1. Mensagem de Jorge Picado (*), ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885,
Mansoa, CART 2732,
Mansabá e CAOP 1,
Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 12 de Julho de 2009:
Caríssimos Carlos, Luís, Briote e MRibeiro
Deu-me hoje na
mona para escrevinhar umas recordações do passado.
Se entenderem que não são oportunas,
delete...m-nas.
Abraços para todos e que as férias que se aproximam serenem os ânimos.
Jorge Picado
PASSEIO FLUVIAL NO RIO BABOQUE E RIO MANSOAIndiferente às guerrilhas, armadilhas e outras ratoeiras que alguns nos vão lançando pelo caminho, tentando eliminar-nos ou pelo menos desmoralizar-nos para que não contemos as nossas estórias, porque não são feitos bélicos ou não se enquadram nos
altos valores que defendem e a que só eles se julgam com direito, vou tentar passar a escrito um passeio de
barco que fiz na outrora florescente estância de veraneio da Guiné Portuguesa.
Este passeio ocorreu num belo domingo, tal como a maioria dos passeios que se fazem aos fins de semana, dia 29 de Agosto do longínquo ano de 1971.
Já lá vão pois cerca de 38 anos... vejam lá... mais do que a idade que então tinha... Ai como eram belos ainda os 33 aninhos...
“I. JETE, c/ T.C. Herdade, Reg. Agr. Dias, das 13.30 às 17.10. Banhos de água salgada ao dobrar UMPACACA”.É a parca anotação que consta nos meus poucos registos e vai a azul como homenagem marítima.
Começando pelas apresentações direi:
I.JETE – uma grande zona baixa toda recortada por linhas de água que a tornavam de facto uma ilha, ainda que não fosse no mar, como a ILHA de JETA em pleno Atlântico frente a CAIÓ. Situada a Sul de PELUNDO, as suas margens Sul eram banhadas pelo Rio MANSOA e tinham na sua frente a ILHA de LISBOA. Havia uma picada de PELUNDO para lá, encontrando-se um Pel da CCaç 3307 aí instalado;
T.C. Herdade – Ten Cor Herdade (Ten Cor Inf Nívio José Ramos Herdade), Cmdt do BCaç 3833 colocado no Sector 07, com sede em PELUNDO e abrangendo CÓ e JOLMETE;
Reg. Agr. Dias – como já mencionei num escrito anterior, era o técnico dos SAF de BISSAU
responsável ou encarregado pelo andamento dos trabalhos agrícolas da zona do CAOP 1. Tendo chegado a 27, já tínhamos visitado CAJEGUTE e CAIÓ, seguindo agora para JETE, onde julgo que terminou esta
inspecção;
UMPACACA – o nome do lado nascente da foz do Rio BABOQUE que, vindo de TEIXEIRA PINTO, desagua no Rio MANSOA. Digamos assim
qual Cabo das Minhas Tormentas;
Objectivo – ajuizar do estado dos trabalhos de recuperação das bolanhas daquela(s) Tabanca(s).
Embarcámos no Cais ou Porto de TEIXEIRA PINTO e começou aí o meu espanto. Era a primeira vez que me confrontava com tal meio de navegação.
Sendo oriundo de uma terra marítima e de marinheiros, farto de ver (e de andar na ria) barcos de ria e de mar, de várias dimensões e feitios, que se deslocavam com a força de braços (remos e varas), movidos pelo vento ou a motor fora e dentro de borda, fiquei extasiado quando me fazem entrar naquilo que julgava ser uma banheira de fibra a que tinham acoplado um motor fora de borda e chamavam agora pomposamente barco.
Sinceramente, foi esse o meu primeiro pensamento.
Nunca tinha visto tal... mas logo me interpelaram:
- Então não entra no SINTEX?.
Estava à espera de um zebro, dos Fuzos... e sai-me uma banheira…
Na fotografia que anexo do Porto de TEIXEIRA PINTO, obtida em algum dia
festivo, pela
manga de pessoal presente, vê-se pelo menos um zebro junto de uma LDP (?) que está atracada a um barco de cabotagem, já que não tem ar de ser da Marinha de Guerra.
Nunca tinha reparado no tal Sintex, se é que ele lá costumava parar.
Pois é camarigos Luís Graça e Mexia Alves (desculpem-me os outros que também neles andaram, mas estes dois é que andam sempre a exibir-se fotograficamente em trajes, mais apropriados a quem vai a banhos - depois não se queixem se aparecer algum mirone a dizer que não andavam na guerra -, pavoneando-se no GEBA-ESTREITO), não tenho é foto para me vangloriar igualmente e, quanto a fatiota, íamos todos devidamente equipados, com
fardamento de trabalho como garbosos militares das nossas FA.
Sentando-me naquilo que se chamaria
proa ou popa, por causa das coisas, i.é. o meu desconhecimento daquela prática chamada natação, disfarçadamente tinha colocado dois coletes de salvamento ao alcance das mãos, não fosse o diabo tecê-las... de modo que, ao dobrar o
tal Cabo ou seja, quando entrámos no Rio MANSOA, coloquei mesmo um no regaço a servir quase de antepara aos banhos forçados das águas salgadas desse rio, consequência das fortes bátegas que eram projectadas pelo encontro daquela
pseudo popa, mais parecida como uma antepara, contra a corrente e forte ondulação do MANSOA, que naquele local tem uma largura de quase 6 quilómetros.
Na imagem obtida no Google Earth, que anexo, onde se pode visualizar o trajecto desde o ponto de partida 1, até ao presumível ponto de chegada 2, onde ainda em 31JAN06 (data das respectivas imagens do Google) se localizam os arrozais, são cerca de 20 km. O ponto 3 assinalado, era o ancoradouro existente na Carta Militar, mas fica no lado oposto aos arrozais, pelo que não era lógico aportarmos aí.
Se algum camarada desse tempo que lá estivesse estacionado ou, ainda melhor seria, o militar – 1.º Cabo –
condutor do barco, aparecessem para contar...
Só por curiosidade direi que no dia 25JUN70, foi sensivelmente nesta zona do Rio MANSOA, que foi engolido pelas suas águas o helicóptero que transportava os Deputados da ANP tendo morrido os seus ocupantes.
Eu lembrava-me, por isso não ia muito satisfeito...
Mas tudo correu bem e, às 17H10M, desembarquei novamente em TEIXEIRA PINTO.
Jorge Picado
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4620: Estórias de Jorge Picado (8): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (IV): Reunião com o Secretário Geral - Informação