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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21718: O segredo de ... (33): conversas da treta entre dois milicianos da CCAÇ 12 (Luís Graça / João Candeias da Silva)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970, ao tempo do BART 2917 > O Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. Era o comandante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12 e, na prática, o 2º comandante da companhia. Era o homem de confiança do Cap Inf Carlos Brito. O melhor preparado dos oficiais milicianos da companhia. Tinha o curso de operações especiais. Era disciplinado e disciplinador. Um homem afável, mas algo distante e reservado, muitas vezes escondido sob os então na moda óculos de sol Ray-Ban (um "ronco"  muito apreciado pelo milicianos, que tinham algum poder de compra no TO da Guiné...). 

Sempre o tratei por você... Fora da actividade operacional, convivíamos pouco, eu e ele. Não era homem de noitadas. E nunca ou raramente vinha beber um copo connosco no bar de sargentos, contrariamente ao alf mil Abílio Machado, da CCS / BART 2917. 

Era "compreensível":  os furrieís da CCAÇ 12, milicianos, mais os dois sargentos do QP (e, em particular, o impagável 2º sargento Piça), tinham um excelente espírito de corpo... Mas, numa sede de batalhão, o "espírito de casta" era cultivado e mantido, e o convívio, "fora do mato" (leia-se: da guerra) entre oficiais, sargentos e praças não eram bem vistos ... 

O bar de sargentos de Bambadinca era, em 1969/71, o único sítio, dentro do grande quartel que era o de Bambadinca, onde "os três estados, a nobreza, o clero e o povo", podiam confraternizar...  Vistas as coisas à distância de meio século,  Bambadinca era bem um retrato de um Portugal que estava em vias de desaparecer... 

Não creio que o Moreira conheça o nosso blogue... Nunca nos contactou. Respeito o seu silêncio, o dele e dos demais camaradas que estiveram connosco no TO da Guiné, e que têm, provavelmente,  reservas quanto ao risco de exposição da sua vida privada, decorrente da participação de um blogue como este...  

Vi-o,  pela última vez, em 1994, em Fão, Esposende, no 1º encontro do pessoal de Bambadinca (1968/71). Desejo-lhe muita saúde e longa vida e um ano de 2021 melhor do que o "annus horribilis" de 2020. E daqui vai, para ele,  um alfabravo do tamanho do nosso longo e sinuoso Rio Geba de cuja água bebemos os dois. 

Claro que ele não tem nada a ver com a "conversa da treta" travada entre mim e o Joâo Candeias, reproduzida a seguir.

Foto do  álbum do Benjamim Durães, tirada numa tabanca fula em autodefesa, que não consigo identificar.  

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > CCAÇ 12  (1969/71) > Estrada Xime-Bambadinca > O 1º comandante da companhia, o Cap Inf Carlos Brito (hoje, coronel na reforma), uma homem afável e  educado, mas já à beira dos 40 anos, e que delegava grande parte das responsabilidades operacionais no alf mil op esp / ranger Francisco Moreira... 

O Carlos Brito também não tem a nada a ver com os "segredos" aqui partilhados a seguir. Esta foto pretende apenas ilustrar a "solidão" de muitos dos nossos comandantes operacionais, quer do QP, quer milicianos, que os impediam de conviver com os seus subordinados, milicianos e praças, fora das horas da guerra... Como se dizia na tropa, "serviço era serviço, conhaque era conhaque". Ou seja, nada de misturas. Acredito que noutros quarteis do mato, com instalações mais precárias e exíguas, o "distanciamento social" fosse mais curto...

Foto: Arquivo de Humberto Reis (ex-fur mil op esp / ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O nosso blogue vai fazer 17 anos (dezassete anos !!!), em 23 de abril de 2021, se lá chegarmos,..  Desde 2008, ou seja,  há 12 anos,  temos vindo a contar "segredos", pequenos e grandes segredos, da nossa vida militar, ou até pessoal ou mais íntima,  "coisas" passadas há mais de meio século, mas que só agora, por uma  razão ou outra, queremos partilhar uns com os outros... 

O propósito deste série, "O segredo de...", é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo da tropa e da guerra (1961/74),  que estavam guardadas só para nós ou só eram do conhecimento do nosso círculo de relações restrito (alguns camaradas de armas) ou mais íntimo (cônjuge, filhos, amigos do peito).

É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que esses factos pudessem eventualmente, à luz da época, constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou ética militares, os usos e costumes, a moral da época, o "politicamente correto",  etc.

Aprendemos, neste blogue, a "saber ouvir os nossos camaradas de armas e a não julgá-los"!...  Nomeadamemnte, os vivos... Nos dois casos a seguir referidos, há omissões que são compreensíveis (*). Trata-se de uma "conversa" que não é da treta, entre o nosso editor Luís Graça e o João Candeias da Silva, por coincidências dois camaradas que integraram a mesma companhia, a CCAÇ 12 (formadas por praças do recruramento local) mas em épocas diferentes, e que por isso nunca se cruzaram, "nem lá nem cá"... A CCAÇ 12, formada no CIM de Contuboel (1969), esteve em Bambadinca (1969/73) e no Xime (1973/74), tendo estado "ao serviço de" quatro batalhões diferentes. Foi extinta em meados de 1974.

O João Candeias Silva foi fur mil at inf, de rendição individual, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama (1973/74). O Luís Graça é um dos "pais-fundadores" da CCAÇ 12 e é o autor da única história da unidade que existe no Arquivo Histórico-Militar.

(i) João Candeias Silva:

Não sei se estou a pôr a pata na poça, mas em 73 um alferes, que não recordo o nome, foi colocado numa companhia que estava a fazer a protecção aos trabalhos nessa estrada [Farim-Mansabá]

Estivemos juntos em Cabuca na CCAC 3404 em finais de 1972. Em 73 Janeiro fui para a CCAÇ 12 e ele para a companhia que estava a fazer a segurança à estrada de Farim.

