sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12299: Memória dos lugares (254): Uma rua de Cacheu, em 1993, com o edifício da antiga Casa Gouveia (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 1993 > Fotograma nº 1 > Rua da antiga Casa Gouveia 


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 1993 > Fotograma nº 2 > Rua da antiga Casa Gouveia 


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 1993 > Fotograma nº 3 > Fachada da antiga Casa Gouveia 


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 1993 > Fotograma nº 4 > Fachada da antiga Casa Gouveia 


Fotos: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.).
1. Mensagem, de ontem, do António Bastos (ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

Luís, cá estou novamente, essas fotos são de Março de 1993, foram tiradas dos vídeos que eu fiz na altura.

Voltei à Guiné em 2000, e por último em 2008 quando foi o Simpósio Internacional de de Guileje 28 de março de 2008]. Aliás,  eu mandei-te já há muito tempo uma foto quando íamos no avião a caminho de Bissau.

Eu não fui a Guileje, andei pelo Norte, mas estive no Hotel e fui também à audiência com o 1º Ministro  e depois com o Nino. Tenho isso tudo em vídeo.

Um abraço e sempre ao dispor para ajudar em alguma coisa.
António Paulo.


2. Em 13 do corrente, o Carlos Silva tinha-nos mandado a seguinte mensagem:

Luís e Paulo Bastos

Do álbum do Paulo Bastos, que ele me enviou para inserir no meu site, não consta qualquer foto relativamente à casa, mas pode ser que os camaradas do pelotão dele tenham e são de 1964/65.
Portanto, daqui apelo ao Paulo Bastos se possível que faça essa diligência, pois eu não conheço mais rapaziada que estivesse por lá.
Um abraço,
Carlos Silva.

3. Comentário de L.G.:

Amigos e camaradas:
Estamos a fazer progressos, neste caso recuando no tempo... Estas imagens (, fotogramas de um vídeo do António Paulo Bastos)  são já de 1993!... Nessa altura a casa tinha uma espécie de telheiro (ou alpendre) sobre a entrada principal no piso térreo... Era, como diz o Pepito, uma casa de sobrado o que, no Brasil significa "andar de casa, propriamente andar com balcão ou varanda saliente.

Fonte: "sobrado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/sobrado [consultado em 15-11-2013].

Enfim, para os engenheiros e arquitectos da equipa técnica do projeto, são mais umas achegas importantes para se 'reconhecer' aspectos da fachada. Alguns aspetos do interior do edifício (que irá albergar o Museu da Escravatura e Tráfico Negreiro de Cacheu, podem ser vistos aqui).
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de novembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12286: Memória dos lugares (253): Cacheu, centro histórico, antiga Casa Gouveia, futuro Memorial da Escravatura (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P12298: Notas de leitura (534): Escravos e Traficantes no Império Português, por Arlindo Manuel Caldeira (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
Esta obra de leitura compulsiva poderá contribuir para dissipar muita dúvida que possamos ter à volta do comércio negreiro. O historiador desmantela certos preconceitos, insere o fenómeno na história das mentalidades, a ponto de ficarmos a saber que deste tráfico beneficiavam a família real, os membros do Governo, a aristocracia, os grandes comerciantes e o clero.
Tudo começou nos “rios da Guiné” e a obscura história da Guiné portuguesa tornar-se-ia mais incompreensível se não se atendesse ao papel de feitorias como as que se situaram na Goreia (no Senegal), em Cacheu, no Rio Grande de Buba. E vale a pena conhecer os grandes negreiros, alguns deles filantropos importantíssimos como o Conde de Ferreira.

Um abraço do
Mário


Escravos e traficantes no Império Português, o caso da Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

Como se referiu no primeiro texto dedicado ao livro “Escravos e Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2013, estamos perante uma obra de indiscutível importância para se conhecer sem preconceitos ou falsas moralidades a extensão da participação portuguesa no chamado “infame comércio”.

O historiador Arlindo Caldeira estruturou cuidadosamente a investigação laboriosa que levou a cabo, fez bem ter começado por clarificar a natureza da escravatura e como esta já existia antes do tráfico atlântico, conduzido inicialmente por portugueses e espanhóis. Deixou esclarecido que nem portugueses nem espanhóis estavam em condições de interferir nas contendas regionais, estabeleceram acordos com alguns chefes, comercializaram os bens que nestas paragens eram mais apetecidos, como cavalos, manilhas de cobre, quinquilharia, armas de fogo e cavalos. E igualmente se esclareceu que o comércio da Senegâmbia foi muitíssimo inferior àquele que se exerceu no golfo da Guiné.

Quanto ao perfil dos mercadores, armadores e contratadores, o historiador refere que “Em Cabo Verde, em S. Tome e Príncipe ou em Angola, durante o Antigo Regime, todos os homens livres, independentemente do estatuto social ou da cor da pele, desde que dispusessem de um mínimo capital, estavam ligados, direta ou indiretamente ao tráfico de escravos”. Nada como exemplificar com o negociante da Guiné que veio a enriquecer no Perú. Tratava-se de um cristão-novo, Manuel Batista Peres. Nasceu em 1591, em Ançã, distrito de Coimbra. Seguiu para Sevilha aos 11 anos e na maioridade regressou a Lisboa. Embarcou para a Guiné e fixou-se no Cacheu. Dedicou-se a comprar escravos e exportá-las para as Índias de Castela. Em 1618 abandonou a costa de África em direção a Cartagena das Índias. Não foi de mãos vazias. No navio que partiu de Cacheu (a nau Nossa Senhora do Vencimento), de que era dono e capitão transportava 509 escravos e durante a travessia morreram 90.

