sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20351: Agenda cultural (713): Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais Data: 27 de novembro 2019, às 17:00. Local: Lisboa, ISCTE-IUL, Sala C1.01




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

Data: 27 de Novembro 2019, às 17:00
Local: ISCTE-IUL (ISCTE-IUL, Lisboa)



O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre: 

“ARQUIVOS e FONTES para o ESTUDO dos CONTEXTOS COLONIAIS”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes:


Ana Canas (AHU e CH-ULisboa;

Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL);
 

João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL);
Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL);
 
e Mário Beja Santos; 

e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 pelas 17h00.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20350: Parabéns a você (1710): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68) e TCor Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Furriel de Artilharia do 9.º Pel Art (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor:

Último poste da série de  15 e novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20346: Parabéns a você (1108): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20349: (In)citações (139): Recuperação do Monumento Português de Newport, EUA: "Pelo que tem de significado hstórico, pela sua ligação ao oceano que une portugueses e norte-americanos, pela sua importância na afirmação da Comunidade Luso-Americana, o Presidente da República saúda todos os compatriotas que asseguram a preservação do Monumento Português em Newport (excertos de carta, pessoal, enviada ao João Crisóstomo, em data de 4/11/2019)


Newport, Brenton Park, Portuguese Discovery Monument.
Foto de João Crisóstomo (2019)
Cópia de carta do PR, gentilmente cedida pelo João Crisóstomo, Nova Iorque (*), que acaba de publicar, no nosso blogue, um poste sobre o supracitado monumento (**).

"O Monumento às Descobertas Portuguesas é uma homenagem aos navegadores portugueses da Idade de Ouro da exploração marítima, que se estendeu desde o início dos anos 1400 até ao final de 1500. O Monumento é a jóia da coroa da Fundação do Monumento Português, cuja missão é apoiar as comunidades luso-americanas. O Parque está disponível para uso do público e a Fundação incentiva essas comunidades a descobrir tudo o que o Parque tem para oferecer!"

Fonte: tr. de "Portuguese Discovery Monument"
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  15 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20348: Memória dos lugares (399): O Monumento das Descobertas Portuguesas, em Brenton Park, Newport, R. I., Estados Unidos, réplica ds "Rosa dos Ventos" em Sagres (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona)

(**) Último pste da série >  2 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20030: (In)citações (138): A minha Guerra da Guiné: a Leste, algo de novo... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)


Guiné 61/74 - P20348: Memória dos lugares (401): O Monumento das Descobertas Portuguesas, em Brenton Park, Newport, R. I., Estados Unidos, réplica ds "Rosa dos Ventos" em Sagres (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona)




EUA > Newport, R.I. > Brenton Park > 2019 >  "Portuguese Discovery Monument" >  O João e a Vilma Crisóstomo mais o Rui Chamusco, de visita a este singular monumento aos navegadores portugueses.

Fotos (e legenda): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



The Portuguese Discovery Monument is a tribute to the Portuguese navigators of the Golden Age of maritime exploration, which spanned from the early 1400’s to the late 1500’s. The Monument is the crown jewel of the Portuguese Monument Foundation, whose mission is to support Portuguese-American communities. The Park is available for use by the public and the Foundation encourages those communities to discover all that the Park has to offer!

O Monumento à Descobertas Portuguesas é uma homenagem aos navegadores portugueses da Idade de Ouro da exploração marítima, que se estendeu desde o início dos anos 1400 até ao final de 1500. O Monumento é a jóia da coroa da Fundação do Monumento Português, cuja missão é apoiar as comunidades luso-americanas. O Parque está disponível para uso do público e a Fundação incentiva essas comunidades a descobrir tudo o que o Parque tem para oferecer!

Fonte: "Portuguese Discovery Monument"  (tr. para português: Google translator / LG)




I. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), nosso camarada da diáspora, a viver desde 1975 em Nova Iorque, conhecido ativista social (de causas como as Gravuras de Foz Coa, Timor Leste ou Aristides Sousa Mendes), recentemente promovido a régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona (que é tão grande como o mundo):

Date: sábado, 2/11/2019 à(s) 09:37

Subject: "Monumento das Descobertas",  nos Estados Unidos


1. HELP… SOS…

Aos meus "amigos no facebook" e outros amigos a quem quero partilhar o que segue:

Como não percebo nada de Facebook, e é com pena que o admito, pois gostaria bem de poder fazer como a gente que "sabe nadar nesta piscina como um peixe" e eu, como um desesperado que nela caiu e não sabe nadar, apenas me resta pedir uma mão para não me afogar… peço aos meus amigos a quem vou enviar este rmail para me fazerem o o favor de pôrem isto nas suas páginas de Facebook, já que eu por mais voltas dê não sou capaz: consigo escrever, mas é sóm mas não sou capaz de incluir as fotos.

E eu acho que isto é uma coisa que deve ser conhecida por todos. E porque acho assim, já enviei isto para a nossa televisão ( RTP) em Portugal; enviei para alguns amigos que têm blogues ( também não sei mexer nisso, a não ser ler o que eles já publicam…) ; mas até ao momento ainda não sei se publicaram ou não!…

Dentro de dias "vou voltar à carga",  deslocando-me com um jornalista meu amigo que se mostrou muito interessado em escrever sobre isto. Mas, como todos me dizem que hoje em dia a melhor maneira de se fazer conhecer algo é públicá-lo no Facebook… quem receber isto ( se acharem que vale a pena, como eu acho,} por favor "partilhem" o que segue. E se acharem que é trabalho demais porem no facebook… pelo menos ficam a saber.

A todos um grande abraço do
João


João Crisóstomo
Nova Iorque


II. A história é a seguinte:

Tive o privilégio de ter comigo aqui em Nova Iorque durante três semanas um grande amigo meu, Rui Chamusco. E, para não dizer que "foi a Roma e não viu o papa", tentei mostrar-lhe não só Nova Iorque como alguns outros lugares que eu achei que ele devia conhecer: Washington, Filadélfia, as Cataratas de Niágara e Boston…

E nesta última volta aproveitei para lhe mostrar alguns lugares relacionados com motivos portugueses, já que nós portugueses, apesar do muito pouco que sobre isso é falado e sabido, tivemos um grande papel e influência na história dos Estados Unidos. E foi neste ultimo passeio que se passou o que segue, de que as fotos que junto, nos ajudam a compreender o interesse e importância para todos os portugueses.

Um dos grandes entusiastas e impulsionadores da história portuguesa nos Estados Unidos foi o nosso saudoso Dr. Luciano da Silva de quem muitos em Portugal se devem recordar bem: entre muitas outras coisas, ele tinha um programa em que, como médico,   "dava consultas" para Portugal através da televisão para os seus clientes/doentes… Muito conhecido ainda pelos seus livros, um dos quais deu origem ao filme "Cristóvão Colombo",  de Manuel de Oliveira , premiado com o prémio de Ouro em Cannes; pelo Museu da Pedra de Dighton e outros projectos em que se envolveu.

