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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18483: Tabanca Grande (460): Gina Marques, nossa grã-tabanqueira nº 769... E não era sem tempo... A Gina foi o anjo da guarda, a enfermeira, a mulher extraordinária e corajosa, que deixou tudo (incluindo o emprego) para trazer à alegria da vida o seu homem., o António Fernando R. Marques, ex-fur mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... Um caso de (e)terno amor.


Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa >  2 de junho de 2011 > A Gina [Virgínia], o António Marques e o  José Carlos Suleimane Baldé (ex-1.º cabo da CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1969/74) na véspera de regressar a Bissau, depois umas férias de 15 dias, em Portugal, que ele não conhecia e com o qual sonhou uma vida inteira... Entre os muitos e generosos apoio que teve, contaram-se também os do casal Marques. (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


XXII Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Oitavos, Cascais, 19 de novembro de 2015 > Merece um prémio de lealdade e assiduidade este casal, o António Fernando Marques e a Gina.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Recorte de "O Primeiro de Janeiro", 28 de novembro de 1970.

Um número da revista que deve ter chegado a Bambadinca, mas que o António Fernando R. Marques nunca deve ter lido... Em janeiro de 1971 estava internado no HM 241, em Bissau, em estado crítico. Por outro lado, a leitura da notícia (Felicidade e Forças Armadas") não podia vir mais a propósito: a carreira das armas, num país em guerra, deixava de ser atrativa... No ano letivo de 1970/71, a Academia Militar tinha aberto 463 vagas a que concorreram apenas 70 candidatos (15%)... Depois de um segundo concurso, acabaram por ser admitidos 77 candidatos, mas poucos escolheram a G3 como fiel companheira: mais de metade foi para engenharia e administração...


1. A Gina foi uma extraordinária companheira para o Marques ("o Marquês, sem acento circunflexo", como eu lhe chamava, ele que era a calma, a gentileza, a correção, a compostura, em pessoa)... Ela foi e é; ele era e é... felizmente estão os dois vivos, e são avós babados.  São, além disso, um inseparável casal, participando, de há muito, nos nossos convívios anuais ou mais regulares: do pessoal de Bambadinca, 1968/71, da Tabanca Grande, da Tabanca da Linha, etc.


A Gina foi uma extraordinária companheira do António, nomeadamente nos dois anos de "comissão militar" forçada que ele teve que fazer no antigo Hospital Militar Principal, na Estrela, em Lisboa, para onde foi evacuado, na sequência da mina A/C em que ambos, eu, ele e mais duas secções, caímos, no fatídico dia 13/1/1971, a menos de 2 meses do fim da nossa comissão, à saída do gigantesco reordenamento de Nhabijões (**)...

A Gina tem estado sempre ao lado do António, nos bons e maus momentos. E ajudou-o depois a criar e a desenvolver os seus próprio negócios, associados ao irmão mais velho. O casal vive hoje na Quinta da Torre, em Cascais. Ambos estão reformados, ou melhor, dedicam-se hoje a ajudar os filhos (um comandante da TAP e uma hospedeira de bordo) a cuidar dos netos...

É bom que se saiba isto, das "nossas mulheres que também foram à guerra"... E, por lamentável lapso meu, a Gina só agora entra para a Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 769 (****)... Devia ter entrado, no mínimo, em 2011, na altura em que faleceu a Teresa Reis, a esposa do Humberto Reis.


2. Conheço a Gina... desde os tempos de Guiné. De fotografia, claro... A mina em que eu caí, em 13 de janeiro de 1971, mais o seu noivo António Fernando R.  Marques haveria de aproximarmo-nos... graças também ao nosso blogue, à Tabanca Grande, aos nossos convívios ao longo destes anos todos. Se a memória não me atraiçoa, (re)encontrámo-nos em Fão, Esposende, em 1994, por ocasião do 1.º Encontro do Pessoal de Bambadinca de 1968/71.

Por coincidência,  estive na Sexta Feira Santa, em Esposende e em Fão, duas belas terras do distrito de Braga... Fui lá à procura da lampreia e dos "sabores do mar"... Perguntei pelo António Manuel Carlão, que chegou a ter um estabelecimento comercial, o "Café Juventude", onde almoçámos em 1994... Fechou entretanto. Disseram-me que era um retornado de África, natural de Mirandela, e conhecido na terra por Tony Carlão. Os sogros, António Bento e Zulmira de Jesus Eiras, também retornados, tinham  uma casa de fados, segundo me disseram, o conhecido restaurante "A Lareira", junto aos Bombeiros Voluntários de Fão  (, hoje com outra gerência). Um filho do Carlão e da Helena vive em Esposende. E uma filha era casada com o nosso leitor João Areias. O Carlão e a Helena era um dos poucos casais, metropolitanos,  que viviam em Bambadinca no nosso tempo (1969/71).

O António Fernando Marques, meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), namorava a Gina e recebia, com regularidade, as suas "cartas de amor"... Namoravam-se e pensavam casar mal ele acabasse, com vida e saúde, a sua comissão no CTIG.

Creio que era o irmão mais velho que lhe mandava a revista  do reviralho, a "Seara Nova"... O número de janeiro de 1971 chegou tarde a Bambadinca, ele já não o leu. Estava em estado em coma, no HM 241, em Bissau... 17 dias em coma, a contar do fatídico dia 13 de janeiro de 1971.

Sei hoje, pelas conversas que vamos tendo,  que a vida não lhe fora fácil,  ao António Marques, sendo oriundo de famílias pobres, como aliás a maior parte de nós. Os filhos dos ricos não iam parar à Guiné... Era um camarada discreto e poupado, que não se metia em tainadas como alguns de nós... Não bebia, não jogava, deitava-se cedo... Tínhamos algumas afinidades, falávamos da situação política, éramos amigos e eu alinhei no mato com ele, bastantes vezes... mesmo não tendo um pelotão certo. Ele era fur mil at inf, do 4.º Gr Comb, comandante da 2.ª secção, eu costumava comandar a 3.ª secção, que não tinha, desde o início, comandante atribuído.

O António faz anos a 24 de agosto. E este ano o casal vai falhar o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio, porque o seu neto mais velho faz anos nesse dia... Creio que 15 aninhos. A Gina faz anos a 1 de abril,  o "dia das mentiras", queixava-se ela, há dias, no almoço da Tabanca da Linha. Ainda fui a tempo de pedir ao Carlos Vinhal para lhe fazer um postalinho de parabéns (***). E prometi, a mim mesmo, que desta vez é que ela iria entrar, "de jure", na Tabanca Grande. Porque "de facto" ela já era, há muito nossa, "grã-tabanqueira" (****).

Um beijinho, Gina. Bebo um copo à vossa saúde e ao vosso (e)terno amor. Sê bem vinda à Tabanca Grande. É apenas uma formalidade, é sobretudo a reparação de uma injustiça. O teu lugar é aqui, há muito. Luís
__________________

Notas do editor:

(***) Vd. poste de 1 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18474: Parabéns a você (1411): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Esp do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73) e Gina Marques, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do António Fernando Marques

(****) Último poste da série > 30 de março de 2018  > Guiné 61/74 - P18471: Tabanca Grande (459): João Schwarz, novo grã-tabanqueiro, nº 768.

domingo, 18 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P881: Tabanca Grande: Uma saudação especial ao nosso camarada Beja Santos (Pel Caç Nat 52, Missirá, 1968/70)

Esposende > Fão > 26 de Novembro de 1994 > Convívio da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 e outras unidades destacadas em Bambadinca, entre 1968 e 1971... Na imagem, ao centro o Mário Beja Santos, ex-alferes miliciano que comandou o Pel Caç Nat 52 (Missirá, 1968/70), ladeado pelo Humberto reis (à direita) e o Tony Levezinho (de costas, à esquerda). Ao fundo, particularmente sorridente, vê-se o Arlindo Teixeira Roda. Estes três eram furriéis milicianos da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (1) .

Foto: © Humberto Reis (2006)


Segundo as minhas próprias recordações e as do Humberto Reis, este foi o primeiro convívio colectivo que o pessoal de Bambadinca realizou, depois do regresso a casa. Foi organizado em Fão, Esposende, por iniciativa do ex-Alf Mil Carlão, da CCAÇ 12. Foi também o único em que participei, até à data. Entre os velhos camaradas de Bambadinca, reencontrei o Beja Santos. O convívio seguinte foi na herdade do J. Vacas de Carvalho aonde, creio, o Beja Santos também foi.

Há dias encontrei na Net um belíssimo texto do Beja Santos, aliás, do Dr. Mário Beja Santos, um figura pública conhecida (especialista, de renome internacional, em questões de direito do consumidor, assessor do Instituto do Consumidor, professor universitário, etc.). E isso foi um pretexto para o contactar e pedir-lhe autorização para publicar o texto no nosso blogue.

