sexta-feira, 30 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13214: Notas de leitura (595): "O Corredor da Morte", pelo nosso camarada e tertuliano Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Mário Vitorino Gaspar cinge-se a vários blocos que são momentos-chave da sua existência: Alhandra, que descreve primorosamente, e de onde parte para se juntar à CART 1659, vão para Gadamael-Porto e arredores; é furriel de minas e armadilhas, patrulha e embosca mas acima de tudo monta e desmonta os engenhos da morte, é um profissional cheio de sangue frio a desativar minas antipessoal e bailarinas; a operação ao coração onde constrói um impressionante sonho (ou delírio, seja o que for) entre a luminosidade e um turbilhão de recordações; e depois a militância de um stressado que se pôs ao serviço e muito ofereceu à APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stresse de Guerra.
Vale a pena meditar no que ele tem para nos comunicar.

Um abraço do
Mário


Andanças pelo corredor da morte e outras militâncias e errâncias

Beja Santos

Mário Vitorino Gaspar fez uma comissão entre 1967 e 1968 na região de Gadamael, era furriel de minas e armadilhas e pertenceu a uma companhia independente, a CART 1659. Destas e outras memórias plasmou em livro intitulado “O Corredor da Morte”, edição de autor, 2014, lembranças de infância, da mobilização, das suas deambulações por Ganturé, Guileje, Gadamael-Porto, Sangonhá e arredores, de uma operação ao coração em que chegou a vislumbrar a senhora morte e da sua participação na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra. Arrecadou recordações poderosas, oferece-nos páginas tocantes, tem orgulho nas suas origens, enfim, com surpresa ou sem ela visitou os corredores da morte, não o das penitenciárias que encaminham para execuções mas aqueles corredores onde em tempos de guerra e paz temos a vida em processo de licitação. Começa com todo o processo que leva à sua hospitalização e à operação ao coração, em março de 2002. Temos aqui uma estrondosa viagem pelo sonho, aquele vácuo de onde vamos buscar farrapos de reminiscências pelas errâncias da vida, há para ali descrições que nos lembram outras de pessoas que estiveram à beira de passar para a outra margem, luminosidade e turbilhão:
“Vejo algo como o paraíso encerrado em vidro. Entrei. Os soldados carecas de cabeça cúbica. Era tropa de elite e conheciam-me.
Ao fundo da sala uma porta estranha. Pequena. Quando chega a minha vez, e depois de uns me analisarem, eu, que era dos primeiros, entro naquela porta carregada de uma luz bonita que não encadeava nem feria a vista. Uma luz mais pura e forte bate-me na vista. Atravessei um túnel, antes um corredor. Não estava a sonhar e vi um cenário que nunca imaginara existir: uma floresta multicolor; arco-íris; jardins que percorriam todo o espaço; plantas exóticas; relva e musgo; florestas; flores de uma beleza nunca vista; um rio de água límpida; cascatas; mares calmos bem azuis; um mar de areia cor de ouro”.

E depois a infância, tudo começou na região de Sintra, havia férias na Covilhã; em gaiato vai viver para Alhandra, lembra a fábrica de cimento, o mouchão, as bateiras no Rio Tejo e também as fragatas, os avieiros, o Alhandra Sporting Clube, a terra de Baptista Pereira, a pequenada com quem brincou. São páginas enternecedoras, muito próximas de “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes. Segue-se, em termos telegramáticos, a recruta e a especialidade. E depois a despedida para a Guiné, comoções controladas e descontroladas, uma longa viagem solitária para olhar todas aquelas referências de lugares e pessoas. Parte para Oeiras e daqui para o Uíge, estamos em janeiro de 1967. Mal chegados a Bissau foram prontamente colocados em Gadamael-Porto, nem deu tempo para pôr os pés em Bissau, o batelão desceu imediatamente para a zona de alto risco. A sede do batalhão está em Buba. Ali à volta, nomes sonantes da guerra: depois do cruzamento de Ganturé, encontrava-se Sangonhá, Cacoca e Cameconde, seguindo Cacine; no chamado cruzamento de Guileje havia uma bifurcação para Mejo e Guileje.

Havia 400 pessoas da população em Gadamael e cerca de 200 Beafadas em Ganturé, sede de regulado. É especialista de minas e armadilhas, começa a rebentar com petardos de trotil os morros de bagabaga, havia que fazer clareiras e não dar ensejo a que os guerrilheiros tivessem pontos de apoio. De Ganturé saíam patrulhas de apoio às companhias de Mejo, Guileje e Sangonhá. Começaram a construir o cais de Gadamael e a armadilhar itinerários por onde os guerrilheiros iam tomar posição para as flagelações. Recorda a primeira emboscada no corredor de Guileje, um sucesso. Num batuque, em 4 de julho de 1967, rebenta uma granada e morrem vários civis, nunca se apurou se se tratou de imprevidência, vingança ou terror deliberado. Sucedem-se operações, patrulhamentos, colunas de reabastecimento. Aqui e acolá, Mário Vitorino Gaspar vai poetando. Vem de licença e nesse ínterim morrem dois camaradas, o furriel Pestana e o soldado Costa, pisaram minas, a narrativa é despretensiosa, autêntica, reproduz o jargão do tempo, sente-se mesmo a atmosfera dos destacamentos, a vivência da messe, os comentários quando se vai e vem das operações. Observa como a guerrilha se fortalece, com armamento bem equipado.