Ele fazia-me o favor da sua amizade e eu visitava-o ocasionalmente . Numa destas visitas, fazendo-se cicerone,   levou-me a visitar vários pontos de interesse entre os quais o "Brenton Park", onde me mostrou o "Monumento dos Descobrimentos", que era uma réplica da "Rosa dos Ventos" em Sagres no Algarve. 

Além do monumento em si, de muito interesse histórico, este lugar "tocava-me de perto" e e o Dr. Luciano sabia disso, pois que o lugar tinha sido antes propriedade de Jacqueline Kennedy Onassis, que patrocinou a minha vinda para os Estados Unidos e para quem eu trabalhei muitos anos. 

Este monumento construído em 1988 e que chegou a receber a visita de Mário Soares em 1997, encontrava-se então já com problemas de manutenção e necessitava ser reparado: O original foi desenhado pelo Luso-americano João Chartres de Almeida e as pedras originais foram importadas de Vila Viçosa, Portugal. Mas devido ao vento e à acção corrosiva da água do mar, cedo começaram a absorver água e estavam já a cair aos bocados. E o Dr. Luciano preocupava-se com o futuro deste parque. Finalmente em 2007, considerando que eram um perigo para o público,   foram removidas ficando apenas três peças.

O Monumento fica na ponta duma saliência de terra que se projecta mar dentro, mesmo em linha directa com o nosso promontório em Sagres cuja ideia deu origem a este projecto.

Em 2013 a Cåmara Municipal de Newport, influenciada sem dúvida pelo interesse dos líderes da importante comunidade portuguesa, resolveu criar uma comissão para a reparação do monumento e no ano seguinte, 2014, desta vez com pedras de granito do norte de Maine ( nordeste dos Estados Unidos), o monumento foi reconstruído e "re-inaugurado". Estas estão dispostas como no original, num semi-circulo, representando os "pontos cardeais". No centro está um alto monumento retangular em pedra; e do conjunto consta ainda uma "esfera armilar" —o único original que resta do primeiro monumento-- representando o nosso bem conhecido instrumento de origem portuguesa que possibilitou as viagens pioneiras dos nossos navegadores.

Soube que no ano passado, para comemorar o 30º  aniversário da sua construção em 1998, este monumento recebeu a visita do nosso Embaixador em Washington, Domingos Fezas Vital, numa cerimónia a que se associaram o comandante Maurício Camilo e os tripulantes do Navio Sagres que nessa altura se encontravam de visita aos Estados Unidos. 

O tema e informações relevantes estão devidamente exibidas e explicadas numa grande placa informativa (bem protegida ) em destaque logo na entrada do parque. Faltavam porém os nomes dos nossos navegadores que constavam no monumento original, mas que os mencionados factores corrosivos fizeram desaparecer.

E foi esta a nossa grande surpresa: ao aproximarmos-nos do local vi duas pessoas junto ao monumento e reparei o que de longe me um grande painel colado, cobrindo grande parte do monumento. E, curioso, dirigi-me imediatamente para verificar do que se tratava. Nesse grande painel colado ao monumento constavam os nomes dos nossos grandes navegadores, e foi-me explicado que estavam a fazer um "check final" para ver a posição definitiva em que os nomes iam ser gravados no monumento, o que previa devia ser feito dentro de duas ou três semanas…

Eu e o Rui e minha eslovena esposa, Vilma,  também não podíamos esconder o nosso contentamento. Segundo Robert Silva, que organizou e coordenou a cerimónia no ano passado, não há outro monumento deste tipo em todos os Estados Unidos. Este é de facto um monumento de que todos os portugueses aqui, em Portugal e em toda a parte do mundo se podem orgulhar, agora ainda mais pela maneira altiva, abrangente e agradável em que se finalmente se apresenta a todos os que aqui vêm visitar este lugar.

As duas primeiras fotos foram tiradas neste dia e a 3ª foto mostra o monumento com a inscrição dos nomes já gravados, que me enviaram há dias.

Parabéns, portugueses. Parabéns, Portugal!

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Guiné 61/74 - P20347: Notas de leitura (1236): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (32) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Aqui se fazem tréguas na indagação do que terá sido o pensamento estratégico dos dois Comandantes-Chefes que precederam Spínola, não se perca de vista que a história da guerra da Guiné carece fundamentalmente de uma investigação sistemática ao período que vai de 1962 a 1968, pairam ainda muitas nebulosas, há muita pesquisa em arquivos por fazer, a verdade histórica continua altamente condicionada.
Veio à ribalta o Capitão José Pais, que comandou a CCAÇ 14, em Farim, e abre-se o livro do diário de JERO, em Binta, em meados de 1964, andava tudo numa deriva, vai chegar a tropa do Capitão do Quadrado, entrou tudo num virote.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (32)

Beja Santos

“Muitos colegas foram feridos
os azares vão aparecendo.
Quando já estavam curados
o Diogo Augusto ia morrendo.

Ao caminharem pela estrada
feriram o furriel Ferreira
e no David à sua beira
acertaram com uma granada.
Nesta grande emboscada
Marques e Varela atingidos,
nos momentos aborrecidos
o Santos aleijou uma mão.
Neste mês de S. João
muitos colegas foram feridos.

O 490 a penar
muitos feridos já tem
e 6 baixas também
e não deixam de actuar.
Estão a ter muito azar
sempre com ataques sofrendo.
Vão o tempo percorrendo
nos arredores de Farim
e até que se chegue ao fim
os azares vão aparecendo.

O Garcês se aventurou,
pelo Comandante foi louvado.
Depois de ter rastejado
duas armas apanhou.
A sorte o acompanhou
mas tiveram azar muitos soldados:
depois de dois meses passados,
Varela e seu companheiro
foram feridos num carreiro
quando já estavam curados.

Helicóptero mandaram chamar
e para Bissau os levou.
O Varela na Amura ficou
levando o tempo a coxear.
O Santos, no Hospital Militar,
a operação lhe vai fazendo
12 dias não comendo,
começou a emagrecer
depois de tanto sofrer,
Diogo Augusto ia morrendo.”

