terça-feira, 5 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8053: Efemérides (64): Concelho de Loures: Monumento, Memorial ou Lápide aos Combatentes da Guerra do Ultramar (José Marcelino Martins)

1. O nosso Camarada José Marcelino Martins, (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos, em 5 de Abril de 2011, a seguinte mensagem.

Caros Amigos e Camarada de Armas,

Na sequência de mail, enviando um trabalho sobre o Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures a “Ultramar Terra Web” e “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, com conhecimento aos Presidentes das Câmaras Municipais de Loures e Odivelas e da Liga dos Combatentes, que os publicaram nas suas páginas em 2 e 4 de Março de 2011, respectivamente, fomos contactados pelo Gabinete do Exmº. Presidente da Câmara Municipal de Loures, no sentido de se efectuar a cerimónia sugerida no trabalho, que foram proferidas pelo Capitão Bastos Reis, na cerimónia de inauguração do monumento, em 8 de Dezembro de 1929.

# ultramar.terraweb.biz

02Mar - Concelho de Loures: Monumento, Memorial ou Lápide aos Combatentes da Guerra do Ultramar... É, pois, a esses, os que nesta terra ficaram e os que para cá vieram, que nos dirigimos. É tempo de se “dar vida” ao velho monumento, velho de quase 82 anos, de “dar cumprimento” às palavras do capitão Bastos Reis que falou na “grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra”. de José Martins

# blogueforanadaevaotres.blogspot.com

Sexta-feira, 4 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7897: Monumento aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Loures (José Martins) - Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 1 de Março de 2011…

Assim, com a organização a cargo da Câmara Municipal de Loures e com a nossa modesta contribuição, enviamos o programa/convite para a referida homenagem, que terá lugar junto ao Monumento erguido no jardim fronteiro aos Paços do Concelho de Loures, no dia 10 de Abril de 2011, pelas 10,30 horas.


Programa

Aos Combatentes,
Aos Familiares dos Combatentes,
À População em geral
  • Hastear do Bandeira Nacional no edifício dos Paços do Concelho. O Hino Nacional será tocado pela Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Loures;

  • Oração, pelos militares caídos em campanha, proferida por um Sacerdote da Paróquia de Loures;
  • Alocução por um Combatente, por um representante da Edilidade e um representante da Liga, alusivas ao momento;
  • Colocação de flores pelas Entidades Oficiais, seguidas de quem o quisesse fazer, em redor do monumento;

  • (v) Homenagem aos militares tombados em defesa da Pátria;
  • - Toque de silêncio;
  • - Toque a mortos em combate;

  • - Toque de alvorada;
  • Fim da cerimónia com a entoação do Hino Nacional.
[...] É, pois, a esses, os que nesta terra ficaram e os que para cá vieram, que nos dirigimos. É tempo de se “dar vida” ao velho monumento, velho de quase 82 anos, de “dar cumprimento” às palavras do capitão Bastos Reis que falou na “grande dívida moralmente contraída por todos, aqueles que não foram à guerra” e “incentivava os combatentes a juncar de flores, todos os anos, este monumento” e, com o pensamento nos nossos camaradas [...]

José Marcelino Martins
Combatente na Guiné em 1968/1969/1970
Sócio da Liga dos Combatentes nº 80.393
josesmmartins@sapo.pt
Odivelas, 4 de Abril de 2011
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série > 18 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7962: Efemérides (62): 17 de Março de 1971, o regresso casa, no T/T Uíge, cansados da guerra: foi há 40 anos! (Tony Levezinho / Humberto Reis / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8052: O nosso blogue em números (8): Atingimos hoje os dois milhões e meio de visitas, na véspera de fazermos 7 aninhos (no próximo dia 23)...


Blogue Luís Graça & Camaradas > Estatísticas > Visitas de Julho de 2010 a Março de 2011




Blogue Luís Graça & Camaradas > Estatísticas > Visitas, por país, de Julho de 2010 a Março de 2011



Portugal
533 273
Brasil
88 331
Estados Unidos
17 910
França
16 130
Alemanha
5 555
Canadá
5 474
Espanha
2 604
Reino Unido
2 601
Dinamarca
2 457
Holanda
1 483


Fonte: Blogger (2011)


Amigos, camaradas, camarigos, estimados leitores: Na véspera de o nosso blogue fazer 7 anos (em 23 de Abril próximo), atingimos hoje a cifra dos 2,5 milhões de visitas (segundo as estatísticas da Brevenet)... Entretanto, desde que o Blogger nos começou a contar, temos mais de 700 mil visitas, desde Julho de 2010 a Março de 2011, o que dá uma média (mensal) de 78500, um pouco menos de 2600/dia (uma frequência que se mantém constante, sendo sempre maior no início da semana e menor no fim de semana). Quanto a comentários, ultrapassámos os vinte mil (desde Maio de 2010, segundo creio)...

