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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22387: Blogoterapia (298): "Safety, first"?... Então eu não posso partilhar os meus "contactos pessoais" com aquele ou aqueles camaradas que deles precisam? (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018


 1. Mensagem de  João Crisóstomo [Foto à direita: o nosso camarada e amigo luso-americano, natural de Torres Vedras, que, como ativista social, tem, dado a cara por muitas e boas  causas, como a da autodeterminação de Timor Leste, gravuras de Foz Coa, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun]
 
Date: domingo, 4/07/2021 à(s) 12:00
Subject: contactos pessoais

Caro Luís Graça,

Às voltas, "visitando" pelo computador os nossos "camaradas da Guiné", fui dar com duas frases, comentários teu e do Valdemar Queirós. Dizes tu, a 6 de Abril deste ano, Post 22078,  em comentário a outro comentário do Valdemar que dizia  "Sem o computador que faz de livro, jornal de notícias, sala de cinema e teatro, troca de conversas com familiares, amigos e camaradas da Guiné, e sem poder sair de casa"... Etu respondeste: "se alguém quiser telefonar-lhe, que me peça o número: dá-lo-ei, com todo o gosto... Sabe tão bem ouvir uma voz amiga quando se está doente e sozinho, em casa!"... (*)

Em resposta, vou-te já telefonar para me dares o número dele. Para mim, mais do que uma simples "acção benfazeja" de estender a mão a quem quer dela necessita, é uma obrigação fazê-lo quando as circunstÂncias o permitem fazer. E mais razão ainda quando estes por qualquer motivo fazem parte do nosso círculo de amigos, como são todos aqueles a quem as mesmas experiências e vivências na Guiné e outros TO fizeram deles meus / nossos irmãos.

Para mim, pessoalmente , eu sinto que, apesar de todos os facebooks, blogues, twitters e tantos meios digitais, nada chega a uma chamada telefónica em que se ouve do outro lado da linha a voz de alguém, seja um familiar ou mesmo alguém que até nem se conhece, mas que naquele momento é o melhor amigo a dar um abraço tão preciso e apreciado em momentos de solidão e quem sabe de sofrimento físico e mental?

Puxa vida, Luís. Não haveria maneira de, sem prejuízo da privacidade de ninguém, podermos ter os contactos telefónicos daqueles camaradas que não se importam, e até gostariam, de receber uns telefonemas pessoais e directos , especialmente quando estão por qualquer razão confinados, "sem poder sair de casa"?

Por mim, já mais do que uma vez deixei os meus contactos, de email e telefónicos. Não hesites em os partilhar, pessoalmente ou mesmo no blogue se assim entenderes. Eu sei - várias vezes tenho sido avisado - que é preciso cuidado etc.,  etc.,  mas por outro também sei que de "amigos" eu não preciso de ter medos. 

E se alguém que não é amigo meu mas apenas "amigo da onça" quiser os meus contactos?… Hoje em dia é possível encontrá-los. Eu não sei encontrar contactos sem ser por meios directos e pessoais, mas por muitas experiências já vividas pessoalmente, verifico que os meus contactos foram parar a indivíduos que não são meus amigos nem o são de ninguém. E não são estes cuidados e precauções nossas que os impedem de obter as nossas informações e contactos pessoais.

Abraço grande,
João
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Nota do editor:

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20391: (De)Caras (144): A liberdade que as motos e as motorizadas nos davam... Ia-se de Bissau a Safim, Nhacra, Ensalma, João Landim... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAC 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 >  Guiné > Região de Bissau >  11 de março de 1968 > Ponte sobre o rio Mansoa, em Ensalmá (, inaugurada em 1952). De motorizada, o fur mil SAM Riquito (Peugeot) e o alf mil SAM Virgílio Teixeira (Honda)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > 11 de agosto de 1968 > Rio Mansoa, João Landim, junto à "famosa jangada"---


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968: um salto mortal...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário ao poste P20386 , com data de 27 nov 2019, 23h33,  de Virgílio Teixeira,   ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1965/67) (*):


Luís, só agora estou a ver estas fotos, excelentes, e de motas a sério, bem como esta mensagem.

Virgílio Teixeira (*)
A minha foto de Safim, está correcta, é em março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Brá. Era uma Peugeot, acho que de 50 cc, uma coisa de dar gás, mas que me levava a todo o lado.

Virgílio Teixeira (*)
Depois temos outra em Bissau, na minha nova Honda de 50 cc, ali ao lado era onde se realizava o famoso mercado de Bandim.

Não sei se já foi enviada, estão tantas em postes, mas esta em João Landim (Foto nº 2), junto à jangada que me levou para a outra margem, já não sei o nome do local. Jugudul,  talvez, A mota, que não sei a marca, era de um outro militar, furriel, que está junto de mim.

Tenho outra que também junto, numa outra altura, em que estou eu e o meu Furriel Riquito, na ponte de Ensalma (foto nº 1), e são ambas minhas, a Peugeot e a Honda, mais nova, que tinha lugar para passageiro.

Vejo agora que não tinham matrículas, não devia ser preciso, há aqui uns anos de diferença, ou as motas tinham que ter a matricula ?!

Ambas foram compradas na mesma casa aqui referida, era o representante da Peugeot, e outras marcas e comprei lá ambas, acho que custaram uns 5 contos cada. Não sei o que fiz delas, penso que as deixei por lá, não vendi nada, isso eu sei.

António Martins de Matos (*)
Com aquela de 200 cc [, do ten pilav António Martins de Matos] (*), podia 'abrir' à vontade, e fugir dos turras que por acaso aparecessem, o que não foi o caso.

Em Nhacra no meu tempo, não se comia ostras em parte nenhuma, e em Safim, eram camarões, e talvez ostras, mas não me lembro. Ostras comia por todas as esplanadas em Bissau.

Em Nhacra ia dar uns mergulhos à piscina do quartel, lá de cima da prancha. Junto duas fotos, para os devidos efeitos, estão todas fracas, mas ainda não tinha os dons da fotografia {Fotos nº 3 e 4].

Não parava de contar aventuras, mas tenho receio (medo!) que me venham a dizer que eu fazia a guerra a andar de motorizada, quer pelas aldeias e cidades à volta de Bissau, ou a percorrer o Pilão.

Eduardo Jorge Ferreira
 (1952-2019) e Jorge Pinto (*)
Como se pode ver, quem podia, comprava uma, porque era uma grande independência para a gente desfrutar por todo o lado, sem horários, sem stress [, como era o caso do alf mil Polícia Aérea, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2'0199]

Por agora é tudo, gostei de ver novamente as minhas fotos nas minhas loucuras pela Guiné. Tempos, de saudade, pois tinha muito menos idade, e por tudo o mais que não posso aqui  'introduzir' !

P.S. Ressalvo, quaisquer erros, omissões e outras bestialidades que possa ter escrito em cada foto.

Um abraço, podes publicar o meu comentário, se for de interesse.

Um abraço, Virgilio



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Ensalma, Nhacra, ... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... 

Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...Pelo menos, não consta que tenha morto ou apanhado à mão algum militar que circulava, de moto, ou de motorizada, pela região de Bissau, na maior das calmas... Afinal de contas, Bissau era uma "ilha" e uma "fortaleza"...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).
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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 27 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19854: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (9): Dicas para viver e sobreviver em Bissau: Custos mensais de estadia aproximados por voluntário com a casa habitada por 3 pessoas: 105 mil Francos CFA (c. 163,00 Euros)

1. Mensagem do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é lisboeta,fez o Liceu Pedro Nunes, é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol, tem fortes ligações à minha terra natal, onde agora vivo, Lourinhã, Oeste, Estremadura...

Acaba de regressar de uma missão de 3 meses  em Bissau,como voluntário na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo



Data: 2 de junho de 2019 01:34
Assunto: Missão na Guiné




Boa noite, Luís
Aqui vai alguma informação do que foi a missão na Guiné.


Enviar-te-ei fotografias logo que estejam editadas.

Grande abraço,
Luís Oliveira


Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (9):  Dicas para viver e sobreviver em Bissau: Custos mensais de estadia aproximados por voluntário com a casa habitada por 3 pessoas:  105 mil Francos CFA (c. 163,00 Euros) F CFA – 163,00 €
 


Excerto do relatório de 22 pp, com 4 anexos:


Missão de Voluntariado na Guiné-Bissau


Luis Mourato de Oliveira

2 de Março 2019 a 30 Maio de 2019

Objectivo:

1 - Criação de uma Oficina de Andebol na Escola Privada Humberto Braima Sambú.

2 – Participação e cooperação noutras iniciativas de interesse da Escola Humberto Braima Sambú e da comunidade. (...)


Um primeiro excerto:

Anexo 4 - MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA D VOLUNTÁRIO

1. Custos fixos

Renda da casa (pago no inicio do mês) 100.000,00 F CFA

Cozinheira (final do mês) 40.000,00 F CFA

Aquisição alimentos (diária por pessoa) 1.000,00 F CFA

Limpeza /abastecimento de água (final do mês) 30.000,00 F CFA

2. Custos Variáveis:

- Arroz, Azeite, óleo (valor mensal P.P.) 4.000,00 F CFA;

- Eletricidade pré-paga /mensalmente 1.000,00 F CFA;

- Pequeno almoço p/dia (1⁄2 pão + leite + manteiga) 600,00 F CFA.

3.Observações:

Para pagamento da eletricidade pré-paga:

- Obrigatório o pagamento mensal dado haver uma taxa de utilização;

- Fazer o controlo da energia existente no contador situado no alpendre no lado direito da porta principal;

- Consumo normal 2 KW /dia;

- O pagamento é efectuado em Bissau Centro na CAIXA (Perto da sede da MTN);

- No pagamento apresentar número do contador 01 4519 6126 0;

-Intoduzir no contador o número de pagamento indicado no recibo e clicar "enter".

Segurança:

-Durante a noite fechar as portas de ferro dos alpendres e manter a luz destes ligada.

-Sobretudo as voluntárias não devem circular sozinhas no bairro após a meia noite e durante a madrugada. Se tiverem de sair para viajar e tomar transporte pedir a colaboração de alguém. Aconselho o Romário, presidente da Associação de Alunos da Escola.

-Nos transportes, em locais com menos circulação e à noite,  máxima atenção na utilização dos telemóveis. O telemóvel é um objecto apetecível e há roubos frequentes.

Nota final – As recomendações de segurança resultam de experiência anterior em que voluntárias foram assaltadas perto da casa dos voluntários.

Custos mensais de estadia aproximados por voluntário com a casa habitada por 3 pessoas: 105.000 F CFA, c. 163,00 €

terça-feira, 12 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19577: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (4): dia de Carnaval + Eleições = Carnaval Total


Guiné > Bissau > Julho de 1973 > Monumento do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, avenida marginal e área portuária... Um dos "bilhetes postais" que ficaram no "álbum da nossa memória"...

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Quarta crónica do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; lisboeta, tem fortes ligações à Lourinhã, Oeste, Estremadura...

Chegou a Bissau, a 2 de março, e aqui vai estar 3 meses como voluntário na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)



Dia de Carnaval + Eleições = Carnaval Total


por Luís OLiveira


Feriado de carnaval e a Escola [privada Humberto Braima Sambu], tal como em Portugal, dispensou os nossos serviços, portanto de manhã a equipa de voluntários obrigou-se a tratar do cabedal: TRX, elásticos de força, escada de motricidade ....toca a correr, salta aí, nada de pisar os limites, puxa, estica, geme, respira bem. Enfim,  uma suadeira em que fomos bem espremidos e até deixou algumas dores de corpo, mas “no pane, no game” , como dizem os guineenses ?


Após o almoço apanhamos o toca-toca, transporte colectivo local que aceita um número quase ilimitado, quer dizer os limites correspondem à quantidade de clientes que se querem fazer transportar, mas nunca há gente a mais e todos cabem.


Quem gostar de emoções fortes pode perfeitamente dispensar uma ida à EuroDisney e abdicar de qualquer montanha russa porque aqui a adrenalina é maior e sai muito mais barato. Por cem francos (0,15 €) fizemos um percurso de talvez quinze quilómetros e o condutor quando se apercebeu que o nosso destino era o Pidjiguiti, alterou a rota e deixou-nos junto ao cais... Fantástico!


Encontrámos-nos num bar com um amigo da Nonô, o Itum, guineense e licenciado em economia pela faculdade do Porto, e que decidiu trocar a boa vida da Europa para colaborar no desenvolvimento do seu País que tanto precisa.

A conversa foi animada e prolongou-se pela tarde até que fomos alertados que todas as ruas de Bissau ficariam vedadas ao trânsito até ao final dos festejos. E agora? Quinze, talvez muitos mais quilómetros para fazer no labirinto urbano de Bissau! Só chegaríamos a casa talvez no fim de semana.


O movimento de pessoas é inimaginável, todas as ruas e becos estavam apinhados de gente deslocando-se em todas as direções e tive a sensação se ser uma formiga dentro da caótica azáfama do formigueiro. Devo dizer que, para além de nós (as formigas), circulavam porcos das mais variadas dimensões e até vacas, parecendo estes absolutamente indiferentes ao Carnaval.


É uma alegria ver uma população numerosa, constituída maioritáriamente por jovens e milhares de crianças. Todos irradiando alegria, distribuindo sorrisos, boa disposição e pequenas provocações cheias de graça e sem maldade:

– Olá, branco, olélé!

Um cenário cheio de contrastes para quem anda no Metro de Lisboa e vê carruagens carregadas de gente madura, com ar carrancudo de quem pouco dormiu ou esteve atenta aos telejornais. Todos presos aos smartphones, talvez para imaginarem estar num mundo virtual, melhor que a estação do Campo Grande.

Mas lá fomos andado, queríamos chegar a casa e o Itum ainda nos fez companhia por largos quilómetros procurando as mais difíceis vielas, com a esperança de encontrar algum transporte em fuga à legalidade e que pudessemos aproveitar.


