, alguns deles curiosos de saber a razão da sua presença naquele local.

Embora com fraca qualidade, por ter sido digitalizada da revista Boina Verde, onde foi publicada a notícia, junto foto da entrega do pára-quedas ao Coronel Perestrelo, então Comandante da Base Escola de Pára-quedistas.

Um abraço.
Miguel Pessoa


__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)

domingo, 1 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)

1. Mensagem, de 25 de Fevereiro de 2009, do Jorge Félix, residente em Vila Nova de Gaia e frequentador da Tabanca de Matosinhos (na outra vida, foi Alf Pil Al III, BA 12, Bissalanca, Guiné, 1968/70), a quem saudamos, pelo seu regresso ao nosso convívio, e a quem desejamos as melhoras (de saúde):


Caro Luís:

Por motivos menos agradáveis tenho esquecido o PC. A 'cabeça' ainda não vai respondendo como quero, e o corpo teima em envelhecer.

Li alguns postes e dois merecem que fale, mesmo com a precariedade da minha gramática actual.

Agradeço que os emendes e, caso não mereçam algum interesse os comentários, 'delete' com eles.

Jorge



Comentário ao poste P3929 - O Spinola que eu conheci.


Escrevi um comentário neste Poste (*) para atestar a admiração que tinha (e tenho) pelo Gen Spínola, mas não coloquei datas e nomes de pessoas referenciadas. Envio-as e, caso não vejas mal, pois acho que o Gen Vasques ainda está no activo (**), Blogue com elas.

Então vamos aos factos:

(i) A Operação foi no dia 7 de Março de 1969.

(ii) De Catió saíram dez Helis com Páras para o Quitafine, local onde o IN tinha varias antiaéreas.

(iii) Os Fiats fizeram o habitual bombardeamento e os Helis descarregam os Páras.

(iv) Uma PEQUENA descoordenação, tempo do bombardeamento e descarga do pessoal, fez com que os atiradores das quádruplas antiaéreas não conseguissem sair das suas posições, o que resultou numa aguerrida defesa das mesmas. Com os Helis à vista e os Fiats no ar, o IN não parou de disparar. Os Páras não conseguiram avançar contra o fogo das antiaéreas. Foram atingidos dois Fiats e uma DO 27.

Os Páras foram retirados na Zops.

(v) À noite, na residência do Comandante Spinola, num reunião com alguns dos Oficiais intervenientes, disse ele a determinada altura:
- Hoje era o dia para distribuir medalhas!

O Cap Vasques atalhou:
- Só se fosse a titulo póstumo.

Spinola ouviu e nada disse.

(vi) É destes momentos que se moldam certos homens. Por estas e por outras eu gostava do Comandante.
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3929: O Spínola que eu conheci (1): Antes que me chamem spinolista... (Vasco da Gama)

(Não consta nenhum comentário anterior neste poste, da autoria do Jorge Félix)

Vd. também o último poste desta série > 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)

(**) Será o Ten Gen Vasques Osório, da FAP, que passou à reserva em 2003 ?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3283: Memórias literárias da guerra colonial (5): Olhos de Caçador, de António Brito, ex-pára-quedista, Moçambique, 1969/71

Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > Memórias Literárias da Guerra Colonial > 9 de Outubro de 2008 > 19h00 > Apresentação, pelo seu autor, António Brito, do romance Olhos do Caçador, inspirado na experiência da guerra colonial em Moçambique (1969/71). Lídia Jorge, a consagrada escritora de A Costa dos Murmúrios (1988), recebeu com entusiasmo esta primeira (e até agora única) obra do António Brito, no programa Câmara Clara, RTP2, de Paula Moura Pinheiro, na edição de 24/2/08, que foi justamente dedicada à literatura da guerra colonial (com a co-participação de Carlos Matos Gomes).