Aproveito para lembrar que, com o Pel Caç Nat 52, comandando pelo Beja Santos, fizemos (a CCAÇ 12, mais a CCAÇ 2636, mais 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106 (e ainda - segundo creio - mais o Pel Caç Nat 54) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès...

De facto, todos os anos nos obrigavam (o comando de Bambadinca) a fazer uma visita à base do PAIGC de Madina/Belel... O Beja Santos foi lá pelo menos duas vezes... Jorge Cabral também lá foi, pelo menos uma vez, de helicóptero, com os paraquedistas... Um belo dia destes teremos que falar destas estórias fabulosas e dramáticas das nossas incursões a Madina/Belel... O Jorge Cabral também conhece muito bem o Beja Santos, de resto também ele foi rei e senhor de Missirá...

O texto, que eu vou reproduzir, a seguir, no nosso blogue (depois de obtida a competente autorização do autor), evoca duas figuras: por um lado, o herói mandinga Infali Soncó, régulo do Cuor, que terá derrotado o Teixeira Pinto em 1917; e por outro, um anti-herói, português, o alferes Hermínio de Jesus, aprisionado pelo Infali e que depois terá morrido de loucura e de amores por uma bela mandinga...

O texto, escrito por um homem de cultura como é o Beja Santos, e que já circulou internamente pela nossa tertúlia, por e-mail, evoca igualmente um das mais mais belas regiões da Guiné, justamente aquela que ele próprio, mas também eu próprio, o Jorge Cabral, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes, o Vacas de Carvalho, o Luís Moreira, o António Duarte, o Sousa Castro, o Carlos Marques dos Santos e outros tertulianos, tão bem conheceram e amaram... Chamo a atenção também para a evocação da figura da professora primária de Bambadinca, Dona Violete da Silva Alves (2)...

Falando há dias com o Beja Santos pelo telefone, pareceu-me que ele, embora sendo um homem atarefado, mostrou interesse pela existência da nossa tertúlia e sobretudo disposição para colaborar com mais textos da sua autoria. Autorizou-me expressamente a publicar a lenda do Alferes Hermínio de Jesus (2)… Fica aqui o meu agradecimento (público) pela sua atenção e o nosso voto para que se junte à centena de amigos & camaradas da Guiné que constituem já a nossa tertúlia…

Eis a mensagem que ele me mandou, por e-mail: "Prezado Luís Graça, gostei muito do seu telefonema e procurarei corresponder ao seu solicitado. Para já leva dois textos com todas as autorizações necessárias para os publicar. Estou asfixiado com o fim do ano lectivo. Mas terei muito gosto em continuar em conversar consigo nos próximos tempos. Abraços, Beja Santos".

Tine oportunidade de responder-lhe de imediato , por e-mail de 14 de Junho de 2006:

"Caro Beja Santos:

"1. Obrigado pelo gesto de camaradagem. Irei publicar, com muito gosto, os dois textos que mandou para a nossa tertúlia.

"2. Teremos oportunidade de ir matando saudades das terras do Cuor: Missirá, Finete, Mato Cão, Enxalé, Portogole... Eu também sou professor universitário, ambos sabemos o que é a azáfama do fim de ano lectivo... Tenho pena que as circunstâncias não nos tenham permitido, na Guiné, manter um contacto mais pessoal... Estive várias vezes em Missirá, usufruindo da sua hospitalidade e até dos seus bens culturais... Recordo-me que você era um melómano e que um dia perdeu toda a sua discoteca (incluindo a sinfomia do Novo Mundo, que era uma das suas preferidas, se a memória não me atraiçoa)" (...)

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)

(2) Vd. post seguinte, com data de hoje.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24216: In Memoriam (475): Coronel de Infantaria Reformado, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro (1926-2023), ex-Major Inf, 2.º Comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

IN MEMORIAM

Coronel Inf Ref Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro (26/07/1926 - 22/03/2023)
ex- Major Inf, 2.º Comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

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1. Mensagem de João Pedro Cunha Ribeiro, filho do Coronel Ângelo Cunha Ribeiro, enviada a Mário Beja Santos em 23 de Março de 2023:

Estimado Dr Beja Santos
Não queria deixar de lhe comunicar a triste notícia do falecimento do meu pai, ocorrida ontem, em casa e rodeado pela família. Foi uma morte muito serena, com todo conforto possível e julgamos que sem qualquer sofrimento.

Cordial abraço
João Pedro Cunha Ribeiro


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2. Mensagem de resposta de Mário Beja Santos:

Meu estimado João Pedro,
Recebi a sua dolorosa notícia na ilha de Santo Antão, eram férias desejadas há décadas. Pode imaginar o choque que senti, telefonávamos regularmente, o seu Pai e eu, ele ria-se muito de eu o tratar sempre por comandante, era o mais sincero dos meus tratamentos, dada a dignidade de quem o recebia e a gratíssima memória de uma convivência com um segundo comandante do BCAÇ 2852, chegou em momento de grande tensão a Bambadinca, aqui se sinistrou gravemente, no estrito cumprimento do dever.

Poderia contar-lhe dezenas de peripécias que passei ao lado do seu Pai, a mais sentida, como creio que já lhe contei, foi o desvelo com que num dos momentos mais dramáticos da minha vida, depois da explosão de uma mina anticarro, num lugar denomiando Canturé, no regulado do Cuor, ele pôs em marcha o auxílio a um contingente altamente afetado, entrei na messe de oficiais a meio de uma refeição, foi ele que se pôs de pé e deu instruções a médico e a operacionais, mandou recolher todas as sobras e meter dentro de pães para levar aos sinistrados.

Isto define um caráter, um sentido de estender a mão ao Outro, seu camarada de armas.

Ficámos sempre em boa relação, jamais poderei esquecer tão nobre figura, e o previlégio que senti em estar presente no dia dos seus 90 anos, na companhia da família e dos amigos mais estreitos.

Eu peço-lhe a gentileza de dirigir aos seus irmãos os meus sinceros pêsamos, faço questão que lhes diga que perdi um referente, alguém que muito me ensinou a fazer-me homem naquele meio e naquele tempo em que convivíamos com todos os riscos, todas as faltas e uma profunda solidão.


Curvo-me respeitosamente pela sua memória, que me acompanhará até ao fim dos meus dias.

Receba um abraço e a elevada consideração a um filho tão admirável, como o João Pedro foi,
Mário Beja Santos

Esposende > Fão > Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71) > 1994 > Mário Beja Santos (ex-comandante do Pel Caç Nat 52) com o Coronel Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) a partir de Setembro de 1969, altura em que substitui o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. Era afectuosamente conhecido, entre as NT, como "o major eléctrico"... Foi ele que deu o nome de guerra, Tigre de Missirá, ao Beja Santos.
I Encontro de BCAÇ 2852 realizado em Fão, onde estamos nós, o Ismael, o Vacas, o Carlão (suponho que era o dono do restaurante) entre outros e, em primeiro plano, os Majores Cunha Ribeiro e o Capitão Brito.

Foto e legenda: © Fernando Calado
Amena cavaqueira depois de uns bifinhos com pimenta e um bom Douro
O coronel Cunha Ribeiro e os seus três filhos, não esconde a emoção pelo dia grande

OBS: - Vd. poste de 13 DE SETEMBRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16483: Efemérides (235): Nos 90 anos do "Major Elétrico", 2.º Comandante do BCAÇ 2852, festejados no passado dia 30 de Julho de 2016 (Mário Beja Santos)

Dois instantâneos do, então, Major Cunha Ribeiro, em Bambadinca
© Fotos do nosso camarada Jaime Machado

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Comentário do editor:

Porque só hoje soubemos do falecimento do senhor Coronel Ângelo Cunha Ribeiro, só agora podemos manifestar à família, do senhor Coronel, o nosso pesar pela perda do seu ente querido.
Ao camarada Mário Beja Santos, o nosso abraço solidário porque sabemos que mantinha contacto regular com o seu antigo 2.º Comandante, a quem, carinhosamente, continuava a tratar por Major.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24174: In Memoriam (474): Domingos Miranda (1947 - 2023), ex-fur mil op esp, CCAÇ 2549, comandada pelo cap inf Vasco Lourenço (Cuntima e Farim, 1969/71)... Funeral, hoje, dia 29/3/2023, pelas 16h00, em Torres Vedras (Eduardo Estrela)

domingo, 19 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13764: Tabanca Grande (449): Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), tertuliano do nosso Blogue desde 8 de Junho de 2006, atingiu as 1000 entradas na nossa página (Luís Graça / Carlos Vinhal)

1. Comentário do editor/administrador deste Blogue, Luís Graça, dirigida ao nosso camarada e amigo Mário Beja Santos, a propósito da impensável meta das 1000 entradas nesta página de ex-combatentes e amigos da Guiné e Guiné-Bissau, atingida por este nosso tertuliano e incansável colaborador permanente:

Mário:

Foi o Carlos Vinhal, teu dedicado editor nestes últimos anos, quem me chamou a atenção...