A cidade de Cartagena, neste tempo, era um dos mais animados centros económicos das américas. O afluxo de metais preciosos, de pérolas e de esmeraldas, bem como os negócios de tabaco e plantas tintureiras, ajudaram Cartagena a tornar-se uma cidade dinâmica e cosmopolita. O tráfico de escravos era uma atividade muito importante e exercida preponderantemente por grandes comerciantes portugueses, a mercadoria humana era reexportada para o Caribe e o interior do continente. Será nestes circuitos cercados que o comerciante de Cacheu irá inserir-se. É seu sócio e mais tarde seu cunhado Sebastião Duarte, vindo dos rios da Guiné, outro cristão-novo. Batista Peres soube diversificar os seus investimentos que abarcavam a exploração de minas de prata. Fez crescer a fortuna, era culto e tudo indicava ser um católico fervoroso. Em 1635, porém, aquele mundo de prosperidade desabou para Batista Peres, o Santo Ofício acusou os cristãos-novos portugueses de práticas judaizantes e de estarem mancomunados numa tenebrosa conspiração para dominarem a América Espanhola. Batista Peres foi detido, e não lhe valeram as testemunhas que vieram em sua defesa. Durante quatro anos, sofreu todo o tipo de interrogatórios e humilhações, manteve-se firme até ao fim. Foi queimado vivo em 1639, muitos dos incriminados foram expulsos da América Espanhola. Como refere o historiador, a fama dos portugueses monopolizarem no vice-reinado do Perú o tráfico de escravos fora-lhes fatal.

Vejamos agora o comércio negreiro ao tempo do Marquês de Pombal. Em 1755 foi criada a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, companhia privilegiada que ficava com o exclusivo do fornecimento de escravos às capitanias do Pará e Maranhão. Entre muitos privilégios que lhe foram concedidos, contava-se o direito a dispor de navios da armada real. A Companhia procurou instalar uma poderosa rede comercial que abraçava a Europa, a África e a América do Sul. Aqui entra a Guiné. Para o resgate de escravos nas costas de África recebeu o comércio exclusivo das ilhas de Cabo Verde e da Costa da Guiné, desde o cabo Branco até ao cabo das Palmas. Estabeleceu as suas bases estratégicas em quase todas as ilhas de Cabo Verde, na Serra Leoa, em Cacheu, em Bissau, em Luanda e em Benguela. Entre 1756 e 1788, a Companhia transportou para o Brasil cerca de 30 mil escravos. Desses escravos, mais de dois terços eram provenientes dos “rios da Guiné” (entre o rio Casamansa e a Serra Leoa). No fim dos anos 1750, foi criada a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, que em pouco tempo ficou com o campo livre para operar quase exclusivamente em Angola. Entre os acionistas das duas companhias estava a nata da sociedade portuguesa. No topo, a família real. D. José I subscreveu 50 ações da Companhia de Pernambuco e Paraíba e sua mulher, D. Marina Vitória de Bourbon, filha do rei Filipe V de Espanha, possuía o mesmo número de ações da Companhia do Grão-Pará e Maranhão. Por sua vez, Sebastião José de Carvalho e Melo e a mulher, D. Leonor Ernestina Eva Josefa Wolfgang, condessa de Daun, tinham ambos ações da Companhia do Grão-Pará. Eram acionistas membros do Governo, da nobreza e até bispos. Entre os acionistas da Companhia do Grão-Pará e Maranhão surgem as abadessas e religiosas dos conventos da Nossa Senhora da Nazaré (Setúbal) e de Santa Apolónia (Lisboa), a congregação do Oratório da cidade do Porto ou o recolhimento de Nossa Senhora da Conceição (Penafiel).

Arlindo Caldeira com este admirável livro prestou um grande serviço à cultura portuguesa, escalpeliza as mentalidades, os interesses e mostra a miríade de tensões que trouxe o abolicionismo da escravatura, tanto em Portugal como no Brasil, mostra estatísticas e como tudo se passou até à ilegalização do tráfico. Nesta última fase, o transporte dos escravos cresceu em desumanidade, a clandestinidade levava a esconder escravizados nos lugares mais inimagináveis; para alijar culpas no momento da captura, as tripulações eram capazes de recorrer a qualquer expediente, incluindo a eliminação física dos escravos embarcados. É uma leitura palpitante e desconcertante, até ficamos a saber que o famoso filantropo Conde de Ferreira foi um importante traficante de escravos, acionista de várias companhias de seguros marítimos e com uma apreciável diversificação de investimentos. Não tendo herdeiros diretos deixou da sua imensa fortuna uma grossa fatia para solidariedade social, contemplando hospitais, asilos e misericórdias em Portugal e no Brasil, um fundo para a criação de 120 escolas primárias e a construção e manutenção de um hospital psiquiátrico ainda hoje em funcionamento na cidade do Porto. É uma leitura assombrosa que a todos se recomenda.
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 11 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12276: Notas de leitura (533): Escravos e Traficantes no Império Português, por Arlindo Manuel Caldeira (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12297: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (77): Dois antigos camaradas da mesma unidade (CCAÇ 12), mas de épocas diferentes, sem grande tempo para se encontrarem em Lisboa, partem sábado, no mesmo avião, para Luanda, onde vão em trabalho...




CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Contubowel, Bambadinca e Xime, 196974) > Ficha de unidade 



1. Eis uma aqui uma inesperada troca de mensagens entre mim e o António Duarte , meu "neto, na CCAÇ 12 [, foto à esquerda,] , pois ele é da "geração", de 1973/74, enquanto eu sou um dos "pais-fundadores" (1969/71)... A seguir a estes, veio a "geração" de quadros de 1971/72... Aliás, éramos todos de "rendição indvidual"... O António Duarte é um membro sénior da nossa Tabanca Grande, acompanha-nos, pelo menos, desde 11/5/2006... mas sempre com grande discrição. Creio que só nos encontrámos um a vez ou duas,  sendo a primeira num 10 de junho... Mas vamos trocando alguns mails.

Ele agora teve a gentileza de me mandar uma cópia, em pdf, da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), que veio render o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), o qual por sua vez substituiu o primeiro batalhão com que trabalhámos (BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70).

Trocando impressões um com o outro sobre a "nossa" CCAÇ 12, acabámos por descobrir que partimos no sábado, no mesmo avião, para Luanda, em trabalho... (LG)

(i) António Duarte, 1/11/2013

Camaradas: Tal como tinha assumido, segue em anexo a história do BART 3873, já em pdf. O documento em causa estava à época classificado de "Confidencial", mas obviamente que,  passados estes já quase 40 anos, tal já não terá impacto/importância jurídica.