Deixamos algumas páginas de sufoco, a montar e a desmontar, a pôr arames de tropeçar, com uma “bailarina” que esteve pacientemente a remover de uma picada. Chega Spínola e toma medidas de retirada de quartéis em posições insustentáveis, é o caso de Sangonhá. Não deixa de comentar a monotonia da comida, adora petiscos e sempre que chega exige seis ou sete cervejolas frescas. Conta as atividades da CART 1659. Chegou a hora do regresso a Portugal. Descobre na caderneta militar que fora dado como morto. É admitido como lapidador de diamantes na DIALAP. Tem manifestações de stresse, passa a ter acompanhamento psiquiátrico. A sua narrativa faz um hiato, já está a trabalhar em prol da APOIAR com a ajuda do Dr. Afonso Albuquerque. É uma descrição sugestiva da vida de uma organização aonde acorre gente em grande sofrimento. Ele escreve no jornal acerca destes stressados:
“Ele teve que matar para sobreviver (…) O assistir mortes e ter que matar para sobreviver; estar presente em ações de violência; passar fome e sede; assistir e/ou participar na morte de crianças e mulheres; estar presente em ações de bombardeamentos, tiroteios intensivos; rebentamentos de minas, armadilhas, fornilhos; as dificuldades de ambientação ao clima e o estar longe da família – transformaram aqueles jovens sorridentes, ávidos de vida, em homens precocemente envelhecidos. O regresso. Farrapos humanos, remendados. Uns já haviam constituído família, outros fizeram-no logo de imediato, os restantes ficaram solteiros. Marcham para vidas diferentes. As mulheres e os filhos paridos muitas vezes de atos sexuais de violência, mulheres violadas pelo guerreiro e não pelo amor do marido.
De imediato, ou posteriormente, o ex-combatente, isola-se como se a aldeia, a vila ou a cidade fossem um aquartelamento. Não fala da guerra nem aos pais, à mulher, aos filhos, a familiares e a amigos, como não o fizeram quando combatia. Ao fazê-lo com alguém só narrava as bebedeiras e sorria.
Na generalidade, e num período curto ou mais lasso, volta a vestir a farda, embora civil, agride, esbofeteando a mulher, os filhos, ou ambos. Não tem paciência para o diálogo e, por vezes, a família embrião é destruída como por ação de um rebentamento. Os filhos ficam a cargo da mãe violada pela guerra colonial. Ele teve que matar para sobreviver na guerra. É o funeral da família. Foi uma mina, uma armadilha ou um fornilho”.

O leitor vai encontrar aqui páginas de uma renhida militância, Mário Vitorino Gaspar é um dos cometas da APOIAR até 2005, altura em que se mudou para a ACSSL – Associação Cultural e Social de Seniores em Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa.

Muito penou e muito militou. E percebe-se bem quando cita num artigo um poema de Fernando Pessoa:

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser
e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo,
por que também há vida…
Sou isso, enfim…
Apague a luz, feche a porta
e deixe de ter barulho de
chinelos no corredor

Para adquirir o livro, contactar por email: mariovitorinogaspar@gmail.com
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13196: Notas de leitura (594): "Planta da Praça de Bissau e suas Adjacentes", por Bernardino António Álvares de Andrade (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13213: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte VIII: (i) os primeiros dias em Canjambari: em mês de santos populares, o batismo de fogo, os primeiros contactos com o IN; e (ii) a santa ingenuidade: um episódio com um cobra venenosa

1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte VIII (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Continuamos a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão. O poste de hoje corresponde às pp. 41/45 e a duas narrativas:  (i) os primeiros dias de Canjambari; e (ii) santa ingenuidade. (LG).

Guiné 63/74 - P13212: (In)citações (65): Salvemos o elefante africano que 40 anos depois do fim guerra volta a percorrer o corredor de migração de Gandembel, Balana, Cumbijã e Colibuía na época das chuvas!

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, jornalista da Voz da América (VOA)

De: Nelson Herbert

Data/hora: 29 mai 2014 15:40

Assunto - Elefantes


Quatro dácadas volvidas sobre o fim da guerra pela independência, "elefantes" repovoam mitica floresta de Cantanhez... no Sul da Guine Bissau !

Anexo foto recente (Abril 2014) do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guine Bissau !

Pepito ia adorar saber disso ! (*)



Imagem de um elefante, captado pelo IBAP - Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas, da Guiné-Bissau, no dia 1 de abril de 2014, às 17h53. Imagem enviada pelo Nelson Herbert Lopes, sem indicação de fonte. Em princípio, é uma foto automática, tirada por uma câmara especial, "Moultrie", usada para fotografar a vida selvagem... A temperatura ambiente era de 30º.. Estamos no fim da época seca (abril)... (LG)


2. Recortes de imprensa


(i) IBAP confirma presença de elefantes nas florestas da Guiné-Bissau

2014-05-27 13:33:20

Bissau – O Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) confirmou a existência, nas florestas da Guiné-Bissau, de animais de grande porte, concretamente na região de Quinara, sector de Buba.

Em comunicado de imprensa que a PNN consultou, esta instituição indicou que, em Fevereiro de 2014, a Direcção do Parque Natural das Lagoas de Cufada foi informada da presença de elefantes nas matas de Sintchã Paté [,entre o Quebo e Xitole], tendo uma equipa do IBAP deslocado-se ao local para confirmar estas informações, onde se observou a presença de elefantes a 6 de Fevereiro, pelas 18.30 horas.

De acordo com os habitantes da povoação de Sintchã Paté e de Samba Só, trata-se de uma pequena manada composta por três animais, dois adultos e uma cria, que se encontram bloqueados numa área restrita com condições favoráveis à sua sobrevivência, dotada de água e alimentos, pois o corredor de migração habitualmente utilizado foi bloqueado devido ao corte de madeira.

Na sequência da presença do primeiro grupo destes animais, a ocorrência foi novamente confirmada em Abril, pelos técnicos do IBAP através da instalação de câmaras de vigilância ultravioleta nas florestas, que conseguiu captar imagens de um casal de elefantes na lagoa de Caruai, Balana, Parque Nacional de Cantanhez.

O instituto informa ainda que esta manada de elefantes parece localizar-se numa zona muito limitada, com frequentes migrações entre a República da Guiné-Conacri e a Guiné-Bissau, em busca de água e alimentos. O elefante africano é o maior mamífero terrestre conhecido. Está classificado na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza na categoria de animais ameaçados de extinção e também consta no anexo I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas. (...)