Passados meses, talvez uns seis encontramo-nos em Bissau, placa giratória, para ir e para vir de férias ou ir para o mato ou consulta externa, etc. E qual não é o meu espanto, em vez de ter o galão de alferes, era 2° sargento. Tinha levado uma porrada.

Da conversa que tivemos o assunto tinha chegado ao Spínola. Ele, um ótimo rapaz, precisava de desabafar e ficávamos muito tempo à conversa. O assunto tinha-o abalado muito. Não era caso para menos.

Não sei como terminou.

Julgo ter sido um caso inédito.

Sobre este assunto tem de haver registo no arquivo do exército e sobre a nega da CCAÇ 12 em ir para o Xime também é pouco plausível que não haja. (*)

(ii) Luís Graça:

João, há muitas histórias da nosssa guerra que nunca chegarão à luz do dia... Algumas já chegaram ao nosso conhecimento através do blogue...

Isto é como a história dos impedimentos do casamento em que o oficiante, antes de se dar o nó, pergunta, na presença dos noivos, dos padrinhos, dos pais, da família e dos demais convidados, se alguém tem alguma objeção aquela união, então que "fale ou cale-se para sempre"...

Alguns de nós perdemos a oportunidade de falar na altura devida, e agora resta-nos falar aqui ou calarmo-nos para sempre... Sempre assim foi em todas as guerras...e nos pós-guerras.

Mesmo assim, entre dois uísques, num alamoçarada, num convívio, às vezes lá sai um "segredo de confessionário"...

Quando fui a Angola (e fui lá meia dúzia de vezes a partir de 2003), houve antigos miliatres das FAPLA, do topo da hierarquia (oficiais generais), que me contaram "segredos de Estado", à mesa... Coisas "sinistras" que só agora há coragem para se falar delas em público (como o que aconteceu na sequência dos trágicos dias de 27 de maio de 1977 e seguintes)..

Mas voltando à Guiné, soube há uns anos de uma história dessas que não podem aqui ser contadas, com datas, locais, topónimos, nomes de camaradas, etc.

Num destacamento (que não vamos identificar porque os protaggonistas estão vivos), guarnecido por a nível grupo de combate, e na ausência do comandante (alferes miliciano), dois militares desatam à porrada, por razões de lana caprina...

Muitas veses estes conflitos entre dois camaradas e amigos eram provocados pelo stress, a tensão, o isolamento, a exaustão, o cansaço, a promiscuidade, a subnutrição, mas tabém o álcool, etc.

Soco atrás de soco, um deles cai de costas, bate com a cabeça no chão, takvez nalguma pedra,  e morre, de traumatismo craniano (presume-se)... E agora ? Como justificar um "trágico acidente" destes, na ausência de um ataque ou flagelação do destacamento por parte do IN ou de embocada nas imediações ?...

Fez-se um "pacto de silêncio" entre todos os presentes (soldados, cabos e um furriel...). O corpo foi transportado num Unimog e entregue na sede da companhia ou do batalhão, já cadáver...

Deve ter havido um auto de averiguações, mas toda a gente (os graduados e as praças) mantiveram a mesma versão, a de uma queda acidental, infelizmente mortal...

O "pacto de silêncio" também faz(ia) parte das regras de camaradagem... Ontem como hoje... em toda parte do mundo, em todas as guerras (*)


(iii) João Candeias da Silva:


Caro Luís: As conversas são como as cerejas. Ao ler o que descreveste sobre a pancadaria que teve tão trágico desfecho (*), veio à minha memória uma ocorrência na CCAÇ 12 que vou descrever.

Estávamos ainda aquartelados em Bambadinca, no topo do edifício onde era a messe da CCAÇ 12, virado para a escola, havia 4 ou 5 cadeiras de baloiço feitas de pipas de vinho.

E nós, os furrieis, costumavamos depois do pequeno almoço ficar por ali na cavaqueira. Naquele dia, algures entre feveiro e março de 1973, devia ser domingo, pois estávamos à civil. Bem instalados, e na conversa da treta, éramos uns de 4 ou 5 furrieis.

Os cadeirões todos ocupados. Chegou um alferes da 12, começou a conversar connosco.
A conversa foi-se prolongando durante um bocado e, completamente fora do contexto, o alferes disse para um furriel: "Levanta-te, que eu quero sentar-me."

A nossa primeira reacção foi que o alferes estava a brincar, mas como o furriel não se levantou para lhe ceder o lugar, o tom de voz subiu e disse ostensimante: "Levanta-te, é uma ordem!.

Como o furriel não lhe obedeceu, deu-lhe uma chapada na cara. Após a agressão, o furriel levantou-se e, felizmente, não reagiu à agressão. Nós estávamos incrédulos e sem palavras. Era surreal o que estava a acontecer na nossa frente.

O furriel acabou por fazer queixa, pois como sabes o inferior hierárquico não pode participar, e tem logo à partida garantida uma porrada que tem como consequência imediata a perda do mês de férias.

O fim da ocorrência não sei como terminou.

Para situação ainda hoje não encontro justificação. Foi presenciada por mim e pelo António Duarte, entre outros, que não recordo.

Durante muito tempo fiquei a matutar: "E se fosse comigo?!!... (*)
________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21170: O segredo de... (32A): Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)... "Também tenho um víquingue na minha árvore genealógica"

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20169: In Memoriam (349): António Manuel Carlão (1947-2018): testemunhos e comentários (Abel Rodrigues, Fernando Calado, Arsénio Puim, Jorge Cabral, Luís Graça)



Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a  malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852, mas também malta do BART 2917 (1970/72)... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão, ao centro, assinalado com um retângulo a amarelo:

Na primeira fila, da esquerda para a direita: 

(i) Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vivia no Porto, na altura ]; 

(ii)  sold cond auto Diniz Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres]; 

(iii) um antigo escriturário da CCS/ BART 2917 (morava em Fão, Esposende); 

(iv) Alf Mil Inf António Manuel Carlão (1947-2018) [,casado com a Helena, comerciante, vivia em Fão, Esposende];

(v)  Fur Mil Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal; damista, grande jogador de king e de lerpa, no nosso tempo, a par do Humberto Reis]; 

(vi)  Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís [Manuel da ]  Graça [ Henriques]  [, prof univ., fundador deste blogue, vivia em Alfragide / Amadora]; 

(vii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"); 

(viii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vivia, agente de seguros reformado]...


Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: 

(ix) Fernando [Carvalho Taco]  Calado, Alf Mil Trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vivia em Lisboa];

(x) Alf Mil Manutenção Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 ], vivia em 

(xi)  Fur Mil António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vivia em Martingal, Sagres, Vila do Bispo]; 

(xii)  Capitão Inf Carlos Alberto Machado Brito [, Cor Inf Ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR]; 

(xiii) camarada, de óculos escuros, que não sei identificar [, diz-me o Fernando Andrade Sousa que se trata do Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, natural de Resende];

(xiv) major àngelo Augusto Cunha Ribeiro, mais conhecido por "major elétrico", 2º comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); 

(xv) Fur Mil Op Esp Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, vive Alfragide / Amadora; na foto, escondido, de óculos escuros]; 

(xvi) camarada não identificado;

(xvii) Alf Mil Cav José Luís Vacas de Carvalho, Pel Rec Daimler 2206; 

(xviii) Alf Mil Inf Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70; vive em Lisboa, nosso colaborador permanente]

(xix)  Fur Mil António Fernando R. Marques [, natural de Abrantes, vive em Cascais, empresário reformado]; 

(xx)  Manuel Monteiro Valente [de bigode e de perfil, ex-1º Cabo, 1º Gr Comb, CCAÇ 12, apontador de dilagrama, vive no Porto, organizou o convívio, em 2019, do pessoal de Bambadinca, 1968/71]

(xxi) Abel Maria Rodrigues [hoje bancário reformado, vive em Mirando do Douro, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12]; 

(xxii) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em V. N. Famalicão, se não erro; nunca mais o vi, desde deste 1º encontro, em 1994; não é membro daTabanca Grande]; 

(xxiii) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive ou vivia no Barreiro; não é membro da Tabanca Grande ]; 

(xxiv) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes numa operação, vive na Covilhã,: não integra a Tabanca Grande]; 

(xxv)  Fernando Andrade Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa); 

(xxvi) e, por fim, 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Cinco mensagens ou  comentários de membros da nossa Tabanca Grande que conheceram (e conviveram com) o  António Carlão (*):


(i) Abel Maria Rodrigues [, vive em Mirando do Douro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, cmdt do 3º Gr Comb]

Olá, Luis!
Obrigado pela tua comunicação sobre o falecimento do Carlão. No dia 30/8/2019 o Duraes publicou a triste notícia no grupo [, fechado,] Bambdainca, do Facebook,  de que è administrador. 
Eu era o único da companhia [, CCAÇ 12,]  que mantinha contacto regular com ele, pois ia muitas vezes jantar ao restaurante dele [, em Fão, Esposende,]  com a minha família e cheguei a ir também com o Branco, o Sousa e o Mateus.
Tinha falado com ele por telefone pouco antes de falecer e disse-me que tinha fechado o restaurante e passava a vida entre Fao e o Canada onde vivia uma filha.
Fiquei chateado com a Helena por não me ter comunicado, pois ele costumava caçar com primos meus na minha aldeia e também não souberam nada.Quanto á duvida que tens ele veio do CSM mas não passou pelos Rangers [,em Lamego]..
Paz para alma dele e dos camaradas já falecidos e saúde para os que por cá continuamos.
Grande abraço, Abel
(ii) Fernando Calado [, vive em Lisboa, ex-alf mil trms, CCS / BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70]
Junto foto do 1º. encontro da malta que esteve em Bambadinca no período 1968/1971, que teve lugar em Fão e que foi organizado pelo Carlão. O almoço decorreu num restaurante cujo proprietário, julgo, era o próprio Carlão.

Estamos todos bastante mais novos mas não tenho registo da data de realização do evento [, 1994].

Um grande abraço para todos.

Fernando Calado

(iii) Arsénio Puim [, vive na ilha de São Miguel,  RA Açores, ex-alf mil capelão, BART 2917, Bambadinc, 1970/72]

Amigo Luís Graça:

Obrigado pela informação sobre a morte do ex-alferes Carlão, que eu sinto, como acontece sempre que tenho conhecimento do falecimento de algum colega do nosso Batalhão. Nos dois encontros do Batalhão em que participei, lembrei-me e perguntei informações dele, que, na verdade, eram escassas.
Contactei, naturalmente, várias vezes com o António Carlão. Pessoa porventura um pouco polémica, mas sempre muito atencioso para comigo.

Na referida coluna para o Saltinho, que eu aproveitei para me deslocar para Mansambo, a sua esposa Helena ia no mesmo camião que eu, «à minha guarda», como vocês dizem por graça. Numa altura, o Carlão veio dizer-me para eu ir lá à frente à cabeça da coluna, porque havia problemas. Realmente, lá estavam dois picadores nativos gravemente feridos. Um deles pareceu-me mesmo estar morto, merecendo todo o meu respeito. Ao outro dei-lhe um momento de apoio e simpatia.

A lembrança que tenho da Helena é de uma mulher simpática e engraçada e com consideráveis dotes para cantar, que bem contribuiu para animar os nossos serões em Bambadinca. Pois, como dizia um professor meu de História a respeito da «guerra das damas», ela era «uma nota de ternura no meio daquele ambiente belicoso».

Daqui e por este meio, envio à Helena e família os meus sinceros pêsames. Para ti, Luís, um grande abraço. Arsénio Puim

(iv)  Jorge Cabral [, vive em Lisboa, ex-alf mil art, cmdt Pel CAÇ nAT 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]

A minha total solidariedade com a Helena! Creio que estiveram num Encontro em Montemor Novo, há anos. A Helena era uma miúda, quando apareceu em Bambadinca. No referido encontro, conversei muito com ela. Lembro-me dela dizer à minha mulher: "O Cabral era um rapaz muito bonito".

