sábado, 23 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4402: Convívios (135): BCAÇ 2879 e Outras Unidades (Farim, 1969/71), convivem em Castelo Branco, 30 de Maio (Carlos Silva)



Almoço de Confraternização

Oficiais, Sargentos, Praças e Familiares

38º Aniversário da Chegada – 22º Encontro

Unidades Sector de Farim - Guiné 1969/71

Bat. Caç. nº 2879 e Outras Unidades

30 de Maio de 2009

Restaurante: Sª de Mércoles – Santuário Nossa Senhora de Mércoles – 6000 Castelo Branco

Telefones: 272 331 273 ou 965 087 612 – Sr Abílio


PROGRAMA


Hora de chegada - Concentração e cavaqueira no parque do Restaurante.
10h00 – Passagem de fotos e filmes da viagem à Guiné, caso se arranje vídeo e projector.
12h 30 - Serão servidos os aperitivos no espaço apropriado.
13h 30m - Almoço.


EMENTA


ENTRADAS: Salgados, queijo, enchidos e presunto, martin, vinho, águas, sumos.
PRATOS: 1 Bacalhau à Braga – 2 Cachaço assado com ananás.
SOBREMESA: Salada de frutas e tigelada.
BEBIDAS: Vinho Tinto, Branco, águas, sumos, digestivo, café.
FINAL: Bolo do Batalhão acompanhado de espumante.

Preço por pessoa: 22,00 € - crianças dos 6 aos 10 anos € 10,00


CONFIRMAÇÕES ATÉ AO DIA 26 DE MAIO DE 2008


Agradecemos uma rápida resposta, (...) com vale postal ou cheque, para qualquer dos camaradas indicados no verso, uma vez que temos de confirmar as presenças no restaurante com a devida antecedência e....! porque a rapaziada da organização também quer conviver.


NB: A confirmação é obrigatória até à data indicada, devido à característica da ementa.

Quem aparecer de “ pára-quedas “ no próprio dia, sujeita-se às consequências.


CONTACTOS:


Manuel Augusto da Silva Mota [ C.C.S ]
Rua Júlio Dinis, 36 1º Esqº
3700 S. João da Madeira
Telef: 256 831 341 casa 256 828 777 escritório
Telem. 917 784 037 - 917 184 836
___________________________________________
Jorge Pinheiro Silva Fernandes [ C.Caç. 2547 ]
R. D. Bernardo Holstein Beck, 1
2925 Vila Nogueira de Azeitão
Telef. 210 803 314 / 916 054 415
_________________________________________

Carlos José Pereira da Silva [ C. Caç. 2548 ]
Rua de Timor, 2 R/c Dto - 1170-372 Lisboa
Telef: 21 815 2897; Fax: 21 815 3470, escritório
Telem. 966 651 820
e-mail: carsilva.advogado@sapo.pt
______________________________________________
David Gonçalves de Oliveira [ C. Caç. 2549 ]
Urb. Portela, Lt. 65, 9º Dto.
2685 Sacavém
Telem. 914 107 731


OBS: O Santuário e Restaurante ficam na direcção da Estação da CP e da Escola Agrícola.



NOTA: A convocatória está no SITE.



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4401: Quartel de Tite: Levantamento documental (Santos Oliveira)


Quartel de TITE 

O nosso Camarada Fernando Santos Oliveira, que foi 2.º Sarg. Milº de Armas Pesadas de Inf.ª, esteve em Como, Cufar e Tite entre 1964/66, enviou-nos para publicação um completo estudo documental sobre o aquartelamento de Tite, constituído por uma planta e várias fotografias, que aqui apresentamos.  

O Santos Oliveira está em crer, que o levantamento apresentado na planta do quartel, é da autoria do Furriel Mil.º SAM José Soares, da CCS do BCaç 1860, que foi comandado pelo Ten. Cor. Costa Almeida. 



Planta do quartel de Tite onde se pode ver a evolução das novas construções (ABR65 a ABR66) 


Quartel de Tite (Vista do Google) 


Tite -Vila e Quartel (Vista do Google) 

Tite - Vila, Quartel, Pista de aviação, Estrada para o Enxudé e Canal do Enxudé 
(Vista do Google) 

Tite - Foia - Enxudé - Jabadá - etc. (Vista do Google) 

Tite - Vista aérea 1 

Tite - Vista aérea 2 

Estrada do Enxudé 

Nativos do Enxudé 

(Fotos: © Santos Oliveira (23 de Maio de 2009) Direitos reservados.) 

(Santos Oliveira) 


__________ 

Nota de MR: 

(*) Vd. último poste do autor em: 

Guiné 63/74 - P4400: História de Vida (22): Refazendo a vida correndo o mundo (José Eduardo Alves)

1. Mensagem de José Eduardo Alves (*), Soldado Condutor Auto da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 20 de Maio de 2009:

Boa noite camarada Luís Graça
Peço desculpa por roubar um pouco de tempo, mas vou ser breve.

Eu sou leitor assíduo do vosso blogue. Faz já três anos que o divulguei no nosso convívio anual, mas o pessoal ainda estava a aprender a trabalhar com o computador. Digitalizar ainda foi mais difícil, mas com o tempo lá foram aparecendo, como eu agora.