********************

É da mais elementar justiça, já que continuamente aqui se fala em Farim, sede do BCAV 490, procurar uma peça literária alusiva, felizmente que ela existe. No dobrar do século, como é do conhecimento dos interessados, a literatura da guerra da Guiné viu uma das suas dimensões reforçada, o género memorial, começaram a aparecer livros de memórias às catadupas em detrimento do romance, novela, conto e até historiografia. “Coisas de África e a Senhora da Veiga”, por José Pais, edição de autor, 2001, é um grande livro de memórias, um documento inusitado pela fala do coração. O então Capitão José Clementino Pais era já um experimentado oficial do Exército: alferes, foi prisioneiro na Índia; depois, combateu para os lados de Nambuangongo; teve seguidamente uma comissão em Cabo Verde, e à quarta foi de vez, arribou à Guiné à frente da CCAÇ 14, feriu-se com gravidade em Farim, seguiram-se três anos de internamento hospitalar. É uma prosa onde não há enxúndia, é tudo económico e hábil, tem recorte de relatório. O desfiar das recordações anda sempre à volta de uma questão central que é cuidadosamente demarcada e depois segue em espiral. São narrativas avulsas que podem navegar entre o sentimental e a bruteza mais dura que a guerra consente. Para quem testou tal prosa, é bem penoso, constrangedor mesmo, diante desta arquitetura de contos reduzidos à medula, quase agrestes na geometria, ensaiar o resumo desta prosa de primeiríssima qualidade.
Fiquemos aqui com uma tocante história de amor, “A Xuxa e o soldado Marquito”.

“O Cabo Sila procurou nosso capitão, coisa de dimensão tamanha se passa na tabanca, envolve pessoal da CCAÇ 14, tropa Mandinga, sediada no perímetro de Farim, e convém esclarecer que quartel no sentido habitual do termo era coisa que não havia: uma arrecadação e um cubículo que servia de gabinete ao capitão, ao 1.º Sargento e a um Cabo ajudante entregue à papelada. Os poucos furriéis habitavam numa casa na povoação e os soldados na tabanca. É nisto que começa a história.

- Então diga Sila. Que se passa?
- Tem mesmo ‘pobrema’ nosso capitão. Tem menininha que gosta mesmo do soldado Marquito e já fugiu de casa do pai três “vez” para ir ter com Marquito!
- Então o que há a fazer é casá-los. Se gostam assim tanto um do outro!?
- Mas, nosso capitão, Xuxa é Fula e Marquito é Mandinga.

E Sila continou:
- Tem ainda outro ‘pobrema’ mais difícil.
- Sim. Diga lá.
- Menininha já casou com sobrinho do ‘Homem Grande’ de Jumbembem e ‘Homem Grande’ veio ontem na coluna para saber o que se passa.

Havia para ali coisa séria e explosiva. Foi chamado Marquito, confirmou tudo mas não tinha 3 mil pesos para casar com a Xuxa. Chamou-se a autoridade religiosa, não havia problema de casar Fula com Mandinga, a questão era devolver o dinheiro ao ‘Homem Grande’ de Jumbembem. À cautela, nosso capitão convocou reunião com toda a tabanca, até o chefe administrativo compareceu. Nosso capitão até cita o Corão. Chegou-se a um compromisso, nosso capitão adianta os 3 mil pesos, Marquito depois pagará em prestações. Nosso capitão, finda a reunião, pergunta a Sila se a reunião tinha corrido bem. 
- Muito bem nosso capitão. Mas agora ‘vai ter pobrema’, vais ter muito soldado a querer casar!

No dia seguinte, o primeiro-sargento, alarmado, comunicou que 27 soldados também queriam casar.
Estabeleceram-se umas regras que o General Comandante-Chefe, Spínola de seu nome, aprovou e casaram-se todos.
Só os que ainda não tinham ‘mujer’.”

E já que estamos em maré literária, é igualmente de elementar justiça abrir alas a um documento que faz parte da História, o diário da CCAÇ 675, conhecido como o 1.º Volume de “Dois Anos de Guiné”. É a todos os títulos um texto singularíssimo. Será porventura o primeiro diário de uma unidade militar na Guiné, meticulosamente escrito e documentado. Quem lhe deu letra de forma foi um furriel-enfermeiro de nome José Eduardo Reis de Oliveira, JERO assim ficará conhecido. O comandante da companhia era Alípio Tomé Pinto. O livro foi dado à estampa em 1965, em edição pirata, tivesse o Estado-Maior do Exército conhecimento desta ousadia e o hoje General Tomé Pinto passaria por muitos amargos de boca, descaro como este nunca se vira, contar tintim por tintim a história da unidade militar, logo a partir de maio de 1964, viagem a partir de Lisboa, chegada ao estuário do Geba, instrução operacional e em junho, no fim do mês, a companhia vai para Binta, Tomé Pinto ficará conhecido como o Capitão de Binta ou o Capitão do Quadrado.
Logo a descrição do aquartelamento:
“O local tinha uma forma mais ou menos rectangular, limitada por vedações de arame farpado num perímetro de cerca de 800 metros. Na ‘arquitectura’ de Binta avultavam a estrutura enorme de seis grandes barracões que tinham servido para armazéns de mancarra, agora abandonados e cheios de imundícies. Existiam ainda quatro habitações de pedra e cal, pequenas, duas das quais habitadas por famílias indígenas, uma outra onde dormiam os soldados do pelotão do Alferes Sequeira, da CCAV 489, que desde há três meses se encontrava na região, rodeada por bidons cheios de terra e troncos de palmeira, e ainda outra habitada por um indígena funcionário da Casa Gouveia. Os arruamentos eram regulares mas mal cuidados, com montes de lixo por toda a parte.
Disseminada ao longo de um caminho que saía do aquartelamento, estendia-se durante cerca de dois quilómetros a tabanca de Binta, com alguns bons edifícios de adobe e cal, e com muitas moranças, agora quase na totalidade desabitadas. A referir ainda uma importante serração de um metropolitano de nome Ribeiro, na Província há cerca de 30 anos, importante negociante de madeiras”.

Houvera uma receção com tiroteio, Tomé Pinto não está pelos ajustes, inicia a 3 de julho o reconhecimento da região envolvente, vão começar os estragos. População controlada pelo PAIGC anda por ali muito perto. Há nativos que são cercados, recusam a parar, são abatidos. Entra-se na tabanca de S. João. Junto à tabanca foram encontradas uma mala com manuscritos antigos, e três bicicletas, uma delas carregada com um saco de arroz, catanas e ferramentas agrícolas.
A seguir, parte um contingente para uma batida à região de Lenquetó, situada a cerca de 12 quilómetros de Binta:
“Passámos pelo esqueleto carbonizado de uma camioneta da serração de Binta que o inimigo havia destruído há poucos meses.
Às 4.45 horas estávamos perto do nosso objectivo. Ouviu-se por momentos com nitidez no silêncio da noite o ruído característico do pilão. Não muito longe cães latiram. Lentamente, a distância que nos separava de Lenquetó foi percorrida. Às 5.15 horas começou-se o envolvimento da tabanca, instalando-se em meia-lua os dois grupos de combate. Poucos momentos depois, viram-se alguns indivíduos sair caminhando na nossa direcção, sendo-lhes gritado que fizessem alto. Retrocederam rapidamente fazendo fogo de pistola de dentro da tabanca. As nossas tropas abriram fogo e durante alguns momentos 70 armas automáticas crepitaram fragorosamente numa mensagem de morte. A reacção do inimigo embora diminuta fez-se sentir. Um ‘suicida’ descortinou o nosso Capitão em pé e avançou para ele correndo com um ‘canhangulo’ em posição de fogo. Foi abatido depois de meia dúzia de passos”.

