segunda-feira, 25 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )

Lisboa > 24 de Maio de 2009 > O Arsénio Puim, na casa dos seus filhos, estudantes universitários, à conversa com uma antiga paroquiana e amiga do Padre Mário de Oliveira (também conhecido por Padre Mário da Lixa), a Maria Alice Carneiro, esposa do Luís Graça. Durante a guerra colonial, foram seguramente os dois casos mais conhecidos, pelo menos públicos e notórios, de conflito de ruptura, por razões de consciência, de capelães militares com Exército...

Em Maio de 1971, "por volta do 13 de Maio, talvez antes, a 10, 11 ou 12", o Alf Mil Capelão da CCS do BART 2717 (Bambadinca, 1970/72) foi intimado a comparecer em Bissau para receber a guia de marcha, de volta à sua terra, por ter sido considerado uma figura indesejável no CTIG... O seu quarto e os seus objectos pessoais foram revistados, não por agentes da PIDE/DGS, mas por dois oficiais superiores do comando do batalhão.... O seu diário foi, abusiva e ilegalmente confiscado... (É uma história a ser recontada, muito proximamente, aqui no nosso blogue).

Por sua vez, o Padre Mário de Oliveira, da diocese do Porto, foi capelão militar do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69). tendo sido expulso em Março de 1968, menos de cinco depois da sua chegada ao CTIG, uma história já aqui contada, na I série do nosso blogue (*)...

O Puim considera-se duplamente maltrado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa. À data era capelão-mor, no CTIG, o Padre Gamboa, que tinha o posto de major, coordenando e supervisionando todo o trabalho de capelania (Vivia, em instalações próprias, em Bissau, conhecidas por Vaticano). Em Fevereiro de 1971, o Puim ainda tinha participado, em Bolama, num retiro espiritual, com os demais capelães da Guiné, dirigido pelo Major Capelão Gamboa. Houve discussão acesa, foi discutido o papel dos capelães na guerra colonial, a posição da Igreja, etc.

O mais importante é dizer, aqui no nosso blogue, que o nosso camarada Arsénio Puim, com os seus 73 anos, está vivo e recomenda-se. O novo membro da nossa Tabanca Grande, já começou a (re)organizar as suas memórias. Promete publicar algumas notas do seu famoso diário (que lhe foi devolvido pelo Exército a seguir ao 25 de Abril, embora censurado, rasurado e amputado de uma ou mais páginas)...

Tive o grande prazer de o abraçar no domingo à tarde, como prometido... Ele regressa a São Miguel, na 3ª feira. E fez-nos uma sugestão: que um dos próximos convívios da malta de Bambadinca ou do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné seja realizado nos Açores, onde de resto há muitos antigos combatentes que estiveram no CTIG... Também ele, durante muito anos, se recusou a falar do seu tempo da Guiné e só este ano veio, propositadamente, ao 3º convívio da CCS do BART 2917 (**), onde tinha/tem muita gente que o admira(va) e acarinha(va)... Como era o caso do nosso malograo camarada Carlos Rebelo, falecido em 6 do corrente, e que passa a figurar, de pleno direito, a partir de hoje, na lista dos amigos e camaradas da Guiné. Juntamente com o Zé Neto, é o segundo membro do blogue, já falecido (***).

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1.
Mensagem do Benjamim Durães (ex-Fur Mil, Pel Rec Inf, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72):

Luís, depois de ler a mensagem do Puim no nosso blogue (****), a mesma me fez recordar uns versos feitos pelo ex-Furriel Mil Sapador Carlos Rebelo (falecido no passado dia 6 de Maio), que ele escreveu em 2007 e me entregou para ser lido no 1º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 que se realizou em Setúbal, os quais foram já publicados na revista dos Serviços Sociais da CGD - Caixa Geral de Depósitos.

Assim, e em memória do Carlos Rebelo, aqui transcrevo os versos, intitulado Romance do Padre Puim.

Um Abraço
DURÃES
_____________

ROMANCE DO PADRE PUIM
OU UM EPISÓDIO DA GUERRA COLONIAL
(PARA O PADRE PUIM, ONDE QUER QUE SE ENCONTRE, TANTOS ANOS DEPOIS) (*****)


FOI MAIS OU MENOS ASSIM
QUE SE PASSOU COM PUIM,
PADRE DAQUELA FORNADA
DO VATICANO SEGUNDO
E CAPELÃO MILITAR:
CRITICOU A HIERARQUIA
POR USAR E ABUSAR
DOS PRISIONEIROS DE GUERRA,
VELHOS, MULHERES E CRIANÇAS,
QUE A TROPA EM SUAS ANDANÇAS
TRAZIA AO AQUARTELAMENTO.

PADRE PUIM PREDICAVA
CONTRA O FACTO E APONTAVA
CERTOS ACTOS DESUMANOS
QUE O EXÉRCITO PRATICAVA.

ISTO CAIU MUITO MAL
NO GOTO DE UM GENERAL
QUE PÔS A PIDE EM ACÇÃO:
PUIM FOI NOTIFICADO
E DIGAMOS CONVIDADO
A CALAR-SE, OU ENTÃO…

ENTÃO FOI O QUE ACONTECEU:
PADRE PUIM FOI DETIDO
E DE IMEDIATO TRAZIDO
DESDE O MATO À CAPITAL
PARA FALAR COM O TAL
NO SEU QUARTEL GENERAL.

REAFIRMOU O QUE DISSE
E ATÉ DISSE INDA MAIS:
QUE NÃO GOSTAVA DA GUERRA
E POUCO DE GENERAIS.

E DISSE QUERER SABER
QUAL A RAZÃO DE TER SIDO
DEMITIDO.

AQUI O TAL GENERAL
ESCUSOU-SE A DIZER TAL,
MAS PERANTE A INSISTÊNCIA
E O TOM DE VEEMÊNCIA
DOS PROTESTOS DE PUIM,
RETORQUIU-LHE ASSIM:
- DIGAMOS QUE O SENHOR FOI
CONSIDERADO INDESEJÁVEL
AO C.T.I.G. (1).

PADRE PUIM PERGUNTOU:
- SIM? MAS, PORQUÊ?
AO QUE O GENERAL REPETIU
O QUE ANTES JÁ DISSERA,
E ASSIM,
UMA, OUTRA E OUTRA VEZ.

FICOU À ESPERA PUIM
DA EXPLICAÇÃO QUE NÃO VINHA,
ATÉ QUE DISSE O QUE DISSE:
- SE EU SOU INDESEJÁVEL AO C.T.I.G.,
O C.T.I.G. É INDESEJÁVEL PARA MIM.
BOA TARDE!

VIROU AS COSTAS, SAIU
NUNCA MAIS NINGUÉM O VIU
A FALAR COM GENERAIS
E OUTROS ASSIM QUE TAIS.

EU, QUE FUI SEU AMIGO,
SEI DOS CUIDADOS E DORES,
QUANDO ENTROU NO AVIÃO,
DE REGRESSO AOS AÇORES
DONDE ERA NATURAL,
E ENTÃO UM SIMPLES PADRE,
ANTES DE SER CAPELÃO
NO EXÉRCITO DE PORTUGAL.