Biografia do autor, de acordo com a sua página pessoal na Internet:

(i) António Brito nasceu em 21 de Novembro de 1949 na aldeia de S. Fagundo, concelho de Tábua, distrito de Coimbra;

(ii) É um self made man: Aos onze anos foi viver para Lisboa, onde "foi operário na construção civil, trabalhou numa oficina de carpintaria e foi engraxador nas ruas";

(iii) Aos dezoito anos, em 1968, alistou-se nas tropas pára-quedistas, onde permaneceu quatro anos;

(iv) Mobilizado para Moçambique, combateu nalgumas das mais importantes operações militares contra a FRELIMO (1969/71);

(v) De novo em Lisboa, foi trabalhador-estudante: "Nos primeiros anos, durante o dia, trabalhou como gerente de supermercados e inspector de vendas numa multinacional; durante a noite, estudou no liceu até à conclusão do 12º Ano";

(vi) Entrou para a Faculdade de Direito de Lisboa, onde concluiu a licenciatura em Direito na área de Ciências Jurídico-Económicas;

(vii) "Foi director de multinacionais com responsabilidade nacional e internacional, formador de marketing certificado pelo IEFP, consultor de gestão e organização de empresas. Integrou cursos e estágios de formação dentro e fora do país";

(viii) Colaborou em jornais de Moçambique e Portugal, escreveu para televisão, e publicou o romance Olhos de Caçador, baseado nas sua vivência de África e da guerra colonial´(Sextante, Lisboa, 2007; 2ª edição, 2008).


Título: Olhos de caçador
Autor: António Brito
Editora: Sextante
Local: Lisboa
Ano: 2007
Nº pp.: 406
Preço: 17,00 euros


Sinopse (de acordo com a página do autor)



"O livro Olhos de Caçador tem por protagonista um soldado do exército português chamado Zé Fraga, mobilizado para a guerra colonial em Moçambique. Com um passado de contrabandista e passador de emigrantes na fronteira com Espanha, vivia de expedientes e pequenos golpes, até ao dia em que é preso, alistado e mobilizado compulsivamente.

"Zé Fraga é um rebelde que escarnece da autoridade, da obediência à lei e do respeito pela propriedade alheia. Recusa fazer o serviço militar e viver dentro do seu apertado sistema de regras. Quer continuar a ser um homem livre, sem freio. Mas, ao mesmo tempo, sente-se fascinado pela possibilidade de descobrir um mundo de horizontes sem fim, que só a mobilização para África lhe pode proporcionar.

"Mulherengo, brigão, malandro, Zé Fraga é um sedutor, fazendo relacionamentos e amizades com facilidade. Tendo vivido do contrabando nas serranias das Beiras, ludibriando a GNR e a Guardia-Civil, esse passado rústico de regulares confrontos com a autoridade, vai fazer dele o soldado mais adaptado que todos os outros à dureza do mato africano, sendo temido pelo inimigo, e uma referência de coragem e liderança para os soldados da Companhia".



Vd. tamnbém entrevista com o autor (Ficheiro áudio: 4' 34'') (adicionado por Terraweb)
no programa de Ana Aranha > À Volta dos Livros > Antena Um

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3113: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (4): As exéquias fúnebres (Idálio Reis)



Idálio Reis,
ex-Alf Mil
CCAÇ 2317
Gandembel/Balana,
1968/69



1. No dia 28 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Idálio Reis, com um texto alusivo às exéquias fúnebres dos três camaradas Pára-quedistas caídos em combate em Maio de 1973.


Restos mortais dos nossos camaradas Pára-quedistas, Lourenço, Peixoto e Vitoriano, em câmara ardente na Igreja de N. Sra. do Rosário, em Lisboa.

Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.


Meus caros Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote.

Neste fim-de-semana, a quase generalidade dos órgãos de comunicação social difundiram largamente os funerais dos 3 pára-quedistas mortos na Guiné, nas imediações de Guidage e aí enterrados, em Maio de 1973.

Ainda que a Tertúlia seja conhecedora de algumas das circunstâncias que contribuíram para que as trasladações fossem coroadas de sucesso, parece que os afins Poderes instituídos deste País assumiram uma postura bem condizente para com este colectivo acto fúnebre, ao prestarem uma honrosa e justa homenagem a 3 militares que há trinta e cinco anos haviam tombado ao serviço da Pátria.

É minha opinião que houve um elevado e nobre sentimento de dignidade no gesto prestado.

Mas, o Poder não poderia tomar outra atitude que não fosse esta mesma, aproveitando uma oportunidade única de trazer os restos mortais de 3 soldados tombados no tempo da guerra colonial, que inexoravelmente se vai dissipando na voragem dos tempos.
E havia que os entregar ao seio dos seus mais íntimos, com cumprimento e solenidade cerimoniais as mais apropriadas. E assim foi.