Chamo a atenção especial do Luís Graça, que vai ter a oportunidade de reviver quase ao vivo e em directo, os feitos da "sua/nossa" CCAÇ 12 de janeiro  de 1972 a março de 1974.

Abraços com amizade
António Duarte
Cart 3493 e Ccaç 12 

(ii) Luís Graça, 1/11/2013

Obrigado, António. Se publicar alguma excerto que valha a pena, associarei sempre o teu nome... O seu a seu dono. Estou-te muito grato pelo teu gesto. Um abração. Luis.

PS - Lembras-te do teu capitão na CCAÇ 12? Quem era, no teu tempo? Tens fotos dele? Mais: tens fotos tuas e dos nossos antigos soldados que queiras divulgar?

[Foto à direita: fur mil Henriques com o sold
condutor Dalot, na estrada de Bambadinca-
Mansambo-Xitole, outubro de 1969]


(iii) António Duarte, 3/11/2013

Boa noite, Luís

Obrigado pela tua gentileza, mas utiliza o material da maneira que entenderes e não necessitas de me mencionar, pois eu fui um mero guardião deste material.

Quando cheguei, em janeiro de 1973, o capitão da CCAÇ 12 era o Bordalo, homem do quadro, que suponho ser originário de Lamego. Os vossos substitutos [, a 2ª geração,] tinham grande admiração por ele. O nome completo está algures na história do BART 3873, que simultaneamente também tem a história da nossa CCaç 12. (O Mexia Alves já o mencionou num poste).

Em fevereiro de 1973 o novo capitão foi o José António Campos Simão, à época recrutado a "martelo", para capitão a partir do COM (não me recordo se o curso era o de comandantes de companhia ou o curso de capitães, um deles era destinado a ex-alferes que não tinham sido mobilizados, que não era o caso, pois o Simão era estudante de medicina).

O nosso relacionamento foi muito agradável, até final da minha comissão, janeiro de 1974.

Sei que é médico ortopedista e parece-me que trabalha,  muito provavelmente, em Évora. Não tenho o contacto dele.

Quanto a fotografias, a seu tempo aparecerão, pois estou na fase de transformação de slides em fotos digitais.

Demorarei ainda algum tempo, pois todo o espólio da minha ida à guerra estava (ou ainda está) mais ao menos a "monte". 

Atualmente estou ligado a um projeto profissional em Angola que me ocupa bastante. Irei ainda lá este mês, onde permanecerei cerca de duas semanas. Quando regressar vou meter mãos à obra. Fica consciente que tu és o "responsável" por esta viagem ao baú da minha memória... 

 Abraços, António Duarte.

(iv) Luís Graça, 4/11/2013

Bom, dia, António. Muito me contas!... Espero que este "regressso ao passado" só te faça bem... De qualquer modo, temos também o "dever de memória"... Estou-te grato pela tua generosidade...

Fico a saber que vais a Angola este mês. Eu vou lá desde 2003. Parto no próximo dia 16 e volto a 23... Estarei na Clínica da Sagrada Esperança, na Ilha de Luanda, a dar um módulo do I Curso de Especialização em Medicina do Trabalho... Diz-me quando vais...

Abraço fraterno, Luis

(v) António Duarte, 4/11/2013

Bom dia, Luís. Vou também a 16, na TAP à noite. Confirma se vais às 23h e 15m.

Eu vou lá exclusivamente dar formação para bancários e vou por intermédio do Instituto de Formação Bancária, escola onde dou aulas desde 1991, com uma interrupção de alguns anos, quando fui diretor comercial da zona centro de uma empra de leasing.

Só este ano é que tenho ido a Angola, pois reformei-me do banco em dezembro passado. Esta será a quinta vez e normalmente fico lá perto de duas semanas. Desta vez regressarei a 28 também na Tap. Vou ficar hospedado no Skyna.

Abraços, António Duarte.

(vi) Luís Graça, 4/11/2013

Como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Vamos os dois no TP 289... Vou com dois  colegas da ENSP/UNL. Voltamos a 23, à noite. Ficamos na Clínica da Sagrada Esperança, na Ilha. Fica com o meu nº de telemóvel (...). Haveremos de conversar. Abraço. Luís
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12296: Parabéns a você (652): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Material da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Cor Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12288: Parabéns a você (651): César Dias, ex-Fur Mil Sap Inf do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 (Guiné, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enf.ª Paraquedista (1961/1970)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12295: Os nossos seres, saberes e lazeres (61): Tao Te Ching, o livro da sabedoria, na RTP 2, programa Agora, com o nosso António Graça de Abreu, no passado dia 3

1. Mensagem de António Graça de Abreu, com data de 9 do corrente:

 Assunto - Tao Te Ching na RTP 2, programa "Agora" de 3/11/2013

É só copiar o link [, programa Agora, RTP 2, emissão de 3/11/2013,] e pôr a correr. Entre o minuto 35 e o 40, no fim do programa, têm o António Graça de Abreu, em mais cinco minutos de tempo de antena, sobre o Tao Te Ching...

[Foi no programa Agora, (*), na RTP 2, dia 3 de Novembro, domingo passado.]

Se tiverem paciência, vejam, A peça está bem feita e este vosso amigo está assim-assim. (**)

Abraço, António Graça de Abreu


2. Comentário de L.G.:

António, não te falta muito para entares no Livro dos Recordes do Guiness... Há, pelo menos, um título de que te podes orgulhar (e, por tabela, nós, sendo tu membro da nossa Tabanca Grande): És o português que melhor conhece a China (João Paulo Meneses dixit, jornal digital "Ponto Final", Macau, 19/1/2010)...