(1) Comando Territorial Independente da Guiné


CARLOS REBELO (†)
ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2917

[Revisão / fixação de texto para esta edição no blogue: L.G.]
____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

Vd. também poste de 27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

(**) Vd. postes de:

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4301: In Memoriam (22): Carlos Rebelo, a última batalha (Abilio Machado, ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

(****) Vd. poste de 23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)

(*****) Vd. postes anteriores da série Cancioneiro de Bambadinca:

8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3586: Cancioneiro de Bambadinca (3): Mais versos de O Bando, a CCAÇ 12 do Srgt Piça (Tony Levezinho / Gabriel Gonçalves)

7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

domingo, 24 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (18): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 22 de Maio de 2009:

Caro editores,
Apresento a V. Exas, agora reforçados por um elemento rangerizado, com quase tantos cargos e capacidades, quantas as latas do AB, mais uma estória para o registo da CCaç 2679, a minha Companhia, que nos Leste da Guiné só não se cobriu de glória, porque o IN aproveitou aquele período para folguedos. Façam o favor de dar uma olhada ao texto a ver se merece publicação.


Deslocação a Bajocunda

O ambiente deteriorava-se na tradicionalmente calma região de Pirada e Bajocunda. Dando continuidade às acções desencadeadas perto de Canquelifá, o IN, agora, executava o que parecia um plano sobre as populações fronteiriças sob administração portuguesa. À noite, pontificava o sequestro de populações e bens, e o fogo nas tabancas, que rasgava de luz gritante aqueles horizontes gentios. Ala que se faz tarde. Outra vez o Foxtrot posto a andar na senda dos acontecimentos.

De Piche a Bajocunda foi um extenso dia de viagem, embora a distância rondasse apenas uns oitenta quilómetros. Mas em ambiente de guerra, com as cautelas necessárias para não sermos surpreendidos por alguma acção terrorista, a deslocação era mais lenta. O pessoal apresentava-se com a habitual boa disposição. Parecia até que a guerra era como cavacas. Cautelosos, mas não intimidados. Para além de nós, também os Comandos Africanos iam reforçar a localidade. Para Pirada deslocar-se-ia uma Companhia de Páras e outra de açorianos. Com tanta gente, imaginava eu, que risco poderíamos correr, mesmo considerando a linha de fronteira confinante naqueles territórios? Francamente, já não acreditava no PAIGC, na sua capacidade para nos aterrorizar e molestar. Mas, claro, havia sempre o lado desconhecido das coisas, por isso, cautelas e caldos de galinha, como é sobejamente conhecido, não fariam mal a ninguém.
Lá prerorei sobre os novos riscos a que poderíamos estar sugeitos, que ninguém poderia facilitar nas missões, que tivéssemos muito cuidado com as populações, e a confirmar essas eventualidades de risco, aí estavam os Comandos e os Páras, como nós, a atestar dificuldades antecipadas.

Chegámos tarde, ao fim do dia, e logo deu para ver a grande confusão que reinava em Bajocunda. Os Comandos já estavam instalados, mas a maioria governava-se pela aldeia. Nos abrigos não havia lugar para o Foxtrot, e, na falta de instalações, ali ficaram distribuídos, perto das valas, em excesso de carga quando todos se reuniam. Quanto a mim, face à rebaldaria de camas e colchões de ar que preenchiam os intervalos do chão nos quartos, onde brancos e pretos se espojavam para dormir, tive a sorte de passar pela enfermaria, onde se destacava uma primeira sala com armários-despensa, destinada a primeiros socorros e consultas, e atrás, um amplo quarto, com três camas, cobertas de alvos lençóis, que pareciam engomados e tudo, sala destinada a acolher o pessoal com baixa.

Ninguém se encontrava com baixa, pelo que se tornou evidente o desperdício, e iluminou-se-me a mente quando decidi ali dormir. Surpreendidos, os enfermeiros não ripostaram. Claro, não se esqueçam das prioridades se tivermos alguém ferido ou com doença grave para permanecer na instalação, ainda adverti disposto a só ceder o lugar in-extremis.

As altas patentes locais, eram o Major Comando e o Capitão de Artilharia. Ambos congeminavam as actividades diárias, mas, no geral, era o Capitão que me transmitia as tarefas. Só por duas vezes integrámos forças com a CCA, em acções contra o IN, que não deram em nada, porque nunca lhes adivinhámos o caminho, e porque ele nos evitava. Todas as tardes saíamos, ora a pé, ora em viaturas, dependendo da distância, com missões de detecção e intercepção, colmatada com montagem de emboscada. Ainda durante a noite, se tínhamos abancado perto do aquartelamento, ou pela madrugada, regressávamos a Bajocunda para alimentação e o necessário descanso. Na enfermaria, notei, passou a haver mais cuidado, para eu não acordar. Malta porreira.

Revezávamo-nos, CCA e o Foxtrot, nas zonas a actuar. O terreno revelou-se fácil, plano, com cobertura de savana. Não havia grandes rios, apenas linhas de água. Depois de acordar, ficava à conversa com o pessoal local e os Comandos. Adoptei como poiso um canto da mesa de ping-pong. Era o centro do mundo. De entre os Comandos destacava-se um furriel imenso, felupe, de riso fácil a aguentar as provocações. Um dia referi-lhe que devia tratar-se contra o inchaço, a ver se ficava com um tamanho normal, o que evitaria tanta exposição às balas do IN. Reagiu que não era inchaço, mas músculo, força, e, para que eu não duvidasse, agarrando a camisa, levantou-me do solo

Lá o sosseguei, que sim senhor, era bem constituído, mas eu teria mais uma preocupação em eliminar os inimigos antes que o detectassem a ele. Ríamo-nos.
E havia um tigre em Bajocunda. Na verdade, eu nunca tinha imaginado essa possibilidade, nem que fosse apresentada pelo Chabrol ou o Lelouch, sob a forma de cinema de aventura. Mas deparei com uma cadeira, do tipo cineasta, com doi panos em armação de madeira, que apresentava nas costas a referência ao "Tigre". E sentei-me nela, até me dizerem que a cadeira tinha dono. Ó faz favor. Mas não era o dono, era só para avisar. Muito bem. Apareceu o Tigre, um furriel com ar hollywoodesco, bem abrilhantado, cortês, com uma magnífica cabeça de tigre tatuada nas costas. A primeira diferença entre o Tigre e eu, era a minha cobertura pilosa na superfície das espaldas. Logo, eu nunca poderia ser tigre. Descendo do petacantropus. Não sei se verdade ou não, constava-se que fora mercenário da L.E., mas nunca lhe descortinei marcialidades condizentes, apesar de ter seguido com o Major.

O Major era a serenidade. Introvertido, não procurava o pessoal para qualquer género de conversa. Dir-se-ia estar sob um desígnio superior. Alto, magro e teso, era uma representação marcial perfeita. Quando passava, delicadamente o pessoal cumprimentava-o. Mas era restrito nas aparições públicas. Brincava, por vezes, sob a sombra da árvore, nas traseiras da secretaria, atireando-lhe a faca de mato, procurando um alvo que se evidenciava após o entretém. Uma ocasião estive para pedir-lhe a vez no lançamento da faca, mas adivinhei que ele me ganharia com facilidade. Parco de palavras, impunha-se pela fácil aceitação do poder junto das tropas. Sempre claro e sucinto. Até para impor a disciplina. Assisti ao pedido de cedência do gabinete ao Capitão, para tratar de assunto particular à CCA, que anuiu, naturalmente. Mandou trazer à presença o recalcitrante, e, dentro de portas, sem espectáculo, tratou do assunto, com a preocupação de deixar o compartimento tão arrumado, quanto o recebera. A sua presença inspirava confiança.