Mas, como chegam estes três homens, passados 35 anos?

Após um intenso trabalho de sapa, onde se deu a conhecer localmente aos familiares dos 3 pára-quedistas e lhes transmitiu as diligências que vinha encetando para resgatar os corpos dos seus ex-companheiros, e tendo ouvido das autoridades políticas e militares que não haveria suficiente capacidade financeira para a trasladação dos 8 militares então enterrados em Guidage (os 3 pára-quedistas com 5 elementos do Exército), a 27 de Junho de 2006 no Post 919 (1), o ex-Sargento Pára-quedista Manuel Rebocho lança este forte e pungente apelo:

- Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973.

A partir daqui, surge o eco amplo do Blogue, e o trilho confinado nos seus escolhos burocráticos, foi paulatinamente sendo alargado.

O País vai tomando conhecimento desta saga e abrem-se clareiras firmes no propósito de se atingirem os objectivos em causa, onde ressaltam a TVI com o nosso Vítor Tavares e mais tardiamente a SIC já com perspectivas bem delineadas e fundamentadas.

No fim do comovente funeral do José Lourenço, onde compareceram conterrâneos, Associações de Combatentes, Executivo Municipal e Junta de Freguesia, muitas Boinas Verdes, tive a felicidade de estar algum tempo com o Manuel Rebocho e o Vítor Tavares. Ambos tinham cumprido mais uma nobre missão e reterei para sempre o sentido e terno agradecimento que os familiares do Lourenço, muito em especial o dos seus pais, tiveram para com aquele homem, que me disse simplesmente que tinha cumprido o seu dever.

Reconheci nele, estar um homem de profundas convicções, de alguém com grande determinação e inabalável querer.

O Rebocho já nos tinha afirmado que não conhecia a palavra desistência. A sua tenaz e acrisolada persuasão, trouxe de volta os seus ex-companheiros Vitoriano, Peixoto e Lourenço, os mesmos que há tantos anos lhes prometera uma sepultura condigna para seu repouso eterno. E a sua obrigação acabara de se concretizar!

Recordo as palavras de alguém que um dia afirmou:

- A memória é a nossa única verdadeira defesa contra a traição e o abandono. Que enquanto se lembrar, está vivo. E ao estar vivo, vive, e assim não deixará morrer quem caminhou com ele, ao longo do caminho.

Uma forte lembrança para toda a Tertúlia, do
Idálio Reis.
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Notas de CV

(1) - Vd. poste de 28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

(2) - Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3111: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (3): Manuel Peixoto, Gião, Vila do Conde (Albano Costa)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3111: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (3): Manuel Peixoto, Gião, Vila do Conde (Albano Costa)

1. No dia 27 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Cumeré, Bigene e Guidaje, 1973/74), dando conta da sua presença no funeral de Manuel Peixoto em Gião, Vila do Conde.

Caros editores
Estive no funeral do Pára-quedista, Manuel Peixoto, de Gião, Vila do Conde. Fiquei bastante emocionado com a recepção feita pelos Pára-quedistas ao seu ex-companheiro, que esteve longe da sua terra natal durante 35 anos, como todos nós sabemos.

Estes momentos costumam ser sempre de tristeza, mas desta vez o que senti, foi uma mescla de várias coisas, alegria pela chegada de um filho à sua terra, pela sua família, - irmã e sobrinhos com quem falei -, e por toda a população de Gião que assistiu, mesmo por aqueles que não o conheceram em vida.

Mas também senti tristeza, lembrei-me dos familiares dos restantes cinco militares portugueses (metropolitanos) que foram exumados, de Guidage para Bissau e não regressaram a Portugal. Lembrei-me muito dessas famílias, como estariam a passar ao verem o regresso de uns, porque não os seus também!...

Não estavam a lutar pelos mesmo objectivos, no mesmo sítio e na mesma altura?

Fiz um registo de 30 fotos da chegada do Peixoto à sua terra de origem, para finalmente descansar em paz junto dos seus.

Um abraço de amizade
Albano Costa

Foto 1 > Na cerimónia estiveram presentes autoridades civis e militares de Vila do Conde. Do lado direito da foto, em primeiro plano, Dr. Mário Almeida, Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde.