Fico feliz por te ver no programa "Agora". Apreciei a tua tranquilidade e a tua sabedoria, e a referência aos teus melhores amigos chienese, que são os poetas e os pensadores clássicos... Fiquei a conhecer um pouco mais do taoismo e da sua influência.  Parabéns por o teu nome ficar indelevelmente associado, enquanto tradutor, prefaciador e anotador, a esse grande clássico, património cultural da humanidade (tal como a Bíblia), que é o livro Tao Te Ching | Livro da Via e da Virtude, da  autoria de Lao Zi (Lao Tsé), finalmente em português de Portugal, em edição bilingue, com a chancela da editiora Nova Vega.
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Notas do editor:

(*) AGORA é o novo magazine cultural da RTP2

Primeira Emissão: 03 Nov 2013
Duração: 41m
Classificação: Todos

O programa AGORA é o novo magazine cultural semanal da RTP2 que cobre a atualidade artística em todas as suas vertentes. O universo literário, ensaístico, artístico e científico, além de produções e eventos nas áreas da banda desenhada e fotografia; as artes cénicas - designadamente teatro, dança, circo e ópera - a arquitetura, design, pintura, museologia e património; bem como a temática infanto-juvenil (espetáculos, edições em livro, disco ou suportes digitais), contam-se entre as matérias a tratar.
Além da atualidade nacional, AGORA dará particular atenção ao universo cultural lusófono ... dos PALOP, Brasil, Timor-Leste, Macau e comunidades emigrantes portuguesas.
A apresentação cabe a Filomena Cautela. O magazine semanal é complementado com um apontamento de agenda diária, de 2ª a 6ª feira às 21h55 com a duração de 5 min.

Coordenadora: Marisa Feio / Editora: Cláudia Galhós

(**) Último poste da série > 5 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12254: Os nossos seres, saberes e lazeres (60): O livro Baladas de Berlim, de J.L. Mendes Gomes, Lisboa, Chiado Editora: O "pequeno grande segredo" do poeta...

Guiné 63/74 - P12294: Blogpoesia (359): Um poema a África (Juvenal Amado)

1. Em mensagem de 10 de Novembro de 2013, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos o seu poema "África".

O anoitecer no Cantanhez
Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados.

África

No teu corpo moreno
O teu perfume inebriante
Os teus braços prisão de doces muralhas
Em ti descobri a cor para além do cinzento

Os teus olhos amendoados
São ditadura dos sentidos
Misticismo das tuas crenças
No morno entardecer ventania e redopio
Tanto mar entre nós, ainda te reconheço
Em ti descobri a diferença

Calo fundo o desejo como que se ignora a dor
Dormir, sonhar e não querer acordar na tua ausência
Não querer apalpar o teu lugar vazio
Mergulhar para sempre no teu abraço
Varrer o teu passado e tornar luminoso o futuro
Em ti descobri a emoção

Sentir para sempre o odor
O doce aroma que o Sol castiga
Ainda julgo ver os teus panos coloridos
A brancura dos teus sorrisos
Os teus seios pujantes
Na bolanha o teu corpo bronze dourado
Juventude imortalizada e renovada
Em ti descobri a beleza

Uma mulher grande sussurrou-me que em África,
Era perigoso bebermos o pôr-do-sol
Cheirarmos as trovoadas
Olhar de frente os relâmpagos
E que, se nos enamorássemos
Também podíamos morrer de amor
Em ti descobri a saudade

Juvenal Amado

Foto: © Juvenal Amado. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12242: Blogpoesia (358): Ele ensinou-nos a viver a sua ausência, / mas nunca com a saudade que temos dele (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P12293: Breve historial da madeirense CCAÇ 2446 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2013:

Bom dia
Conforme explicação dada no próprio texto, segue a história da Companhia de Caçadores 2446, mais uma Companhia Madeirense, como tributo à memória de mais um dos nossos valentes enfermeiros, desta feita o Ângelo Jorge Conde Vitorino.

Bom fim de semana.
José Martins






Guiné 63/74 - P12292: Facebook..ando (31): Memórias da histórica vila de Cacheu, ao tempo do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos, DFE 21 (Zeca Macedo, 2º tenente fuzileiro especial, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74, a viiver agora nos EUA)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > Antigo Forte do Cacheu, de finais do séc. XVI. "O Forte de Cacheu, também conhecido como Fortim de Cacheu ou Reduto de Cacheu, localiza-se junto à foz do rio Cacheu, na cidade de Cacheu, região de Cacheu, no Noroeste da Guiné-Bissau". A sua contrução remonta a 1588 e tinha por função a "defesa da primeira feitoria fundada na região. Além de assegurar a presença militar Portuguesa, constituía-se em importante apoio ao comércio de tecidos manufaturados, marfim e escravos." (...)

(...) "O forte, de pequenas dimensões, apresenta planta na forma de um rectângulo, com 26 metros de comprimento por 24 metros de largura, com pequenos baluartes nos vértices. As muralhas, em pedra argamassada, apresentam cerca de quatro metros de altura por um de espessura. Encontrava-se artilhado com dezasseis peças. O Portão de Armas, com mais de um metro e meio de largura, é o seu único acesso.

(...) "Os trabalhos de recuperação do antigo forte colonial foram desenvolvidos de Janeiro a Março de 2004, com recursos da ordem de cem mil Euros, disponibilizados pela União das Cidades Capitais de Língua Oficial Portuguesa (UCCLA). Visando assegurar a sua utilização como área de lazer e cultura, além de promoção do turismo, foram promovidas a reurbanização de seu interior, onde foram instalados diversos equipamentos de lazer e recolocadas as estátuas dos navegadores portugueses Gonçalves Zarco e Nuno Tristão, os primeiros eurupeus a atingir as costas da Guiné, no século XV. Nas antigas edificações de serviço foram instaladas uma biblioteca e salas de convívio." (Fonte: Wikipédia > Forte de Cacheu).

Foto: © Tina Kramer (2011). Todos os direitos reservados.

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu &g > Mapa de São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa da vila de Cacheu, na margem esquerda do Rio Cacheu. Na foz do Rio Cacheu, desembocam os Rios Grande e Pequeno de São Domingos. No seu ponto mais largo, o rio tem cerca de 2,5 km.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo,  frente ao quartel do DFE 21, com o seu amiguinho, o Pedro Silva Horta, filho do imediato 1º TN QP José Maria Silva Horta. Vestidos à maneira tradicional fula.