É a vida...O Carlão , a Helena...todos nós tão jovens! Carlão Amigo, até qualquer dia, mas não uses o dilagrama...Jorge Cabral

(v) Luís Graça [, editor do blogue, ex-fur nil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71]


Uma das nossas 14 obras de misericórdia é enterrar os mortos e a outra é cuidar dos vivos... "Alfero" Cabral, não fui a esse encontro de Montemor-o-Novo, razão por que, desde 1994, nunca mais vi o casal Carlão...

A Helena, embora muito jovem, foi corajosa em meter-se naquele "vespeiro" que era Bambadinca... Quando foi para lá era a única branca no perímetro do arame farpado, depois da professora cabo-verdiana que vivia "enclausurada" na escola, com a mãe, e que não convivia com os militares... 

Portanto, a Lena foi a primeira mulher de um militar, metropolitano, a vir viver para Bambadinca, depois do ataque ao quartel em 28 de maio de 1969... Ao tempo do BCAÇ 2852, que terminou a sua comissão em maio de 1970, um ano depois...A Lena deve ter chegado a Bambamdinca depois das férias do Carlão, talvez já no fim do ano de 1969 ou princípio de 1970. Só mais tarde, com o BART 2917, vieram outras senhoras...

Continuo a pensar que terá sido uma decisão errada, a do meu cap inf Carlos Brito, ter autorizado um dos seus oficiais a trazer a esposa, recém.casada... Era (é, ainda está vivo) um bom homem, mas deixou-se ir na cantiga do Carlão... A Lena podia ter regressado viúva à sua terra...A CCAÇ  12 (e o seu setor de intervenção, o setor L1) não era companhia para se passar "luas de mel"...
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

sábado, 21 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

António Manuel Carlão
(Mirandela, 1947- Esposende, 2018)
1. Através do nosso amigo, camarada e grã-trabanqueiro, Fernando Sousa, que viva na Trofa  (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969 / março de 1971), soubemos ontem da notícia, tardia, da morte do ex-alf mil António Manuel Carlão, ocorrida no  passado dia 14 de novembro de 2018.

Essa triste notícia foi por nós confirmada através de pesquisa na Net:

"2018-11-14 > Deixou o nosso convívio... > Faleceu hoje António Manuel Carlão com 70 anos de idade, após doença prolongada. Era natural de Mirandela mas residia há bastantes anos nesta Vila fangueira, mais recentemente no lugar dos Lírios. Era genro do falecido sr. Bento da Lareira [, restaurante "A Lareira", em Fão,], figura que foi bastante conhecida na restauração local.

"O seu corpo encontra-se a ser velado na Casa Mortuária de Fão e as cerimónias fúnebres e religiosas terão lugar amanhã, quinta feira, a partir das 16 horas, indo depois a sepultar no cemitério local.

"O Novo Fangueiro apresenta a todos os familiares os votos sentidos de profundo pesar."


Também vimos, no Facebook da Agência Funerária Fangueira, a notícia necrológica dada pela família (esposa, filhos, genros, netos e demais parentes).


[Foto à direita:] Esposende > Fão > 1994 > 1º Encontro do pessoal de Bambadinca (1968/71): CCS do BCAÇ 2852 (1969/71), CCAÇ 12 (1969/71), Pel Daimler 2206 (1970/71) e outras unidades adidas.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Na foto, à direita, aparecia o ex-alf mil António Carlão, transmontano, da CCAÇ 12,  era o terceiro a contar da esquerda, sendo ladeado, à  sua direita, pelo Humberto Reis (Lisboa)n  o José Luís Sousa (Funchal), ex-furriéis, da mesma unidade; e, à sua  esquerda,   pelo José Luís Vacas de Carvalho (Lisboa), ex-alf mil cav do Pel Rec Daimler 2206

O Carlão era, na altura, comerciante em Fão, tendo tido ele o mérito de organizar do encontro, com a prestimosa colaboração da sua esposa Helena que conviveu connosco em Bambadinca, durante grande parte da comissão.

Foi a primeira (e última) vez,  de resto, que o reencontrei depois do regresso da Guiné, em março de 1971. No verão de 2018, passei por Fão e procurei saber notícias dele.  Disseram-me que tinha mudado de local de residência. Verifiquei que o sogro era pessoa conhecido na terra pela sua ligação à restauração, mas que já deixara a gerência do restaurante "A Lareira". Pelo que apurei, o Carlão e a Helena devem ter vivido em Angola, depois do regresso da Guiné, até à data da independência. Segundo bem percebi, a família da Helena era retornada e integrou-se bem em Fão, Esposende.

Tanto quanto me lembro, o Carlão veio do CSM para o COM, e foi mobilizado para a Guiné através da nossa CCAÇ 2590, que mais tarde daria origem à CCAÇ 12. Era originalmente o comandante do 2º Gr Comb, a quem pertcnciam, entre outros, os ex-fur mil, nossos grã-tabanqueiros, António Levezinho e Humberto Reis.  Teve uma atuação polémica no decurso da Op Pato Rufia, no subsetor do Xime, em 7 de setembro de 1969, de que resultou a primeira baixa mortal da companhia, o sold at inf Iero Jaló (*).

Entretanto, ainda antes de casar (a esposa virá  viver para Bambadinca,  creio que a partir de finais de 1969 ou princípios de 1970),  o António Carlão é escolhido pelo cap inf Carlos Brito para integrar a equipa técnica do reordenamento e autodefesa  de Nhabijões (**): essa equipa, pelo lado da CCAÇ 12, é constituída, além do alf mil António Manuel Carlão, pelo fur mil Joaquim A. M. Fernandes, o 1º cabo at Virgilio S. A. Encarnação e o sold arv Alfa Baldé,  os quais vão  tirar o respetivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969. A essa equipa juntam-se dois  carpinteiros, os 1º cabos aux enf Fernando Andrade de Sousa, que vive hoje na Trofa, e o Carlos Alberto Rentes dos Santos, que  vive em Amarante (**).  