Falando de mim, concluí o ensino obrigatório em 1962, em Cabeceiras de Basto, com distinção, entrando logo para a universidade.

Quando assentei praça já tinha dez anos de trabalho, daí achar que em alguns casos, o amarelo não ficava bem sobre o verde. Éramos todos novos, carne para canhão, mas quem não se lembra da frase: quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão? O Estado Novo mandava essa gente nova, sem experiência para a guerra, que não era nossa, pelo menos minha não era que fui sempre pacífico.

Agradeço por me pôr à vontade para nos tratarmos por camaradas, mas pela vida que levei até hoje, pelo carinho que tenho recebido de muita gente, confesso que me é difícil tratar as pessoas por tu. Mas com o tempo... as minhas desculpas.

Voltando a falar de mim, depois de 1974, agarrei-me ao trabalho. Fiz, pós-laboral, vários cursos de soldadura e de desenho de serralharia.
Em 1978 fui para Angola, voltando no ano seguinte.
Em 1980 fui para a Costa do Marfim, em 1982 fui para a República do Congo Brazaville, em 1983 fui para a Venezuela, em 1984 Congo novamente, em 1985 Angola de novo até 1987 e em 1988 fui para a Suíça, de onde regressei há oito anos.
Hoje tenho uma empresa de serralharia e tubagem industrial, mas costumo dizer que sou serralheiro, a palavra empresário cai-me mal;

A minha escrita não é por aí além, mas é o que se pode arranjar.

Última pergunta. Para ir ao convívio, em Ortigosa é preciso pertencer ao blogue ou seja à tertúlia?

Os meus agradecimentos pela resposta.

Em Leça da Palmeira ou em Cabeceiras de Basto, freguesia de Cavez, tem uma casa ao seu dispôr.

Por hoje é tudo
Um grande abraço e bem haja


2. Comentário de CV:

Caro Eduardo
Este teu texto está a ser publicado na série "História de Vida", porque tiveste a humildade de contares um pouco de ti, de uma forma desassombrada, sem enfeites literários, tão rectilínea como a tua maneira de estar na sociedade.

És um exemplo da força de vontade para vencer na vida, não estando à sombra, à espera que o Estado resolvesse o teu problema de subsistência. Hoje és tu que à frente da tua empresa olhas pelo teu destino e quiçá do de mais alguém.

Se entraste para a universidade da vida tão novo, tens a respectiva licenciatura. Diria que já és Doutor Honoris Causa do Trabalho.

Conheces parte do Mundo a teu modo, onde deixaste o teu suor, horas de solidão e saudade da família. Hoje, mais confortavelmente instalado na vida, não sabendo ainda o que é descanso, tens pelo menos a alegria de teres os teus, todos os dias à tua mesa.

Respondendo à tua pergunta. Não é necessário ser tertuliano do Blogue para participar no nosso Encontro. Condição importante é ser ex-combatente da Guiné. Por outro lado temos tertulianos que felizmente, para eles, não foram combatentes na Guiné nem em lado nenhum, mas que se querem juntar-se a nós. Também eles são bem recebidos.

Eduardo, escreve sempre que queiras, não te preocupes com a escrita, como referes, pois nós damos um jeitinho. O importante é que, cada um a seu modo, possa dizer o que lhe vai na alma e, por que não, ensinar algo aos demais.

Não te esqueças das fotos da praxe.

Para ti um abraço do Luís e dos restantes camaradas.
Carlos Vinhal

OBS:- Não repares por não ser o Luís a dar-te resposta, mas as relações públicas são do meu pelouro.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCAÇ: Bedanda, Março de 1963 (George Freire)

Guiné 63/74 - P4399: Em busca de... (74): O caboverdiano Leão Lopes, meu antigo camarada de Bambadinca, BENG 447, 1970/72 (Benjamim Durães)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > "Foto tirada no dia 30 de Março de 1971 em Bafatá, onde o grupo foi jantar, para celeberar os meus 24 anos. Na foto, e da esquerda para a direita temos: Leão e ex-esposa Lucília; Durães, Fernando Cunha (Soldado condutor), Rogério Ribeiro (1º Cabo Enfermeiro), Braga Gonçalves e ex-esposa Cecília; Isabel e o marido José Coelho (Furriel Enfermeiro), e o 1º Cabo Condutor José Brás".

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2009). Direitos reservados

1. Mensagem que o Benjamim Durães (ex-Fur Mil, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, 1970/72) mandou, em 19/05/2009, ao seu antigo camarada de Bambadinca, o ex-Fur Mil, BENG 447, Leão Lopes:

Boas Tardes,

Leão Lopes, não sei como te devo tratar, se por Excelentíssimo Ex-Ministro da Cultura de Cabo Verde, Pintor, Cineasta, Presidente da OGN Atelier Mar, Professor Universitário, Engenheiro, etc, etc., ou simplesmente por ex-Camarada de Bambadinca.

Desde 2006 que andava à tua procura e só este ano, no 3º Encontro-Convívio da CCS do BART 2917, que se realizou em Viana do Castelo no passado dia 16 de Maio (*), me disseram que te encontravas em Cabo Verde e que havias sido Ministro da Cultura, pelo que através a Internet lá te consegui localizar.