Esta mentalidade ofensiva vai continuar, chegam ou louvores, sucedem-se as batidas, os golpes de mão, as emboscadas com êxito, faz-se contacto com a população no Senegal, começam as obras de beneficiação, as forças do PAIGC começam rapidamente a sentir que a vida não lhes corre de feição, toda aquela região era cultivada por população controlada, todo aquele mês de julho vai permitir à CCAÇ 675 um relativo e provisório domínio de terreno.
Nem tudo são rosas, e JERO passa ao papel o que se viveu em 29 de julho de 1964:
“Quando anoiteceu, uma secção comandada por um cabo, foi emboscar-se junto da serração, apenas a 50 metros do aquartelamento, com a missão de aprisionar qualquer indivíduo que viesse a sair da casa de um nativo, que se suspeitava querer passar para os terroristas.
Tinha havido o cuidado de recomendar a todos os soldados para não fazerem fogo, pois se na verdade alguém saísse de tal casa suspeita, não levaria armas. Só em última instância e em caso de fuga utilizariam as armas. Infelizmente, apesar de todas estas recomendações e de não correrem qualquer espécie de perigo do exterior, a fatalidade aconteceu.
Um soldado, já depois da secção instalada, ao deslocar-se por detrás de um colega seu, foi tomado inexplicavelmente por um inimigo e atingido com um tiro à queima-roupa.
O estampido alarmou toda a gente e momentos depois soube-se da triste novidade.
Socorrido o mais rapidamente possível ainda no local do desastre pelo médico e enfermeiro da companhia, logo se verificou ser desesperado o seu estado. Conduzido depois ao posto de socorros do aquartelamento, entrou em coma, vindo a falecer poucos minutos depois.
O infeliz soldado, de nome Augusto Gonçalves, de Santiago do Cacém, veio assim a acabar de maneira estupidamente trágica os seus dias, morto por um próprio colega em que a noite e o medo fizeram disparar precipitadamente a sua G3.
Mas a vida não pára e a nossa missão iria continuar.
Embora com o luto na alma, não cruzaríamos os braços nem nos deixaríamos abater pela fatalidade.
Em breve o inimigo voltaria a sentir a força e a coragem indómita da tropa de Binta. E os resultados obtidos no nosso primeiro mês de operações falavam melhor do que ninguém do valor e da qualidade dos homens da 675”.

Depois desta viagem a um livro de memórias e a um diário (deste, voltaremos a falar) vamos regressar à “Resenha Histórico-Militar da Guiné” neste período de 1964, impõe-se procurar um pouco de luz para perceber como os altos comandos procuraram sustar a sublevação, organizar populações aterrorizadas, contrariar um inimigo ainda mal municiado mas já determinado, em 1964 o PAIGC está posicionado a pé firme na região Sul, a população pulverizou-se, quem ficou debaixo da bandeira portuguesa vive no perímetro dos destacamentos, quase todos eles na orla marítima, os outros, perto da fronteira ou no interior, irão sendo sistematicamente flagelados, instala-se o corredor de Guileje; ainda em 1963, forças do PAIGC atravessaram o Corubal, instalaram-se relativamente perto do Xime, cultivam bolanhas e não estão muito longe do Xitole; e consolidaram posições nas matas do Morés, vão estabelecendo corredores a partir do Senegal. Reconheça-se, entre outros méritos, que esta Resenha Histórico-Militar abre alguma luz sobre o delineamento estratégico de Louro de Sousa e Arnaldo Schulz, em termos de investigação é insuficiente, é certo e seguro que há muito papel nos arquivos dos ministérios da Defesa Nacional e do Ultramar que precisam de ser pacientemente examinados e sistematizados para se perceber qual o alcance da linha estratégica que os dois primeiros Comandantes-Chefes imprimiram à máquina militar, desde que começou a luta armada até à chegada do Brigadeiro António de Spínola.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 8 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20324: Notas de leitura (1234): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (31) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20333: Notas de leitura (1235): “Astronomia”, por Mário Cláudio; Publicações D. Quixote, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20346: Parabéns a você (1709): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Coronel Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20342: Parabéns a você (1107): César Dias, ex-Fur Mil Sapador do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 (Guiné, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enfermeira Paraquedista (1961/70)

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Guiné 61/74 – P20345: Agenda cultural (712): “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné-Bissau 1973/74 Memórias de Gabu” (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 


Camaradas, 
Vou apresentar a minha nova obra (o nona), em Beja a 10 de dezembro, a seguir Lisboa (Casa do Alentejo), entre outras iniciativas que já tenho programadas.

Uma ida ao Porto não está fora dos meus planos.



“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 MEMÓRIAS DE GABU”

“UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 – MEMÓRIAS DE GABU” é o nono livro do meu pecúlio como jornalista/escritor e o segundo como ex-combatente em solo guineense.

A temática, agora sustentada com novos textos, sendo certo que alguns deles foram recuperados e trabalhados face ao tema tratado da primeira edição – “GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU” -, é mais um desafio à nossa existência como antigos militares lançados à força para as frentes de combate.

Procurei, embora sinteticamente, ser o mais abrangente possível, diligenciando trazer à estampa temáticas que mexem irreversivelmente com a nossa comum presença num espaço que nos fora substancialmente cruel.

As memórias da guerra não se apagam e cada um de nós ainda hoje revive situações horripilantes pelas quais passou. Reconheço que existem camaradas que recusam abordar vivências passadas que lhe vão na alma. Respeito escrupulosamente essa forma de sentir.

Há camaradas que procuram olvidar realidades que na generalidade todos ou quase todos conhecemos. Recusam o confronto com cenas atrozes onde foram incontestáveis guerrilheiros numa luta por vezes desigual. Fica, pois, a nossa plena aceitação.

Mas esta obra contempla, também, a presunção deste vosso velho camarada que não se esconde num templo onde as lamentações jamais deverão esbarrar num muro em que as lamúrias tendem em cair no esquecimento.

A guerra Colonial não está assim tão distante no tempo. É recente. Porém, raros têm sido os órgãos de decisão governamental, e não só, a abordar o tema que mexeu com gerações e abalou futuros que se perspetivavam risonhos.

Neste contexto, o livro aborda temáticas exuberantes no que concerne a vicissitudes de que fomos alvos por terras da Guiné e simultaneamente ao agitar gritos de revolta quando em causa se coloca o nosso próprio estatuto como antigos combatentes.