Por país, além de Portugal (em lugar destacado, como seria de esperar), temos o Brasil, os Estados  Unidos, a França e a Alemanha, nos cinco primeiros lugares (e no que respeita a visitas). Em 6º, o Canadá. Não conhecendo em detalhe o nosso público, acreditamos que sejam maioritariamente antigos camaradas de armas da Guiné, familiares e amigos. 


Estes números valem o que valem. Não nos deslumbram. Não nos envaidecem. Também não nos desencorajam. Devem ser interpretados com cautela, humildade, honestidade. Se querem dizer alguma coisa, não nos compete a nós fazer essa leitura. 


A todos os que nos acompanham, diariamente, deixamos aqui as nossas felicitações pelo seu interesse, carinho e  fidelidade. Esperamos continuar a merecer a atenção dos nossos leitores. Para isso precisamos de novos membros da Tabanca Grande que se disponham a partilhar connosco as suas história, memórias, fotos e outros documentos referentes fundamentalmente ao período em que estivemos na Guiné, grosso modo entre 1961 e 1974. Felicitações para a equipa que faz todos os dias este blogue, incluindo os nossos colaboradores permanentes, autores e comentadores.  O editor e administrador, Luís Graça.
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Guiné 63/74 - P8051: Mais um bravo da Ponte Caium, o Rocha, trazido pela mão da filha, Susana Rocha... Obrigada por tudo ! (Cristina Silva, filha de Jacinto Cristina, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74)



1973 ou 1974 > A Cristina, quando criança, posando para a fotografia, folheando o álbum de seu pai, Jacinto Cristina, na altura destacado na Ponte de Caium, subsector de Piche, Zona leste da Guiné  (CCAÇ  3546, 1972/74)...  A Cristina já era, portanto, nascida quando o pai foi mobilizado para a Guiné.


Foto: © Jacinto Cristina (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1. Da nossa amiga Cristina Silva, filha do nosso camarada Jacinto Cristina (e que o representa aqui,  no nosso blogue, já que ele não tem email nem acesso fácil à Internet), mensagem com data de 3 do corrente:


Queridos Amigos


Estive a ver o blogue, fiquei feliz por mais um Camarada da Guiné  ter "aparecido" [, o Rocha,pela mão de sua filha, Susana Rocha] (*). São extraordinárias as histórias vividas pelos Soldados de então e que são contadas nesse espaço fabuloso onde eu também pertenço e parte da minha história, leia-se da do meu pai, enche de orgulho a família e desperta a curiosidade dos amigos.


Faltam-me palavras para lhe agradecer, [ao Luís,]   o carinho com que tem transcrito as memórias do meu pai e a amizade... os presentes no blogue nos dias de aniversário... Emoções que hoje são fortes para quem ouviu aventuras contadas durante mais de 30 anos. Muitas mais, foram as vezes que eu folheei os álbuns e contemplei fotografias de outro mundo e pensava no meu pai, na Guerra! 


É um turbilhão de sentimentos. Dou graças a Deus por ele ter voltado, são e salvo, para junto de mim e da minha mãe. Apesar de estar hoje longe deles, tento viver, ao máximo, perto.


Espero que estejamos todos juntos em breve! (...)


Da amiga, Cristina


PS: Não consigo enviar comentários para o blogue, não sei porquê.


2. Comentário de L. G.:


Querida Cristina: É espantoso (leia-se: maravilhoso) que sejam vocês, as filhas dos nossos camaradas, a trazer "pela mão" até ao blogue os vossos pais, nossos camaradas... Vocês são já filhas da Galáxia da Internet. Os vossos pais são filhos de outra Galáxia, a de Gutemberg... Muitos deles são se sentem confortáveis a teclar num computador... É o caso do teu pai, e agora do Florimundo Rocha, de cuja história nada saberíamos se não fora a a sua filha Susana Rocha (já nascida depois da guerra)...