Mas a CCA tinha os seus vaidosos. Em primeiro lugar o Ten. Januário, o homem com mais bajudas em território guinéu. Era natural, ainda jovem, boa figura, dinheiro no bolso e muita oportunidade para se deslocar pelo território, granjeou tanto fama de guerreiro, como de engatatão. Vivia feliz, e tinha boas perspectivas. Outro, era o Justo, da minha Companhia no CISMI. À promoção social que a tropa lhe dava, ainda juntava o gosto pela moto em andanças por Bissau que o conduzisse à sedução feminina. Coisas da juventude. Um belo dia, o Januário, na mesa de ping-pong, referiu-me que estava connosco porque lhe pagávamos bem, mas que um dia, teria como preocupação e alvo os cabo-verdianos. Daqui inferi várias coisas. Que admitia a autonomia administrativa do território, e que já representava a corrente geral, quer no PAIGC, quer nos pró-portugueses, que a Guiné era para os guinéus e Cabo Verde para os cabo-verdianos. Que estes juguilavam a ascenção dos guinéus, e para estabelecer a necessária justiça, ele sentiria um chamamento.
Por outro lado, havia o Jamanca, sóbrio, simpático e delicado, com muitas provas dadas, enquanto militar, que o impunham à consideração de todos. Estas as figuras da CCA que melhor retive, apesar do escasso conhecimento geral com que posso referir-me a eles. Em passo de desfile, eram muito bem apresentados e convincentes.

Começaram as chuvas. Uma tarde, a luminosidade do dia desapareceu, substitída por um manto escuro de nuvens que, rapidamente, cobriram a região, anunciadas por trovoada e relâmpagos em aproximação. Em pouco tempo adensou-se a tormenta, e, a umas pingas iniciais, logo o manto revolto de núvens se abriu lançando torrentes de água que se precipitava sobre a terra e as gentes sequiosas. Debaixo do alpendre assisti às manifestações de gaudio provocadas pela chuva generosa. De facto, as crianças corriam e rebolavam na movimentação de águas, que descia a rua do Silva, no sentido da pista para o aquartelamento, onde, à entrada, formava um lagoaçal de água barrenta, que parecia uma piscina, tal o aproveitamento das crianças felizes, qual ritual de agradecimento ao dilúvio. Mas a maior surpresa foi o aparecimento da formiga de asa, milhões que esvoaçavam em grupos, como se tivessem ganho vida com as águas. E outra vez os putos, embora também alguns adultos, procuravam encher sacos daqueles insectos que garantiam o petisco sazonal. Não cheguei a ver como preparavam os voadores, mas era garantidamente um petisco.

Uma tarde, em dois unimogs, desloquei-me na direcção de uma aldeia, para ali permanecermos na vã esperança de surpreendermos uma surtida do IN. Com o cair da noite escura, mais acentuadamente em virtude do céu encoberto, deitei-me no chão da mesquita, uma construção tradicional de adobe com cobertura de colmo. Adormeci, até que a fúria dos elementos me despertou para um espectáculo, que tinha tanto de tenebroso, como de fascinante, uma tempestade equatorial. A minha primeira tempestade, com um grade rebuliço de trovões e relâmpagos, acompanhamento indispensável à chuvada intensa. Um dilúvio com a grandiosidade de Bettohven. Deitei-me de bruços a olhar para o exterior, extasiado pelo espectáculo de luzes, cores e figuras em contra-luz, com o acompanhamento da música estrondosa da trovoada em despique, qual circo fantático proporcionado pela natureza revolta.
Ao fundo, as árvores altas e esbeltas ganhavam cores de prata e rosa, conforme a iluminação constantemente alterada que os relâmpagos proporcionavam. Em grande plano, dois vultos de Foxtrot, envoltos em ponches, sentados no banco corrido de um dos unimogs ali estacionado, imóveis e resistentes, anunciavam-se como figuras em escuro contra o fundo vegetal iluminado.

Quando me dirigia para a enfermaria, a ver se apaziguava o sono, verifiquei que um dos enfermeiros se me dirigia algo agitado, referindo que naquela noite não poderia ali dormir. Perguntei se havia azar. Que sim, um comando tinha sido morto e estava numa das camas. Entrei para ver. Realmente, na cama do meio permanecia o corpo inerte. Curioso perguntei o que tinha acontecido, e explicou-me que durante a emboscada nocturna o militar teria saído da formação para dar vazão a necessidades fisiológicas, e quando retomava a posição fora abatido pelo companheiro do lado. Uma cagada!
Ainda assim perguntei a confirmar se o homem estava morto. Que sim, claro, já estava morto havia um bom bocado, sem dúvida.

- Ó pá, então não há azar, é até um bom companheiro de quarto , na medida em que não ressona. E contra a expectativa, deitei-me na cama ao lado para o sono reparador.

Da nossa actividade em Bajocunda não houve qualquer registo especial, para além do trabalho diário na tentativa de interceptar o IN em alguma volta mais original. No entanto tal não se verificou, sempre andámos por caminhos trocados. Neste período resultaram apenas dois contactos, ambos com a CCA.

Num deles, um grupo que acompanhava o Teixeira estava emboscado num local perto de Copá, quando apareceu um grupo de guerrilheiros a avançar no trilho, mas ainda algo distante. Parecia favas contadas, mas um comando abriu fogo, sabe-se lá porquê, nervoseira, certamente, do que resultou um fogachal inconsequente.

A outra acção foi uma emboscada na ponte, entre Pirada e Tabassi, num local de abrandamento obrigatório para as viaturas, pois a água já passava sobre a pequena ponte. Uma viatura civil que integrava a coluna de reabastecimento, terá caído na zona de morte, do que resultou a morte do condutor e a destruição da camioneta. A reacção dos Comandos foi pronta e eficaz, na medida em que o IN imediatamente abandonou o local, fugindo na direcção da fronteira. Dada a escassez de pessoal, apenas um grupo garantia a escolta, não foi possível desencadear a adequada perseguição.

Em 25 de Junho regressámos a Piche. Já sintia o cheiro a férias.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4298: História da CCAÇ 2679 (17): A última partida e Unimog sublimador (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P4408: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (22): O desvendar do segredo (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 22 de maio de 2009:

Aqui mando mais duas..
Manuel Maia

Havia necessidade de explicar a Sua Excelência excelentíssima o porquê da contínua permanência dos bandos por trás do arame farpado.

Entendi por bem não o deixar mais tempo na ignorância, e peço desde já desculpa ao resto dos camaradas membros dos famosos bandos, por à sua revelia, ter decidido passar a informação que até agora havíamos mantido sigilosa, mas a veneranda figura interrogava-se continuamente, e antes que tivesse um colapso, avancei com o nosso segredo...