Hoje, a guerra Colonial perdeu visibilidade. Poucos são aqueles que dela falam em público, sobretudo em meios de comunicação social nacional e que por ordem analógica das coisas se deixam levar por tédios e brandos costumes. Poucos são, também, aqueles que se debruçam sobre a inequívoca veracidade onde a morte, estropiados, ou os stressados de guerra, de entre outras doutrinas que recaem sobre os climas dos pós traumáticos, designadamente, são meras personagens de um país que simplesmente os esqueceu.

O livro aborda também o tema dos abandonados. Sim, os abandonados, aqueles que ingloriamente lutaram pela Pátria, uma Pátria que não sendo aquele sumptuoso manto doutrinal que nos fora “vendido” nos bancos da escola, foi também aquela na qual todos nós nos envolvemos.

A guerra, essa desumana realidade, foi propícia a inegáveis circunstâncias que desabaram para incertezas futuras. Da guerra colonial sobram infalibilidades que há restos mortais de camaradas que por lá ficaram literalmente abandonados.

Camaradas, vale a pena através da leitura deste livro revermo-nos no tempo em que nós jovens fomos atiradas para as frentes de combate como uma mera mercadoria chamada “carne para canhão”.

O livro tem o preço de capa 16 euros, sendo o primeiro lançamento no dia 10 de dezembro de 2019, 21h30, na Biblioteca José Saramago, em Beja.

Depois seguir-se-ão outros lançamentos. Lisboa será, em princípio, o destino seguinte. Por mim estarei disponível em deslocar-me por o País fora, levando na minha “mala de cartão” um rol de experiências que são tão-só as tuas próprias experiências.

Camaradas, bebemos água da mesma fonte e comemos do pão que o diabo amassou. Digamos, em uníssono, que somos gentes e proclamamos simplesmente justiça, não obstante o universo de dificuldades até agora deparadas.

Deixo aqui expresso que a obra “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL GUINÉ-BISSAU 1973/74 - MEMÓRIAS DE GABU” só foi possível vir a público graças aos textos que amiudadamente transcrevo no nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné -. Este foi, para mim, uma rampa de lançamento para investir no cosmos da escrita sobre outras temáticas entretanto não abordadas, neste caso o da guerra.

Por fim, fica o meu profundo agradecimento ao Luís Graça, o fazedor do prefácio, ao meu camarada ranger Magalhães Ribeiro pela sua amável disponibilidade em me colocar os textos no blogue e a todos vocês camaradas que fazem o favor em me aturarem nas minhas eloquentes dissertações guerrilheiras, que também são as vossas, neste terreno de jogo onde fomos meros figurantes no conflito na Guiné.

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

8 DE NOVEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P20323: Agenda cultural (711): A não perder: curso, 15 euros por 4 tardes de sábado (, 9, 16, 23 e 30 de novembro), na Livraria-Galeria Municipal Verney, Oeiras, sobre "A Herança Judaica em Portugal": (i) a antiguidade na península ibérica; (ii) sinagogas, judiarias e comunidades; (iii) a Inquisição no património mental; e (iv) Amsterdão e Nova Iorque: duas cosmopolitas comunidades da diáspora.

Guiné 61/74 - P20344: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte I


Guiné- Bissau > Bissau > c.  2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (, antiga Av da República, que partia da Praça do Império), ao fundo o cais do Pidjiguiti (ou Pindgiguiti, como se escreve agora...), o porto de Bissau,  o ilhéu de Rei... Em primeiro plano, à esquerda, parece-me o edifício da administração civil da época colonial, hoje é a sede o ministério da Justiça.  O edifício a seguir, branco, no cruzamento da Av Amílcar Cabral com a Rua 19 de Setembro é a RTP África.


Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Bissau > c. 2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (, antiga Av da República, que partia da Praça do Império). Em primeiro plano, a Catedral de Bissau.


Foto nº 11 > Guiné- Bissau > Bissau > c.  2010>  A fachada da Catedral de Bissau (ou  Sé Catedral de Nossa Senhora da Candelária). Foi consagrada em 1950. E em 1977 passou a ser a sede da diocese de Bissau, criada nesse ano.


Foto nº 6 > Guiné- Bissau > Bissau > c.  2010 > CEIBA Hotel Bissau | Um hotel de 4 estrelas, sito na Av dos Combatentes da Liberdade da Pátria.


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Av Amílcar Cabral (, antiga Av da República), ao fundo o Palácio Presidencial e a Praça dos Heróis da Liberdade da Patria (, antiga Praça do Império). O antigo palácio do Governador ardeu na sequência da guerra civl de 1998/99, tendo sido posteriormente reconstruído pela República Popular da China.(sem grande respeito, diga-se de passagem, pela traça original).


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >   Em segundo plano, à direota, o Hospital Nacional Simão Mendes, na Av Pansau na Isna, paralela à Av Amílcar Cabral.


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 > Bissau Velho,  o forte da Amura (hoje Panteão Nacional), o porto, o ilhéu do Rei...


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 > Porto de Bissau...


Foto nº 8   > Guiné.Bissau > Bissau > c.  2010 > Ao centro, o Palácio Colinas de Boé, sede da Assembleia Nacional Popular (Parlamento),sito na Av Francisco Mendes... O edífício, de arquitetura moderna,  foi construida pela China. Foi inaugurado em 2005. à esquerda, frente ao Palácio Colinas do Boé, fica o CEIBA Hotel.


Foto nº 7   > Guiné.Bissau > Bissau > c. 2015/16/17 > Mais uma vista aérea da cidade, com o CEIBA Hotel à direita, na Av Francisco Mendes. Há aqui um rotunda, no lado direito, vem a Av Brasil, depois continuada pela R Ermelinda Gomes.


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Bissau >  c. 2010 > Av Combatentes da Liberdade da Pátria  > Veja-se o caos do trânsito. Esta avenida é a que nos leva até ao aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, a uma  distância de 7,5 quilómetros.

(...) "Começa-se a entrar nos bairros periféricos e extremamente populosos de Bissau como o Bairro da Ajuda, o Bairro Militar ou o Bairro do Quelelé.

Sem se sair da avenida de duas faixas de cada lado (muitas vezes três!), e já depois de passar a Rotunda da Chapa de Bissau, encontra-se do lado direito a Grande Mesquita de Bissau. Mais à frente, do lado esquerdo, a Embaixada da União Europeia e de alguns países, a sede do BCEAO (Banco Central dos Estados da África Ocidental), o Palácio da Justiça e o complexo que acolhe o gabinete do Primeiro-Ministro e alguns dos ministérios governamentais – a Primatura" (...). Fonte: Guia Turístico: À descoberta da Guiné.Bissau, 2ª ed. revista e atualizada. (Da autoria de  Joana Benzinho e Marta Rosa | Afectos com Letras - ONGD, 2018, 176 pp.)


Foto nº 6  > Guiné-Bissau > Bissau >  c. 2010 > Antigo edifício da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau, sita na Av Amílcar Cabral, do lado esquerdo de quem desce da antiga Praça do Império.