(c) PNN Portuguese News Network

[Excerto, reproduzido, com a devida vénia,  de Jornal Digital - Notícias em Tempo Real]


(ii) Alguns excertos da  nota informativa do IBAP que  foi reproduzida no sítio da IUCN - União Interncional para a Conservação da Natureza:




A época de migração destes elefantes para a Guiné-Bissau (regiões de Quínara e Tombali), em busca de água e alimento,  começa no início das chuvas, em maio e vai até novembro, altura em que voltam  à Guiné-Conacri, para a zona do Rio Kogum (Bouliagne) onde se supõe que se encontra o resto da população. (**)














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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13211: Agenda cultural (319): Lançamento do livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", pelo TCor Rui Alexandrino Ferreira, dia 21 de Junho de 2014, pelas 10h30, no Regimento de Infantaria 14 de Viseu

1. Pelo correio tradicional, em papel, recebi hoje, do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, TCor Reformado (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72), uma "Carta aberta aos amigos", que se reproduz abaixo, assim como um convite para assistir ao lançamento do seu livro "QUEBO - Nos confins da Guiné", que se reporta à comissão de serviço por si cumprida na naquela ex-Província Ultramarina como Capitão Miliciano e Comandante da CCAÇ 18.

O evento realiza-se no próximo dia 21 de Junho de 2014, sábado, às 10h30, nas instalações do Regimento de Infantaria 14, em Viseu, seguido de almoço para quem se inscrever previamente.

Aqui fica a notícia, especialmente para aqueles que morando na zona centro do país e se possam deslocar a Viseu, o façam para abrilhantar este momento de alegria do nosso camarada e amigo Rui e para lhe dar um abraço. Como ele próprio afirma na sua carta aberta, está a atravessar um período menos bom da sua saúde pelo que a presença dos amigos será algo que o reconfortará. 





2. Em Agosto de 2013 foram publicados três postes referentes ao depoimento do Major-General Pezarat Correia* insertos no I Capítulo do livro "QUEBO -  Nos confins da Guiné"
Como consta no Convite, o livro vai ser apresentado por este Oficial General.

(*) Vd. postes de:

10 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10249: Bibliografia de uma guerra (60): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (1): Mais que um superior hierárquico um amigo de eleição - Pezarat Correia

11 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10253: Bibliografia de uma guerra (61): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (2): Primeira parte do depoimento do Major General Pezarat Correia (1)
e
12 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10255: Bibliografia de uma guerra (62): Primeiro Capítulo do próximo livro "Quebo", de Rui Alexandrino Ferreira (3): Primeira parte do depoimento do Major General Pezarat Correia (2)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13198: Agenda cultural (318): Lançamento do livro "Militares e política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira) - 28 de Maio, 18h, ISCTE-IUL, Edifício II, Auditório B203

Guiné 63/74 - P13210: Manuscrito(s) (Luís Graça) (30) "Bem vindos, piras, ao primeiro dia do inferno que vai ser o resto das vossas vidas!"... Parabéns, capitão António Vaz!

1. Antóno Vaz, valoroso capitão de Bissorã e do Xime, comandante da CART 1746... Hoje fazes anos, de acordo com o nosso poste da série "Parabéns a você"... Mas eu tenho estranhado o teu silêncio... Os médicos dizem que o silêncio dos órgãos é sinal de saúde... Na realidade, é mau sinal quando eles começam a "falar"... Mas eu refiro-me ao silêncio... das nossas comunicações bloguísticas, . Há mais de um ano que não mandas um ALFBRAVO à gente...

Pergunto; o que é que se passa contigo, comandante ? A última vez que te vi, na Praça do Comércio, tinhas ido à faca...Mas senti-te em boa forma!

Hoje é dia de festa, de aniversário... Eu e o resto da malta estamos contigo para te cantar os "parabéns a você" debaixo do poilão da Tabanca Grande!... Lembras.te dos poilões do Xime, a última tabanca de que foste o "régulo!" ? Levaram morteirada e canhoada em cima, mas ainda lá estão, dizem... Pois é isso que a gente te deseja: aguenta, capitão, força, António!


[foto à esquerda, cap art mil António Vaz, CART 1746, Xime, c. 1969]

2. Nunca esquecerei a minha chegada ao Xime, vindo de LDG pelo Geba acima... Foi na manhã de 2 de junho de 1969, 2ª feira... Estávamos no início do tempo das chuvas, a pior época para um pobre tuga acabado de chegar do primaveril Portugal continental ...E logo ali soubemos que a sede do batalhão, Bambadinca, tinha sido atacada em força, na 4ª feira, dia 28 de maio... Soubemos pela boca dos "velhinhos" da tua CART 1746... Queríam-nos claramente acagaçar...

Tenho um longo poema ("Por esse Geba acima"), de que vou reproduzir um excerto, em tua honra e dos teus bravos da CART 1746 que nos abriram alas, quando a gente desembarcou o leste, a malta da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), a caminho de Contuboel... LG




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > Vista aérea (parcial) da tabanca do Xime, onde estava sediada uma unidade de quadrícula...  No dia 2 de junho de 1969, era a CART 1746, comandada pelo cap art mil António Vaz.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]

Por esse rio Geba acima...