Num aperto de gente e em marcha lenta, circulava um carro com dois ocupantes, homens, que quase pararam em jeito de quem oferece boleia junto à Sílvia e à Nonô. Comecei a ficar preocupado com a coisa porque na minha cabeça e, lembrando Lisboa, os “marmanjos” podiam ter alguma na ideia.


Elas são voluntárias na Guiné por alguma razão! Têm coragem, aceitaram a boleia, dizendo que eu também as acompanharia, mais conversa com o Itun e entramos na carripana que nos levaria pelo menos perto de casa. 
O condutor contou-nos parte da sua vida em Lisboa, Odivelas, Brasil e até esteve na Alemanha. Do pendura pouco soubemos por ser mais reservado e  o seu português ser mais limitado, mas fomos conversando e andando e o estado de alerta que eu tinha criado, foi-se diluindo porque percebi que a Sílvia, prudentemente, ia acompanhando a viagem pelo GPS e estávamos no caminho certo, e chegámos ao ponto que pretendíamos na proximidade da casa, já aliviados.


Na despedida e tendo em conta o longo e difícil percurso que os nossos "salvadores" tinham feito apenas para nos auxiliar, sabendo que a vida é muito difícil e os jovens não eram ricos, procurando não os ofender, sugeri que aceitassem a nossa colaboração para pelo menos os compensar do combustível que gastaram pois não era aquele o seu destino. A nossa oferta foi de imediato recusada. 


– Vocês estão na Guiné-Bissau para ajudar, nós temos prazer em retribuir...


... E a troca foi apenas um abraço e desejo de saúde e felicidade.


Eles merecem mais que isso.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18889: A travessia do Rio Corubal em Cheche: inquérito (1): resposta de Domingos Gonçalves (ex-alf mil da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)



Guiné > Zona Leste > Região do Boé > Cheche > 6 de Fevereiro de 1969 > A jangada, de reserva, com sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé (*)

Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Resposta, de ontem, às 8h55,  do Domingos Gonçalves Gonçalves ao nosso inquérito sobre a travessia do rio Corubal em Cheche.

[Foto à direita: Domingos Gonçalves foi alf mil da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68): tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue]
Bom dia,

A jangada era manobrada por um nativo, que residia no Che-Che. Em 1966 transitávamos com alguma segurança do Gabú, até ao Che-Che.


Não tinham lugar emboscadas, nem havia colocação de minas. Os problemas, graves, começavam depois da travessia do rio.

A jangada daquela época era insegura. O pessoal passava para o outro lado em pequenos grupos.

Recordo-me de pelo menos uma viatura carregada de munições ter caído no rio, com a respectiva carga.

Um abraço


2. Inquérito sobre a travessia do rio Corubal em Cheche:  questões a responder, no todo ou em parte,  por quem lá esteve ou por lá passou até ao trágico dia 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios, retirada do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento de Cheche):

(i) quem manobrava a jangada ?

(ii) em princípio havia duas jangadas, sendo uma de reserva ?

(iii) também havia m sintex ou equivalente para ligar as duas margens ?

(iv) qual era a lotação habitual da jangada ? E a máxima ? Dois pelotões, 60 homens ? Menos, talvez 40 ?

(v) no caso das viaturas, a jangada podia transportar quantas e quais de cada vez ? Uma GMC ? Dois Unimog 404 ? Três Unimog 411 (burrinhos) ?

(vi) havia instruções  (explícitas, escritas ou orais) de segurança ?

(vi) no teu tempo, havia uma tabanca, em Che-Che, na margem esquerda (ou margem sul)  ? Eram fulas ? Era grande ou era pequena ? Quantas moranças tinha ? Havia milícias, abrigos, população em autodefesa ?

(vii) de que lado é que podia vir uma emboscada ou flagelação ? Da margem esquerda/sul (tabanca Cheche) ou do lado direita/norte  (destacamento de Checje / estrada de Canjadude) ? Ou de ambos ? 

(viii) alguma vez apanharam com minas anfíbias, minas /AC, minas A/P ou armadilhas, no rio, no ancoradouro, ou nas margens, ou na picada que leva até lá ?

(ix) imagino que os reabastecimentos fossem um inferno, e pior ainda no tempo das chuvas...

 (x)  quem guarnecia o destacamento de Cheche ? Talvez a CCAÇ 5, que estava em Canjadude, "Os Gatos Pretos", uma africana, a que pertenceu o nosso camarada e colaborador permanente, o José Marcelino Martins, fur mil trms ? Ou era outra subunidade ?

(xi) quantos homens tinha o destacamento de Cheche ?  Um pelotão ? Tinha armas pesadas (morteiro 81, metralhadora pesada, canhão s/r...) ?

(xii) quando se vinha do norte (estrada de Gabu e Canjadude) e  se fazia a trasvessia para o outro lado (tabanca de Cheche, destacamento de Béli, quartel de  Madina),  ficava  uma força a fazer a segurança ?... Era só o destacamento de Cheche ?  ou havia reforço da guarnição ?

 (xiii) O cabo que atrvessava o rio,  não era de aço, mas sim de  corda... Certo ? De aço seria pesadíssimo... E estava sempre montado e esticado ?

(xiv) e a jangada tinha motor auxiliar ? A jangada também era puxada a força de braço ? 

(xv) houve, no teu tempo, algum acidente ou incidente com a jangada ? Alguém (ou viatura) caído ao rio ?

(xvi) qual seria a largura e a profundidade do rio em Cheche ? No tempo seco e no tempo das chuvas
? (O desastre do dia 6/2/1969 foi no tempo seco...).

(xvii) Mais algum comentário ou observação:

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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16791: Inquérito 'on line' (91): A "batota" que fazíamos no mato ?... Tenho dificuldade em responder por dois motivos: (i) a decisão não estava nas minhas mãos; e (ii) no Xime não podíamos deixar de privilegiar o conceito "A segurança, em primeiro lugar"... (Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Especiais, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > c. 1969/70 > Xime > Margem esquerda do Rio Geba > O cais do Xime... que alimentava o "ventre do leste"... Por aqui passaram milhares de homens, viaturas, equipamentos, armas, munições, géneros alimentícios, etc. Desembarcados das LDG, seguiam depois pela estrada (alcatroada já no tempo do Jorge Araújo ) Xime-Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego-Piche, etc. até pontos mais longínquos, já fronteira (Sare Bacara, Pirada, Canquelifá, Bajocunda, etc.).

Havia um aquartelamento na margem esquerda, guarnecido por uma companhia de quadrícula, além de um Pel Art (obus 10.5). Havia ainda uma tabanca (c. 250 habitantes), e no regulado do Xime três destacamentos de milícias (Amedalai, Demba Taco e Taibatá)..