Foto nº 10  > Guiné-Bissau > Bissau >  c. 2010 > Parece ver-se ao centro o "relvado" do Estádio Lino Correia.

Fotos:  © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Data - 7/11/2019, 12h49

Assunto - Fotos da Guiné-Bissau, da década de 2010

Luís:

Estas fotos, com vistas aéreas de Bissaum, são de um amigo meu... Têm interesse ? Se sim, publica...

Pois, o pior são as legendas.

Trata-se de um amigo que ainda espera que eu vá lá à Guiné, com tudo pago e "chauffeur" privativo.

Eu tenho mais de 100 fotos, nem sei, que ele me mandou...  Talvez mais, são minhas, para meu uso, os créditos fotográficos vou ter de lhe perguntar se ele quer ver aqui o seu nome e do seu Hotel e Restaurante.

Foram enviadas por email, em lotes de 40 e mais, por isso devo ter mais de uma centena.

Mas não sei descarregar de uma forma fácil, estas tive de as editar uma a uma e guardar numa pasta o que é muito chato de fazer. 

Não sei como arranjar mais desculpas para me furtar à tal viagem à Guiné, pois já não tenho idade para isso.

Quem nunca mais lá voltou mais, nomeadamente a Bissau, vai ter algum curiosidade em ver como é a cidade hoje, mais de meio século depois... Há ainda alguns pontos de referência fáceis de identificar: a Catedral, o antigo Palácio do Governador,  a Amura, o porto... Podes numeras as fotos e acrescentar as legendas que entenderes... Estiveste lá em 2008, ainda te lembras de alguma coisa... Eu só lá voltei em 1984 e 1985...

Um abraço para todos,
Virgílio Teixeira

Guiné 61/74 - P20343: (De)Caras (141): "Nha Maria Barba" ou Maria da Purificação Pinheiro (Boavista, 1900 - Bissau, 1975): expoente máximo da morna e da morabeza da Boavista, esteve no Porto, no Palácio de Cristal, em 1934, na 1ª Exposição Colonial Portuguesa: notas de leitura de um trabalho de pesquisa biográfica, feita por Antonio Germano Lima, da Universidade de Cabo Verde




Porto > 1934 > 1ª Exposição Colonial Portuguesa  > Cantadeiras da Boavista. Maria Barba (Maria da Purificação Pinheiro) é a primeira da esquerda, de pé, segundo indicação do nosso amigo Nelson Herbert, que nos enviou esta foto, sem citação de fonte. Usa o lenço típico da sua ilha. As restantes cantadeiras eram as seguintes (, não sabemos a ordem): Maria Rodrigues Pereira, Vitória Santos Brito, Luisa Benvinda Santos e Maria Basília Ramos.



Porto > 1934 > 1ª Exposição Colonial Portuguesa  > Cantadeiras da Boavista, Cabo Verde, com homem da Boavista, de pé em segundo plano; há um homem de óculos, no primeiro plano, e por detrás uma senhora, de fato claro, que deviam pertencer à organização. Maria Barba é a primeira da esquerda, de pé. A representação de Cabo Verde, composta por 19 elementos, tinha como delegado "o sr. Machado Saldanha, colonial distintíssimo" ("Ultramar", nº 11, 1 de junho de 1934, p. 4).

Nota de António Germano Lima: Foto emprestada de "Les métis des îles du Cap Vert" [Os mestiços de Cabo Verde], Stuttgart : Ferdinand Enke Verlag, 1937. - [9] p., il. Autoria de António Augusto Mendes Correia (Porto, 1888 . Lisboa, 1960), antropólogo, professor da Universidade do Porto. A foto foi tirada no Porto, Portugal, por ocasião da Exposição Colonial de 1934.





Cabeçalho do "Ultramar - Orgão Oficial da I Exposição Colonial", Porto, nº 11, 1 de junho de 1934 (Diretor: Henrique Galvão). Cortesia de Hemeroteca Digital, CM Lisboa.


nome próprio da Maria Barba era Maria da Purificação Pinheiro, de acordo com o jornal "Ultramar", orgão oficial da Exposição Colonial, dirigido por Henrique Galvão,  n º 11, Porto, 1 de junho de 1934.

"A representação da colónia de Cabo Verde"(título da notícia na pág. 4) era composta por 19 elementos, entre cantadeiras e dançarinas (todas da Boavista), músicos e artesãos.  Facto notável, o jornal referia que desse grupo de 19, "17 sabiam ler e escrever", um proporção de longe superior à média da população metropolitana.

Segundo Germano Lima, na sua página do Facebook, Maria Barba morreu em Bissau, em 2 de julho de 1975, com 70 anos. "Estive cerca de dois meses em Bissau a investigar, fui ao cemitério onde supostamente terá sido enterrada, mas o guia não conseguiu-me ajudar a localizar a sua cova!". 


1. Por mão do nosso amigo Nelson Herbert, guineense com raízes cabo-verdianas, jornalista da VOA - Voice of America,  chegámos a este texto sobre Maria Barba, expoente máximo da Morna da ilha da Boavista,  que viveu (a partir do início da década de 1949 e morreu em Bissau, em 1975) (*), texto esse que é da  autoria do investigador e escritor António Germano Lima. 

O texto original remonta a 1990, mas vamos fazer referência à versão que ele publicou na sua página do Facebook, em 6 de junho de 2012.  Ainda não temos autorização do autor para o reproduzir na íntegra. Nem vamos reproduzi-lo na íntegra, dado o excesso de referências locais bem como ds notas de pé de página. 

Vamos, isso, sim, com a devida vénia,  destacar o interesse do texto para um melhor conhecimento desta cantadeira, esquecida (**), que viveu a última metade da sua vida em Bissau, na antiga Rua Engº Sá Carneiro (hoje, Rua Eduardo Mondlane), sendo a sua família vizinha da família do Nelson Herbert, membro da nossa Tabanca Grande.


2. Breve nota curricular sobre o autor, António Germano Lima:

(i) nasceu na Vila das Pombas, Paul, Santo Antão, Cabo Verde, em 30 de janeiro de 1952.

(ii) frequentou o ensino secundário no antigo Liceu Gil Eanes, no Mindelo, São Vicente, a ilha em frente da sua terra natal;

(iii) em 1980 licenciou-se em Pedagogia (,na especialidade de Administração Escolar), pela Universidade de Brasília;

(iv) exerceu em Cabo Verde vários cargos de direção ligados à Educação e ao Desporto;

(v) dos seus trabalhos de investigação, publicou vários artigos em jornais e revistas especializadas, nacionais e estrangeiros;

(vi) editou, em 1997, o livro “Boavista: Ilha de Capitães (História e Sociedade)” e, em 2002, “Boavista, Ilha da Morna e do Landú”.