(...) E aqui estás, neste caixote flutuante,
sem colete nem salvação,
sem bode expiatório, nem álibi,
sem uma simples palavra de explicação,
sem razão para matar ou morrer,
de morte matada,
de G3 na mão,
porquê eu, porquê tu, meu irmão,
mas com cinco litros de sangue no corpo,
a derramar pela Pátria, se for preciso,
em rega gota a gota,
ou até em bica aberta,
que a Pátria não se discute,
a Pátria, a Fátria ou a Mátria
que te pariu,
meu safado,
meu javardo,
a caminho da guerra,
que não sabes nem onde começa nem onde acaba.
E sobretudo quando acaba…
Recapitulas:
–Tite, Porto Gole, Ponta Varela…
E registas no teu caderninho
os primeiros termos da gíria de caserna:
embrulhanço, turras, gosse-gosse, djubi
mancarra, bunda, macaréu,
bolanha, irã, jagudi

E eis que chegas agora,
ao primeiro porto, seguro,
um porto fluvial,
num sítio chamado Xime,
sem qualquer tabuleta que o identifique,
um pontão acostável,
meia dúzia de estacas no lodo,
caranguejos de um só pata
devorando a íris dos pobres dos mortos
arrastados pela fúria do macaréu,
uma guarnição militar a nível de companhia
com um destacamento no Enxalé,
do outro lado do rio e da bolanha.
Aqui começa o Geba Estreito, o Xaianga,
avisam-te,
e mais à frente é o Mato Cão,
que irás conhecer como a palma da tua mão,
um leito de rio incerto, sinuoso, viscoso,
como o corpo de uma serpente,
em que ficas ao alcance de uma granada de mão,
nas curvas da morte…
Xime, meu amor!
nunca o dirás
em nenhum aerograma,
pela simples razão
de que nunca escreverás
nenhum aerograma a ninguém,
o Xime é uma bandeira das cinco quinas ao vento,
descolorida,
esfarrapada,
gente brava, lusitana,
três obuses Krupp, alemães, 
de 10 ponto 5,
do tempo da II Guerra Mundial,
silenciosos mas ameaçadores,
meia dúzia de casas de estilo colonial,
de adobe e chapa de zinco,
e mais umas escassas dezenas de cubatas de colmo,
por entre poilões e mangueiros,
ruínas dum antigo posto administrativo,
restos de uma comunidade mandinga,
gente que não é de inteira confiança,
dir-te-ão mais tarde os teus soldados fulas,
vestígios de um decadente entreposto comercial,
cercados de holofotes,
arame farpado,
espaldões,
valas,
abrigos,
a estrada cortando ao meio a tabanca e o aquartelamento,
dois irmãos siameses condenados a viver e a morrer juntos…

Bem vindos, piras,
camaradas,
amigos,
ao primeiro dia do inferno
que vai ser o resto das vossas vidas!
Alguém, um velhinho, cacimbado,
da CART 1746,
apanhado do clima,
desgraçado,
que ouves com temor e reverência,
escreveu numa daquelas paredes de adobe,
desboroadas,
de cores desbotadas…
Ah! Como tudo isto é tão triste, meu Deus!

Duvido que tenhas dito Meu Deus!,
como não dirias turras,
que aos vinte e dois anos,
não evocavas o nome de Deus em vão,
e sentias-te órfão,
sem pai nem mãe no mundo,
nem tinhas carta de condução,
nem bússola,
nem nenhuma ideia definitiva sobre o sentido da vida
mas achavas ainda romântica a ideia
daquela maldita guerrilha…
E ali vais tu,
meio acagaçado, meio curioso,
disposto a salvar o coiro, o corpo,
mesmo perdendo a alma,
alinhado ma non troppo,
desformatado,
violentado na tua consciência,
o quico bem enterrado até às orelhas,
entre filas de velhinhos, brancos e pretos,
de lenços garridos ao pescoço,
com ar de fadistas,
a palhinha de capim ao canto da boca,
como o estereótipo do chulo do Bairro Alto,
fingindo fazer um cordão de segurança no mato,
até à famigerada bolanha de Madina Colhido,
a caminho de Bambadinca,
a próxima paragem (...)

Luís Graça - Por esse rio Geba acima [excerto],
poema inédito,
v8 23 mai 2014
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Nota do editor:

Último poste da série >  27 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13199: Manuscrito(s) (Luís Graça):(29):  "A boda e a baile mandado... não vás sem ser convidado"... E os bailes que organizávamos, na tabanca do Bataclã, nos intervalos da guerra ?

Guiné 63/74 - P13209: Camaradas da diáspora (8): Alô, Lisboa, daqui Vancouver, Canadá... Luciano Vital, natural de Valpaços, Trás-os-Montes, ex-fur mil, de rendição individual, que andou pelas CCAV 3463 (Mareué), CCAÇ 3460 (Cacheu) e Adidos (Bissau), 1973/74

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Luciano Vital:


Data: 26 de Maio de 2014 às 01:25
Assunto: Guine 72-74

Foi por acaso que encontrei esta página. Também eu pertenci à CCAÇ 3460 sob o comando do capitão Morgado, aonde cheguei em rendição individual em1973 para ajudar o furriel Lacasta comandar o pelotão que ele comandava sozinho até à minha chegada.

Outros nomes de que me lembro: Furriéis Canha, Bravo, Pacheco, Pinto.

Antes de ir para o Cacheu,  estive 14 meses na CCAV 3463 em Mareué, batalhão de Pirada, Capitão Touças, Furriéis Santos, Peres, Freitas, Ivo, Luís, Malhoa, etc.

Depois da CCAÇ 3460 voltar para Portugal, passei os últimos 6 meses nos Adidos em Bissau aonde tinha sido colocado quando cheguei de Portugal. Ai conheci os furriéis Palmeiro, Nunes, Buiça etc.

Gostaria de entrar em contacto com estes velhos amigos.

Luciano Vital, Fur Mil natural de Valpaços, Trás os Montes e residente em Vancouver, Canada
contacto; louvital@gmail.com.

Obrigado

2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Luciano: Como a gente aqui diz, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Chamamos tabanca à comunidade virtual que se reúne à volta do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Somos 658 membros registados, e tu podes ser o 659, se nos mandares, na volta do correio, um pedido para te sentares à sombra do nosso poilão, e mandares as duas fotos  da praxe (uma atual e outra do teu tempo de Guiné), mais uma pequena história ou episódio de que te lembres...  

Um em cada cinco dos nossos visitantes vive fora de Portugal (desde o Brasil, EUA, etc., até à Austrália). E uma boa parte deles devem ser camaradas como tu que procuram camaradas do seu tempo de Guiné, e querem, matar saudades... Este é um lugar de partilha e de afetos, e naturalmente um local de (re)encontros. 