Foto: © Pedro Silva Horta (2013). Todos os direitos reservados. (Reproduzida com a devida vénia...)


Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, em 1973, com o  Pedro Silva Horta, à mesa do café... Voltaram-se a encontrar 39 anos depois, em Almada...

Foto: © Pedro Silva Horta (2013). Todos os direitos reservados. (Reproduzida com a devida vénia...)

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O  jovem Pedro Silva Horta,  de camuflado (, parece que o costureiro foi o Zeca Macedo), batento a pala com a mão esquerda. (Vd. aqui hoje a sua página no Facebook...)

Foto: © Pedro Silva Horta (2013). Todos os direitos reservados. (Reproduzida com a devida vénia...)


Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, com a sua bela moto, no cais da vila de Cacheu...

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, com a sua Honda (?)...

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo com putos locais.

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > O Ten Fuzileiro Especial, Zeca Macedo, com o cabo fuzileiro Adjuquite, seu guarda costas, em frente ao quartel do DFE 21.

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > " Da esquerda para a direita:  "Alferes Silva (CCAÇ 3460), Tenente Castro Centeno (DFE 21), Furriel Lopes (CCAÇ 3460), Tenente Macedo (DFE21) e, em primeiro plano, Alferes Médico Moura (CCAÇ 3460 / BCAÇ 3863) no Quartel do DFE 21 em Vila Cacheu" (ZM). O Zeca também tem uma outra foto do dr. Moura, no rio Cacheu... Não temos ninguém, no blogue, a representar esta companhia.

Sobre o Cacheu e esta CCAÇ 3460, escreveu o António Graça de Abreu o seguinte, no seu Diário da Guiné (Canchungo, 30 de Setembro de 1972):

(...) "O capitão Morgado veio do Cacheu até cá, o que sucede com alguma frequência, para tratar de pequenas operações com o meu coronel ou de outros assuntos com o seu comandante de batalhão. O Morgado é miliciano e comandante da Companhia 3460, a que pertenci. Sempre mantivemos um bom relacionamento, é boa pessoa, afável no trato e nas ideias. Hoje dizia-me: 
- Você não sabe o que perdeu em não vir para a minha Companhia, aquilo lá no Cacheu é uma estância de férias formidável. -  E ria, ria. Não lhe falei nos fuzileiros mortos, recordei-lhe apenas a perna desfeita do alferes Potra, meu substituto. Já não riu, não me falou mais nas delícias do Cacheu.

"Mas é verdade que o lugar, uma das vilas mais antigas da Guiné, vive em paz, não é atacada. O problema é a Caboiana e Jopá, as zonas libertadas do PAIGC perto do Cacheu e de Canchungo. A companhia 3460 não vai lá, por isso vivem tranquilos.

"Sinal de paz e boa vida, o capitão trouxe-nos uns quilos de camarão cozido, fabuloso, grande, gostoso, pescado nas águas do rio Cacheu." (...)


Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) > 1973 > O Zeca Macedo "esquiando  ao lado de uma canoa nhominca, nas águas do Rio Cacheu. Essas canoas vinham da Gâmbia com vários produtos que depois eram vendidos em Vila Cacheu pelos comerciantes Manjacos (...). Em Cacheu não havia Libaneses. Os Manjacos eram os principais comerciantes de roupas usadas (fukandjai), que vendiam na feira de Cacheu. (...) No meu tempo a casa Gouveia e a Ultramarina tinham Cabo-verdianos como gerentes.

Fotos: © Zeca Macedo  (2013). Todos os direitos reservados. (Reproduzidas com a devida vénia...)


2.º TEN FZE RN José Joaquim Caldeira Marques Monteiro de Macedo, 21.º CFORN  [, foto à esquerda,
quando jovem cadete da Escola Naval].

[Zeca Macedo: foi 2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74); nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008].

1. O Zeca Macedo tem vindo a publicar na sua página do Facebook e na página do Facebook da Tabanca Grande algumas fotos do seu álbum, com memórias do Chacheu, onde esteve aquartelado o DFE 21, em 1973.

Com a devida vénia, e com um abraço (longo) ao nosso camarada, reproduzimos aqui algumas dessas fotos.

Temos esperança que ele ou algum camarada dele tenha fotos do centro histórico de Cacheu, incluindo o edifício da Casa Gouveia dessa época (1973/74), que terá funcionado, como passado, como "casa dos escravos".

Sobre a atividade operacional do DFE 21 (como dos DFE 22 e DFE 23, os três destacamentos de fuzileiros especiais africanos), ver o excelente dossiê disponível na página do nosso camarada Manuel Lema Santos, Reserva Naval.

O Manuel Lema Santos publica aqui a composição completa do DFE 21, o primeiro dos três a ser ativado (21/4/1970 - 24/8/1974).
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12291: Agenda cultural (295): Apresentação do livro "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil, dia 26 de Novembro de 2013, pelas 21h00 no Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira

C O N V I T E 

Apresentação do livro "Dona Berta de Bissau", de autoria de José Ceitil, dia 26 de Novembro de 2013, pelas 21h00 no Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.

A apresentação do livro estará a cargo do Dr. Mário Beja Santos.


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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12249: Agenda cultural (294): Lançamento do livro "Memórias de Quarenta", de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), a levar a efeito no próximo dia 16 de Novembro de 2013, pelas 15 horas, no Hotel de Santa Maria, em frente ao Mosteiro de Alcobaça

Guiné 63/74 - P12290: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (5): O dia seguinte no Xitole com as pessoas

1. Quinto episódio da série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU



A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

5 - O DIA SEGUINTE NO XITOLE COM AS PESSOAS

Após uma noite bem dormida e todos manifestamente bem dispostos, voltamos à estrada para mais um dia “fora de casa”, novamente a caminho do Xitole.
Aqui chegados, a motivação eram agora as pessoas. Sabiam que viríamos.