Fonte: Adapt. de Cabo Verde Info



3. Notas de leitura, por Luís Graça

"Maria Barba não é ficção nem criação figurativa dos boavistenses; foi uma existência real"  


por António Germano Lima


[Docente da Universidade de Cabo Verde, Praia, 6 de Junho de 2012, Página do Facebook de António Germano Lima; originalmente publicado no Jornal Voz di Povo na década de 90 do século passado.]

O autor aborda três tópicos, relevantes para a história da morna, género musical por excelência da cultura cabo-verdiana, em vias de ser oficialmente classificada pela UNESCO, no próximo mês de dezembro, como "património imaterial da humanidade" (**):

(i) As cantadeiras de Morna da Boavista;

(ii) Maria Barba: símbolo da morabeza boavistense;

(iii) Maria Barba na 1ª Exposição Colonial Portuguesa (Porto, 1934)

Nos excertos que faremos do texto, vamos respeitar a ortografia usada pelo autor. Por outro lado, não vamos sobrecarregar o poste com pesadas referências bibliográficas nem notas desnecessárias,



(i) As cantadeiras de Morna 
da Boavista


A Ilha da Boavista sempre foi terra de cantadeiras, poetas e músicos. E é considerada o "berço da morna".  E mais: era uma terra de cantadeiras-compositoras, como foi o caso, talvez mais notável, da Maria Barba. 

(...) "Dos queixumes e lamentações, típicos da morna antiga boavistense, produziram-se a kantadeira de diante (1ª voz) e o grupo de kantadeiras de baxon (coro),  provavelmente originárias dos trabalhos colectivos livremente realizados na Ilha da Boavista, tais como pastorícia, lavoura, apanha do sal, da urzela e da semente de purgueira, lavagem de roupa e apanha da água nas ribeiras e nas fontes, etc." 

Explica-se depois,  em nota de rodapé que as cantadeiras eram "mulheres que antigamente cantavam em salas de baile", (...) "regressando a casa após um dia de trabalho no campo ou nas ribeira": a  "cantadeira de diante" era a mulher que cantava a morna a solo (1ª voz),  sendo seguida e acompanhada, no "baxon" (coro), por um grupo de outras que vinham  imediatamente atrás.  

Como fonte principal de informação, o autor cita Désiré Bonnaffoux ("Música Popular Antiga de Cabo Verde"), que diz o seguinte: "quantas vezes, até aos anos 1930, as moças da vila de Sal-Rei, Boa Vista, que à tarde iam buscar água à fonte, voltavam ao cair da noite cantando uma Morna muito singela,  composta por algumas delas naquela tarde!"...

Não havia bailes nem salas de bailes sem a imprescindível presença destas cantadeiras: 

Baltazar Lopes, segundo Germano Lima, "informa que as kantadeiras boavistenses tiveram um papel importante não só na composição de mornas como na sua difusão para as outras ilhas". 

Recorde-se que há 3 variantes da morna, a da Boa Vista, a mais antiga, remontando ao séc. XIX; a da Brava, do início do séc. XX, com Eugénio Tavares; e de São Vicente, dos anos 30/40, com B.Leza. Bana (1932-2013) e Cesária Évora (1941-2011), naturais de São Vicente, são nomes maiores da morna, mas já de outra geração. 

Aliás, a Cesária ainda não tinha nascido quando "o meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012), ex-1º cabo inf nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha), chegou ao Mindelo, em julho de 1941. Mas são do mesmo signo, o Leão, o meu pai nasceu a 19 de agosto de 1920, a Césaria a 21 de agosto de 1941.

Por essa altura, a Maria Barba ou estava a partir para a Guiné ou já lá estava. Mas a sua criação, a morna "Maria Barba", era ainda popular no Mindelo, e ficou no ouvido dos expedicionários... O meu pai, pelo menos, ainda a contarolava, muitos anos depois. Bana, por sua vez, só começa a sua carreira nos anos 60, e acaba por ser responsável por manter viva a memória de Maria Barba, que vive esquecida em Bissau.

O autor, Germano Lima, cita depois um extensa lista de cantadeiras que ficaram na Boavista, do princípio do séc. XX até fim da década de 60,  lista essa em que vêm logo a cabeça dois nomes maiores: Benvinda Santos Livramento e a Maria Barba, mas também Vitória Brito, representantes de uma geração da morna boavistense que se extinguiu.


(ii) Maria Barba: símbolo 
da morabeza boavistense


"Uma das provas do espírito acolhedor, de convivência sadia, alegre e amiga da gente boavistense, genericamente alcunhada de kabreiro, é a morna Maria Barba, cuja origem e conteúdo decorrem de um diálogo de despedida entre a célebre kantadeira Maria Bárbara, conhecida por Maria Barba, e o Tenente Serra (...) da Marinha Portuguesa, de passagem pela Ilha em missão de serviço geodésico."

O ten Serra morou, inclusive, na ilha, havendo ainda, em meados dos anos 90, restos da sua casa. 

Mss quem era a Maria Barba ?

Era natural da Povoação-Velha, onde nasceu entre 1895 e 1900 (, segundo um informante local, António Lima, conterrâneo da Maria Barba, e que " teve a sorte de conviver com [ela], já de idade avançada, na Guiné-Bissau". O autor apurou depois que a cantadeira morreu em Bissau, em  2/7/1975, com 70 anos, pelo que terá nascido em 1905. 

(...) "Era filha de Nhâ Barba da Povoação-Velha; seu pai era João de Deus Vitória, natural da Vila de Sal-Rei; era irmã do tocador de viola conhecido por Ti Pó, e de Sátiro, naturais da Vila de Sal-Rei. " (...)O pai era considerado um "proprietário abastado", segundo os padrões locais.

Diz o autor que Maria Barba teve duas filhas, Lixinha e Txutxa, que "emigraram para a Argentina, de onde nunca mais regressaram" (sic)...Não diz se são filhas de um 1º casamento. Nelson Herbert conviveu com os seus netos em Bissau... Filhos de quem ? De rapazes, de outro casamento ? Um ponto  a esclarecer...

Sobre o tenente Serra, que ficou imortalizado pela letra da Maria Barba, sabe-se que "conviveu maritalmente com a kantadeira Vitória Brito, com a qual teve duas filhas: Linda, nascida por volta de 1928, e Djina, mais tarde" (...), as quais emigraram e se casaram no Senegal e nos EUA, respetivamente. (Vitória Santos Brito também fará parte da representação de Cabo Verde na 1ª Exposição Colonial Portugesa, de 1934, no Porto.)