Tens aqui algumas  referências à CCAÇ 3460 que pertencia ao BCAÇ 3863, curiosamente a companhia a que pertenceu originalmente o nosso camarada e amigo, conhecido especialista em história e cultura da China, o António Graça de Abreu. Mas não chegou a partir para a Guiné com os camaradas (que foram para o Cacheu)... Tem sido ele, o António Graça de Abreu, a falar da CCAÇ 3460, do capitão Morgado, e do infeliz alf Mil Potra que ficou sem uma perna... Tu, sendo de rendição individual, não o deves ter conhecido.

Em contrapartida, da CCAV 3463, não temos nenhuma referência ou simples notícia...

Vai tu dando notícias e divulga o nosso blogue pelo teu círculo de conhecidos e amigos, aí no Canadá. Vamos realizar, em Monte Real, Leiria, no dia 14 de junho próximo, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer que estão convidados  todos os camaradas e amigos da Guiné que queiram aparecer... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de  2011 > Guiné 63/74 - P9269: Camaradas da diáspora (8): José Freitas, ex-Fur Mil, CART/CCAÇ 11, "Os Lacraus de Paunca", Nov 70/Set 72: vive hoje em Sydney, Austrália

Postes anteriores:

14 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA

15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8779: Camaradas da diáspora (6): O nova-iorquino João Crisóstomo, português, cidadão do mundo, em Lisboa, no aeroporto a caminho de Paris... com vontade de conhecer mais camaradas da Tabanca Grande

20 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7646: Camaradas da diáspora (5): José Oliveira Marques, condutor de White, ERC 2640 (Bafatá e Piche, 1969/71), a viver em Estrasburgo, França

17 de Janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72)

22 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7488: Camaradas na diáspora (3): O luso-americano Franklin Galina, aliás, ex-Fur Mil Franklin, Pel Mort 4575 (Bambadinca, Julho de 1972 / Agosto de 1974)

29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6659: Camaradas na diáspora (2): Na morte do Luís Zagallo, (João Crisóstomo, Nova Iorque)

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque

Guiné 63/74 - P13208: Blogpoesia (382): No colo de minha Mãe (J. L. Mendes Gomes, Berlim, 29 de maio de 2014, 7h43m, de chuva e vento frio)

No colo de minha Mãe

por J. L. Mendes Gomes 

No colo de minha Mãe...

Como um fio de água
Me desprendi,
Cresci e rolei no mundo,
Fiz-me um rio,
Estreito, largo
E sinuoso.
Como gavinha de uva,
Me prendi ao tronco
E nele me enrolei,
Para não cair
Ou ser levado
Pelo vento.
Como a hera verde,
De muitas folhas,
Me quereria ter colado
Ao colo de minha Mãe.
Mas veio a escola e a catequese.
E aquela eternidade
De seminário.
E a tropa em Mafra
Antes da guerra em África.
E veio a luta insana
Da sobrevivência,
E uma escada de muitos degraus,
Para eu trepar,
Só com meus braços.
E os percalços todos
Que, tão cruéis,
Torpedearam
Os meus passos.
E as derrotas
E pequenas vitórias,
Que registei na história
Da minha vida.
E as prendas todas
Que eu não recebi
No sapatinho
Dos meus natais.
Por tudo quanto de bom
Não fiz
E quisera ter feito aos montes,
Eu gostaria, agora,
De nunca ter deixado
O regaço, tão puro e quente,
Do colo de minha Mãe!…


O poeta, com os netos em Berlim. em 2012
Berlim, 29 de Maio de 2014, 7h43m ( de chuva e vento frio)

Joaquim Luís Mendes Gomes (*)

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; jurista, reformado; autor do livro de poesia "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013, 232 pp., preço de capa;: € 14; encomendar aqui] (**)

___________

(**) J. L. Mendes Gomes é autor, no nosso blogue, de várias séries, entre as quais a "Crónica de um Palmeirim de Catió":

29 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

Guiné 63/74 - P13207: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (10): Inscrevo-me para reviver um pouco da amizade, embora os camaradas, em Monte Real não sejam aqueles com quem convivi, sei que estão irmanados no mesmo sentimento (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 28 de Maio de 2014:

Há cerca de um ano ou pouco mais descobri o blogue do Luís Graça tendo como um dos seus colaboradores o Carlos Vinhal, que pelo resumo da sua resenha histórica tinha estado em Mansabá, alguns meses comigo.

Eu que depois de muitos anos de esquecimento propositado tinha abandonado a Guiné, resolvi voltar para lá as minhas atenções pois já era tempo de estabelecer a concórdia e a paz com esse passado turbulento. Não me lembrava já do amigo Carlos Vinhal, mas agora depois de meses de contacto e inclusivé de um encontro pessoal, estou a recordá-lo bem.

O Carlos Vinhal foi aquele furriel miliciano, que me atendeu na secretaria , quando me apresentei na Cart 2732 e quando foi fazer o levantamento de uma mina anti-carro, que o meu pelotão descobriu, na estrada, entre Mansabá e Farim sempre com profissionalismo, correção, sem excessos efusivos. Ainda hoje assim se conserva.

O Carlos Vinhal fala e escreve bem quando precisa mas sendo um individuo activo gosta mais de fazer do que de palrar.
Todos sabemos reconhecer o trabalho imenso, de correção, de arranjo fotográfico e editorial que tem feito neste blogue e o Comandante Luis Graça, que é também um grande trabalhador, devia dar-lhe a mais alta condecoração.

O meu espirito que se dispersa e vagueia, leva-me ás águas do Grande Buba, rio grande, rio que não sei se o era, porque nascia no mar e não na terra, rio salgado como a maior parte dos rios da Guiné. Rio grande, rio largo, que cheguei a navegar numa viagem até Bolama, rio tal como um deus indiano, cheio de grandes braços em toda a sua extensão.
Um mar com margens alargadas, que dá repouso aos olhos e às almas, mas que querendo parecer um mar, não deixa de ser um rio, com margens mais largas.