O nosso próximo encontro será em Coruche, no dia 27 de Março de 2010.

Tanto eu, com os ex-camaradas de Bambadinca, Isaías Rocha (Fur Sapador), José Coelho (Fur Enfermeiro), Braga Gonçalves (Alf Cav), Fernando Cunha (Soldado Condutor do Comandante do BART 2917), José Brás (1º Cabo Condutor do 2º Cmdt), gostaríamos de saber notícias tuas e saber se te deslocas com frequência a Portugal.

Para te recordares dos elementos que acima cito, junto uma fotografia tirada em Bafatá no dia 30 de Março de 1971, num jantar de aniversário dos meus 24 anos, que passo a identificar: da esquerda para a direita, Leão, Durães, Fernando Cunha, 1º Cabo Enfermeiro Rogério Ribeiro, Braga Gonçalves, José Coelho e José Brás.

Eu tenho um quadro pintado por ti em 1971, em Bambadinca.

Aconselho-te a consultar no Internet no site do Luís Graça & Camaradas da Guiné no Blog http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ , onde podes ver muitas imagens e histórias passadas em Bambadinca.

O Luís Graça, na encarnação de Bambadinca, era conhecido por Henriques (hoje, Luís Graça), era Furriel da CCAÇ 12 (1969/71).

Um Abraço
BENJAMIM DURÃES

2. Resposta do Leão Lopes:

Caro Durães,

Ainda me visto de Leão Lopes, apenas isso. Mas o ex-camarada de Bambadinca envaidece-me e é uma grande honra responder por ele.

Não imaginas a emoção que ainda sinto por este reencontro. Já ninguém poderá duvidar que eu também lá estive. Vocês existem e a memória colectiva também. Eu próprio duvidei por vezes desta parte da minha história, quando alguns episódios vividos se confundiam com uma projecção ficcional não tendo por perto quem mos pudesse reavivar, corrigir, confirmar.

Imagina que eu me lembro sempre do nosso capelão Arsénio Puim, do dia em que a PIDE o levou, da minha / nossa revolta. E como eu gostaria de o reencontrar para lhe dar o abraço que não pude dar-lhe nesse dia. A PIDE tinha-me levado antes o Joãozinho e mais outros dos melhores operários nativos que eu tive no destacamento de engenharia. Destes nunca mais soube.

Há alguns anos estive em Bambadinca e, nas ruínas do que foi nosso quartel, encontrei Mariana, a nossa lavadeira, que me avivou na memória muita coisa difusa e talvez esquecida. Por exemplo, que eu pintei o retrato de um camarada. Quem seria?

Sim, lembro-me de alguns de vocês. De ti, do Braga Gonçalves, do Coelho, do Brás. Lembro-me do Vinagre, de Coruche (?) com quem fiz algumas traquinices inventando coisas para driblar o tempo. Chegamos a ser sócios numa moto e nunca contei a ninguém que por um triz teriam hoje que me juntar aos homenageados no minuto de silêncio dos vossos encontros. Sabem dele?

Ainda canto Zeca Afonso e as músicas popularizadas por Adriano Correia de Oliveira que nos ajudavam a resistir e a manter a moral acima de tudo.

As minhas condolências pelo Rebelo.

Parabéns a Luís Graça pelo blog. Um belíssima iniciativa, um belo slogan, um esforço de trabalho imenso.

Um dia destes, numa das minhas passagens por Portugal, tentarei abraçar-vos.

Muito obrigado pela fotografia e por me teres procurado e achado.

Até breve,

Leão Lopes

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região .

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o
Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste). Vê-se ainda uma nesga do heliporto (2) e o campo de futebol (3).

A CCAÇ 12 começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento roubado à engenharia (à tua engenharia, Leão!), nas colunas logísticas para o Xitole.De acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão (5) e as instalações de oficiais (6) e sargentos (8), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9).

Apesar do apartheid (leia-se: segregação sócio-espacial) que vigorava, não só na sede dos batalhões, como em muitas unidades de quadrícula, uns e outros, oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum (19).

Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá. O aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). São visíveis as valas de protecção (22), abertas ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24). A luz eléctrica era produzida por gerador... Junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o abrigo da metralhadora pesada Browning (25). Em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses 14).

A caserna das praças da CCS (11) ficava do lado oeste, junto ao campo de futebol (3). Julgava-se que o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler ficava instalado no edifício (12), que ficava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U. Mais à direita, situava-se a capela (13) e a secretaria da CCAÇ 12 (14). Creio que por detrás ficava o refeitório das praças.

Em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

Do lado leste do aquartelamento, tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais (18), a escola primária antiga (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga).

Ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do Alf Mil Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12, e mais tarde, o major BB, o Fur Mil Leão Lopes, do BENG 447, o Fur Mil Enf Coelho, da CCS/BART 2917).

Esta reconstituição foi feita pelo Humberto Reis, completada por mim (LG).

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


3. Comentário de L.G.:


Meus caros Benjamim Durães e Leão Lopes:

Estou aqui em pulgas para ver a foto que o Benjamim não me chegou a mandar ontem e onde estás tu, Leão. Queria ver se te reconhecia, pela pinta. Tenho uma ideia tua, mas não juro... (Decepção: A imagem chegou-me agora, de manhã, mas estás de costas, de perfil).