Na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime, situava-se a povoação e destacamento do Enxalé, /povoação outrora importante?.  A montante do Xime  ficava o reordenamento (e destacamento) de Nhabijões, os destacamentos de Mato Cão, Missirá, Finete, o qiartel de Bambadinca...Entre Xime e Bambadinca, no Rio Geba Estreito, circulavam as embarcações civis (também conhecidas por "barcos turras")...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Comentário (*) do nosso camarada e colaborador assíduo do nosso blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74),  


Camaradas,

Como certamente aceitarão, vivi como elemento do colectivo da CART 3494 muitas emoções/tensões na geografia do Xime (1972/73), umas mais fortes outras mais suaves, mas todas juntas dão corpo ao meu “livro de memórias” daqueles anos, experiências únicas e, até ver, inesquecíveis. Desde emboscadas em situação adversa e em inferioridade numérica, naufrágio, mortes e outras situações já descritas em narrativas publicadas anteriormente, tenho uma colecção de eventos que fazem de mim uma “pessoa rica” ou que dão título à formação militar que conclui em Lamego: «A sorte protege os audazes».

Quando se aborda a temática «A batota que fazíamos na guerra»…, tenho muitas dificuldades em responder, na medida em que não dependia de mim decidir sobre o que quer que fosse, pois estava sujeito à hierarquia, e quando entrava em operações mais problemáticas, as informações que me transmitiam eram escassas ou quase nulas.

Por outro lado, a situação geográfica do aquartelamento do Xime, não permitia fazer muitos “desvios” aos que faziam parte do “protocolo”, em que a principal missão estava relacionada com o conceito de Segurança, tarefa prioritária e diária que fazia parte da agenda dos diferentes Grupos de Combate.

Todas elas teriam de ser cumpridas com o máximo de rigor e superior atenção, pois tínhamos de garantir a segurança possível em parte do troço que ligava o Xime a Bambadinca, por causa/efeito do tráfego rodoviário que aí ocorria, uma vez que a possibilidade mais exequível para chegar à capital [Bissau], ou desta ao extremo leste do território, de que são exemplos: Bafatá, Contuboel, Nova Lamego, Piche, Canquelifá, Paunca, Galomaro, Mansambo, Xitole, Saltinho, …, só poderia acontecer por via marítima [Rio Geba].

Porque o cais do Xime era utilizado diariamente, quer como ponto de chegada e/ou de partida, por onde circulavam semanalmente centenas de militares e civis e uma vasta panóplia de produtos e equipamentos, este assumia-se como local político-militar-económico estratégico por excelência.

.Deste modo o nosso grande objectivo operacional era garantir a máxima segurança a todos os que dela necessitavam naquele troço, todos os dias, entre as 07.00/07:30H até ao pôr-do-sol ou, em situações particulares, até que ficassem concluídas as actividades portuárias, no local conhecido por Ponta Coli, onde os grupos escalados das diferentes Unidades de quadricula foram surpreendidos por bigrupos de guerrilheiros do PAIGC, no caso da CART 3494 em 22ABR1972 e 01DEC1972, daí resultando baixas de ambos os lados. 

Outro tipo de segurança que realizávamos estava relacionada com a protecção às embarcações que navegavam no Geba, onde os Gr Comb da CART 3494, algumas vezes reforçados por Gr Comb da CCAÇ 12,  percorriam os itinerários ícones do Xime, como sejam os exemplos de «Ponta Varela», «Madina Colhido», «Gundaguê Beafada» e «Poindon», em patrulhamentos ofensivos, montagem de emboscadas e outras missões/acções mais específicas, umas vezes com contactos outras de sentido inverso.

Perante o exposto, em que situações era possível “fazer batota”?.

Ab. Jorge Araújo

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quarta-feira, 12 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12827: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VII): Fotos de estrada, onde a velocidade máxima era de 40 km (e nas povoações, 35 km)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Saída de Nova Lamego para Canquelifá com "armas, bagagens, mulheres e filhos dos nossos soldados" (1)


Guiné > Zona leste > ; Região de Gabu >  Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Saída de Nova Lamego para Canquelifá com "armas, bagagens, mulheres e filhos dos nossos soldados"  (2)


Guiné > Zona leste > ; Região de Gabu >  Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Saída de Nova Lamego para Canquelifá com "armas, bagagens, mulheres e filhos dos nossos soldados"  (3)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) &gt > > Estrada de Piche-Ponte Caium (1)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) &gt > Estrada de Piche-Ponte Caium (2)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) &gt > "Viatura nossa que sofreu uma mina na estrada de Cabuca" (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) &gt > "Viatura nossa que sofreu uma mina na estrada de Cabuca" (1)


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]





1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau ... Texto e fotos enviadas, em 9 de fevereiro último, pelo Valdemar Queiroz, nosso novo tabanqueiro, nº 648 [, em Contuboel, 1969, acima] (*)

Diz a última parte do texto, muito laconicamente:

"Depois, a partir de Nova Lamego, andámos em intervenção na zona leste, a nível de dois pelotões, por Cabuca, Cancissé, Madina Mandinga, Dara, Piche, Ponte Caium, Dunane, com permanência perlongada em Canquelifá, até nos fixarmos em Paunca e Guiro Iero Bocari."

Vamos apresentar fotos, com legendas destes vários lugares por onde passou o nosso camarada Valdemar Queiroz, esperando que ele e outros "lacraus" complementam esta informação.

Hoje  são  fotos de  "estrada", em que os heróis eram os condutores auto... Pormenor de segurança: a velocidade máxima das viaturas militares, no CTIG, era de 35 km nas povoações e 40 km nas estradas (?)...

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Nota do editor:

(*) Vd. últino poste da série > 10 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12820: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VI): Fotos de Nova Lamego: a escola de cabos: eu, com os soldados do meu pelotão Alauro, Boi, Saliu, Alseine e Adulo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10890: (In)citações (46): Em louvor das canoas nhomincas... e a propósito da notícia do trágico naufrágio de 28 /12/2012, ao largo de Bissau (Patrício Ribeiro)


Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros. A sua lotação máxima são 100 passageiros.

Foto: © Patrício Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [, foto á direita, quando fuzo em Angola](*):


Data: 31 de Dezembro de 2012 18:02

Assunto: Guiné-Bissau de luto nacional por causa de naufrágio de piroga  + Canoas Nhomincas


Luís

Não me apetece comentar [, a notícia do trágico naufrágio ocorrido em 28 de dezembro, ao largo dop porto de Bissau, com um canoa sobrelotada, que vinha de Bolama] (**), mas...

Já viajei nestas canoas nhomincas, algumas centenas de horas (, talvez até milhares),  para todas as Ilhas dos Bijagós.

Para Bolama, viajei muitas dezenas de vezes, em diversas embarcações. Quer nestas canoas, ou pequenos botes, algumas vezes durante a noite. Nos últimos tempos em barcos grandes, que até há pouco tempo faziam a carreira duas vezes por semana, e que agora estão avariados.

Algumas vezes nestas viagens tinha por companhia o Comandante Alpoim Calvão, meu comandante na Escola de Fuzileiros em 68/69, que lá tem, [em Bolama,]  uma fábrica de descasque de caju e dá emprego a mais de 200 pessoas.

Em 2012, viajámos juntos 2 vezes, 5 horas para cada lado. Os barcos tinham que passar por Bolama de Baixo, devido ao calado, não podiam passar pelo canal.

As canoas passam pelo canal de Bolama com a maré cheia, levam 2,5 horas em cada percurso. Nesta época do ano, há marão entre a Ilha das Areias até Bissau, o lugar pior é já perto de Bissau, as ondas são maiores e apanha também as correntes sempre muito fortes das marés, foi o que aconteceu infelizmente, com esta.