Sei que ireis compreender a razão de fundo deste meu gesto...
Manuel Maia


Nos tempos do guinéu turismo, havia,
piscinas de água quente, morna e fria,
os mimos de quartel apetrechado...
por trás da aramada posição,
ginásio, sauna,tanques de imersão
tratavam do stress acumulado...

Massagem por bajuda torneada
de peito firme e pele acetinada
após cada sessão lá no solário...
Depois da explicação que ora aqui dou,
AB fica a saber porque encontrou,
os bandos no bem-bom do tal farpado...


Manuel Maia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4397: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (21): Comentando, comentários (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)

1. Mensagem de António G. Matos ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72 (*), com data de 21 de Maio de 2009:

A existência de postes em homenagem às nossas Mulheres-Mães, Mulheres-Namoradas, Mulheres-Mulheres, nunca será suficiente para lhes reconhecer o amor e o valor que lhes dedicámos particularmente numa altura das nossas vidas-não vidas.

Felizmente que escrevo com os dedos pois se neste momento tivesse que dar voz ao que me vai na alma, teria sérias dificuldades em articular as palavras.
Mas, costuma dizer-se que um homem não chora e, talvez por isso, me emocione quando recordo as lágrimas a correr pelas faces do meu Pai ao ver-me partir para a Guiné.
É certo que não foi uma partida tão chocante quanto a de muitos que embarcavam nos barcos e a situação prolongava-se por horas infindas, até que se deixavam de ver os lenços do adeus ...

Eu parti dos Açores, sem familiares por perto e hoje, reconheço, tive pena de mim.
Faltou-me o abraço do Pai e os beijos da Mãe naquele momento terrível de saudade...

Hoje, quer um quer outro, já se despediram e não consigo abstrair-me do sentimento de impotência pelo qual devem ter passado ao verem-se, simultaneamente, privados de dois filhos em missão militar em África.
É por isso que me vejo compelido a abrir um poste aos nossos Homens-Pais, Homens-Irmãos, Homens-Amigos e homenageá-los com garra e sentimento ainda que com a lágrima sexagenária ao canto do olho.

Este blogue é, a par do relato das nossas estórias, um repositório de sentimentos que a circunstância guerra extrapolou e daí que não me repugne publicar as palavras que lhe dirigi quando foi embora e recordá-lo pela falta que me faz.

Pai,

Não é o elogio fúnebre que te quero dedicar, hoje.
Nem é aos presentes que quero dirigir estas palavras.
É a ti que me dirijo emocionado pelo que representaste para mim ao longo deste último meio século.
E representaste tanto!
Tanto, que tenho remorsos em nem sempre ter satisfeito as tuas expectativas! Pelo contrário, tê-las gorado!
Aqui estou a reconhecê-lo e a pedir-te que agora, nesse mundo no qual também acredito, possas finalmente ter a paz psicológica que os últimos anos te tiraram.
Contrariamente ao imaginado nos meus primeiros anos de vida, éramos, ultimamente, parcos em palavras. Para tal contribuiram factores menores perante esta enormidade que é a Morte!
Outros virão, porém, que tentarão melhorar o que nós estragámos.
E aqui te quero deixar o meu testemunho pelo nó emotivo e de grande orgulho que me envolveu a garganta quando ontem, todos os teus netos em manifestações de enternecedor carinho te visitaram no hospital e de todos recebeste uma festa e de alguns brotaram as lágrimas que o amor e a saudade pressentida fizeram transbordar. Eu vi!
Poderia aqui ficar a desenrolar um interminável número de situações pelas quais és recordado carinhosamente pela grande maioria dos presentes. Prefiro, porém, dizer-te que também eu fico com a saudade de uma vida inteira fisicamente perto de ti recheada de bons exemplos e de uma leal entrega à família pela qual e para a qual viveste.
Obrigado Pai.

__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4379: Blogoterapia (102): Este blogue de que eu gosto! (António Matos)

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P4406: Tabanca Grande (147): António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAV 8323, Copá, 1973/74

1. Carta de António Rodrigues, Soldado do BCAV 8323, Copá, com data de 15 de Maio:

Porto, 15 de Maio de 2009

António Rodrigues, Soldado do BCav 8323
Autor de "Memórias de um Soldado – Copá – Guiné-Bissau"

Amigos e camaradas da Guiné.
Como não tenho Internete em casa e possuo poucos conhecimentos das novas tecnologias de informação e comunicação, raramente acompanho o que se passa no blogue Luís Graça, onde se podem ler todos estes textos e opiniões sobre a guerra na Guiné.

Sabendo destas minhas limitações, o meu prezado amigo António Graça de Abreu telefonou-me e fez-me chegar pelo correio o belíssimo texto que escreveu a meu respeito sobre Copá, com data de 7 de Março de 2009 e que colocou no blogue (*).
Avisado, fui espreitar e li o texto do António G. A. mais os oito comentários que se lhe seguiram.

Devo dizer que fiquei muito sensibilizado com todos eles a cujos autores agradeço o trabalho a que se deram, mesmo aqueles que ficaram com dúvidas quanto à veracidade dos factos por mim descritos, o que compreendo e respeito, pois essas pessoas não se encontravam então em Copá e muito menos na Guiné, como era o caso do Mário Fitas que nessa altura já tinha saído da Guiné há cerca de 9 anos e portanto talvez não tenha acompanhado a evolução do armamento que o PAIGC foi adquirindo nos últimos anos da guerra. Por exemplo, os mísseis Strela terra-ar fornecidos pela então União Soviética e que em Abril de 1973 começou a utilizar com os quais derrubou alguns aviões portugueses, o último dos quais (Fiat G 91) foi derrubado no dia 31 de Janeiro de 1974, em Copá, a que eu e os meus camaradas assistimos.

Lembro ainda o que aconteceu em Maio de 1973 em Guileje, no sul e em Guidage, no norte e não posso aqui também esquecer os Heróis nossos vizinhos de Canquelifá que muitas vezes eram flagelados nos mesmos dias e às mesmas horas que nós em Copá, honra lhes seja feita também porque muito sofreram.

Antes de continuar este meu esclarecimento e confirmação dos factos sobre Copá digo que não quero com este texto entrar em polémica ou ferir susceptibilidades seja de quem for, mas continuar a assumir tudo que escrevi sobre Copá.

O Mário Fitas põe aqui uma série de dúvidas e diz que também assaltou acampamentos do PAIGC e o armamento não tinha assim grande diferença. Pois bem, o Mário Fitas sai da Guiné em 1966, estes acontecimentos em Copá passaram-se em 1974, mas tenho todo o gosto em tentar esclarecer as suas dúvidas que são naturais.

Quanto à existência de auto-blindados por parte do PAIGC, aconselho-o a consultar o livro "Quem mandou matar Amílcar Cabral" escrito por José Pedro Castanheira, 3ª. Edição de Junho de 1995, Relógio D’Água Editores, na sua página 152 onde se pode ler que em Dezembro de 1972, um mês antes de morrer, Amílcar Cabral recebeu em Conacri uma visita (um infiltrado da PIDE) a quem mostrou especialmente dois carros blindados chegados recentemente e guardados no quartel guineense de Camp Alpha Yaya, um com lagartas e outro com rodas de borracha como faz notar “Alfa”. No porto estavam ancoradas três vedetas recebidas há pouco tempo.