Com esta recensão [vd. poste P13747], acabas de atingir as mil (1000!!!) referências no nosso blogue...

Ora, mil referências ou marcadores são mil postes!... Ou até mais... O que num blogue, com 10 anos, e 13700 postes, é obra!... É mais de 7% do total da produção bloguística (não contando com comentários onde a tua participação é esporádica, senão mesmo meramente ocasional)!...

Tu és, reconhecidamente, um leitor compulsivo, uma trabalhador incansável, e um camarada indefectível...

O teu contributo para este projeto de partilha de memórias e de afetos (que é o nosso blogue) é reconhecido pela larga maioria dos nossos leitores, bem como dos amigos e camaradas da Guiné.
Eles podem nem sempre concordar com esta ou com aquela nota de leitura das muitas centenas de livros e outros publicações que tens trazido aqui, relevantes para a documentação da presença histórica dos portugueses em África, em geral, e na Guiné, em particular. Mas ninguém te nega, mesmos os mais críticos, que és um homem de invulgar talento e cultura, e que continuas a dar provas de uma grande paixão por aquela terra e aquela gente, onde e com quem passaste dois dos teus verdes anos. E onde casaste!... E aonde já voltaste!... Terra sobre a qual, de resto, tens já vários livros publicados, da tua lavra, incluindo as tuas memórias de guerra, as memórias do "Tigre de Missirá"...

Julgo poder interpretar os sentimentos de muitos camaradas que te leem (e que não te conhecem pessoalmente, a maior parte deles, porque não és "homem de tabanca"!...): estou-te (e a maior parte deles também) grato pela tua já longa, leal e profícua colaboração no nosso blogue...

É o que me ocorre dizer-te, ao correr do teclado, neste ínício de tarde de domingo.

Sendo tu um homem crente, tolerante e ecuménico, deixa-me evocar aqui Deus, Alá e os bons irãs, para que eles te acompanhem sempre, te inspirem e te protejam neste duro e derradeiro trajeto da nossa picada da vida... Muita saúde e longa vida, porque tu mereces tudo!

Luís Graça (mas também Carlos Vinhal e demais editores e colaboradoes deste blogue).

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2. Nota do editor:

Recuando ao já longínquo dia 18 de Junho de 2006 encontramos o Poste 881(*) que noticia a adesão do nosso camarada Mário Beja Santos ao Blogue, que se terá formalizado nesta sua mensagem:

"Prezado Luís Graça,

Gostei muito do seu telefonema e procurarei corresponder ao seu solicitado.

Para já leva dois textos com todas as autorizações necessárias para os publicar.

Estou asfixiado com o fim do ano lectivo. Mas terei muito gosto em continuar em conversar consigo nos próximos tempos.

Abraços,
Beja Santos"

No mesmo poste foi publicada esta foto:


Esposende > Fão > 26 de Novembro de 1994 > Convívio da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 e outras unidades destacadas em Bambadinca, entre 1968 e 1971... 

Na imagem, ao centro o Mário Beja Santos, ex-alferes miliciano que comandou o Pel Caç Nat 52 em (Missirá e Bambadinca, 1968/70), ladeado pelo Humberto Reis (à direita) e o Tony Levezinho (de costas, à esquerda). Ao fundo, particularmente sorridente, vê-se o Arlindo Teixeira Roda. Estes três eram furriéis milicianos da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor

(*) Poste de 18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P881: Tabanca Grande: Uma saudação especial ao nosso camarada Beja Santos (Pel Caç Nat 52, Missirá, 1968/70)

Último poste da série de 14 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13734: Tabanca Grande (448): Ana Romero, filha do cap mil inf Rui Romero (Portalegre, 1934 - Jumbembem, 1966)

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P1004: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (1): o pudor das nossas recordações

Esposende > Fão > 26 de Novembro de 1994 > Convívio da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852, do Pel Caç Nat 52 e outras unidades destacadas em Bambadinca, entre 1968 e 1971... Na imagem, ao centro o Beja Santos, rodeado por malta da CCAÇ 12, os furriéis milicianos Humberto Reis (à direita), o Tony Levezinho (de costas, à esquerda) e o T. Roda, ao fundo, sorridente. Na 4ª feira passada, dia 26, reencontrámo-nos doze anos depois, e revivemos o nosso passado comum por sítios míticos da Guiné: Bambadinca, Xime, Enxalé, Rio Geba, Rio Corubal, Missirá, Cuor, Finete, Mato Cão, Madina/Belel, Nhabijões, Ponta Varela, Madina Colhido, Ponta do Inglês, Baio/Buruntoni...

Foto: © Humberto Reis (2006)




Guiné-Bissau > Zona Leste > Xime > 2001 > Rio Geba. O famoso macaréu. No Rio Amazonas é conhecido por pororoca. Em termos simples, o macaréu é uma onda de arrebentação que, nas proximidades da foz pouco profunda de certos rios e por ocasião da maré cheia, irrompe de súbito em sentido oposto ao do fluxo da água. Seguida de ondas menores, a onda de rebentação sobe rio acima, com forte ruído e devastação das margens. Pode atingir vários metros de altura, mas tende a diminuir a sua força e envergadura à medida que avança. Neste rio, ou nesta parte do rio que ainda é de água salgada, dois soldados da CART 3494, aquartelada no Xime, desapareceram, apanhados pelo macaréu numa operação ao Mato Cão, em 1972. Um terceiro camarada, doutra companhia, também desapareceu (Informação do Sousa de Castro).

Foto: © David J. Guimarães (2005)

Texto do Beja Santos:

Caro Luís, foi muitíssimo agradável ter-te revisto ontem [4ª feira, dia 26 de Julho], passadas estas décadas. Do muito que falámos, estou neste momento publicamente comprometido com todos os parceiros do blogue a depor sobre o que vi e conservei da minha experiência na guerra colonial.

Durante anos, acalantei a ideia de escrever um romance sobre a minha experiência (na ficção, como em todas as manifestações de arte, escrevemos sempre sobre nós, condicionando a nossa imagem, seleccionando o que queremos comunicar aos outros). Assim, escrevi na cabeça Soncó, que teria como base os Soncó, a família dos régulos do Cuor. Com os empregos antes do 25 de Abril e os estudos, a ideia esmoreceu.

Aí pelos anos 80, ocorreu-me A Rua do Eclipse. Nem imaginas como. Um dia estava numa reunião num edifício da Comissão Europeia, em Bruxelas, olhei para a cabine de tradução, bati à porta e disse a uma senhora que gostava de almoçar com ela para lhe pedir ajuda para uma obra de ficção que estava a preparar. Ingrid Schorkps (vamos imaginar que é este o nome) ouviu-me com os olhos arregalados. Pretendia conhecer um casal belga com alguma profundidade, pois tinha imaginado um português que se apaixonara por uma belga, num contexto de triângulo amoroso. Precisava da ajuda dela e do marido, o romance iniciar-se-ia por um encontro de interesse fulminante, seguir-se-ia muita correspondência do português para a sua apaixonada (um flamenga), as vicissitudes dos encontros esperádicos, a dor das distâncias, as visitas à casa de Ingrid na Rua do Eclipse.

Na correspondência para Bruxelas, falaria da Guerra da Guiné. A verdade é que visitei a família de Ingrid, ao princípio estranharam, depois tomaram-me como um escritor a sério quando eu comecei a abrir mapas em cima da mesa, explicando os encontros que teríamos pelas ruas da Antuérpia e arredores.

A ideia também esmoreceu. As guerras coloniais que Portugal travou devem ser as mais documentadas das últimas décadas, com excepção da guerra do Vietnam. Temos os aerogramas, as fotografias, as cartas, os filmes, os relatórios. Não temos é o pano de fundo. Ontem, durante o almoço, avançámos algumas explicações. Uma delas tem a ver com a falta de rigor nos relatórios. Outra, com a privacidade e o pudor das nossas recordações.

Quando, aqui há uns anos, num ambiente recatado me pediram uma recordação inviolável, intrasmissível, falei de um enterro de uma massa encefálica numa caixa de sapatos, num cemitério em Missirá. Explico. Depois de uma grande flagelação, ao amanhecer, patrulhei as imediações do quartel. Encontrei um soldado manjaco do PAIGC morto, com a massa encefálica ao lado do corpo. Fora seguramente um tiro na nossa resposta que produzira aquela morte assim.