Esporadicamente, o alf mil Carlão ia fazendo uma ou outra coluna logística (aos subsetores de Mansambo, Xitole e Saltinho). Numa delas,  rebentou na frente da coluna uma mina A/C, num dia em que ele decidiu levar a sua Helena para ver os rápidos do Saltinho. Ainda me recordo como ia vestida: de camuflado e sapatos de salto, vermelhos... Seguia  "à guarda" do alf mil capelão Arsénio Puim.  Por razões de segurança (e de bom senso), acabou por ficar retida, a meio do trajeto, em Mansambo (***).


2. Temos, no nosso blogue,  uma escassa meia dúzia de referências ao António Manuel Carlão, e também à sua esposa,  Helena Carlão,  que era uma das poucas senhoras que viveu em Bambadinca no nosso tempo (****)



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca, > CCS/BART 2917 (1970/72) > s/d  [. c. 1970] > Messe de oficiais > Da esquerda para a direita: (i) o Cap Art Passos Marques, comandante da CCS; (ii) o Alferes Sapador da CCS, Luís Moreira; (iii) a Helena Carlão, a mulher do Alf Mil Inf Carlão (CCAÇ 12); (iv) o Alf Mil Inf Abel Rodrigues (CCAÇ 12); (v) o Alf Mil Abílio Machado (CCS); (vi) e o Alf mil Op Esp Francisco Moereira; e (vii)  mais um oficial que não conseguimos idemtificar, provavel,mente da CCS, ou de uma suubidade adida ao BART 2917.

 Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Convivi pouco com o alf mil Carlão, e menos ainda com a Helena (****). Vivíamos, os oficiais, os sargentos e as praças em "regime de apartheid", ou seja, de "segregação socioespacial"... Cada classe tinha os seus espaços de hotelaria,  sociabilidade, lazer e convívio. Outros camaradas poderão falar melhor do que eu do António Carlão e da Helena Carlão. Nunca tivemos relações de amizade nem nunca o Carlão se aproximou do nosso blogue. Em todo caso, e em memória do que passámos juntos (, a Op Pato Rufia foi, não posso esquecê-lo, o meu batismo de fogo...), eu acho que ele deve figurar, a título póstumo, na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande...

A sua aventura terrena acabou em 14/11/2018, por motivo de doença prolongada, aos 71 anos incompletos.  Lamentamos só agora ter sabido da sua morte. Que esta pequena homenagem  do nosso blogue seja vista pela Helena, e pelos seus filhos e netos, como um tributo de saudade dos antigos camaradas de armas do António.  Ele entra, a título póstumo,  para a nossa Tabanca Grande com o nº 797, depois do Domingos Robalo (nº 795) e do Carlos Marques de Oliveira (nº 796), cuja apresentação será feita nos próximos dias.

Embora com um atraso de 10 meses, aqui fica a manifestação do nosso apreço e da nossa solidariedade na dor,  para a Lena e a sua família. É missão, nobre, do nosso blogue "enterrar os nossos mortos" e "fazer o seu luto", não deixando os nossos camaradas da Guiné ir para a "vala comum do esquecimento". É esse o sentido do nosso gesto. (*****)
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sábado, 24 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)


Guiné > Região de Bafatá  > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, António Manuel Soares, que teve morte imediata.

Nhabijões era um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina / Fiofioli).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O António Fernando Marques, empresário, reformado, natural de Abrantes, residente em Cascais, nosso grã-tabanqueiro, faz hoje 73 anos... 

Foi meu camarada de infortúnio, era fur mil at inf, pertencia como eu à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Vivemos no mesmo quarto, fizemos muitas operações juntos. É um amigo que muito prezo.Chamava-lhe, por brincadeira, o "Marquês sem acento circunflexo".

Esteve 17 dias em estado de coma, no HM 241, e 2 anos hospitalizado, em Bissau e em Lisboa, em 1971/72... Penitencio-me de nunca o ter ido ver ao Anexo do Hospital da Estrela, em Campolide, durante anos perdemos o contacto!... Voltei a revê-lo em 1994, no 1.º encontro do pessoal de Bambadinca, em Fão, Esposende. O nosso blogue ajudou-o a reconstituir esses 17 dias que passou no inferno, um presente envenenado do comandante do PAIGC, Mário Mendes (que morreria mais tarde de morte matada, em 1972, sem completar as 28 luas).  Trágica ironia: foi morto pelos mesmos homens, os do nosso 4.º Gr Comb / CCAÇ 12, a quem calhou uma das minas A/C mandadas pôr por ele, à porta do reordenamento de Nhabijões. Se fosse vivo, diria, em conversa connosco, em Bissau, com a voz de guineense: "Mas... guerra era guerra!"... "Pois é, Mário, sempre e em toda a parte, guerra é guerra!"...

Ele, Marques,  acha que me deve a vida, a mim, e eu, Henriques,  estou-lhe grato pelas mesmas razões. Afinal, se  estou vivo, é porque, suprema ironia,  eu ia no "lugar do morto"... Fui eu que o levei, num correria louca, até ao heliporto de Bambadinca... No lugar dele, não sei se teria sobrevivido... Além disso, ele teve um extraordinário anjo da guarda, de nome... Gina! (*)

Um minuto antes da fatídica mina A/C que nos ia mandando para os anjinhos, disputávamos amigavelmente o "lugar do morto", ou seja, discutíamos sobre quem ia à frente, na GMC, ao lado do condutor... Depois da habitual cantilena, "vais tu, vou eu, vais tu"... ele foi para trás, e eu sentei-me à frente... Azar o dele, sorte a minha: ele ia justamente por cima da dupla roda da GMC do lado direito, que fez accionar a maldita mina... Em 13 de janeiro de 1971, aos 20 meses de Guiné. Aqui fica, em sua homenagem, o filme dos acontecimentos (**).