Foto 2 > Capelão da Força Aérea que presidiu às cerimónias religiosas

Foto 3 > Restos mortais do Soldado Pára-quedista Manuel Peixoto

Foto 4 > Os Pára-quedistas que assistiam à Missa. Entre eles, o nosso tertuliano Magalhães Ribeiro.

Foto 5 > Deixando a Igreja, agora levado por Veteranos.

Foto 6 > Idem

Foto 7 > Caminhando para a sua última morada

Fotos e legendas: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.

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Notas de CV

Vd. Postes de 2 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3105: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (1): Artigo do DN (Afonso Sousa)
e
3 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3108: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (2): Cerimónias nacionais na Igreja N. Sra. do Rosário, em Lisboa (Mário Fitas)

domingo, 3 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3108: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (2): Cerimónias nacionais na Igreja N. Sra. do Rosário, em Lisboa (Mário Fitas)

1. No dia 26 de Julho de 2008, recebemos do nosso camarada Mário Fitas (ex-Fur Mil Op Esp da CCaç 763, Cufar, 1965/66), uma mensagem com uma vasta reportagem fotográfica das cerimónias nacionais de homenagem aos nossos três camaradas Pára-quedistas, recentemente regressados a Portugal.

Caro Luís,
Acompanhado do meu amigo Rui Trindade Baixa, desloquei-me à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, templo da Força Aérea Portuguesa, para assistir às cerimónias In Memória dos Pára-quedistas mortos em Guidage.

Não tenho oportunidade de escrever muito sobre a Cerimónia, o qual será feito noutra altura.

Tem este o fim principal de enviar as fotos tiradas bem como referir a presença dos tertulianos José Martins e Esposa e do Victor Tavares.

Vão também homenagens do Pára-quedista Carlos Costa e do senhor General Hugo Borges.

De salientar a postura do tertuliano José Martins da forma como esteve e apresentou a algumas entidades o senhor Embaixador da Guiné-Bissau que presumo estaria um pouco isolado.

Foto 1 > Folheto alusivo à cerimónia que se realizou na Igreja Nossa Senhora do Rosário

Foto 2 > Um dos carros que transportavam os nossos malogrados camaradas

Foto 3 > Os corpos dos três Páras, lado a lado, até se separarem definitivamente para rumarem ao seu verdadeiro eterno descanso

Foto 4 > Momento em que são prestadas honras militares aos restos mortais

Foto 5 > Idem

Foto 6 > Aspecto da Missa Solene

Foto 7 > Coro da Força Aérea

Foto 8 > O nosso camarada José Martins em companhia do senhor Embaixador da Guiné-Bissau. Um pouco afastada, Maria Manuela, a inseparável companheira do Zé.

Foto 9 > Representação da Associação de Operações Especiais - Delegação de Lisboa, de que faz parte o nosso camarada Mário Fitas, também na imagem.

Foto 10 > José Martins e esposa, conversam com o nosso camarada Pára-quedista Vitor Tavares

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.


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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 2 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3105: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (1): Artigo do DN (Afonso Sousa)

sábado, 2 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3105: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (1): Artigo do DN (Afonso Sousa)

1. O nosso camarada Afonso Sousa (ex-Fur Mil Trms CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), em mensagem do dia 27 de Julho de 2008, enviou-nos um artigo escrito pelo Jornalista Francisco Mangas, publicado no DN do dia 26.

Na sua mensagem, o nosso camarada escreveu apenas isto:

Zona da Guiné onde, 4 anos antes, passei meio ano do percurso na guerra. Emociona-me este relato. Uma lágrima não pode ser contida.

Restos mortais dos nossos camaradas Pára-quedistas depositados na Igreja da Força Aérea em Lisboa

Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.



2. Com a devida vénia apesentamos o referido artigo





Os heróis que ficaram para trás !

Trinta e cinco anos depois de terem caído na Guerra Colonial, no Norte da Guiné, os restos mortais de três pára-quedistas são hoje sepultados, em Vila do Conde, Cantanhede e Castro Verde. As famílias encerram, assim, um longo luto. É uma história de silêncio e esquecimento, de três jovens mortos em combate, inumados na mata, porque os corpos entraram em decomposição e não podiam ser retirados para Bissau, de uma tropa especial que tem por princípio não deixar ninguém para trás. A Liga dos Combatentes teme que esteja a abrir uma caixa "que nunca mais conseguimos fechar".
Num azulejo, sobre a porta de entrada, a aparição de Fátima aos pastorinhos. A bicicleta preta, pedaleira remota , encostada à parede, que termina num canteiro de margaridas e sardinheiras ressentidas do calor de Julho. É a casa de Lurdes Jesus Faim e Avelino Lourenço, na aldeia de Fornos, Cantanhede, um casal de velhos tocado por infinda tristeza. Hoje, pela tarde, sepultam o filho, que perderam na Guerra Colonial, e talvez a dor.