Pedi imediatamente uma caixa de sapatos e anunciei que iríamos enterrar o corpo com honras militares. A reacção dos meus soldados foi enorme:
- Turra é para ser comido pelos jagudis!

Mas houve mesmo enterro militar. Este é um dos muitos exemplos do pudor que nos faz calar experiências que nos mudaram o curso da existência, logo em jovens adultos.

Vou pois escrever memórias, sempre balizado pelo pudor de que os nossos camaradas, ou outros leitores avulsos, pensem que o que aqui se escreve é produto de uma mente delirante que se disfarça de herói da guerra. Nada disso. Eu fui eu e a minha circusntância: uma guerra que se travou muitas vezes a um ritmo alucinante, e com uma aprendizagem dolorosa.

Por exemplo o macaréu. Eu estava em Mato Cão, quando ouvi as águas do Geba a entrar em ebulição, com ronco medonho. Fugi apavorado para uma colina, com os meus soldados a gargalhar enquanto eu olhava vidrado as águas a espumar no terrafe. Aprendi depois o que era o macaréu, fenómeno raríssimo no mundo daquela água que vem em torrente pelo Corubal e emerge no Geba gelado.

Pois fica sabendo que a operação Macaréu à vista, as minhas memórias desorganizadas de um registo fotográfico onde às vezes ainda capto cheiros e oiço vozes, acaba de começar neste blogue. Sem data fixa e com calendário muito volúvel. Amanhã seguem mais histórias. Pode-se dar a esta carta a publicidade que entenderes.

Mário Beja Santos
(ex-alf mil Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca, 1968/70)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22784: O meu sapatinho de Natal (4): o que é feito de ti, camarada Dinis Giblot Dalot (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), o melhor condutor de GMC do mundo ? (Luís Graça)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca)  > Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole > Ponte do Rio Jagarajá > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)> "Eu, o então Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf Henriques, pau para toda a obra, pião de nicas, e o soldado condutor autorrodas Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou, pelo menos, o melhor que eu alguma vez conheci...  


Foto (e legenda): Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52,  adidas ao comando do BCAÇ 2852, se encontrou depois do regresso a casa... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018)  

Mostra-se aqui um pormenor da foto de grupo. Na primeira fila, da esquerda para a direita:

(i) fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, da CCAÇ 12  [, vivia no Porto, na altura ];

(ii) sold cond auto Dinis Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres].

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita:

(iii) Fernando [Carvalho Taco] Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vive em Lisboa];

(iv) ex-alf mil manutenção material,  Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 
 [, vive em Lisboa];

(v) ex-fur mil  at inf António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vive  em Martingal, Sagres, Vila do Bispo];

(vi) ex-capitão inf Carlos Alberto Machado Brito, cmdt da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 [, cor inf ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR];

(vii) Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852,
 [, vivia em Resende].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estou a rever-te, há 52 anos atrás, na Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole. Eu e tu, o Dalot, o Dinis G. Dalot, ou melhor, o Dinis Giglot Dalot. Sguramente tu foste o melhor condutor de GMC que eu alguma vez conheci (!). Berliet e GMC nas tuas mãos,  carregadas de sacos de arroz ("bianda"), não ficavam atoladas na famigerada estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. E mesmo assim, era preciso que os cabos de aço ou os troncos das árvores não aguentassem... 
 
Reguila, setubalense, franzino, seco de carnes, condutor de pesados na vida civil, com boas manápulas para segurar um daqueles volantes de GMC ou Berliet, apanhaste logo no princípio da comissão, em julho de 1969, cinco dias de detenção. Quem foi o s.... que te deu cinco dias de detenção ?....Certo, por seres reguila, setubalense, condutor de pesados, descendente de franceses, e se calhar por seres o melhor condutor de GMC que eu alguma vez vi na vida... 

Gostava de te rever, Dalot. Sinceramente, gostava de te rever. Tenho um numero de telemovel, teu, mas se calhar antigo
 Ligo, vai para o "voice mail". Tu fazes parte da mítica galeria dos meus heróis, tu e todos os bravos soldados condutores autorrodas que passaram pela Guiné, a começar pela nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12.

Eu dizia-te que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Tu ofendias-te: eras o mais profissional dos nossos condutores auto. Não sei porque não chegaste a 1º cabo: eras  profissional de pesados já na vida civil. E continuaste  depois, na peluda, com uma empresa tua, se não erro. Mas eu sentia que a  porrada te magoara muito, mexera como teu brio, a tua autoestima. 

Reencontei-te em 1994, em Fão, Esposende, quando a malta de Bambadinca (CCS/BCAÇ 2852, 1968/70) e CCAÇ 12 (1969/71) se juntou pela primeira vez. Inicialmnete, vivias em Porto Alto, Samora Correia, Benavente. Depois mudaste a empresa para Aljubarrota, Batalha. Bate certo ? Perguntei ao Adélio Monteiro, mas também não sabe do teu atual paradeiro.

Mas voltando aos dias 17 e 18 de setembro de 1969... Há dias de sorte, escrevi eu: na vida, na guerra, no jogo, no amor… Recordo-me bem desta operação logística, Op Belo Dias II, em que perdemos uma heróica GMC do tempo da guerra da Coreia (daquelas que gastavam 100 aos 100, lembras-te ?).

Não sei se era lenda. As GMC andavam a gasolina, E tinham um depósito de 150 litros, com alcance operacional de c. 480 km e velocidade máxina de 72 km/hora. Em teoria, gastava pouco mais de 30 aos 100.  Mas picadas da Guiné, com carga e com guincho, é possível que gastasse o dobro ou até o triplo....O modelo era GMC 6x6 , caixa aberta, de 2 1/2 t, m/1952, do tempo da guerra da Coreia e herdeiro do célebre camião GMC CCKW , também conhecido como "Jimmy", o camião de transporte de carga do Exército Norte Americano  de que se produziram, entre 1941 e 1945,  572,5 mil unidades.

A CCAÇ  2590 / CCAÇ 12 tinha duas, foram vitimas de minas A/C. Tu, Dalot,  adoravas conduzi-las. Ninguém melhor do que tu para livrar uma GMC de cair na cratera de uma mina coberta de água da chuva ou de atolar-se na berma da estrada… Berma ? Estrada ? Qual berma, qual estrada!... Picadas cheias de minas e armadilhas!...

Ninguém melhor do que tu para conduzir este mamute de ferro, de 4 t, mais duas toneladas e meia, senão três,  de sacos de arroz… Ninguém melhor do que tu, enfim, para desatascar outras viaturas, civis ou militares,  à força de guincho. 

Só não tinhas faro era para as minas, que isso era tarefa dos picadores. Aliás, na galeria dos heróis desta guerra (há sempre heróis em todas as guerras), eu poria também as GMC, os condutores das GMC e os picadores…

O que aconteceu exactamente nesse já longíquo dia 18 de Setembro de 1969 ? Tínhamos saído, na véspera, de Bambadinca, de manhã muito cedo, como de costume, para fugir ao inferno do calor e da humidade do dia. E da poeira, embora se  estivesse em plena época das chuvas. Era um enorme coluna de viaturas militares carregadas de abastecimentos  para três companhias, unidades de quadrícula, em Mansambo (CART 2339), Xitole (CART 2413) e Saltinho (CAÇ 2406).

Ao todo viviam nestas unidades e seus destacamentos mais de  meio milhar de homens, fora a população local e as milícias que dependiam  inteiramente (caso de Mansambo, aquartelamento que fora construído de raíz e não tinha tabanca nem campos de cultivo...) dos abastecimentos feitos pela tropa. 

Nós levávamos-lhes praticamente tudo, até o correio.... Ou seja: o gasóleo (para as viaturas e o gerador eléctrico), o petróleo (para os frigoríficos), o arroz, a massa, o feijão, a carne, o bacalhau, o azeite, o vinho, as latas de conserva, as bolachas, as batatas, as bebidas em garrafa e em lata, os artigos de cantiga, e os demais mantimentos para um mês ou um mês e meio. Além dos cunhetes de munições, as granadas de morteiro, bazuca e obus, os materiais de construção, os sacos de cimento, etc.

Um dia seria interessante publicar a lista completa dos artigos e as respectivas quantidades que faziam parte dos nossos comboios de reabastecimento. Na galeria dos heróis desta guerra também estão os que alimentavam o nosso ventre insaciável , os homens da manutenção militar e os que faziam chegar os mantimentos, desde Bissau em LDG até ao Xime (no caso da Zona Leste) e depois daí em colunas até às sedes de sector ou comando operacional (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego…). Ou através dos "barcos turras" que chegavam a Bambadinca. 