Em Passau, onde fui com a minha mulher, levados pela nossa Ana, que já nos mostrou, ou só ela ou com o Christian, o marido e com os nossos netos, o Daniel a Camila quase todos os montes, lagos e rios da Baviera, cidade que fica na confluência de três rios, que se unem quando passam, o Danúbio, o Inn e o Ilz, veio-me à memória o Grande Buba.

O rio que se forma depois das águas desses três rios se unirem, depois de Passau é imponente, a sua observação quase corta a respiração.
O rio Grande Buba que eu conheci, era um rio menos largo, sem os Alpes bávaros por pano de fundo, mas também era um rio soberbo.

Mansabá foi o relaxe, o repouso, a boa convivência para onde me mandaram, depois de 17 meses de pequenas guerras, de alguns conflitos e grandes amizades que dentro e fora do quartel, fui fazendo em Buba com os camaradas da minha CCaç 2616, do Batalhão 2892 que fazia muitas colunas de reabastecimento e ao sabor das marés com os camaradas do Destacamento de Fuzileiros.

Cícero, grande politico e escritor romano que nasceu no último século antes de Cristo, escreveu um tratado acerca da amizade que nunca algum escritor ou filósofo escreveu. Muitos escritores e filósofos escreveram sobre o amor, por vezes um sentimento calmo que cultivado no meio familiar se confunde com a amizade, e outras vezes pode ser violento e tumultuoso como a paixão quando resulta da atracção entre os sexos.

Sobre amizade, esse sentimento calmo, benéfico, altruísta, que confesso nunca soube cultivar muito bem, como transmontano a quem basta a palavra e a hospitalidade mas que tal como o amor também requer tolerância e compromissos, aprendi muito nas margens do Grande Buba e em Mansabá perto das floresta do Morés.

Para reviver um pouco dela, embora os camaradas, em Monte Real não sejam os mesmos, sei que estão irmanados no mesmo sentimento. Podem ser melhores ou piores, tanto faz, mas os que aparecem normalmente são sempre os que apreciam mais o convívio e o calor da amizade.

Hoje na Tabanca Pequena de Matosinhos conheci pessoalmente o Jorge Picado que já tinha conhecido e cumprimentado no nosso blogue, gostei da sua simpatia e bonomia e com ele senti-me mais próximo de todos, dos jovens de outrora e dos avós do presente.

Pelos antigos e pelos actuais, eu duma forma, pouco formal mas que o amigo Carlos Vinhal entende, peço-lhe que aceite, desta forma um pouco panfletária a minha inscrição e a da minha mulher no almoço da Tabanca Grande no dia 14 de Junho.
Dormida também. 

Este texto é também um desafio ao meu primo Francisco Magalhães, com quem tive sempre um relação de grande amizade, que foi alferes na Guiné e que por vezes espreita o nosso blogue.

O meu nome já o sabes, a minha companheira é a Fátima Anjos.
Em Monte Real quero levantar a minha taça e fazer um brinde à amizade e à camaradagem!

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista


2. Comentário do editor

Caro Francisco
Poucos minutos antes de abri esta tua mensagem, posso prová-lo, tinha enviado uma resposta ao sogro de um nosso camarada, apenas identificado por "cabo pequenino", que pertenceu, imagina, ao 2.º Pelotão da tua 2616. Procura camaradas e saber se há Convívios regulares da sua (tua) Companhia.

Falei-lhe de ti, e disse-lhe que caso se lembrasse do Alferes Francisco Baptista lhe enviaria o seu (teu) contacto.
Já agora se te lembrares de um militar conhecido por "cabo pequenino", dá-me um toque.

Então o nosso Capitão Picado esteve em Matosinhos? Bom sinal porque é sinónimo de que está bem.

Finalmente, uma palavra para a tua inscrição no nosso IX Convívio. Que surpresa agradável.
Aposto que vais gostar. És, se bem me lembro, o 5.º elemento da CART 2732 que já participou nos nossos Encontros. Além de mim e do Cap Mil Jorge Picado, já participaram o Inácio Silva, que era Apontador de Metralhadora, mais tarde impedido na Secretaria do COP 6, e o Malhão Gonçalves que pertencendo às Transmissões desempenhava as funções de electricista a tempo inteiro.

Vou já tratar da tua inscrição. Se a todo o tempo o teu primo quiser participar, também o receberemos com amizade. As inscrições costumam fechar 3 dias antes do dia do Convívio para que nada falhe no serviço que o Hotel se propõe fornecer, normalmente de excelente qualidade.
 Abraço
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de quarta-feira, 28 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13203: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Um exemplo a aplaudir e a seguir: Jorge Pinto, "régulo" de Fulacunda, traz mais dois camaradas com ele, até Monte Real, no dia 14 de junho: José Miguel Lobo e António Rebelo, da 3ª CCART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)

Guiné 63/74 - P13206: Parabéns a você (740): António Gabriel R. Vaz, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13197: Parabéns a você (739): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 4740/72 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13205: Memória dos lugares (267): Tomar, terra dos Templários e do Rio Nabão, onde nasceu o General Arnaldo Schulz em 6 de Abril de 1910 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2014:

Queridos amigos,
Correspondendo ao apelo do Luís, para trazermos ao blogue imagens não publicadas e que respirem Guiné e aparentados, lembrei-me de vos enviar três fotografias que tirei perto de Tomar.

Passeava por um lugar de vistas desafogadas sobre o Nabão, eis que encontrei esta lápide referente a um filho da terra.
Arnaldo Schulz nasceu mais abaixo, no Prado, melhor dito num lugarzinho chamado as hortas dentro da Companhia do Papel do Prado, ao que parece o pai era aqui técnico.

Num café da Pedreira procurei apurar o local exato do nascimento de Arnaldo Schulz [Foto à esquerda].
Havia malta a jogar à bisca, houve discussão acalorada até que um rapaz da nossa idade deu um murro na mesa e bradou:
- "Foi nas hortas, nas casas dos funcionários superiores da Companhia, a minha mãe trabalhava para aquela família, sei muito bem do que estou a falar".