Saí de Bambadinca em Março de 1971. Se vieste com a CCS do BART 2917, em Maio de 1970, devemos ter convivido cerca de 9/10 meses... Eu pertencia à CCAÇ 12, independente, subunidade de intervenção, com soldados do recrutamento local, oriundos do chão fula (Badora, Corubal, Cossé)...

Independentemente das partidas que o tempo, inexorável, e a (des)memória nos pregam, é um prazer muito grande reencontrar, mesmo que através da blogosfera, um camarada de Bambadinca, da bela Bambadinca daqueles bons velhos tempos (... apesar de tudo, tínhamos 23/24 anos, tínhamos sonhos, tínhamos o mundo à nossa frente, eramos inconformistas e inconformados, generosos, rebeldes, queríamos viver e respirar em liberdade...).

Sei que hoje és uma figura incontornável da cultura da tua terra, Cabo Verde, a que me ligam amizades de hoje e afectos do passado... Prometo procurar-te quando um dia destes for ao mítico Mindelo, onde o meu pai foi militar, expedicionário, entre 1941 e 1943... Até lá convido-te a partilhar a nossa Tabanca Grande, onde não há portas nem janelas nem muito menos arame farpado... (O termo Tabanca Grande é uma dupla homenagem a Cabo Verde e à Guiné-Bissau, e deve-te ser familiar: ao escolhê-lo, fui também traído por um dos célebres temas - Tabanka - do ex-Gupo Musical de Cabo Verde, Os Tubarões, nas décadas de 1970/80, de que eu era fã).

Benjamim, desculpa o abuso, mas o recado para o Leão Lopes fica dado. Morabeza. Mantenhas. Uma Alfa Bravo para os dois. Luís

PS - Leão: Pede-me, adicionalmente, o Durães (, o grande Durães, que tem sido o motor, o cimento, o pivô, o elo de ligação da malta de Bambadinca daquela época), que lhe remetas uma fotografia actual e que lhe indiques o teu telefone fixo e o teu telemóvel, além da morada completa para que passes a constar da listagem, para futuras convocatórias dos encontros anuais da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Se decidires tornar-te tabanqueiro, manda-me também duas fotos tuas, uma antiga e outra actual, além de uma história/estória passada ou actual, como mandam as boas regras do nosso blogue...

Quanto ao Puim, o nosso capelão, estive há dias a falar com ele, ao telefone (durante mais de um hora), e convenci-o a juntar-se a nós... Para surpresa minha, ele esteve em Bambadinca até Maio de 1971 (perfezum ano de Guiné!), não tendo sido preso em 1 de Janeiro de 1971, pela PIDE/DGS, como eu julgava e está escrito nos nossos postes...

Foram os majores do BART 2917, o BB e o AC (sendo então comandante o Ten Cor Polidoro Monteiro, já falecido) que lhe comunicaram, de papel na mão, que ele era uma personna non grata em Bambadinca e no CTIG e que tinha meia hora para fazer a mala e apresentar-se em Bissau... A ordem vinha de Bissau (sabe-se lá de quem...da PIDE/DGS ? do Com-Chefe ?).

O nosso capelão, sob o olhar dorido do sacristão e do Alferes Machado, lá foi sozinho, sem se poder despedir de ninguém, expulso como um cão, a caminho do helicóptero que estava à espera dele, e que o levou até Bissau... Ele, o piloto e o mecânico, sem qualquer escolta...

É uma história ainda mais triste e deprimente do que eu imaginava: nem sequer foi preso directamente pela PIDE/DGS, em flagrante delito,no exercício do seu múnus espiritual... Um dia destes eu conto o resto, e ele confirma.

________

Nota de L.G.:

(*) V. postes de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4358: Em busca de... (73): BAC1, CART 1692, CART 1427, 1966/68 (Tony Grilo)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4398: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (3): Área de intervenção do Comando Chefe


História do BCAÇ 4612/72

(2) TERRENO
(a) Definição da ZA

A DOP "VONTADE ENÉRGICA" de 15AG072, do CCFAG, fixou os seguintes limites ao sector 04 MANSOA 6 C6.49-Lim Administrativo - MANSOA 9 E3.66 - BINTA 7 D8.20- BINTA 7 G6.50 BINTA 7 H6.70 bolanha a O de BISSANCAGE- FARIM 2 B4.34- FARIM 2 E2.52 - RMANJAMPOTO-RIONFARIM --FOZ RIONFARIM RCANJABARI - FOZ RCAMBAJU - BANJARA 2 D0.60 Lim Administrativo-RGAMBIEL-BAMBADINCA 3 H2.47 RMANCURRE – Lim. Administrativo - MAMBONCÓ 9 A9 -34- MAMBONCÓ 8 G.45 Lim. Administrativo-MAMBONCÓ 8C2.25- MAMBONCÓ 7 C1.88 - RBARADOULO RGEBA - TITE 6 C5.20 - Lim. Administrativo - RMANSOA-MANSOA 1 H5. 90 - Lim Administrativo - MANSOA 6 C6.49.
Área de intervenção do Comando Chefe

MORÉS (SECTOR 04) 

BINTA 7F6.34-Estrada BISSORÃ/MANSABÁ-BIGINE-CAI-MAMBONCÓ 3C1.83-MANSOA 919.75-TAMBATO-MANSOA 9G8.27-MANSOA 8D4.94--MANSOA 8D5.85-MANSOA 8B3.90-MANSOA 516.98-MANSOA 6H4.19--MANSOA 6G7.46-Lim Administrativo -MANSOA 9E3.64-BINTA 7F6. 34. 