Recordar é viver duas vezes, e blogar é três (***).

Recordo que foi o  comandante Mário Mendes, em pessoa,  e com o sapador do  seu bigrupo,  que nos pôs essas duas minas A/C, à saída do reordenamento de Nhabijões, acionadas por viaturas nossas em 13/1/1971...  Para o Marques a guerra iria durar mais 2 anos, no calvário dos hospitais... Por sorte, esse não foi o meu dia de azar: ia à frente, o Marques ia atrás, em cima da viatura com 2 secções... Eu estava na altura no 4.º Gr Combate, o mesmo que nos vingaria, matando o  Mário Mendes num duelo fatal, em pleno mato... Um ajuste de contas, a lembrar os filmes do faroeste da nossa infância... 16 meses depois, já eu estava há muito na metrópole!... O Marques está vivo, e tem filhos, netos e amigos que lhe dão hoje os parabéns por estar vivo e de boa saúde... O Mário Mendes, que lhe rouba 17 dias de hoje (em que o Marques esteve em coma), já não está entre os vivos... Será que tem alguém, na sua Guiné natal, que se recorde dele ? (****).


História da CCAÇ 12 (1969/71) > (19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses

O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Da esquerda para a direita, os ex-furriéis milicianos António F. Marques e Luís M. Graça Henriques, da CCAÇ 12 (1969/71), em amena conversa ou talvez disputando amigavelmente o "lugar do morto" (que era ao lado do condutor).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. (Editada: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

(i) às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli [, subsetor do Xime,] vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT;

(ii) às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo sold comd auto Manuel da  Costa Soares, da CCAÇ 12, que ia buscar, a Bambadinca, a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C;

(iii) o condutor teve morte instantânea: ficaram gravemente feridos um oficial (CCS / BART 2917), o alf mil Luís sapador Luís R. Moreira, um sargento,  o fur mil Joaquim Fernandes (CCAÇ 12) e uma praça (CCS / BART 2917);

(iv) imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

Ao chegar junto da viatura minada, o cmdt do 4° Gr Comb, o alf mil cav José António G. Rodrigues, [, já falecido, depois do regresso a Portugal, era funcionário da Segurança Social, em Lisboa] deixou duas praças a fazer a deteção, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento de Nhabijões, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe, um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões, entretanto transferidos para o reordenamento, mas nas proximidades do reordenamento, em Bolubate, aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalhava na bolanha.

Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos fur mil António Fernando Marques e Luís M. Graça Henriques], entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado traseiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detetada pelos picadores.

Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o fur mil Marques e os sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane, todos do 4º Gr Comb / CCAÇ 12.

Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o alf mil Rodrigues, o sold trms Pereira e os sold Cherno e Samba.
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Notas do editor:

domingo, 7 de julho de 2019

Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Convívio no bar de sargentos, em meados 1970, ou em 30 de novemhro de 1970, no 38º aniversário do 1º sargento Fernando Brito; ou ainda, festa de Natal de 1970?

Inicialmente inclinava-me para a hipótese de ter sido em "meados de 1970", ainda estávamos em "lua de mel", os "velhinhos" da CCAÇ 12, e os "piras" do BART 2917, aqui representados, à direita,  pelo 2º Comandante, maj art José António Anjos de Carvalho, sempre fardado, hoje cor art ref, e à esquerda, pelo  1º srgt art Fernando Brito (1932-2014)...

As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do alf mil at inf António Manuel Carlão, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o casal vive hoje em Fão, Esposende); à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do major art, Jorge Vieira de Barros e Bastos (mais familiarmente conhecido por Bê Bê, era o major de operações do comando do BART 2917; hoje cor art ref); e à sua direita, Isabel, a esposa do José Alberto Coelho, o fur mil enf da CCS/BART 2917 ) (o casal vive hoje em Beja).

Mas tudo indica que se trata da festa de aniversário do 1º Brito, em 30/11/1970, apesar de, nessa altura, as relações com o major art Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão, serem  muito crispadas e tensas... Dias antes, tínhamos sofrido em brutal revés, no subsetor do Xime, com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente)...

A CCAÇ 12, como companhia de intervenção, africana, estava adida ao comando do setor L1. Inclino-me mais para a festa de anos do 1º Brito, que era de facto um "senhor 1º sargento", e que mantinha com a malta da CCAÇ 12 uma "relação muito especial"... Se se reparar bem na imagem, o Brito  ostenta uma chucha, ao pescoço, sinal de que fazia anos...  38 anos!... A festa não poderá, pois, ter ocorrido nos primeiros tempos, após a chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70), em finais de maio de 1970...

Na altura, estas eram as três senhoras, brancas, que existiam no quartel de Bambadinca (, não contando com a senhora professora do ensino primário, cabo-verdiana, que raramente era vista, mas que vivia dentro das nossas instalações militares, no edifício da escola, a dona Violete da Silva Aires). E não havia miúdos, a não ser os da escola e da população local... Os militares guineenses (da CCAÇ 12 e outras subunidades, como os Pel Caç Nat que estiveram connosco) em geral eram casados e tinham consigo as famílias mas fora do arame farpado, vivendo em Bambadinca ou em Bambadincazinho.

Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Coimbra > 2012 > O Fernando Brito, major art ref, (1932-2014) e o neto, Claúdio Brito,   finalista da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2011/2012 (Cortesia do Cláudio Brito, da sua página no Facebook).

Foto (e legenda): © Cláudio Brito (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fado "Brito... que és militar!"(*)

Letra: Tony Levezinho

[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)


Letra:
Pedro Homem de Melo 


Criação de Amália Rodrigues, 1961] [Uma interpretação de Amália
pode ser aqui ouvida, no YouTube -ficheio apenas áudio]

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!

Filho da puta e sacana,
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição:
- Mamadús, eu vos adoro,

Se for preciso eu choro,
Mas Patacão... é que não!

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


[Recolha: Gabriel Gonçalves / Revisão, fixação de texto: LG]



1. Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca, logo, deve integrar o Cancioneiro da Nossa Guerra (**). 

Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor da letra, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de maio de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada e outro batalhão em cima (CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)..

O Fernando Brito (1932-2014) era um senhor, que se impunha não só pelo seu físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios, devido à sua personalidade excessiva... Era sobretudo um grande sedutor... 

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natacha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo, com gravata se seda e tudo!... (Era o preço de uma granada de obus 10.5; em Bambadinca, nesse tempo, não havia artilharia)...

Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 tinha deixado cedo de ter 1º sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial, na Escola Central de Sargentos, em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compincha, grande amigo... [Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3]...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do perímetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto)... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante, o Anjos de Carvalho, não se coziam lá muito bem (, segundo ele me confirmou, mais tarde, ainda em vida)... Nós, por nosso lado, detestávamos o "militarista" do 2º comandante, o senhor professor da Academia Militar Anjos de Carvalho... Mas a "tabanca do Brito" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos ou os que ele considerava como tais...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Acabei por ter a felicidade de ainda o apanhar com vida, a um mês de ele morrer, subitamente, antes de completar os 82 anos... Falámos longamente ao telefone... Vivia em Coimbra, já viúvo. Era major, reformado. Fez ainda uma segunda comissão no CTIG, como 1º sargento [1ª CCAÇ / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)], antes de frequentar a extinta Escola Central de Sargentos, em Águeda.

Morreu em 19 de fevereiro de 2014. Era (é) o nosso grã-tabanqueiro nº 641. O seu neto Cláudio Brito honra-nos também com a sua presença na Tabanca Grande, com o nº 697.   
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Postes anteriores da série:

16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca

29 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18692: O Cancioneiro da Nossa Guerra (8): A Balada de Béli (recolha de José Loureiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69)

19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18483: Tabanca Grande (460): Gina Marques, nossa grã-tabanqueira nº 769... E não era sem tempo... A Gina foi o anjo da guarda, a enfermeira, a mulher extraordinária e corajosa, que deixou tudo (incluindo o emprego) para trazer à alegria da vida o seu homem., o António Fernando R. Marques, ex-fur mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... Um caso de (e)terno amor.


Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa >  2 de junho de 2011 > A Gina [Virgínia], o António Marques e o  José Carlos Suleimane Baldé (ex-1.º cabo da CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1969/74) na véspera de regressar a Bissau, depois umas férias de 15 dias, em Portugal, que ele não conhecia e com o qual sonhou uma vida inteira... Entre os muitos e generosos apoio que teve, contaram-se também os do casal Marques. (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


XXII Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Oitavos, Cascais, 19 de novembro de 2015 > Merece um prémio de lealdade e assiduidade este casal, o António Fernando Marques e a Gina.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Recorte de "O Primeiro de Janeiro", 28 de novembro de 1970.

Um número da revista que deve ter chegado a Bambadinca, mas que o António Fernando R. Marques nunca deve ter lido... Em janeiro de 1971 estava internado no HM 241, em Bissau, em estado crítico. Por outro lado, a leitura da notícia (Felicidade e Forças Armadas") não podia vir mais a propósito: a carreira das armas, num país em guerra, deixava de ser atrativa... No ano letivo de 1970/71, a Academia Militar tinha aberto 463 vagas a que concorreram apenas 70 candidatos (15%)... Depois de um segundo concurso, acabaram por ser admitidos 77 candidatos, mas poucos escolheram a G3 como fiel companheira: mais de metade foi para engenharia e administração...


1. A Gina foi uma extraordinária companheira para o Marques ("o Marquês, sem acento circunflexo", como eu lhe chamava, ele que era a calma, a gentileza, a correção, a compostura, em pessoa)... Ela foi e é; ele era e é... felizmente estão os dois vivos, e são avós babados.  São, além disso, um inseparável casal, participando, de há muito, nos nossos convívios anuais ou mais regulares: do pessoal de Bambadinca, 1968/71, da Tabanca Grande, da Tabanca da Linha, etc.


A Gina foi uma extraordinária companheira do António, nomeadamente nos dois anos de "comissão militar" forçada que ele teve que fazer no antigo Hospital Militar Principal, na Estrela, em Lisboa, para onde foi evacuado, na sequência da mina A/C em que ambos, eu, ele e mais duas secções, caímos, no fatídico dia 13/1/1971, a menos de 2 meses do fim da nossa comissão, à saída do gigantesco reordenamento de Nhabijões (**)...

A Gina tem estado sempre ao lado do António, nos bons e maus momentos. E ajudou-o depois a criar e a desenvolver os seus próprio negócios, associados ao irmão mais velho. O casal vive hoje na Quinta da Torre, em Cascais. Ambos estão reformados, ou melhor, dedicam-se hoje a ajudar os filhos (um comandante da TAP e uma hospedeira de bordo) a cuidar dos netos...

É bom que se saiba isto, das "nossas mulheres que também foram à guerra"... E, por lamentável lapso meu, a Gina só agora entra para a Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 769 (****)... Devia ter entrado, no mínimo, em 2011, na altura em que faleceu a Teresa Reis, a esposa do Humberto Reis.


2. Conheço a Gina... desde os tempos de Guiné. De fotografia, claro... A mina em que eu caí, em 13 de janeiro de 1971, mais o seu noivo António Fernando R.  Marques haveria de aproximarmo-nos... graças também ao nosso blogue, à Tabanca Grande, aos nossos convívios ao longo destes anos todos. Se a memória não me atraiçoa, (re)encontrámo-nos em Fão, Esposende, em 1994, por ocasião do 1.º Encontro do Pessoal de Bambadinca de 1968/71.