Um filho ou um anjo? "Era um anjo, por isso não me pertencia." Fala a mãe, comovida, a rever o jovem fardado, no preto e branco das fotos. José Jesus Lourenço, soldado pára-quedista, foi morto em combate na tarde de 23 de Maio de 1973, numa emboscada na zona de Guidaje, no Norte da Guiné. Tinha 19 anos e um secreta paixão a arder no coração. Dois outros camaradas tombaram no mesmo ataque.

Acossada pelos guerrilheiros do Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo verde (do PAIGC), que também controlavam o espaço aéreo, a Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 - porque "ninguém fica para trás" - rompeu com os seus mortos até ao aquartelamento de Guidaje, flagelado há meses pelo inimigo. A aviação, temendo os mísseis, fica em terra, longe do perigo. Os corpos "começaram a entrar em decomposição, cheiravam mal". Foram inumados na mata, no dia 25 de Maio, junto à cerca de arame farpado. E aí permaneceram, com uma mortalha de silêncio e ervas daninhas, trinta e cinco longos anos.

No lugar de Fornos, quarta-feira passada, a primeira pessoa que encontrámos, um homem de bicicleta, antes de nos indicar a casa dos pais do pára-quedista Lourenço, contou-nos, sem esconder o orgulho, outra coisa: "Fui ao juramento de bandeira dele, a Tancos." É da família? "Não, ele era um rapaz bom." Retoma a viagem, a pedalar lentamente como se desse modo iludisse o sol do meio-dia, canto das cigarras e alguma tristeza.

Na base dos pára-quedistas, em Tancos, soubemos depois, desaguou em festa uma pequena multidão, gente de Fornos e de aldeias vizinhas, a testemunhar o gesto de amor à pátria do jovem José Jesus Lourenço. Foi um autocarro cheio. "Parámos em Fátima, dormimos em Tomar e no dia seguinte, pela manhã, estávamos em Tancos". Ele "era o rapaz mais bonito do lugar", lembra Lurdes Faim, a mãe.

Cedo começa a "ganhar a vida", logo após terminar a instrução primária. "A trabalhar no duro", recorda Avelino Lourenço, o pai. Completa, em breve, 81 anos, mas continua a ir a Cantanhede (a 10 km de Fornos) receber a reforma, na pedaleira preta que vimos encostada à parede, junto das margaridas e sardinheiras. "As minhas pernas são a bicicleta." Avelino foi lavrador, "tinha gado" e assim tocava a vida.

José, o seu segundo filho, " cozia cal, enfornava os fornos". Trabalho duro, não há dúvida, para um adolescente. José apaixonou-se por Maria ("um namorico", diz a mãe), mas no horizonte irrompia a tropa, o trágico ir à guerra que tolheu, atormentou, roubou a alegria aos jovens portugueses nos anos sessenta do século passado. O enfornador de cal alista-se como voluntário nos pára-quedistas: tem pressa de ir para voltar depressa e cumprir a paixão.

No dia da partida rumo à distante Guiné, veio muita gente despedir-se do militar à casa dos pais. "Ele levava a mãe no coração, quando saiu à porta pressenti que era o funeral, estava-me a despedir dele para sempre." Lurdes Faim contém as lágrimas, trinta e cinco anos de luto incompleto dá-lhe essa derradeira força.

Hoje, sábado, 26 de Julho de 2008, os pais, as três irmãs e o irmão, sobrinhos e muitos amigos voltam a encher um autocarro. Vão a Lisboa, e voltam com os restos mortais do José."A vinda dele dá-me paz", confidencia a mãe. "Tenho dito às pessoas: cantem e batam palmas quando o meu filhinho chegar à nossa terra. Por favor, não me abracem, não chorem nem me dêem os sentimentos."