SARA (SECTOR 04) 

FOZ RFARACUNDA-RCANJAMBI-RCAMBAJU-BANJARA 2D0.60-Lim Administrativo - RGAMBIEL RPASSA-RQUEBA-JILÃ-MAMBONCÓ 8G4. 45-Lim Administrativo -MAMBONCÓ 8C2.25- CÃ MAMADU - CACUMA--MAMBONCÓ 1I6.62-MAMBONCÓ 1E7.67-MAMBONCÓ 2B6.55-ROLOM--RSUARCUNDA-CÃ CUMBA-MANTIDA (DELTA) -FARIM 8D5.58-FARIM 8D5.76-RFARACUNDA-FOZ RFARACUNDA. 

As Áreas de intervenção do Comando Chefe, indicadas anteriormente es¬tão conformem com a circular nº 10.033/C, do despacho de S. Ex.ª o General Comandante-chefe datado de 10DEZ72. 

(b) Relevo e hidrografia 


Relevo: 

Não é grande e significativo em todo o Sector.  Notam-se no entanto as maiores cotas (38 metros) nas regiões de SANSANTO e CUTIA, sobre a estrada de MANSOA - MANSABÁ. 

Hidrografia 

Rio GEBA É limite Sul do Sector, atingindo a largura de 09km. Importante via de comunicação para o interior da Província. Rio MANSOA Com uma orientação geral Leste.  

Oeste, sofre a influência das marés até a sua confluência com o Rio OLOM. É navegável por LDM até MANSOA, aproveitando a maré. 

Rio OLOM Afluente do rio MANSOA, desagua neste um pouco a leste da vila de Mansoa. 

É pouco afectado pelas marés. 

Rio BRAIA Afluente do rio MANSOA, desagua neste um pouco a oeste da vila de Mansoa. 

Desde a sua Foz até BRAIA (povoação) tem uma orientarão sensivel¬mente S-N e sofre a influência das marés a partir de BRAIA (povoação) para jusante tem uma orientação geral SW-NE.Rio UENQUEM - Desagua no rio MANSOA, tem uma orientação geral N-S e é limite Oeste do Sector. 

Rio BARÁ - BELUNJA e BARADOULO são afluentes do rio GEBA e têm uma orientação geral N-S. Nos cursos inferiores sofrem a influência das marés. 

(c) Vegetação 

A vegetação de um modo geral é constituída por mata baixa, aberta, sendo mais densa e com árvores de maior porte, ao longo das margens dos rios, sobretudo das do rio MANSOA, e ainda nas regiões do CUBONGE, 010, LOCHER - CHANGALANA e numa faixa, Entre-Os-Rios OLOM e BRAIA, entre CUTIA e MANSOA. 


Existem ainda zonas de palmeiral, em que a progressão é muito difícil e morosa, nas regiões que se estendem para Oeste do rio OLOM, a saber: CUBONGEA N das antigas tabancas do CUBONGE e DAKE. 

Numa faixa, não contigua, que partindo da região a Este de BISSORÃ se estende ao longo de 010, numa direcção sensivelmente O-E, até atingir a região de MANHAU, marginando e envolvendo sobretudo as zonas onde existem bolanhas. 

Na região de CUTIA Entre-os-rios OLOM e BRAIA. 

Na região entre as antigas tabancas de UALIA e TENTO. 

(d) Natureza do solo 

O solo é de um modo geral de natureza pouco permeável, resultando desse facto um alagamento fácil das bolanhas na época das chuvas. Ao longo dos rios, a lama é negra, e de fraca consistência dificultando em qualquer altura do ano a transposição dos cursos de água. 

(e) Alterações resultantes da acção do homem 

Comunicações Rodoviárias: 

BISSAU-MANSOA-MANSABÁ-FARIM, estrada asfaltada. 

MANSOA-BISSORÃ, asfaltada até à região do NAMEDÃO, e em trabalhos de asfaltagem de BISSORÃ para o NAMEDÃO. 

- JUGUDUL-BINDORO, de terra batida, de difícil trânsito na época das chuvas. 

- JUGUDUL-PORTO GOLE, actualmente intransitável a partir do cruzamento do CUSSANJA. 

- ROSSUM-ENCHUGAL, de terra batida. 

- MANSABÁ-BISSORÃ, actualmente intransitável, não sendo utilizada.MANSABÁ-MANHAU-BANJARA, de terra batida, só utilizada até MANTIDA. 

1. Pontes 

Todas as pontes e pontões do Sector, são de caracter definitivo. Por ordem sobre a estrada MANSOA-BISSORÃ: 

- Ponte de BRAIA, sobre o Rio do mesmo nome e ainda em construção. 