Era um comboio com várias dezenas de viaturas, incluimdo viaturas civis, de comerciantes de Bambadinca, Bafatá, Galomaro, Xitole, o Rendeiro, o Regala, o Jamil, as casas comerciais de Bafatá. como a Gouveia. As Berliet e as GMC (e, mais tarde,  as camionetas civis, já no decurso da Op Belo Dia III, em novembro de 1969) transportavam a carga, mas o condutor levava sempre escolta (menos de uma secção).

Para se chegar a qualquer uma das unidades acima referidas não havia mais nenhuma alternativa (terrestre). A estrada de Galomaro-Saltinho estava interdita, pelo que as NT ali colocadas dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca. No entanto, a própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969 (*). 

O Op Belo Dia, a 4 de Agosto, já aqui sumariamente descrita (*),  destinou-se justamente a reabrir esse troço fundamental para as ligações do comando do sector L1 com as suas subunidades de quadrícula a sul. Um mês e tal depois fez-se uma segunda operação para novo reabastecimento, patrulhamento ofensivo e reconhecimento, a Op Belo Dia II.

2. São as peripécias dessa operação (Op Belo Dia II) que se relatam aqui. Mas ainda a propósito de meios de transporte, convirá referir que só Bambadinca possuía uma pista, com cerca de 150 metros, permitindo a aterragem de aeronaves como a Dornier, a DO-27.

No meu tempo o sargento piloto Honório, cabo-verdiano, era uma figura muito popular entre as NT, porque nos trazia o correio e alguns frescos. A sua fama era lendária, pela sua coragem e destreza, para não dizer "maluqueira" (, tolerada, mas não apreciada pelos outros pilotos da BA 12, em Bissalanca)... Era capaz de aterrar numa nesga de terra, dizia-se.  Em Mansambo só havia heliporto. No Xitole, também havia pista para avionetas.

De qualquer modo, o helicóptero, o AL III, só era usado para fins estritamente militares: apoio de helicanhão, transporte de tropas especiais e heliassaltos, evacuações Y para o hospital militar de Bissau. Argumentava-se que o helicóptero era um luxo, custando 15 contos por hora (mais do o ordenado mensal de dois alferes)…

Em contrapartida, as colunas de abastecimento da guerrilha e das suas populações eram feitas por carregadores, a pé, descalços, em bicha de pirilau, incluindo mulheres e até crianças e muitas vezes sem escolta militar, correndo o risco de serem interceptados pelas NT, como acontecia com alguma frequência na região de Missirá, a norte do Rio Geba (como em Chicri, a 12 de Setembro de 1969: muitas vezes as NT não faziam a distinção entre combatentes, armados, e elementos civis da população controlada pelo PAIGC que servia de carregadores; neste caso, levavam artigos comprados nas nossas barbas, em Bambadinca, onde só havia duas lojas, nas mãos de tugas, a loja do Rendeiro e a loja do Zé Maria)…

Porquê falar em sorte ? É que eu ia justamente à frente da viatura que accionou a mina, a tua vitura,a tua GMC,  Dalot. E ia justamente do lado do pendura, com uma perna de fora… À turista, como quem vai num alegre e matinal safari algures num parque no Quénia… Em suma, ia no "lugar do morto"... 

A pouco e pouco, o periquito ia ganhando confiança… Com três meses e meio de Guiné, e baptismo de fogo ainda muito recente (na Op Pato Real, a 7 de Setembro, na região do Xime, Ponta do Inglês)  considerava-me já quase um "veterano"…

Recordo-me da viatura em que eu ía: um Unimog 404… Apesar da relativa tranquilidade que nos davam a experiente equipa de 12 picadores que iam à nossa frente com dois grupos de combate apeados, a proteger os flancos, eu tinha recomendado ao condutor do Unimog (, já não me lembro o nome: o Adélio Monteiro não  era, vinha mais atrás ) que seguisse milimetricamente o rodado da viatura da frente… Um desvio de um milímetro podia ser fatal para o artista… Tu, Dalot, que  atrás de mim,  levavas um bicho que tinha dez rodas, dois rodados duplos atrás, e sete toneladas de ferro e arroz...

Daquela vez vez foste tu, Dalot,  e a tua GMC que voaram… Eu fiquei para a próxima, já lá mais para o fim da comissão, em 13 de janeiro de 1971, em Nhabijões... Também numa GMC!... Era a minha sina!...

A estrada (se é que se podia chamar estrada aquilo!), invadida pela floresta (, apesar da  desmatação recente, em abril/maio de 1969, Op Cabeça Rapada), as bolanhas, os curso de água, os charcos, etc. era mais estreita que as viaturas em certos pontos… Uma delícia para os sapadores do PAIGC, um quebra-cabeça para os nossos picadores, um stresse desgraçado para aqueles de nós que faziam guarda de flancos ou que iam em cima das viatura, ou os que conduiam as viaturas…

Em suma, gastávamos uma boa parte da nossa energia mensal a abastecer-nos uns aos outros em vez de fazer a guerra ao IN…

Estamos a falar da segunda quinzena de setembro de 1969, em que realizámos  mais outra operação a nível de batalhão afim de escoltar uma coluna logística do BCAÇ 2852 para as companhias de Xitole e Saltinho (Op Belo Dia II). Uma operação com 2 destacamentos (A e B) (*)

Dois Gr Comb [Grupos de Combate] da CCAÇ 12 (2º e 3º), um da CART 2339 [Mansambo] e o Pel Caç Nat 53 (que seguiria depois com o Dest B para o Saltinho) formavam o Dest [Destacamento] A,  cuja missão, além da picagem do itinerário, era escoltar a coluna até ao limite da ZA-Zona de Acção da CART 2339 [Mansambo] onde se efectuaria o transbordo da carga para outra coluna da CART 2413 [Xitole].

A coluna que chegou a Mansambo às 17.30 do dia 17 de Setembro, proveniente de Bambadinca, donde saira de manhã (longas horas inteiro para se fazer 18 km), prosseguiria no dia seguinte, tendo-se processado sem incidentes de maior até à ponte do Rio Jago, a cerca de 3 km do aquartelamento de Mansambo, altura em que se fez um alto para recompor a carga da viatura que seguia em 3º lugar. Passámos a noite nos "bunckers" de Mansambo.

Ao retomar-se a marcha, o rodado intermédio direito da GMC do Dalot (MG-17-21) que vinha imediatamente a seguir àquela, e que pertencia à CCAÇ 12, accionou uma mina A/C (anticarro) reforçada, tendo-se voltado espectacularmente. A viatura ficou muito danificada, tendo-se inutilizado parte da sua carga de 3 mil kg de arroz. Em virtude de ter sido projectado, ficou gravemente ferido um 1º cabo do Pel Caç Nat 53. O condutor da GMC, o soldado Dalot, saiu ileso.

A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores, seguida de 2 Gr Comb que progrediam na frente.

Alguns quilómetros à frente, junto à ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas mais 3 minas (A/P) que deveriam fazer parte do campo de minas implantado pelo IN posteriormente à Op Belo Dia I, e das quais 7 já sido levantadas até então.

Pelas 13h do dia 18 de Setembro deu-se finalmente o encontro dos 2 Dest, tendo-se procedido ao transbordo da carga.

No regresso a coluna foi sobrevoada várias vezes por uma parelha de Fiat G-91 cujo apoio estava previsto na ordem de operações. Mansambo foi atingido pelas 17 h do dia 18, depois de se ter armadilhado a viatura cuja remoção se verificou ser impossível com os meios disponíveis na ocasião.

Inconsolável, tu, Dalot, lá deixaste  a tua querida GMC, de matrícula MG-17-21... A Guiné era um  cemitério de sucata, como viaturas (militares e civis) abandonadas pelas NT, destruídas por minas e roquetadas... Não tenho a certeza se esta viatura foi posteriormente desarmadilhada e rebocada para Bambadinca... Os custos de uma tal operação eram sempre elevados.