Obrigado, Cristina, pela ternura das tuas palavras. Pela parte que me toca, limito-me a cumprir um dever de memória. Na realidade, é um dever de todos nós, antigos combatentes no teatro de operações da Guiné: um dever para com os que morreram, um dever para os que sobreviveram e regressaram, e que durante dezenas de anos, como foi o caso do teu pai, não tiveram com quem partilhar aqueles segredos, cumplicidades e emoções que só se partilham com camaradas de armas...


Quanto aos comentários, aqui ficam algumas dicas... Espero que ajudem e que apareças mais vezes. O nosso blogue fez-se também para encurtar distâncias... Um beijinho e até à próxima, em Lisboa, no Funchal ou em Figueira de Cavaleiros...



Comentar é FÁCIL, sob o velho e frondoso poilão da Tabanca Grande...


(i) As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o proprietário e editor do blogue, bem como os seus co-editores e demais colaboradores permanentes.

(ii) Camarada, amigo, simples leitor: Podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... (De preferência sem erros nem abreviaturas; evitar também as frases em maúsculas).

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares DUAS VEZES... 


(iii) Tens uma "caixa" para escrever o teu comentário que será publicado instantaneamente, sem edição prévia, sem moderação, sem "censura"... No caso de teres uma conta no Google, deves usar essa identificação. Mas também podes entrar como "anónimo" (desde que ponhas no final da mensagem o teu nome, localidade e endereço de email válido, não oferecendo a tua identidade não ofereça qualquer dúvida aos editores).


Se voltares ao blogue, encontrarás logo a mensagem que lá deixaste. Repete as operações acima descritas para visualizar o teu comentário.  (...)
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Nota do editor:


(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 >Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973

Guiné 63/74 – P8050: Recortes de imprensa (41): Assistência religiosa ao pessoal (açoriano) da CCE 274, 1962/64 (Manuel F. de Almeida/Carlos Cordeiro)

1. O nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-combatente em Angola, onde cumpriu a sua comissão como Fur Mil Inf no Centro de Instrução de Comandos, nos anos de 1969/71, professor universitário em Ponta delgada, e irmão do malogrado João Costa Cordeiro, ex-Cap Pára, CCP 123 / BCP 12, Bissalanca, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem.

Camaradas,


Envio-vos excertos (com devida vénia) de um artigo de Manuel Ferreira de Almeida, publicado no semanário Açoriano Oriental, em 28 de Dezembro de 1963.

O capitão Adérito Augusto Figueira é General na reserva e o Manuel Ferreira de Almeida morreu há alguns anos. O Durval Faria está a organizar um encontro de confraternização da CCE 274 no BII 18, a realizar em 23 do corrente.


Fonte: Diário dos Açores, 4 de Fevereiro de 1964

Em 29 de Julho de 1961, partia de Ponta Delgada com destino a Lisboa, a Companhia de Caçadores Especiais 274, formada no BII 18 e comandada pelo Cap Inf Adérito Augusto Figueira. 

Depois de cerca de seis meses de instrução no então designado Campo de Instrução Divisionária de Santa Margarida, partiram para a Guiné no paquete “Índia”. Regressaram a Ponta Delgada, no “Lima”, em 3 de Fevereiro de 1964. 

No Arquivo Histórico Militar não se encontra a história desta Companhia, nem tampouco no BII 18. Nas consultas que tenho vindo a fazer na imprensa açoriana da época sobre as unidades militares mobilizadas pelos Batalhões Independentes de Infantaria 17 (BII 17), de Angra do Heroísmo e 18 (BII 18) de Ponta Delgada, dei com este artigo intitulado “Da Guiné: A assistência religiosa junto dos soldados da C. C. E. n.º 274”, da autoria do sargento Manuel Ferreira de Almeida e publicado no então semanário Açoriano Oriental, em 28 de Dezembro de 1963. 

Ferreira de Almeida era natural de Ponta Delgada e um colaborador assíduo da imprensa micaelense. Considerando que se trata de um assunto pouco focado no blogue, achei que talvez fosse importante transcrever as partes mais significativas do artigo.

Carlos Cordeiro

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A assistência religiosa junto da Companhia de Caçadores Especiais 274 (CCE 274)
por Ferreira de Almeida

Açoriano Oriental, 28 de Dezembro de 1963.