2. Pistas de aterragem 

Para avião tipo DO-27 existem pistas, de terra batida, em MANSOA, MANSABÁ e PORTO GOLE. A pista de MANSOA, pode eventualmente ser utilizada por avião tipo DAKOTA e T6. 

Para helicóptero, existem pistas em MANSOA, MANSABÁ, CUTIA, INFANDRE, BRAIA, JUGUDUL, UAQUE, ROSSUM, BINDORO, BISSÁ e PORTO GOLE. Todos os heliportos são revestidos a cimento com excepção do de MANSOA que se encontra asfaltado. 

No que respeita a facilidades em carburantes, só MANSOA MANSABÁ e PORTO GOLE possuem combustíveis para DO-27 e helicóptero. 

3. Povoações 

As principais povoações do Sector são MANSOA e MANSABA. 

4. Portos 


O único porto que existe no Sector, encontra-se em PORTO GOLE sobre o Rio GEBA, ainda em construção muito embora em fase de acabamento.O destacamento de BISSÁ, tem um local de abicagem destinado as LDM e às embarcações civis, que o servem, sempre que há necessidade de o reabastecer ou remuniciar. 

(3) Conclusões 

(a) Pontes ou zonas importantes 

Região do NAMEDÃO : ligação e passagem IN do MORÉS para o QUERÉ. 

Região da bolanha do LORÉ ponto de passagem e base de fogos para as flagelações IN a INFANDRE e BRAIA, ou para acções na estrada BRAIA-INFANDRE. 

Região do BENIFO, local de possíveis cambanças do rio BRAIA, e base de fogos para possíveis flagelações a BRAIA ou MANSOA.Região de SANSANTO, que aproveita a cambança do FALÃ sobre o rio BRAIA, e de onde podem partir acções sobre CUTIA ou MANSOA e emboscadas sobre a estrada entre as duas povoações. 


- Região da ANHA, base de fogos para acções IN contra MANSOA e CUSSANÁ. 

- Região LOCHER-QUIBIR-DANA, corredor de infiltração do IN pa¬ra acções sobre MANSOA ou JUGUDUL. 

- Região POLIBAQUE-QUIBIR-DANA, corredor de infiltração do IN do SARA para acções sobre o ROSSUM e UAQUE e servindo ainda para as infiltrações destinadas a acções no Sector do COP 8 e ILHA de BISSAU. 

- Região de BIRONQUE, continuação do corredor de passagem do LAMEL para o MORÉS. 

- Região de MANHAU-MANTIDA, continuação do corredor de passagem do SITATO, para a região do SARA. 

- Região de MAMBONCÓ, corredor de passagem entre as regiões do SARA E OIO. 

(b) Observação

A observação é difícil em toda a ZA, em virtude da densidade, da vegetação. Apenas se consegue uma razoável observação, utilizando os meios aéreos. As características próprias da massa¬ combatente do IN que conhece bem o terreno em que actua, os objectivos bem definidos que os aquartelamentos OU as colunas auto da NT representam, conferem ao IN nítida vantagem no campo da observação.

(c) Obstáculos 

São os seguintes obstáculos dentro do Sector: 


Rio GEBA, em qualquer altura do ano. 

Rio MANSOA, em qualquer altura do ano, a jusante da ponte do CUSSANÁ. 

- Rio BRAIA e OLOM, em qualquer altura do ano, com excepção dos meses de FEVEREIRO a JULHO. 

- Restantes rios e bolanhas, só na época das chuvas entre os meses de AGOSTO e NOVEMBRO. 

(d) Cobertos e abrigos 

Toda a zona arborizada, confere apreciável cobertura, favorecendo o IN. 

(Fotos de Augusto Borges & Magalhães Ribeiro) 

(Foto 1 - Quartel de Mansoa), (Foto 2 -  Ponte sobre o Rio Mansoa), (Foto 3 - Heliporto),  (Foto 4 - Oficinas Mecânicas) e (Foto 5 - Instalações dos Comandantes 1º e 2º) 

(Enviado por Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72) 

__________  

Nota de M.R.: 

(*) Vd. poste anterior desta série em: 


Guiné 63/74 - P4397: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (21): Comentando, comentários (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso incansável camarada Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 20 de Maio de 2009:

De entre os vários comentários ao meu último poste (4373) há um que pelo seu teor difere, em muito, dos outros.

De novo, MR (que saíra a terreiro a comentar um comentário ao meu poste imediatamente anterior...) agora perfeitamente identificado como Magalhães Ribeiro, que pude constatar tratar-se dum Ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, vice-presidente da Delegação do Porto da APVG (Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra) e membro dirigente da AOE (Associação de Operações Especiais) e da LAMMP (Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto) e co-editor desta nossa Tabanca Grande, evidencia algum desconforto relativamente àquilo que escrevi.

Recorde-se que está inserido no comentário do comentário de Júlio Pinto(Angola) que estranhava o relativo silêncio da Tabanca em contraponto com o acontecido no caso do jornalista da Visão...

Escrevi: ...alguns entendem que o referido militar não merece quaisquer críticas...

MR escrevera : ...muitos nem reagirão porque pensam que ele nem resposta merece...