Por coincidência,  estive na Sexta Feira Santa, em Esposende e em Fão, duas belas terras do distrito de Braga... Fui lá à procura da lampreia e dos "sabores do mar"... Perguntei pelo António Manuel Carlão, que chegou a ter um estabelecimento comercial, o "Café Juventude", onde almoçámos em 1994... Fechou entretanto. Disseram-me que era um retornado de África, natural de Mirandela, e conhecido na terra por Tony Carlão. Os sogros, António Bento e Zulmira de Jesus Eiras, também retornados, tinham  uma casa de fados, segundo me disseram, o conhecido restaurante "A Lareira", junto aos Bombeiros Voluntários de Fão  (, hoje com outra gerência). Um filho do Carlão e da Helena vive em Esposende. E uma filha era casada com o nosso leitor João Areias. O Carlão e a Helena era um dos poucos casais, metropolitanos,  que viviam em Bambadinca no nosso tempo (1969/71).

O António Fernando Marques, meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), namorava a Gina e recebia, com regularidade, as suas "cartas de amor"... Namoravam-se e pensavam casar mal ele acabasse, com vida e saúde, a sua comissão no CTIG.

Creio que era o irmão mais velho que lhe mandava a revista  do reviralho, a "Seara Nova"... O número de janeiro de 1971 chegou tarde a Bambadinca, ele já não o leu. Estava em estado em coma, no HM 241, em Bissau... 17 dias em coma, a contar do fatídico dia 13 de janeiro de 1971.

Sei hoje, pelas conversas que vamos tendo,  que a vida não lhe fora fácil,  ao António Marques, sendo oriundo de famílias pobres, como aliás a maior parte de nós. Os filhos dos ricos não iam parar à Guiné... Era um camarada discreto e poupado, que não se metia em tainadas como alguns de nós... Não bebia, não jogava, deitava-se cedo... Tínhamos algumas afinidades, falávamos da situação política, éramos amigos e eu alinhei no mato com ele, bastantes vezes... mesmo não tendo um pelotão certo. Ele era fur mil at inf, do 4.º Gr Comb, comandante da 2.ª secção, eu costumava comandar a 3.ª secção, que não tinha, desde o início, comandante atribuído.

O António faz anos a 24 de agosto. E este ano o casal vai falhar o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio, porque o seu neto mais velho faz anos nesse dia... Creio que 15 aninhos. A Gina faz anos a 1 de abril,  o "dia das mentiras", queixava-se ela, há dias, no almoço da Tabanca da Linha. Ainda fui a tempo de pedir ao Carlos Vinhal para lhe fazer um postalinho de parabéns (***). E prometi, a mim mesmo, que desta vez é que ela iria entrar, "de jure", na Tabanca Grande. Porque "de facto" ela já era, há muito nossa, "grã-tabanqueira" (****).

Um beijinho, Gina. Bebo um copo à vossa saúde e ao vosso (e)terno amor. Sê bem vinda à Tabanca Grande. É apenas uma formalidade, é sobretudo a reparação de uma injustiça. O teu lugar é aqui, há muito. Luís
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Notas do editor:

(***) Vd. poste de 1 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18474: Parabéns a você (1411): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Esp do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73) e Gina Marques, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do António Fernando Marques

(****) Último poste da série > 30 de março de 2018  > Guiné 61/74 - P18471: Tabanca Grande (459): João Schwarz, novo grã-tabanqueiro, nº 768.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17346: Convívios (798): 23º Encontro do Pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e outras subunidades: Viseu, 27 de maio, sábado... Inscrições até 13 de maio. Organização: Manuel Santos Almeida (Fernando Sousa, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1961/71)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Na primeira fila, da esquerda para a direita,

(i) o "Paranhos", padeiro;

(ii) Francisco Magalhães Moreira, capitão da equipa (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, Santo Tirso);

(iii) António Manuel Carlão (alf mil at inf, cmdt do 2º Gr Comb, destacado depois a equipa do reordenamento de Nhabijões; vive em Fão, Ermesinde);

(iv) Abílio Soares, que vivia em Lisboa, já falecido;

e (v) Arlindo Teixeira Roda (fur mil at inf, 3º Gr Comb, natural de Pousos, Leiria, vive em Setúbal);

na segunda fila, de pé:

(vi) guarda-redes João Rito Marques (1º cabo quarteleiro, ou Manutenção de Material; vive no Souto, Sabugal);

(vii) Fernando Andrade de Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa);

(viii) Arménio Monteiro da Fonseca (sold at inf, natural da Campanhã, vive no Porto);

(ix) Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares (1º cabo escriturário, vivia em Oliveira  do Douro, faleceu em 29 de agosto de 2015] (*);

(x) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, vive na Póvoa do Varzim);

e (xi) Ernesto A. M. Rocha, 1º cabo at inf, 4º Gr Comb, que veio substituir o 1º cabo at inf António Pinto, também evacuado para o HMDIC; morada atual desconhecida, [Vd. composição orgânica da CCAÇ 25690 / CCAÇ 12].

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Legendagem: Fernando Sousa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > O Fernando Andrade Sousa,  ex-1º cabo  aux enf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), em segundo plano, tendo ao lado a esposa,  Maria Barros (Trofa).

Em primeiro plano, á direita, o António Fernando Marques, ex-fur mil CCAÇ 12, e Manuel Viçoso Soares, à esquerda, ex-fur mil, CART 2520 (Xime e Quinhamel (1969/70),  Três camaradas que estiveram no setor L1 (Bambadinca), na mesma altura.

Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O Fernando Andrade Sousa, que veio pela segunda vez ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, pediu-me que divulgasse, no blogue,  o anúncio deste convívio, que este ano vai ser em Viseu, no dia 27 de maio, sábado. 

A organização está a cargo de Manuel Santos Almeida. cuja convocatória a seguir se reproduz. O Fernando Sousa, camarado que muito estimo,  é totalista de todos os encontros do pessoal de Bambadinca 1968/71. O António Fernando Marques, meu camarada de infortúnio, igualmente da CCAÇ 12, também não costuma falhar. Este é o 23º encontro. O 1º foi em 1994, em Fão, Esposende.

Este ano vai ser homenageado o Tibério Gomes Rocha (sold cond auto, da CCAÇ 12; vivia em Viseu, faleceu em 6/12/2007).