Um dos problemas de maior importância na vida do militar em serviço nas províncias ultramarinas é o da assistência religiosa, principalmente para aqueles que, encontrando-se destacados no mato, poucas possibilidades têm da presença de um ministro de Cristo. A criação do corpo de capelães nos diversos ramos das Forças Armadas muito veio contribuir para um mais expressivo e eficiente levantamento moral das tropas […].

Principalmente para nós, açorianos, que fomos criados na religião cristã e filhos de ilhas devotadamente consagradas ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, muita falta nos fazia não ouvir a palavra de Deus.Desde que chegámos à Guiné temos recebido a assistência do capelão do Batalhão de Caçadores Especiais n.º 356, sr. Alferes Padre Armando Jorge e Silva, que tem acompanhado todas as iniciativas dos soldados marienses e micaelenses na evocação e comemoração das suas festas religiosas, como a dedicada ao Senhor Santo Cristo, em que se realizou na Sé Catedral de Bissau uma missa solene, na Páscoa em que foi ministrada a comunhão aos oficiais, sargentos e praças da Companhia e por ocasião da Festa da Natividade em que foi organizada na sede do Batalhão a Missa do Galo, depois da representação do Auto do Bom Pastor.

Depois da transferência da Companhia para Fulacunda, os nossos soldados construíram no aquartelamento uma modesta capela em cujo altar está a Imagem do Senhor Santo Cristo, trazida de S. Miguel e a de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, oferecida pela Mocidade Portuguesa Feminina da metrópole à Vila de Fulacunda.

O que muito nos sensibilizou também foi a assistência prestada pelo capelão do Batalhão de Caçadores n.º 237, estacionado em Tite, sr. Tenente Padre Joaquim do Rego, natural da freguesia da Bretanha [S. Miguel, Açores] […].

Em virtude das distâncias, dificuldades de transportes e escasso número de capelães, os soldados nem sempre podem contar com a presença do padre, de modo que, na nossa Companhia, se adoptou a seguinte norma: aos domingos e dias santificados, pelas 11 horas, momentos de devoção e leitura da Epístola e do Evangelho pelo sargento Ferreira de Almeida, e todos os dias, pelas 20H30, a recitação do terço, sob a direcção do 1.º cabo n.º 376/61, José Manuel Pimentel de Paiva, natural das Furnas, e que tem sido também o coadjutor dos sacerdotes em todos os actos de culto.

A grande força que nos tem mantido unidos ao longo dos trinta meses que a C. C. E. n.º 274 está constituída tem sido a nossa acrisolada Fé em Deus, as saudades das nossas ilhas e o desejo de erguer bem alto o nome dos Açores e de Portugal.

Ferreira de Almeida

[ Revisão / fixação de texto / selecção: C.C.]
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Nota de M.R.:


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8049: Agenda Cultural (114): Eu sou África, um documentário dedicado ao Cantanhez, à AD - Acção para o Desenvolvimento e a um homem especial, o nosso amigo Pepito, na RTP2, 9 de Abril, sábado, 19h00

1. Mensagem do nosso amigo Pepito, com data de hoje

Assunto - Eu sou África, na RTP2

Caro Pessoal
No próximo dia 9 de Abril (sábado) pelas 19h00, a RTP 2 vai passar uma reportagem sobre a AD no sul do país (Parque Nacional de Cantanhez). Dura 30 minutos.

É ocasião para os que já o conhecem, revisitarem este local fabuloso. Para os que ainda não foram lá, comecem a fazer as malas para vir cá.
abraços a todos 
pepito


2. Informação recolhida no sítio da RTP sobre este programa (Eu Sou África, RTP2, 2011)

Género: Documentário
Ficha Técnica: Produção: Vitrimedia: Realização: Maria João Guardão

A história de 10 pessoas contada em episódios

Eu Sou África é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. 

Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de um(a) africano(a) implicado(a) na história e no desenvolvimento social,  político e cultural do país onde nasceu. Eu Sou África revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. 

Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser. O último episódio é dedicado à Guiné-Bissau e a um dos seus filhos, co-fundador e director executivo da ONG AD- Acção para o Desenvolvimento.

Carlos Schwarz da Silva [Pepito]

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento.

Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um homem grande.