Os Homens e as Mulheres Grandes eram hoje em maior número. De muito poucos me lembrava. Uma Mulher Grande, de quem não recordava o nome, mas que reconheci sem grande dificuldade, era uma das esposas do proprietário dum camião civil que quase sempre integrava as colunas de reabastecimento ao Xitole. Ela e o Saido Baldé, eram os nossos principais interlocutores, talvez porque falando um Português, aqui e ali mesclado com o crioulo, facilmente se faziam entender.

Com uma mistura de sobriedade e de altivez, trajavam de vestes tradicionais e tinham uma memória soberba. Comecei a sacudir a poeira do baú das memórias. Ouvi falar de quem conhecera e dos que já haviam desaparecido. Ouvi falar de quem já não lembrava e daqueles que me foram mais próximos. Ouvi falar de quem esperava encontrar e que, por razões várias, não o consegui. Ouvi falar do antes e do agora das suas vidas. Ouvi os lamentos de uma vida dura e sem esperança e, ouvi falar com nostalgia dos tempos da nossa presença.

Saltavam os nomes do Capitão... do Alfero... do Furriel... que até tocava viola, do Formeiro... etc. etc. etc..
Era patente a alegria com que falavam desses tempos. Foi com alguma dificuldade que consegui disfarçar a emoção, sempre que faziam essas referências. Paternalismo ou outro qualquer “ismo”?

Naquele momento, eu tinha uma certeza. Era somente um ser humano, tocado pelos afectos forjados há muitos anos em circunstâncias particulares e que os deixava fluir sem mais “embrulhos”, na presença daqueles que a vida colocara no seu caminho. Estava feliz entre “a minha gente”.

O Saido Baldé era difícil esquecer. Com uma fisionomia muito peculiar, em que sobressaíam uns olhos que pareciam querer saltar a qualquer momento das órbitas, era um homem feliz. Não nos largava um minuto. Mas não tinha as notícias do Galé Djaló que eu esperava ouvir. Impunha-se uma nova ida a Quebo (Aldeia Formosa) na companhia do Saido. Voltaríamos a fazer o nosso almoço piquenique junto dos rápidos de Cussilinta, com nova paragem para um cafezinho no Saltinho. Quebo, era a derradeira tentativa para encontrar o camarada de “profissão” com quem privei, de forma quase fraternal, durante a minha permanência no Xitole. Um bom Camarada e Amigo, que a “sorte” não permitiu rever.

Se dúvidas houvesse, logo ali ficaram desfeitas. Eu tinha que voltar à Guiné. São tantos os motivos que nos “puxam” para aquela terra que, somados à necessidade de rever Galé, tornaram firme essa ideia. Eu sabia que iria voltar e, disso fiz promessa e anúncio em Quebo e o repeti no Xitole, para onde nos dirigimos novamente. Eram os nossos últimos momentos no Xitole.
Aproveitamos para dar mais uma vista de olhos, principalmente pelas redondezas do quartel. Sempre na companhia do Saido, aventuramo-nos ali para os lados da antiga picada, no sentido de quem vinha da “Ponte dos Fulas”, do antigo poço de que se abastecia o quartel e da casa do comerciante libanês Jamil. Ali por perto, a picada tinha virado trilho, o poço, que já fora substituído, estava abandonado e meio escondido e o alpendre da casa do Jamil ameaçava cair, apesar do interior estar em razoável estado de conservação. Ao que parece, esta casa teria sido utilizada para alojamento do pessoal da empresa que construiu a estrada alcatroada.

Não fora o novo posto de saúde e uma outra construção nova, e aquele local mais parecia uma cidade fantasma. Foi o último olhar sobre o Xitole. A despedida foi difícil. Algumas lágrimas envergonhadas caíram pelo meu rosto. Eram o tributo do meu carácter à reconciliação com as memórias do passado e, a expressão dos meus afectos pelas gentes do Xitole. Estava a despedir-me e já sentia saudades.

Desisti de procurar as explicações para o meu estado de alma. Era o “eu” de agora. Aquela mistura do “eu” com vinte e três anos e o “eu” com cinquenta e um anos de idade. Tantos e tantos anos a sonhar em voltar ao Xitole e já estava de partida. Emocionado, deixei aquelas gentes e aquela terra. Eu sabia que iria voltar, porque há mais mundo no nosso coração para além da nossa vida, neste cantinho à beira mar plantado. Os que me acompanhavam nesta viagem, estavam tão longe, ou não, de entenderem a guerra das emoções que estava a travar e que, com dificuldade, me esforçava por controlar.

Regressamos ao Capé para um resto de tarde na piscina e para dois dedos de conversa com os gestores do empreendimento turístico, senhor Fernando e D. Margarida. O senhor Fernando, para além de ter sido funcionário da Caixa Geral de Depósitos em Lisboa, era também um ex-combatente na Guiné. Gente simpática e com talento na arte de bem receber, e que decidira tentar a “sorte” na Guiné. O número de hóspedes tinha aumentado substancialmente. Contamos mais sete casais. Segundo o senhor Fernando, estes casais integravam médicos oriundos da Cidade do Porto e teriam vindo de avião até Dakar, prosseguindo depois de Jipe até Bafatá e, segundo nos confidenciou depois, estariam ali a expensas de um conhecido laboratório farmacêutico.

Talvez pelos muitos hóspedes, ou por ser a nossa última noite no Capé, fomos brindados durante o jantar e ao redor da piscina, com a exibição de um grupo de danças tradicionais da etnia Mandinga. Batuque forte e ritmado, jovens de ambos os sexos vestindo trajes tradicionais e dançando coreografias ancestrais. Espectáculo soberbo. No final, os hóspedes acabaram misturados com os “artistas”, na vã tentativa de os acompanharem.
Era a noite de despedida da região centro da Guiné-Bissau e dos locais que mais me marcaram. Fomos dormir. Amanhã, é o regresso a Bissau para a descoberta de uma “outra” Guiné.