Ainda no que diz respeito às armas novas que foram sendo fornecidas ao PAIGC, devo dizer que no dia 25 de Abril de 1974, Pirada foi flagelada com foguetões durante três horas e logo depois foi instalada em Pirada uma bateria anti-aérea, porque nessa altura se pensava que em breve seríamos bombardeados por aviões vindos de bases no Senegal.

A verdade é que durante as últimas noites que passámos em Copá, em Janeiro de 1974, fomos sobrevoados duas ou três vezes por uma aeronave que não respondia as nossas transmissões, mas de concreto nunca chegámos a saber de que se tratava.

Quanto ao alferes que é preso e reaparece, devo esclarecer o seguinte:

No dia 7 de Janeiro de 1974, a guarnição de Copá era constituída pelo 4º. Pelotão da 1ª. Companhia do BCav 8323 formado por 27 militares europeus e um pelotão de africanos comandado por um alferes e um furriel brancos, num total de 25 homens.
Esta guarnição estava instalada em 7 abrigos e respectivas trincheiras.
As armas existentes em Copá nessa data eram as nossas G3, uma metralhadora Breda montada num tripé, uma HK 21, um lança granadas foguete, um morteiro 81, um morteiro 60 e granadas de mão.

O poderio de fogo, de meios e julgo que também de homens do PAIGC nessa noite de 7 de Janeiro de 1974 era bastante superior ao nosso. Desconheço a verdadeira razão porque acabaram por se retirar ao fim de uma hora e cinco minutos, mas em minha opinião, e sem me querer armar em herói, julgo que foi devido à nossa forte reacção e termos-lhes causado feridos e mortos, como pudemos confirmar no dia seguinte junto do nosso arame farpado.

No dia 7 de Janeiro, durante a flagelação da tarde com morteiros 120 que durou cinco horas e vinte minutos e o ataque ao destacamento a partir da meia noite, a população de Copá e todos os elementos africanos do respectivo pelotão desertaram e fugiram, muitos deles em direcção do Senegal e o último a fugir foi o Demba, um dos cabos africanos desse pelotão que cerca das 0,30 h, vindo do abrigo do comando e transmissões, ao passar pelo abrigo n.º 7, onde eu me encontrava, nos disse que o alferes já estava preso e nós não tínhamos como confirmar isso pois nesse momento estávamos debaixo de fogo intenso e o nosso abrigo ficava distante, do lado oposto ao do comando. Mas passados poucos minutos, o alferes gritou como era seu hábito, a perguntar se estava tudo vivo e aí percebemos que ele não estava preso nem nunca chegou a estar. E nós estávamos todos bem vivos. Espero que com este esclarecimento não fique qualquer dúvida sobre este ponto.

Relativamente ao morteiro 81 lançar granadas fora do tripé, não foi caso único, tenho conhecimento de várias situações que foram relatadas onde isso aconteceu. Eu também não estava junto do morteiro 81 que em Copá foi uma das nossas principais armas de defesa, porque estava instalado num outro abrigo, o nº. 3, mas acredito no relato do meu camarada artilheiro Francisco Vaz Gonçalves que nos disse que actuou dessa forma para tirar o melhor partido da arma porque a distância a que estava o inimigo era muito curta e ele tinha de fazer fogo com o morteiro quase aprumado.

Se as granadas de morteiro 60 fizeram ou não recuar o blindado, também não posso garantir, mas o que posso afirmar, porque a cena se passa à minha frente é que foi a partir do início da nossa reacção com o morteiro 60 sobre o blindado que o inimigo começou a retirar e a partir daí começa o fim do ataque.

Quanto à luta corpo a corpo, ela não existiu mas eu também não escrevi isso em parte nenhuma do livro, digo sim que a luta era quase corpo a corpo porque alguns dos meus camaradas em certos momentos chegaram a estar a uma distância de 10 a 15 metros do inimigo.

Os jornalistas podem e têm todo o direito de investigarem o que quiserem, mas para contar a verdade terão de falar e informar-se com quem esteve e viveu esses dias de inferno em Copá.

Relativamente à ideia de se publicar uma 2.ª edição do meu livro com o meu nome (porque fui eu que o escrevi e não o Benigno Fernando) agradeço a todos os camaradas que se manifestaram nesse sentido, o que mais uma vez muito me sensibilizou e agradeço tal disponibilidade, mas acho que não vale a pena estar a criar mais polémicas com o livro. De resto, logo na altura da publicação pelo Benigno Fernando, tive oportunidade de o confrontar e de lhe dizer cara a cara que ele se tinha limitado praticamente a copiar o que eu escrevi e lhe forneci.

De qualquer forma, essa publicação pelo Benigno teve pelo menos o condão de ter dado a conhecer estas histórias a muitas mais pessoas, inclusive já cheguei a ver e ouvir ler uma passagem do livro num programa de televisão. Doutro modo, isto teria ficado pelo meu círculo de amigos, mais os camaradas do BCav 8323.

Esperando ter esclarecido algumas dúvidas, aqui deixo um abraço amigo para todos.

António Rodrigues,
ex-combatente em Copá,
18/11/73 a 12/02/74.


2. Comentário de CV:

Está formalmente apresentado à Tertúlia o nosso camarada António Rodrigues, autor moral do livro de Benigno Fernando, "O Princípio do Fim".

O destacamento de Copá, abandonado em meados de Fevereiro de 1974, era um local problemático, onde não havia população e a tropa era constantemente flagelada pelo PAIGC. Ainda hoje se pergunta por que não houve um ataque final e consequente aprisionamento dos militares que compunham a guarnição.

António Rodrigues, descreve, como ninguém, esta situação.

As pessoas podem consultar os postes abaixo indicados para fazerem uma pequena ideia do sofrimento a que foi sujeito aquele pequeno grupo de militares desterrado em Copá.

O António Rodrigues, sempre que queira, pode enviar para o nosso Blogue a descrição das suas memórias correspondentes àqueles conturbados tempos.
__________

Notas dos Editores:

(*) Vd. poste de 7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3995: Os bravos de Copá e um caso de... 'abuso de confiança' (António Graça de Abreu / António Rodrigues)

Sobre Copá, vd. postes de:

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste

Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)


Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P4405: Em busca de... (75): Contactos de camaradas e familiares de camaradas falecidos da CCAÇ 727 (Cabo Escriturário da CCAÇ 727)

1. Mensagem de 13 de Setembro de 2008 de alguém que não se identifica correctamente:

Companhia de Caçadores 727 (Guiné 64 -66)
Telemóvel 914101833

Outro dia (pp), em casa de uns amigos, observei numa página mantida por Luís Graça, Professor da Universidade Nova de Lisboa, algo que deixou fascinado.
Tratava-se de uma "Pedra" de Campa, onde podia ler-se o nome e o número de um militar que pertenceu à CCAÇ 727, que combateu na Guiné de 1964 a 1966.

Anastácio Vieira Domingos
Soldado 688/64 – Faleceu a 13-12-64
Talhão Militar/Cemitério Municipal(Bissau) Campa 1271


Nos dados relativos a mortos que eu tenho, realmente coincide com o que vi na internet.