Testemunha o 25 de Abril frente ao quartel do Carmo, com a mulher, Isabel Lévy Ribeiro, e juntos regressam a Bissau, determinados a viver intensamente o tempo histórico que lhes coube. Com 25 anos e um diploma na mão, Pepito sabe principalmente que quer mobilizar as pessoas para a acção, mesmo que isso signifique recomeçar inúmeras vezes do zero. Ele e os seus recomeçaram sempre. 


A viagem que fazemos, de Bissau à Floresta de Cantanhez – dois dos pólos de acção da AD – , é uma travessia pela sabedoria de um país repleto de singularidades. “A Guiné Bissau tem trinta e duas etnias: são trinta e duas maneiras de pensar diferente, de dançar diferente, de fazer cultura diferente, de filosofias de vida diferentes. É uma riqueza extraordinária se todas forem consideradas elementos que potenciam a união”. 

São estes saberes que Pepito privilegia – contrariando leis ou métodos impostos pelo exterior –nas reuniões com os mais velhos, na festa com os mais novos, nas conversas com mulheres e homens de experiências variadas, muitos dos quais ousaram seguir as práticas informais e eficazes que a equipa do engenheiro agrónomo foi pesquisando e testando, um projecto que se declina na agricultura e no eco-turismo, mas também nas Escolas de Verificação Ambiental, nas televisões e rádios comunitárias. Nas tabancas do sul, no antigo quartel de Guiledge – marco crucial da luta pela independência, memória viva -, em Quelélé, o que está em marcha é a luta contínua pela cidadania e por condições de vida dignas para os guineenses. 




(Fonte: Adapt. do sítio Eu Sou África) (Com a devida vénia)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8048: Contraponto (Alberto Branquinho) (27): Teatro do Regresso - 2.º Acto - Espécie de Aviador

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 3 de Abril de 2011:

Vai junto o 2º. Acto do "Teatro do Regresso".
Mas, amigo Carlos, teatro não é só comédia. Pode, também, ser tragédia e de tragédias esteve cheio esse "Teatro" durante todo o tempo que esteve em cena.

Um grande abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (27)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

2º. Acto - Espécie de Aviador

Cenário:

Guiné - 1969.
Messe de sargentos.
Sargentos e furriéis sentados em várias mesas, bebendo e conversando.
Alguns jogam cartas.

Personagens:

Dois furriéis milicianos, em primeiro plano, sentados a uma mesa, com várias “bazucas” vazias em cima.
Um deles está deitado sobre a mesa.

Acção

O outro, encostado na cadeira, com uma “bazuca” na mão, leva-a à boca, bebe e diz calmamente:

- Quando chegarmos, vou descansar uns meses e, depois, vou ver se tenho paciência para acabar o Curso de Contabilidade. E tu, o que é que vais fazer na vida civil?

O outro levantou a cabeça da mesa, olhou-o, hesitou um pouco e, com a voz já entaramelada, respondeu:

- Volto… pá… aviador.

- Aviador?!

- Sim.

- Tu tens “brevet”?

- Não. Vou… aviar… na… na loja do meu pai.

- Ah! Já tens trabalho!

- Talvez…

(Cai o pano)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso - 1.º Acto

Guiné 63/74 - P8047: Notas de leitura (225): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Os relatórios de Teixeira Pinto são documentos soberbos para se perceber como a Guiné, reduzida a praças fortes, é uma colónia insubmissa e praticamente ingovernável, no início do século XX.
As resistências são sublinhadas e profeticamente o pacificador apela a um trabalho político de grande profundidade e persistência. Irá voltar para a sua última campanha em 1915, inacreditavelmente a península de Bissau hostilizava a potência colonial.

Um abraço do
Mário


João Teixeira Pinto, a ocupação militar da Guiné (2)

Beja Santos

Concluída a operação do Morés, o capitão Teixeira Pinto tinha à sua frente os revoltosos da região do Cacheu, havia que pacificar e ocupar a região dos Balantas, Papéis e Manjacos. No final do ano de 1913, Teixeira Pinto chega a Cacheu com algumas forças regulares e centenas de auxiliares comandados por Abdul Injai e mais de 50 Grumetes de Cacheu. Temia-se que os rebeldes oferecem-se grande resistência. Já em 1904, o governador Soveral Martins, à frente de 1800 homens, mostrara-se impotente para conter os revoltosos. Desta feita, Teixeira Pinto faz-se acompanhar de uma pequena força naval e utiliza como armamento várias centenas de espingardas e uma peça de artilharia. Faz a seguinte descrição: “A coluna marchava em fila indiana indo na vanguarda 40 auxiliares sob o comando de um chefe indígena, seguindo, a 100 metros, 200 auxiliares, a 100 metros a peça de 7 centímetros apoiada pelos indígenas (soldados) e Grumetes de Cacheu e na retaguarda os restantes auxiliares com o régulo do Oio, Abdul Injai.