Onde quer que estejas, camarada Dalot (e eu espero bem que estejas vivo e de boa saúde), desejo-te as maiores felicidades possíveis e, já  agora um Natal quentinho, livre da Covid-19. Telefona-me para o 931 415 277. Teu camarada, Henriques.  (**)

As minhas felicitações natalícias são extensivas aos demais condutores autorrodas, todas eles gente brava,  da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 que viajaram comigo no T/T Niassa, de 24 a 29 de maio de 1969, de Lisboa com destino a Bissau. Alguns infelizmente já não estão vivos. A lista é antiga (e tem de ser revista). Acrescento também os mecânicos auto:

1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro [, vivia em Vila do Conde ou Porto ?];

Sold Condutor Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares [, morto em, mina A/C,em Nhabijões, em 13/1/1971];

Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga [, vive em Lisboa];

Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro [, comerciante, Castro Daire; é membro da nossa Tabanca Grande];

Sold Cond Auto João Dias Vieira [ vive em Vila de Souto, Viseu];

Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha [, vivia em Viseu, faleceu em 6/12/2007;

Sold Cond Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho [, vive em Brejos de Azeitão];

Sold Cond Auto Manuel S. Almeida [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto António C. Gomes [, morada actual desconhecida];

Sold Cond Auto Fernando S. Curto [, vive em Vagos];

Sold Cond Auto Aniceto Rodrigues da Silva [,falecido em 3/1/2021;  membro a título póstumo da nossa Tabanca Grande];

Sold Cond Auto Manuel G. Reis [, morada actual desconhecida];

Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vive em Esposende ou Maia ?];

1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedeiros  [, vivia na Reboleira, Amadora];

1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia [, morada actual desconhecida];

Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto [, morada actual desconhecida].




Guiné > Região de Bafatá  > Algures > 1973 > Uma Daimler, avariada, é levada em cima de uma GMC... Sítio ? Talvez Bambadinca, talvez Bafatá, junto ao Rio Geba... quando o João Carvalho veio de férias à metrópole, vindo de Canjadude, Gabu, onde estava aquartelaad a sua CCAÇ 5.  (Em 1971, no CTIG havia pouco mais de duas centenas e meia de GMC, das quais praticamente metade estavam inoperacionais... E das 108 Daimlers existentes, 75% estavam inoperacionais.

Foto (e legenda): © João Carvalho (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné> Região de Bafyá > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) > Escala: 1/50 mil > Troço da Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho> Assinalada, com um círculo a azul, a ponte do Rio Jago onde a GMC MG-17-21, conduzida pelo Dalpot,  com 3 toneladas de arroz, accionou uma mina anticarro, no dia 18 de Setembro de 1969. O quartel de Mansambo vem sinalizado com um retângulo.

A distância de Bambadinca, a Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole e Saltinho era, respectivamente, 18, 33, 35 e 55 quilómetros. As colunas logísticas, de reabastecimento, podiam levar um dia ou até mais (na época das chuvas) a fazer este percurso perigoso, npomeadamete o troço Mansambo-Xitole   (interdito entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969 ). A CCAÇ 12 participou em diversas colunas logísticas a Mansambo, Xitole e Saltinho (junto ao Corubal) e mesmo Gondomar. (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)

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Notas do editor: L.G.

Vd. também poste de 20 de maio de  2005 > Guiné 63/74 - P22: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho (Luís Graça)

(...) Desde Novembro de 1968 que o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole (CART 2413). A coluna prosseguiu com apoio aéreo.

Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A. (...)

sábado, 8 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P945: 'Gente feliz com lágrimas': o Zé da Ilha, o furriel Sousa, madeirense, da CCAÇ 12

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Nhabijões > 1970 > Pessoal da CCAÇ 12, destacada no reordenamento de Nhabijões. O furriel Sousa é o primeiro da direita, seguido dos furriéis Reis e Henriques. O tocador de acordeão era o nosso 1º cabo escriturário, se não me engano.

Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

© Humberto Reis (2006).

Fão, Esposende > 1994 > Encontro da malta de Bambadinca (1968/71): CCS do BCAÇ 2852 (1969/71), CCAÇ 12 (1969/71), Pel Daimler 2606 (1970/71) e outras unidades adidas.

Na foto, o José Luís Sousa é o segundo a contar da esquerda para a direita, ladeado pelo Humberto Reis, o António Carlão e o J.L. Vacas de Carvalho.

Foto: © Humberto Reis (2006).

Mensagem do José Luís Sousa, ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, o nosso baladeiro, tocador de viola, o nosso camarada madeirense que era a doçura em pessoa...

Recordo-me de, no regresso a casa, em Março de 1971, o Uíge ter parado no Funchal o tempo suficiente para nós irmos, em grupo (em bando!), cantar e dançar o bailinho da Madeira na famosa Rua do Comboio, em casa do Sousa, a mesa farta, e à volta uma alegre e numerosa família madeirense, jovial, simpatiquíssima, alegre, de que guardei para sempre a melhor memória...

A família do Sousa, o nosso Zé da Ilha - era assim que o tratavamos, afectuosamente - , os seus numerosos manos e manas, ainda hoje os associo, a todos, por um qualquer automatismo da memória, ao filme Música no Coração... Foi um momento único e mágico na viagem do nosso regresso a Lisboa...

Vocês, amigos e camaradas da Guiné, não imaginam a alegria que foi, naquela casa, o regresso do mano Sousa, vivinho da costa, devolvido aos pais e irmãos, rodeado por todos os cacimbados dos seus camaradas, os furriéis e alferes da CCAÇ 12...

Voltei a encontrar o Sousa em 1994, em Fão, Esposende, e logo a seguir na sua terra natal... Fui depois várias vezes ao Funchal, por motivos profissionais, e nomeadamente nos últimos meses, mas confesso que não tive o mínimo de tempo para o procurar... Até pela simples razão de ter perdido o seu contacto telefónico... Vejo que o Sousa continua a trabalhar nos seguros... Mais assíduo e mais amigo tem sido o Humberto Reis que nunca deixa de porocurar o Zé Luís quando vai à Madeira...

Com a entrada do Zé Luís, são já cinco os camaradas da CCAÇ 12, da época de 1969/71, que fazem parte da nossa terúlia: eu próprio, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Jaquim Fernandes e agora o Zé da Ilha...Há ainda o António Duarte, mas este camarada, que nos sucedeu na CCAÇ 12, é já de outra geração (1973/74)... Dois ou três anos de diferença, lá no cu de Judas, no inferno da Guiné, era mesmo uam diferença abissal...

Zé: para a próxima, não me escapas!... Mais tarde ou mais cedo, haveríamos de nos encontrar nesta caserna virtual, de gente tão generosa e boa como a tua família... Espero que esteja tudo bem contigo, a começar pelos teus pais, tão amorosos, e os teus joviais manos e manos, gente feliz com lágrimas de quem eu guardo a melhor das recordações...

Faz-me o favor de mandar as duas fotos da praxe que é para eu te pôr, todo bonitinho, na nossa fotogaleria... E, claro, a uma pequena estória onde falas de ti, de nós, da Guiné... Foi uma enorme alegria receber o teu mail, mesmo telegráfico, que aqui reproduzo para o resto da tertúlia:

Amigo. Lindo o teu trabalho. Qual GRITO DE GUERA dos momentos passados naquela Guiné. Continua. Acompanharei, a partir de hoje, tudo o que de novo for inserido neste Blogue. Um GRANDE abraço do José da Ilha. Madeira, 06-07-06 José Luis Sousa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2138: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (3): Op Pato Rufia (Xime, Setembro de 1969)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1969 ou 1970 > Vista aérea do aquartelamento e da tabanca do Xime. Em Setembro de 1969, um Pel Caç Nat 52 desfalcado está envolvido numa operação, na zona de acção do Xime, com diversas forças (CCAÇ 12, CART 2520, Pel Caç Nat 53 e 63).

...) "Findo este briefing, partimos em coluna para o Xime, e pouco passava da 1 da manhã quando os três destacamentos progrediram para as suas três missões. Recordo que atingimos sem grande dificuldade uma clareira no limiar da mata do Poidon e que ao amanhecer ouvimos rasgadas de metralhadoras, dilagramas e bazucadas. Minutos depois, reacendeu-se o fogo, parecia uma emboscada. Meia hora depois, surge junto da nossa força o Major Sampaio dizendo que devemos avançar, tivemos um morto e há feridos, chegou-se ao acampamento, o inimigo teve também baixas. Entramos no acampamento, está tudo num estado de desordem, toda a gente à procura de esclarecimento, no ar pairam bombardeiros e uma avioneta. Desce um helicóptero recolhe os feridos e parte. Toda a gente fala de um acidente com um dilagrama" (BS) (...)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


Capa do romance policial, de Georges Simenon, L'ombre chinoise [, a sombra chinesa]. Paris: Librairie Arthème Fayard. 1963.