Gostaria de saber mais notícias acerca de outros camaradas que tombaram lá na Guiné que pertenciam à CCAÇ 727 e que eu também pertenci, desempenhado as funções de "Escriturário".

Alferes Miliciano – António Angelino Teixeira Xavier
1.º Cabo – 708/64 – Avelino Martins Antunes
1.º Cabo – 707/64 – Leonel Guerreiro Francisco
Soldado – 819/64 – António Joaquim Graça Viegas
Soldado – 749/64 – José Maximiano Duarte

Estes militares juntamente com outros 2 (dois) (que já tenho informações pormenorizadas) tombaram a 30/1/65.

Soldado 775/64 Filipe Rosa Camacho (tombou a 4/7/65)
1.º Cabo 689/64 António Dias Martins (tombou a 8/6/65)
1.º Cabo 691/64 Manuel Gertrudes Guerreiro (tombou a 9/5/66)
Soldado 1270/64 Manuel J.S. Martins (tombou a 11/5/66)

Procuro familiares, ou contactos, dos nomes acima transcritos.

Cabo escritas (CCAÇ 727)
Telm: 914101833


2. Graças a prestimosa colaboração do nosso tertuliano José Marcelino Martins, pudemos elaborar este trabalho àcerca da CCAÇ 727, que se não ajudar o nosso peticionário, pelo menos enriquece os nosso espólio biográfico.

Companhia de Caçadores n.º 727 - Guiné 1964/66

Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do Capitão de Infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos, embarca para a Guiné em 6 de Outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.

Permanece no Sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de Novembro um Pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.

Segue em 5 de Dezembro de 1964 para Nova Lamego, como Unidade de intervenção e reserva do Sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.

Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche. Tomou parte em Operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de Janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também a lamentar sete mortos nas NT.

Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de Fevereiro de 1965.

Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um Pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do Subsector de Canquelifá, criado em 25 de Fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.

Entre 25 de Fevereiro e 20 de Maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de Maio e 22 de Agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.

Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de Agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do Subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.

A 5 de Agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois Pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à Metrópole em 7 de Agosto de 1966


Tombaram em campanha
Por doença (difteria)


08DEZ64 - António Caeiro Combadão, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Évora.

13DEZ64 - António Henriques Oliveira Marques, Fur Mil At Inf.ª, N.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1270.

13DEZ64 - Anastácio Vieira Domingos, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.


No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512 [sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha], é montada por um Pelotão daquela CCaç 727 acantonado [desde 18Nov64] em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:

António Angelino Teixeira Xavier, Alf Mil Inf, N.º 60-I-3064, Comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no Cemitério de Carrazeda de Montenegro.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.

António Joaquim da Graça Viegas, Soldado Atirador, N.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Avelino António Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canâno, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Domingos Moreira Leite, Fur Mil Op Esp, N.º 1714/63, Comandante de Secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.

José Maximiano Duarte, Soldado Atirador, N.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.

José Pires da Cruz, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné


Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela Subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:

António Custódio Coelho, 1.º Cabo Apontador de Morteiro, N.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.

António Dias Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.


No domingo 04Jul65, no Subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:

Adelino Castanheira Dias, Soldado Atirador, N.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Filipe Rosa Camacho, Soldado Atirador, N.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º Cabo de Armas Pesadas, N.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.


No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:

Mamadu Said Jaló, Soldado Atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1884.


Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º Cabo Atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.


Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Joaquim de Sousa Martins, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.


Contactos (apenas um localizado):

Virgílio João dos Santos
SETÚBAL
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4399: Em busca de... (74): O caboverdiano Leão Lopes, meu antigo camarada de Bambadinca, BENG 447, 1970/72 (Benjamim Durães)

sábado, 23 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4404: Convívios (136): CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)

1. Mensagem que me chega hoje, enviada pelo Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/ BART 2917, e que esteve em Bambadinca entre Maio de 1970 e Maio de 1971


UM REENCONTRO QUE ACONTECEU 38 ANOS DEPOIS
por Arsénio Puim


Foi com emoção que participei no 3.º Encontro da CCS do Bart 2917, de Bambadinca, realizado a 16 de Maio de 2009 na bela cidade de Viana do Castelo (*), precisamente no dia e no lugar donde há 39 anos esta Unidade partira, com destino a Lisboa, para embarcar no dia seguinte, no Carvalho Araújo, para as terras da Guiné, onde aportámos no dia 25 de Maio às 14 horas.

Eu era o capelão militar do Batalhão, mandatado pela Cúria Castrense, sem qualquer consulta prévia, para, em nome da Igreja Católica, acompanhar e prestar assistência religiosa àqueles 700 homens que iam cumprir uma comissão de serviço, de certo muito dura e cheia de riscos, numa guerra já então, para muitos, controversa e sem perspectivas de solução militar.

Nesse dia 16, do Encontro, cheguei muito cedo a Viana, que percorri a pé quando a cidade começava a despertar. Deslumbrei-me, de novo, com o seu Centro Histórico, tão rico e belo, e a sua agradável zona ribeirinha. Depois, procurei a Pensão Arezes, no Largo de S. Domingos, a qual pertencia a umas velhinhas muito queridas, já falecidas, e hoje não existe mais. Ali tinha ficado hospedado aqueles quase três meses do IAO, juntamente com o alferes miliciano Mendes, de Lamego, que faleceu na Guiné e que eu recordei com muito pesar.

E, logo ao lado, visitei a histórica igreja de S. Domingos, onde celebrei a Missa de despedida do Batalhão, no dia 6 de Maio. Na homilia que proferi na ocasião ao Batalhão inteiro – recordo-o - acentuei, por um lado, o sentido de comunidade que nos deveria unir naquela pequena terra africana onde iríamos viver juntos uma nova e difícil experiência e, por outro, o espírito de serviço aos outros e à África Negra que nos deveria informar, de acordo com os altos princípios dos Exércitos, que não a guerra, que essa nunca poderá ser um ideal ou valor em si.

Depois, foi a concentração na Fortaleza de São Jorge da Barra e o almoço de confraternização em Meadela. Volvidos 38 anos desde que voltei aos Açores, nunca mais vira aqueles jovens de 20 e poucos anos de idade que eu conhecera e que continuavam a desfilar nas minhas recordações como se o tempo não tivesse passado.

As horas correram rápidas e não deu tempo para ouvir e dizer tanto a tantos, nem sequer pude conversar com um pouco de calma com o grande Machadinho, como projectara. Haverá outras oportunidades, se Deus quiser. Eu, até, sugiro e alimento a ideia de que um dos próximos Encontros seja nos Açores. Porventura em São Miguel, e mesmo em Vila Franca do Campo?

Aproveito a oportunidade para expressar aos companheiros da CCS e das outras Companhias do Batalhão 2917 a mesma grande simpatia de que sempre me rodearam, e lembrar, com respeito e saudade, os que caíram na guerra da Guiné, assim como os que faleceram já depois do regresso a Portugal.