A marcha foi bastante penosa, pelo calor asfixiantes que caia, pela falta de água e ainda pelo caminho que era apenas um carreiro irregularíssimo onde várias vezes tivemos que desarmar a peça e transportá-la às costas”. Em Cacheu, apercebeu-se de um ambiente de profunda hostilidade, põe-se em marcha, percorre matas densíssimas dando resposta aos diferentes ataques. Critica o comportamento dos Futa-Fulas e exalta o comportamento de Abdul, a puxar pelos temerosos. A marcha prossegue, destroem-se povoações, arvora-se a bandeira da República, fazem-se prisioneiros, apreendem-se espingardas. Os régulos começam-se a apresentar e aceitam pagar impostos. Do Pelundo prossegue-se para Có cujo régulo foi preso e começou a perseguição ao régulo de Bula, que também foi preso. A operação está terminada em Fevereiro de 1914. Teixeira Pinto segue para a região dos Balantas que ainda não se tinham submetido, a 3 de Março está de novo a caminho do Pelundo sempre acompanhado de Abdul Injai; as lanchas canhoneiras dissuadem os rebeldes e provocam-lhes elevados estragos.


Há neste relatório para o governador passagens de grande interesse, como se exemplifica: “De repente soa uma descarga na frente. Era a vanguarda composta de 20 auxiliares que tinha entrado numa paliçada em forma de arco de círculo reforçada com uma trincheira, tendo a terra da escavação sido lançada junto à paliçada formando parapeito e de dentro os Manjacos atiravam sobre os nossos. Mataram-nos logo 6 auxiliares incluindo o guia e feriram 7, alguns gravemente. Passada a primeira surpresa dividi a coluna em 4 grupos cercando exteriormente a paliçada sendo mortos na trincheira todos os manjacos que guarneciam. Os Manjacos, em número que sem exagero calculei em 10 000, defendiam-se com valentia, não arredando pé, morrendo grupos completos, sem que ninguém fugisse”. Teixeira Pinto coloca novos régulos, apela ao governador para a montagem de linhas telegráficas, sobretudo entre Cacheu e Bissorã. E termina assim: “Resta-me ainda tratar de um ponto. Bater e ocupar é muito mas falta ainda educar. Criar escolas, obrigando os régulos e os grandes a enviarem ali os seus filhos é de uma necessidade imediata. Em todos os postos de oficial há um sargento que poderia ser o professor, arbitrando-se-lhe uma pequena gratificação mensal. Estou convencido que, educado gentio, ele deixaria de se revoltar, o que traria uma era de prosperidade e engrandecimento para esta província. A revoltas dos indígenas é proveniente não só do seu espírito guerreiro mais ainda e principalmente da sua falta de educação”.

De seguida, Teixeira Pinto, sempre acompanhado de Abdul Injai, dirige uma coluna de operações aos balantas entre os rios de Farim e Geba, propõe-se construir um posto militar em Nhacra. Adianta o seguinte comentário: “A raça Balanta está-se reproduzindo de uma maneira extraordinária e não lhe chega já o território ocupado. Assim, a leste, foi-se infiltrando pelo território mandinga e a oeste pelos Papéis e Brames. Os rios de Farim e Geba não obstam à sua expansão. Nota curiosa – não se deixa absorver pelas outras raças, antes pelo contrário elas é que são absorvidas pela raça balanta. O Balanta tem a qualidade de ser valente e trabalhador mas tem os defeitos de ser traiçoeiro, de ser ladrão, de não cumprir os seus compromissos e de cada um se governar a si mesmo não aceitando a autoridade de ninguém. O Balanta é tido na Guiné como o povo mais guerreiro e valente. O povo Balanta não tem régulos; nas tabancas ou povoações não há chefes e cada um manda na sua casa e só respeitam o que tem mais força e o que tem dado provas de ser mais ladrão”.