As coisas nem sempre correm bem, nesta época do ano entre Dezembro e Janeiro, devido aos ventos que provoca o marão, que são ondas de 1 até 2 metros.

É que devido a estas desgraças, há 3 ou 4 anos o governo decretou, que todas as embarcações tinham que ter: (i) um rádio de comunicação; e (ii) coletes salva vidas para todos os passageiros, e que (iii) cada embarcação só podia levar um determinado número de pessoas.

Já estive algumas horas à espera que a polícia marítima fizesse sair os últimos que entravam contra as ordens dos marinheiros da embarcação... É muito difícil... Ninguém quer sair... Toda a gente se conhece... São todos amigos... Não há respeito pelas autoridades... E a hora da maré não espera... É tudo contra relógio!

A maioria das vezes lá segue viagem com o dobro ou o triplo dos passareiros. Uma vez de Bubaque para Bissau, contei 200 pessoas numa canoa grande, trazia a mais, 100 pessoas, não foi nada fácil chegar ao destino…

Já passei por grandes problemas que davam para contar durante horas, mas como dizem os meus amigos... "chego sempre"... E eu acrescento: até agora, felizmente! Foi numa destas canoas "nhominca", que fiz a viagem para a fragata Vasco da Gama, acompanhado de outros portugueses [, em 1998]…

Por vezes quando todos entram em pânico, é necessário tomar algumas atitudes pouco "recomendáveis" e tomar conta da embarcação, que o digam os meus colaboradores, ou alguns nossos amigos, que brincam com o que às vezes tenho que fazer, para que tudo corra bem. "É necessário que cada um fique no seu lugar, não deixar que corram todos para o mesmo lado".

As canoas nhominca são as melhores embarcações e que se adaptam ao mar desta costa de África. O povo Nhominca foi quem as construiu há séculos, propositadamente para este mar!...

Já mandei construir algumas destas canoas, que depois entrego aos projectos, em pequenos estaleiros em Bissau, ou no grande estaleiro de Zinguichor, no Senegal. A maior concentração destas embarcações que já vi, foi em St. Louis, no norte do Senegal, umas largas centenas! Elas percorrem todo o mar costeiro, nesta costa de África, à pesca.

Boas festas

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
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Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
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impar_bissau@hotmail.com

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10715: (In)citações (45): Carlos Guedes e Teco com livro sobre a CCAÇ 726, em preparação (Virgínio Briote)


(**) Excerto de notícia  da Lusa, publicada no JN - Jornal de Notícias, de 2 de janeiro de 2013:

(...) A polícia marítima da Guiné-Bissau confirmou, esta quarta-feira, que subiu para 29 o número de mortos no naufrágio de uma piroga em 28 de dezembro ao largo de Bissau.

Fonte da polícia marítima disse à agência Lusa que até terça-feira foram oficialmente contabilizados 29 mortos, depois de ter sido encontrado o corpo de um homem de 30 anos junto ao cais do porto comercial de Bissau.

O corpo foi levado para a morgue do hospital Simão Mendes, disse a fonte da polícia marítima, que confirmou que nos últimos dias têm sido encontrados corpos de náufragos "em lugares diferentes".

A mesma fonte confirmou também que a Policia Judiciaria (PJ) já tomou conta do caso estando neste momento a ouvir as pessoas diretamente envolvidas no acidente, nomeadamente o capitão do porto da ilha de Bolama, de onde partiu a piroga que naufragou, o dono da embarcação e a tripulação da mesma. (...)

No discurso à Nação por ocasião do fim do ano, o Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo exigiu que as pessoas responsáveis pelo naufrágio sejam encontradas e castigadas para que situações do género não voltem a acontecer no país.

Cinco dias após o naufrágio, a polícia marítima e a capitania dos portos de Bissau continuam sem saber quantas pessoas poderiam estar na piroga uma vez que os números de passageiros oficialmente transportados pela embarcação não coincide com aquele que tem sido referido pelos passageiros sobreviventes do naufrágio.

O delegado da polícia marítima de Bolama alega que a embarcação transportava 97 pessoas e os passageiros afirmam que seriam entre 150 a 200 pessoas. (...)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7484: FAP (58): Se perguntar não ofende... Qual era a segurança dos camiões com bombas de avião que circulavam entre Bissau e Bissalanca ? (Nelson Herbert)

1. Comentário do nosso amigo Nelson Herbert ao poste P7303:

 Em miúdo, em Bissau,  um aspecto que sempre moveu a minha curiosidade, devido em parte à natureza letal da coisa (quiçá esteja errado),  era a aparente facilidade com que as bombas dos aviões eram por vezes expostas, em camiões abertos, defronte à messe dos sargentos da Força Aérea,  que eram meus vizinhos...

Era comum ver os tais longos camiões militares, de cor azul, a cor da força aérea, com carregamento de bombas (umas 10 a 20 peças), estacionados à porta da messe... Tudo assim exposto, com a criançada brincando ao largo...

Calculo que,  na viagem de regresso à Base de Bissalanca, tenha virado hábito dos motoristas desses camiões estacionar à porta da messe, para uma cervejinha qualquer... Quem sabe ?

Hoje pergunto: tal exposição não feria os mais elementares códigos de segurança ? Que riscos comportava ?  Ou era tudo natural e da praxe ?

Nelson Herbert

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

Foto: Bomba de Fiat G-91, de 750  libras. Cortesia do blogue do nosso camarigo Victor Barata, Especialistas da Base  Área 12 Guiné 1965/74 (a quem retribuímos as saudações bloguísticas pela quadra festiva de Natal e Ano Novo.
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Nota de L.G.: Último poste desta série > 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7452: FAP (57): Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra? (António Martins de Matos)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7308: Em busca de... (149): Imagens ou notícias de Fuzos & Chaimites, em Bissau, em Janeiro de 1970 (a/c de Blogue Barco à Vista)




Guiné > Zona leste > Região de Gabú > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > s/d >  Chaimite, atravessando o Rio Geba   Esta viatura blindada deveria, possivelmente, pertencer ao Esq REex Fox 8840 (Bafatá, 1973/74). Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Jacinto Cristina (residente em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo), que esteve 14 meses destacado na Ponte de Caium. A foto  não traz legenda. Na imagem consegue-se "identificar" dois graduados, um capitão e um alferes...

Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Questão que um nosso leitor, Duarte, oficial superior do Exército, no activo (que eu não identifico pelo apelido, por razões de deontologia profissional),  me pede para levar ao conhecimento aos camaradas que estiveram no TO da Guiné:

 Data: 17 de Novembro de 2010 15:46
Assunto: Questão para blogue 

Caro Luís,

Tenho acompanhado o seu blogue e noto que vai de vento em popa! É um facto inegável que tem contribuído, juntamente com os seus camaradas,  para a redacção de livros sobre o conflito colonial, por tal Bem Hajam!