Arsénio Chaves Puim

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

Guiné 63/74 - P4403: FAP (28): Manga de vento ... ou não ? ! (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Uma manga de vento: Foto: Cortesia de FlyTech, loja on line

FAP > MANGA DE VENTO!... OU NÃO?!

Para além das informações de direcção e intensidade do vento fornecidas pelas torres de controlo, via rádio, muitas vezes o aviador tem que se socorrer de outros meios quando essa informação não está disponível. Por isso todos os aeroportos e aeródromos dispõem de mangas de vento, que permitem ao piloto ter uma ideia aproximada de onde sopra o vento e com que intensidade. Os automobilistas podem também observar estas mangas de vento nas auto-estradas, em zonas mais batidas pelo vento.

Basicamente a manga de vento é um aparelho constituído por um cone de tecido com duas aberturas, sendo uma delas, a maior, ligada a um aro de metal. Esse aro, preso a um poste de um modo que permita liberdade de rotação, faz com que o cone esteja aberto, entrando o vento por este lado e saindo pelo lado mais estreito.

A manga fica assim enfiada com o vento, dando uma indicação visual da sua direcção.
Olhando para uma manga, podem observar-se as diversas listas que a constituem, alternadamente vermelhas e brancas. Quem pensa que essa decoração serve apenas para a manga se poder ver melhor, está ligeiramente enganado. Na verdade as mangas podem ser calibradas de modo a darem uma indicação da intensidade do vento. Por norma cada lista representa cerca de 5 km/h de velocidade do vento, Assim, se as duas primeiras listas estão enfunadas e as seguintes descaídas, podemos considerar que o vento sopra com uma velocidade aproximada de 2x5=10 km/h.

O pessoal que passou pelos aquartelamentos com pista de aterragem pôde observar essas mangas colocadas a uma distância de segurança da pista, infelizmente muitas vezes em mau estado de conservação. Isso devia-se em parte à dificuldade em se conservar a manga em bom estado, por falta de material de substituição, mas também à pouca sensibilidade do pessoal do quartel para o interesse que essa informação representava para o piloto.

Sucedeu a um piloto da nossa praça que, tendo demandado um aeródromo algures na Guiné, ali chegado tivesse experimentado sérias dificuldades em manter o controlo do avião na aterragem, devido a um forte vento cruzado que se fazia sentir. Acontece que o estado da manga de vento era deplorável e, consequentemente, a informação do vento inexistente, não tendo alertado o aviador para aquelas condições desfavoráveis.
Furioso, o piloto saiu do avião e dirigiu-se ao Maior do aquartelamento, manifestando-lhe o seu desagrado e ameaçando não voltar a aterrar ali se a situação se mantivesse.

Quis o destino que, passado pouco tempo, o mesmo aviador fosse incumbido de uma nova missão para aquele aeródromo, tendo verificado satisfeito, quando preparava a aterragem, que uma nova manga brilhava no respectivo poste. O piloto preparou a aterragem com todo o cuidado pois pelas indicações da manga o vento soprava forte, cruzado de 90º com a pista. Qual não foi o seu espanto quando, depois de tocar o solo, o avião guinou bruscamente, apontando ao vento (totalmente diferente do que ele esperava); só com grande perícia ele conseguiu evitar a saída da pista e os consequentes danos no avião.

Mais uma vez foi ter, furioso, com o Maior do quartel, perguntando-lhe que raio se passava com a porcaria da manga, que o tinha induzido em erro. Enfiado, o outro respondeu-lhe que tinham resolvido meter um pau por dentro, para ficar esticada e se poder ver melhor do ar...

A falta de sensibilidade para as necessidades, limitações e problemas dos outros é habitual em sociedade. No caso da Guiné, e naquela época, por vezes os pilotos não compreendiam as necessidades da tropa no terreno e esta, por sua vez, não se apercebia das limitações e necessidades dos aviadores. Mas não foi por isso que, dentro das suas capacidades, os pilotos da Força Aérea deixaram de garantir o seu apoio a este e aos outros aquartelamentos.

Miguel Pessoa

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 28 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)

Vd. restantes postes da série, doze dos quais foram escritos pelo Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref:

26 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4251: FAP (26): Em louvor dos sargentos pára-quedistas do BCP 12 (Manuel Peredo, ex-Fur Mil CCP 122, 1972/74)

21 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4226: FAP (25): Encontros quase imediatos ou como a pista de Cacine se tornou curta (Miguel Pessoa)

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)

16 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)

14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4184: FAP (22): Entrega do meu pára-quedas ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola de Tancos (Miguel Pessoa)

1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)

28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4077: FAP (19): Efeméride: há 36 anos sob os céus de Guileje 'Batata' procura e localiza 'Kurika' (António Martins de Matos)

19 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4051: FAP (18): Kurika da Mata (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4028: FAP (17): Do Colégio Militar a Canjadude: O meu amigo Tartaruga, o João Arantes e Oliveira (Pacífico dos Reis)

13 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4024: FAP (16): O reencontro, 22 anos depois, de Kurika da Mata com o Marcelino da Mata (Miguel Pessoa)

11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3948: FAP (14): Um dia rotineiro na Base Aérea nº 12, em Bissalanca (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, 1972/74)

16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3891: FAP (11): Jorge Caiano, ex-Melec/AV, BA12, 1969/70, reconhecido por Augusto Ferreira~

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3885: FAP (10): Obrigado, Tenente Piloto Aviador Pessoa (J. Casimiro Carvalho, CCAV 88350, Piratas de Guileje)

12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3844: FAP (5): Reflexões sobre o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (João Carlos Silva)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

1 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3826: FAP (3): A entrada em acção dos Strella, vista do CAOP1, Mansoa, Março-Maio de 1973 (António Graça de Abreu)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

Guiné 63/74 - P4402: Convívios (135): BCAÇ 2879 e Outras Unidades (Farim, 1969/71), convivem em Castelo Branco, 30 de Maio (Carlos Silva)



Almoço de Confraternização

Oficiais, Sargentos, Praças e Familiares

38º Aniversário da Chegada – 22º Encontro

Unidades Sector de Farim - Guiné 1969/71

Bat. Caç. nº 2879 e Outras Unidades

30 de Maio de 2009

Restaurante: Sª de Mércoles – Santuário Nossa Senhora de Mércoles – 6000 Castelo Branco

Telefones: 272 331 273 ou 965 087 612 – Sr Abílio


PROGRAMA


Hora de chegada - Concentração e cavaqueira no parque do Restaurante.
10h00 – Passagem de fotos e filmes da viagem à Guiné, caso se arranje vídeo e projector.
12h 30 - Serão servidos os aperitivos no espaço apropriado.
13h 30m - Almoço.


EMENTA


ENTRADAS: Salgados, queijo, enchidos e presunto, martin, vinho, águas, sumos.
PRATOS: 1 Bacalhau à Braga – 2 Cachaço assado com ananás.
SOBREMESA: Salada de frutas e tigelada.
BEBIDAS: Vinho Tinto, Branco, águas, sumos, digestivo, café.
FINAL: Bolo do Batalhão acompanhado de espumante.