A operação teve duas fases. Saíram de Bula, desta vez o comando dos irregulares foi dado a Mamadu Sissé, indo na cauda Abdul Injai e dezenas de cavaleiros. Seguiram para Binar a partir daí tiveram lugar as refregas com mortos e feridos. Seguiram para Encheia onde destruíram povoações e depois para Bissorã. Aqui vão dar-se grandes combates. Seguem-se negociações, mas a situação fica no empasse. Na segunda fase, a coluna deslocou-se de Mansoa para Jugudul, a marcha é penosa, em Nhacra terão lugar tiroteios e em Xangué apresentam-se os Balantas com bandeiras brancas, caíram traiçoeiramente sobre os irregulares em resposta foram mortos os assassinos. Teixeira Pinto lembra ao governador que é necessário proibir de vez a venda de pólvora de espingardas e espadas. Apela à renovação do transporte de tropas, os barcos do governo estavam permanentemente avariados o que obrigava a fretar embarcações o que iria lesar as actividades comerciais.

É neste relatório que Teixeira Pinto pede recompensas para o tenente de segunda linha Abdul Indjai, sobretudo a sua nomeação para régulo do Oio, Abdul era ao tempo régulo do Cuor, há muita intriga à sua volta, deveria ser recompensado pelo seu mérito e valentia. Estamos em Agosto de 1914, Teixeira Pinto faz um resumo dos actos de ocupação e das resistências vencidas. Queixa-se de não ter sido devidamente aproveitado pelo ex-governador Carlos Pereira, quando chegou à Guiné. Refere-se aos ódios movidos à volta de Abdul Indjai, sobretudo a ambição do administrador de Farim que pretendia a anexação do Oio à sua circunscrição. Com o governador José Andrade Sequeira, foi nomeada uma comissão de quatro oficiais que não encontrou nada contra o comportamento de Abdul Injai. Só com a retirada de Teixeira Pinto da Guiné é que começou a perseguição a Abdul, que o militar deplora e depõe a seu favor: “Tenho-me sacrificado pela Guiné, recusei convites, não quis a minha percentagem de imposto de palhota que ofereci à província, tudo isto faço com prazer para conseguir a ocupação definitiva da Guiné”. E termina assim o seu relatório datado de 11 de Dezembro de 1914: “A Guiné será a pérola das colónias portuguesas pela sua riqueza e pela sua situação depois de bem ocupada e bem administrada”.

Teixeira Pinto voltará à Guiné para a sua última campanha, em 1915: contra os Papéis e Grumetes revoltados da ilha de Bissau.

(Continua)
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Nota de CV:

2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8038: Notas de leitura (224): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8046: Blogpoesia (140): Tabancas e Tabanqueiros (Manuel Maia)

1. Homenagem às nossas Tabancas, de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviada em mensagem de  30 de Março de 2011:


TABANCAS E TABANQUEIROS

Monte Real é império do cozido,
nos Melros há um cardápio bem sortido,
e a "Linha" faz do peixe uma bandeira...
Sardinha assada reina em Matosinhos,
p`ra além, claro está, d`outros peixinhos
e das famosas tripas, "à maneira"...


Monte Real por soba tem Mexia,
acolitado pela "confraria"
no ataque à vitualha ultra famosa...
Do grupo Gil e Silva (bela sede...)
Solar dos Melros, justas meças pede,
deguste da lampreia ali se goza...

Na "Linha", é Zé Dinis cipaio-mor,
que os pratos já conhece até de cor,
tal frequência tem daquele espaço...
P`ra Matosinhos régulo votado,
Álvaro Basto, um "garfo bem tratado",
comanda "camarigos" do abraço...
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8037: Blogpoesia (139): Eusébio, o babuíno de Bissum (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P8045: Memória dos lugares (151): Bedanda 1972/73 - O Seis do Cantanhez (António Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 11 de Março de 2011:

Camarigos em geral e Bedandenses em particular:
Hoje encontrei um dos meus antigos baús de recordações e fui lá encontrar uma verdadeira preciosidade. O primeiro número do "Seis do Cantanhês" (também só saíram dois números, que eu me lembre), o jornal mensal da CCaç 6.

Infelizmente, naquele tempo, o formato do papel (ainda não globalizado), era ligeiramente superior ao actual A4, razão pela qual se torna dífícil a sua digitalização, sem cortar partes laterais do texto.
Depois também se torna complicado resistir ao tempo, o que fez com que os textos em partes tenha quase desaparecido.
De qualquer maneira tentei e resolvi compartilhar com vocês algumas das páginas desse nosso jornal.