Desta vez peço-lhe um favor para auxiliar o meu jovem amigo, autor do blogue Barco à vista [, foto à esquerda]. Tem publicado artigos interessantes relacionados com a Marinha, no entanto merece toda a ajuda possível, dado a qualidade dos seus textos e modo agradável como escreve.

Está a escrever um artigo sobre as CHAIMITES que os Fuzileiros receberam na 2.ª metade dos anos 70, tendo apoio de muito militares da Armada.

No entanto, há coisas que a sua rapaziada certamente pode melhor ajudar ou neste caso confirmar, segundo ele teve conhecimento, alguns «Fuzos» na Guiné, ao que parece em Janeiro de 1970, fizeram um breve passeio nas Chaimites do Exército na própria cidade de Bissau, durante uma operação urbana.

A ideia é pedir o favor que questione o pessoal que participa no seu blogue, se recorda e confirma o referido.

Um abraço
Duarte

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Duarte, pelas simpáticas palavras que nos dirige... A caminho dos 7 anos de existência na blogosfera, temos às vezes dúvidas sobre o sentido e o alcance da missão, e perguntamos, como o poeta, se vale(u) a pena... É a chamada dúvida metódica,útil para nos mantermos centrados no objectivo primordial de sermos um blogue, pacífico e pacificador, de ponte(s) (não de ponta, muito menos de ponta-e-mola)... 

Mas deixemo-nos de filosofias, e vamos lá ao seu apelo... Camaradas: quem se lembra de ver Chaimites & Fuzos a passear, em Janeiro de 1970, na Praça do Império, em Bissau ? Dão-se alvíssaras a quem mandar fotos e/ou notícias...

Temos já meia dúzia de referências, no nosso blogue (II Série)  a esta viatura blindada. Clicar aqui. Em 1973/74, na zona leste, parece que era frequente as Chaimites proporcionarem alegres (e despreocupados) passeios anfíbios no Rio Geba, como se pode ver na foto reproduzida acima ... Não consta que tenha havido acidentes, no rio, com estas gloriosas máquinas anfíbias... Mais comentários, para quê ? Os artistas são portugueses...

 Mas já que falamos de Chaimites, quero recordar aqui, ao nosso camarada António Carlos Ferreira (ex-furriel Mortágua, Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840, Bafatá,  1973/74)  que ele aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, tendo ficado de enviar histórias e imagens desse tempo (ele bateu todo o leste mas também o sul com as suas gloriosas Chaimites)... É o proprietário da Adega Típica A Pharmácia,  Rua Brasil 81/85, Coimbra, E-mail: adegapharmacia@gmail.com;  Contactos:  telemóvel: 917213076 / telefone  239 404 609).
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Nota de L.G.: 


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5778: Efemérides (45): O desastre do Cheche, visto por quem esteve lá e perdeu 11 homens do seu grupo de combate (Rui Felício, Alf Mil, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)

Guiné > Zona Leste > Região do Boé > Cheche > 6 de Fevereiro de 1969 > A jangada, de reserva, com sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé (*)

Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados

Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > CCAÇ 2405 > 1969 > Dulombi > Na messe, os alferes milicianos Raposo (à direita) e Rijo (à esquerda); de costas, os furriéis milicianos Cândido e Magno. Os Alf Mil Paulo Raposo e Jorge Rijo estavam, em Cheche, no dia de 6 de Fevereiro de 1969.

Foto: © Paulo Raposo (1997). Direitos reservados

Jantar a bordo do Uíge, a caminho da Guiné > Finais de Julho/princípios de Agosto de 1968 > Os quatros alferes milicianos da CCAÇ 2405: David e Raposo, do lado esquerdo; Felício e Rijo, do lado direito.

Foto: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados


 Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2405 (1968/70) > Embora pertencente ao BCAÇ 2852 - cujo comando e CCS estavam sedeados em Bambadinca -, a CCAÇ 2405 não teve grandes contactos com o pessoal da CCAÇ 12 (a quem eu pertenci: Contuboel e Bambadinca,Maio de 1969/Março de 1971).  Daí que só no I Encontro Nacional do nosso blogue, na Ameira, Montemor-O-Novo (organizado pelo Paulo Raposo e pelo Carlos Marques dos Santos), em 14 de Outubro de 2006, é que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente o Rui Felício, a par de outros dois baixinhos de Dulombi, o Paulo Raposo e o Vitor David.

Esta foto do Rui, sentado num abrigo - em princípio, de uma  tabancas em autodefesa do sector L5, em 1969 - , foi-nos enviada pelo Victor David, seu camarada, outro alferes da companhia e nosso tertuliano, que também terá servido de fotógrafo de ocasião, segundo presumo. Não tenho informações precisas sobre a data nem o local. (LG)

Foto: © Victor David (2006). Direitos reservados. 


1. Reprodução do poste, da I Série, de 12 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

Texto do Rui Felício (ex-Alf Mil da CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70) (**). (Vd. poste anterior desta série  Efemérides ***.).

1. Comentário a propósito do post escrito pelo camarada José Martins sobre o desastre na travessia do Rio Corubal em 6 de Fevereiro de 1969 (1)

Preâmbulo

Acabei de ler um texto escrito pelo camarada José Martins onde relata a sua experiência na zona de Madina do Boé.

Embora tenha reconhecido que não assistiu directamente ao que se passou no célebre e lamentável desastre do Cheche, ocorrido no fatídico dia 6 de Fevereiro de 1969, o José Martins conheceu bem o local e a região e desenvolveu a sua descrição socorrendo-se de relatos e documentos alusivos ao sucedido.

E nota-se pelo seu relato que sofreu muito, e que ainda hoje sente as marcas do desastre, passados 37 anos sobre a sua ocorrência.

Ninguém, bem formado e sensível, poderia nunca, de resto, ficar indiferente a semelhante tragédia, ainda que, como o narrador José Martins, não tenha dela sido testemunha ocular.

Imagine-se então a ferida profunda que aquele desastre deixou a quem, como eu e muitos outros, foi não só testemunha ocular mas também, e principalmente, interveniente e vítima do colapso da artesanal jangada que servia de transporte aos militares e equipamentos que participaram na complexa, perigosa e cansativa operação de resgate da Companhia de Caçadores que se evacuou do célebre aquartelamento de Madina do Boé.

Desastre onde pereceram, segundo as estatísticas oficiais, 47 militares, onze dos quais, do pelotão que eu comandava… Permito-me destacar dois deles pelas relações especiais de amizade e de confiança que neles depositava, sem esquecer obviamente a dor causada pela morte de todos os outros:

(i) um, o furriel Gregório Rebelo, açoriano de sotaque cerrado e quase ininteligível que assumia as funções, embora não protocolares, de meu substituto em todas as circunstâncias, no comando do pelotão, e que mantinha a orgânica disciplinar e operacional da pequena unidade militar;

(ii) o outro, o soldado Octávio Barreira, transmontano de gema, homem rude, de uma só palavra, de têmpera sã, de antes quebrar que torcer, mas capaz de morrer para salvar a vida do seu amigo, e a quem eu atribuira as funções, também não protocolares, de meu guarda-costas.

Quem passou pela guerra colonial sabe que a escolha do guarda-costas recaía invariavelmente no soldado em que o alferes depositava maior confiança e amizade.