Xitole - Antigo e atual enfermeiros

Xitole - Conversando, no local que era a entrada do quartel

Xitole - Reencontro com Saido Baldé

Xitole - Na escola, deixando material escolar

A minha primeira viagem à Guiné -1998 (3) - De Cussilinta, Saltinho, Ponte dos Fulas, até ao Cais do Xime

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12260: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (4): A caminho do Xitole, 26 anos depois

Guiné 63/74 - P12289: Filhos do vento (24): Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné... Uma associação sem sede, sem sítio na Net, sem email, que precisa da nossa ajuda (Catarina Gomes, jornalista do Público)


Parte da capa da página do Público 'on lin', de 14/7/2013 > "Filhos do vento: guerra colonial; as histórias dos filhos que os portugueses deixaram para trás".  Uma reportagem dos enviados especiais do Público à Guiné Bissau, Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende. 


1. A pedido a da jornalista do Público, Catarina Gomes, que tem procurado dar voz aos "filhos do vento" da Guiné-Bissau.  Mensagem que nos chegou ontem:

Fernando Silva nasceu em 1968, Fátima Cruz em 1975, José Maria Indequi em 1971. São nomes que não vos dizem nada. Eu conheci-os. São filhos de ex-combatentes portugueses com mulheres guineenses que sonham em conhecer os seus pais, são adultos hoje com cerca de 30-40 anos que parecem tornar a ser crianças quando começam a falar do seu passado, do pai português de quem só ouviram falar mas cuja ausência os assombra. “Sinto-me meia-pessoa”, disse-me Fernando. Em apenas 10 dias na Guiné entrevistei mais de 20 filhos, tive que deixar muitos dos que me abordaram de fora. Posso dizer-vos que noite dentro, chegada ao hotel, tinha sempre mais alguém na recepção para me contar a sua história. Foi uma experiência avassaladora e emocional. Tinha meia dúzia de histórias antes de ir, lá havia sempre que conhecia alguém e mais alguém e mais alguém… 

Contámos algumas destas histórias numa reportagem publicada no Público em Julho. Criámos um email, filhosdovento@publico.pt, para tentar ir além da reportagem e tentar unir estes dois lados, filhos e pais que eventualmente queiram procurar/encontrar os filhos. Não recebemos nenhum email de um pai. Recebemos emails de vários irmãos a quem os pais um dia contaram que deixaram lá um filho, alguns pais já tinham morrido, recebemos alguns emails de filhos guineenses que continuam à procura do pai vivendo em Portugal.

Passados quase 4 meses, por causa da reportagem, alguns destes filhos decidiram criar uma associação para tentarem ser portugueses e descobrir os pais. Muitos dos que me lêem conhecem a Guiné melhor que eu, saberão que pouco mudou, que é um dos mais pobres países do mundo, que nem Bissau tem luz à noite. Consigo a custo falar com eles ao telefone, obviamente que a associação não tem sede, site, email de correspondência. Penso que eles precisam de ajuda deste lado de cá, em Portugal. Pergunto se alguém quer ajudar nesta busca pelos seus pais? Alguém quererá dar apoio jurídico para que eles tentem tornar-se portugueses como sonham?

Como dizia um ex-combatente em conversa comigo sobre este assunto, “daqui a 15 anos a sua reportagem seria irrelevante, agora ainda é tempo”. (**)

Catarina Gomes, Jornalista Público

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12257: Filhos do vento (22): Criada a Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné

(**) Último poste da série > 8 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12266: Filhos do vento (23): ...ou da ventania (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P12288: Parabéns a você (651): César Dias, ex-Fur Mil Sap Inf do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 (Guiné, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enf.ª Paraquedista (1961/1970)

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12285: Parabéns a você (650): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Art da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12287: Memórias de Mansabá (30): Um nunca acabar de recordações (Ernesto Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67) com data de 9 de Novembro de 2013:

Olá amigo Carlos
Olá caro camarada Mansabense
Pois é tu estiveste duas semanas ausente, eu estou, ou ando a maior parte do tempo ausente!
O tempo é o grande mestre! Claro que ter deixado a minha serra e ter vindo trabalhar para Lisboa as escolhas eram muito poucas, e com aquele pequenino pormenor de o pais ignorar o que se passava no Ultramar, logo não se poder falar muito.

Entre a minha época e a tua já houve uma diferença, cada vez era mais difícil esconder as coisas. Mas quando me reformei não tive a noção das minhas limitações, e ao ter ficado com a casa que era dos meus pais soube muito bem e não me doíam os ossos, não me custava nada lá ir e ia com gosto e alegria, hoje aborrece-me muito, ou pelo menos já não tem a graça que tinha, mas não quero abandonar as coisas, e lá vou indo e isto tudo para dizer que só no principio da semana recebi o teu email que desde já agradeço, assim como agradeço, a fortificação de Cutia e o mapa da nossa área critica!
Mas antes faço um reparo a mim próprio eu esqueci-me um pouco que tu também lá estiveste em condições de “hospitalidade“ diferentes na rua, mas na prática iguais. Tenho lido muito e quando há tempos vi que andaste por Manhau, não senti como que uma necessidade de te fazer perguntas sobre aquilo, mas disse cá para os meus botões, mais um que lá andou a arriscar a pele.

Não sei se no teu tempo ainda havia uma serração a funcionar em Mansabá! Era logo à entrada à esquerda quando se ia de Cutia. O dono fez o favor de me convidar e a mais dois ou três para irmos lá almoçar, jantar! Não eram ofertas por pura simpatia, era a necessidade que ele tinha de se dar bem connosco, tendo as relações piorado muito, quando nós não trouxemos de Banjara um trator enorme de lagartas que lá tinha ficado quando ele fugiu de lá.
Esse senhor com meia dúzia de caçadores africanos, mais os lenhadores e mais uns loucos como eu que íamos à caça, cortava madeira na zona de Mansomine, não passava aquela zona sem floresta antes de Cucuto e também não se aproximava muito de Demba Só.