Ora, críticas, neste caso, seriam a resposta (que Júlio Pinto requeria) às afirmações proferidas por AB...

Nem sequer por simples dedução... alega MR.

Nem sequer é uma questão de dedução, diria eu, está lá!!!

É certo que poderia ter aposto a palavra, sequer, ficando ..."não merece sequer quaisquer críticas...

Não alterava profundamente e portanto esta questão de semântica parece-me de lana caprina não havendo assim razão para tanto agastamento...

O cerne da questão foi, é e será, a ignóbil forma como o general Almeida Bruno falou dos muitos milhares de militares que deram o corpo ao manifesto para que ele e outros, como ele, profissionais medrosos e sem vergonha, pudessem ter atingido posições de destaque absolutamente imerecidas...
Essa de valorizar os especiais... mas especiais de quê?

Especiais foram todos aqueles que viveram em condições sub-humanas (como tenho visto na rubrica Bu...rakos...), que passaram fome, que nunca souberam o que era o bem-bom de poder assistir a uma sessão de cinema no UDIB, que desconheceram em absoluto o prazer do ar condicionado, das diversões de Bissau, que vegetaram - porque aquilo não era viver - durante meses e meses à mingua de tudo.
Esses é que foram especiais! Esses é que foram heróis sem medalhas, a larga maioria, mas honestos no esforço que deram ao país sem se aproveitarem dele como os muitos Almeidas Brunos que por aí cirandam.

Especiais foram os tais da tropa macaca (nunca percebi muito bem esta designação...) que todos os dias tinham contacto com o medo de mais um ataque e que aguentaram ganhando menos (outra irracionalidade evidenciada por quem comandava aquela guerra...).

Os especiais, de nome, iam uma vez ao objectivo e regressavam a Bissau ao copo, ao boteco, ao Pilão e às suas guerrinhas intestinas ora contra a PM ou uns contra os outros...

Os verdadeiros especiais (os outros todos...) aguentavam tudo e mais alguma coisa, desde algo a que se chamava abusivamente comida ou alimentação, mas que não reunia qualificação para tal, à falta de cuidados médicos (a minha Companhia por exemplo só viu o médico um dia, unzinho só em 760 de permanência na Guiné...)

Quem vivia no bem-bom de Bissau como os ditos especiais, mai-lo Bruno, podiam ter consultas no dentista, por exemplo.

onde elas cantavam, não podíamos parar a guerra para o fazer...


Não sendo propriamente um D. Quixote
em luta, onde Almeida Bruno é mote,
em ferro frio malho desde então...
não vendo ao meu redor já muita ajuda,
sem Sancho ou Rocinante que me acuda,
espero não ceder nesta missão...

Aceito o veredicto, de bom grado,
que o Zé Dinis entende seja dado
ao pobre rimador que ousa a poeta...
cautela devo ter não vá estalar
famoso adereço ocular
do homem já de idade bem provecta...


Um grande abraço.
Manuel Maia
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4373: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (20): Continuando a quebrar o silêncio (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4396: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (16): Uma história do Honório (Vítor Oliveira)

De Vítor Oliveira (*), 1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69, uma história do Honório


Aqui vai mais uma do artista Honório.

Quando íamos para Nova Lamego fazer protecção às colunas que iam para Béli ou Madina, a Companhia que fazia as mesmas, punha logo à disposição do Honório um jeep que andava com gasolina dos aviões.

Um belo dia perto da hora almoço, o nosso amigo vai à pista buscar o pessoal para virmos almoçar ao quartel do Exército. A enfermeira vem sentada ao lado dele e nós atrás. Ele arranca pelo campo da bola abaixo em direção ao quartel, vem pela rua com uma velocidade maluca e quando chega ao fim da rua faz a curva a 90º para o quartel, (do lado direito ficava a casa Caeiro). Resultado, a nossa amiga sai disparada do jeep tendo ficado mal tratada. Foi substituída por outra que veio no Dakota de Bissau, não me recordo do nome dela, mas penso que era Alferes e era da Amadora, da família Salvado.

Em relação às enfermeiras, só havia na Base três ou quatro salvo erro, a única de que eu me lembro bem é a Tenente Ivone.

Um abraço.

Repararação de um T6G em Nova Lamego

Este é o telheiro da pista de Nova Lamego. Do lado direito, ao fundo, era o campo da bola
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4338: Tabanca Grande (140): Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Especialista da FAP, BA 12, 1967/69

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)

1. Terceira parte da segunda história para a série "A Guerra vista de Bafatá", enviada pelo nosso camarada Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, no dia 9 de Maio de 2009:

A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

4 - Um Alferes destacado (desterrado) em Madina Xaquili com um cano (só o cano) dum morteiro 60 - Parte 3.

Preâmbulo


Como tenho vindo a referir, na sequência do agravamento da situação no Cossé, fui destacado para Madina Xaquili, onde vivi uma experiência verdadeiramente inesquecível (*).