O autor, Germano Lima,  não tem dúvidas sobre a existência real de Maria Barba e da sua importância para a história da morna que, diga-se de passagem, não é só canção, mas também dança:

(...) "De todas as kantadeiras de sala de baile da Boavista, é consenso geral que a Maria Barba, kantadeira de diante, foi a maior de todos os tempos. Ela ficou a ser conhecida para além das fronteiras da Ilha, ao cantar numa sala de baile, para o Tenente Serra, uma das mornas mais antigas da Boavista. Do diálogo então entabulado entre os dois, por um lado, ficaram decalcadas, sobre a melodia dessa morna antiga, novas letras e, por outro, a morna foi rebaptizada com o nome de Maria Barba, perdendo-se as letras e o nome da morna que se pensa original" (...).

E continua Germano Lima:


"O informante João Santos Ramalho (...)  que viveu a cena, conta que, contrariamente ao que se tem dito, Maria Barba não foi espreitar à janela ou à porta da sala do baile onde se entabulou o diálogo entre ela e o Tenente Serra, mas era uma das damas da noite nesse baile: no momento do diálogo, de madrugada, Maria Barba fazia par com o Tenente Serra, querendo, entretanto, deixar de dançar pois tinha de partir, naquela madrugada, para a Manga [, zona extensa e de muita pastagem, quando chove, explica-se em rodapé],para a matança de gafanhoto".

O Cabo Chefe da Povoação-Velha incumbira o Cabo de Polícia de intimar Maria Barba, no dia do baile, para, no dia seguinte, ir trabalhar na matança de gafanhoto, no âmbito da "paga kabesa" (, cada família destacava um elemento para a realização de trabalhos coletivos ou comunitários).


O informante Ramalho, ele próprio, "acompanhava, ao violão, o violinista da noite quando o diálogo entre o Tenente Serra e a Maria Barba se deu, produzindo uma nova poética da morna". 

O autor reproduz depois  extratos das letras da morna Maria Barba, "recuperadas por Eutrópio Lima da Cruz":

TS-Maria Barba, canta mais uma morna
para a despedida do Senhor Tenente Serra. (Bis)

MB-Ó Senhor Tenente, N ka ta kantâ mais
pamô N ta ta bai pa Manga pa matansa de kafanhote.
Ó Senhor Tenente, ali Kóbe de plisa dja bem b’skó-me.
Ai se N ka bai, el ta mandó-me preza pa Porte, oi, oi.

TS-Quem é o Chefe desta povoação?,
porque, Maria Barba, tu não vais ainda.
Quem é o Chefe desta povoação?,
porque, Maria Barba, tu não vais ainda.
...........................................

MB-Saúde Senhor Tenente, saúde, Senhor Engenheiro!
Um muito obrigada de Maria Bárbara.
Ó Senhor Tenente, óra ke busé bai pa Lisboa
ai ka busé skesé de nos, oi, oi.
...........................................


(iii) Maria Barba na 
1ª Exposição Colonial Portuguesa 
(Porto, Palácio de Cristal, 1934)

Maria Barba e outras cantadeiras da Boavista não ficaram conhecidas apenas na sua ilha.A sua fama ultrapassou mesmo as fronteiras de  Cabo Verde, tendo, por exemplo,  participado, um grupo delas,   na 1ª Exposição Colonial Portuguesa (Porto, Palácio de Cristal,  1934). A sua presença está documentada nos jornais da época. 

(...) "Durante este evento, Maria Barba, Luísa Benvinda Santos (Pantxa de Benvinda) e Vitória Brito, todas de Povoação-Velha, Lusy de Totó, da Vila de Sal-Rei, e Marí Jíjí, da Bufareira, cantaram no Palácio de Cristal, no Porto" (...).

As  cantadeiras foram acompanhadas por uma "orquestra" (conjunto tradicional) composta por 4 instrumentos (violino, violão, viola e cavaquinho) e 8 tocadores (dois por instrumento. 



Nha Maria Barba, com um dos netos ao colo,  em Bissau, c. anos 50, na sua casa em Bissau,  na Rua Eng Sá Carneiro (hoje, Rua  Eduardo Mondlane)... Nos anos 60/70,  em frente da casa ficava a messe de sargentos  da FAP.

Foto (e legenda): © Nelson Herbert (2019).  Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem  complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


E remata o autor:

(...) "Muitos outros dados poderíamos aqui avançar sobre esta figura, a Maria Barba, que tanto contribuiu, no seu tempo, para a divulgação da morna, em Cabo Verde, em Portugal e na Guiné-Bissau. Os seus ossos repousam, hoje, num dos cemitérios da Guiné-Bissau, para onde emigrara, já de meia-idade [, no início dos anos 40].

"Quando a saudade apertava o seu peito e cantava a morna que leva o seu nome, no fim acrescentava o seguinte dístico: - Oi toda vez ke N ta kantâ ese morna / el ta faze-me lenbrâ Bubista, nha téra (...).  

(...) "Por isso, pensamos que a memória da Maria Barba merece, não só uma melhor referência mas também, e sobretudo, um pouco mais de atenção por parte das autoridades competentes: que tal a transladação dos seus ossos para a sua querida Boavista (Governo de Cabo Verde, em colaboração com o Governo da Guiné-Bissau) e a elevação de um busto na Povoação-Velha (Câmara Municipal, com ajuda das forças vivas da Boavista)? 

"Desta forma, a kantadeira Maria Barba ficaria solidamente na nossa memória colectiva e, assim, ninguém mais ousaria atentar contra a sua existência real."

Mantenhas para o autor, a quem agradecemos a informação e o conhecimento que quis partilhar connosco, bem como para o Nelson Herbert, bom amigo que, afinal, ainda está em Washington, esperando reformar-se "nos próximos 2 a 3 anos e passar mais tempo no Mindelo".

[Notas de leitura elaboradas por L.G] [***]

______________

Notas do editor:

(*) 11 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13718: Recuerdos de uma infância: a Nha Maria Barba, a avó Barba, cantadeira de mornas, da Boavista, minha viziinha de Bissau (Nelson Herbert, VOA - Voice of America)

(**) Vd. postes de:


9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20328: Meu pai, meu velho, meu camarada (59): "Maria Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más... Uma morna imortal, numa homenagem à Morna, em vias de ser oficialmente consagrada como "património cultural imaterial da humanidade"

11 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20332: Historiografia da Presença Portuguesa em África (184): O modelo (Maria Barba) e o fotógrafo (José Bacelar Bebiano)... A propósito de uma morna "imortal"...Resta saber quem era o "senhor tenente Serra"...evocado na letra "Mária Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más...

12 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20335: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (112): Nha Maria Barba, ou avó Barba, a grande cantadeira de mornas da ilha da Boa Vista, foi minha vizinha, em Bissau: morávamos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a dos serviços metereológicos e da messe de sargentos da FAP... (Nelson Herbert, Mindelo, Cabo Verde)

(***) Último poste da série > 2 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20303: (De)Caras (114): Ainda o comerciante António Augusto Esteves, transmontano, fundador da Casa Esteves, falecido em Lisboa em 1976 (Lucinda Aranha)