Aliás, como também é sabido, a designação de guarda-costas não tem a mínima conotação com a ideia que na vida civil se faz de alguém com este titulo ou funções. O guarda-costas era, acima de tudo, o soldado às ordens, o confidente, o amigo…. E muito menos, ou quase nada, o protector da integridade fisica do alferes, ao contrário do que se possa pensar.

A perda destes treze homens, que recordo com saudade e dor, sempre que a memória da Guiné me vem à lambrança, e que ajudei a formar para a guerra, em Abrantes e Santa Margarida, após oito meses de convivência próxima nas diversas tabancas onde o pelotão esteve destacado, foi um choque tremendo, inolvidável, cuja lembrança ainda hoje me faz arrepiar a alma e assomar as lágrimas.

Sobre o desastre do Corubal

Feito o preâmbulo, entro de imediato no motivo que me levou a servir-me do espaço disponibilizado pelo camarada Luis Graça a quem, sem o conhecer pessoalmente [, conhecemo-nos deopois no nosso I Encontro Nacionala, na Ameira], desde já transmito o meu aplauso pela feliz e dinâmica iniciativa da criação deste blogue.

É que é importante que seja a nossa geração, aquela que interveio, por obrigação ou por convicção ou por ambas as coisas, na guerra da Guiné, que tem que dar testemunho o mais exacto possível daquilo que por lá se passou.

Se assim não fôr, corremos o risco de a história ser deturpada, porque feita com base em documentos ou relatos nem sempre seguros, nem sempre fiéis… É por isso que, correndo o risco de desencadear alguma polémica, que não pretendo, achei que devia esclarecer alguns pontos do relato feito pelo José Martins a que atrás aludi.

Deduz-se daquele relato, publicado no blogue, que o desastre teria acontecido essencialmente devido a três factores:

(i) Os militares descomprimiram e tentaram encher os cantis com água do rio, o que terá provocado, depreende-se, o desiquilíbrio da estabilidade da jangada;

(ii) Teria sido ouvido um som abafado, semelhante a uma morteirada, que teria provocado agitação entre os militares e, em consequência, desiquilibrado a jangada;

(iii) Que, após o acidente, a água do Rio Corubal terá tomado um tom avermelhado, querendo com isso dizer-se que os crocodilos que habitavam as águas do rio, teriam consumado a morte dos militares que cairam à água.

A versão dos acontecimentos, veiculada pelo José Martins, assenta, como já se disse, em relatos e documentos sobre os factos, dado que este camarada, como ele próprio confirma, não assistiu ao que se passou. Mas, não obstante a presumível credibilidade das fontes a que recorreu, posso garantir que não foi exactamente assim que as coisas se passaram.

E digo isto com a mais profunda convicção e a mais inabalável certeza de alguém que estava na jangada, caiu à água, nadou durante uns cinco minutos e a ela retornou após a mesma se ter de novo equilibrado.

São factos que não se apagarão jamais da minha memória, por mais anos que viva, e apesar de não estar de posse de documentos que os comprovem...


2. O fime da SIC sobre o desastre do Rio Corubal

O mais curioso é que no filme, da autoria de José Saraiva, realizado por Manuel Tomás, que foi visto há uns anos atrás, por muitos milhares de portugueses através da sua transmissão pela SIC e pela distribuição de um vídeo feita na mesma altura pelo Diário de Notícias, são apresentadas aquelas mesmas razões como causas imediatas do desastre.

Já nessa altura contestei as conclusões do filme, e fi-lo por escrito e em reunião pessoal com o Director de Informação da SIC, Dr. Alcides Vieira, estando presente o realizador Manuel Tomás, que dirigiu a realização do filme.

Refiro que a carta entregue na SIC foi subscrita não só por mim mas por dezenas de ex-militares da CCAÇ 2405 que, por coincidência nessa mesma altura, no almoço de confraternização anual, a leram e assinaram.

A contestação dos factos descritos no filme foi feita nessa reunião na SIC, com a prévia concordância do Comandante da Operação, Brigadeiro Hélio Felgas, e estando presentes, além de mim próprio, o Capitão Miliciano José Miguel Novais Jerónimo e o Alferes Miliciano Paulo Enes Lage Raposo [ ambos da CCAÇ 2405].

E ela foi por nós solicitada à SIC em virtude do impacto que a exibição do filme teve nos ex-militares que a ele assistiram e que tinham estado presentes na jangada naquele dia do desastre. Com efeito, no próprio dia da exibição do filme comecei a receber telefonemas de antigos camaradas, um tanto decepcionados e alguns até revoltados, pela inexactidão dos pormenores que ali eram descritos.

Todos nós três, presentes na dita reunião, participámos na operação de evacuação de Madina do Boé, e todos estavamos presentes no local do acidente no Cheche naquele dia 6 de Fevereiro de 1969.

O Capitão Jerónimo, comandante da CCAÇ 2405, e eu próprio, estávamos na jangada no momento do acidente, onde se encontrava também o Alferes Miliciano Jorge Rijo, oficial da CCAÇ 2405, com o seu pelotão.

O Alferes Miliciano Paulo Raposo, também oficial da CCAÇ 2405, já tinha feito a travessia do rio na viagem anterior, e encontrava-se na margem norte do Corubal com o seu pelotão, observando a tragédia.

Na referida reunião da SIC, o realizador Manuel Tomás argumentou que o filme fora realizado com fundamento em entrevistas e em documentos oficiais militares a que tinha tido acesso, pelo que considerava o filme suficientemente documentado.

E disse que esses documentos atestavam as razões acima referidas, isto é, que a jangada se virou porque, no essencial, teria havido disparos de morteiro que, supostamente vindos do IN, teriam criado o pânico nos militares, os quais, ao agitarem-se, teriam provocado o desiquilíbrio da jangada.

Perante a irredutível posição da SIC em manter a versão veiculada pelo filme, nada mais nos restou do que desistirmos do pedido que lhe fizémos para que fosse proporcionado esclarecimento público sobre as conclusões desse filme.

Foi dito, nessa reunião, ao Dr. Alcides Vieira e ao Sr. Manuel Tomás,  que, por muito credíveis que pudessem parecer os documentos militares em que fundamentaram a versão filmada, nenhum deles jamais desmentiria ou apagaria da minha memória e dos meus camaradas o que realmente se passou.

Mais importante que os documentos preparados no silêncio dos gabinetes militares, sabe-se lá com que inconfessados motivos, era a indesmentível memória daqueles que tinham sido protagonistas e vítimas do desastre.

É com o mesmo espírito de esclarecimento da verdade dos factos que volto hoje ao assunto, desta vez no ambiente mais acolhedor de um blogue criado e gerido por alguém como o Luis Graça que, tendo estado na Guiné, sabe melhor que ninguém que não queremos honrarias, distinções ou protagonismo público.

Queremos tão só que a história seja o mais verdadeira e exacta possivel... Esse é o legado que queremos deixar aos vindouros, para que jamais seja ignorado o sacrificio de uma geração inteira, retirada à sua despreocupada juventude para fazer uma guerra em longínquas terras, em nome dos seus deveres e obrigações para com a sua Pátria.