No meu Poste anterior – 4305, (3.º dia dessa minha experiência de contacto com a realidade da guerra) descrevi como, depois de recolher pelo caminho água que parecia cal de pintar, cheguei a Madina Xaquili onde constatei que o pelotão de Milícias, ali sediado, não dispunha de um único cartucho. Inacreditável…


Relato do 4.º dia – 15JUN69:

Havia que pôr todas as ideias em prática:

Para ultrapassar o problema da falta de contacto com a sede da Companhia, pedi ao João que mandasse um grupo à mata cortar dois paus para poder montar uma antena dipolo virada para Galomaro.

Dois homens foram desfazer, na zona desmatada, os enormes morros de baga-baga, óptimos abrigos para o IN.

Perguntei ao João se era possível arranjar alguma fruta. Ao fim da tarde já tinha uma cabaça cheia de mangos, embora ainda não fosse o tempo deles.

Com dois camaradas fui à nascente da água e sem muito esforço consegui, escavando, transformar a poça onde se abasteciam, numa pequena bica de água onde já era possível encher facilmente os garrafões.

Fonte da água já renovada e o resguardo do balneário

Junto da fonte criou-se um balneário, com folhas de palmeira, para resguardar das vistas das mulheres que lavavam roupa.

Como era costume, todas as garrafas vazias foram sendo penduradas, duas a duas, no arame farpado.

O fim do 2.º dia em Madina chegou. Antes de dormir, os meus pensamentos centravam-se na preocupação com a segurança.


Relato do 5º dia – 16JUN69:

Um grande amontoado de canas secas de milho autóctone foram espalhadas, junto ao arame, nos locais mais problemáticos. Qualquer aproximação ao arame faria um grande estardalhaço.

Os troncos dos grandes poilões da orla da mata preocupavam-me muito mas não tinha uma moto-serra… Como Maomé não podia ir à montanha…, comecei a congeminar a maneira de dar destino às granadas M/44 (tipo pinha), que trouxera.

Ainda bem que não tive qualquer ataque e não fui responsável pela morte de um qualquer IN atrás dum poilão.

Dezasseis granadas não fariam aquecer muito o nosso cano de morteiro, mas pelo sim, pelo não, fiz-lhe um chumaço com ligaduras.

Um grupo começou a escavar o novo abrigo para a população civil, bem no centro da tabanca. Alguns milícias trataram de ir à mata buscar cibes para a sua cobertura.

Também era urgente construir latrinas. Sabia que os nativos tinham junto de cada palhota o seu WC, um espaço circular com cerca de 1,5 m de diâmetro, conseguido com canas entrançadas. Era aí que faziam as suas necessidades que deixavam a céu aberto. Tal procedimento não me pareceu muito correcto, pelo que não gostaria de o reproduzir para os metropolitanos. Aconteceu que a primeira vez que eu próprio fui à mata escolhi um bom local. Precisamente por isso, usei-o no dia seguinte. Não vislumbrei qualquer vestígio da minha ida anterior. Achei estranho. Passadas uma ou duas horas, fui lá espreitar. Um monte de bichos rastejantes de toda a espécie, cobria o poio. Passado pouco tempo estava tudo novamente limpo.

As latrinas foram adiadas para mais tarde.

Uma tabanca onde se nota, junto de cada palhota, o seu quarto de banho

Entretanto, ao fim do dia, o rádiotelegrafista veio informar-me que, com a antena dipolo instalada, já tinha conseguido estabelecer contacto com Galomaro, embora só em morse.

Debaixo do mangueiro, e antes de ir dormir houve mais uma conversa com o João para fazer o ponto da situação.


Relato do 6º dia – 17JUN69:

O abrigo para a população ganhava forma e já dispúnhamos de alguns cibes

Com um pedaço de ferro velho improvisei um alarme. Quando percutido toda a gente se deveria dirigir aos abrigos. Fiz um ensaio e correu tudo bem.

Em relação à segurança, tudo o que estava feito me parecia pouco. Tomei então uma decisão controversa. De acordo com o João, uns milícias foram escalados de modo a haver sempre um sentinela durante todo o dia, até ao anoitecer, na zona problemática da mata, num raio de 500/700 metros. Como a mata era bastante aberta a visibilidade era grande.

Ao princípio da noite, como de costume, conversei com o João e alguns milícias a fim de me inteirar das suas preocupações. Lamentavelmente havia a barreira da língua mas mesmo assim aprendi muito e comecei a compreender os problemas daquelas pessoas naquele cu de Judas, isoladas durante os piores meses da época das chuvas.

O João aproveitou para me apresentar as suas duas mulheres (tinha mais duas noutras tabancas) e o seu filho Bonco.

A Primeira mulher do João e o filho Bonco

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados


A terminar o dia e graças à antena dipolo, recebeu-se a primeira mensagem cifrada. Com a ajuda do livrinho de cifras descodifiquei a ordem para ir à tabanca de Cantacunda municiar os africanos armados (talvez uns 10) com Mauser e dar-lhes instrução de tiro com G3.

Nos três dias a seguir os acontecimentos vão precipitar-se. Irei a Cantacunda e no retorno a Madina irei ter uma boa surpresa. Na mesma tarde ouve-se o primeiro tiro em Madina Xaquili. Nos dias a seguir, como previa, vai aparecer um héli e vou fazer de consultor sentimental, mas tudo isso será tema para o próximo Poste.

Até para a semana camaradas.
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
e
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)