A dor, o choque mais duro, conta Lurdes Faim, 77 anos, sentiu-a faz muito tempo. E, por certo, jamais esquecerá esse "28 de Maio" de 1973: pároco de Fornos a entrar-lhe em casa, também destroçado, com a notícia. Foi um choque para a família e para o povo da terra e aldeia vizinha: morria o destemido herói, tão novo ainda. "Era um anjo, não podia ser meu", insiste a mãe, a sublimar a perda.

"Nunca se viu uma coisa tão triste." Agora é Avelino, que se manteve em comovido silêncio a ouvir a mulher, a "recordar a dor". Maria, a namorada vestiu o luto, e todas as raparigas da aldeia, num sentido gesto solidário, "botaram lenço preto" durante largos dias.

No dia 25 de Junho de 1973, Lurdes e Avelino são informados de que o filho já estava inumado, algures na densa mata guineense, e só passado sete anos "poderiam mandar os restos mortais". Mentiram. Afinal, deixaram para trás ("ninguém fica para trás" é o lema pára-quedistas), em terra estranha, José e os outros dois camaradas da companhia mortos na emboscada de 23 de Maio: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos, de Gião, Vila do Conde, e António Neves Vitoriano, 21 anos, natural de Castro Verde.

"Esperámos e desesperámos, a coisa estava de modos a apagar-se", refere Avelino Lourenço. Há dois anos, perdeu a esperança de dar sepultura ao filho, que passou apenas três meses na guerra. José seguia na frente da coluna, atrás de Manuel Peixoto, o primeiro a tombar, atingido por várias balas. Pouco depois de regressar da ex-colónia portuguesa, um camarada veio a Fornos contar à família o que se passou na emboscada, preparada pelas forças de libertação da Guiné. Peixoto resistiu e pediu socorro: "Acode-me, Lourenço!" Este rompeu, porque ninguém pode fica para trás, e é flagelado pelo fogo inimigo. "Morreu para salvar o outro", diz a Lurdes Faim. E lembra as últimas palavras do filho, que o companheiro lhe trouxe, da longínqua mata africana, como se fosse um tesouro: "Ai a minha mãe! Ai a minha namorada!".

A família de Manuel Peixoto, que não resistiu aos ferimentos, também não contava com o regresso das ossadas desta pára-quedista. Gostava de boxe, aprendiz de carpinteiro antes de partir para a Guiné. A mãe não assistirá hoje o funeral, no cemitério de Gião, Vila do Conde, no mesmo dia da romaria da terra, com Marco Paulo como cabeça de cartaz. A mãe de Peixoto morreu em 1996; o pai emigrou para o Brasil, tinha o filho poucos meses, não mais voltou.

Resta um irmão, uma irmã e alguns sobrinhos, que esperam hoje à tarde os restos mortais do militar. "Logicamente, o corpo devia ter vindo logo na hora", refere António Peixoto, que soube da morte do irmão em França, onde está emigrado há quase três décadas. A família não irá a Lisboa para, depois, acompanhar os restos mortais até Vila do Conde.

Maria Alice Carvalho é a guardiã das memórias de Manuel Peixoto, seu cunhado. A memória repartida por dezenas de fotografias . No verso de uma das fotos, que mostra vários companheiros no interior de uma aeronave, o pára-quedista escreveu o seguinte: "Dentro do avião quando íamos para o quartel do exército que está perto da fronteira. Uns riem-se e outros pensam no que podia acontecer perante as operações, mas correu muito bem só tivemos um morto. Pelo contrários, os turras."

A legenda termina assim, sem se saber o número de "turras" mortos nesse combates. A baixa de um militar do lado dos pára-quedistas, segundo soldado Peixoto, nem era assim tão mau. Isto prova o sufoco que as tropas portuguesas sofreram na zona de Guidaje, junto à fronteira do Senegal, nos últimos anos da Guerra Colonial. Peixoto, Lourenço e Vitoriano morrem na operação das forças especiais portuguesas destinada a furar o cerco que os guerrilheiros do PAIGC faziam ao aquartelamento de Guidaje.

Anacleto Costa pertenceu à companhia de Peixoto, não esteve, no entanto, envolvido na missão que vitimou os seus três camaradas. Participou, contudo, noutras situações de conflito ao lado do jovem vilacondense. "Era um homem destemido, uma verdadeira máquina de guerra: eu ouvia um tiro e escondia atrás das árvores, ele não, ele rompia para o inimigo". O irmão confirma, "já aqui era valente, faz parte da família".