(...) "É um romance soberbo, com uma arrancada quase cinematográfica, Maigret trava um diálogo com a porteira no prédio onde houve um homicídio. Acendem-se e apagam-se luzes, desfilam os protagonistas, que entram e saem. É uma história sórdida de uma vingança amorosa e de um roubo, com silêncios e sombras chinesas de permeio. Nunca mais lerei um final tão aterrador quando Maigret vai demolindo os membros do casal envolvidos na tragédia. À noite, enquanto a criminosa é enviada para um hospital psiquiátrico, Maigret, a mulher e os cunhados vão jogar às cartas, divertidos" (BS) (...).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados


Texto enviado em 27 de Julho último pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

Operação Pato Rufia, a que teve feridos e mortos
por Beja Santos


(i) Uma flagelação a Missirá que não passou de uma escaramuça


O que diz o relatório do BCAÇ 2852 é que, a 5 de Setembro, um IN estimado em quatro a cinco elementos, flagelou com morteiro o destacamento de Missirá, sem consequências, tendo retirado, minutos depois, na direcção de Morocunda-Biassa.

O que aqui nos interessa escrever em abono da verdade é que tínhamos vindo de Mato de Cão passavas das 16 horas, Missirá tem nesta altura 52 militares no activo dos quais 24 estão incapacitados, inchados, andam aos tropeções, os pés em chaga, cirandam como mortos-vivos. Regressar com vinte homens, fazer a escala de reforços, sair com um contingente para fazer uma emboscada é mais difícil que uma equação algébrica de terceiro grau.

Após conversar com o Casanova e o Pires, assentamos que eu vou fazer a directa, um deles amanhã vai para Mato de Cão enquanto eu regresso a Finete e o outro fica a acompanhar as obras, a responder ao correio e a fazer contas.

Tiro a farda esbranquiçada pelo suor empestado, compenso-me com um uísque puro, preparo o equipamento adequado que envolve rede mosquiteiro e uma capa de plástico, converso com o Pires a mastigar uma sandes enquanto examino as folhas de pagamentos, falo com o chefe de tabanca por causa da proverbial falta de arroz que nos vai obrigar a fazer uma coluna extraordinária, lavo-me e desinfecto as feridas, reequipo-me e espero pelos catorze que me vão acompanhar na emboscada um pouco mais acima dos cajueiros do régulo Malã, depois de verificar a culatra à rectaguarda, avançamos para o cavalo de frisa.

Tivemos todos nós sorte, os que estão dentro do quartel a comer e a repousar, a tomar banho ou a vigiar, os que partem para uma emboscada das 7 às 11. A noite está serena, a lua lança uma beatitude iluminada pela floresta, daqui até ao Gambiel. É nisto que o primeiro estampido vem de Cancumba e despedaça-se a escassos metros do abrigo do Alcino, junto da saída para Sansão.

De roldão, numa marcha atrás ginasticada e cómica, quem ia emboscar atirou-se para as valas e abrigos, não houve acidentes a não ser as roupas que se rasgaram no cavalo de frisa. Como na flagelação anterior, tínhamos a sensação de um tiro-a-tiro com morteiro, pouco entusiasmado, sem a marca do grande terror que deixa toda a gente sem pinga de sangue.

Disparo em flecha para o morteiro 81, não percebo porque é que o Queirós está ausente. As morteiradas pingam sem atino, umas dentro outras fora do arame farpado. Vejo que as saídas são de um só morteiro, muito perto da fonte. Tiro cargas das granadas, disparo uma, espero pelo rebentamento, afino a pontaria, esta já caiu perto, a terceira cai e parece ter calado quem de lá nos provoca. Depois, um silêncio do morteiro atacante, saio do abrigo, grito para que não haja mais fogo.

Converso com Casanova e vou com o Benjamim e o Domingos fazer uma rápida avaliação dos estragos. Nada, só uns estilhaços, não há estragos à vista, não há um único ferido.
-Tenho que trazer o Reis para me armadilhar todo este local que conduz ao Biassa.

É nisto que me surge o Queirós enquanto esfrego creme nas mãos a escaldar. Vem com cara de caso, procura justificar a não comparência no momento determinante: "Meu alferes, estava a tomar banho, tive vergonha de vir assim". Estive quase a perguntar-lhe o que é que ele andou a fazer assim, enquanto choviam as morteiradas...

Dias mais tarde, vou escrever à Cristina:

Acordei aparvalhado a ouvir o rádio do Cherno. No programa das Forças Armadas transmitido em crioulo, balanta e manjaco vem a notícia de que tínhamos sido flagelados. É absurdo que uma curta flagelação sem consequências mereça tanto espalhafato. Já cá esteve o Reis que veio minar e armadilhar outra vez a picada que conduz ao Biassa, trajecto clássico da aproximação de Madina. Andei a vigiar o Reis enquanto ele escavava e metia engenhos com fios antilevantamentos, cargas de granadas-armadilha e secções de minas. Por aqui tenho gente muito doente, o régulo, o príncipe Samba, caçadores e milícias está tudo doente. Continuo cheio de projectos, há muita coisa para fazer: a sonhada mesquita, a instalação da iluminação eléctrica, dois abrigos, o edifício da nova messe, a desmatação entre Canturé e Finete, construir algumas moranças para os civis de Finete que aqui passam a época seca. Prepara-te para receber a visita do Teixeira das transmissões. Ele quer que tu saibas leva uma camisola verde e uma bonita calça à civil.

(ii) Nós somos cristãos (1º Cabo Benjamim Costa)


A noite desta flagelação de trazer por casa deu-me energia para ter uma conversa com o Benjamim. Após a vistoria ao estado do quartel, disse ao Cherno para chamar o Benjamim ao nosso abrigo. Ele veio lesto, convidei-o a sentar e fui directo ao assunto:
-Benjamim, é só para te dizer que já perdoei o que me disseste na noite de 3 de Agosto (2). Ficas a saber que sou filho de uma angolana, que em minha casa se come moamba como tu comes arroz, a ama da minha mãe era tão preta como tu, a minha avó e a minha mãe quando queriam discutir diante de nós falavam quimbundo, tenho a casa cheia da fotografias de brancos com pretos. Fui educado sem o preconceito da cor. Tu, aliás, já sabias. Tu sabes onde estão os racistas, eles não estão neste abrigo. O mais importante é que tu saibas que te admiro muito, pelos teus valores, a tua cultura, o teu porte. Aquele a quem tu chamaste branco assassino respeita-te muito.

Fez-se silêncio, ele parecia querer responder, estendi-lhe as duas mãos, lembrei-lhe que tínhamos que ir descansar já, pelas 5 da manhã faríamos o patrulhamento para reconhecer a presença do inimigo. Mas antes de sair, o Benjamim disse-me:
-Tudo farei para continuar a merecer essa estima que sempre teve por mim. Nós somos cristãos.

(iii) Uma notícia e um encontro inesperado em Bambadinca

Vamos a Bambadinca juntar-nos aos afectivos que vão partir para a segunda edição da Op Pato Rufia. Saímos de Finete a 6, de Bambadinca partiremos para o Xime, três grupos de combate da CCAÇ 12, dois grupos de combate do Xime, eu e doze homens do 52, mais o 53 e o 63, ao todo três destacamentos.

Em Bambadinca, antes de seguir para a sala de operações com os outros oficiais, cumprimento o Comandante Corte Real. Ele está acompanhado de um Major que não conheço e saúda-me: -Ainda bem que veio. Recebi de Bafatá uma ordem de serviço com o louvor que lhe foi dado pelo Comandante de Agrupamento. Felicito-o. Ele refere aqui a sua intensa actividade operacional e a admiração que por si têm os seus subordinados. Olhe que não é vulgar um louvor terminar dizendo que o oficial louvado é um exemplo para todos.

Agradeci a informação sem comentários, e de seguida fui apresentado ao oficial presente:
-É o nosso Major Cunha Ribeiro, o futuro 2º Comandante do nosso batalhão (3). O nosso Major Sampaio fica a partir de hoje como oficial de operações.

Cumprimento o Major que retribui com sorriso rasgado. Fala à moda do Porto, o cabelo é ralo, tem gesticulação nervosa, vê-se que gosta de conversar, largando observações humorísticas. Será este homem que me crismará de Tigre de Missirá, irei contar com ele em horas muito difíceis e, como em todos os mistérios do mundo, não pode saber que iremos ter uma estima recíproca toda a vida.


Esposende > Fão > Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71) > 1994 > O Mário Beja Santos (ex-comandante do Pel Caç Nat 52) com o actual Coronel Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a partir de Setembro de 1969, altura em que substitui o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. Era afectuosamente conhecido, entre as NT, como o major eléctrico... Foi ele que deu o nome de guerra, Tigre de Missirá, ao Beja Santos.