Imediações de Mansabá que a CART 2732 palmilhava frequentemente, não evitando mesmo assim o mau feitio da vizinhança. Vd. Carta de Farim 1:50.000
Legenda: CV

Para o lado de Morés, nada, e depois com um certo à-vontade em frente e para a direita em relação à pista de aviação. Eu falo disto com muita emoção, mas o engraçado, ultimamente quando vou ao Algarve já não levo computador, se levo não abro, até porque a banda larga é uma porcaria, eu leio e penso, tento recordar! Eu lembro-me de sair de casa, já camuflado, com uma mala numa mão e um saco ao ombro, mas não lembro emoções nenhumas nem de pessoas terem falado comigo. Só lembro uma enfermeira da terra que veio no mesmo comboio que eu, Lagos – Barreiro se preocupar muito comigo!

Depois de termos desembarcado na Madeira e nos últimos dias de viagem, eu comecei a sentir uma certa expectativa em relação a Bissau. Depois de tanto ter ouvido da história dos portugueses e seus feitos, eu ia finalmente pisar uma cidade, capital de província, deveria ter que ver. Não digo que foi uma desilusão, digo onde estás Bissau, não sei que se passa com meus olhos que te não enxergam, estou a passar por ti e não te enxergo.

Uns campos, uns montes de bagabaga e eis que estou noutra grande cidade, Mansoa!

Tiro-lhe o Man e fico com o soa!
Mas não soa
Não soa os ecos da cidade.
Soa o estrondo das armas
Não soam risos de crianças
Soam choros de criança
Não soam risos de gente feliz
Soam gritos de gente com raiva
Soa o silencio de uma cidade em guerra
Parto para Mansabá que tem algumas casas com traços de arquitetura mas com janelas e terraços tapados a tijolos de terra batida.
Mansabá com a sua rua principal chegava a ter alguma beleza, quando as acácias floriam e se enchia com o garrido das bajudas, talvez se passeando!
A Mansabá, tirando-lhe igualmente o Man fico com sabá
Sabá rainha do saber
Foste uma rainha para muitos de nós
Não pelo saber
Não pelos teus encantos
Mas pelo teu poder total
Porque nos prendeste
Porque nos acorrentaste
Porque nos escravizaste
Porque nos obrigaste a fazer coisas que não queríamos
Porque transformaste nossos cérebros
Porque transformaste nossas personalidades
Porque transformaste nossas vidas
Porque transformaste a vida dos nossos familiares
Porque dispuseste de nós como te apeteceu Incluindo deformar nossos corpos
Incluindo tirar nossas vidas
Nunca ouvindo nossos pedidos de clemência
Mas eu não te odeio
Se calhar até tenho saudades tuas

Carlos, o texto são mais umas linhas para juntares a tantas que tens recebido.
As fotos são para voltares a ver aquilo que nunca esqueces.

Um obrigada por tudo
Um abraço aqui de Mansabá
BCAÇ 1857 / CCAÇ 1421
Ernesto Duarte
Furriel Miliciano

 Ernesto Duarte em Mansabá(?)

O Fur Mil Ernesto Duarte junto ao memorial da sua Companhia (CCAÇ 1421), "Os Caveiras" 


 Duas vistas aéreas de Mansabá no tempo de Ernesto Duarte

Ernesto Duarte na "avenida" de acesso à Porta de Armas do aquartelamento de Mansabá, tão bem descrita com a sua alma poética, acima, no texto

Ernesto Duarte numa das paradas do aquartelamento de Mansabá

Fotos: © Ernesto Duarte. Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: CV)


2. Comentário do editor:

Caríssimo Ernesto Duarte
As tuas palavras, quando falas de Mansabá, são apaixonadas, deixando transparecer o quanto ficaste marcado por aquela "terra onde se arde vivo", assim designada no livro "Guiné 1965 Contra Ataque", de Amândio César. Compreendo-te porque ali permaneci 22 meses e 11 dias.
A minha actividade operacional e ocupação das "horas livres", ajudando na Secretaria, não dava para grandes convívios na tabanca. Conheci meia dúzia de civis, os nossos dedicados guias e milícias e nossos camaradas do Pel Caç Nat 57. Lembro-me bem dos domingos em que nos vestíamos umas horas à civil, para arejar a roupa, e íamos passear a tabanca. Sentia-se um ar diferente nestes dias. Quase só os pelotões de piquete e serviço estavam ocupados. Com a noite voltava o sentir da guerra e os sentidos entravam todos em modo de emergência.

As horas mal dormidas em alerta permanente; os sucessivos ataques ao aquartelamento e tabanca; as sempre perigosas colunas para Mansoa e Farim; a protecção, com emboscadas quase diárias, durante meses aos trabalhos de pavimentação do troço da estrada Bironque-K3; as emboscadas nocturnas no fim da pista e no Alto de Bissorã; os patrulhamentos diurnos e nocturnos, assim como as operações, são parte da nossa memória que se apagará só no último dia das nossas vidas.

Quanto à Serração de que julgo falares, no meu tempo estava já desactivada e era um local de passagem muito perigoso.
Havia contudo um branco, não sei se é do teu tempo, o senhor José Leal que, com uns quantos colaboradores locais, abatia árvores algures nas imediações de Mansabá. Não precisava de protecção e tanto quanto me lembro nunca foi atacado. Provavelmente explorava a área que referes. Sinceramente não me lembro se ele tinha alguma serração ou se trazia os toros já limpos do local. Lembro-me que a camioneta era muito velha, que só tinha a cabina em cima do chassi onde transportava os toros.
Fica aqui a sua foto para ver se te lembras dele. Morava do lado de fora, quase encostado ao arame que cercava o quartel, por trás da casa do gerador e da mecânica, quem ia para a tabanca do lado esquerdo, quando se saía a porta de armas.

Mansabá, Abril de 1971 - Senhor José Leal segurando a sua filhota, o Cap Mil Jorge Picado, ajuda, e o Alf Mil Manuel Casal, assiste.
Foto e legenda: © Caros Vinhal. Todos os direitos reservados.

Não de Mansabá, mas de Leça da Palmeira, recebe camarada mansabense Ernesto, um fraterno abraço e os melhores votos de boa saúde.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12150: Memórias de Mansabá (29): A tabanca de Manhau já não existia em 1965 (Ernesto Duarte)