Preço por pessoa: 22,00 € - crianças dos 6 aos 10 anos € 10,00


CONFIRMAÇÕES ATÉ AO DIA 26 DE MAIO DE 2008


Agradecemos uma rápida resposta, (...) com vale postal ou cheque, para qualquer dos camaradas indicados no verso, uma vez que temos de confirmar as presenças no restaurante com a devida antecedência e....! porque a rapaziada da organização também quer conviver.


NB: A confirmação é obrigatória até à data indicada, devido à característica da ementa.

Quem aparecer de “ pára-quedas “ no próprio dia, sujeita-se às consequências.


CONTACTOS:


Manuel Augusto da Silva Mota [ C.C.S ]
Rua Júlio Dinis, 36 1º Esqº
3700 S. João da Madeira
Telef: 256 831 341 casa 256 828 777 escritório
Telem. 917 784 037 - 917 184 836
___________________________________________
Jorge Pinheiro Silva Fernandes [ C.Caç. 2547 ]
R. D. Bernardo Holstein Beck, 1
2925 Vila Nogueira de Azeitão
Telef. 210 803 314 / 916 054 415
_________________________________________

Carlos José Pereira da Silva [ C. Caç. 2548 ]
Rua de Timor, 2 R/c Dto - 1170-372 Lisboa
Telef: 21 815 2897; Fax: 21 815 3470, escritório
Telem. 966 651 820
e-mail: carsilva.advogado@sapo.pt
______________________________________________
David Gonçalves de Oliveira [ C. Caç. 2549 ]
Urb. Portela, Lt. 65, 9º Dto.
2685 Sacavém
Telem. 914 107 731


OBS: O Santuário e Restaurante ficam na direcção da Estação da CP e da Escola Agrícola.



NOTA: A convocatória está no SITE.



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4401: Quartel de Tite: Levantamento documental (Santos Oliveira)


Quartel de TITE 

O nosso Camarada Fernando Santos Oliveira, que foi 2.º Sarg. Milº de Armas Pesadas de Inf.ª, esteve em Como, Cufar e Tite entre 1964/66, enviou-nos para publicação um completo estudo documental sobre o aquartelamento de Tite, constituído por uma planta e várias fotografias, que aqui apresentamos.  

O Santos Oliveira está em crer, que o levantamento apresentado na planta do quartel, é da autoria do Furriel Mil.º SAM José Soares, da CCS do BCaç 1860, que foi comandado pelo Ten. Cor. Costa Almeida. 



Planta do quartel de Tite onde se pode ver a evolução das novas construções (ABR65 a ABR66) 


Quartel de Tite (Vista do Google) 


Tite -Vila e Quartel (Vista do Google) 

Tite - Vila, Quartel, Pista de aviação, Estrada para o Enxudé e Canal do Enxudé 
(Vista do Google) 

Tite - Foia - Enxudé - Jabadá - etc. (Vista do Google) 

Tite - Vista aérea 1 

Tite - Vista aérea 2 

Estrada do Enxudé 

Nativos do Enxudé 

(Fotos: © Santos Oliveira (23 de Maio de 2009) Direitos reservados.) 

(Santos Oliveira) 


__________ 

Nota de MR: 

(*) Vd. último poste do autor em: 

Guiné 63/74 - P4400: História de Vida (22): Refazendo a vida correndo o mundo (José Eduardo Alves)

1. Mensagem de José Eduardo Alves (*), Soldado Condutor Auto da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 20 de Maio de 2009:

Boa noite camarada Luís Graça
Peço desculpa por roubar um pouco de tempo, mas vou ser breve.

Eu sou leitor assíduo do vosso blogue. Faz já três anos que o divulguei no nosso convívio anual, mas o pessoal ainda estava a aprender a trabalhar com o computador. Digitalizar ainda foi mais difícil, mas com o tempo lá foram aparecendo, como eu agora.

Falando de mim, concluí o ensino obrigatório em 1962, em Cabeceiras de Basto, com distinção, entrando logo para a universidade.

Quando assentei praça já tinha dez anos de trabalho, daí achar que em alguns casos, o amarelo não ficava bem sobre o verde. Éramos todos novos, carne para canhão, mas quem não se lembra da frase: quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão? O Estado Novo mandava essa gente nova, sem experiência para a guerra, que não era nossa, pelo menos minha não era que fui sempre pacífico.

Agradeço por me pôr à vontade para nos tratarmos por camaradas, mas pela vida que levei até hoje, pelo carinho que tenho recebido de muita gente, confesso que me é difícil tratar as pessoas por tu. Mas com o tempo... as minhas desculpas.

Voltando a falar de mim, depois de 1974, agarrei-me ao trabalho. Fiz, pós-laboral, vários cursos de soldadura e de desenho de serralharia.
Em 1978 fui para Angola, voltando no ano seguinte.
Em 1980 fui para a Costa do Marfim, em 1982 fui para a República do Congo Brazaville, em 1983 fui para a Venezuela, em 1984 Congo novamente, em 1985 Angola de novo até 1987 e em 1988 fui para a Suíça, de onde regressei há oito anos.
Hoje tenho uma empresa de serralharia e tubagem industrial, mas costumo dizer que sou serralheiro, a palavra empresário cai-me mal;

A minha escrita não é por aí além, mas é o que se pode arranjar.

Última pergunta. Para ir ao convívio, em Ortigosa é preciso pertencer ao blogue ou seja à tertúlia?

Os meus agradecimentos pela resposta.

Em Leça da Palmeira ou em Cabeceiras de Basto, freguesia de Cavez, tem uma casa ao seu dispôr.

Por hoje é tudo
Um grande abraço e bem haja


2. Comentário de CV:

Caro Eduardo
Este teu texto está a ser publicado na série "História de Vida", porque tiveste a humildade de contares um pouco de ti, de uma forma desassombrada, sem enfeites literários, tão rectilínea como a tua maneira de estar na sociedade.

És um exemplo da força de vontade para vencer na vida, não estando à sombra, à espera que o Estado resolvesse o teu problema de subsistência. Hoje és tu que à frente da tua empresa olhas pelo teu destino e quiçá do de mais alguém.

Se entraste para a universidade da vida tão novo, tens a respectiva licenciatura. Diria que já és Doutor Honoris Causa do Trabalho.

Conheces parte do Mundo a teu modo, onde deixaste o teu suor, horas de solidão e saudade da família. Hoje, mais confortavelmente instalado na vida, não sabendo ainda o que é descanso, tens pelo menos a alegria de teres os teus, todos os dias à tua mesa.

Respondendo à tua pergunta. Não é necessário ser tertuliano do Blogue para participar no nosso Encontro. Condição importante é ser ex-combatente da Guiné. Por outro lado temos tertulianos que felizmente, para eles, não foram combatentes na Guiné nem em lado nenhum, mas que se querem juntar-se a nós. Também eles são bem recebidos.

Eduardo, escreve sempre que queiras, não te preocupes com a escrita, como referes, pois nós damos um jeitinho. O importante é que, cada um a seu modo, possa dizer o que lhe vai na alma e, por que não, ensinar algo aos demais.

Não te esqueças das fotos da praxe.

Para ti um abraço do Luís e dos restantes camaradas.
Carlos Vinhal

OBS:- Não repares por não ser o Luís a dar-te resposta, mas as relações públicas são do meu pelouro.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCAÇ: Bedanda, Março de 1963 (George Freire)