Acabou-se a conversa, desci até ao Prado e disparei mais duas imagens para que fique o registo do lugar do nascimento de Arnaldo do Schulz.


Um abraço do
Mário



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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

Guiné 63/74 - P13204: Efemérides (159): Foi há 45 anos, o ataque a Bambadinca, dois meses depois da Op Lança Afiada... Parágrafo lacónico na história do BCAÇ 2852: "Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros"


Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil > 1955 > Pormenor: posição relativa de Bambadinca. Na altura não existia nem o reordenamento de Nhabijões (que é de 1970/71) nem o de Bambadincazinho (que é de 1968/69).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Vista aérea do aquartelamento, situado num promontório, tendo da sul uma grande bolanha, a leste o Rio Geba (Xaianga) e  a oeste a pista de aviação, que junto ao arame farpado... Ao fundo da pista o cruzamento da estrada para Nhabijões, a oeste (ainda não havia o reordenamento na altuira do ataque de 28/3/1969) e para o Xime, a sudoeste. A quatro ou cinco quilómetros, ficava a ponte do Rio Undundum,a, construida em 1952, e que foiu dinamitada nessa noite.
Recorde-se que na história do BCAÇ 2852, o ataque a Bambadinca é dado em três linhas, secas, em estilo
telegráfico:

"Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros"

As tropas atacantes posicionaram-se a oeste e a sudoeste de Bambadinca, ao longo da pista de aviação. Já havia o reordenamento de Bambadincazinho.

Foto © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]

I. Dois textos para relembrar esta efeméride (*), que resultou claramente de uma retaliação, por parte do PAIGC, à Op Lança Afiada (8-18 de março de 1969):


(i)  Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):

[Foto à esquerda: Carlos Marques dos Santos, I Encontro Nacional da Tabanca Grande, 2006, Ameira, Montemor o Novo; vive em Coimbra; é professor de educação física, reformado]

O ataque a Bambadinca....

Dia 28 de Maio de 1969 ... Por volta das 00.30h ouvimos rebentamentos para os lados da Moricanhe. Mansambo ficava a sul de Bambadinca. Afinal era Bambadinca. Era a primeira vez que tal sucedia.

As minhas notas dizem que a 29 de Maio de 1969 fui informado às 05.30h que o meu Pelotão, o 3º da CART 2339, iria reforçar a sede de Batalhão por 15 dias.

Reforçar a sede do Batalhão? Coisa grossa, pensámos. Seguimos e aí tomámos conhecimento da destruição parcial do pontão do Rio Udunduma [, afluente do Geba, na estrada Xime-Bambadinca].

Chegados à sede de Batalhão, iniciámos às 16h, com o Pel Caç Nat 63, a ocupação do pontão para sua defesa e de Bambadinca. No dia 30, fomos rendidos por 2 pelotões. Dia 31, pelas 14.00h fomos novamente para a ponte.

Dia 2 de Junho de 1969, pelas 20.30h, rebentamentos. Era Amedalai. 15 minutos depois Demba Taco e imediatamente Moricanhe. Dia 4 Moricanhe era evacuada para reforço de Amedalai. Dia 11, Mansambo era atacada e logo depois o Xime.

Regressámos a Mansambo.

A futura CCAÇ 12 passou aqui nestes dias conturbados para iniciar a sua comissão.(*)

(ii) Luís Graça (ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

[foto à esquerda, o 'periquito' Luís Graça, Bambadinca, 1969]


Ainda cheirava a pólvora...


(...) O ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969, assume alguns aspetos hilariantes (sem ofensa para ninguém...), dois meses depois da Op Lança Afiada (8-19 de março) em que todo o dispositivo político, administrativo e militar do PAIGC, no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole- margem direita do Rio Corubal, terá sido desarticulado... 

Sorrateiramente, audaciosamente, dois bigrupos (c. de 100 homens), aproximam-se da sede do batalhão, importante posto administrativo e estratégico porto fluvial, e conseguem tirar o sono aos nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas...

Felizmente que não houve baixas de monta... A sorte (ou a nabice dos artilheiros do PAIGC) protegeu o pessoal de Bambadinca: segundo os diversos depoimentos coincidentes que fui ouvindo (, incluindo o do José Carlos Lopes, que podia ter morrido na cama com uma morteirada!), os canhões s/r enterraram-se no solo e a canhoada foi cair na bolanha... Estávamos já no princípio da época das chuvas.

Quando nós, periquitos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), lá passámos, uns dias depois, em 2 de junho de 1969, vindos de Bissau e do Xime a caminho da nossa estância de férias (Contuboel, um mês e meio de paraíso... seguido depois de 18 meses de inferno... quando fomos justamente colocados na sede do Setor L1), os nossos camaradas da CCS do BCAÇ 2852 ainda falavam do evento com alvoroço e emoção...
- Podíamos ter morrido todos! - dizia-me 1º cabo cripto Agnelo Ferreira, da minha terra, Lourinhã, e meu amigo de infância...

Fomos depois nós, para lá, com os nossos nharros, e em 18 meses nem um tirinho: que o respeitinho (mútuo) era muito bonito... Porrada, porrada, era só quando a gente se atrevia a meter o bedelho na terra deles, na margem direita do Rio Corubal, que eles consideravam "libertada"... (**)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13179: Efemérides (158):Inauguração de um Monumento aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Portimão, levado a efeito no passado dia 9 de Abril de 2014 (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P13203: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Um exemplo a aplaudir e a seguir: Jorge Pinto, "régulo" de Fulacunda, traz mais dois camaradas com ele, até Monte Real, no dia 14 de junho: José Miguel Louro e António Rebelo, da 3ª CCART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 > Lavadeira. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo, feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [, acções do IN].
Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

1. Mensagem do nosso leitor e camarada António Rebelo [, 3ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/1974]:


Data: 27 de Maio de 2014 às 16:08

Assunto: Pedido de inscrição no almoço de 14 de Junho p.f.


Boa tarde, Luís Graça:

Julgo que não nos conhecemos pessoalmemte.