3. A verdade do que sucedeu

Mas então, o que se passou realmente naquela manhã de 6 de Fevereiro [de 1969]?

A CCAÇ 2405, comandada pelo Cap Mil Inf Novais Jerónimo, integrava a coluna militar que tinha partido na manhã do dia anterior de Madina do Boé, rumo ao Cheche, e tinha como missão escoltar a Companhia de Caçadores [1790] evacuada daquele aquartelamento e que era comandada pelo Cap Inf Aparício (que, após o 25 de Abril, veio a assumir a função de Comandante Geral da PSP de Lisboa).

Ao fim desse dia a coluna chegou às imediações do rio Corubal, junto ao local de cambança para o Cheche. E durante toda a noite a jangada fez contínuas viagens transportando pessoal de apoio e, sobretudo, equipamentos militares e de transporte.

Ao amanhecer, as viagens de transporte entre as duas margens continuaram consecutivamente, até que chegou o momento em que na margem sul do rio Corubal já só restavam quatro grupos de combate, todos eles comandados pelos respectivos alferes, bem como os capitães Aparício e Novais Jerónimo. Além destes, encontrava-se o 2º Comandante da Operação [Mabecos Bravios], um major cujo nome já não recordo.

Segundo a rotina estabelecida e as instruções recebidas pelo responsável pela condução da travessia (Alf Mil Diniz), esperávamos na margem do rio que este responsável mandasse entrar metade do pessoal ainda ali estacionado, ou seja, dois dos quatro pelotões acima referidos.

É que a jangada, segundo bem explicou o alferes Diniz, tinha uma lotação de segurança de um máximo de 60 homens (2 pelotões). E o alferes Diniz assim fez, à semelhança do que tinha já feito dezenas de vezes ao longo da noite, zelando para que a carga da jangada não excedesse os limites de segurança estabelecidos.

Mandou entrar o meu pelotão e o do Alferes Rijo, ficando na margem para a viagem seguinte, os dois pelotões da Companhia do Capitão Aparício. Subitamente porém, assisti a uma conversa entre o 2º Comandante da Operação e o Alferes Diniz, em que este foi intimado pelo referido 2º Comandante a mandar embarcar os dois pelotões restantes, dado que não se podia atrasar mais a operação.

Apesar dos argumentos do Alf Diniz, tentando que em vez dos 4 pelotões embarcassem apenas dois, prevaleceu a autoridade da patente militar mais alta e assim acabaram por embarcar os 4 pelotões, para a derradeira viagem da jangada...


E foi de facto a sua derradeira e trágica viagem... Ainda não estavam percorridos 10 metros e já a jangada submergia e, de seguida, se virava projectando para a água quantos nela seguiam... E não me recordo de ter ouvido qualquer disparo de morteiro, antes do desastre... E não me lembro de ter detectado antes qualquer sinal de pânico entre os soldados... Aliás, a sua experiência operacional no teatro de guerra era já apreciável e não entrariam em pânico por um simples disparo de morteiro que estou seguro que não existiu.

Houve alguns disparos de morteiro, é verdade, mas após o desastre e feitos pelas NT, no intuito de prevenir qualquer aproveitamento do IN que eventualmente estivesse emboscado nas imediações.

Exceptuando os militares que infelizmente pereceram afogados no Corubal, passados poucos minutos, todos restantes retornavam à jangada que, pouco depois, se reequilibrou e retomou a sua viagem para a margem norte do rio. E eu fui um deles... Depois de me ter libertado da espingarda, das cartucheiras, das botas e das granadas, cujo peso me puxava inexoravelmente para o fundo...

Em nenhum momento descortinei qualquer tipo de pânico quando regressei à jangada e, talvez nervosos ainda do desastre, todos sorriamos e aceitávamos o banho forçado como uma dádiva divina depois de vários dias de sede e calor.

Ninguém se apercebeu de nenhum camarada em aflição ou pedindo socorro. Ninguém sequer sonhou que a tragédia tivesse atingido as proporções que tomou. Só na margem norte do rio, quando mandei formar o meu pelotão e o vi reduzido a quase metade é que tive consciência da desgraça que tinha acontecido.

E foi então que, algo descontrolado, me dirigi à margem do rio que engolira os meus soldados na esperança de ainda ver alguém... Mas a tragédia estava consumada de forma silenciosa, definitiva e rápida.

Em resumo e concluindo:

(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada;

(ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião;

(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema;

(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se;

(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação;

(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar;

(vii) Finalmente, não posso deixar de fazer referência ao que o José Martins diz ter ouvido de "alguém que esteve no centro do acontecimento" de que as águas tomaram um tom avermelhado.

(viii) Sei da existência de crocodilos naquele troço do rio Corubal.

(ix) Sei que alguns dos corpos de soldados encontrados dias mais tarde, apresentavam sinais de terem sido dilacerados por crocodilos.

(x) Mas sei também que as águas, naquele dia, e após o acidente, apenas apresentavam o tom natural verde escuro de um rio calmo e profundo e tenho dúvidas que os crocodilos tivessem estado presentes naqueles momentos, com o ruído de helicópteros sobrevoando as águas a baixa altitude, na tentativa de encontrar e socorrer algum soldado em dificuldades.

(xi) Não devemos dramatizar mais o que só por si já foi suficientemente dramático (2)...


4. Breves dados sobre a CCAÇ 2405 (1968/70)

Composição da CCAÇ 2405:

A CCAÇ 2405, à data dos acontecimentos, tinha a sua sede em Galomaro (3).

Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo

1º Grupo de Combate – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo
2º Grupo de Combate – Alf Mil Vitor Fernando Franco David
3º Grupo de Combate – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício
4º Grupo de Combate – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo


O 2º Grupo de Combate, comandado pelo Alf Mil Vitor David, não integrou a Companhia na operação de evacuação de Madina do Boé, ficando na sede da Companhia em Galomaro, onde porém a acompanhou através dos meios rádio.

As baixas resultantes do desastre do Cheche foram sofridas pelos 1º e 3º Grupos de Combate, que viajavam na jangada na altura do acidente.


Rui Felício
(Ex-alf mil inf CCAÇ 2405

[ Fixação / revisão de texto / bold a cores / título: L.G.]
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Notas de L.G.

(1) Vd. post do José Martins > 6 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - D: Madina do Boé, 37 anos depois

(2) Vd os posts anteriores sobre este tópico:

17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre do Cheche, na retirada de Madina ...

(...) "Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata a dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC"(...)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera inicio há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXI: Comentário de Afonso Sousa ao texto sobre a retirada de Madina do Boé

(...) "Emociona este seu testemunho. Eu só faço uma pequena ideia do sofrimento de todos vocês, naquele momento trágico, nas horas e nos dias seguintes - em terras de solidão, em paragens dos confins da Guiné" (...).

(3) Em Fevereiro de 1969, a CCAÇ 2405 era a unidade de quadrícula de Galomaro, pertencendo ao Sector L1, e estando afecta por isso ao comando do BCAÇ 2852, sediado em Bambadinca.
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