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


(iv) A Pato Rufia contada em resumo

Na sala de operações, disseca-se a Pato Rufia. Vamos voltar ao acampamento daqueles que emboscam e espalham o terror em Ponta Varela. Quem irá atacar o acampamento serão os três grupos de combate da CCAÇ 12. Os grupos de combate do Xime [CART 2520 ] ficarão posicionados para travar a fuga do inimigo em direcção do Buruntoni. Os pelotões de caçadores nativos [52, 53 e 63] ficariam emboscados de modo a travar uma retirada para a mata do Poidon.

As informações que se dispõem é de que o acampamento é composto por nove cubatas, são cerca de quarenta homens armados e ficara-se a saber em final de mês passado que há minas anti-pessoal a proteger o acesso. O Major Sampaio garante que estará no ar ao amanhecer e que acompanhará a operação.

Findo este briefing, partimos em coluna para o Xime, e pouco passava da 1 da manhã quando os três destacamentos progrediram para as suas três missões. Recordo que atingimos sem grande dificuldade uma clareira no limiar da mata do Poidon e que ao amanhecer ouvimos rasgadas de metralhadoras, dilagramas e bazucadas. Minutos depois, reacendeu-se o fogo, parecia uma emboscada. Meia hora depois, surge junto da nossa força o Major Sampaio dizendo que devemos avançar, tivemos um morto e há feridos, chegou-se ao acampamento, o inimigo teve também baixas.

Entramos no acampamento, está tudo num estado de desordem, toda a gente à procura de esclarecimento, no ar pairam bombardeiros e uma avioneta. Desce um helicóptero recolhe os feridos e parte. Toda a gente fala de um acidente com um dilagrama. Entretanto entramos nas casas de mato onde se encontram espalhados livros, propaganda, material de guerra como granadas e minas (4).

Mais tarde, escrevo à Cristina:

Ainda estou para saber porque é que permanecemos três horas neste local. Não vou esquecer tão cedo o drama deste morto transportado em padiola pelos amigos debaixo do calor do meio dia, uma procissão imponente de singeleza. Era o deambular silencioso do féretro pela mata hostil. O Cherno levava no seu ombro o cadáver deste futafula desditoso.

A meio da tarde já estávamos em Bambadinca e chegado de Finete recebemos a notícia que a população expulsara Bazilo Soncó que tentara um novo levantamento e uma nova dissidência nas milícias. No mês seguinte, o comando de Bambadinca irá cortar a direito, lançando os dissidentes em Quirafo e Madina Xaquili, vindo os de Amedalai para Finete.

Eu ainda não sei que este mês prosseguirá turbilhonante, a 12 haverá novo reencontro com gente de Madina, será um patrulhamento do 52 com milícias de Finete mais um grupo de combate da CCAÇ 12. A coluna de reabastecimento de Madina teve sorte, pois os milícias de Finete precipitaram-se no fogo dando tempo que toda a gente fugisse deixando no terreno um carregamento que ficamos sem saber se vinha de Mero ou dos Nhabijões, constituído por tabaco, sal e aguardente de cana.

Neste turbilhonante, haverá ainda nova flagelação sobre Missirá e outra sobre Finete. Viverei novos episódios com o meu casamento por procuração, que já dá mostras de uma épica infindável. Em S. Belchior, abaixo de Mato de Cão, haverá um ataque inimigo a barcos que vão em direcção a Bambadinca. As duas viaturas vão empanar ao mesmo tempo, felizmente que temos sempre recurso do Sintex. E depois um desastre com pesadas consequências, o colapso nervoso do Casanova. No meio disto tudo, a caminhada imperturbável, todos os dias, para Mato de Cão.

Capa do romance policial de S.S. Van Dine, A morte da canária. Lisboa: Livro so Brasil. 1949. (Colecção Vampiro, 20). Capa de Cândido Costa Pinto.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados


(v) as minhas leituras da semana: Simenon, S.S. van Dine, John Steinbeck


O Carlos Sampaio enviou-me L'ombre chinoise, de Georges Simenon. Alguns anos antes lera a tradução do Alexandre O'Neill para a Colecção Vampiro. É um romance soberbo, com uma arrancada quase cinematográfica, Maigret trava um diálogo com a porteira no prédio onde houve um homicídio. Acendem-se e apagam-se luzes, desfilam os protagonistas, que entram e saem. É uma história sórdida de uma vingança amorosa e de um roubo, com silêncios e sombras chinesas de permeio. Nunca mais lerei um final tão aterrador quando Maigret vai demolindo os membros do casal envolvidos na tragédia. À noite, enquanto a criminosa é enviada para um hospital psiquiátrico, Maigret, a mulher e os cunhados vão jogar às cartas, divertidos.

A Morte da Canária, por S. S. van Dine é mais um triunfo memorável do detective pedante Philo Vance, Margaret Odell, uma artista escandalosa, aparece assassinada em sua casa. O interior está virado do avesso, houve roubo, aparentemente o grande móbil do crime. Não passa de aparências, afinal houve um crime passional, as novas tecnologias de reprodução ajudaram o criminoso a gravar conversas inexistentes para fundamentar um bom álibi. Philo Vance descobre tudo e mais uma vez o criminoso mata-se. Não é das obras mais brilhantes de S. S. van Dine mas para quem anda de emboscada para patrulhamento, de patrulhamento para operação, lê-se muito bem entre flagelações, rondas e elaboração de escalas de serviço.



Capa do romance do norte-americano John Steinbeck, A um Deus desconhecido. 2ª ed. Lisboa: Publicações Europa-América. 1958. Tr. de Manuel do Carmo. Capa de Sebastião Rodrigues. (Colecção Os Livros das Três Abelhas, 1).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Por fim, surpreendo-me com A um Deus desconhecido, um romance da juventude John Steinbeck. É uma história quase bíblica que já se orienta para o elogio da terra como ele irá desenvolver em obras primas como As vinhas da Ira. Joseph Wayne abandona a família à procura de uma terra prometida na Califórnia. Estabelecerá neste combate no novo assentamento uma relação religiosa com os valores naturais. Irá morrer vendo o seu sangue a borbotar e a escorrer sobre o musgo, julgando que se transformou em chuva e em erva a caminho do céu.

Prometo a mim próprio que voltarei a esta leitura mais tarde. Ler é uma feliz coincidência com uma carência do espírito ou, se houver dissonância, pode constituir uma profunda decepção. Necessito, nestes tempos do Cuor, de um outro arrebatamento, âncoras que me matem a fome ou que me deixem em suspenso toda a incompreensão que guardo desta guerra.
___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. os dois posts anteriores da série Operação Macaréu à Vista - II Parte:

21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2123: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (2): Não te esqueças de me avisar que já sou teu marido

13 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2102: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (1): Mamadu Camará, a onça vigilante

(2) Vd. post de 20 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1978: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (56): Mataste uma mulher, branco assassino!

(3) Vd. posts de:

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1076: O álbum das glórias (Beja Santos) (4): eu e o coronel Cunha Ribeiro, o nosso 'major eléctrico'

9 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1161: O nosso Major Eléctrico, 2º comandante do BCAÇ 2852 (Beja Santos)

(...) O Major Ângelo da Cunha Ribeiro é o 2º Comandante que vem numa vaga de substituições. Era loquaz, irónico, interveniente e um conversador compulsivo. Devo-lhe pessoalmente vários gestos ternos: foi ele que me passou a tratar por Tigre e incentivou a socialização do termo; foi extraordinário nos acontecimentos da mina anti-carro de Canturé, em Outubro [de 1969] ; perguntava sempre sobre as necessidades em comida e material, interferia, imaginava e fazia lobby por Missirá e Finete. Não fica nada mal, parece-me, contar aqui em água forte um punhado de situações.Começo pelo fim, pelo desastre que o vitimou na rampa de Bambadinca. Alguns dos tertulianos presenciaram ou foram forçados a salvá-lo dentro da viatura destroçada, furada pelos barrotes de cibe onde ele jazia com múltiplas facturas num jipe transformado em sucata. (...)

(4) Sobre esta operação, vd. ainda:

8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça)

(...) O dilagrama que provocou este trágico acidente era empunhado por um graduado da CCAÇ 12, que não era apontador habitual de diligrama do seu grupo de combate. No relatório omite-se, por conveniência ou cumplicidade, este facto grave. O Iero Jau, de etnia fula, morreu ao meu lado. O Malan Mané, o prisioneiro, de etnia mandinga, foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para Bissau. Gostaria de saber o que é feito dele hoje: se conseguiu sobreviveu aos ferimentos, se ainda é vivo, se se lembra, à distância de 36 anos, destes loucos meses de Agosto e Septembro de 1969...

"Fomos no dia seguinte enterrar o Iero Jau na sua aldeia, no regulado do Cossé (se não me engano...). Teve honras militares. Lembro-me do ridículo atroz da cerimónia" (...).



14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)

9 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (Luís Graça).