No entanto, temos amigos comuns: Jorge Pinto, José Miguel Louro,  etc... e foi o José Miguel Louro, primeiro, e o Jorge Pinto, depois, quem hoje me deu a boa nova: Vai-se realizar um almoço dos ex-combatentes da Guiné. Queres vir?

Foram-me facultadas as coordenadas e os elementos mais que suficientes para chegar a Monte Real [,por lapso, escreveu Vila Real].

Depois, no contacto telefónico foi-me facultado o nome do blog e aqui estou eu a tentar marcar presença no próximo evento.

Um abraço.

António Rebelo
Massamá

Fulacunda:
3ª CART/BART 6520/72 (1972/1974).

2. Resposta, de imediato,  de L.G. :

António:

Temos todo o gosto em que apareças em Monte Real, no dia 14 de junho... E podes trazer mais gente, familiares, camaradas, amigos... Desculpa o tratamento por tu, mas os camaradas da Guiné, tratam-se por tu.

E, mais do que isso, ficas desde convidado a integrar o nosso blogue (que é coletivo: cada um colabora no mínimo com 2 fotos pessoais, uma atual e outra do século passado, + 1 história, passada no TO da Guiné, 10 linhas, 20 linhas, 1 página...).

Mas - que fique claro! - não tens que te increver no blogue para ires ao nosso convívio que é aberto a todos os nossos leitores, a maioria deles combatentes...

Se depois gostares do ambiente, da nossa camaradagem, tens sempre as portas aberta do blogue... O mesmo é dizer da nossa Tabanca Grande onde cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa... (Se reparares, o blogue tem algumas regras, simples, de convívio...).

Somos quase 660 membros, mas infelizmente 5% já morreu... Em média, entram 5 a 6 novos membros por mês.  E publicamos uma média de cinco textos (postes) por dia. Existimos há 10 anos: o blogue vem do ano de 2004...

Vou dar conhecimento do teu pedido, à comissão organizadora do IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, o Carlos Vinhal e o Miguel Pessoa...

Um alfabravo (ABraço), sê bem vindo a bordo, António!

Luís Graça

PS - O Jorge Pinto, nosso comum amigo e camarada, tem aqui uma série de belíssimos textos e fotos sobre a tua/vossa Fulacunda... Clica aqui,.


3.  Mensagens, de ontem,  de Jorge Pinto [, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74,]  respondendo a perguntas do editor;:


[, foto á esquerda: Jorge Pinto, hoje professor de história do ensino secundário, reformado; natural de Alcobaça, vive em Sintra]



(i) Luís, meu amigo: Fico muito satisfeito por o António Rebelo (Rebelo na gíria), ter decidido ir ao nosso encontro em Monte Real. Sei que vai gostar de estar connosco e nós com ele, também. Há muito que o andava a "tanguear"... Fica descansado que ele não vai parar a Vila Real...!!!, pois irá comigo e com José Miguel Louro. É um belíssimo amigo da área das Ciências Humanas.... (Sociologia, curso tirado depois de vir da Guiné)(...)

(ii) (...) Respondendo informo que o José Miguel Louro era o Furriel vago-mestre da nossa companhia. Depois de vir da Guiné voltou para a repartição de finanças de Sintra e Cascais e por aqui andou até se reformar.

Informo também que tenho várias fotos de Fulacunda tiradas em Maio, Junho e Julho de 1974. Tenho também algumas de Lisboa tiradas na última semana de Abril de 1974, pois estava cá de férias nessa data. Está prometido que as enviarei para o Blog.

Recebe o meu "forte Abraço" (...)

Jorge Pinto

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Nota do editor:

Último poste da série >  26 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13195: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Continuam abertas as inscrições (n=78) e continuam a chegar as votações (n=55) para a escolha das "cinco frases ou slogans que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Ao mesmo tempo, amigos e camaradas vão fazendo a "prova de vida"...

Guiné 63/74 - P13202: Consultório militar, de José Martins (3): O ataque do PAI - Partido Africano da Independência a Catió em 25 de junho de 1962, seguido da destruição da jangada de Bedanda, do corte de fios telefónicos e estradas com abatizes

1. O “nosso editor chefe” depois de colocar o comentário abaixo, questionou-me acerca do acontecido, isto é, se eu dispunha de algum elemento que reportasse o acontecido e qual a data da ocorrência:

Luís Graça deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P13200: (In)citações (64) Nunca é d...":

«O nosso querido Victor Condeço já não está, infelizmente, entre nós, para confirmar ou corrigir este parágrafo:

(...)"O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada" (...)

O ataque a Tite, a 23 de Janeiro de 1963, é considerado o início "oficial" da guerra na Guiné... Mas há acontecimentos anteriores a ter em conta... Nunca tinha ouvido falar do afundamento da jangada de Bedanda... em 25/6/1962... Ou será 1963?»


2. Dando cumprimento ao exarado, no respectivo despacho, fiz as pesquisas necessárias para encontrar a resposta que tinha sido colocada.

Com “a sorte dos principiantes” encontrei o seguinte texto:

«Aliás, não foi por acaso que, na sequência dessa grande conferência de imprensa de Londres, no dia 25 de Junho de 1962, o PAI ataca a vila de Catió (destruição da jangada de Bedanda e cortes de fios telefónicos e estradas com abatizes), marcando-se por este acto, do lado do PAIGC, a passagem à Acção Directa, tal como se havia prometido em Londres, pois a luta armada só começaria no ano seguinte, com o ataque ao quartel de Tite, a 23 de Janeiro de 1963. (…)» 

In Guerra colonial & guerra de libertação nacional : 1950-1974 : o caso da Guiné-Bissau / Leopoldo Amado ; pref. Peter Karibe Mendy. - Lisboa :Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, Núcleo de Documentação, 2011 ([Lisboa] : Textype. - 422 pp. (**)
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(**) Vd. blogue do Leopoldo Amado > Lamparam II > 14 de Dezembro de 2006 > Simbólica de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Parte I)