Conhecida a notícia da morte, os familiares escreveram algumas cartas ao general António de Spínola - na altura comandante das forças portuguesas na colónia da Guiné -, sem resposta. O silêncio, sempre o silêncio a cobrir os jovens pára-quedistas, sepultados à pressa, num cemitério improvisado.

"Companheiros meus", lembra Anacleto Costa, "queriam ir buscar os seus mortos" a Guidaje. "Os graduados não admitiram, o Spínola também não autorizou." Um anos depois do falecimento, por altura do 25 de Abril, a família recebeu um convite para ir a Lisboa "receber uma medalha de honra" pelos serviços de soldado Peixoto prestados à Pátria.

Saíram bem cedo, regressam de madrugada com as mãos vazias. "Esperámos até à uma da manhã e não recebemos medalha nenhuma. A cerimónia transformou-se num grande comício, viemos embora sem nada", recorda Maria Alice Carvalho.

Os três pára-quedistas da Companhia 121 regressam hoje às suas terras, onde serão sepultados com dignidade, trinta e cinco anos depois de tombarem aos serviço de Portugal. As famílias, que foram ouvidas e autorizaram a exumação e trasladação das ossadas, podem agora, enfim, encerrar o luto. "Agora já posso partir, o regresso do meu filho dá-me serenidade." Diz Avelino Lourenço, a despedir-se de nós à porta da sua casa, na aldeia de Fornos, Cantanhede. Na fachada, o azulejo com a aparição de Fátima; no interior da habitação,vimos mais imagens de Nossa Senhora e os retratos dos filhos, netos e bisnetos.

As cigarras, indiferentes à melancolia do velho, cantam, cantam por dentro da tarde quente.

sábado, 19 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3072: Convite (7): Homenagem a todos os militares que morreram em África (José Pinto)

1. No dia 18 de Julho de 2008, recebemos de José Pinto uma mensagem dando conta das homenagens que se vão fazer aos malogrados Pára-quedistas Lourenço, Peixoto e Vitoriano e, a todos os combatentes que morreram em África, que ainda ali se encontram sepultados.

Homenagem a todos os militares que morreram em África, de armas na mão, e que ainda ali se encontram sepultados.

Sábado, 26 de Julho, comparece!



O Lourenço, o Peixoto e o Vitoriano, mortos em combate na Guiné em 1973, estão finalmente em Portugal e vão ser entregues às suas Famílias.

Os portugueses que o desejem, em especial os antigos combatentes e sobretudo os pára-quedistas, vão homenagear todos aqueles militares que morreram em África, de armas na mão, e que ainda ali se encontram sepultados.

10h00, na Igreja da Força Aérea em S. Domingos de Benfica - Lisboa;

14h00, na Escola de Tropas Pára-quedistas, em Tancos;

17h00, no funeral do José Lourenço em Cadima – Cantanhede;

18h00, no funeral do António Vitoriano em Castro Verde;

19h00, no funeral do Manuel Peixoto em Gião, Vila do Conde.

Em Lisboa, na Igreja da Força Aérea, a missa será celebrada pelo Bispo Castrense auxiliado por antigos capelães pára-quedistas, na presença das urnas dos três militares agora trasladados da Guiné e das suas famílias.

Em Tancos, na Escola de Tropas Pára-quedistas, junto ao Monumento aos Mortos em Combate terá lugar a cerimónia do “Último Adeus dos Pára-quedistas”, após o que as urnas seguirão para as localidades de origem dos três militares.

Em Cadima, Castro Verde e Gião, de onde saíram há 35 anos, terão lugar, com honras militares, os funerais do Lourenço, do Vitoriano e do Peixoto.

Estes camaradas de armas são os últimos pára-quedistas mortos em combate a serem devolvidos às suas famílias, mas também os primeiros militares portugueses sepultados em África que regressam à Pátria

Sábado, 26 de Julho, comparece!


Mais esclarecimentos:
União Portuguesa de Pára-quedistas e Pára-Clube Nacional «Os Boinas Verdes»: Telefone 249 711 449; fax 249 711 161; email: pcnbv@sapo.pt