E já agora, quero também aproveitar para informar todos os camarigos bedandenses que em breve irei postar mais algumas fotos, na tentativa de alguém reconhecer ou reconhecer-se, para que haja possibilidade de os contactar tendo em vista o nosso encontro. Agradecia também que todos os já contactados me informem, a mim ou ao Vasco, das pessoas com quem mantêm contacto e que claro, estejam interessados neste encontro.

Um grande abraço para todos.
António Teixeira



(Clicar nas imagens para as ampliar)
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Nota de CV:

(*)Vd. último poste de 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7938: Memória dos lugares (146): Bedanda 1972/73 - Natal de de 1972 (António Teixeira)

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8011: Memória dos lugares (150): O Porto do Portojo ou "a vida em fotos, olhar à minha volta e tentar perceber... ” (Jorge Teixeira / Vasco da Gama)

Guiné 63/74 - P8044: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (2): Afinal, os Anjos acompanham-nos

1. Mais um dos Episódios da Guerra na Guiné, trabalho do nosso camarada e Manuel Sousa (ex-Soldado At da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


EPISÓDIOS DA GUERRA NA GUINÉ 1973/1974 (2)


AFINAL, OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS

Enquanto o meu Pelotão esteve deslocado da sua Companhia, de Jumbembém, envolvido nos acontecimentos de Guidage que acabei de relatar, permanecemos no quartel de Binta.

Como já descrevi, ali ficámos mais de uma semana a ração de combate, sem tomar banho e mudar de roupa, a dormir no chão, o que, juntamente com todas aquelas emoções em teatro de guerra, no fim daquele período, nos deu o aspecto que a minha fotografia bem ilustra.

No meio daquele clima de guerra, algo de útil aprendi sobre generosidade e solidariedade humanas.
Travei conhecimento em Binta com um militar, o Soldado Pires, que tínhamos em comum sermos ambos transmontanos.
Pertencíamos ao mesmo batalhão, mas como ele estava em Binta e eu em Jumbembém não nos conhecíamos, muito embora a fisionomia dele não me fosse estranha, porque frequentou a recruta em Vila Real como eu e do facto de termos viajado juntos no paquete “Uíge” na ida para a Guiné.

Ele como “estava em casa” tinha a alimentação normal, confeccionada, e eu como estava deslocado tinha a minha ração de combate.
Um dia à hora do almoço, estava eu a comer uma lata de conserva e umas bolachas de água e sal, apareceu-me ele com um prato na mão com a refeição confeccionada que lhe tocava:

- Toma, é para ti, estás aqui há tanto tempo a ração de combate, dou-te a minha refeição que te vai fazer bem.

É indescritível a comoção que me assaltou. Aliás, o mesmo aperto de garganta que estou a sentir agora ao escrever estas palavras.
Aquele gesto de generosidade não se limitou só àquela vez, a ponto de eu algumas vezes recusar, não querendo abusar da nobreza do seu carácter.

Escusado será dizer a amizade que se criou entre nós, naquele tão curto espaço de tempo.
A partir dali nunca mais tive contacto com ele. Terminada a comissão, regressámos à Metrópole, em Agosto de 1974.

Volvido um ano, em Setembro de 1975, ingressei na Guarda Nacional Republicana e fui colocado em Lisboa no Quartel dos Lóios, junto ao castelo de S.Jorge.

Entretanto constituí família e aluguei uma casa em Casal de Cambra, na freguesia de Belas, Sintra.
Uma casa geminada com outra igual, cujo senhorio era o mesmo, que me disse que a outra casa tinha sido alugada também por um Guarda a prestar serviço no Quartel do Beato, também em Lisboa.

Decorreu um lapso considerável de tempo, talvez um mês, sem eu conhecer o outro inquilino: estávamos em quartéis diferentes, turnos diferentes, não se proporcionando por isso qualquer contacto de vizinhos.

Um dia ao sair de casa, olhei para a direita e imaginem quem estava encostado à ombreira da outra porta, da tal casa geminada! O soldado Pires em pessoa.

O que se passou depois, já todos vós estais a imaginar. Afinal os anjos acompanham-nos.

Não resisti a partilhar convosco esta lição de vida.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8035: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (1): A crise de Guidage